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Geografia Regional do Mundo I

Aula 10: O “Dragão Chinês”: novas perspectivas e velhos


impasses

Apresentação
Chegamos à última aula de nossa disciplina. Esperamos que a jornada esteja sendo proveitosa para você.

A partir de agora estudaremos a China, cuja economia vem crescendo e assumindo cada vez mais importância no mundo
globalizado. Você compreenderá seu crescimento econômico dos últimos anos e verá como o “socialismo de mercado”,
uma nova concepção de política econômica, impulsiona os resultados, mas não tem evitado velhos problemas sociais e
tensões étnicas e culturais no país.

Objetivos
Enumerar os processos que levaram a China de país pobre e agrícola a uma das maiores potências mundiais;

Apontar as principais características que marcam a China de hoje.

Quantos produtos chineses tem ao seu redor?


Você já fez o exercício de olhar ao redor e identificar os produtos fabricados pela indústria chinesa? Brinquedos, equipamentos
eletrônicos, roupas, utensílios diversos Made in China invadiram o mercado brasileiro e atualmente fazem parte de nossa rotina.
Isso também se reproduz em outras partes do mundo, pois
o vigoroso crescimento das últimas décadas fez do país um
gigante econômico, tornando-se o maior exportador do
planeta.

No dia primeiro de outubro de 2019, a China comemorou 70


anos de sua revolução. O aniversário da fundação da
República Popular da China é celebrado em um momento
em que o país, consolidado como o segundo maior PIB
mundial, chama atenção por sua crescente importância
econômica e geopolítica.

(Fonte: ROMSVETNIK / Shutterstock).

Para entendermos melhor como se deu o crescimento


econômico do país mais populoso do mundo (hoje são mais
de 1,35 bilhão de habitantes!), precisamos voltar um pouco
no tempo e compreender os antecedentes da Revolução de
1949.

Bandeira da China estampada em contêineres (imagem ao


lado). A estrela maior representa o Partido Comunista
Chinês. As menores, em volta, apontando para o detentor do
poder central, simbolizam o povo: a versão mais aceita é a
de que cada estrela seria uma classe social: o proletariado,
a classe camponesa, e os burgueses urbanos e rurais.

(Fonte: Novikov Aleksey / Shutterstock).

Os antecedentes da Revolução de 1949


Imagine uma terra produtora de vários artigos valorizados no mundo e com uma população de cerca de 400 milhões de
habitantes?

Assim era a China do século XIX. Evidentemente suas matérias-primas e aquele potencial mercado consumidor atraíram a
cobiça das potências imperialistas (lembramos que o período se destaca historicamente pelo neocolonialismo).

Investidas estrangeiras foram inevitáveis, e aquela monarquia de vocação exportadora, que procurava manter fechado seu
mercado interno, teve seus portos abertos após intervenções militares e seu território dividido em zonas de influência.
Inglaterra, Rússia, Estados Unidos, França, Alemanha e Japão eram países interessados em explorar a China e usaram seu
poder econômico e militar para atingir esse objetivo.
Chineses, insatisfeitos com a presença estrangeira,
iniciaram uma série de rebeliões. Havia também grande
questionamento à incapacidade de o imperador conter os
avanços dos colonizadores.

O século XX começou com revoltas de caráter nacionalista.


Os primeiros levantes foram esmagados pelas tropas
imperialistas e custaram mais riquezas e mais dominação
estrangeira; no entanto, em 1911 revolucionários
nacionalistas retiraram do poder a dinastia Qing e fundaram
a República da China. A Revolução Nacionalista ou
Revolução de Xinhai não significou, contudo, o fim definitivo
da influência estrangeira no país: uso de portos e direito à
mineração, por exemplo, continuaram a ser exercidos. O fim
da revolução deu início a um período de instabilidade
política, com disputas pelo poder, juntas militares e
tentativas de refundação de um império.
Sun Yat-sen - Presidente Provisório da República da China (1912). (Fonte: Wikipedia).

Em um contexto de dificuldades em promover uma união em torno de um grupo político, e influenciado por ventos socialistas
vindos da União Soviética, foi fundado, em 1922, o Partido Comunista Chinês. A partir de 1925 o país passou por um longo
período de guerra civil no qual nacionalistas combatiam o crescimento dos comunistas liderados por Mao Tsé-Tung.

A invasão do Japão à região da Manchúria na década de 1930 é vista por muitos estudiosos como um momento de trégua na
guerra civil, pois era necessário evitar o avanço japonês sobre o território.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota do Japão,


o confronto entre nacionalistas e comunistas recomeça, até
que em 1949 o exército liderado por Mao Tsé-Tung
consagra-se vitorioso, assumindo o poder e dando início às
medidas que implantariam o socialismo na China.

Mao Tsé-Tung (1893-1976), o Grande Timoneiro, assumiu o


poder na China com o desafio de reconstruir um país pobre
que sofrera invasões como a dos japoneses, que na década
de 1930 chegaram a ocupar mais da metade do território.

Foram muito difíceis os anos seguintes à criação da


República Popular da China. Era necessário promover o
crescimento do país. Foi implantado um modelo econômico
nos moldes da União Soviética; mas, diferentemente dos
russos, que basearam suas políticas econômicas na classe
trabalhadora das indústrias, na China, o foco eram os
camponeses.
Mao Tsé-Tung. (Fonte: KarSol / Shutterstock).
Mao desejava industrializar o país e fazer

uma reformulação profunda no campo por
meio da coletivização das terras, que
consistia na criação de fazendas controladas
pelo Estado e o fim da propriedade privada no
campo. As medidas não tiveram o resultado
desejado; pelo contrário, o Grande Salto
Adiante (1958-1962), nome dado ao pacote
de medidas adotadas, provocou uma
insuficiência alimentar no país que os
historiadores costumam chamar de A Grande
Fome.

Os números variam conforme a fonte, mas é



certo que pelo menos 10 milhões de chineses
morreram por falta de alimento. Outra medida
polêmica de Mao Tsé-Tung foi a Revolução
Cultural (1966-1976): uma campanha contra
elementos do capitalismo que se tornou uma
grande perseguição a opositores dentro do
próprio Partido Comunista.

Ao mesmo tempo, o culto à personalidade do



“Grande Timoneiro” buscava construir uma
imagem de símbolo nacional acima das
dificuldades enfrentadas. A liderança de Mao
termina, em 1976, com sua morte. Assume o
poder o secretário-geral do PCC, Deng
Xiaoping, que se tornaria responsável por
uma nova fase para o país.

Com isso, no fim de 1978, entra em vigor um ousado plano de modernização da economia chinesa. “Quatro modernizações”
eram pretendidas: agricultura, indústria, defesa e ciência e tecnologia.
A prioridade no campo foi o aumento da produtividade e o
abandono do que não deu certo no maoísmo. Buscou-se o
equilíbrio entre a planificação da economia, com as
decisões produtivas exclusivas do Estado, e a economia de
mercado, na qual as leis da oferta e da demanda regem
produção e comércio. O Estado permitiu a iniciativa privada
em alguns setores e se abriu para o capital externo. Foram
criadas Zonas Econômicas Especiais, as ZEE, cidades no
litoral com adaptações para receber empresas e
investimentos estrangeiros. Um exemplo de ZEE é
Shenzhen, cidade na província de Cantão pioneira na
reformulação da economia chinesa.

Na imagem ao lado, vê-se a Cidade de Shenzhen, localizada


ao norte de Hong Kong. Atualmente a região abriga
empresas de alta tecnologia e costuma ser chamada de
Vale do Silício chinês.
Cidade de Shenzhen – Hong Kong (Fonte: Hit1912/ Shutterstock).

No campo político, Xiaoping manteve o partido único, o controle pelo Partido Comunista Chinês e a repressão de movimentos
democráticos. Já as medidas econômicas atingiram os objetivos pretendidos, incrementando a industrialização do país,
aumentando a produtividade no processo produtivo e baixando preços de venda; o mercado consumidor foi ampliado e assim
a economia foi estimulada, alcançando altos números de crescimento e levando a China à posição de segunda potência
mundial.

Atividade
1. Quais foram os efeitos das “Quatro Modernizações” na economia chinesa? Surtiram o efeito desejado

A China hoje: força e contradições


Primeiramente, devemos destacar que a flexibilização que permitiu o crescimento econômico chinês não se refletiu na política
do país. O autoritarismo de outrora permanece, tendo o Partido Comunista Chinês o controle dos meios de comunicação, da
internet e mantendo a repressão sobre manifestações contrárias ao regime e à liberdade de expressão de modo geral.
O atual presidente Xi Jinping é acusado de aumentar a
rigidez do sistema de governo, concentrar ainda mais o
poder e até mesmo imitar a campanha maoísta de culto à
personalidade. Em 2018, a Constituição do país foi alterada
para perpetuá-lo no cargo.

Do ponto de vista econômico, embora a China não tenha os


índices de crescimento de décadas atrás, continua em ritmo
ascendente, provando ao mundo o sucesso de seu
“socialismo de mercado” ou “capitalismo de Estado”.

Presidente da China, Xi Jinping (Fonte: 360b / Shutterstock)

A China de hoje é a segunda maior economia do mundo


atrás somente dos Estados Unidos, mas é o país que mais
produz e mais vende no mundo e tem o setor bancário mais
rico de todo o planeta. Sua indústria, altamente
diversificada, abrange desde uma forte base, com
metalúrgicas, siderúrgicas e petroquímicas, até uma grande
produção e exportação de bens de consumo como
eletrônicos, calçados, automóveis etc.

Seus produtos atendem o mercado interno e abastecem


países de todo o mundo, entre eles a Coreia do Sul, o Japão,
a União Europeia e os Estados Unidos. Investindo
atualmente em inovação, lidera as pesquisas de
desenvolvimento de tecnologia 5G para telefonia móvel.
Sete dos dez maiores portos do globo estão no litoral
chinês.
Distribuição industrial chinesa. (Fonte: Geografia para todos).

O leste do país concentra a atividade industrial e a grande maioria da população. A porção ocidental, por sua vez, apresenta
regiões com baixa densidade demográfica e despovoadas.

Entre as condições favoráveis à indústria chinesa está a grande oferta de mão de obra a baixo custo. E aqui encontramos uma
contradição neste sucesso econômico: a maioria não se beneficia, ao menos como se deveria supor, da geração de riquezas,
ou seja, o crescimento econômico ainda não proporcionou os benefícios sociais correspondentes.

Dados divulgados em 2018 mostram a China na 86ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH),
equivalente ao de países como Argélia e Equador. Nos últimos 40 anos, o país tirou centenas de milhões de pessoas da
pobreza extrema, mas pelo menos 10% da população ainda está abaixo da linha que divide pobreza e miséria. E, enquanto isso,
aumenta a quantidade de bilionários no país.
Devemos observar, ainda, grandes desigualdades regionais.
A riqueza das regiões costeiras contrasta com a falta de
infraestrutura e do subdesenvolvimento de províncias do
interior.

Outro ponto a destacar é o modelo chinês de crescimento


econômico baseado em matrizes energéticas não
renováveis, como o petróleo e o carvão mineral. A despeito
de possuir a maior usina hidrelétrica do mundo, a de Três
Gargantas, quase 90% da energia produzida no país provêm
das termelétricas. Este é mais um desafio para a China dos
próximos anos: diminuir emissões de carbono sem
comprometer o desenvolvimento de sua economia.

Usina no norte da China. (Fonte: mamahoohooba / Shutterstock)

Aproveitamos também para mencionar dois dos conflitos com os quais o país tem convivido. Parte da população de Hong
Kong aproveitou as comemorações de aniversário da Revolução Comunista para protestar contra o que chamam de aumento
da interferência do presidente chinês nos assuntos locais. O território autônomo de Hong Kong foi devolvido pelo Império
Britânico à China em 1997.

Na província de Xinjiang, rica em petróleo, vive o povo uigur. Trata-se de uma minoria étnica que reclama de discriminação e da
intensa migração de famílias da etnia han, incentivada pelo governo chinês para reprimir possíveis movimentos de
emancipação. A região foi anexada pela China no século XIX.

O que reserva à China nos próximos anos? Especialistas divergem; portanto, vamos acompanhar seus passos na economia e
conferir se o povo conquistará alguma abertura política.

Atividade
2. Considerando os dados econômicos e os indicativos sociais, o que poderíamos chamar de contradição na China de hoje?

3. Na segunda metade do século XX, a China foi governada por Deng Xiaoping, que implementou mudanças no país. Assinale a
alternativa que contém uma das realizações do líder chinês:

a) O Grande Salto Adiante;


b) A Ponte para o Futuro;
c) A fundação da República Popular da China;
d) A abertura política do país;
e) As “quatro modernizações”.
4. “[...] a maioria dos chineses depende do sistema público, geralmente lotado, mas os mais ricos vão para hospitais
particulares.

A educação chinesa também passou por mudanças. Ainda é oferecida pelo Estado, mas já não é mais totalmente gratuita. ‘São
9 anos obrigatórios e não pagos. Mas, para ir ao ensino médio e à universidade, é preciso pagar’, diz a jovem.

Onde ela mais sente a presença do Estado em sua vida é em termos de segurança e liberdade de expressão.

A primeira questão ela elogia: ‘A China é o país mais seguro que existe, o governo garante nossa segurança’.

Por outro lado, lamenta as restrições que enfrenta quando quer navegar na internet ou usar as redes sociais.” (SMINK, V. 70
anos da República Popular da China: quão comunista ainda é a segunda maior economia do mundo.

Fonte: BBC News Brasil. Online. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-49877815. Acesso em 20 out.


2019.)

O texto acima mostra aspectos sociais da China e a relação do Partido Comunista Chinês com o cidadão.

Com base no texto e no que você estudou sobre o assunto é correto afirmar que:

a) O presidente Xi Jinping vem promovendo abertura econômica e política a fim de consolidar o que é chamado de “socialismo light”.
b) As restrições para navegação relacionam-se com o idioma, que nem sempre possui versão nas redes sociais.
c) O governo chinês opta por manter o cidadão sob vigilância constante, não dando sinal de oferecer mais liberdade.
d) O aumento do número de bilionários no país evidencia o aumento da autonomia da população.
e) As políticas do governo chinês incluem a liberdade total de migração para zonas mais desenvolvidas, por isso a maior concentração
populacional a leste.

5. Assinale a alternativa que contém uma condição favorável a investimentos estrangeiros na China:

a) A existência de uma rígida legislação ambiental, o que anima o capital externo.


b) Uma infraestrutura viária precária, o que incentiva outros países a investirem.
c) Políticas protecionistas promovidas pelo governo chinês.
d) A disponibilidade de mão de obra numerosa, relativamente qualificada e barata.
e) As grandes áreas despovoadas do interior.

Notas

Título modal 1

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Referências
SMINK, V. 70 anos da República Popular da China: quão comunista ainda é a segunda maior economia do mundo. BBC News
Brasil [Online]. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-49877815 Acesso em: 20 out. 2019.

ORÁCULO. Por que a bandeira da China tem 5 estrelas? Revista Super Interessante, [Online], 21 dez. 2016. Disponível em:
https://super.abril.com.br/blog/oraculo/por-que-a-bandeira-da-china-tem-5-estrelas/ Acesso em: 20 out. 2019.

Próxima aula

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Leia o texto:

Questões ambientais e prioridades políticas na China

Um artigo escrito no ano de 2011 para a Universidade de Campinas, em que as pesquisadoras da Leila Ferreira e Fabiana Barbi
associam o crescimento econômico chinês e as prioridades políticas às questões ambientais.

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