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Departamento Matemática
Universidade de Aveiro
" Simplificar tanto quanto possível, mas não mais do que o possível" – Einstein.
Há alguns anos, após a leitura de², iniciei um trabalho, ainda inacabado, para detectar as
primeiras dificuldades dos alunos na compreensão do conceito de limite. O estudo abrangeu
algumas centenas de alunos de Análise Matemática II (2º semestre do 1º ano) das licenciaturas
de Ciências e Tecnologia da Universidade de Aveiro. Foram igualmente inquiridos alunos dos
3º e 5º anos das licenciaturas em Matemática.
Nesta sessão apresentei alguns exemplos de respostas que me pareceram representativas das
confusões apre(e)ndidas e tentei dar uma resposta, obviamente incompleta, à questão:
porquê isto?
No final apresentei algumas sugestões – a testar no terreno – para a abordagem do tema, sem
iludir as dificuldades do mesmo.
"Diga em poucas palavras o que entende por limite, ou seja, explique o que significa para si a
expressão o limite de uma função f quando x ® t é um número L".
Registo algumas das respostas com que ilustrei a sessão e que permitem ver confusões
conceptuais, dificuldades de expressão escrita e grande confusão na manipulação de
expressões simbólicas.
Para mim a expressão referida diz-me o número para o qual a função se dirige (tende)
sem o atingir; fiquei confuso!!! se atinge ou não.
Nunca ninguém me perguntou isto e nunca me tinha apercebido das dúvidas que
poderia ter sobre limites. Realmente senti-me confusa (...). Quando o limite dá ±¥
existe ou não o limite? o limite tem de ser um valor?
Limite de uma função num ponto é o valor que essa função admite numa vizinhança
desse ponto. [Muitas respostas deste tipo]
Limite é o valor de y mais alto ou mais baxo (sic) quando se vai tomando valores de t.
Quando uma determinada função tende para um determinado domínio, essa função
terá significado até ao número determinado. Atingindo aí o seu máximo. Por vezes
uma determinada função nunca chega a ter limite, o caso quando L=+¥.
Uma função tem por limite um número L, quando é limitada arbitrariamente por
valores de x.
Limite é algo que é atingido no fim, algo propriamente definido pela função de x ® t.
Procurando uma resposta a este descalabro, percorri a literatura usual do ensino secundário e
do 1º ano universitário.
Os inúmeros conceitos, - limite inferior, limite superior, ínfimo, supremo, mínimo, máximo,
limite segundo Heine, limite segundo Cauchy, limites de sucessões, limites de funções, limites
infinitos e limites de funções num ponto de acumulação ou num ponto aderente -, o pouco
tempo para assimilação e o facto de praticamente só serem avaliadas capacidades de cálculo
podem servir para uma primeira explicação do fenómeno.
Quanto à literatura séria: Sebastião e Silva, Dias agudo, N. Bourbaki, L. Schwarz, E. Lages de
Lima, G. Choquet, S. Guerreiro, R. Bartle e A. Machado, entre outros, penso não ser de grande
ajuda para alunos e mesmo para muitos professores, devido à apresentação aparentemente
díspar. Só em R. Bartle e A. Machado se fala directa e explicitamente em duas definições não
equivalentes: uma que "ignora" o que se passa no ponto em que se pretende definir limite e
outra que considera o que se passa em tal ponto; basicamente, situações em que se considera
o limite num ponto de acumulação ou num ponto aderente.
Para assentar algumas ideias propus uma abordagem adaptada de [1] e que julgo poder ser
uma via que não foge às dificuldades, antes as explicita. É uma bordagem progressiva onde se
propõem algumas "definições" que são analisadas e sucessivamente eliminadas pela
apresentação de contra-exemplos simples, até se chegar às duas definições já referidas.
Esta proposta pode ser executada num tempo aceitável e julgo que vale a pena experimentá-la
no terreno.
Enfrentar o problema pela via positiva parece-me mais eficaz do que a permanente fuga em
frente que consiste em tratar os nossos estudantes como incapazes, retirando do programa o
que contém efectivas delicadezas conceptuais.
Referências
[2] Williams, S. , Models of Limit Held by College Calculus Students, J. for Research Math-Ed,
1991
Tornou-se assim importante reformular tal conceito e encontrar um processo de traçar uma
tangente a um gráfico num dado ponto - esta dificuldade ficou conhecida na História da
Matemática como o “Problema da Tangente”.
Portanto, o que veremos, será uma introdução à Teoria dos Limites, dando ênfase
principalmente ao cálculo de limites de funções, com base nas propriedades pertinentes.
Matemático francês - Augustin Louis Cauchy – 1789/1857 foi, entre outros, um grande
estudioso da Teoria dos Limites. Antes dele, Isaac Newton, inglês, 1642/1727 e Gottfried
Wilhelm Leibniz, alemão, 1646/1716, já haviam desenvolvido o Cálculo Infinitesimal.
DEFINIÇÃO
Dada a função y = f(x), definida no intervalo real (a, b), dizemos que esta função f possui um
limite finito L quando x tende para um valor x0, se para cada número positivo ε , por menor
que seja, existe em correspondência um número positivo δ , tal que para |x - x0| <δ , se tenha
|f(x) - L | <ε , para todo x ¹ x0 .
Com efeito, deveremos provar que dado um e > 0 arbitrário, deveremos encontrar um δ > 0,
tal que, para |x - 3| < δ , se tenha |(x + 5) - 8| < δ . Ora, |(x + 5) - 8| < δ é equivalente a x - 3 | <
e. Portanto, a desigualdade |x - 3| < δ , é verificada, e neste caso
O cálculo de limites pela definição, para funções mais elaboradas, é extremamente laborioso e
de relativa complexidade. Assim é que, apresentaremos as propriedades básicas, sem
demonstrá-las e, na seqüência, as utilizaremos para o cálculo de limites de funções. Antes,
porém, valem as seguintes observações preliminares:
x ® x0 , não depende necessariamente que a função esteja definida no ponto x0 , pois quando
calculamos um limite, consideramos os valores da função tão próximos quanto queiramos do
ponto x0 , porém não coincidente com x0, ou seja, consideramos os valores da função na
vizinhança do ponto x0 .Para exemplificar, consideremos o cálculo do limite da função abaixo,
para x 3.
b) o limite de uma função y = f(x), quando x ® x0, pode inclusive, não existir, mesmo a função
estando definida neste ponto x0 , ou seja , existindo f(x0).
c) ocorrerão casos nos quais a função f(x) não está definida no ponto x0, porém existirá o limite
de f(x) quando x ® x0 .
d) nos casos em que a função f(x) estiver definida no ponto x0 , e existir o limite da função f(x)
para x ® x0 e este limite coincidir com o valor da função no ponto x0, diremos que a função f(x)
é Contínua no ponto x0 .
Pode-se demonstrar que se esses limites à direita e à esquerda forem iguais, então este será o
limite da função quando x ® x0.
Observações:
b + (+¥ ) = + ¥
b+(-¥)=-¥
(+ ¥) + (+ ¥ ) = + ¥
(- ¥ ) + (- ¥ ) = - ¥
(+ ¥ ) . (+ ¥ ) = + ¥
x® 5
x® + ¥
c) lim (4 + x3) = 4 + 23 = 4 + 8 = 12
x® 2
x® 4
x® 4
LIMITES FUNDAMENTAIS
A técnica de cálculo de limites consiste na maioria das vezes, em conduzir a questão até que se
possa aplicar os limites fundamentais, facilitando assim, as soluções procuradas. Apresentarei
cinco limites fundamentais e estratégicos, para a solução de problemas.
Intuitivamente isto pode ser percebido da seguinte forma: seja x um arco em radianos, cuja
medida seja próxima de zero, digamos x = 0,0001 rad. Nestas condições, o valor de senx será
igual a sen 0,0001 = 0,00009999 (obtido numa calculadora científica).
Exemplo:
Onde e é a base do sistema de logaritmos nigerianos, cujo valor aproximado é e » 2,7182818.
Exemplo:
Exemplo:
x® 0 ................x® 0
Para a > 0.
Considere a figura abaixo, que representa o gráfico de uma função y = f(x), definida num
intervalo de números reais.
Define-se a derivada da função y = f(x) no ponto x = x0, como sendo o limite da razão
incremental acima, quando D x0 tende a zero, e é representada por f ' (x0) , ou seja:
Assim, lembrando que a derivada de uma função y = f(x) pode ser indicada pelos símbolos y ‘, f
'
(x) ou dy/dx,
A seguir, uma tabela contendo as derivadas de algumas das principais funções elementares,
restringindo nesta primeira abordagem, a oito funções elementares básicas, além das
derivadas da soma, produto e quociente de duas funções.
FUNÇÃO DERIVADA
y = k , k = constante y'=0
y = k.x y'=k
y=x y' = 1
y = xn y ' = n.x n - 1
y = a x , 1# a > 0 y ' = a x . ln a
y=ex Y'=ex
Nota: a derivada de uma função y = f(x), pode ser representada também pelos símbolos: y ' ou
dy/dx.
Observe que quando D x0 ® 0 , o ponto Q no gráfico acima, tende a coincidir com o ponto P da
mesma figura., definindo a reta r , que forma um ângulo b com o eixo horizontal (eixo das
abscissas), e, neste caso, o ângulo SPQ = a .tende ao valor do ângulo b.
Assim, não é difícil concluir que a derivada da função y = f(x) no ponto x = x0 , é igual
numericamente à tangente do ângulo b . Esta conclusão será muito utilizada no futuro.
Conclusão importante:
A derivada de uma função y = f(x) num ponto x = x0 coincide numericamente com o valor da
tangente trigonométrica do ângulo formado pela tangente geométrica à curva representativa
de y = f(x), no ponto x = x0.
NOTA:
Uma lâmpada de um poste de iluminação pública está situada a uma altura de 6m. Se uma
pessoa de 1,80m de altura, posicionada embaixo da lâmpada, caminhar afastando-se da
lâmpada a uma velocidade de 5m/s, com qual velocidade se desloca à extremidade de sua
sombra projetada na rua?
Supondo que a pessoa partiu do ponto O a uma velocidade de 5m/s, depois de t segundos, ela
terá percorrido a distância d = 5.t e estará no ponto B.
Como a luz se propaga em linha reta, a ponta da sombra da pessoa, estará no ponto S. Seja y
esta distância.
Daí, fica:
6y – 30t = 1,80y
6y – 1,80y = 30t
4,20y = 30t
y = (30/4,20)t
Portanto,
y = 7,14t
NOTA:
h = 10m. No tempo t = 0, o tanque começa a ser cheio com água, que entra no tanque com
uma vazão de 25 m3/h. Com qual velocidade o nível da água sobe? Depois de quanto tempo o
tanque estará cheio?
Já sabemos que o volume de um cilindro reto de raio da base R e altura h é dado pela fórmula
V = .R2.h
dV/dx = 25
Ora, a velocidade v com que o nível da água sobe é, exatamente dx/dt. Substituindo os valores
conhecidos, vem finalmente:
25 = 25 .v, de onde tiramos v = 1/ m/h ou aproximadamente, v = 0,318 m/h. Portanto, o
nível da água sobe a uma razão de 0,318 metros por hora. O tempo que levará para encher o
tanque será então:
T = 31 horas e 24 minutos.
EXEMPLO:
A maximização do lucro (L) ocorre quando a diferença entre a receita total (RT) e os custos
totais (CT) são máximos. Matematicamente, tem-se:
L = RT – CT
L = Py. Y – Px. X
O lucro máximo é determinado no ponto em que a inclinação da função de lucro é igual a zero
(primeira derivada = 0 e segunda derivada < 0).
dL/dX = Py . dY/dX - Px
Como na equação (6.0) Py . PFMa (receita marginal) e Px = CMa (custo marginal), tem-se:
RMa = CMa = 0 ou
Admitindo-se que a segunda derivada da função de lucro seja menor que zero, as equações
(6.3) e (6.4) determinam que o lucro será máximo quando o retorno obtido ao produzir uma
unidade a mais do produto for igual ao custo para produzir essa unidade a mais.
O quadro abaixo ilustra a maximização de lucro da empresa florestal onde o custo marginal do
fator, ou preço do fator (Px1), é igual a US$ 2,00 e o preço do produto (Py) igual a US$ 2,00.
1 1 1,0 1 2 2 2 2 0
2 3 1,5 2 2 4 4 6 2
3 6 2,0 3 2 6 6 12 6
4 10 2,5 4 2 8 8 20 12
5 15 3,0 5 2 10 10 30 20
6 19 3,2 4 2 8 12 38 26
7 22 3,1 3 2 6 14 44 30
8 24 3,0 2 2 4 16 48 32
9 25 2,8 1 2 2 18 50 32 *
10 25 2,5 0 2 0 20 50 30
Definição 3.1.1
(3.2)
Há várias notações para a derivada. Sendo y = f (x), as seguintes são algumas das mais comuns:
O termo diferenciável é sinônimo de derivável e também será usado de agora em diante com a
mesma liberdade com que passaremos de uma para qualquer outra das notações acima.
A notação dy/dx é devida a Leibnitz. No seu tempo a formalização do conceito de limite não
havia sido atingida e o uso dessa notação pode ser explicado da seguinte forma:
O acréscimo da variável x
Produz um acréscimo da variável y,
A razão
Transformava-se em dy/dx e este símbolo não representava um nem outro, como acontece
hoje, mas o quociente entre dy e dx. A despeito desses argumentos não ter uma clara
fundamentação lógica, devem ser julgados no contexto de sua época.
A notação de Leibnitz permanece e notará que ela é útil sendo, em muitas circunstâncias, a
mais sugestiva.
A notação f' (x) é atribuída a Lagrange. É a notação mais conveniente quando f é diferenciável
em um conjunto A e se considera a função derivada em A. Isto é, a função f' que associa a cada
, atribuída a Newton.
Definição 3.1.2
Sendo y = f (x) derivável em a, a reta tangente ao gráfico, G (f), em (a, b), b = f (a), é a reta dada
por:
y - b = f (a)(x - a).
Se a equação horária de um movimento retilíneo é x = s (t), onde s é uma função diferenciável
da variável tempo t, a velocidade v(t0) num instante t0 é a derivada de s em t0, isto é, v (t0): = s
(t0).
Exemplo 3.1.1
(1) Se, então f (x) = 0. De fato, neste caso, o limite (1.1) fica
em qualquer ponto a.
Antes de provarmos esse fato, convém observar que, se f é uma função diferenciável em um
ponto a, na definição de derivada, o limite (1.1) pode ser escrito na forma:
(x) = 1,
Isto é, a derivada da função identidade é 1. A fórmula neste caso faz sentido apenas para:
uma vez que a expressão 00 não é definida. Entretanto, pode verificar diretamente, a partir da
definição de derivada, que (x) = 1, inclusive no ponto x = 0.
(6)
Definição 3.1.3
Se a função:
Assim, as funções:
, e y = xn,
Proposição 3.1.1
Prova.
Como estou interessado em entender como é uma função não diferenciável num ponto, posso
reformular a Proposição 3.1.1 dizendo que toda função descontínua num ponto a é não
diferenciável em a.
A pergunta agora é: vale a recíproca da Proposição 3.1.1? Ou seja, será que toda função
contínua em a é diferenciável nesse ponto?
As funções diferenciavam formam, portanto, uma classe mais seleta, ser diferenciável é ser
contínua e mais alguma coisa.
Exemplo 3.1.2
A função f (x) = |x| é contínua, mas não diferenciável, no ponto a = 0. De fato, neste caso, o
limite (3.2) em a = 0, calculado à esquerda e à direita, assume valores distintos:
(3.4)
(3.5)
O gráfico acima representa a função do Exemplo 3.1.3. Observando essa figura, bem como o
gráfico de f (x) = |x|, e refletindo um pouco sobre uma possível recíproca da Proposição 3.1.1,
o concluiremos que ela é inviável. Além das descontinuidades, os pontos onde o gráfico
apresenta uma quina, “uma situação de não concordância”, são pontos onde não existe reta
tangente ao gráfico, embora tenhamos continuidade da função nesses pontos.
Numa linguagem intuitiva, estas são situações típicas de não diferenciabilidade, enquanto que,
grosso modo, o gráfico de uma função diferenciável tem um aspecto suave, não anguloso,
como o gráfico de f (x) = x3 ou das funções ou , por exemplo.