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A representatividade das figuras femininas na política norte riograndense: Alzira

Soriano e Celina Guimarães

Hylana Kariny Silva de Sousa


hylana.silva@escolar.ifrn.edu.br
Kéchella Wanessa Dantas da Silva
w.kechella@escolar.ifrn.edu.br
Lucas Calheiros Cardoso
lucas.calheiros@escolar.ifrn.edu.br
Vinicius Domingos Marques
domingos.v@escolar.ifrn.edu.br
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE -
Campus Natal - Zona Norte

Palavras-Chave: sufrágio, Lajes, política, feminismo, voto feminino

INTRODUÇÃO

A narrativa histórica observada na cultura ocidental, mais especificamente no Brasil,


representa um modelo antropocêntrico do processo de fazer histórico, no qual a retratação
de figuras femininas importantes para o curso histórico da humanidade, e principalmente
para os alicerces da política brasileira, foi restringida e invisibilizada, em um ciclo de
silenciamento que remonta configurações sociais e culturais muito diferentes da
vivenciada atualmente.
Segundo o Governo Federal as mulheres integram aproximadamente 52,65% do
eleitorado brasileiro atualmente (TSE, 2022), resultado que leva a um questionamento em
relação a ocupação das cadeiras parlamentares, que são majoritariamente preenchidas por
homens, que parecem arregimentar essa população votante até o presente. Para
compreender o processo de representatividade feminina na política norte riograndense é
necessário construir uma linha histórica a partir da década de 20, quando Celina
Guimarães entrou para a história ao se alistar como eleitora e Alzira Soriano entrou no
mundo da política, consagrando assim seu nome como a primeira mulher prefeita na
América Latina.
A crescente presença feminina - da década de 20 até os dias atuais - traz à tona
importantes reflexões a respeito das figuras femininas e o mundo da política regional.
Pensar no papel social desempenhado pelas mulheres na sociedade brasileira passa por
lentes muito características de uma construção patriarcal na qual o homem se encarrega de
estar nos espaços públicos, enquanto a mulher se vê restrita ao privado.
MATERIAIS E MÉTODOS

Todo o material foi desenvolvido a partir de diversas pesquisas bibliográficas - que se


destaca como sendo a investigação em material teórico sobre determinado assunto -, que
tiveram como objetivo concretizar e maximizar o conhecimento prévio a respeito do tema
primeiramente proposto: “A representatividade das figuras femininas na política brasileira
- Demonstrativo histórico a partir do ano de 1988”.
A representatividade retratada no presente trabalho é a expressão dos interesses de um
grupo, geralmente tendo uma figura de um representante. Ela tem como fator a construção
de subjetividade e identidade dos grupos e indivíduos que integram determinado grupo.
Parafraseando Jane Fonda o feminismo não é só para as mulheres, é permitir que todos
tenham uma vida mais plena (FONDA, 1937).
Inicialmente foi planejado um texto precursor que foi primordial para o
desdobramento da presente pesquisa. Após as devidas correções e orientações foi possível
especificar ainda mais o direcionamento da pesquisa. Mantendo o eixo temático a análise
voltou-se para a participação e importância das mulheres norte-rio-grandenses,
especificamente Alzira Soriano e Celina Guimarães.
Com uma proposta mais sólida em mãos, o desenvolvimento da pesquisa foi feito a
partir principalmente de artigos e de sites como o do Tribunal Superior Eleitoral e o do
Tribunal Regional Eleitoral.

RESULTADOS

Diante de um cenário de total invisibilidade feminina na política brasileira, a década


de 1920 surge como um importante período para o desenvolvimento dos direitos políticos
femininos, isso porque graças à influência do movimento sufragista (em constante
evolução e popularidade no país) as mulheres conquistaram cada vez mais espaço nesse
ambiente que até então era totalmente masculino, tendo sido os principais pontos de
partida localizados no estado do Rio Grande do Norte. Desde Alzira Soriano (Partido
Republicano) em 1929 até Fátima Bezerra (Partido dos Trabalhadores) em 2022 a
trajetória das mulheres na política brasileira no geral vem sendo galgada com base em
muita força, inteligência e precisão, ao mesmo tempo que é marcada por preconceitos,
violência e hostilidade.
Em primeiro lugar, a visibilidade feminina não surge ao mero acaso na década de 20,
mas já vinha sendo construída e legitimada por apoiadores há tempos. A quebra de tal
invisibilidade é galgada por figuras como a paulista Bertha Lutz (importante representante
do movimento sufragista no Brasil), além da formação de debates a partir da constituição
de 1891, que instituiu título de eleitor, o voto direto para vários cargos, a proibição de voto
para analfabetos e a garantia de que todo brasileiro com título de eleitor pudesse votar -
sem menção a qualquer distinção de sexo.
Foi nesse contexto que no dia 25 de outubro de 1927 o Rio Grande do Norte - sob
governadoria de José Augusto de Medeiros - é sancionada a Lei nº 660, regulando o
serviço eleitoral do estado e garantindo o direito ao voto e o direito de ser votado sem
distinção de sexo; "No Rio Grande do Norte poderão votar e ser votados, sem distinção de
sexos, todos os cidadãos que reunirem as condições exigidas por esta lei", diz trecho da
Lei Estadual Lei nº 660 segundo registros do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande
do Norte. Este ponto da história do Rio Grande do Norte foi um importante marco
histórico no país, tendo como resposta 20 alistamentos eleitorais de mulheres potiguares,
dentre elas Celina Guimarães, mossoroense primeira brasileira a exercer o voto.

IMAGEM 1 - Primeiras eleitoras do Brasil, 1928

Arquivo Nacional

Após o alistamento eleitoral, Celine, que era professora, virou símbolo nacional de
força e representatividade feminina, mas seu pioneirismo não se dava apenas no âmbito da
política.Sendo regionalmente conhecida pelo seu método educativo progressista aboliu em
suas salas de aula os castigos físicos e incorporou as artes como forma de exercer a
docência. Além disso atuou como árbitro em jogos de futebol, sendo provavelmente uma
das primeiras mulheres a apitar jogos do Brasil - apesar de não haver registros formais a
esse respeito.
Os impactos da sanção da Lei Estadual nº 660 foram imediatos na política não apenas
norte riograndense, mas nacional e até continentalmente falando, pois foi a partir deste
ponto que mulheres puderam se candidatar, como por exemplo Alzira Soriano, que se
candidatou a prefeitura de Lajes/RN em 1928, tornando-se a primeira prefeita da América
Latina. Tal proeza em tempos de intensa misoginia foi possível graças a dois fatores
principais: primeiro o histórico político familiar, sendo o seu pai, Miguel Soriano, já um
rico e influente político da região, e segundo o apoio do então governador do Rio Grande
do Norte Juvenal Lamartine e da influente biólga feminista Bertha Lutz (que mais tarde
viria a se tornar deputada federal). Com apoio de pessoas influentes e com determinação,
Alzira tomou posse em 1 de janeiro de 1929, mesmo recebendo diversos ataques verbais
violentos - que permaneceram acontecendo após a posse -, chegando a ser chamada até
mesmo de prostituta.

IMAGEM 2 - Posse de Alzira Soriano na prefeitura de Lajes, junto com seu secretariado

Arquivo Pessoal - Rudolfo Lago

Mesmo em meio a um cenário repressor Soriano além de ter sido tema de reportagem
de jornais internacionais, como o The New York Times, foi uma exímia administradora,
reconhecida pelas construções de estradas, escolas e mercados públicos distritais. Porém
sua gestão foi interferida pela conhecida Revolução de 1930, após recusar o cargo
oferecido por Mário Camara de “Interventora Municipal”, sendo crítica aos governos de
Getúlio Vargas.
Passado o hiato na vida política, após a redemocratização, Alzira Soriano assumiu
sucessivos cargos de vereadora, chegando até a presidência da câmara, e faleceu no ano de
1963 em decorrência do câncer.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do presente trabalho conclui-se que a inserção das mulheres na política


brasileira não se deu em um átimo, mas sim foi fruto de um extenso período de debates e
lutas que perduram até hoje.
No Rio Grande do Norte a representatividade e o pioneirismo têm seus lugares até
hoje na política, sendo a governadora Fátima Bezerra (PT) a única mulher a ser eleita
como governadora no Brasil em 2018 e primeira mulher assumidamente LGBT a assumir
esse cargo, além de, em 2022, ter sido a única governadora eleita em primeiro turno.
Ademais, o RN também pode ser citado como o estado que teve o maior número de
governantes do sexo feminino, sendo elas Wilma de Faria (reeleita), Rosalba Ciarlini e
Fátima Bezerra (reeleita).
Entretanto, apesar do pioneirismo e de o RN ter sido o estado - em 2022 - com o
maior número de candidaturas femininas no Brasil, 35,86% (CNN, 2022), a presença
feminina contava com apenas três mulheres das vinte e quatro cadeiras da Assembleia
Legislativa - segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral.
Segundo a Professora Cyntia Carolina Beserra Brasileiro, do departamento de
Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (Uern), não há apenas
uma razão simples que explique o fenômeno da baixa eleição feminina, mas existe um
fato, que é o de que as desigualdades de gênero precedem os ambientes de tomada de
decisão. Conforme a professora “Muito temos a investigar. As teorias políticas feministas
revelam que especialmente no Brasil, temos uma estrutura que consolida a figura do
masculino como referencial privilegiado no ambiente político. Logo, muitas das barreiras
seculares que excluem as mulheres destes espaços estão relacionadas a estas ficarem
relegadas ao trabalho e vivência do lar, enquanto o homem aspira e vive a rua” (apud
SOUZA, 2022).
De um ponto de vista mais amplo, a nível nacional, é perceptível que cargos de alto
escalão são comumente ocupados por pessoas do sexo masculino, como é possível
observar na referência gráfica da IMAGEM 3.
IMAGEM 3 - A desigualdade brasileira em números

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Perfil sociodemográfico dos magistrados brasileiros 2018.

Mesmo em meio a dificuldades, repressões, tribulações e retrocessos as mulheres


permanecem fortes e lutando por seus direitos e locais de fala, assim como fizeram Alzira
e Celina.
BIBLIOGRAFIA

BRONZE, Giovanna; Pereira, Luís. RN tem 35,86% de candidaturas femininas e lidera


ranking; AP e RR vêm em seguida. CNN, 2022. Disponível em:
<https://www.cnnbrasil.com.br/politica/rn-tem-3586-de-candidaturas-femininas-e-lidera-ra
nking-ap-e-rr-vem-em-seguida/>. Acesso em: 07 fevereiro 2023.

ENGLER, Isabel. Mulher na vida política: Alzira Soriano. Lajes/RN, 1928-1930.


ANPUH-Brasil - 31 Simpósio Nacional de História, Rio de Janeiro, 2021. UFFS. p 1 a 11.

MACHADO, Vanderlei. A conquista das mulheres ao direito de votar e de ser votada no


Brasil. UFRGS. p 1 a 3.

LOPES, Marcus. A história de Alzira Soriano, a primeira mulher a virar prefeita no Brasil.
BBC News, 27 novembro 2020. Disponível em:<
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55108142>. Acesso em: 24 janeiro 2023.

Tribunal Superior Eleitoral. A construção da voz feminina na cidadania. TSE, 20 maio


2020.
Tribuna do Norte. Alzira Soriano. Arquivado desde o original em 15 de março de 2014.
Consultado em 24 de janeiro de 2023.

Tribunal Superior Eleitoral, 05 de março de 2013. Disponível


em:<https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2013/Marco/semana-da-mulher-primeira
-prefeita-eleita-no-brasil-foi-a-potiguar-alzira-solano>. Acesso em: 23 de janeiro de 2023.

REFERÊNCIAS

SOUZA, Rebecca. Mesmo com pioneirismo de mulheres na política, RN tem Assembleia


Legislativa composta por maioria de homens. Saiba Mais, Agência de Reportagem, 2022.
Disponível em: <
https://saibamais.jor.br/2022/09/mesmo-com-pioneirismo-de-mulheres-na-politica-rn-tem-
assembleia-legislativa-composta-por-maioria-de-homens/>. Acesso em: 07 fevereiro 2023.

TSE. Eleições 2022: mulheres são a maioria do eleitorado brasileiro. mulheres são a
maioria do eleitorado brasileiro. 2022. Disponível em:
https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Julho/eleicoes-2022-mulheres-sao-a-ma
ioria-do-eleitorado-brasileiro. Acesso em: 07 fev. 2023.

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