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DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO DO RIO:
Diagnósticos e Ações
Ano I
Rio de Janeiro, março de 2022
SUMÁRIO

Carta do Prefeito 03 Trabalho e Renda


Carta do Secretário 3.1 Introdução
Sumário Executivo 3.2 Diagnóstico e Revisão da Literatura
3.3 Propostas
01 Visão Geral
1.1 Definição de Desenvolvimento
04 Competitividade e Inovação
Econômico
4.1 Introdução
1.2 Análises Econômicas da SMDEIS
4.2 Diagnóstico e Revisão da Literatura
1.3 Economia do Rio
4.3 Propostas

02 Economia Local e Turismo


05 Rio em Transição para uma
2.1 Introdução
Economia de Baixo Carbono
2.2 Diagnóstico e Revisão da Literatura
5.1 Introdução
2.3 Propostas
5.2 Diagnóstico e Revisão da Literatura
5.3 Propostas
BOXES

BOX: Boletim Econômico do Rio (Capítulo 1)


BOX: Observatório Econômico do Rio (Capítulo 1)
BOX: O Melhor Plano Econômico é a Vacinação (Capítulo 1)
BOX: Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações (Capítulo 1)
BOX: Plano de Desenvolvimento – Economia Local (Capítulo 2)
BOX: GTT Carnaval de Dados (Capítulo 2)
BOX: Web Summit (Capítulo 2)
BOX: Auxílio Empresa Carioca - Medidas no Combate à Pandemia (Capítulo 3)
BOX: Crédito Carioca - Medidas no Combate à Pandemia (Capítulo 3)
BOX: Programadores Cariocas (Capítulo 3)
BOX: Plataforma Digital de Vagas de Trabalho no Rio (Capítulo 3)
BOX: Lei da Liberdade Econômica Carioca (Capítulo 4)
BOX: LICIN: Licenciamento Integrado, Simplificando a Economia do Rio (Capítulo 4)
BOX: Digitalização dos Licenciamentos Urbanísticos e Ambientais (Capítulo 4)
BOX: Porto Maravalley (Capítulo 4)
BOX: Sandbox Regulatório (Capítulo 4)
BOX: Bolsa Verde Rio (Capítulo 5)
CARTA DO
PREFEITO
O Rio, nossa Cidade Maravilhosa, com uma beleza natural lindíssima, responsável pelo “maior
espetáculo da terra” que é o desfile das Escolas de Samba no Carnaval, palco dos Jogos Olímpi-
cos Rio 2016, sofreu com os impactos de sucessivas crises administrativas e políticas nos últimos
anos. No meu segundo mandato (2013-16), a média da taxa de desemprego anual no Rio foi de
5,9%, abaixo da média nacional de 8,5%. Nos quatro anos seguintes, a taxa de desemprego mé-
dia carioca disparou para 13,0%, ultrapassando a taxa brasileira, que foi de 12,6%. A COVID-19,
que trouxe dor, luto e aprofundou ainda mais os abismos sociais que separam cidadãos, bairros
e regiões inteiras da nossa cidade, agravou os problemas econômicos que já vinham antes da
pandemia.

Mas o Rio vai voltar a dar certo! Nossa missão imediata é a retomada econômica e a melhoria
das condições sociais para todas e todos os cariocas. Temos diversas metas na Prefeitura do Rio,
como as lideradas pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simpli-
ficação (SMDEIS), de reduzir a taxa de desemprego anual do Rio de 14,7% (média de 2020) para
8% até 2024; e fortalecer a economia carioca, visando o crescimento de 3% ao ano, em média,
do Produto Interno Bruto (PIB) do Rio.
A vacinação ocorrida no Rio ao longo de 2021 foi um fator fundamental para a retomada econô-
mica. Com isso, também foi possível termos novamente, na medida do possível, os elementos
centrais da identidade carioca, que foram atingidos pelo vírus: a convivência, a intimidade, o
estar junto.

A publicação “Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações”, coordenado pela SM-


DEIS, está totalmente alinhado ao Plano Estratégico (PE) 2021-2024 da Prefeitura do Rio, que
tem 93 metas e 231 projetos. Com a missão de melhorar o ambiente de negócios carioca, sim-
plificar a burocracia e atrair novos negócios e investimentos para o Rio, a SMDEIS elaborou esta
publicação, com nortes, ações e programas importantes para o Rio voltar a dar certo!

Estamos no caminho e seguiremos juntos!

EDUARDO PAES
PREFEITO
CARTA DO
SECRETÁRIO
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SMDEIS) tem
múltiplas tarefas. Olhando um pouco mais para frente, além de pensar estrategicamente o de-
senvolvimento econômico da cidade, a Secretaria conta com uma inédita Subsecretaria de Re-
gulação e Ambiente de Negócios (SUBRAN), que tem como missão contribuir para uma melhor
formatação das políticas regulatórias e aumentar a segurança jurídica dos investidores. A SM-
DEIS também é responsável pelas licenças urbanísticas e ambientais do Rio, através da Subse-
cretaria de Controle e Licenciamento Urbanístico (SUBCLU) e da Subsecretaria de Controle e
Licenciamento Ambiental (SUBCLA), uma integração absolutamente inovadora, cuja premissa
é o desenvolvimento econômico sustentável atrelado à proteção ambiental e ao ordenamento
urbanístico, transformando o Rio em uma das melhores cidades do país para se fazer negócios.

A Subsecretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação (SUBDEI) realiza estudos sobre a


economia carioca, para poder subsidiar as decisões da alta gestão, baseadas em dados e evi-
dências empíricas, além de analisar os principais indicadores econômicos do Rio, e elaborar po-
líticas públicas para a cidade. A SUBDEI também foi responsável por coordenar esta publicação.
E a Subsecretaria Executiva (SUBEX), com a tarefa da gestão e coordenação de todas as demais
subsecretarias da SMDEIS. Ligada à Secretaria, também há a Invest.Rio, agência de promoção e
atração de investimentos da Prefeitura do Rio, com objetivo de facilitar e conectar negócios e
investimentos e gerar impacto econômico para a capital fluminense.

Com a missão de melhorar o ambiente de negócios carioca, através do aumento da segurança


jurídica; digitalizar e simplificar os licenciamentos envolvendo as atividades econômicas da cida-
de; e atrair novos negócios e investimentos para o Rio, a SMDEIS elaborou esta publicação, com
nortes, ações e programas do que acreditamos ser importantes para o Rio voltar a dar certo! O
presente relatório está totalmente alinhado ao Plano Estratégico (PE) 2021-2024 da Prefeitura
do Rio, com as suas metas, iniciativas e projetos. Duas das principais metas do PE, que são lidera-
das pela SMDEIS - reduzir a taxa de desemprego anual do Rio de 14,7% (média de 2020) para 8%
até 2024, e fortalecer a economia carioca, visando o crescimento de 3% ao ano, em média, do
Produto Interno Bruto (PIB) do Rio - resumem bem o que pretendemos realizar nesses próximos
anos. E fazer isso junto de redução de desigualdades, em especial dos grupos mais vulneráveis,
como mulheres, negros, jovens; e preocupado com questões ambientais, de desenvolvimento
sustentável.

Vale ressaltar que a crise do coronavírus foi única em muitos aspectos, principalmente por ser a
primeira recessão a ser desencadeada apenas por uma pandemia nos últimos 150 anos. O Brasil
e seus municípios - em especial o Rio - já atravessaram crises econômicas antes da pandemia,
com fraco desempenho da atividade econômica, alto desemprego e crítica situação fiscal. A Co-
vid agravou mais ainda os problemas econômicos anteriores. Olhando o que foi feito no Brasil e
ao redor do mundo, nesse período “praticamente de guerra”, a Prefeitura do Rio criou iniciativas
para ajudar pessoas e empresas nesse difícil momento, principalmente de medidas mais restri-
tivas. Essas “pontes” foram muito importantes, junto com a vacinação em massa da população,
que foi e ainda é o melhor plano econômico! Paralelamente a isso, também são feitas e estu-
dadas medidas mais focadas no médio e longo prazo, para simplificar a economia, melhorar o
ambiente de negócios, e com isso aumentar os investimentos, fortalecer a atividade econômica,
e impactar positivamente o desenvolvimento econômico do Rio, para ter como consequência
mais empregos no Rio!

CHICÃO BULHÕES
SECRETÁRIO MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO, INOVAÇÃO E SIMPLIFICAÇÃO
SUMÁRIO
EXECUTIVO
A publicação “Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações”, feito com muitas
mãos, de diversas origens e contextos diferentes, fruto de centenas de reuniões, conversas, tan-
to internas, quanto externas, com relevantes atores da economia do Rio e do Brasil, como com
muitos cariocas, coordenado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inova-
ção e Simplificação (SMDEIS), é um norte com temas, ações e programas que a SMDEIS já fez ou
pretende implementar, visando o desenvolvimento econômico do Rio.

Os programas da SMDEIS descritos na publicação têm como missão melhorar o ambiente de


negócios do Rio; digitalizar e simplificar os licenciamentos das atividades econômicas da ci-
dade; e atrair novos negócios e investimentos para o Rio, e estão alinhados às metas do Plano
Estratégico (PE) 2021-2024 da Prefeitura. Duas das principais metas do PE, que são lideradas
pela SMDEIS - reduzir a taxa de desemprego anual do Rio de 14,7% (média de 2020) para 8%
até 2024; e fortalecer a economia carioca, visando o crescimento de 3% ao ano, em média,
do Produto Interno Bruto (PIB) do Rio - resumem bem o espírito do Plano de Desenvolvimento
Econômico do Rio! O presente documento está dividido em cinco capítulos, e em cada capítulo
há boxes com programas da SMDEIS relacionados à temática central.

No capítulo 1, “Visão Geral”, a primeira seção é sobre os objetivos da publicação. Para isso, há
referências a autores como Schumpeter, Acemoglu, Robinson, North e Amartya Sem, e defini-
ções de política pública governamental, programa governamental, planos e ações. A subseção
1.1.1, “Educação e Desenvolvimento”, fala sobre o impacto positivo que o capital humano, em
especial a educação, exerce sobre a renda dos indivíduos, a mobilidade social e a velocidade e
sustentabilidade do crescimento de uma cidade ou país. Ou seja, como a educação é importan-
te para o desenvolvimento econômico, com atenção especial para a primeira infância.
A segunda seção é sobre as análises econô-
micas da SMDEIS, dado que um dos princi-
pais focos da Subsecretaria de Desenvolvi-
mento Econômico e Inovação (SUBDEI) da
SMDEIS é realizar estudos sobre a economia
carioca e elaborar políticas públicas, para
poder subsidiar as decisões da alta gestão,
baseadas em dados e evidências empíricas,
e analisar os principais indicadores para ava-
liação do desempenho da economia do Rio.
Nesta seção há dois boxes: um sobre o Bo-
letim Econômico do Rio, publicação mensal
da SMDEIS sobre a economia carioca, que
também conta com o Indicador de Ativida-
de Econômica do Rio (IAE-Rio), elaborado
pela SMDEIS para acompanhar mensalmen-
te a atividade econômica do Município; e
outro sobre o Observatório Econômico do
Rio, portal da SMDEIS com todo material so-
bre a economia carioca, com dados, análises,
estudos especiais, notas técnicas, Boletim
Econômico do Rio, IAE-Rio, inclusive o pre-
sente Plano de Desenvolvimento Econômico
do Rio, com o objetivo de dar mais transpa-
rência para esses indicadores e análises, po-
dendo subsidiar a alta gestão do Município,
e ajudar na elaboração de políticas públicas
para o Rio, bem como poder ser visto pela
imprensa, academia e a sociedade em geral.
A terceira seção é sobre a “Economia do Rio”, que conta
com uma subseção sobre a população carioca, com seus
quase sete milhões de habitantes (quase duas vezes a
população do Uruguai); e outra sobre a atividade econô-
mica do Rio, segunda maior economia do Brasil, com um
PIB (em dólares) de mais de 40% do PIB de Portugal, e
mais de uma vez e meia o do Uruguai, e com análises da
arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS), principal
imposto no âmbito municipal das atividades econômi-
cas. Os cinco principais itens foram responsáveis por
mais de 70% da arrecadação de ISS em 2020 (serviços
de saúde, assistência médica; serviços de apoio técni-
co, administrativo, jurídico, contábil, comercial; servi-
ços relativos à engenharia, arquitetura, geologia, ur-
banismo, construção civil, manutenção, limpeza, meio
ambiente, saneamento; setor bancário ou financeiro;
e serviços de informática). Por fim, há mais dois boxes
nesse capítulo: “O Melhor Plano Econômico é a Vaci-
nação!”, frase repetida constantemente pelo Secretário
Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e
Simplificação do Rio, Chicão Bulhões, em que analisa os
dados do Estudo Especial da SUBDEI/SMDEIS, “Compa-
ração Relativa da Covid no Rio: 2020 X 2021”, que con-
cluiu que com uma melhora relativa da crise sanitária no
Rio (passou de 7,2% do total de óbitos brasileiros em 2020 para 4,1% em 2021, até outubro; e
reduziu de metade do total de mortes no ERJ no ano passado para 41,0% em 2021, também até
outubro)”, a atividade econômica carioca apresentou sinais de melhora, influenciada também
pela melhora das expectativas com a aceleração da vacinação; com a maior previsibilidade das
ações para conter a pandemia; e com as ações tomadas pela Prefeitura do Rio, no sentido de
medidas restritivas para a contenção da pandemia durante os meses do ano, mostrando que “o
melhor plano econômico é a vacinação”; e, por fim, um box sobre a publicação “Plano de Desen-
volvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações”.

O capítulo 2, “Economia Local e Turismo”, trata de dois temas transversais, que também
conversam muito entre si. Afinal de contas, assim como moramos em cidades, e não em países,
o turismo, está concentrado em determinadas áreas da Cidade Maravilhosa. A seção 2, sobre
diagnóstico e revisão da literatura, começa sobre a Economia Local, falando sobre o Índice de
Progresso Social (IPS) do Rio de Janeiro, indicador que visa mensurar o desenvolvimento huma-
no em cada região do município, e separando pelas cinco Áreas de Planejamento (APs). Nas APs,
há a distribuição espacial da população carioca, dos empregos no Rio, dos empregos no setor
privado, dos estabelecimentos, e dos empregos do setor privado separado pelos subsetores da
CNAE. Já na parte de turismo, há dados e informações mostrando a importância desse segmento
no Rio, evidenciando como o setor possui um impacto positivo na economia local e como o turis-
mo na região também pode ser um promotor de desenvolvimento, emprego e bem-estar. Foca
também na distribuição dos empregos no Rio por atividades características de turismo, além de
citar dados dos grandes eventos do Rio, como Carnaval, com os desfiles das Escolas de Samba,
o “maior espetáculo da terra” e as centenas de blocos de rua; o Réveillon; e o Rock in Rio,
além de citar a importância das Olimpíadas Rio 2016 para a economia carioca.
Na seção 3, das propostas, na parte de Economia Local, é falado da revitalização de áreas ante-
riormente abandonadas pelo poder público, citando o projeto do Porto Maravalley, liderado
pela SMDEIS e Invest.Rio, que será um polo de inovação e tecnologia que tem por objetivo atrair
grandes empresas de tecnologia (big techs), startups e centros de pesquisa para o coração da
zona portuária do Rio, e o projeto Reviver Centro, liderado pela Secretaria Municipal de Planeja-
mento Urbano (SMPU), que é um plano de recuperação urbanística, cultural, social e econômica
da região central do Rio. Uma medida citada está na realização de estudos que consigam apontar
para uma espécie de “vocação econômica regional” de diferentes áreas da cidade. Este tipo de
medida é importante para políticas públicas voltadas ao desenvolvimento econômico de deter-
minadas regiões, visto que cada uma delas pode apresentar características estruturais distintas,
podendo ser mais bem aproveitadas de diferentes maneiras, e consta no box “Plano de Desen-
volvimento – Economia Local”.

Na área de turismo, são citadas as metas do PE do Rio, como atrair novos eventos de grande
porte, nas áreas de entretenimento, tecnologia e saúde, consolidando um calendário anual de
eventos; aumentar o fluxo de turistas na cidade; apoiar a realização de diversos festivais e even-
tos de arte e cultura; e ter a Cidade do Rio de Janeiro como anfitriã de encontros de cúpula ou
reuniões internacionais político-econômicas de alto nível. No quadro pós-pandemia, o setor de
Turismo deve sofrer transformações consideráveis ao longo dos próximos anos. Há estudos
mostrando que os turistas buscam por uma nova forma de viajar, mais consciente e responsá-
vel; viagens curtas e domésticas permanecem sendo as preferidas; a maior parte dos turistas se
sente confortável com a apresentação de um “passaporte de imunidade”, caso o mesmo seja
exigido; além de apoio a práticas sustentáveis, as políticas de inclusão são importantes no mo-
mento da decisão. Nesse sentido, há um box denominado “GTT Carnaval de Dados”, demanda
apresentada pela SMDEIS à Fundação João Goulart (FJG), com objetivo principal de reunir os da-
dos relacionados à atuação dos órgãos da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro envolvidos no
Carnaval carioca, para dar suporte aos órgãos internos e externos à Prefeitura para tomada de
decisão e planejamento do evento nos
próximos anos e, à sociedade em ge-
ral, para ratificarmos a relevância que o
evento Carnaval tem para o desenvolvi-
mento econômico da Cidade.

E, por fim, um box sobre o Web Sum-


mit, um evento com objetivo de unir
startups e a comunidade investido-
ra, definido pela revista The Econo-
mist como o “Woodstock para geeks”,
que em 2017 apresentou um impac-
to econômico estimado pelo Governo
de Portugal, país onde o evento é rea-
lizado anualmente desde 2016, de apro-
ximadamente € 300 milhões, com pú-
blico próximo de 70 mil pessoas. Um
evento desse porte é, com certeza, uma
ferramenta com enorme potencial para
transformar o ambiente de negócios da
Cidade, notadamente aqueles relacio-
nados à tecnologia e soluções digitais.
Ao sediar o Web Summit, o Rio passa a
entrar no radar de grandes multinacio-
nais ligadas ao evento, que passarão a
enxergar na Cidade uma ótima escolha
para realização de seus investimentos.
O capítulo 3, “Trabalho e Renda”, apresenta na seção sobre diagnóstico e revisão da literatura,
dados do mercado de trabalho no Rio, mostrando que a pandemia agravou os problemas econô-
micos do Rio, mas não foi a origem deles. Por exemplo, vale ressaltar que a taxa de desempre-
go no Rio na média 2013-2016 foi de 5,9%, 2,6 p.p. abaixo da taxa de desemprego do Brasil
(8,5%). Já na média 2017-2020, além do forte aumento do desemprego carioca, passando para
13,0%, a taxa do Rio ainda ficou maior do que a média nacional (12,6%). Com a economia mais
forte, há mais empregos, o que reduz a taxa de desemprego impactando também na redução das
desigualdades. Por isso que no Plano Estratégico 2021-2024 tem metas, lideradas pela SMDEIS,
de fortalecer a economia e reduzir o desemprego. Há uma subseção denominada “Combate
à Pobreza e Transferência de Renda”, que conta com uma análise sobre a evolução da pobreza
no Brasil e no Rio de Janeiro, e faz uma revisão da literatura sobre programas de transferência
de renda, tanto no nível nacional como municipal com as conquistas e desafios dos mesmos. E
com um breve comentário sobre suavização de renda para pessoas vulneráveis, dado que ainda
não existem programas que protejam os trabalhadores informais de renda baixa para além de
impedi-los de entrar na extrema pobreza, embora existam algumas propostas nesse sentido. A
subseção 3.2.3, “Empreendedorismo, MEI, Micro e Pequenas Empresas”, apresenta dados do
Rio (mais de 600 mil MEIS no Rio, em agosto de 2021) e referências sobre esses temas, como,
medidas educacionais ou de treinamento e qualificação técnicas, que são formas eficientes
de “formalizar” o mercado de trabalho. Também são discutidas questões de gênero, mercado
de trabalho e desenvolvimento econômico; além de programas de microcrédito, dado que
existem evidências de relação positiva entre disponibilidade de microcrédito e aumento da
atividade empresarial; e uma ampla discussão sobre pequenas e médias empresas. No Municí-
pio do Rio de Janeiro, segundo os dados da RAIS, em 2019, 78,6% dos estabelecimentos eram
microempresas; 17,8%, empresas pequenas; e somente 2% de empresas de porte médio e
1,6% de porte grande.
Na seção com as propostas, é ressaltado que duas das principais metas do Plano Estratégico da
Prefeitura do Rio, lideradas pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação
e Simplificação (SMDEIS) são: reduzir a taxa de desemprego do Rio, de 14,7% (média anual de
2020) para 8,0% até 2024; e fortalecer a economia do Rio, visando o crescimento de 3% ao
ano, em média, do PIB carioca. Diante da atual conjuntura, pretendemos promover políticas
ativas de trabalho para os cariocas vulneráveis, com foco especial para os mais pobres, e, dentro
desse grupo, com prioridade às mulheres, aos jovens e aos negros, com programas de treina-
mento; incentivos à busca por emprego; com foco na capacitação privilegiando habilidades úteis
para setores de alta empregabilidade no Rio.
Diante disso, há cinco boxes de programas que a
SMDEIS já fez ou está elaborando para implemen-
tar. O primeiro é sobre o “Programadores Cario-
cas”, curso de programação para jovens cariocas,
que visa tornar o Rio um dos principais pólos de
startups e inovação. O segundo é sobre educação
financeira, um programa que visa capacitar jovens
cariocas com noções básicas de como lidar com
dinheiro, sendo um pilar importante tanto para a
vida profissional, quanto pessoal. O box “Platafor-
ma Digital de Vagas de Trabalho no Rio” é sobre
uma plataforma que será desenvolvida pela SM-
DEIS para realizar o matching entre vagas de tra-
balho no Rio e potenciais trabalhadores, separados
por localidade, setor, nível de escolaridade, entre
outros. As vagas abertas serão divulgadas em par-
ceria com a Secretaria Municipal de Trabalho e Ren-
da (SMTE). O box do “Crédito Carioca”, programa
de microcrédito feito pela SMDEIS em parceria com
a Invest.Rio e o setor privado, com linhas de cré-
dito para micro, pequenas e médias empresas que
buscam ampliar seu negócio, financiar equipamen-
tos ou obter capital de giro, inicialmente para miti-
gar os impactos negativos da pandemia, mas que
será uma política pública permanente nos próxi-
mos anos, com concessão do crédito e educação
financeira, tem como objetivo beneficiar tanto os empresários como trabalhadores cariocas,
contribuindo para o desenvolvimento econômico do Rio. E, por fim, o box do “Auxílio Empresa
Carioca”, ajuda para micro e pequenas empresas que precisaram fechar durante o período de
medidas mais restritivas de combate a Covid (março e abril de 2021), em parceria com a Câmara
Municipal de Vereadores, em que quase vinte mil empregos foram mantidos com essa iniciati-
va, beneficiando mais de cinco mil empresas cariocas. O Auxílio Empresa Carioca foi uma lei (nº
48.644 / 2021) aprovada pela Câmara Municipal dos Vereadores, enviada pelo Poder Executivo.

O capítulo 4, “Competitividade e Inovação”, cita que a principal preocupação de qualquer


economia de mercado no longo prazo é seu crescimento. O desenvolvimento econômico traz
consigo maior número de empregos, mais receita tributária, estabilidade política e social,
além de ser condição necessária para a redução da desigualdade. E, nesse contexto, o tra-
balho de Solow nos anos 1950 e, posteriormente, os de Romer nos anos 1990 consagraram-
-se na literatura de desenvolvimento econômico e renderam aos seus autores o prêmio Nobel
de Economia ao destacar o papel fundamental da inovação tecnológica para o crescimento.

Na seção com o diagnóstico e revisão da literatura, há uma análise do ambiente de negócios


no Brasil e no Rio, junto de uma série de referências sobre o tema, além de benchmarks inter-
nacionais, com tópicos como fatores que determinam a abertura de novas empresas; isenções
tributárias; parques tecnológicos e ecossistemas de inovação; e importância da ponte entre
academia e mercado.

Na seção com as propostas, duas metas importantes no Plano Estratégico da Prefeitura do Rio,
lideradas pela SMDEIS, e que têm total relação com os temas descritos neste capítulo, são: tor-
nar o Rio a melhor cidade da América Latina para abertura de empresas e licenciamento de
obras; e atrair e fomentar a criação de 400 novas startups.
Em vista do que foi exposto no capítulo sobre a relevância do setor de tecnologia e inovação
como ferramenta de crescimento econômico de seu enorme potencial para a inclusão e para a
geração de emprego e renda, tomando como base as experiências internacionais, o diagnóstico
apresentado e a evidência científica, há algumas propostas para tornar o Rio de Janeiro um polo
tecnológico: desenvolver um ecossistema de inovação na cidade do Rio de Janeiro a partir do
Projeto Porto Maravalley, de maneira a concentrar e conectar empresas jovens e inovadoras
numa mesma região, potencializando dessa forma os efeitos de spillover de P&D, facilitando a
disseminação do conhecimento de fronteira, e oferecendo suporte a novos empreendedores
através de serviços de incubação e aceleração de startups, promovendo com isso um ambiente
favorável ao surgimento de novos produtos, tecnologias e serviços; melhorar o ambiente de
negócios da cidade do Rio de Janeiro, através de medidas que visem reduzir e simplificar o
fardo burocrático associado à abertura e à manutenção de novos negócios, assim diminuindo
os custos e o trabalho do pequeno empreendedor, incentivando o desenvolvimento de novas
empresas e atraindo investimentos que gerem empregos e renda para a população carioca;
promover a aproximação entre os diferentes players do setor de tecnologia, dando ênfase
especial à comunicação e à coordenação de atores da ponta comercial, como investidores, em-
preendedores e firmas, e atores da ponta de desenvolvimento, como universidades, professores
e pesquisadores; facilitar não somente a abertura, mas também a prosperidade e a evolução
de novos negócios, através da qualificação técnica de pessoal; e garantir que os benefícios de-
correntes do progresso tecnológico não fiquem concentrados apenas nas mãos de profissionais
altamente especializados por meio de programas e iniciativas que visem qualificar jovens de
classes baixas em programação e informática, promovendo com isso sua inserção no mercado
de trabalho e suprindo a demanda por mão-de-obra para esse setor em crescimento.

No capítulo 4 há cinco boxes sobre os temas relacionados: o primeiro box é do Porto Maravalley,
com a criação de um polo de inovação e tecno-
logia no coração da Zona Portuária para atrair
bigtechs, startups, centros de pesquisa, univer-
sidades e moradia. O box da “Lei da Liberdade
Econômica Carioca”, Projeto de Lei que foi en-
viado para a Câmara Municipal de Vereadores
pela SMDEIS, que garante autonomia para quem
deseja empreender sem enfrentar muitas buro-
cracias e elimina a necessidade de alvará para
atividades de baixo risco. Estimativas da SMDEIS
indicam que, com a LLE, o PIB per capita anu-
al do Rio pode crescer até R$ 4 mil (passan-
do de R$ 54,4 mil para R$ 58,4 mil), com um
potencial de gerar aproximadamente 115 mil
empregos novos na cidade, em até dez anos.

Há, também, o box do Licenciamento Integra-


do – LICIN, que com um choque de gestão, uma
alteração interna de procedimentos com o obje-
tivo de otimizar as análises dos pedidos, sem ne-
cessidade de mudança legislativa, as licenças de
obra que antes demoravam até 257 dias, agora
são emitidas em até 30 dias, trazendo mais in-
vestimentos e tornando o Rio a melhor capital
do Brasil para a construção civil.
O box da “Digitalização dos Pedidos de Licenciamento Urbanístico e Ambiental”, medida com-
plementar ao LICIN, que a SMDEIS também digitalizou os novos pedidos para licenciamento
urbanístico e ambiental, sendo o começo do fim das pastas de papel. Desde junho de 2021,
todos os novos processos são abertos exclusivamente de forma online e digital. Além de otimizar
o tempo (do técnico e do requerente), reduzir os prazos e aumentar a eficiência, a medida tam-
bém contribui para a redução dos gastos com papel e material administrativo. Além disso, todo
o procedimento fica mais transparente, com a possibilidade de acesso remoto às informações.

Tanto o LICIN, quanto a implantação do licenciamento digital, fazem parte de um amplo proje-
to desenvolvido pela Prefeitura do Rio, por meio da SMDEIS, cujo objetivo principal é de trazer
uma nova dinâmica aos serviços prestados pelo poder público, baseada na eficiência, trans-
parência e agilidade nas respostas ao cidadão. Essas iniciativas têm o potencial de melhorar a
vida não só do requerente, mas também do servidor, além de serem importantes no processo
de simplificação da economia e melhora do ambiente de negócios, impactando positivamente o
desenvolvimento econômico do Rio.

Por fim, o box do “Sandbox Regulatório”, liderado pela Subsecretaria de Regulação e Ambien-
te de Negócios (SUBRAN) da SMDEIS, será o mecanismo que vai permitir a entidades públicas
o teste, em um ambiente micro e controlado, de novos produtos, modelos de organização ou
condução de serviços – podendo servir como instrumento útil ao fomento do desenvolvimento
econômico local. Ou seja, será um espaço controlado para experimentar políticas públicas e
novos modelos de negócio para o Rio.
O capítulo 5, “Rio em Transição para
uma Economia de Baixo Carbono”, cita
que em 1992, no Rio de Janeiro, na Eco92,
foi então aberta a assinatura de partici-
pantes, uma convenção que estabeleces-
se a base para cooperação internacional
sobre as questões técnicas e políticas re-
lacionadas ao aquecimento global, a Con-
venção Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima (CQNUMC); que o Rio
é a primeira cidade da América Latina a
tentar entender as fontes de suas emis-
sões, através da elaboração de inven-
tários, divulgados desde os anos 2000;
possui a primeira e a terceira maiores
florestas urbanas do mundo contidas em
seu território, a Floresta da Pedra Branca
e da Tijuca; entre outros dados históricos
importantes. Ou seja, a cidade que foi a
sede da Rio 92, da Rio +10 e da Rio+20,
e que será da Rio+30, nunca abandonou
seu protagonismo em relação ao clima.
Na seção 2 deste capítulo, há uma revisão da literatura e diagnóstico do comportamento am-
biental da economia carioca, com os inventários de emissão da cidade do Rio, separado pelos
setores de transportes, energia estacionária, resíduos, processos industriais e uso de produtos
(IPPU) e agricultura, floresta e uso do solo (AFOLU); e referências sobre os empregos verdes no
Rio, que são empregos em atividades econômicas que contribuem para redução de emissões,
melhoria e/ou preservação da qualidade ambiental.

Na seção das propostas, sob o aspecto do desenvolvimento econômico, com as metas de forta-
lecer a economia e reduzir a taxa de desemprego, com a importância do setor financeiro no Rio,
e o contexto e a narrativa em prol do Rio sob temas ambientais e de desenvolvimento susten-
tável, um caminho para a perpetuação da economia verde do Rio é o projeto da Bolsa Verde
Rio, que é apresentado no box do capítulo. O Rio tem uma clara vocação para estimular esse
projeto, a partir de uma tripla ancoragem:

1
a força da “marca Rio” para projetar um ambiente de negócios de finanças
sustentáveis no Brasil e no exterior, emoldurado pelas suas belezas naturais
e pela forte identidade que a “Rio 92” proporcionou à Cidade, como pre-
cursora da governança global sobre meio ambiente e mudanças climáticas;

2
a presença local de diversos atores públicos e privados que geram, operam
e demandam “créditos verdes”;

3
a existência de um ambiente técnico, acadêmico e de pesquisas de alta
qualificação em sustentabilidade e em finanças.

Vale ressaltar que o objetivo da Prefeitura não é o de operar uma plataforma de negociações de
ativos ambientais (bolsa, balcão organizado ou market-place), e sim criar condições favoráveis
para que este projeto seja ancorado na cidade. Logo, em princípio, será uma plataforma de
transação de ativos ambientais voluntária, de cunho privado, que transacionaria créditos de
carbono de projetos localizados em todo o território nacional, tendo o apoio e o respaldo da
Prefeitura do Rio.
01
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Visão Geral

24
11
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
1.1
Definição do
Desenvolvimento
Econômico

25
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

D
esenvolvimento Econômico é um tema muito transversal, e é relacionado a to-
das as áreas da Prefeitura do Rio! E não somente de ações da Administração Mu-
nicipal, pois fatores das Administrações Estadual e Federal, além do contexto inter-
nacional, também impactam bastante nos temas do Desenvolvimento Econômico.

Segundo o Cambridge Dictionary, desenvolvimento econômico é o processo no qual as eco-


nomias se tornam mais avançadas, especialmente quando as condições econômicas e sociais
são melhoradas.1 Ao longo dos anos, diversos pensadores se debruçaram sobre o que, exata-
mente, isso significa.

Contrário à ideia de que a economia era destinada a um equilíbrio estático, Schumpeter (1911)
entendia que desenvolvimento no sistema capitalista se dava a partir de “saltos” tecnológicos,
que aconteciam a partir das inovações de empresários. Tais avanços seriam imprevisíveis e dis-
ruptivos, algo inteiramente distinto do processo de crescimento econômico, descrito por ele
como gradual e com mudanças meramente incrementais em relação ao status-quo tecnológico.
Em Schumpeter (1942), é introduzido o conceito de “destruição criativa”, no qual uma inovação
como esta acabaria por levar à falência empresas e a demissão de trabalhadores que dependes-
sem do modo antigo de produzir.

A estrutura de incentivos diante da qual se defrontam os indivíduos e as firmas em uma eco-


nomia tem papel fundamental em suas decisões de investimento em novas tecnologias e em
capital humano, fatores determinantes para o crescimento e o desenvolvimento de longo
prazo de qualquer economia. O que economistas como Acemoglu e Robinson (2012) e North
(1991) reconhecem e enfatizam é que essa estrutura é estabelecida fundamentalmente pelas
instituições de um país, de modo que seu crescimento estará intimamente ligado à sua eco-
nomia política e às suas escolhas de arranjos institucionais adequados, que sejam conducen-
tes ao desenvolvimento.
_
1
ECONOMIC DEVELOPMENT: meaning in the Cambridge English Dictionary.

26
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Isso porque as instituições têm o poder não só de determinar diretamente os incentivos dos
agentes, mas também de influenciar e regular a estrutura de mercado, determinando com isso
a eficácia do processo de “destruição criativa” definido por Schumpeter e tendo, em última ins-
tância, o poder de garantir que firmas novas e mais eficientes de fato substituam suas incum-
bentes menos eficientes. Não só isso, mas as instituições muitas vezes têm o poder de bloquear
a adoção de tecnologias disruptivas no intuito de proteger produtores incumbentes e estabilizar

27
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

politicamente seu regime de governo. Sendo assim, esses autores argumentam que para melhor
compreender o processo de crescimento econômico moderno faz-se necessário estudar as
escolhas político-institucionais que uma sociedade faz.

Por outro lado, Amartya Sen (2018) afirma que a expansão das liberdades é considerada como
o principal meio para alcançar o desenvolvimento econômico e social, definido em termos
das condições de vida da população. Essas liberdades dizem respeito a capacidades elementa-
res como ter condições de evitar privações, ter participação política, liberdade de expressão e a
liberdade de viver do modo como bem desejarem. Para ele, a pobreza pode ser tão limitadora
quanto a tirania de um governo. Afinal, a penúria impede que as pessoas escolham, por exem-
plo, se educar, tratar adequadamente de uma doença, aceitar ou não um emprego degradante.
Para ele, o crescimento econômico de uma região não pode ser considerado um fim em si mes-
mo pois, embora seja importante, não soluciona sozinho todas essas questões. A prosperidade
material precisa estar relacionada com a melhoria de vida dos indivíduos e com o fortalecimento
das liberdades. Nesse sentido, faz-se fundamental o papel do Estado em levar serviços públicos
como educação, saúde e transporte a todos, bem como fortalecer direitos civis e seu exercício
e promover a inclusão de grupos minoritários no mercado de trabalho e nos espaços de poder.

Neste plano, consideramos esses três aspectos do desenvolvimento econômico: a inovação, a


qualidade das instituições - sobretudo do ponto de vista regulatório -, e o progresso social.

Segundo Alencar (2021, p. 6), uma “política pública governamental é entendida como a ação
do governo no sentido amplo, ou seja, a partir de propostas elaboradas levando em con-
ta uma concepção estratégica e institucionalizada acerca de como enfrentar determinado
problema público. Tal elaboração tem o Estado como ator central e seu objetivo é atender às
necessidades da população ou aproveitar oportunidades para a promoção do desenvolvimento,
em diferentes escalas – local, regional, nacional ou até mesmo internacional (Lassance, 2020;
Saravia, 2006; Secchi, 2010; Souza, 2006).”

28
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Alencar (2021, p. 8), define política pública governamental, programa governamental, planos e
ações da seguinte forma:

POLÍTICA PÚBLICA GOVERNAMENTAL PROGRAMA GOVERNAMENTAL


“A ação do governo no sentido amplo, a partir de “Conteúdo que expressa o conjunto e cada
propostas elaboradas, levando em conta uma con- uma das soluções pensadas para resolver o
cepção estratégica e institucionalizada acerca de problema central de uma ou mais políticas.
como enfrentar determinado problema público. Tal Desenvolve o microuniverso em que se esta-
elaboração tem o Estado como ator central e seu belecem os recursos, especificam o público-
objetivo é atender às necessidades da população alvo, calculam os recursos necessários,
ou aproveitar oportunidades para a promoção do definem objetivos, prazos e indicadores
desenvolvimento, em diferentes escalas – local, re-
para monitoramento.”
gional, nacional ou até mesmo internacional.”
(Lassance, 2020; Weiss, 1998)
(Lassance, 2020; Saravia, 2006; Secchi, 2010;
Souza, 2006)
AÇÕES
“Conteúdo que aponta a forma direta de apli-
PLANOS cação de recursos (Lassance, 2020), indica
“Os planos podem ser vistos como resultado o que será desenvolvido para o programa
imediato do planejamento governamental, alcançar seus objetivos, o que será feito e para
que, por sua vez, é inerente à atividade de quê (descrição), como será realizado (forma de
governar, consistindo em: definir prioridades, implementação), o que será produzido (produ-
coordenar implementação, organizar apoios to), como será mensurado (unidade de medida)
e acompanhar as políticas e programas.” e onde está o beneficiário do gasto (subtítulo).”
(Couto e Cardoso Júnior, 2020) (Brasil, 2019)

29
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Diante disso, o presente documento apresenta nortes de grandes temas transversais, que vão
impactar diretamente no desenvolvimento econômico do Rio nos próximos anos. Mas vale
frisar que tópicos porventura não abordados aqui não significam que não sejam importantes
para o desenvolvimento econômico da nossa cidade, e podem ser incorporados em documentos
futuros. Por fim, no presente documento há diversos boxes com programas já feitos ou em ela-
boração pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação
(SMDEIS).

30
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

1.1.1 Educação e Desenvolvimento


Econômico

É amplamente documentado o impacto positivo que o capital humano – conhecimento, for-


mação técnica e saúde – exerce sobre a renda dos indivíduos, a mobilidade social e a veloci-
dade e sustentabilidade do crescimento de uma cidade ou país. Na prática, porém, o desenho
inadequado de políticas públicas pode fazer com que a acumulação de capital humano se con-
centre, de modo a tornar-se um mecanismo para a perpetuação da desigualdade e da pobreza.

De fato, os mais vulneráveis – aqueles que mais poderiam se beneficiar de investimentos em


capital humano – são comumente aqueles com pior acesso a escolas, maiores taxas de evasão
escolar e maiores déficits de aprendizado. Não só isso, mas a crise do COVID-19 serviu para mag-
nificar essas desigualdades, na medida em que, com o fechamento de escolas, crianças e jovens
de famílias de baixa renda se viram impossibilitadas de continuar a estudar, já que a maioria não
tem acesso ao ensino digital e nem podem contar com algum tipo de educação formal em casa.2

Um dos pontos cruciais para a melhoria do sistema educacional é a medição e avaliação contínua
do aprendizado dos estudantes – principalmente das redes de ensino público. Empiricamente,
não se verifica uma correlação forte entre o gasto público e o desempenho de alunos, ou mesmo
entre o gasto pú blico e o acesso à educação – especialmente em países com governança fraca.3
_
2
O FMI recentemente publicou um estudo com ênfase no desenvolvimento inclusivo através de reformas no setor de educação: Filmer
et al. (2021).
3
Al-Samarrai, Infantes e Lehe (2019).

31
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Isso porque apesar de o montante in-


vestido em educação ser tipicamente
alto – mesmo em países em desen-
volvimento – a eficiência desse gas-
to tende a ser baixa. Assim, medidas
granulares e isoladas como contrata-
ção de mais professores ou aumento
de salários não necessariamente le-
vam a melhorias no aprendizado nem
ao acesso à educação.4 É através da
avaliação consistente que se pode
identificar onde estão os gargalos de
aprendizado dos alunos, de modo a
permitir um melhor direcionamento
do investimento público. Para reduzir
as desigualdades entre as escolas pú-
blicas do Município do Rio de Janeiro,
uma das metas do Plano Estratégico
é “reduzir em 25% a desigualdade no
Índice de Desenvolvimento da Edu-
cação Básica (IDEB) entre escolas da
rede municipal até 2024”.

_
4
Angrist et al. (2020).

32
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Outra sugestão diz respeito à criação de ambientes propícios ao aprendizado. Especificamente,


sugere-se no estudo do FMI que sejam feitos investimentos tanto na preparação dos estudantes
quanto na preparação dos professores. Para estudantes, sugere-se a adoção de programas de
merenda para crianças pequenas e em desenvolvimento, esquemas de transferência condicional
de renda5 (por exemplo, a família recebe um auxílio condicionado à presença ou ao desempe-
nho da criança na escola), e programas de reforço após certos ciclos educativos. Já no que se
refere aos professores, a profissão de educador deve ser remodelada de forma meritocrática e
socialmente valorizada. Para isso, devem ser adotadas uma série de medidas que avaliem efeti-
vamente a eficiência do corpo docente, incluindo evidências de aprendizado dos alunos através
de observação direta, pesquisas com alunos, exames padronizados ou outros critérios. Atrela-
do à avaliação de performance dos professores, deve ser implantado um sistema de incentivos
que melhore a motivação dos docentes – por exemplo, condicionando progressão na carreira
e remuneração aos resultados observados. Outra meta do Plano Estratégico é “qualificar 100%
dos profissionais da educação em exercício, através de formação adaptada a cada perfil e a cada
função, e certificar 100% dos gestores escolares, até 2024”.

Particular atenção deve ser dada às crianças que estão na primeira infância. Segundo Heckman,
James e Masterov (2007), ao observar o percentil médio do desempenho de crianças america-
nas, entre 6 e 12 anos, em um teste de matemática por faixa de renda, constata-se que há uma
diferença considerável entre o desempenho de alunos de famílias mais ricas e de famílias mais
pobres, o que indica que o gap de aprendizado entre crianças de diferentes níveis de renda sur-
ge bem cedo e ressalta a importância de políticas de intervenção com foco na primeira infância.
Ainda de acordo com os autores, a desigualdade de renda em si não é o principal causador do
baixo aprendizado por parte de crianças de baixa renda, mas sim as condições iniciais em que
essas crianças se encontram ao nascer, com ambientes familiares pouco estáveis e pais, em mé-
dia, menos instruídos.
_
5
A Prefeitura do Rio tem o programa Cartão Família Carioca, que é um benefício do Município do Rio de Janeiro criado pelo DECRETO nº
32.887, de 08 de outubro de 2010, para complementar a renda de famílias residentes no município já cadastradas e beneficiadas pelo
Programa Bolsa Família do Governo Federal. E uma das metas do Plano estratégico é “alcançar 100% das famílias em extrema pobreza,
identificadas a partir do CADÚnico (Cadastro Único) e que possuam crianças na faixa etária de 0 a 6 anos, com acesso a programa de
transferência de renda municipal até 2024”.

33
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A literatura parece indicar que intervenções


na primeira infância têm resultados general-
izáveis. Nores e Barnett (2010) fazem uma me-
ta-análise de resultados obtidos ao redor de
todo o mundo, utilizando apenas programas
que tivessem sido implementados com gru-
pos de controle e de tratamento, de forma
a conferir maior robustez aos resultados,6 e
concluem que a grande maioria das iniciati-
vas voltadas para investimento na primeira
infância gerou resultados positivos.

Segundo as evidências que a literatura inter-


nacional apresenta, e com foco na primeira
infância, uma das principais metas do Plano
Estratégico da Prefeitura do Rio é “ampliar
22 mil vagas em creche (de 0 a 3 anos) até
2024”. Outra meta é “ter 100% das gestan-
tes e crianças de 0 até 5 anos e 11 meses de
territórios vulneráveis monitoradas no Pro-
grama Primeira Infância Carioca, até 2024, e
acessando serviços de saúde, assistência so-
cial e educação”. Essas metas da educação
têm uma implicação muito forte no desen-
volvimento econômico do Rio nos próximos
anos.
_
6
Utilizando uma medida chamada “Cohen D”, que mede a dif
erença média entre o grupo de tratamento e o grupo de con-
trole como proporção do desvio-padrão dos dois grupos, em
todas as dimensões analisadas – cognição, comportamental,
saúde e escolar.

34
12
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
1.2
Análises Econômicas
da SMDEIS

35
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

U
m dos principais focos da Sub-
secretaria de Desenvolvimento
Econômico e Inovação (SUBDEI)
da Secretaria Municipal de De-
senvolvimento Econômico, Inovação e
Simplificação (SMDEIS) do Rio7 é realizar
estudos sobre a economia carioca e elabo-
rar políticas públicas, para poder subsidiar
as decisões da alta gestão, baseadas em
dados e evidências empíricas, e analisar
os principais indicadores para avaliação do
desempenho da economia do Rio.8 Para re-
alizar esse trabalho, a SUBDEI conta com o
Escritório de Política Econômica e o Escri-
tório de Monitoramento e Processamen-
to de Dados. De acordo com Cunha (2017,
p. 8), “o estudo dos ciclos econômicos é de
extrema importância na análise macroe-
conômica (...), já que auxilia na tomada de
decisão dos agentes políticos no que tange
incentivar períodos de expansão e mitigar
períodos recessivos. Compreender como
os ciclos são formados e como os compo-
nentes da atividade econômica reagem a
cada momento permite o direcionamento
de políticas públicas com vistas a melho-
rar o desempenho econômico de um país”,
sendo importante também no contexto es-
tadual ou municipal.
_
7
Bulhões e Balassiano (2021 e 2021a).
8
Bulhões, Balassiano e Franca (2021).

36
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

BOLETIM
ECONÔMICO
DO RIO
Com o objetivo de realizar um acompanhamento conjuntural da economia carioca, a SMDEIS
divulga mensalmente o Boletim Econômico do Rio,9 que conta com seções sobre atividade
econômica, inflação e mercado de trabalho do Rio. O objetivo do Boletim é compilar, analisar e
divulgar dados da economia carioca para fornecer um diagnóstico da situação econômica, sub-
sidiando a tomada de decisões e a elaboração de políticas públicas baseadas em evidências.

Segundo Cunha (2017, p. 8), “a maior barreira no estudo dos ciclos econômicos é o conjunto de
informações a ser utilizado uma vez que, em geral, não há disponibilidade de informações em
alta frequência e em uma série de tempo longa. Quanto mais extensa a série temporal analisada,
melhor a compreensão dos ciclos econômicos e, quanto maior a frequência dos dados maior a
precisão das datações”. Ou seja, uma das principais dificuldades de se analisar dados econômicos
no nível regional, principalmente municipal, é a falta de dados. Para suprir essa lacuna, a SMDEIS
elaborou o Indicador de Atividade Econômica do Rio (IAE-Rio), para acompanhar mensalmente
a evolução da economia carioca, principalmente do setor de serviços, incluindo o comércio, que
representa 86% da economia do Rio, e é o segmento que mais emprega a população carioca.

37
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

O IAE-Rio é baseado, principalmente, na arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS), divulga-


do pela Secretaria Municipal de Fazenda e Planejamento (SMFP) do Rio, e em menor peso, na
Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) e na Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do Estado do Rio
de Janeiro, ambas elaboradas pelo IBGE.10 O IAE-Rio é divulgado mensalmente na seção de ativ-
idade econômica do Boletim Econômico do Rio.11

Outro dado bastante defasado, de mais de dois anos, é o PIB municipal, divulgado pelo IBGE.
Com isso, a equipe econômica da SMDEIS elaborou um modelo para estimar os dados do PIB
do Rio dos últimos anos, e realizar projeções para os próximos anos.12 Vale ressaltar que a cor-
relação entre as taxas dos dados efetivos e estimados para o crescimento real do PIB carioca para
o período 2011-201813 é bem alta, de 0,89. Nas edições do Boletim Econômico, há a projeção
anual para o crescimento do PIB carioca.
_
9
Disponível em: https://observatorioeconomico.rio/boletim-economico/
10
SMDEIS, Boletim Econômico do Rio (2021).
11
Bulhões, Balassiano e Nascimento (2021) e SMDEIS, Estudo Especial (2021).
12
SMDEIS, Estudo Especial (2021).
13
Como a série pela metodologia nova do IBGE começa em 2010, a primeira taxa é de 2011 (taxa de 2011 = nível de 2011/nível de 2010).

38
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

OBSERVATÓRIO
ECONÔMICO
DO RIO
Todo esse material sobre a economia carioca, com dados, análises, estudos especiais, notas
técnicas, inclusive o presente Plano de Desenvolvimento Econômico, estão disponíveis no Ob-
servatório Econômico do Rio, um portal lançado pela SMDEIS, com o objetivo de dar mais trans-
parência para esses indicadores e análises, podendo subsidiar a alta gestão do Município do Rio,
e ajudar na elaboração de políticas públicas para o Rio, bem como poder ser visto pela imprensa,
academia e a sociedade em geral. Tanto o Boletim Econômico do Rio, como o Indicador de Ativ-
idade Econômica do Rio (IAE-Rio) também ficam disponíveis no Observatório Econômico do Rio,
que pode ser acessado em: observatorioeconomico.rio.

39
13
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
1.3
Economia
do Rio

40
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

1.3.1 População

O Município do Rio de Janeiro, com seus quase sete milhões de habitantes,14 um PIB próximo de
R$ 370 bilhões,15 com um PIB per capita anual de R$ 54,4 mil, tem a segunda maior população
e economia do Brasil, dentre as capitais, e uma população e economia maior do que várias
economias do mundo.

O Gráfico 1 mostra a população das cinco maiores cidades brasileiras, com a capital fluminense
ficando atrás somente de São Paulo, e com uma população maior do que o dobro da de Brasília
e Salvador, respectivamente terceira e quarta colocadas.

Gráfico 1: População (milhões de pessoas) -


Cinco Maiores Cidades do Brasil*

14
12,4
12

10

8
6,8
6

4 3,1 2,9 2,7


2

0
São Paulo Rio de Janeiro Brasília Salvador Fortaleza

_
14
6,8 milhões é a população estimada em 2021, segundo o IBGE.
15
R$ 364 bilhões, com dados de 2018 do IBGE.

41
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Em termos mundiais, caso o Rio fosse um país, teria uma população maior do que praticamen-
te metade dos países do mundo. Com dados da população do FMI para os países do mundo, e
do IBGE para o Rio, a capital fluminense ficou na posição número 105, dentre 194 países. Ou seja,
46% dos países (89, em 194) possuem uma população menor do que o Rio. O Gráfico 2 mostra
que o Rio representa 3,2% da população brasileira, 1/3 da população do Chile, 2/3 da popu-
lação de Portugal, quase a mesma população do Paraguai, 16% maior do que a Dinamarca, e
quase duas vezes o Uruguai.

Gráfico 2: Proporção da População do Rio


Comparando com Países Selecionados*

250%

200% 191,1%

150%
116,1%
10% 93,0%
65,8%
50% 34,7%

3,2%
0%
Brasil Chile Portugal Paraguai Dinamarca Uruguai

42
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Além do tamanho, a composição etária da


população também é uma variável demo-
gráfica importante. A população carioca
apresentou uma mudança expressiva em
sua composição etária nos últimos 20 anos,
conforme se pode observar nas pirâmides
etárias de 2000 e 2020 (Gráficos 3 e 4). A
população de crianças, na faixa etária de
0 a 14 anos, foi reduzida de 1,4 para 1,2
milhão entre os anos de 2000 e 2020, uma
queda de 13%. A população de jovens de 15
a 29 anos também registrou queda no pe-
ríodo, porém em menor magnitude, pas-
sando de 1,5 para 1,4 milhão.

Em contrapartida houve um aumento da


população de adultos de 30 a 59 anos e de
idosos acima de 60 anos. O envelhecimen-
to populacional é consequência da queda
das taxas de mortalidade e de fecundidade
(número de filhos por mulher), fenômenos
característicos do desenvolvimento socioe-
conômico.

43
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Gráfico 3: Pirâmide Etária Rio de Janeiro, 2000

80 anos ou mais 0,4% 0,8%

70 a 74 anos

60 a 64 anos

50 a 54 anos

40 a 44 anos

30 a 34 anos

20 a 24 anos

10 a 14 anos

0 a 4 anos -4,1% 3,9%


-6%- 4% -2% 0% 2% 4% 6%

Homens Mulheres
Fonte: Datasus/Ministério da Saúde. Elaboração: SMDEIS.

Gráfico 4: Pirâmide Etária Rio de Janeiro, 2020

80 anos ou mais 0,4% 2,2%

70 a 74 anos

60 a 64 anos

50 a 54 anos

40 a 44 anos

30 a 34 anos

20 a 24 anos

10 a 14 anos

0 a 4 anos -4,1% 2,9%


-6%- 4% -2% 0% 2% 4% 6%

Homens Mulheres
Fonte: Datasus/Ministério da Saúde. Elaboração: SMDEIS.

44
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

De acordo com Camarano (2014), a mudança na composição etária da população e o processo de


envelhecimento resultante da mesma trazem diversas implicações para formulação de políticas
públicas. O aumento do número de idosos está relacionado ao aumento da demanda por ser-
viços de saúde. De fato, em 2020, os serviços de saúde, assistência médica e congêneres foram
os que tiveram o maior peso na arrecadação de ISS do município (23,8%). Na comparação entre
2020 e 2011, o peso dos serviços de saúde na arrecadação do ISS aumentou em 9 p.p.16

A esperança de vida ao nascer é uma estimativa do número médio de anos que se espera que
um indivíduo irá viver. Esse indicador está associado a condições ambientais (água, saneamento
básico), saúde, alimentação e segurança pública da população. É considerado um indicador de
qualidade de vida de um país ou localidade, sendo um dos componentes do Índice de Desenvol-
vimento Humano (IDH).

O último ano disponível desse indicador no nível municipal é 2010, ano de realização do Censo
Demográfico. No município do Rio de Janeiro a esperança de vida ao nascer era de 75,7 anos
em 2010, um aumento de 5,4 anos em relação ao valor observado no censo de 2000. Em com-
paração a outras capitais, Brasília e Florianópolis aparecem em 1º lugar, com esperança de vida
de 77,4 anos, ou 1,7 anos a mais do que no Rio. Por outro lado, Maceió e Rio Branco apresenta-
ram esperança de vida de 72 anos, 2,8 anos a menos do que no Rio.

As desigualdades regionais dentro do município também ficam evidentes quando olhamos para
esperança de vida ao nascer. Segundo dados do Atlas do Desenvolvimento Humano,17 a esperan-
ça de vida ao nascer era de 79,9 anos na Zona Sul do Rio, e de 78,3 anos na Barra/Jacarepaguá.
No outro extremo, Pavuna e Maré tinham esperança de vida ao nascer de 73,8 e 73,3 anos, res-
pectivamente. Ou seja, em 2010 era esperado que um indivíduo que nascesse na Maré vivesse,
em média, 6,6 anos a menos do que outro que nascesse num bairro da Zona Sul.
_
16
SMDEIS, Estudo Especial (2021b).
17
Dados do Censo Demográfico de 2010, compilados pelo Atlas do Desenvolvimento Humano.

45
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A pandemia da COVID-19 acentuou as


desigualdades sociais existentes. Apesar
da população idosa ser considerada mais
vulnerável ao vírus, Rocha et al. (2021) en-
contram evidências de que a propagação
da COVID-19 foi afetada principalmente
por padrões de vulnerabilidade socioeco-
nômica e não pela estrutura etária da po-
pulação e prevalência de fatores de risco
para a saúde. Isso ocorre porque a com-
posição etária e a proporção de idosos na
população está muito associada ao de-
senvolvimento socioeconômico. Nas regi-
ões menos desenvolvidas, a proporção de
idosos na população é menor, porém há
uma restrição maior de acesso a serviços
de saúde, maior densidade demográfica,
além da dificuldade de se manter o isola-
mento social, devido a necessidade de sair
às ruas para compensar uma eventual per-
da de renda.18

_
18
A Prefeitura do Rio lançou em agosto de 2021 a campanha
de vacinação em massa contra a COVID 19 no Conjunto de
Favelas da Maré, na zona norte da capital Rio de Janeiro.
Foram aplicadas 33.774 doses em moradores da comuni-
dade. A ação fez parte de uma pesquisa da Fundação Oswal-
do Cruz (Fiocruz) em parceria com a Secretaria Municipal de
Saúde e a ONG Redes da Maré, com o objetivo de mapear o
impacto da vacinação na população da comunidade.

46
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

1.3.2 Atividade
Econômica

A economia carioca é a segunda maior do Brasil, representando 5,2% do PIB brasileiro, confor-
me mostra o Gráfico 5, atrás apenas da cidade de São Paulo.

Gráfico 5: Participação dos Dez Maiores


Municípios no PIB do Brasil (%)*

3,0
10,2
2,5

2,0

1,5 5,2

1,0 3,6

0,5 1,3 1,2 1,1 1,1 1,1 1,0 0,9

0,0
Manaus (AM)

Porto Alegre (RS)

Fortaleza (BA)
Brasília (DF)
São Paulo (SP)

Belo Horizonte (MG)

Osasco (SP)

Salvador (BA)
Rio de Janeiro (RJ)

* dados de 2018. Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

47
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Com o PIB carioca de aproximadamente US$ 100 bilhões,19 caso o Rio fosse um país, levaria a ca-
pital fluminense a ser a 65ª maior economia do mundo, num total de 194 países.20 Nesse caso,
quase 70%21 dos países do mundo têm uma economia menor do que a carioca. O Gráfico 6
mostra que a economia da Cidade representa quase 20% do PIB da Argentina, próximo de 30%
da Colômbia e do Chile, mais de 40% da economia de Portugal, quase toda a economia do
Equador, mais de 60% do que o PIB do Uruguai, e duas vezes e meio a economia do Paraguai.

Gráfico 6: Peso do PIB do Rio em Proporção


de Países Selecionados (%)*

300%

246,6%
250%

200%
166,5%
150%

100% 92,6%

50% 33,4% 41,3%


29,9%
19,3%
5,2%
0%
Brasil Colômbia Chile Portugal Equador Uruguai Paraguai

* PIB em US$, preços correntes, de 2018. Fontes: FMI; IBGE; Bloomberg. Elaboração: SMDEIS.

_
19
PIB de R$ 364,1 bilhões em 2018, o que equivale a US$ 99,6 bilhões, com a taxa nominal de câmbio média naquele ano de R$ / US$
3,66.
20
Comparação entre o PIB dos países e do Rio, em US$.
21
67%, 130 países, dentre 194 no total.

48
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Agora, sobre o PIB per capita, que é a divisão do PIB total (soma de todas as riquezas produzidas
pelo país ou município) pela população. O Rio tem o quarto maior PIB per capita do Brasil, atrás
de Brasília (DF), Vitória (ES) e São Paulo (SP). O PIB per capita anual carioca é de R$ 54,4 mil, 60%
maior do que o PIB per capita do Brasil (R$ 33,6 mil), conforme mostra o Gráfico 7.

Gráfico 7: Relação entre o PIB Per Capita


das Capitais e do Brasil*

3,0
2,6
2,5
2,2
2,0 1,8
1,6 1,6
1,4
1,5 1,3
1,2 1,1 1,1
1,0

0,5

0,0
Brasília (DF)

Porto Alegre (RS)

Florianópolis (SC)
Vitória (ES)

São Paulo (SP)

Rio de Janeiro (RJ)

Cuiabá (MT)

Belo Horizonte (MG)

Manaus (AM)
* dados de 2018. Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

49
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Com o PIB per capita carioca anual de aproximadamente US$ 15 mil,22 caso o Rio fosse um país,
levaria a capital fluminense a ter o 61 maior PIB per capita do mundo, num total de 194 pa-
íses.23 Nesse caso, quase 70%24 dos países do mundo têm um PIB per capita menor do que o
carioca. O Gráfico 8 mostra que o PIB per capita do Rio é 20% do norte-americano, 30% do
alemão, 80% do Uruguai, e quase o mesmo do Chile. E o PIB per capita carioca é 30% maior
do que o da Argentina, 50% maior do que China e México, 60% maior do que do Brasil, e mais
de duas vezes maior do que do Peru, Colômbia e Paraguai.

Gráfico 8: Peso do PIB Per Capita do Rio


em Proporção de Países Selecionados*

3,0
2,6
2,5
2,1 2,2
2,0
1,6
1,5 1,5
1,5 1,3

0,8 0,9
1,0

0,5 0,3
0,2
0,0
México

Paraguai
Uruguai
EUA

Alemanha

Chile

China

Brasil

Peru

Colômbia
* PIB per capita em US$, preços correntes, 2018. Fonte: IBGE; FMI; Bloomberg. Elaboração: SMDEIS.

_
22
PIB per capita de R$ 54,4 mil em 2018, o que equivale a US$ 14,9 mil, com a taxa nominal de câmbio média naquele ano
de R$ / US$ 3,66.
23
Comparação entre o PIB per capita dos países e do Rio em US$.
24
69%, 134 países, dentre 194 no total.

50
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A economia brasileira é muito dependente dos serviços,25 segmento com um peso de 73%.26
No Estado do Rio de Janeiro, esse peso dos serviços é maior (75,7%). Já no Município do Rio, o
peso dos serviços é maior ainda, de 86,5% (e 13,5% do peso da indústria, com a agropecuária com
peso relativamente reduzido na comparação geral). O Gráfico 9 mostra que o peso dos serviços
do Rio representa 8,4% do segmento do Brasil, atrás somente de São Paulo.

Gráfico 9: Peso do Setor de Serviços de Cada Capital no


Total do Setor de Serviços da Economia Brasileira (%)*

20 18,8

15

10 8,4
5,1
5 2,7 2,6 2,1 1,8 1,6 1,6 1,6
0

Campinas (SP)

Fortaleza (CE)
São Paulo (SP)

Brasília (DF)

Porto Alegre (RS)


Belo Horizonte (MG)
Rio de Janeiro (RJ)

Salvador (BA)

Recife (PE)
* dados de 2018. Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

_
25
Nas Contas Nacionais, o comércio faz parte dos serviços também.
26
Dados de 2018 do VA (Valor Adicionado), segundo o IBGE.

51
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

De acordo com Balassiano (2021, p. 13), “o município do Rio de Janeiro representa quase a
metade da economia do Estado do Rio de Janeiro”. Duque de Caxias e Niterói são os dois mu-
nicípios com maior peso, depois do município carioca, com uma participação próxima de 5% no
ERJ. Campos (4,3%) e Maricá (3,6%) completam o top 5. Vinte municípios têm um peso de 87,3%
na economia fluminense. Os demais 72 municípios27 representam 12,7% da economia do ERJ,
conforme mostra a Tabela 1.

Tabela 1: Peso dos Municípios no PIB do Estado


do Rio de Janeiro – Vinte Primeiros (%)*

Município Peso Município Peso

Rio de Janeiro 48,0 Cabo Frio 1,4


Duque de Caxias 5,5 1,2
Niterói 5,3 Angra dos Reis 1,2
Campo dos Goytacazes 4,3 Rio das Ostras 1,1
Maricá 3,6 Resende 1,1
São Gonçalo 2,4 Itaguaí 1,1
Nova Iguaçu 2,2 Belford Roxo 1,0
Macaé 2,0 São João da Barra 0,9
Volta Redonda 1,8 Nova Friburgo 0,7
Petrópolis 1,7 Barra Mansa 0,7
outros 72 municípios 12,7

* dados de 2018. Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

_
27
O Estado do Rio de Janeiro tem 92 municípios.

52
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Buscando suprir a lacuna de haver


um acompanhamento em frequência
mensal da atividade econômica do
Município do Rio, a Secretaria Muni-
cipal de Desenvolvimento Econômico,
Inovação e Simplificação (SMDEIS) ela-
borou o Indicador de Atividade Eco-
nômica do Rio (IAE-Rio), com o obje-
tivo de acompanhar mensalmente o
comportamento da economia carioca,
notadamente do setor de serviços,
principal segmento da economia do
Rio, cujo peso é de 86,5%28 na eco-
nomia do município, segundo o IBGE.
Vale frisar que o comércio também faz
parte do setor de serviços, e está con-
templado no IAE-Rio. Com isso, tam-
bém é possível verificar as variações
cíclicas do setor.29
_
28
Dados de 2018 do PIB dos Municípios do IBGE.
29
Ver o Box Boletim Econômico do Rio.

53
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

O Gráfico 10 mostra o nível do IAE-Rio, desde 2011 até 2021,30 mostrando o forte cresci-
mento da economia carioca na primeira metade da década passada, com a preparação
para as Olimpíadas Rio 2016, e depois com o enfraquecimento da atividade econômica,
em função da recessão nacional de 2014-2016, e a estagnação em 2017, 2018 e 2019, e
a forte queda em 2020, relacionada à pandemia e seus impactos na economia. E após o
fundo do poço em meados de 2020, um contínuo crescimento, principalmente a partir de
2021. Vale ressaltar que, segundo SMDEIS, Estudo Especial (2021d), a recessão no Rio come-
çou depois do começo da crise brasileira, em função dos preparativos para as Olimpíadas de
2016, porém também terminou depois. Enquanto a recessão brasileira acabou em dezembro
de 2016, segundo o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CODACE), a recessão carioca
só terminou em janeiro de 2018. Outro ponto relevante a ser destacado é que o Rio, assim
como o Brasil, entrou numa recessão nova (da Covid), sem ter se recuperado totalmente das
perdas da recessão anterior.31 Ou seja, a pandemia e seus impactos econômicos agravaram
uma situação econômica já delicada, não sendo as origens dos problemas.
_
30
Até o primeiro semestre de 2021.
31
Balassiano (2020).

54
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Gráfico 10: Nível do Indicador de Atividade Econômica do


Município do Rio de Janeiro (IAE-Rio) e Períodos Recessivos*

125
120
115
110
105
100
95
90
85
jan-11

jan-12

jan-13

jan-14

jan-15

jan-16

jan-17

jan-18

jan-19

jan-20

jan-21
jul-11

jul-12

jul-13

jul-14

jul-15

jul-16

jul-17

jul-18

jul-19

jul-20
Datação dos períodos recessivos IAE-Rio

Fonte e elaboração: SMDEIS.

55
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Em relação a arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS), principal imposto no âmbito municipal
das atividades econômicas, para o Município do Rio de Janeiro,32 o Gráfico 11 mostra que os cinco
principais itens foram responsáveis por mais de 70% (71,5%, para ser mais exato) da arreca-
dação de ISS em 2020. Somente os três primeiros representam mais da metade da arrecadação
total (51,8%). Os serviços de saúde, assistência médica e congêneres foram os que tiveram o
maior peso (23,8%), seguido pelos serviços de apoio técnico, administrativo, jurídico, contábil,
comercial e congêneres (17,0%); e serviços relativos à engenharia, arquitetura, geologia, ur-
banismo, construção civil, manutenção, limpeza, meio ambiente, saneamento e congêneres
(11,1%). Completam o grupo dos cinco primeiros os serviços relacionados ao setor bancário ou
financeiro (10,9%) e os serviços de informática e congêneres (8,7%).

Gráfico 11: Cinco Principais Itens com Maior


Peso (71,5%) no ISS em 2020 (%)

8,7

serviços de saúde
23,8
10,9
serviços de engenharia, arquitetura,
construção civil

11,1
17,0

Fontes: SMFP; SMDEIS. Elaboração: SMDEIS.

_
32
SMDEIS, Estudo Especial (2021b).

56
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A Tabela 2 mostra os quinze principais itens (37,5%, de um total de 40) de serviços que repre-
sentam quase a totalidade (96,7%) do peso no ISS nesse período. Os demais 25 itens (62,5%)
têm um peso de apenas 3,3% na arrecadação total.

Além dos cinco primeiros itens, também merecem destaque os serviços de intermediação e con-
gêneres; serviços de educação, ensino, orientação pedagógica e educacional, instrução, treina-
mento e avaliação pessoal de qualquer grau ou natureza; serviços portuários, aeroportuários,
ferroportuários, de terminais rodoviários, ferroviários e metroviários; serviços relativos a bens de
terceiros; serviços de guarda, estacionamento, armazenamento, vigilância e congêneres; serviços
relativos a hospedagem, turismo, viagens e congêneres; serviços técnicos em edificações, eletrô-
nica, eletrotécnica, mecânica, telecomunicações e congêneres; serviços de transporte de natu-
reza municipal; serviços de diversões, lazer, entretenimento e congêneres; e serviços de artistas,
atletas, modelos e manequins.

Tabela 2: Quinze Principais Itens com Maior


Peso (96,7%) no ISS em 2020 (%)

Itens Peso

Serviços de saúde, assistência médica e congêneres. 23,8


17,0
11,1
10,9
8,7
Serviços de intermediação e congêneres. 7,1
Serviços de educação, ensino, orientação pedagógica e educacional, instrução, treinamento e avaliação pessoal de qualquer grau de natureza. 3,9
Serviços portuários, aeroportuários, ferroportuários, de terminais rodoviários, ferroviários e metroviários. 3,5
3,3
Serviços de guarda, estacionamento, armazenamento, vigilância e congêneres. 2,6
1,6
Serviços técnicos em edificações, eletrônica, eletrotécnica, mecânica, telecomunicações e congêneres. 1,1
Serviços de transporte de natureza municipal. 1,0
Serviços de diversões, lazer, entretenimento e congêneres. 0,6
0,5
15 principais itens 96,7
Outros 3,3
Total 100,0
Fontes: SMFP; SMDEIS. Elaboração: SMDEIS.

57
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Ao longo desses dez anos (2011-2020), os serviços financeiros e de saúde foram os que apre-
sentaram os maiores aumentos no peso da arrecadação de ISS. Na comparação entre 2019
(pré-pandemia) e 2011, o aumento de ambos foi de 7,8 p.p., passando de 1,1% para 8,9% e 14,7%
para 22,5%, respectivamente. Ao se comparar 2020 com 2011, os crescimentos foram maiores
ainda, de 9,8 p.p. para os serviços financeiros e 9,0 p.p. para os serviços de saúde. Os serviços
de educação foram o terceiro com maior aumento, passando de 3,1% em 2011 para 4,2% em
2019 e 3,9% em 2020, com aumentos de 1,0 p.p. e 0,8 p.p., respectivamente, conforme mostra
o Gráfico 12.

Gráfico 12: Diferenças entre os Pesos na Arrecadação de ISS entre


2019 e 2011 e 2020 e 2011 – Três Maiores Aumentos (em p.p.)

12
9,8
10 9,0
7,8 7,8
8

2 1,0 0,8
0
serviços financeiros serviços de saúde serviços de educação

2019/2011 2020/2011

Fontes: SMFP; SMDEIS. Elaboração: SMDEIS.

58
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Já os seis maiores recuos entre 2019 e 2011 foram dos serviços de engenharia, arquitetura e
construção civil (-6,6 p.p., passando de 17,7% em 2011 para 11,0% em 2019); serviços de infor-
mática (-4,1 p.p., diminuindo de 12,0% para 7,9%); serviços de fotografia, cinematografia (-1,5
p.p., recuando de 2,0% para 0,5%); serviços de apoio técnico, administrativo, jurídico, contábil
e comercial (-1,2 p.p., passando de 18,3% para 17,0%); serviços de hospedagem, turismo, via-
gens (-1,0 p.p., diminuindo de 3,8% para 2,8%); e serviços relativos à bens de terceiros (-0,7 p.p.,
recuando de 4,0% para 3,3%) – Gráfico 13.

Gráfico 13: Diferenças entre os Pesos na Arrecadação de ISS


entre 2019 e 2011 – Seis Maiores Recuos (em p.p.)

-1 -0,7
-1,0
-1,2
-2 -1,5

-3

-4
-4,1
-5

-6

-7 -6,6
serviços serviços de serviços de serviços de serviços de serviços de
hospedagem, apoio técnico, fotografia, engenharia,
à bens de turismo, cinematografia arquitetura e
terceiros viagens jurídico, contábil, construção civil
comercial

Fontes: SMFP; SMDEIS. Elaboração: SMDEIS.

59
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Ao se comparar o ano de 2020, com os impactos econômicos derivados da pandemia, com 2011,
os seis maiores recuos foram dos serviços de engenharia, arquitetura e construção civil (-6,6 p.p);
serviços de informática (-3,3 p.p.); serviços de hospedagem, turismo, viagens (-2,2 p.p.); serviços
de fotografia, cinematografia (-1,5 p.p); serviços de apoio técnico, administrativo, jurídico, contá-
bil e comercial (-1,3 p.p.); e serviços de diversões, lazer e entretenimento (-0,9 p.p.) – Gráfico 14.

Gráfico 14: Diferenças entre os Pesos na Arrecadação de ISS


entre 2020 e 2011 – Seis Maiores Recuos (em p.p.)

-1
-0,9
-1,3 -1,5
-2
-2,2
-3
-3,3
-4

-5

-6

-7 -6,6
serviços serviços de serviços de serviços de serviços de serviços de
hospedagem, apoio técnico, fotografia, engenharia,
à bens de turismo, cinematografia arquitetura e
terceiros viagens jurídico, contábil, construção civil
comercial

Fontes: SMFP; SMDEIS. Elaboração: SMDEIS.

60
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Em resumo, ao longo desses dez anos, os serviços financeiros e de saúde foram os que apresen-
taram os maiores aumentos no peso da arrecadação de ISS (7,8 p.p. para ambos, entre 2019 e
2011, e 9,8 p.p. para os serviços financeiros e 9,0 p.p. para os serviços de saúde, na comparação
2020 / 2011). Os serviços de educação foram o terceiro com maior aumento (1,0 p.p. entre 2019
e 2011 e 0,8 p.p. entre 2020 e 2011). Já os seis maiores recuos entre 2019 e 2011 foram dos
serviços de engenharia, arquitetura e construção civil (-6,6 p.p.); serviços de informática (-4,1
p.p.); serviços de fotografia, cinematografia (-1,5 p.p.); serviços de apoio técnico, administrativo,
jurídico, contábil e comercial (-1,2 p.p.); serviços de hospedagem, turismo, viagens (-1,0 p.p.);
e serviços relativos à bens de terceiros (-0,7 p.p.). Ao se comparar o ano de 2020 com 2011, os
seis maiores recuos foram dos serviços de engenharia, arquitetura e construção civil (-6,6
p.p); serviços de informática (-3,3 p.p.); serviços de hospedagem, turismo, viagens (-2,2 p.p.);
serviços de fotografia, cinematografia (-1,5 p.p); serviços de apoio técnico, administrativo,
jurídico, contábil e comercial (-1,3 p.p.); e serviços de diversões, lazer e entretenimento (-0,9
p.p.).

Diante desse cenário, o presente Plano de Desenvolvimento Econômico tem como objetivo ser
um norte para algumas ações a serem desenvolvidas pela Prefeitura do Rio nos próximos anos,
focado em grandes temas, alinhado ao Plano Estratégico 2021-2024. E, por fim, no Plano de
Desenvolvimento Econômico do Rio, há diversos boxes com programas já feitos ou em elabo-
ração pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SM-
DEIS).

61
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

“O MELHOR PLANO
ECONÔMICO É A
VACINAÇÃO!!”
É importante sempre frisar que a crise de 2020 / 2021 foi uma crise sanitária,33 com impactos na eco-
nomia, e não “somente” uma crise estritamente econômica. A recessão mundial de 2020, ligada à
pandemia da Covid-19, portanto foi diferente da recessão mundial de 2008, provocada inicialmente
pelos subprimes nos EUA.

O que diferenciou a crise do coronavírus, que teve impactos na economia, de outras crises econô-
micas ou financeiras, é que, o isolamento social impôs uma enorme restrição ao funcionamento de
atividades presenciais. Com isso, o setor de serviços, incluindo comércio - que corresponde a mais
de 70% do PIB brasileiro, 75% da economia fluminense, e 86% do PIB carioca, e é o que mais empre-
ga pessoas - foi o mais impactado com essa diminuição da circulação das pessoas.

Por isso que “o melhor plano econômico é a vacinação!”, frase repetida constantemente pelo Secre-
tário Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação do Rio, Chicão Bulhões,
definiu muito bem a situação de 2021. Não havia outra maneira para a vida “voltar ao normal”, e a
economia retomar a trajetória pré-covid: a vacinação em massa da população era a única alternativa.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do Rio conseguiu implementar um esquema vacinal muito
positivo, sendo uma das cidades que mais vacinou e mais rápido no Brasil. Até o final de outubro,
mais de 85% da população carioca maior de 18 anos já estava vacinada com o esquema vacinal com-
pleto (2ª dose ou dose única), o que representa mais de 4,5 milhões de cariocas vacinados, além de
já ter começado o reforço da terceira dose para os idosos. No final de outubro, cariocas com 64 anos
ou mais já tinham tomado a dose de reforço.
_
33
Balassiano (2020a).

62
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Uma forma alternativa de se analisar a evolução da crise sanitária é comparar a taxa de óbitos
do Município do Rio de Janeiro em relação ao total de mortes no Brasil. Em 2020, desde que a
pandemia chegou no território brasileiro e carioca, em março, até dezembro, o total de mortes
ocorridas no Município do Rio de Janeiro correspondeu a 7,2% do total de mortes do país. Já em
2021, até outubro, a taxa caiu para 4,1% (Gráfico 1). Ou seja, o Rio, em relação ao Brasil, apre-
sentou uma melhora substancial em 2021 na comparação com 2020, com uma diminuição de
3,1 p.p. na taxa. O Rio foi a capital que apresentou a maior diminuição na taxa entre 2020 e
2021.34

Gráfico 1: Taxa de Óbito (Rio/Brasil, %)*

8 7,2

6
4,1
4

0
2020 2021

* 2020 entre 16/03/20 e 31/12/20; 2021 entre 01/01/21 e 31/10/21.


Fonte: Portal da Transparência do Registro Civil. Elaboração: SMDEIS.

_
34
SMDEIS, Estudo Especial (2021c).

63
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Na análise comparando o total de óbitos do Município do Rio em comparação com o total de


óbitos no Estado do Rio de Janeiro, o resultado é semelhante. Em 2020, desde março, até de-
zembro, metade (50,1%) dos óbitos por Covid no Estado do Rio de Janeiro ocorreu na capital
fluminense. Já em 2021, no acumulado até outubro, a taxa foi reduzida para 41,0%. Isto é, houve
uma redução de 9,1 p.p. nesse período, mostrando uma melhora também do Município do
Rio quando comparado com o Estado do RJ (Gráfico 2).

Gráfico 2: Taxa de Óbito (Rio/ERJ, %)*

55
50,1
50

45
41,0
40

35

30
2020 2021

* 2020 entre 16/03/20 e 31/12/20; 2021 entre 01/01/21 e 31/10/21.


Fonte: Portal da Transparência do Registro Civil. Elaboração: SMDEIS.

64
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

No começo da crise sanitária, a partir de março de 2020, ocorreu uma forte queda da atividade
econômica. Em março de 2020, o IAE-Rio35 caiu 5,4% em comparação com fevereiro, o último mês pré-
crise. Em abril, ainda na mesma base de comparação, a queda aumentou para 8,6%, 14,6% em maio e
15,3% em junho. No começo do segundo semestre de 2020, com a melhora relativa da crise sanitária,
e as medidas de flexibilização, o IAE-Rio também apresentou uma tendência de alta, mas com uma
certa volatilidade natural do momento de incerteza. Houve um novo recrudescimento da crise sani-
tária no final de 2020, que impactou menos a economia nesse período. Já em 2021, com uma mel-
hora relativa da crise sanitária no Rio (passou de 7,2% do total de óbitos brasileiros em 2020 para
4,1% neste ano até outubro; e reduziu de metade do total de mortes no ERJ no ano passado para
41,0% em 2021), a atividade econômica carioca apresentou sinais de melhora, e voltou, em setem-
bro de 2021, ao mesmo nível pré-pandemia, em fevereiro de 2020. Diversas ações desenvolvidas
pela Prefeitura do Rio influenciaram essa retomada econômica. Além disso, impactada também
pela melhora das expectativas com a aceleração da vacinação; e com a maior previsibilidade das
ações para conter a pandemia, mostrando que “o melhor plano econômico é a vacinação!”

Gráfico 3: Nível do IAE-Rio, Voltando ao Nível Pré-Pandemia*

100
98
96
94
92
90
88
86
84
dez-20

ago-21
ago-20

set-21
fev-21

mai-21
jun-21
jul-21
set-20

nov-20

jan-21

mar-21
abr-21
fev-20

mai-20
jun-20
jul-20

out-20
mar-20
abr-20

*dados dessazonalizados; fev/20 = 100. Fonte e elaboração: SMDEIS.

_
35
Indicador de Atividade Econômica do Rio, elaborado pela SMDEIS, e divulgado mensalmente no Boletim Econômico do Rio.

65
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

PUBLICAÇÃO
“DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO DO RIO:
DIAGNÓSTICOS E AÇÕES”
Uma publicação sobre desenvolvimento econômico não é algo simples nem trivial, muito menos
quando é desenvolvido para uma “cidade mundial” como é o caso do Rio. O presente documen-
to não foi feito por uma ou duas pessoas, mas sim feito com muitas mãos, de diversas origens e
contextos diferentes, já que centenas de pessoas contribuíram para o trabalho final. Fruto de
centenas de reuniões, conversas, tanto internas da SMDEIS como da Prefeitura, quanto externas,
com relevantes atores da economia do Rio e do Brasil, como com muitos cariocas, chegou-se à
versão final da publicação. Vale ressaltar que o presente documento foi elaborado com infor-
mações públicas disponíveis até 12 de novembro de 2021.

Porém, o presente texto não é um trabalho final, pois sempre precisa ser atualizado diante dos
novos debates, anseios e prioridades. A publicação é um norte com temas e ações que foram por
diversas vezes citadas nas centenas de reuniões. Entretanto, é importante ressaltar que tópicos
ausentes neste documento não significam que não sejam importantes ou que não serão tra-
balhados pela SMDEIS ou pela Prefeitura do Rio. Muito mais do que um relatório com começo,
meio e fim, a publicação “Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações” é uma
obra aberta, que a qualquer momento pode (e deve) ser ampliada.

66
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Coordenado pela Subsecretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação (SUBDEI) da Se-


cretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SMDEIS), o do-
cumento contém diagnósticos, benchmarks nacionais e internacionais, ações e programas que a
SMDEIS já fez ou pretende implementar, visando o desenvolvimento econômico do Rio. E fazer
isso junto de redução de desigualdades, em especial dos grupos mais vulneráveis, como mulhe-
res, negros, jovens; e preocupado com questões ambientais, de desenvolvimento sustentável.

Os programas da SMDEIS têm como missão melhorar o ambiente de negócios do Rio; digitalizar
e simplificar os licenciamentos das atividades econômicas da cidade; e atrair novos negócios
e investimentos para o Rio. A publicação “Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e
Ações” está totalmente alinhado ao Plano Estratégico (PE) 2021-2024 da Prefeitura do Rio, com
as suas metas, iniciativas e projetos. O PE também foi feito em conjunto, ouvindo 350 conselhei-
ros e conselheiras da cidade, além de milhares de contribuições da população carioca como um
todo. Duas das principais metas do Plano Estratégico, que são lideradas pela SMDEIS - reduzir a
taxa de desemprego anual do Rio de 14,7% (média de 2020) para 8% até 2024; e fortalecer a
economia carioca, visando o crescimento de 3% ao ano, em média, do Produto Interno Bruto
(PIB) do Rio - resumem bem o espírito dessa publicação!

67
14
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
1.4
Referências

68
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

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71
02
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Economia
Local e Turismo

72
21
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
21
.

Introdução

73
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

O
s últimos anos foram mais um período marcado por perdas de oportunidades na
economia brasileira. Uma forte recessão entre 2014 e 2016, seguida de uma recu-
peração lenta e gradual no ano seguinte, deixou o PIB brasileiro estagnado - situa-
ção que ainda pioraria consideravelmente com o advento da pandemia da Covid-19.
O Rio de Janeiro, infelizmente, não ficou de fora deste movimento. Porém, devido aos impactos
positivos dos Jogos Olímpicos Rio 2016, a recessão no Rio começou e terminou depois da cri-
se nacional, segundo Colombo e Lazzari (2018), Rocha et al. (2018) e SMDEIS, Estudo Especial
(2021a). A crise econômica provocou impactos negativos no mercado de trabalho36 e nos indi-
cadores sociais. E, dentro da cidade, há uma economia local em cada Área de Planejamento
(AP), em cada bairro, com diferenças entre si.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a atividade econômica do


Brasil e do Rio é altamente concentrada no setor de serviços (73,5% no Brasil, 75,7% no Estado
do RJ e 86,5% no Município do Rio).37 O setor de serviços é caracterizado pelo elevado grau de
heterogeneidade, abarcando áreas como administração pública, aluguéis, comércio, telecomu-
nicações, transportes, além de serviços às empresas e famílias. Dentre outras características
relevantes, destacam-se o fato de ser intensivo em mão de obra e a dependência da dinâmica
local. À exceção dos serviços que dependem intrinsecamente da dinâmica local, estão os servi-
ços exportáveis, dentro os quais o de maior destaque considerando o estado do Rio de Janeiro
e, principalmente, o município do Rio de Janeiro, está o turismo.

Portanto, esse capítulo trata de dois temas transversais, que também conversam muito en-
tre si: Economia Local e Turismo. Afinal de contas, assim como moramos em cidades, e
não em países, o turismo, está concentrado em determinadas áreas da Cidade Maravi-
lhosa.

_
36
Ver o capítulo 3, “Trabalho e Renda”.
37
Dados de 2018.

74
22
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
2.2
Diagnóstico e Revisão
da Literatura

75
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

2.21
.
Economia
Local

A desigualdade carioca pode ser observada a partir de diversas perspectivas, sendo uma delas
sua desigualdade regional. O Instituto Pereira Passos divulga o Índice de Progresso Social (IPS)
do Rio de Janeiro - indicador que visa mensurar o desenvolvimento humano em cada região
do município. O IPS é uma abordagem de mensuração direta do desenvolvimento humano a par-
tir de indicadores selecionados em três dimensões e 12 componentes definidos globalmente (ver
Figura 1). O indicador combina variáveis sociais comumente usadas em avaliações do desenvolvi-
mento humano e bem-estar — indicadores de saúde, nível de acesso e qualidade dos serviços bá-
sicos e da educação básica e superior, segurança pessoal38 — com variáveis ambientais, acesso à
comunicação, direitos humanos, liberdade de escolha, tolerância e inclusão, já que o crescimento
econômico é condição necessária, mas não suficiente, para o desenvolvimento humano.39 As três
dimensões, com pesos idênticos, têm resultados que podem ir de 0 (pior) a 100 (melhor); uma
média simples entre as três gera o índice, o qual, portanto, também varia de 0 a 100. As Figuras
1 e 2 constam no relatório do Instituto Pereira Passos (IPP), “Índice de Progresso Social do Rio de
Janeiro – IPS Rio de Janeiro 2020”.40
_
38
Sobre segurança, um dos indicadores do IPS, segundo Chainey e Monteiro (2019), para o caso da cidade do Rio de Janeiro, especifica-
mente, os autores mostram que 50% dos roubos em 2015 e 2016 se concentraram em apenas 3,3% e 3,5% do total das microunidades
geográficas estudadas (cada microunidade é uma área de 150m por 150m que, em conjunto, mapeiam toda a cidade).
39
Disponível em: http://ipsrio.com.br/o-que-e
40
Instituto Pereira Passos – IPP (2021).

76
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Figura 1: Índice de Progresso Social

Fonte: Índice de Progresso Social no Rio de Janeiro – IPS Rio 2020.

77
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Como é possível observar na Figura 2, os bairros que possuem os índices de desenvolvimento


humano mais baixos se concentram nas Zonas Oeste e Norte. Guaratiba, Pavuna, entre outros,
são os que possuem os menores níveis do índice. Já os bairros da Zona Sul, Grande Tijuca e Barra
e Jacarepaguá são os que possuem os maiores níveis do IPS. Quanto a este cenário, uma impor-
tante consideração a ser feita está no fato de que ambas as regiões com os piores Índices de
Progresso Social (IPS) são justamente as que concentram a maior parte dos moradores do Rio de
Janeiro. Somando a população residente das Áreas de Planejamento (AP)41 3 e 5 - regiões onde
estão concentrados os índices de desenvolvimento humano mais baixos -, encontramos mais de
60% da população carioca.42

Figura 2: Índice de Progresso Social do Rio*

* dados de 2020. Fonte: IPS - Data Rio. Elaboração: SMDEIS.

_
41
No anexo, ver os bairros das cinco Áreas de Planejamento (APs).
42
63,7%.

78
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A Figura 3 mostra a distribuição espacial da população carioca, pelas cinco APs. A população da
AP 1 (Centro) é de 319,9 mil cariocas, o que representa 4,8% da população total do Rio. Já a AP
2 (Zona Sul e Grande Tijuca), a população é de 1 milhão (15,3%); a AP 3 (Zona Norte) tem uma
população de 2,4 milhões (36,5%); a população da AP 4 (Baixada de Jacarepaguá) é de 1,1 milhão
(16,2%); e, por fim, a AP 5 (Zona Oeste), com uma população de 1,8 milhão (27,2%).

Figura 3: Distribuição Espacial da População Carioca,


segundo as 5 APs*

Em relação à distribuição regional de empregos no Rio de Janeiro, é possível observar determi-


nadas tendências que se mantêm. Tanto em relação ao total de vínculos empregatícios, quanto
aos vínculos exclusivos do setor privado, as Áreas de Planejamento 1 e 3 concentram a maior
disponibilidade de empregos na cidade. Enquanto isso, a Área de Planejamento 5 - a segunda em
total de habitantes e a que possui os bairros com IPS mais baixos - é a AP com menor número de
empregos registrados.

79
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A Figura 4 mostra que, segundo dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) de 2019,43
divulgada pelo Ministério do Trabalho, 35% dos empregos estão na AP 1 (Centro); 19,7% na AP 2
(Zona Sul e Grande Tijuca); 22,4% na AP 3 (Zona Norte); 14,8% na AP 4 (Baixada de Jacarepaguá);
e 8,1% na AP 5 (Zona Oeste).

Figura 4: Distribuição Espacial dos Empregos


no Rio, segundo as 5 APs*

* dados de 2019. Fonte: RAIS / Ministério do Trabalho. Elaboração: SMDEIS.

_
43
Vale frisar que a base de dados da RAIS é diferente do CAGED, ambas divulgadas pelo Ministério do Trabalho: A Relação Anual de
Informações Sociais (RAIS) e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) são registros administrativos preenchidos
pelas empresas e coletados pelo Ministério do Trabalho e Previdência. O CAGED é um registro mensal de todas as movimentações de
empregados (admissões e desligamentos) ocorridas no mês de referência. Já a RAIS é preenchida anualmente pelas empresas e consiste
num levantamento de todos os empregados do ano em 31 de dezembro, com movimentação dos admitidos e desligados mês a mês. A
RAIS é utilizada como fonte de dados para estudos estruturais do mercado de trabalho formal, enquanto os dados do CAGED são úteis
para análise de conjuntura do mercado de trabalho formal.

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Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Santos et al. (2018) relatam alguns problemas quanto ao uso de dados de empresas da Adminis-
tração Pública da RAIS, principalmente quanto ao endereço dos estabelecimentos. Um exemplo
seria o preenchimento da RAIS por algum órgão da administração pública estadual ou municipal
no qual os vínculos empregatícios estariam atrelados àquele órgão e ao endereço de sua sede,
mas que não necessariamente os trabalhadores estariam exercendo suas funções dentro da sede.

Sendo assim, para evitar imprecisões, reportamos os dados da RAIS excluindo as empresas da
Administração Pública Direta. O que chamamos de “Setor Privado” inclui as empresas privadas,
empresas públicas e empresas mistas. A Figura 5 reporta os empregos no setor privado: 24,7%
dos empregos estão na AP 1 (Centro); 22,5% na AP 2 (Zona Sul e Grande Tijuca); 24,9% na AP 3
(Zona Norte); 18% na AP 4 (Baixada de Jacarepaguá); e 9,8% na AP 5 (Zona Oeste).

Figura 5: Distribuição Espacial dos Empregos


no Setor Privado no Rio, segundo as 5 APs*

* Nota: Setor privado compreende as empresas privadas, públicas e mistas. Exclui a Administração Pública Direta. Dados de 2019.
Fonte: RAIS / Ministério do Trabalho. Elaboração: SMDEIS.

81
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Diante desses dados, concluímos que, apesar das APs 3 e 5 (Zonas Norte e Oeste) apresenta-
rem 63,7% da população, possuem apenas 30,5% dos empregos do Rio (e 34,7% dos empregos
do setor privado). Por outro lado, a AP 1 (Centro), possui apenas 4,8% da população carioca, e
35% dos empregos, sendo que 89,2% dos empregos do setor público se situam nessa Área de
Planejamento.

Segundo De Campos (2019), trabalhadores menos qualificados moram na região conhecida como
Baixada Fluminense, fora do município do Rio de Janeiro. Entretanto, empregos formais ocupados
por pessoas com menor qualificação são localizados no centro da cidade do Rio de Janeiro. Con-
sequentemente, existe uma grande distância entre indivíduos pouco qualificados e o mercado de
trabalho com vagas as quais poderiam ocupar. Com uma maior dificuldade para acessar cargos
formais, tal população pode acabar por ingressar na informalidade.

Utilizando de dados municipais da Suécia, Johansson, Klaesson e Olsson (2002) estudam os efei-
tos do tempo de deslocamento na composição do mercado de trabalho regional. No estudo, ve-
rifica-se que há um custo para o trabalhador em assumir cargos relacionados a tempos de deslo-
camento mais altos, especialmente no caso de menor educação. Verifica-se também que reduzir
o tempo de deslocamento deve gerar crescimento espacial do mercado de trabalho.

Um outro estudo, Détang-Dessendre e Gaigné (2009), relaciona a duração do desemprego com o


tempo de deslocamento do trabalhador para o mercado de trabalho, utilizando dados de traba-
lhadores da França. Os resultados são coerentes com os expostos em Johansson, Klaesson e Ols-
son (2002), uma vez que o tempo de desemprego é maior para trabalhadores com maior tempo
de deslocamento para oportunidades de emprego compatíveis com sua qualificação. O estudo
destaca também que, para cidades pequenas e médias, o acesso a oportunidades com menor
tempo de deslocamento é determinante na duração do desemprego. Novamente, o efeito do
tempo de deslocamento é maior para trabalhadores com menor qualificação.

82
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Quando observado o tempo de desloca-


mento de trabalhadores no Brasil, tem-
-se o estudo de Silveira Neto, Duarte e
Paéz (2015), que relaciona o tempo de
deslocamento do trabalhador e diferen-
ças de gênero, olhando para a região
metropolitana de São Paulo, com dados
do censo. A literatura já relata que, con-
sistentemente, mulheres passam menos
tempo no deslocamento em percursos
entre suas casas e o trabalho. O estudo,
então, explora os mecanismos que estão
relacionados a esse fato. Seus resultados
apontam que mulheres com filhos, em
especial, aparentam encarar um maior
custo em assumirem empregos distan-
tes. Reduzir o tempo de deslocamento
poderia, portanto, aumentar a participa-
ção feminina no mercado de trabalho.

Por fim, uma vez que a onerosidade da


distância se impõe também na questão
financeira, Abebe et al. (2021) apresen-
ta que um subsídio no custo de deslo-
camento de pessoas desempregadas
favorece no al cance de sua busca por
emprego, aumentando a probabilida-
de de conseguirem empregos está-
veis e formais. Políticas de intervenção

83
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

no acesso ao transporte para desempregados reduzem as barreiras que o grupo encara na busca
por empregos.

Já quanto ao número de estabelecimentos da RAIS, a Área de Planejamento 5 aparece, mais uma


vez, na última posição. Enquanto isso, APs 2 e 3 concentram os melhores indicadores. A Figura 7
mostra que, segundo dados da RAIS de 2019, 17,5% dos estabelecimentos estão na AP 1 (Centro);
27,7% na AP 2 (Zona Sul e Grande Tijuca); 24,1% na AP 3 (Zona Norte); 20,5% na AP 4 (Baixada de
Jacarepaguá); e 10,3% na AP 5 (Zona Oeste).

Figura 6: Distribuição Espacial dos Estabelecimentos


no Rio, segundo as 5 APs*

* dados de 2019. Fonte: RAIS / Ministério do Trabalho. Elaboração: SMDEIS.

84
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Diante desses dados, também concluímos que, apesar das APs 3 e 5 (Zonas Norte e Oeste)
apresentarem 63,7% da população, possuem apenas 34,4% dos estabelecimentos registrados
na RAIS no Rio. Por outro lado, a AP 1 (Centro), possui apenas 4,8% da população carioca, e
27,7% dos estabelecimentos. Mas isso pode ser explicado também pelo fato de da Área de Pla-
nejamento 1 possuir 35% dos empregos cariocas.

Análises que dão conta das divisões regionais da cidade do Rio de Janeiro podem ser extrema-
mente interessantes para dimensionar características estruturais que cada uma das regiões apre-
senta. Mais uma vez utilizando o critério de divisão pelas cinco áreas de Planejamento do Muni-
cípio, é possível distinguir, para cada uma das APs, o perfil de postos de trabalho que cada uma
delas possui. Para isso, desagregamos os dados de emprego da RAIS pelos principais setores de
atividade econômica e área de planejamento. A Figura 8 ilustra os três subsetores principais de
cada AP, e a Tabela 1 mostra os números totais de emprego em cada subsetor/AP.

Na AP 1 (Centro), o subsetor com maior contingente de empregos no setor privado era o de Ati-
vidades Administrativas e Serviços Complementares,44 com 17,7% do total de empregos dessa
AP. Neste subsetor estão inseridas atividades de apoio administrativo, seleção, agenciamento e
locação de mão de obra e serviços prestados para edifícios e atividades paisagísticas.

Em segundo lugar na AP1 aparece a Indústria, com 9,6% dos vínculos. O emprego nesse setor é
puxado sobretudo pela presença da sede da Petrobras no centro do Rio. Além da Petrobrás, tam-
bém se verifica muitos empregos em estabelecimentos do setor de Eletricidade, Gás e Utilidades,
e na indústria têxtil, em pequenas confecções de artigos do vestuário.
_
44
Esse subsetor compreende atividades de contratação de pessoas por empresas terceirizadas; serviços de escritório, teleatendimento;
serviços de cobrança para clientes; organização de viagens. Compreendem ainda os serviços de locação e leasing operacional de
veículos, máquinas e equipamentos; aluguel de objetos pessoais e domésticos; gestão de ativos intangíveis não-financeiros; vigilância;
limpeza de prédios e domicílios e atividades paisagísticas.

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Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

O terceiro subsetor com maior número de vínculos empregatícios na AP1 era o de atividades
financeiras, de seguros e serviços relacionados. Neste subsetor estão inseridos os Bancos Comer-
ciais, Bancos Múltiplos, Banco de Desenvolvimento (BNDES), Corretores e Agentes de Seguros, de
Planos de Previdência Complementar e de Saúde, Administradoras de Cartão de Crédito e demais
instituições financeiras.

Figura 7: Distribuição Espacial dos Empregos do Setor Privado


no Rio, por subsetor CNAE, segundo as 5 APs*

* Nota: Setor privado compreende as empresas privadas, públicas e mistas. Exclui a Administração Pública Direta. Dados de 2019.
Fonte: RAIS / Ministério do Trabalho. Elaboração: SMDEIS.

86
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Nas demais APs fica evidente o peso do Comércio Varejista no emprego, que aparece em pri-
meiro lugar nas APs 3, 4 e 5, e em segundo lugar na AP2. Supermercados, mercearias, padarias,
farmácias, lojas de roupas e calçados são as principais atividades de comércio dos bairros cariocas
das APs 2 a 5.

O subsetor de Atividades administrativas e serviços complementares aparece em primeiro lugar


na AP2 e em segundo nas APs 3 e 4. Nessas localidades, por se tratar de zonas residenciais, as
atividades de maior peso dentro desse setor são aquelas ligadas à condomínios prediais. Os con-
domínios residenciais e comerciais declararam na RAIS os empregados contratados diretamente
pelo regime CLT. No caso de serviços terceirizados, quem declara a RAIS é a empresa que fornece
a mão de obra. Portanto, nesse subsetor nas APs 2 a 4 estão as atividades de prestação de ser-
viços em condomínios prediais por empregados contratados pelo condomínio, ou terceirizados:
atividades de portaria, vigilância, segurança privada, limpeza em prédios e domicílios.

Na AP 2 (Zona Sul) e AP4 (Barra/Jacarepaguá) estão concentrados os empregos do setor de Alo-


jamento e Alimentação. Nesse setor estão as atividades tipicamente relacionadas ao Turismo,
como Hotéis, Bares e Restaurantes.

Já na AP3, destaca-se o setor de Transporte, Armazenagem e Correios. Nessa região estão sedia-
das empresas de transporte rodoviário e é onde fica o Aeroporto Internacional do Galeão.

A AP5 é a região com menor registro de vínculos empregatícios, com menos de 10% do total de
empregos formais no setor privado do município. Nessa região, o peso da Indústria é relativamen-
te grande, correspondendo a 16% dos vínculos empregatícios da região.

87
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Tabela 1: Distribuição dos Vínculos do Setor Privado* no Rio


por subsetor CNAE, segundo as 5 APs (em milhares)

AP1 AP2 AP3 AP4 AP5 TOTAL

74,8 66,8 79,6 51,4 14,1 286,5


Comércio Varejista 30,6 61,7 80,4 56,1 52,4 281,2
Indústria 40,5 29,8 43,5 18,5 25,8 158,1
Alojamento e Alimentação 21,9 46,9 21,5 29,5 9,0 128,6
Transporte, Armazenagem e Correio 38,2 9,4 46,8 14,9 7,5 116,9
Saúde Humana e Serviços Sociais 21,0 39,4 15,8 19,8 12,9 108,8
Educação 11,7 32,2 23,6 20,4 14,4 102,3
23,2 31,7 15,9 19,5 7,3 97,6
Comércio por Atacado, Reparação de Veículos 14,5 8,4 39,0 20,6 8,6 91,2
Construção 24,3 8,5 25,5 17,8 6,0 82,0
38,5 9,9 16,3 11,1 3,2 79,0
Informação e Comunicação 33,5 19,1 4,8 14,4 1,3 73,2
39,4 13,2 5,7 6,8 2,1 67,3
3,7 2,6 0,7 3,1 0,3 10,4
Agricultura, Pecuária e Pesca 0,1 0,1 0,2 0,1 0,2 0,7
Total 417,0 379,6 420,2 304,0 165,3 1.686,1

* dados de 2019. Exclui os vínculos da Administração Pública Direta.


Fonte: RAIS/Ministério do Trabalho. Elaboração: SMDEIS.

88
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Tabela 2: Distribuição dos Vínculos do Setor Privado* no Rio


por subsetor CNAE, segundo as 5 APs (em % do total)

AP1 AP2 AP3 AP4 AP5 TOTAL

4,4 4,0 4,7 3,0 0,8 17,0


Comércio Varejista 1,8 3,7 4,8 3,3 3,1 16,7
Indústria 2,4 1,8 2,6 1,1 1,5 9,4
Alojamento e Alimentação 1,3 2,8 1,3 1,7 0,5 7,6
Transporte, Armazenagem e Correio 2,3 0,6 2,8 0,9 0,4 6,9
Saúde Humana e Serviços Sociais 1,2 2,3 0,9 1,2 0,8 6,5
Educação 0,7 1,9 1,4 1,2 0,9 6,1
1,4 1,9 0,9 1,2 0,4 5,8
Comércio por Atacado, Reparação de Veículos 0,9 0,5 2,3 1,2 0,5 5,4
Construção 1,4 0,5 1,5 1,1 0,4 4,9
2,3 0,6 1,0 0,7 0,2 4,7
Informação e Comunicação 2,0 1,1 0,3 0,9 0,1 4,3
2,3 0,8 0,3 0,4 0,1 4,0
0,2 0,2 0,0 0,2 0,0 0,6
Agricultura, Pecuária e Pesca 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,9
Total 24,7 22,5 24,9 18,0 9,8 100,0

* dados de 2019. Exclui os vínculos da Administração Pública Direta.


Fonte: RAIS/Ministério do Trabalho. Elaboração: SMDEIS.

89
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

2.2.2 Turismo

A pandemia do COVID-19 levou a uma recessão econômica global que é, em muitos sentidos, úni-
ca. A contração em 2020 foi profunda e repentina, e seus impactos - ainda sentidos ao redor do
mundo - variam fortemente entre países e setores. Economias emergentes e em desenvolvimen-
to, por terem menor margem de manobra fiscal e mercados de trabalho menos robustos, mais
informais e dependentes do setor de serviços têm sofrido mais com a crise do que economias
avançadas e de países desenvolvidos. Já no que se refere a setores, aqueles mais dependentes de
contato pessoal, como, por exemplo, o de eventos e entretenimento, são os mais afetados.

Um estudo do FMI de abril de 2021 buscou avaliar o impacto da pandemia nos diferentes setores
da economia, agrupando-os em quatro categorias baseadas em sua intensidade de contato e vul-
nerabilidade à disrupção causada pela pandemia:

Setores de alto contato fortemente afetados, onde oferta e demanda colap-


saram simultaneamente (como hotéis, restaurantes, eventos e transporte);

Setores de alto contato fracamente afetados, onde, em alguns casos, a oferta


foi limitada, mas a demanda aumentou (como serviços de saúde, supermer-
cados e atividades essenciais);

Setores de serviços de baixo contato, onde a demanda caiu, mas a oferta per-
maneceu estável (comunicação, serviços financeiros e atividades de seguro);

Outros setores de baixo contato (como manufatura, mineração, agricultura).

90
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A queda nos setores de alto contato afe-


tados foi significativamente mais brusca
do que as dos demais setores, dada a na-
tureza da crise: o choque nesses setores
se deu tanto pelo lado da oferta, que foi
reduzida devido a políticas de isolamento
e à falência de pequenas e médias em-
presas, como do lado da demanda, em
decorrência da menor mobilidade das
pessoas, do aumento da poupança pre-
caucionária do consumidor devido à in-
certeza e da queda do emprego. Olhando
apenas para dados dos EUA vemos que
os setores de alto contato (alimentação,
acomodação, eventos e transporte) não
só apresentaram queda mais acentuada
como também uma recuperação muito
mais lenta vis-à-vis o consumo de bens ou
de outros tipos de serviço.

Como resultado desse diferencial de im-


pactos, países com economias mais de-
pendentes de setores de alto contato,
como é o caso do Brasil e, em particular,
do município do Rio de Janeiro, ficam
mais expostos, estando sujeitos a maiores
contrações econômicas do que países/
regiões menos dependentes de serviços.
Essa tendência se reflete, naturalmente,
no nível de empregos. Usando dados de
43 países – 27 economias avançadas (AE)

91
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

e 16 em desenvolvimento (EMDE) – foi estimada a queda no emprego por setor em decorrência


do coronavírus para países desenvolvidos e em desenvolvimento, e, como era de se esperar, se-
tores de alto contato foram os que apresentaram maior perda de empregos – especialmente em
economias subdesenvolvidas, mais vulneráveis devido a políticas fiscais mais tímidas e maiores
graus de informalidade no mercado de trabalho.

De acordo com dados do Euromonitor International’s 2019 Travel Teport, a cidade do Rio de Ja-
neiro juntamente com Buenos Aires e Cancun são as únicas cidades da América Latina entre as
100 mais visitadas no mundo. O Gráfico 1 ilustra a importância desse segmento no Estado do
Rio em comparação aos demais estados da Federação e a média nacional, e evidencia como
o setor possui um impacto positivo na economia local e como o turismo na região também
pode ser um promotor de desenvolvimento, emprego e bem-estar.

Gráfico 1: Média da Participação Relativa


do Turismo na Economia (%)*

4,0%
3,5%
3,0%
2,5%
2,0%
1,5%
1,0%
0,5%
0,0%
Pará

Rio de Janeiro
Acre

Pernambuco

Rio Grande do Norte


Alagoas

Mato Grosso do Sul


Distrito Federal

Paraná
Espírito Santo

Maranhão
Mato Grosso

Paraíba

Rio Grande do Sul

Santa Catarina
Minas Gerais

Piauí

Rondônia
Roraima

Sergipe

Brasil
Amapá
Amazonas
Bahia
Ceará

São Paulo
Goiás

* jan/16 - dez/19. Fonte: SIMT/IPEA. Elaboração: SMDEIS.

92
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Focando na dimensão emprego, o Gráfico 2 ilustra a distribuição dos empregos no Rio, segundo
a RAIS por Atividade Característica do Turismo (ACT). O Sistema de Informações sobre o Merca-
do de Trabalho no Setor de Turismo (SIMT) considera oito grupos de ACTs: Alojamento; Agências
de Viagem; Transporte Terrestre; Transporte Aéreo; Transporte Aquaviário; Aluguel de Transpor-
tes; Alimentação e Cultura e Lazer. Dentre estas, transportes terrestre, aéreo e aquaviário foram
agregados em uma única categoria e a correspondência entre ACTs e a Classificação Nacional de
Atividades Econômicas foi feita de acordo com relatório desenvolvido entre Ministério do Turis-
mo e IPEA em 2015. Observa-se que alimentação corresponde a cerca de 67% dos quase 150 mil
postos de trabalho no setor, enquanto alojamento e transporte serão as outras duas atividades
de maior peso, com cerca de 14% e 10%, respectivamente.

Gráfico 2: Quantidade de Vínculos por Atividade


Característica do Turismo (ACT)*

3,4% 5,3%
1,5%

13,8%
9,1%
Alojamento
Alimentação
Transporte
Aluguel de Transporte
Agências de Viagem
Cultura e Lazer

66,9%

* dados de 2019. Fonte: RAIS/Ministério do Trabalho. Elaboração: SMDEIS.

93
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Além da vocação natural da cidade traduzida por belas


praias, Floresta da Tijuca, por grandes atrações como Cristo
Redentor, Pão de Açúcar e Maracanã, junto a uma história
riquíssima que abrange períodos como sede do Império e pri-
meira capital da República, o Rio de Janeiro abraça grandes
eventos como Carnaval,45 com os desfiles das Escolas de
Samba, o “maior espetáculo da terra” e as centenas de
blocos de rua; o Réveillon; e o Rock in Rio. Eventos como
estes mobilizam um grande contingente de turistas e geram
postos de trabalho tanto diretos quanto indiretos e, conse-
quentemente, possuem um impacto positivo na economia.

O Carnaval, maior festa popular brasileira, atinge seu ápice


nas ruas da cidade e na Sapucaí. Dados divulgados pela Em-
presa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (RIOTUR)
apontam que durante o carnaval de 2020 o Rio recebeu cer-
ca de 2,1 milhões de turistas e movimentou cerca de R$ 4
bilhões na economia carioca. Em estudo da Fundação Getu-
lio Vargas (FGV, 2018) encomendado pelo Ministério da Cul-
tura, uma série de impactos é descrita. Dentre os impactos
diretos destacam-se hospedagem, alimentação e bebidas,
transporte local, passeios e atrativos e compras; já entre os
impactos indiretos temos fornecimento de insumos, tre-
inamento, imobiliário, entretenimento e logística. Ambos
totalizaram uma movimentação de aproximadamente R$ 3
bilhões em 2018 e R$ 3,8 bilhões em 2019, com a criação
de mais de 70 mil postos de trabalho e a geração de uma ar-
recadação de R$ 179 milhões em impostos, dentre os quais
R$ 77 milhões de ISS para o Rio de Janeiro. Segundo Bulhões
e Balassiano (2021), “Carnaval também é desenvolvimen-
to econômico!”.
_
45
Sobre carnaval e desenvolvimento econômico, ver Balassiano (2020, 2020a, 2020b
e 2020c); Bulhões e Balassiano (2021); Considera e Trece (2021); Ensaio Geral
(2019); Nascimento (2020); Rádio Arquibancada (2021); RioTur (2020).

94
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

De acordo com o mesmo estudo, o Réveillon também está entre os eventos de maior impacto
na economia da cidade, movimentando um valor estimado de R$ 1,94 bilhão, montante que
inclui investimentos direcionados à organização. Apenas nas areias de Copacabana, a festa da vi-
rada do ano reuniu cerca de 2,4 milhões de pessoas em 2018. Os 707 mil turistas que visitaram a
cidade maravilhosa para a celebração de fim de ano injetaram R$ 1,82 bilhão na economia local.
Foram arrecadados por volta de R$ 115 milhões em tributos e gerados 49 mil postos de trabalho.
A taxa de ocupação dos 855 meios de hospedagem da cidade ficou em torno de 98% de suas 58
mil Unidades Habitacionais (Uhs).

95
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Considerado um divisor de águas na história da música brasileira, o festival Rock in Rio teve sua
primeira edição em janeiro de 1985 e desde então já contou com edições em Lisboa, Madri e Las
Vegas. Dados da Secretaria de Turismo apontam que 700 mil pessoas foram à última edição real-
izada em 2019 - dentre os quais 457 mil eram turistas -, injetando R$ 1,7 bilhão no Rio e gerando
25 mil empregos. A ocupação hoteleira chegou a atingir 92% na segunda semana do festival
em bairros como Flamengo e Botafogo. Na edição realizada em 2017, números similares foram
obtidos: público de 700 mil pessoas, porém com injeção de um montante um pouco menor na
economia - R$ 1,4 bilhão.

96
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Ademais dos eventos que ocorrem perio-


dicamente no município, o Rio de Janeiro
também foi cidade-sede de diversos jogos
da Copa do Mundo de 2014, inclusive a
final, e sediou as Olimpíadas de 2016. Em
livro lançado recentemente, Evaluating the
local Impacts of The Rio Olympics, Neri e co-
autores (2021) destacam a importância dos
Jogos Olímpicos para a cidade. Os autores
ressaltam que a economia municipal apre-
sentava um decaimento relativo a outras
cidades desde a década de 70 e, entre o
anúncio dos Jogos e a realização dele, hou-
ve uma grande reversão na maioria dos in-
dicadores.

Em decorrência da pandemia de COVID-19,


o turismo foi fortemente afetado em esca-
la global. Dados do World Travel & Tourism
Council (WTTC) indicam que a contribuição
do setor para o PIB mundial saiu de 10,4%
(US$ 9,2 trilhões) em 2019 para 5,5% (US$
4,7 trilhões) em 2020, equivalente a uma
queda de 49,1% (US$ 4,5 trilhões). Ao olhar-
mos para o total de empregos no setor, o
cenário não é diferente, decaindo de 334
milhões de trabalhadores em 2019 para 272
milhões em 2020, uma perda de 62 milhões
(18,5%) de postos de trabalho.

Ao analisarmos dados para o Rio, no Gráfico


3, com um panorama sobre o saldo de em
pregos formais (CLT) em Atividades Carac-

97
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

terísticas do Turismo (ACTs). Tomando o março de 2020 como período inicial das medidas de iso-
lamento no município, é possível observar que a alimentação foi severamente afetada de março
até agosto de 2020. Tal constatação não é novidade dado que o setor foi um dos mais afetados
pelas medidas restritivas adotadas. Contudo, para além de alimentação, também é possível ob-
servar que o setor de alojamento foi duramente impactado entre os meses de março e junho
de 2020. No total, entre março e agosto de 2020, aproximadamente 30 mil postos de trabalho
formais ligados às ACTs foram perdidos no Rio de Janeiro. Com o avanço da vacinação e a reto-
mada econômica no Rio, o setor de turismo, tão impactado pela pandemia, deve apresentar uma
tendência de melhora.

Gráfico 3: Saldo de Empregos Formais (CLT) em


Atividades Características do Turismo (ACTs)

4.000
2.000
0
-2.000
-4.000
-6.000
-8.000
-10.000
-12.000
-14.000
dez-20
ago-20
fev-20
jan-20

mar-20
abr-20
mai-20
jun-20
jul-20

set-20

nov-20

fev-21
out-20

jan-21

mar-21
abr-21
mai-21
jun-21
jul-21
Alojamento Transporte Agências de Viagem
Alimentação Aluguel de Transporte Cultura e Lazer

Fonte: CAGED/Ministério do Trabalho. Elaboração: SMDEIS.

98
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Sobre a arrecadação municipal de impostos (ISS),46 os serviços de hospedagem, turismo, viagens


foram os que apresentaram o maior recuo, dentre todos os 40 itens de serviços analisados, com
diminuição de 1,2 p.p. na arrecadação total de ISS, passando de 2,8% em 2019 para 1,6% no ano
seguinte. Os serviços de diversões, lazer e entretenimento também foram bastante impactados,
com recuo de 1,0 p.p., passando de 1,6% em 2019 para 0,6% em 2020. E os serviços de estaciona-
mento, que também foi impactado negativamente com a menor circulação de pessoas nas ruas,
apresentou uma queda de 0,4 p.p., passando de 3,1% em 2019 para 2,6% em 2020, conforme
mostra o Gráfico 4.

Gráfico 4: Diferenças nos Pesos de Arrecadação de ISS entre 2020


e 2019 – Três Maiores Aumentos e Três Maiores Recuos (em p.p.)

2,5
-1,2
2,0

1,5 -1,2

1,0 -1,2

0,5

0,0

-0,5 -0,4
-1,0
-1,0
-1,5 -6,6
serviços serviços serviços de serviços de serviços de serviços de
financeiros de saúde estacionamento diversões, hospedagem,
lazer, turismo,
entretenimento viagens

Fontes: SMFP; SMDEIS. Elaboração: SMDEIS.

Diante de um cenário pós pandemia bastante desafiador para a economia carioca e diante da
relevância do turismo para esta, é razoável pensar o setor como um dos motores de retomada da
atividade. Dentro dessa retomada, a realização dos grandes eventos já tradicionais e a atração de
novos podem desempenhar um papel importante.
_
46
SMDEIS, Estudo Especial (2021)

99
23
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
2.3
Propostas

100
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

2.31
. Economia
Local

Uma ferramenta interessante está na revitalização de áreas anteriormente abandonadas pelo


poder público. Após um longo período de abandono de diversas regiões do município somado
às terríveis consequências econômicas provocadas pela pandemia do coronavírus, é de suma im-
portância a realização de investimentos para ativação de novas áreas comerciais, possibilitando
oportunidades de trabalho, lazer e cultura. É a partir deste esforço conjunto que o carioca poderá
voltar a ocupar cada vez mais sua cidade.

O projeto do Porto Maravalley,47 liderado pela SMDEIS e Invest.Rio, um polo de inovação e tecno-
logia que tem por objetivo atrair grandes empresas de tecnologia (big techs), startups e centros
de pesquisa para o coração da zona portuária do Rio, além de criar uma Lei de incentivo que visa
acelerar essa captação de empresas inovadoras, proporcionando um ambiente amigável para
esses novos empreendimentos que irão se instalar no Rio, é um grande exemplo dessa iniciativa.
Esse projeto é muito transversal, abrangendo economia, inovação, educação, mercado de traba-
lho e economia local, já que está ancorado numa região específica do Rio.

Outro exemplo é o projeto Reviver Centro, liderado pela Secretaria Municipal de Planejamento Ur-
bano (SMPU), que é um plano de recuperação urbanística, cultural, social e econômica da região
central do Rio. O maior objetivo do plano é atrair novos moradores, aproveitando as construções
existentes e terrenos que estão vazios há décadas em uma região da cidade com infraestrutura
e patrimônios culturais de sobra. A criação de novas áreas verdes, estímulo à mobilidade urbana
limpa e ativação do espaço público através da arte também fazem parte do projeto.48

Áreas abertas em vias públicas vêm se tornando uma das principais opções de lazer de suas re-
giões. Eventos culturais e esportivos, shows, opções gastronômicas e outras atividades que rea-
firmam a cultura carioca foram se tornando, de modo orgânico, parte do dia a dia desses locais.
_
47
Ver o box do Porto Maravalley no capítulo 4, de Competitividade e Inovação.
48
Mais informações disponíveis em: https://reviver-centro-pcrj.hub.arcgis.com/

101
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Com o avanço da campanha de vacinação e a


melhora do quadro pandêmico, políticas públi-
cas voltadas para ativar e/ou aprimorar a econo-
mia local de diversas regiões da cidade podem
funcionar como um interessante motor para a
retomada da economia do Rio de Janeiro. Desta
maneira, serão abordadas a seguir algumas pro-
postas que vão de encontro ao diagnóstico e os
benchmarks da revisão da literatura.

Uma das metas do Plano estratégico da Pre-


feitura, que a SMDEIS também integra, é “pro-
mover a revitalização econômica no eixo da Av.
Brasil até 2024, atraindo 10 investimentos pri-
vados nas áreas de logística, saúde e tecnologia
entre outros setores econômicos estratégicos”.

Como já é sabido, a pandemia da Covid-19 pro-


vocou uma profunda degradação econômica
além de duras consequências socioeconômicas,
como o aumento da pobreza, da desigualdade
e da evasão escolar. Uma medida interessante
nesse sentido está na realização de estudos que
consigam apontar para uma espécie de “voca-
ção econômica regional” de diferentes áreas da
cidade. Este tipo de medida é importante para
políticas públicas voltadas ao desenvolvimento
econômico de determinadas regiões, visto que
cada uma delas pode apresentar características
estruturais distintas, podendo ser melhor apro-
veitadas de diferentes maneiras.

102
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

PLANO DE
DESENVOLVIMENTO
– ECONOMIA LOCAL
A presente publicação “Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações”, feito com
diversas mãos, de diversas origens e contextos diferentes, fruto de centenas de reuniões, con-
versas, tanto internas da SMDEIS como da Prefeitura, quanto externas, com relevantes atores da
economia do Rio e do Brasil, como com muitos cariocas, não é um trabalho final, pois sempre
precisa ser atualizado, com novas discussões, anseios e oportunidades. A publicação é um doc-
umento que compila nortes, temas, ações e programas que a SMDEIS já fez ou pretende imple-
mentar, visando o desenvolvimento econômico do Rio, de uma forma mais ampla.

Olhando mais especificamente para as diferentes áreas do Rio, separado pela cinco Áreas de
Planejamento (Aps), com as suas peculiaridades e diferenças setoriais, a SMDEIS, por meio da
Subsecretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação (SUBDEI), irá elaborar estudos para
subsidiar a alta gestão da Prefeitura do Rio com informações e dados das APs e dos bairros, com-
pilando num plano de desenvolvimento para economia local do Rio.

103
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

2.3.2 Turismo

Dessa forma, nos tópicos a seguir são apresentadas algumas propostas para recuperação, desen-
volvimento e ampliação das atividades turísticas na cidade e as metas que se pretende atingir a
partir delas. Tais metas, ressalta-se, estão alinhadas ao Plano Estratégico do município.

Dado esse diagnóstico e esses benchmarks da revisão da literatura, no Plano Estratégico do Rio
há metas ligadas ao turismo, que impactam bastante no desenvolvimento econômico do Rio, e
muitas delas estão interligadas com a SMDEIS, como:

Atrair pelo menos 4 novos eventos de grande porte (+50 mil participantes)
nas áreas de entretenimento, tecnologia e saúde, consolidando um calen-
dário anual de eventos, até 2024;

Aumentar o fluxo de turistas na cidade em 2 milhões de visitantes (entre


nacionais e internacionais) até 2024;

Apoiar a realização de 200 festivais e eventos de arte e cultura até 2024,


para impulsionar a imagem do Rio de Janeiro como capital cultural e refe-
rência nacional e internacional de programação cultural;

Ter a Cidade do Rio de Janeiro como anfitriã de 3 encontros de cúpula ou


reuniões internacionais político-econômicas de alto nível e instalar 2 escri-
tórios regionais de organizações internacionais na cidade até 2024.

104
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Em um quadro pós pandemia, o setor de Turismo deve sofrer transformações consideráveis


ao longo dos próximos anos. Em estudo denominado The Traveler Value Index desenvolvido pelo
Expedia Group, foi verificado uma tendência comum entre os turistas: a busca por uma nova for-
ma de viajar, mais consciente e responsável. A pesquisa foi realizada com uma amostra de oito
mil viajantes distribuídos em oito países (Alemanha, Austrália, Canadá, Estados Unidos, França,
Japão, México, Reino Unido) com intuito de compreender as perspectivas e expectativas diante
da retomada das atividades à medida que a vacinação avança em todo o mundo.

Observou-se que as viagens curtas e domésticas permanecem sendo as preferidas, porém hou-

105
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

ve um aumento no interesse por viagens ao


exterior, com cerca de 30% querendo realizar
tal desejo até o final do ano de 2021. Outro
dado interessante está relacionado à exigên-
cia do passaporte de imunidade entre os
vários países que abriram suas fronteiras re-
centemente: 75% dos viajantes apontam que
tal fato não será um empecilho e afirmam se
sentirem confortáveis com a apresentação
do documento, caso o mesmo seja exigido.

Contudo, outros dados chamam ainda mais


atenção. O apoio a práticas sustentáveis foi
destacado como ponto relevante, com quase
três em cada cinco entrevistados (59%) es-
tando dispostos a pagar por tarifas maiores
com o objetivo de tornar suas viagens mais
sustentáveis. Além disso, a maioria dos par-
ticipantes do estudo (65%) também apontou
que políticas de inclusão são importantes
no momento da decisão. Destacaram ser
mais propensas a fazer reservas com empre-
sas e fornecedores que são geridos por mu-
lheres e/ou pessoas negras, que acolhem a
comunidade LGBTQIA+ e que se atentam às
necessidades de pessoas com deficiência.
A cidade do Rio de Janeiro é naturalmente
vocacionada para turismo, suas belezas na-
turais e a alegria e hospitalidade do carioca
encantam e fascinam a todos.

106
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

GTT
“CARNAVAL
DE DADOS”
O Carnaval, principal manifestação cultural do Rio de Janeiro e uma das mais importantes do
Brasil, tem uma transversalidade muito grande, e pode ser analisado sob vários aspectos. No
Rio, blocos e Escolas de Samba se complementam nos dias de folia, com milhões de pessoas nas
ruas e milhares assistindo aos desfiles. Nesse contexto, o GTT “Carnaval de Dados”,49 demanda
apresentada pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação
(SMDEIS) à Fundação João Goulart (FJG), teve como objetivo principal reunir os dados relaciona-
dos à atuação dos órgãos da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro envolvidos no Carnaval cari-
oca. A importância de estudar o tema em questão, com esse levantamento de dados, situa-se,
principalmente, no fato de dar suporte aos órgãos internos e externos à Prefeitura para tomada
de decisão e planejamento do evento nos próximos anos e, à sociedade em geral, para ratificar-
mos a relevância que o evento Carnaval tem para o desenvolvimento econômico da Cidade.
_
49
O relatório completo do “Carnaval de Dados” também está disponível no Observatório Econômico do Rio, da SMDEIS, e no RepertóRio
- Espaço de Conhecimento sobre a Gestão Pública Carioca, da FJG.

107
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Para que o “evento Carnaval” saia do papel e aconteça na Cidade do Rio de Janeiro, torna-se
necessário que diversos órgãos da Administração Pública Municipal se envolvam, em conjunto
e nas suas particularidades, para que tal finalidade seja atingida. Os órgãos analisados foram:
Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro – RIOTUR; Companhia Municipal de Lim-
peza Urbana – COMLURB; Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro - CET-Rio;
Companhia Municipal de Energia e Iluminação – RIOLUZ; Secretaria Municipal de Cultura – SMC;
Secretaria Municipal de Educação – SME; Secretaria Municipal de Assistência Social – SMAS;
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente- CMDCA-Rio; Secretaria Municipal
de Saúde – SMS, Vigilância Sanitária; Secretaria Municipal de Ordem Pública – SEOP; e Centro de
Operações e Resiliência – COR.

Então, o GTT “Carnaval de Dados” teve como objetivo principal listar diversos dados dos órgãos da
Prefeitura do Rio envolvidos no Carnaval. Em resumo, os principais órgãos da Administração Mu-
nicipal disponibilizam mais de 15 mil servidores para trabalharem durante o Carnaval, mostran-
do o quão complexa é a operação e a alta quantidade de atores nela envolvidos. Metade desse
contingente é da Comlurb, seguido pela Guarda Municipal e operadores de trânsito da CET-Rio.
Além deles, há trabalhadores da área da Saúde, RIOLUZ, entre outros.

108
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

WEB
SUMMIT
O Evento tem como objetivo unir startups e a comunidade investidora, além de promover a
participação dos maiores nomes do cenário econômico, tecnológico e de inovação mundial,
atingindo desde 2009 um número cada vez maior de pessoas.

Definido pela revista The Economist como o “Woodstock para geeks”, em 2017, o impacto eco-
nômico estimado pelo Governo de Portugal, país onde o Evento é realizado anualmente desde
2016, foi de aproximadamente € 300 milhões em cada uma das últimas edições, com público de
aproximadamente 70.000 (setenta mil) pessoas.

Nas últimas edições, a cidade anfitriã recebeu participantes de cerca de 160 países, com público
oriundo de setores como fintech, autotech, energytech, venture capital, indústrias, soluções de
software empresariais, comércio eletrônico, deeptech, inteligência artificial, futuro das socieda-
des e Big Data.

Influenciado pelos efeitos do evento, Portugal passou a ser considerado um hub tecno-
lógico, foco de interesses de diversas multinacionais que desde então investiram no País.
Esta situação foi fortemente impulsionada pela visibilidade que o evento trouxe e ainda
traz, bem como pelos principais gestores e tomadores de decisão que participam do Web
Summit.

109
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A elevada atividade econômica provinda de investimento direto estrangeiro (IDE) passou a gerar
significativos investimentos em startups, gerando empregos e aumentando a arrecadação
fiscal para autoridades locais e centrais. Somente com patrocínios, e aqui podemos citar os
exemplos de Mercedes, BMW, Google, Cisco, Revolut, Nokia, UBER, Zalando e Pipedrive, foram
gerados mais de três mil novos postos de trabalho.

As primeiras startups portuguesas que participaram do evento levantaram fundos de cerca de


€ 60 milhões. Empresas desse ramo atualmente representam mais de 1% do PIB do país e afir-
mam que a sua internacionalização se deve a sua participação no Web Summit e aos potenciais
clientes, investidores e mídias presentes no evento.

Um evento desse porte é, com certeza, uma ferramenta com enorme potencial para transformar
o ambiente de negócios da Cidade, notadamente aqueles relacionados à tecnologia e soluções
digitais. Ao sediar o WebSummit, o Rio passa a entrar no radar de grandes multinacionais liga-
das ao Evento, que passarão a enxergar na Cidade uma ótima escolha para realização de seus
investimentos.

110
24
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
2.4
Referências

111
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

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Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

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ponível em: https://youtu.be/BwTlUR7UiIc

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os-tempos-no-rio-mais-de-10-milhoes-de-folioes-e-alto-indice-de-aprovacao-por-turistas/

Rocha, G. (2017). “A economia dos Jogos Rio 2016: bastidores e primeiros impactos”, Texto para Dis-
cussão IPEA, número 37.

113
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Rocha, G.; Araújo, H.; Codes, A. (2018). “Impactos Econômicos dos Jogos Rio 2016 no Município e na
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Silveira Neto, Duarte e Paéz (2015). “Gender and commuting time in São Paulo Metropolitan Region”,
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pode dar errado quando se usam os microdados da RAIS para análises do emprego público por ente
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balho, nº 65, IPEA.

SMDEIS, Estudo Especial (2021). “Arrecadação Municipal: Imposto Sobre Serviços (2011-2020)”, Estudo
Especial SUBDEI/SMDEIS. Disponível em: https://observatorioeconomico.rio/estudos-especiais/

SMDEIS, Estudo Especial (2021a). “Datação dos Ciclos Econômicos no Rio de Janeiro (2011-2021)”, Estu-
do Especial da SUBDEI/SMDEIS. Disponível em: https://observatorioeconomico.rio/estudos-especiais/

World Travel & Tourism Council -WTTC (2020). “Economic Impact Reports”.

114
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

ANEXO
Bairros das Áreas de Planejamento (APs)
Área de Planejamento I
Benfica, Caju, Catumbi, Centro, Cidade Nova, Estácio, Gamboa, Mangueira, Paquetá, Rio Comprido, Santa Te-
resa, Santo Cristo, São Cristóvão e Saúde.

Área de Planejamento II
Alto da Boa Vista, Andaraí, Botafogo, Copacabana, Cosme Velho, Flamengo, Gávea, Glória, Grajaú, Humaitá,
Ipanema, Jardim Botânico, Lagoa, Laranjeiras, Leblon, Leme, Maracanã, Praça da Bandeira, Rocinha, São Con-
rado, Tijuca, Urca, Vidigal e Vila Isabel.

Área de Planejamento III


Abolição, Acari, Água Santa, Anchieta, Bancários, Barros Filho, Bento Ribeiro, Bonsucesso, Brás de Pina, Ca-
chambi, Cacuia, Campinho, Cascadura, Cavalcante, Cidade Universitária, Cocotá, Coelho Neto, Colégio, Cordo-
vil, Costa Barros, Del Castilho, Dendê, Encantado, Engenheiro Leal, Engenho da Rainha, Engenho de Dentro,
Engenho Novo, Freguesia - Ilha do Governador, Galeão, Guadalupe, Guarabu, Higienópolis, Honório Gurgel,
Inhaúma, Irajá, Itacolomi, Jacaré, Jardim América, Jardim Carioca, Jardim Guanabara, Lins de Vasconcelos, Ma-
dureira, Manguinhos, Maré, Marechal Hermes, Maria da Graça, Méier, Moneró, Olaria, Oswaldo Cruz, Parada
de Lucas, Parque Anchieta, Pavuna, Penha, Penha Circular, Piedade, Pilares, Pitangueiras, Portuguesa, Praia
da Bandeira, Quintino Bocaiuva, Ramos, Riachuelo, Ribeira, Ricardo de Albuquerque, Rocha, Rocha Miranda,
Sampaio, São Francisco Xavier, Tauá, Todos os Santos, Tomás Coelho, Tubiacanga, Turiaçu, Vaz Lobo, Vicente
de Carvalho, Vigário Geral, Vila da Penha, Vila Kosmos, Vista Alegre e Zumbi.

Área de Planejamento IV
Anil, Barra da Tijuca, Camorim, Cidade de Deus, Curicica, Freguesia - Jacarepaguá, Gardênia Azul, Grumari, Ita-
nhangá, Jacarepaguá, Joá, Praça Seca, Pechincha, Recreio dos Bandeirantes, Tanque, Taquara, Vargem Grande,
Vargem Pequena e Vila Valqueire.

Área de Planejamento V
Araújo de Cosmos, Bangu, Barra de Guaratiba, Curral Falso, Cosmos, Campo dos Afonsos, Campo Grande, De-
odoro, Dumas, Guaratiba, Inhoaíba, Jardim Sulacap, Loteamento Madean, Magalhães Bastos, Nossa Senhora
das Graças, Pedra de Guaratiba, Padre Miguel, Proletario Nova Cidade, Paciência, Realengo, Senador Camará,
Santa Cruz, Senador Vasconcelos, Santíssimo, Sepetiba e Vila Militar.

115
03
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Trabalho
e Renda

116
31
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
31
.

Introdução

117
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

O
Brasil passou por uma forte recessão entre o segundo trimestre de 2014 e o quarto
trimestre de 2016, segundo o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CODACE).50
No Município do Rio de Janeiro, a recessão ocorreu após 2016, devido ao efeito
positivo dos Jogos Olímpicos na economia carioca. Rocha et al. (2018) estimam que,
caso as Olimpíadas não fossem realizadas, o PIB per capita da cidade poderia ter sido em média
7,5% menor no período 2012-2015. No entanto, de acordo com Colombo e Lazzari (2018) e SM-
DEIS, Estudos Especiais (2021a), o término da recessão do Rio também ocorreu após a recessão
nacional.

Ottoni et al. (2020) mostram que o mercado de trabalho do Rio de Janeiro, nos últimos anos,
padece de sérios problemas, incluindo desemprego alto e, muitas vezes, de longo prazo, além de
uma elevada informalidade. Antes da pandemia, no final de 2019, o desemprego já era de 12% e
afetava desproporcionalmente os mais pobres, os negros, as mulheres, os menos escolarizados
e os jovens. O percentual de desempregados no Rio que procuravam emprego há mais de um
ano saltou de 42,3% no final de 2016, para 54,5% no final de 2019. Os autores também mostram
que o percentual de trabalhadores ocupados na informalidade era a maior entre as capitais do
Sul e do Sudeste ao final de 2019.

Neste capítulo mostramos que a pandemia agravou as dificuldades já existentes e que os grupos
que mais sofriam com a crise foram os mais afetados pela pandemia. Embora o número de cari-
ocas vulneráveis não tenha aumentado substancialmente, pode-se dizer que a situação dessas
pessoas piorou. Muitos trabalhadores informais, sem garantias trabalhistas, deixaram de ter um
emprego a partir do segundo trimestre de 2020. A taxa de informalidade é mais alta entre os
mais jovens e os menos escolarizados e a renda do trabalho sem carteira assinada ou CNPJ é
mais importante na renda das famílias mais pobres. A elevação do desemprego afetou de for-
ma mais intensa os negros, os jovens e os menos escolarizados. Embora em média as mulheres
tenham sido menos afetadas que os homens, o efeito pode estar relacionado à sua maior esco-
laridade. Em todos os níveis de instrução, exceto o superior completo, o percentual de mulheres
desempregadas é maior.

No entanto, existe um início de recuperação: após a crise, o emprego e a participação começaram


a reagir a partir do começo de 2021. Ressaltamos também que muitos cariocas recorreram ao
empreendedorismo para lidar com a crise: houve um aumento vertiginoso no número de micro-
empreendedores individuais (MEI).
_
50
Sobre a recessão brasileira, ver também Balassiano (2017 e 2018) e Balassiano e Pessôa (2021).
118
32
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
3.2
Diagnóstico e
Revisão da Literatura

119
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

N
a presente Seção há três subseções: na primeira, com dados do mercado de tra-
balho no Rio, mostramos a evolução da participação51 dos cariocas no mercado de
trabalho e da sua ocupação; analisamos as mudanças no número e na condição
dos cariocas em situação vulnerável, evidenciando os grupos mais afetados; verifi-
camos as mudanças e desigualdades nos rendimentos dos cariocas; e identificamos os setores
que impulsionam a recente recuperação da economia carioca. Já a segunda subseção fala sobre
combate à pobreza e transferência de renda; e a terceira, sobre empreendedorismo, MEI, micro
e pequenas empresas.
_
51
Participação pode ser tanto ter um emprego quanto buscar ativamente uma ocupação.

120
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

3.21
.
Dados do Mercado
de Trabalho do Rio

Começamos por analisar as mudanças na proporção de cariocas em idade ativa que estão par-
ticipando do mercado de trabalho (estão buscando trabalho ou empregados) - isto é, pessoas
dispostas a trabalhar, no Rio de Janeiro.

O Gráfico 1 mostra que a pandemia trouxe, no início de 2020, uma queda abrupta na ocupação
dos cariocas. O número de ocupados era cerca de 3,1 milhões no primeiro trimestre de 2020, o
que era 53,4% da população em idade ativa (PIA). Após uma vertiginosa queda por dois trimestres
seguidos, o Rio passou a ter 2,7 milhões de pessoas trabalhando no terceiro trimestre de 2020,
apenas 45% da PIA. No entanto, percebemos que a taxa de ocupação aumentou substancialmen-
te no início de 2021 e no segundo trimestre de 2021 havia 2,9 milhões de cariocas, 51,6% da PIA,
ocupados. Isso sinaliza um começo de recuperação que coincide com o avanço da vacinação na
cidade. Sempre vale lembrar que, em 2021, “o melhor plano econômico foi a vacinação!”.52

Gráfico 1: Número de Cariocas Ocupados (milhões de pessoas)

3,2

3,1

3,0
2,9
2,9

2,8

2,7

2,6
4T16
IT17
2T17
3T17
4T17
1T18
2T18
3T18
4T18
1T19
2T19
3T19
4T19
1T20
2T20
3T20
4T20
1T21
2T21

Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

_
52
Frase repetida inúmeras vezes pelo Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação do Rio, Chicão Bulhões.

121
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Houve também um aumento no número de pessoas que saíram da força de trabalho durante a
pandemia, especialmente nos primeiros meses. Isso inclui tanto pessoas que tinham um empre-
go e deixaram o mercado quanto pessoas que buscavam trabalho e desistiram. Como mostra o
Gráfico 2, o número de cariocas fora da força de trabalho aumentou em mais de 450 mil pessoas
do primeiro para o segundo trimestre de 2020. Parte dessas pessoas retornaram ao mercado no
segundo trimestre de 2021.

Gráfico 2: Número de Cariocas em Idade Ativa Fora


da Força de Trabalho (milhões de pessoas)

2,8

2,6

2,4 2,5
2,5

2,2

2,0
4T16
1T17
2T17
3T17
4T17
1T18
2T18
3T18
4T18
1T19
2T19
3T19
4T19
1T20
2T20
3T20
4T20
1T21
Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS. 2T21

122
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

O Gráfico 353 mostra a quantidade de trabalhadores numa situação mais vulnerável do mercado
de trabalho no Rio, que é o somatório das pessoas desocupadas, subocupadas54, desalentadas55,
indisponíveis56 e informais. O Gráfico 3 mostra que entre o quarto trimestre de 2016 e o quarto
trimestre de 2019 (portanto, antes da crise sanitária mundial) houve um aumento de quase 500
mil cariocas nessa situação.

Gráfico 3: Número de Pessoas Vulneráveis no Rio (em milhões)

1,8

1,7

1,6
1,6

1,5

1,4

1,3
4T16
1T17
2T17
3T17
4T17
1T18
2T18
3T18
4T18
1T19
2T19
3T19
4T19
1T20
2T20
3T20
4T20
1T21
2T21
Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

_
53
As informações dos Gráficos 2 e 3 constam na quarta edição do Boletim Econômico do Rio, publicação mensal elaborada pela SMDEIS.
54
São as pessoas que trabalhavam habitualmente menos de 40 horas no seu único trabalho ou no conjunto de todos os seus trabalhos
e que estavam disponíveis e gostariam de trabalhar mais horas do que as habitualmente trabalhadas.
55
Os desalentados são pessoas fora da força de trabalho que estavam disponíveis para assumir um trabalho na semana de referência,
mas não tomaram providência para conseguir trabalho no período de referência de 30 dias por não ter conseguido trabalho adequa-
do, não ter experiência profissional ou qualificação, não haver trabalho na localidade em que residia ou não conseguir trabalho por se
considerar muito jovem ou muito idoso.
56
Pessoas indisponíveis são aquelas que realizaram busca efetiva por trabalho, mas não se encontravam disponíveis para trabalhar na
semana de referência, por diversos motivos (localidade, estudo, saúde, gravidez, entre outros).

123
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Embora não tenha aumentado durante a pandemia, houve uma mudança de composição desfa-
vorável dentro das categorias de vulneráveis. Nota-se, por exemplo, no Gráfico 4 que o número
de trabalhadores informais vem se recuperando de uma queda acentuada nos três primeiros
trimestres de 2020, enquanto o Gráfico 5 mostra um crescimento no número de pessoas sem
ocupação. Essa mudança não é positiva, posto que o informal possui renda do trabalho, ao con-
trário do desocupado.

Segundo dados da PNAD Contínua, o Rio de Janeiro tem 911 mil trabalhadores informais (Gráfico
4),57 o que representa 31,3% da população ocupada. Isso representa um decrescimento em rela-
ção ao segundo trimestre de 2020, quando a cidade teve uma taxa de informalidade de 32,7%.

Gráfico 4: Trabalhadores Informais no Rio (em milhões de pessoas)

1,2

1,1

1,0

0,9
0,9

0,8
4T16
1T17
2T17
3T17
4T17
1T18
2T18
3T18
4T18
1T19
2T19
3T19
4T19
1T20
2T20
3T20
4T20
1T21
2T21
Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

_
57
Dados do segundo trimestre de 2021.

124
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

No Gráfico 5, percebe-se que o número total de desocupados era de cerca de 530 mil cariocas
no segundo trimestre de 2021. Esse número representa 15,4% da população economicamente
ativa do Rio. No segundo trimestre de 2020, início da pandemia, tínhamos 13,6% de desempre-
go. Pelo Gráfico 5, observa-se que o aumento dos trabalhadores desocupados no Rio é anterior
à pandemia. No final de 2016 havia 350 mil trabalhadores desocupados no Rio, número que au-
mentou para 430 mil no quarto trimestre de 2019, antes da crise sanitária se instalar no Brasil e
no Rio. Com a pandemia, o número aumentou mais ainda, passando de meio milhão de cariocas
desocupados.

Gráfico 5: Trabalhadores Desocupados (em milhões de pessoas)

0,55
0,5

0,50

0,45

0,40

0,35
4T16
1T17
2T17
3T17
4T17
1T18
2T18
3T18
4T18
1T19
2T19
3T19
4T19
1T20
2T20
3T20
4T20
1T21
2T21
Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

Vale ressaltar que a taxa de desemprego no Rio na média 2013-201658 foi de 5,9%, 2,6 p.p. abaixo
da taxa de desemprego do Brasil (8,5%). Já na média 2017-2020, além do forte aumento do de-
semprego carioca, passando para 13%, a taxa do Rio ainda ficou maior do que a média nacional
(12,6%) – Gráfico 6. Com a economia mais forte, há mais empregos, a taxa de desemprego fica

125
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

menor, e também provoca redução das desigualdades.59 Por isso que no Plano Estratégico 2021-
2024 tem metas, lideradas pela SMDEIS, de fortalecer a economia e reduzir o desemprego.

Gráfico 6: Taxa Média de Desemprego no Rio e no Brasil (%)

14 13,0
12,6
12

10
8,5
8
5,9
6

0
Rio Brasil
2013/2016 2017/2020
Fontes: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

_
58
A série histórica da Pnad Contínua, divulgada pelo IBGE, tem início em 2012.
59
Por exemplo, em 2015, quando a situação econômica do Rio era completamente diferente, muito mais favorável, pré-Olimpíadas, a
taxa de desemprego das mulheres negras no Rio era de 6,9%, contra 4,7% da taxa de desemprego total. Ou seja, o desemprego das
mulheres negras era de 2,2 pontos percentuais maior do que a média geral. Quatro anos depois, em 2019, mas antes do coronavírus, a
taxa de desemprego das mulheres negras aumentou mais de 10 pontos percentuais, e passou para 17,8%. Nesse mesmo ano, o desem-
prego médio do Rio foi de 12,5%. Isto é, mais que dobrou a diferença entre o desemprego das mulheres negras e a média total. Com a
pandemia, a situação se agravou mais ainda, passando para 21,8% a taxa de desemprego das mulheres negras no Rio e 14,7% para a
média total de desemprego carioca (dados médios de 2020). Ver também SMDEIS, Estudo Especial (2021), “Mulheres Negras, Mercado
de Trabalho e Pandemia no Município do Rio de Janeiro”.

126
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Os trabalhadores informais foram os que sofreram mais intensamente com a redução do empre-
go. O Gráfico 7 mostra o número de cariocas que tinham emprego (formal ou informal) em um
dado trimestre e se tornaram desocupados ou deixaram a força de trabalho no trimestre seguin-
te. Tanto formais quanto informais sofreram uma intensa perda de emprego do primeiro para o
segundo trimestre de 2020. Porém a saída do emprego informal foi mais intensa, com 183 mil
informais deixando seus postos de trabalho, o que representava 22% do total de informais no 1º
trimestre de 2020. Dentre os ocupados formais, 123 mil transitaram para fora do emprego, do 1º
para o 2º trimestre de 2020. No entanto, o que se nota é que há uma variação maior no número
maior de informais ficando sem emprego, principalmente a partir do 2º trimestre de 2019, mos-
trando o quanto sua situação trabalhista é mais instável.

Gráfico 7: Transição da Ocupação para Fora do Emprego (Fora da Força/Desemprego)


por Tipo de Ocupação (Formal/Informal) no Rio (em milhares de pessoas)

200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
4T16
1T17
2T17
3T17
4T17
1T18
2T18
3T18
4T18
1T19
2T19
3T19
4T19
1T20
2T20
3T20
4T20
1T21
2T21
Formal -> fora do emprego Informal -> fora do emprego

Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

127
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Por outro lado, quando analisamos o Gráfico 8 e vemos o número de cariocas que estavam sem
emprego em um dado trimestre e se empregaram no seguinte (no setor formal ou informal), o
que se percebe é que a entrada no emprego se dá principalmente pela via do emprego informal.
Em 2019 houve um aumento da entrada no emprego informal, sobretudo no 4º trimestre de
2019, quando 115 mil pessoas ingressaram no emprego informal. Em 2020 há uma queda na en-
trada do emprego, tanto formal quanto informal.

Gráfico 8: Transição de Fora do Emprego


(Fora da Força/Desempregos) para Ocupação, por Tipo
de Ocupação (Formal/Informal) no Rio (em milhares de pessoas)

140
120
100
80
60
40
20
0
4T16
1T17
2T17
3T17
4T17
1T18
2T18
3T18
4T18
1T19
2T19
3T19
4T19
1T20
2T20
3T20
4T20
1T21
2T21
Fora do emprego -> formal Fora do emprego -> informal

Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

128
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Primeiramente, é importante ressaltar que o emprego informal é uma parte importante da renda
das famílias mais pobres. No Gráfico 9 vemos, para cada faixa de renda per capita no município
do Rio de Janeiro, o percentual de domicílios que têm renda total do trabalho positiva, isto é, pelo
menos um dos membros exercendo atividade remunerada (em barras). Considerando o universo
de domicílios que têm pelo menos uma pessoa ocupada, o Gráfico 9 mostra, para cada faixa de
renda: 1) o percentual desses lares que têm pelo menos uma pessoa exercendo trabalho infor-
mal como atividade principal; 2) O percentual médio da renda domiciliar proveniente do trabalho
informal. Entre os mais pobres da amostra, com renda per capita abaixo de ¼ do salário mínimo
(SM), vemos que há muitos domicílios em que não há renda do trabalho, o que denota uma situa-
ção de muita vulnerabilidade. Entre os que têm alguém trabalhando, mais de 90% possuem pelo
menos um informal e um percentual superior a 70% da renda total do domicílio vem do trabalho
informal. Entre os domicílios que ganham mais de ¼ de salário mínimo, vemos que o percentual
com pelo menos um ocupado é relativamente constante entre as faixas de renda mostradas. No
entanto, observamos que a importância do trabalho formal nesses domicílios cai sensivelmente
com a renda per capita da família.

Gráfico 9: Informalidade por Faixa de Renda Domiciliar Per Capita*

100%

80%

Percentual de famílias com


60%

% dos domicílios com renda


40% há um informal
% médio das renda total
20% do domicílio que advém do
trabalho informal (domicílios

0%
Até 1/4 de SM

Entre 1/4 e 1/2 SM

Entre 1/2 e 1 SM

Entre 1 e 2 SM

Entre 2 e 3 SM

Entre 3 e 5 SM

Mais de 5 SM

129
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

É importante ressaltar que o trabalhador informal não possui nenhum dos benefícios e prote-
ções trabalhistas dos quais os trabalhadores formais dispõem. Isso significa que as famílias mais
pobres que dependem do trabalho informal enfrentam uma incerteza muito maior do que os
mais ricos.60 Além de não possuir seguro-desemprego ou quaisquer benefícios previdenciários, o
informal necessariamente perde renda quando não pode trabalhar, seja por doença, imprevisto
ou necessidade de cuidar de alguém.

Existem evidências na literatura econômica de que a incerteza em relação à renda futura pode
causar danos para além da falta de recursos. A preocupação excessiva com a renda futura pode
fazer com que as pessoas tenham dificuldade de tomar decisões. Ariely et al. (2009) mostram em
experimentos que, quando os bônus por performance eram excessivamente altos, o desempe-
nho dos participantes piorava diante da pressão. Em experimento no interior do Ceará, Lichand
e Mani (2020) mostram que a incerteza em relação à renda futura, medida pela incidência de
chuvas na estação chuvosa, deixa as pessoas menos atentas em exercícios que exigem memória,
atenção e controle de impulsos. O motivo era que as pessoas tinham dificuldade para dedicar
recursos cognitivos a problemas que não estavam diretamente relacionados à sua principal pre-
ocupação: a seca.
_
60
Uma análise mais completa sobre a volatilidade da renda domiciliar no Brasil pode ser encontrada em Firpo e Portella (2021). Neste
trabalho, os autores também documentam o fato de que os mais pobres também têm renda mais volátil.

130
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

O Gráfico 10, por sua vez, mostra o percentual de trabalhadores ocupados que se encontra na
informalidade em cada grupo populacional. O que podemos constatar é que as diferenças mais
acentuadas estão entre quem terminou ou não o Ensino Médio (EM). Isso mais uma vez sugere
que quem é mais pobre depende mais de trabalhos informais. Além disso, nota-se que a informa-
lidade é consideravelmente maior entre os cariocas mais jovens, o que indica que eles têm menos
oportunidades no mercado formal.

Gráfico 10: Taxa de Informalidade por Grupos no Rio*

Negros
Mulher 32,5% 33,0%
e Pardos

Homem 30,3% Brancos 29,7%

Jovens 38,2% Ensino Médio 27,4%


(15 -29 anos) Completo

Sem Ensino
Mais de 30 30,0% 53,2%
Médio

* 2º trimestre de 2021. Fonte: IBGE. Elaboração SMDEIS

A pandemia exacerbou várias desigualdades no mercado de trabalho que já existiam. Uma forma
de ver isso é olhar para as diferenças no nível de desemprego entre diversos grupos sociais.

Uma característica que chama muito a atenção é que a taxa de desemprego entre jovens do Rio
de Janeiro (entre 15 e 29 anos) é quase três vezes maior que a dos maiores de 30 anos. Como
mostra o Gráfico 11, essa disparidade já vinha crescendo desde antes da pandemia. De fato, a
literatura econômica aponta para maior sensibilidade dos jovens ao ciclo econômico. De acordo

131
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

com Huckfeldt (2020), os empresários se tornam mais seletivos nos critérios de contratação de
trabalhadores em momentos recessivos, exigindo trabalhadores mais qualificados mesmo quan-
do a vaga não demanda um currículo tão vasto. Isso termina por afetar mais intensamente os
jovens, se considerarmos a experiência como uma das dimensões da qualificação dos trabalha-
dores. Além disso, Reis (2015) evidência com dados da PME que a busca por um emprego tem
uma duração muito maior entre os jovens sem experiência profissional, que buscam o primeiro
emprego.

A falta de oportunidade para quem começa a vida profissional é um problema especialmente


grave. Afinal, há diversas evidências (Gregg e Tominey, 2005; Eliason e Storrie, 2006; Cruces, Ham
e Violas, 2012) de que uma entrada no mercado de trabalho marcada por empregos precários
ou por longos episódios de desemprego compromete a trajetória profissional futura dos jovens.

Gráfico 11: Taxa de Desemprego por Faixa Etária no Rio

35%

31,3%
30%

25%

20%

15%
11,5%
10%

5%
4T16
1T17
2T17
3T17
4T17
1T18
2T18
3T18
4T18
1T19
2T19
3T19
4T19
1T20
2T20
3T20
4T20
1T21
2T21

Jovens (15 - 29 anos) Mais velhos (30 anos ou mais)

Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

132
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Outro fato preocupante é que o aumento do desemprego na pandemia foi muito mais intenso
entre aqueles com pouca escolaridade. No Gráfico 12, comparamos a taxa de desemprego entre:

Trabalhadores adultos que não haviam completado o Ensino Fundamental;


Trabalhadores que tinham o Ensino Fundamental completo, mas não o Ensino Médio;
Trabalhadores com Ensino Médio completo e sem diploma de Ensino Superior;
Trabalhadores com Ensino Superior completo.

Podemos constatar que o desemprego só cresce desde o terceiro trimestre de 2019 entre quem
tem apenas o Ensino Fundamental completo. O desemprego entre quem não concluiu o Ensino
Fundamental disparou do segundo trimestre de 2020 ao primeiro trimestre de 2021, assim como
de quem terminou o Ensino Médio, mas não tem diploma universitário. Enquanto isso, o emprego
entre os formados no Ensino Superior se manteve praticamente estável e em um patamar muito
mais baixo, atingindo pouco menos de 8% no segundo trimestre de 2021, menos da metade da
taxa de qualquer um dos outros grupos. Isso evidencia que aqueles que mais sofrem com a crise
na cidade do Rio de Janeiro são justamente os mais humildes.

Gráfico 12: Taxa de Desemprego por Nível de Escolaridade entre Adultos no Rio

30%

25% 25,3%
25 21,3%
20%
18,3%
15%

10%
7,8%
5%
4T16
1T17
2T17
3T17
4T17
1T18
2T18
3T18
4T18
1T19
2T19
3T19
4T19
1T20
2T20
3T20
4T20
1T21
2T21

Fundamental Incompleto Fundamental Completo


Médio Completo Superior Completo
Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

133
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Podemos ver que o período mais crítico da pandemia exacerbou também as diferenças no nível
de desemprego entre os brancos e os negros e pardos.61 Essa diferença pode estar relacionada
a diferenças no nível de escolaridade – que, por sua vez, reflete as desigualdades existentes na
infância e adolescência. Por exemplo, vemos pelo Gráfico 13 que pessoas com Ensino Superior
estavam menos sujeitas aos efeitos da crise e, segundo a PNAD Contínua do segundo trimestre
de 2021, 45% dos brancos adultos tinham ensino superior contra 24,7% dos negros adultos. A boa
notícia é que a disparidade diminuiu no segundo trimestre de 2021 com o princípio de recupera-
ção econômica.

Gráfico 13: Taxa de Desemprego por Raça no Rio

20%

18%

16% 16,7%

14,4%
14%

12%

10%

8%
4T16
1T17
2T17
3T17
4T17
1T18
2T18
3T18
4T18
1T19
2T19
3T19
4T19
1T20
2T20
3T20
4T20
1T21
2T21
Brancos Negros e Pardos

Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

_
61
Na amostra da PNAD Contínua do segundo trimestre de 2021, os brancos eram 56,3% da população carioca e os negros e pardos
eram 42,5%. Logo, quase a totalidade dos cariocas se encaixa em algum desses dois grupos.

134
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

O desemprego das mulheres vinha mais alto que o dos homens desde antes da pandemia e du-
rante a crise houve uma convergência. No Gráfico 14 vemos que, no segundo trimestre de 2021,
a taxa de desemprego das mulheres chegou a ficar mais baixa que a dos homens. No entanto,
devemos interpretar esse dado com cautela. O Gráfico 15 mostra que, quando comparamos ho-
mens e mulheres com o mesmo nível de escolaridade no segundo trimestre de 2021, vemos que
a disparidade é maior entre os níveis de escolaridade mais baixos.

Gráfico 14: Taxa de Desemprego por Gênero no Rio

20%

16% 15,5%
15,2%

12%

8%
4T16
1T17
2T17
3T17
4T17
1T18
2T18
3T18
4T18
1T19
2T19
3T19
4T19
1T20
2T20
3T20
4T20
1T21
2T21
Homem Mulher

Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

135
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Entre aqueles que não têm o Ensino Fundamental, o desemprego entre mulheres era quase o
dobro do de homens no segundo trimestre de 2021. Entre os graduados no Ensino Superior, o de-
semprego masculino chega a superar o feminino. Isso indica que a principal diferença pode estar
no nível de instrução, pois hoje as mulheres são mais escolarizadas que os homens.

Gráfico 15: Taxa de Desemprego por Nível de Escolaridade e Gênero*

35% 33,0%
30%
24,9%
25% 23,1%
21,7%
20,0%
20%

15% 13,3%
9,5%
10%
6,3%
5%

0%
Fundamental Fundamental Médio Superior
Incompleto Completo Completo Completo

Mulher Homem
* dados do 2º trimestre de 2011. Fontes: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

136
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Os rendimentos efetivos62 dos cariocas empreendedores (aqueles que atuam como conta-própria
ou empregador) formais e informais se mantiveram relativamente estáveis no período entre 2017
e 2021, enquanto o rendimento dos empregados (formais e informais) apresentou uma tendên-
cia de alta no período. Em particular, a pandemia gerou um descolamento entre o rendimento
do empreendedor informal e do empregado informal. Dado que o número de empreendedores
informais caiu de 30,1 mil para 26,1 mil do primeiro para o segundo trimestre de 2020, o moti-
vo é provavelmente a dificuldade encontrada por esse grupo nesse momento de crise. Nota-se
também que os trabalhadores formais ganham substancialmente mais do que os informais e esse
padrão se mantém consistente ao longo do tempo. No geral, o impacto da pandemia foi mais
intenso sobre o desemprego e a redução da força de trabalho do que sobre os rendimentos em si.

Gráfico 16: Rendimento Efetivo de Todos os Trabalhos por


Status na Força de Trabalho (milhares de R$)

9
8
7
6 6,2
5,4
5 , 5,2
5
4
3,2
3
2,6
2,
2 2,2
1
4T16
1T17
2T17
3T17
4T17
1T18
2T18
3T18
4T18
1T19
2T19
3T19
4T19
1T20
2T20
3T20
4T20
1T21
2T21
Autônomo formal Autônomo informal Empregado formal
Empregado informal Média Informais Média formais

Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

_
Rendimentos efetivos são os rendimentos vigentes na semana de referência (em oposição a habitual, que é o quanto a pessoa costu-
61

ma receber).

137
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

As mesmas desigualdades que afetam a taxa de desemprego se manifestam na renda do traba-


lho. Nota-se grande diferença de rendimentos entre:
Homens e mulheres;
Negros e pardos e brancos;
Jovens e adultos mais velhos.
Essas diferenças são, no geral, mais intensas nos níveis de escolaridade mais altos, como mostra
a Tabela 1. Isso pode indicar que, quanto mais exigente é a vaga, menor a propensão dos empre-
gadores a escolher pessoas de grupos tradicionalmente discriminados ou com pouca experiência.
Também é notável entre todos os grupos analisados o quanto os rendimentos efetivos prove-
nientes do trabalho se elevam com o nível de escolaridade. Em particular, o diploma de ensino
superior está associado a salários muito mais elevados.

Tabela 1: Rendimento Efetivo de Todos os Trabalhos


por Grupo e Nível de Escolaridade (R$)*

Média por grupo


Fundamental Fundamental Médio Superior
(todos os níveis
Incompleto Completo Completo Completo
de escolaridade)

Brancos 1.431,66 2.131,18 2.707,33 7.704,75 5.638,82

Negros 1.446,49 1.433,35 2.156,47 5.483,94 3.116,55


e Pardos

Homens 1.624,70 1.735,65 2.811,34 8.419,55 4.908,22

Mulheres 1.139,80 1.257,49 1.875,85 5.872,35 4.062,54

Mais de 1.441,65 1.706,17 2.675,60 7.470,81 4.962,55


30 anos

Jovens 1.040,24 1.233,31 1.649,83 3.140,45 2.079,56


(15 - 29 anos)

Média por
escolaridade 1.433,21 1.610,42 2.422,43 7.020,38 4.508,00
(todos os grupos)

* dados do 2º trimestre de 2011. Fontes: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

138
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Os setores de Serviços e Comércio respondiam por 87% do total de empregos formais e infor-
mais no município do Rio, na média dos 2 primeiros trimestres de 2021. O Gráfico 15 apresenta a
proporção de ocupados por grupamento de atividade econômica no município do Rio. O grupa-
mento de atividade que registrou maior nível de emprego na Pnad Contínua foi o de Informação,
Comunicação, Atividades Financeiras, Imobiliárias e Profissionais63 com 22,9% dos ocupados. O
setor de Comércio e reparação de veículos aparece em 2º lugar, com 13,1% dos ocupados na mé-
dia do 1º semestre de 2021. Somados, os dois grupamentos de atividade correspondiam a 36%
do total de empregos formais e informais do Rio. Em seguida aparece o setor de Educação, com
11,2% dos ocupados no período.

Gráfico 17: Grupamento de Atividade dos Empregos


Formal e Informal no Rio*

22,9%

13,1%
11,2% 10,0% 9,6%
7,8%
5,8% 5,5% 5,3% 5,0% 3,6%
Comércio,

Educação

Alojamento e
de veículos
Informação, comunicação

Administração pública

Saúde humana
reparação

e serviços sociais

Indústria geral

Transporte,
imobiliárias, profissionais

armazenagem
e correio

Construção
sociais e pessoais

alimentação

* média do 1º e 2º trimestre de 2021. Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

_
63
As principais atividades desse grupamento no emprego do Rio eram: i) Atividades dos serviços de tecnologia da informação, ii)
atividades de serviços financeiros, iii) seleção, agenciamento e locação de mão de obra, iv) serviços de arquitetura e engenharia, v)
atividades imobiliárias.
As principais atividades desse grupamento no emprego do Rio eram: i) comércio de produtos alimentícios, bebidas e fumo, comércio de
artigos do vestuário e calçados, iii) Supermercado, iv) Comércio de produtos farmacêuticos, médicos, odontológicos e de cosméticos e
perfumaria, v) Manutenção e reparação de veículos automotores.

139
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Cabe destacar que a Pnad Contínua nos fornece o quantitativo de trabalhadores tanto do setor
formal quanto do informal, isto é, aqueles sem registro de trabalho ou profissionais autônomos
sem CNPJ. A proporção de informais é bastante heterogênea segundo o setor de atividade. O Grá-
fico 16 apresenta a proporção de informais em cada setor de atividade, e a média do mercado de
trabalho do Rio no 1º semestre de 2021.

Os setores com taxa de informalidade elevada (acima da média) eram: Serviços Domésticos, com
77% de informais, Construção (67,5%), Serviços Coletivos Sociais e Pessoais (57,2%), Alojamento
e Alimentação (53%), Transporte, Armazenagem e Correio (53%). O setor de Comércio apresenta
taxa de informalidade (34,9%) próxima da média. Por outro lado, Informação, Comunicação, Ati-
vidades Financeiras, Imobiliárias e Profissionais, e os setores de Indústria, Educação e Administra-
ção Pública apresentaram taxas de informalidade abaixo da média.

Gráfico 18: Taxa de Informalidade por Grupamento de Atividade

77,2%
67,5%
57,2% 56,6%
53,0%

34,9% 33,5% 32,8%


24,2% 21,2%
13,8%
7,7%
Comércio,
Alojamento e

Educação
de veículos
armazenagem

Informação, comunicação
Transporte,

reparação

Saúde humana
Construção

alimentação

e correio

Administração pública
e serviços sociais

imobiliárias, profissionais

Indústria geral
sociais e pessoais

Média Rio

* média do 1º e 2º trimestre de 2021. Fonte: IBGE. Elaboração: SMDEIS.

140
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Para analisar as oscilações entre o número de ocupados por setor de atividade recorremos aos
dados do CAGED. De forma geral, no ano de 2020 a pandemia impactou negativamente o empre-
go em quase todos os setores da economia, a única exceção foram os setores de Agricultura e de
Administração Pública. Os setores mais afetados foram os de Alojamento e Alimentação (-17%),
Transporte, Armazenagem e Correios (-10,2%) e Serviços Coletivos, Sociais e Pessoais (-6,4%).
Esse último inclui atividades como cabeleireiros e tratamento de beleza, atividades esportivas, de
recreação e lazer, também bastante afetadas pelas medidas de distanciamento social. No acumu-
lado até agosto de 2021 se verifica uma recuperação do emprego no setor de Serviços Coletivos,
Sociais e Pessoais que compensou a queda no ano anterior. Alojamento e Alimentação, apesar de
registar um saldo positivo de 2,8% ainda está longe de recuperar o tombo de 2020. Já o setor de
Transporte, Armazenagem e Correio seguiu registrando saldo negativo de emprego no CAGED.

Tabela 2: Variação no Número de Ocupados Formais do CAGED


por Grupamento de Atividade no Rio*

Estoque em
Variação 2020 Variação 2021* ago/2021 no emprego

Agricultura, Pecuária, Produção Florestal, Pesca 0,6% -0,2% 1.618 0,1%


Indústria -2,5% 1,5% 149.022 8,5%
Construção -5,6% 4,1% 90.410 5,1%
Comércio, Reparação de Veículos -4,4% 1,0% 376.556 21,4%
Serviços -6,0% 3,0% 1.142.301 64,9%
-3,1% 3,4% 574.161 32,6%
Transporte, Armazenagem e Correio -10,2% -1,9% 108.840 6,2%
Alojamento e Alimentação -17,5% 2,8% 118.605 6,7%
Administração Pública, Defesa e Seguridade Social 12,7% 7,9% 15.664 0,9%
Educação -4,9% 3,1% 106.162 6,0%
Saúde Humana e Serviços Sociais -4,3% 2,6% 117.798 6,7%
-6,4% 6,7% 101.012 5,7%
-1,8% 9,3% 59 0,0%
Total -5,3% 2,5% 1.759.907 100,0%

* dados de 2020 e agosto de 2021.


Fonte: CAGED/Ministério do Trabalho. Elaboração: SMDEIS.

141
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

3.2.2 Combate à Pobreza


e Transferência de Renda

3.2.2.1 A Evolução da Pobreza no Brasil e no Rio de Janeiro


A década de 2000 foi um marco no combate à pobreza no Brasil. Neri e Souza (2012) mostram
que, durante o período 2001-2011, a pobreza caiu mais de 55% de acordo com todas as medidas
usuais (desde o percentual de pessoas abaixo do valor utilizado no Bolsa Família, quanto nas me-
didas internacionais). A maior parte dessa queda, 52%, foi atribuída à redução da desigualdade
social. As transferências de renda tiveram papel fundamental, pois 18% da queda do índice de
Gini64 foi atribuída ao aumento dos benefícios previdenciários – tanto na forma de reajustes quan-
to de novos programas, como BPC - e 13% ao Programa Bolsa Família, criado em 2003. O estudo
enfatiza, porém, que o Bolsa Família tem menor custo-benefício, pois a redução de desigualdade
via previdência custou 352% mais.
_
64
O índice de Gini é a principal medida de desigualdade de renda e varia entre 0, que é o caso em que todos na economia têm a mesma
renda, e 1, se uma pessoa concentra todos os recursos da economia.

142
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Apesar disso, o combate à pobreza segue sendo imprescindível para o desenvolvimento do país.
O Gráfico 19 mostra que, em 2012, pouco mais de 24 milhões de brasileiros eram pobres e 11
milhões de brasileiros se encontravam abaixo da linha internacional da extrema pobreza. A ten-
dência de queda verificada na década anterior persistiu até 2014, porém, de 2014 a 2019, o Brasil
passou a ter cerca de 5,6 milhões de pobres (e 4,6 milhões de extremamente pobres) a mais. Esse
período combinou a crise econômica, com aumento do desemprego afetando de forma mais in-
tensa os menos escolarizados, e a perda de poder de compra do benefício do Bolsa Família. Isso
porque os reajustes foram esporádicos e abaixo da inflação nesse período.

Gráfico 19: Pobreza e Extrema Pobreza no Brasil


(em milhões de pessoas)

30
24,8 25,4 25,7 25,5
24,2
25 22,7 21,8
19,8
20

15 13,3 13,5 13,7


11,4 11,9
10,2 9,0 9,9
10

0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Extrema Pobreza (Renda Domiciliar per capita menor que 1,9 USD PPC 2011)
Pobreza (Renda Domiciliar per capita menor que 3,2 USD PPC 2011)vv

Fonte: Síntese de Indicadores Sociais - IBGE Elaboração: SMDEIS.

143
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Na cidade do Rio de Janeiro, assim como a crise econômica teve seu efeito protelado pelas Olim-
píadas, a piora dos indicadores sociais só se manifestou depois da piora dos índices do Brasil.

Gráfico 20: Pobreza e Extrema Pobreza no Rio de Janeiro


(em milhares de pessoas)

500
421,1
400
349,8 363,0
307,5
300 281,3 277,1 270,6 280,9
203,9
100 166,3 178,0 158,7
136,7 130,6 146,6
120,9
100

0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Extrema Pobreza (Renda Domiciliar per capita menor que 1,9 USD PPC 2011)
Pobreza (Renda Domiciliar per capita menor que 3,2 USD PPC 2011)vv

Fonte: Síntese de Indicadores Sociais - IBGE Elaboração: SMDEIS.

144
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A pandemia teve um efeito brutal no país como um todo e, em particular, na cidade do Rio de
Janeiro. Apesar de o COVID-19 ter começado entre os mais ricos, a mortalidade foi muito maior
nas comunidades carentes na cidade.65 Nos anos de 2020 e 2021, a escalada do desemprego, da
extrema pobreza e da fome no Rio foi amplamente documentada pela imprensa,66 enquanto di-
versos artigos científicos caracterizaram esse quadro em todo o Brasil.67

Notamos, portanto, vários retrocessos nos últimos anos. Contudo, houve acréscimo na expe-
riência adquirida com os instrumentos de combate à pobreza desenvolvidos. Nessa subseção,
nos concentramos nos programas de transferência de renda não-previdenciários mais relevantes
para os cariocas.

3.2.2.2 Programas de Transferência de Renda Não-Previdenciários:


Conquistas e Desafios

O principal programa de transferência de renda do Brasil é o Bolsa Família, que foi lançado como
medida provisória ao fim de 2003,68 unificando e ampliando os programas Bolsa Escola, Bolsa Ali-
mentação, Auxílio-Gás e Fome Zero. O programa hoje contempla famílias com renda per capita
abaixo de R$ 89 por mês e famílias com renda per capita entre R$ 89 e R$ 178 por mês com grá
_
65
Como mostram, por exemplo, Bernardo et al. (2021) que, ao comparar os 10 bairros mais ricos da cidade do Rio de Janeiro e as 10 favelas
mais populosas, encontra que a taxa de mortalidade daqueles que contraem COVID-19 das favelas é mais que duas vezes maior, atingindo
9,08%.
66
Alguns exemplos são: matéria do jornal “O Dia” de 27/07/2021, descreve o aumento do desemprego e da pobreza no estado do Rio
de Janeiro, com 1,5 milhões de desempregados e 1,7 milhões de pobres. Disponível em: https://odia.ig.com.br/colunas/informe-do-
dia/2021/07/6198026-um-inimigo-a-ser-batido.html. E matéria do site G1, de 18/03/2021, que fala da situação das favelas da cidade do
Rio de Janeiro, onde 82% das famílias dependiam de doações para se alimentar. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noti-
cia/2021/03/18/mais-de-80percent-das-familias-que-vivem-em-favelas-dependem-de-doacao-para-se-alimentar-diz-levantamento.ghtml
67
PENSSAN (2021), um estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (PENSSAN), mostra que,
em 2020, apenas 44,8% dos domicílios entrevistados estavam em situação de segurança alimentar. Esse mesmo estudo mostrou que 19
milhões de brasileiros conviviam com a fome no seu dia a dia durante o ano de 2020. Neves et al. (2021) falam sobre o avanço do desem-
prego e a extrema pobreza no Brasil durante o ano de 2020. De Carvalho et al. (2021) fala sobre o aumento da insegurança alimentar e a
intensificação da fome no Brasil.

145
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

vidas, crianças e adolescentes menores de 18 anos. O benefício é de:

R$ 41 para cada criança, grávida ou adolescente de até 15 anos, com limite de 5


benefícios;
R$ 48 para cada adolescente entre 16 e 17 anos, com máximo de 2 benefícios;
Trabalhadores com Ensino Médio completo e sem diploma de Ensino Superior;
R$ 89 mensais para famílias com renda per capita menor que R$ 89 por mês.

Se, ainda sim, a família continuar a ter renda per capita menor que R$89 por mês, o programa
complementa a renda da família até atingir esse patamar (Benefício para a Superação da Extrema
Pobreza). Para receber o benefício, as grávidas devem ir a consultas pré-natais, o calendário de
vacinação das crianças deve estar em dia e, para as crianças e adolescentes em idade escolar, a
frequência escolar deve exceder 85%.

O Bolsa Família já teve uma série de avaliações de impacto ao longo dos anos e demonstrou ter
trazido uma série de benefícios para os mais pobres. Rosella et al. (2003) constataram que a in-
trodução do Bolsa Família nos municípios reduziu a mortalidade infantil por diarreia, desnutrição
e infecções respiratórias. Olson et al. (2019) mostraram que o Bolsa Família causou uma queda
da gravidez na adolescência. Barrientos et al. (2016) estudaram a heterogeneidade dos efeitos
do Bolsa Família entre municípios e grupos demográficos. Eles mostraram que o Bolsa Família
aumentou a frequência escolar entre as meninas, especialmente nos municípios onde era inicial-
mente mais baixa, e que não houve redução na oferta de emprego – uma preocupação frequente
entre os críticos do programa. Chioda et al. (2016) combinaram os dados escolares com dados ge-
orreferenciados de crimes na cidade de São Paulo e constataram que a expansão do Bolsa Família
para jovens de 16 e 17 anos gerou redução significativa na criminalidade. Em uma análise mais
macroeconômica, Gerard et al. (2021) mostram que o Bolsa Família teve um efeito multiplicador
tão alto na economia local que aumentou o emprego formal nos municípios.
_
68
Pela Medida Provisória 132 de 20 de outubro de 2003, que foi convertida na Lei Federal n. 10.836.

146
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

O programa usa o Cadastro Único, que foi, por si só,


uma inovação. Criado em 2001 para ser a base de
dados de referência para todos os programas sociais
federais, estaduais e municipais. Essa base inclui as
famílias que ganham até 3 salários-mínimos no total
ou menos de ½ salário-mínimo per capita e resolve
um problema recorrente em políticas públicas para
os mais pobres: estimar a renda e características do
domicílio de quem é isento do imposto de renda e,
muitas vezes, não tem um emprego formal. Em ju-
nho de 2021, a cidade do Rio de Janeiro tinha pou-
co mais de 1,3 milhões de pessoas cadastradas no
Cadastro Único e o Brasil, um pouco menos de 77,9
milhões.

A utilização dessa base, bem como do sistema de


pagamentos do Bolsa Família, facilitou a criação
_
69
Lício et al. (2018) oferece uma explicação bastante detalhada sobre os
programas que surgiram a partir de acordos de cooperação (pactuações)
de estados e municípios com o governo federal no contexto do Plano Brasil
Sem Miséria, lançado em 2011.

147
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

de programas de transferência de renda estaduais e municipais, geralmente como complemento,


embora essa agenda tenha perdido importância depois da criação do Benefício para a Superação
da Extrema Pobreza.69 Em particular, o estado do Rio de Janeiro teve o Renda Melhor, já encerra-
do, que consistia em:

uma complementação de renda para os beneficiários mais pobres do programa


no Estado do Rio de Janeiro; 70

para os jovens pobres da rede estadual, uma poupança na qual o governo depo-
sitaria um prêmio em dinheiro para cada ano de aprovação do Ensino Médio e
profissionalizante. 71

O dinheiro poderia ser sacado apenas parcialmente (30% do saldo) até que o aluno terminasse
o Ensino Médio. Segundo do Amaral (2016), os incentivos surtiram efeito positivo e significante
sobre a taxa de aprovação dos alunos e reduziram a evasão escolar.

_
69
Lício et al. (2018) oferece uma explicação bastante detalhada sobre os programas que surgiram a partir de acordos de cooperação (pac-
tuações) de estados e municípios com o governo federal no contexto do Plano Brasil Sem Miséria, lançado em 2011.
70
Isto é, famílias que tinham renda per capita presumida (a partir de dados do Cadastro Único acerca das condições do domicílio e da com-
posição familiar) menor que R$100. Essas famílias teriam um benefício tal que sua renda atingisse os R$ 100 per capita. Caso esse valor
excedesse R$ 300, seu benefício seria de R$300.
Os prêmios eram de R$ 700 no primeiro ano do ensino médio; R$ 900 no segundo ano do ensino médio; R$ 1.000 no terceiro ano do ensino
71

médio; R$ 1.200 após 1 ano de ensino profissionalizante após o ensino médio e R$ 500 por bom desempenho no ENEM.

148
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A cidade do Rio de Janeiro, por sua vez, tem o Cartão Família Carioca, que funciona como uma
complementação do Bolsa Família até a renda per capita presumida de R$108 per capita mensais,
acrescido de um prêmio em dinheiro no valor de R$50 a cada dois meses para as crianças do En-
sino Fundamental com bom desempenho escolar. Cerca de 50 mil famílias hoje se beneficiam da
complementação de renda e essa experiência abriu caminhos para que o município tenha parti-
cipação ativa na criação de programas de transferência de renda.72

Por fim, a crise sanitária do coronavírus motivou a criação do Auxílio Emergencial para amparar
os brasileiros de baixa renda que não tivessem emprego formal e não recebessem qualquer outro
benefício previdenciário ou transferência de renda federal73 ou bolsa de estudos.74 O auxílio foi
inicialmente de R$600 por mês por 4 meses (R$1200 para mães chefes de família monoparental),
depois foi sendo prorrogado e diminuindo de valor. A implantação desse programa, junto com o
flagelo da COVID-19, revelou que ainda existem muitas pessoas vulneráveis que ainda estão por
ser contempladas pelas políticas sociais. Gonzáles et al. (2020), por exemplo, atenta para o fato
de que 38 milhões de brasileiros receberam a primeira parcela do Auxílio Emergencial, mas não
estavam no Cadastro Único.75 Dentre esse grupo, 74% tinham renda de até R$ 1.254 mensais e
55% possuíam, no máximo, ensino fundamental. Além disso, 63,8% viviam de trabalhos infor-
mais, tidos como “bicos” e, mesmo se não fossem elegíveis para o Bolsa Família ou BPC, estavam
sujeitos a uma alta variação na sua renda – constantemente beirando à pobreza e com perdas
substanciais durante a pandemia.76 A solução desse problema envolve tanto encontrar pessoas
elegíveis para os programas existentes, mas não contempladas, quanto criar programas que con-
templem mais pessoas vulneráveis e lide com a questão da volatilidade da renda.
_
72
Ver também Vieira (2019).
73
Exceto Bolsa Família e Abono Salarial.
74
Mais informações em Auxílio Emergencial — Português (Brasil) (www.gov.br).
75
Ainda que tenham sido feitos alguns questionamentos sobre o quanto o Auxílio Emergencial, por não utilizar o Cadastro Único e ter os ben-
eficiários cadastrados online às pressas, teria dificuldades em de fato identificar quem mais precisa (Schymura (2020)), esse é um número
bastante expressivo. O que nos leva a crer que é necessário explorar esse problema.
76
No presente capítulo, na subseção 3.2.1, “Dados do Mercado de Trabalho do Rio”, há uma discussão sobre o quanto os informais e, em
particular, os menos escolarizados, estiveram mais vulneráveis a crises nos últimos anos.

149
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A Secretaria de Assistência Social da Prefeitura do Rio de Janeiro, em parceria com o ONU-Habitat,


tem feito a busca ativa pelas famílias que deveriam estar no Cadastro Único e receber benefícios
através do programa Territórios Sociais – focando em bolsões de pobreza dentro de comunida-
des com menor IDH.77 No entanto, ainda não existem programas que protejam os trabalhadores
informais de renda baixa para além de impedi-los de entrar na extrema pobreza, embora existam
algumas propostas nesse sentido.78 A próxima subseção trata desse tema de suavização de renda
para as pessoas mais vulneráveis.
_
77
Mais informações em Territórios Sociais - www.rio.rj.gov.br
78
Botelho et al. (2020) é um exemplo disso com o “Programa de Responsabilidade Social”, que inclui o “Poupança Seguro Família”. O Seguro
Família consiste em um depósito mensal para financiar a proteção dos trabalhadores mais sujeitos à volatilidade de renda, de forma pro-
porcional à renda a ser protegida.

150
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

3.2.2.3 Suavização de Renda para as Pessoas Vulneráveis

Embora o Brasil e, em particular, o Rio de Janeiro tenham feito avanços importantes no combate
à extrema pobreza, muitas famílias humildes estão sujeitas a quedas bruscas em sua renda. Nessa
pandemia, vimos o quanto uma crise afeta desproporcionalmente os mais pobres. Apesar de as
primeiras contaminações do vírus da COVID-19 terem ocorrido entre os mais ricos, a mortalidade
foi muito maior nas comunidades carentes na cidade. Com a pandemia e seus impactos na eco-
nomia, a escalada do desemprego, da extrema pobreza e da fome no Rio foi intensa.

No entanto, as famílias de baixa renda podem se ver vulneráveis por vários outros motivos. Al-
guns são eventos de fácil verificação — como uma doença, morte, perda de um emprego formal,
desastre natural ou calamidade. Deslizamentos de terras que atingem as residências dos mais
pobres são comuns quando há chuvas muito intensas, gerando imensos prejuízos e mortes. Há,
porém, circunstâncias que são difíceis de verificar. Dados da PNAD Contínua mostram que existe
uma grande concentração de informais nas camadas mais pobres da população, fazendo com
que haja um sem-número de contingências inverificável e capaz de afetar a renda de quem mais
precisa. Tais choques adversos podem ser desde finais de semana de chuva para um trabalhador
ambulante até a necessidade de deixar de exercer um trabalho informal por conta própria para
cuidar de alguém.

Cabe salientar que os mecanismos de seguridade social do Estado voltados para quem é formal
— como INSS, FGTS e Seguro Desemprego — poderiam ajudar o trabalhador a lidar com choques
de renda verificáveis, embora não as de difícil previsão e verificação. Além disso, esforços para
aumentar a formalização dos trabalhadores tiveram resultados muito aquém do antecipado.79
_
79
Em estudo sobre a criação do programa Microempreendedor Individual (MEI), Rocha et al. (2018) mostram que o MEI teve um efeito
pequeno sobre formalização, além de limitado a empresas informais já existentes e próximas do valor máximo de faturamento elegível. Isso
é consistente com o fato de que o MEI não era mais vantajoso em relação ao sistema já existente, o SIMPLES, para as empresas com menor
faturamento.

151
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

3.2.2.3 Suavização de Renda para as Pessoas Vulneráveis

O incentivo à poupança pode ser uma alternativa mais flexível para ajudar pessoas humildes a
não passar necessidade quando confrontadas com quedas abruptas de renda. A literatura eco-
nômica aponta que, embora os pobres poupem (Banerjee e Duflo, 2007), existem barreiras para
serem superadas em adição à falta de dinheiro que fazem com que, sem intervenção, o nível de
poupança seja abaixo do ideal.80 A revisão feita por Frisancho (2016) sobre superação de barreiras
à poupança na América Latina discute trabalhos científicos que diagnosticam e buscam soluções
para cinco obstáculos principais:81

1
Custos de transação envolvidos, por exemplo, na abertura
uma conta e na sua manutenção;

Falta de confiança no sistema financeiro e barreiras


regulatórias a contas simplificadas; 2
3
Barreiras sociais, como compromissos tácitos de emprestar dinheiro
a parentes e barganhas dentro do domicílio entre os cônjuges;

Falta de conhecimento ou informação sobre


matemática financeira; 4
5
Fatores comportamentais. Esses fatores incluem, por exemplo, incon-
sistências temporais na tomada de decisão82 e dificuldade de tomar de-
cisões pensadas diante do estresse causado pelo risco e a vulnerabilidade.83
_
Banco Central (2021) mostra que o nível de poupança entre os mais pobres é irrisório, e que muitas vezes a conta formal não é o instru-
80

mento utilizado.
81
Para uma revisão da literatura sobre estímulos a poupança para pessoas pobres em países em desenvolvimento em geral, ver Karlan et
al. (2014).
82
Por exemplo, Wang et al. (2016) mostram diferenças de preferências intertemporais entre diversos países. Em particular, todos exibiram
taxas de desconto hiperbólicas. Taxas de desconto hiperbólicas descontam desproporcionalmente uma pequena espera no presente imedia-
to em relação a uma pequena espera no futuro, o que gera inconsistências intertemporais.
83
Em experimento no interior do Ceará, Lichand e Mani (2020) mostram que a incerteza em relação a renda futura, medida pela incidência
de chuvas na estação chuvosa, deixa as pessoas menos atentas em exercícios que exigem memória, atenção e controle de impulsos. O moti-
vo é que recursos cognitivos são destinados a assuntos diretamente relacionados com a fonte de preocupação: a possibilidade de uma seca.

152
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Algumas iniciativas foram bem-sucedidas em melhorar a vida dos mais pobres por meio do incen-
tivo à poupança. Kast e Pomeranz (2014), por exemplo, realizaram um experimento com 3.500
pessoas de baixa renda em uma instituição de microcrédito no Chile no qual foi oferecido acesso
facilitado a contas poupança sem custo. Observou-se que esse esforço resultou em uma redução
da tomada de empréstimos de curto prazo e em menos redução do consumo diante de choques
inesperados de renda.

Diante disso, uma discussão que já ocorre, como em Botelho et al. (2020), de criar mecanismos
para suavizar a renda das pessoas mais vulneráveis, vai ser cada vez mais debatida. Sugestões de
criar incentivos à poupança para pessoas mais pobres, que também facilitem a sua maior inclusão
financeira e ajudando-os a mitigar choques de renda adversos, que também possam permitir que
famílias humildes que dependem do trabalho informal tenham um mecanismo de seguro que
atenda às suas necessidades. Tal transferência de renda, mesmo se não poupada, pode trazer
benefícios para a população local. Gerard et al. (2021), por exemplo, mostram que o Bolsa Família
teve um efeito multiplicador tão alto que aumentou o emprego formal nos municípios. Progra-
mas desse tipo também tocam questões de gênero, com mulheres como titulares das contas,
usando o mesmo critério do Bolsa Família, por exemplo. Evidências na literatura econômica de
que transferências para mulheres resultam em maior aumento de bem-estar para os filhos e de
que elas têm maior inclinação a poupar. E dar às mulheres maior controle sobre o dinheiro pode
afetá-las diretamente através do aumento de seu poder de barganha dentro do domicílio, sobre-
tudo em contextos em que as normas sociais as limitem.84
_
84
Field et al. (2021), por exemplo, realizaram um experimento na Índia rural oferecendo contas bancárias, depósitos nessas contas e trein-
amento. Este era um contexto em que os maridos, mais do que as esposas, tinham opiniões negativas sobre oferta de trabalho feminina. As
mulheres que receberam a conta, os depósitos e o treinamento aumentaram substancialmente sua oferta de trabalho em relação àquelas
que receberam apenas a conta, mostrando que o controle sobre recursos aumenta seu poder de barganha. Além disso, a percepção dentro
dos domicílios em relação ao trabalho feminino também se tornou mais positiva.

153
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

3.2.3 Empreendedorismo, MEI,


Micro e Pequenas Empresas

O empreendedorismo foi o caminho buscado por muitas pessoas para se reinventar durante a
pandemia. Somente no município do Rio de Janeiro, o número de microempreendedores indivi-
duais (MEIs) saltou de 488.176 em 31 de março de 2020 para 621.678 em 31 de agosto de 2021.875
No entanto, a falta de informação básica sobre como gerenciar um negócio pode ser uma barrei-
ra importante para o sucesso de novos empreendimentos, sobretudo entre os mais vulneráveis,
com menor escolaridade. Uma revisão feita por Mckenzie (2021) sobre programas de treinamen-
to voltados para micro e pequenos empreendedores em países em desenvolvimento mostra que
tais iniciativas podem aumentar significativamente as vendas e a lucratividade. Esse efeito pode
ser potencializado, por exemplo, com um foco maior em treinamentos simples e o uso de regras
de bolso.86
_
85
Dados do Portal do Empreendedor. Disponível em: MEI (fazenda.gov.br). Os dados das Tabelas sobre MEI são referentes a agosto de 2021.
86
Um resultado nesse sentido é encontrado por Arraíz et al. (2019) em um experimento randomizado no Equador. Nesse experimento, com-
para-se o oferecimento de um curso tradicional, cobrindo mais conteúdos, com um treinamento focado em regras de bolso.

154
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A Tabela 3 mostra que, no Rio de Janeiro, mais da metade (54,4%) do total de MEIS são de pessoas
entre 30 e 50 anos (30% entre 31 e 40 anos e 24,4% no intervalo 41 – 50 anos).

Tabela 3: Total de MEIs por faixa etária no Rio

16-17 0,0%

18-20 0,6%
21-30 20,4%

31-40 30,0%

41-50 24,4%

51-60 16,0%

61-70 7,0%

Acima de 70 1,6%

Total 100,0%

Fonte: Portal do Microemprendedor. Elaboração: SMDEIS.

Já por sexo, a Tabela 4 mostra que praticamente metade é de homens e metade de mulheres.

Tabela 4: Total de MEIs por sexo

Homens 50,3%

Mulheres 49,7%

Total 100,0%

Fonte: Portal do Microemprendedor. Elaboração: SMDEIS.

155
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A Tabela 5 mostra as dez principais atividades econômicas das MEIS exercidas pelos homens, que
correspondem a 1/3 de todas as atividades econômicas. Vale ressaltar que “serviços de entrega
rápida”, que cresceu bastante com a pandemia, com os entregadores de aplicativos, e correspon-
dem a 3,6% do total das MEIS dos homens, e é a quarta maior ocupação.

Tabela 5: Dez Principais Atividades Econômicas


de MEIs dos Homens (% do total)

Obras de alvenaria 5,7%


Promoção de vendas 3,8%
Transporte rodoviário de carga, exceto produtos perigosos e mudanças, municipal 3,8%
Serviços de entrega rápida 3,6%
Cabeleiros 3,6%
Instalação e manutenção elétrica 3,2%
2,9%
Fornecimento de alimentos preparados preponderantemente para consumo domiciliar 2,8%
2,5%
Lanchonetes, casas de chá, de suco e similares 2,4%
34,5%
65,5%
Total 100,0%

Fonte: Portal do Microemprendedor. Elaboração: SMDEIS.

156
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A Tabela 6 mostra as dez principais atividades econômicas das MEIS exercidas pelas mulheres,
que correspondem a mais de 50% de todas as atividades econômicas (54,1%). Vale frisar que as
atividades econômicas das MEIs das mulheres são consideravelmente mais concentradas do que
dos homens (54,1% X 34,5%, respectivamente). As quatro principais atividades de MEIS das mu-
lheres são cabeleireiros, comércio varejista de artigos de vestuário, fornecimento de alimentos
para consumo domiciliar e atividades de beleza.

Tabela 6: Dez Principais Atividades Econômicas


de MEIs das Mulheres (% do total)

Cabeleiros 13,6%
8,4%
Fornecimento de alimentos preparados preponderantemente para consumo domiciliar 7,9%
5,1%
Promoção de vendas 4,7%
3,5%
Serviços de organização de feiras, congressos, exposições e festas 2,9%
2,8%
Lanchonetes, casas de chá, de suco e similares 2,6%
7,5%
54,1%
45,9%
Total 100,0%

Fonte: Portal do Microemprendedor. Elaboração: SMDEIS.

157
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Dado esse diagnóstico, conclui-se que o mercado de trabalho carioca – assim como o mercado de
trabalho brasileiro e de países em desenvolvimento em geral – conta com uma grande concentra-
ção de trabalhadores no setor informal. Apesar de mitigar os efeitos do desemprego, o mercado
informal deixa seus participantes mais expostos a crises econômicas – como aquela decorrente
da pandemia do COVID-19 – e impõe restrições ao desenvolvimento do capital humano na medi-
da em que oferece menos oportunidades de aprimoramento profissional do que o setor formal.
Isso dificulta a mobilidade social no longo prazo e, nos curto e médio prazos, lentifica a recupera-
ção econômica no cenário pós-crise.

Em estudo de dezembro de 2020,87 economistas do FMI buscaram compreender melhor o que


conduz um trabalhador ao mercado informal de trabalho através da análise de dados do Vietnã,
já que o país possui 56,2% de sua força de trabalho no mercado informal (desconsiderando a
força de trabalho do setor de agropecuária) e apresenta diferença salarial média entre os setores
formal e informal para trabalhadores exercendo uma mesma função estimada em 8% (a situação
do Brasil, apesar de grave, é menos dramática: menos de 40% da força de trabalho é informal e
o diferencial médio é de apenas 4%). Como era de se esperar, as principais características indivi-
duais que determinam se um indivíduo é ou não informal são anos de experiência de trabalho e
nível educacional do trabalhador. Ou seja, pessoas com mais experiência e maior nível educacio-
nal têm maior probabilidade de terem vínculos empregatícios formais. Isso sugere que, no longo
prazo, medidas educacionais ou de treinamento e qualificação técnicas são formas eficientes
de “formalizar” o mercado de trabalho.

Outro fator determinante para a formalização do trabalhador encontrado pelo estudo é, obvia-
mente, a formalização das firmas: trabalhadores em firmas formais tendem a ser formais.
Assim, políticas que reduzam barreiras de entrada institucionais e burocráticas e garantam os
direitos de propriedade podem impactar positivamente a formalização do mercado de traba-
lho na medida em que incentivam a formalização de firmas.
_
87
Dabla-Norris et al. (2020)

158
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Além da questão da informalidade, ressalta-se


também a questão da participação da mulher
no mercado de trabalho. Países com maior in-
clusão feminina na força de trabalho tendem
a ser mais desenvolvidos, o que tem efeitos
diretos na redução da desigualdade social e
da pobreza. Esses efeitos são particularmen-
te marcantes em países da América Latina.88
Assim, políticas sociais com foco na ampliação
do acesso a creches, concessão de licenças pa-
rentais e mudanças na tributação de renda têm
sido adotadas em economias desenvolvidas ao
redor do mundo para incentivar maior partici-
pação da mulher no mercado de trabalho. Em
economias em desenvolvimento, programas de
transferência de renda para mulheres de baixa
renda, investimentos na formação de mulheres
e investimentos em infraestrutura que refletem
na redução do tempo necessário para a família
administrar seus serviços domésticos também
têm se mostrado determinantes no engaja-
mento feminino no mercado de trabalho.

Apesar de ser difícil estimar com preci-


são a quantidade de trabalhadores infor-
mais em uma economia (já que, pela pró-
pria definição de informalidade, esses traba-
lhadores não estão registrados formalmente
junto ao governo), dados da PNAD contínua
_
88
Fruttero et al. (2020).

159
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

governo), dados da PNAD contínua mostram que o município do Rio de Janeiro possuía, logo an-
tes do início da pandemia, no quarto trimestre de 2019, cerca de 35,9% de taxa de informalidade.
Além das perdas sociais causadas pela informalidade, principalmente no que tange à redução da
arrecadação tributária, os próprios informais também são vítimas dessa situação, uma vez que
se encontravam mais vulneráveis economicamente (especialmente no momento de pandemia) e
estão ligados a atividades muitas vezes de baixa produtividade. Justifica-se, portanto, a atuação
do governo no intuito de mitigar esses problemas.

Utilizando dados do World Business Economic Survey, do Banco Mundial, Dabla-Norris, Gradstein
e Inchauste (2008) mostram que, apesar do fardo regulatório e tributário induzir firmas a infor-
malidade, este efeito é menos pronunciado em países com um sistema legal robusto e eficiente.
Resultados semelhantes são encontrados por Chong e Gradstein (2007), que mostram que a qua-
lidade institucional é um dos fatores determinantes para o tamanho do setor informal em uma
economia. Nesse sentido, espera-se que iniciativas que visem simplificar e agilizar o processo de
abertura de empresas, como a Lei da Liberdade Econômica,89 atuem positivamente no sentido de
reduzir as taxas de informalidade.

Medidas que visem a qualificação da mão de obra também são importantes no combate à in-
formalidade. Dabla-Norris et al. (2020) mostram que as principais características individuais que
determinam se um indivíduo é formal ou não são seus anos de experiência de trabalho e seu
nível de educação. Essa conclusão é reforçada por La Porta e Shleifer (2014), que encontram evi-
dências de que o fator mais importante para a formalização de uma empresa é a qualificação do
trabalhador (em especial, do empreendedor que é dono do negócio). Eles argumentam que uma
das grandes dificuldades de se trazer firmas do setor informal para o setor formal da economia é
que negócios informais são tipicamente geridos por pessoas de baixa qualificação e se encontram
em setores de baixa produtividade, de forma que a concorrência com firmas do setor formal não
é viável. Sendo assim, melhorias institucionais e jurídicas que favoreçam a abertura de novos
negócios devem ser complementadas por programas de capacitação profissional e técnica no
intuito de qualificar a mão-de-obra.
_
89
Ver Box da “Lei da Liberdade Econômica Carioca” no capítulo 4, “Competitividade e Inovação”.

160
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

No que se refere ao maior acesso de jovens ao mercado de trabalho, sugere-se, assim como no
caso da informalidade, a realização de programas de capacitação profissional e técnica. Cor-
seuil, Foguel e Tomelin (2019) analisam uma iniciativa do tipo, aplicada no Brasil, e mostram que
o programa de treinamento afetou positivamente a empregabilidade dos jovens, tendo impacto
na obtenção de empregos formais e em empresas maiores.

Um exemplo da transversalidade no desenvolvimento econômico, envolvendo educação, merca-


do de trabalho, desigualdade, violência doméstica e mortalidade infantil, é mostrado a seguir. Vale
ressaltar que fomentar o desenvolvimento econômico através da redução da desigualdade de
gênero não é algo novo. Desde a década de 1990, estudos feitos por economistas sugerem que
medidas que aumentam a renda da mulher estão associadas à redução da violência doméstica,

161
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

uma vez que uma maior independência financeira aumenta o poderio econômico das mulheres,
possibilitando que elas deixem o marido em casos de abuso. Não só isso, mas o aumento da ren-
da da mulher e a consequente diminuição da violência doméstica está associada a ganhos sociais
mais amplos, como, por exemplo, a diminuição dos níveis de mortalidade infantil e a redução dos
riscos de contaminação pelo vírus da AIDS/HIV.

Em um estudo para determinar o efeito de mudanças no mercado de trabalho feminino sobre a


incidência de violência doméstica em mulheres dos EUA, Aizer (2010) observa que mulheres ne-
gras e de baixa renda são particularmente vulneráveis ao abuso por parte de seus parceiros, com
o nível de educação sendo também um fator explicativo relevante (mulheres com menores níveis
de educação tendem a ser mais vulneráveis). É constatado também um efeito positivo do aumen-
to da renda da mulher sobre medidas de violência doméstica: os dados indicam que uma redução
na diferença salarial entre homens e mulheres deve reduzir a taxa de hospitalização de mulheres
vítimas de agressão por parte de seus parceiros. Basu e Famoye (2004), também utilizando dados
dos EUA, chegam a conclusões similares: é encontrada uma relação entre o grau de dependência
financeira da mulher e a incidência de violência doméstica sobre ela, sendo também encontradas
evidências de que o problema é mais presente em famílias de baixa renda.

Ainda nessa linha, Vyas e Watts (2009) fazem uma revisão dos resultados encontrados pela lite-
ratura no que se refere ao impacto de programas de empoderamento feminino sobre a violência
doméstica. Analisando os resultados de cerca de 30 estudos que atendiam a determinados crité-
rios de seleção, e feitos com dados de diversos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento,
conclui-se que há de fato uma relação significativa entre pobreza e nível de violência contra a mu-
lher. Também foram encontrados resultados que indicavam que mulheres com vínculo empre-
gatício regular estavam, em média, bem mais protegidas de incidentes de violência domésti-
ca – ainda que o mesmo não possa ser dito de mulheres com empregos irregulares ou sazonais.

Sendo assim, políticas que visem fomentar um mercado de trabalho mais inclusivo tendem a
reduzir as disparidades de gênero, fortalecer a independência financeira das mulheres e, conse-
quentemente, a reduzir a incidência e reincidência de violência doméstica para com a população
feminina.

162
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Os benefícios provenientes da contratação de


minorias são amplamente documentados. No
caso das mulheres, especificamente, Ahmed
et al. (2006) mostram que a maior inserção
feminina no mercado de trabalho está cor-
relacionada com a diminuição dos níveis de
mortalidade infantil, enquanto Aizer (2010) e
Basu e Famoye (2004) encontram uma rela-
ção entre o grau de dependência financeira
da mulher de seu marido e a incidência de ca-
sos de violência doméstica. Assim, justifica-
-se a adoção de medidas de incentivo à par-
ticipação da mulher no mercado de trabalho,
como, por exemplo, a ampliação de acesso a
creches.90

O setor das Pequenas e Médias Empresas


(PMEs) tem sido alvo de intervenção sistêmi-
ca e direcionada de governos, além da ajuda
de organizações internacionais em todo o
mundo através de programas de microcrédi-
to - isto é, a provisão de pequenos emprés-
timos a empreendedores e negócios que so-
fram de limitações em seu acesso a serviços
financeiros. Isso se deve muito às descober
_
90
Uma das metas do Plano Estratégico da Prefeitura do Rio é
“ampliar 22 mil vagas em creche (de 0 a 3 anos) até 2024”.

163
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

tas recentes quanto à importância das PMEs na geração de empregos e na recuperação da eco-
nomia de recessões, algumas das quais serão apontadas a seguir.

Em um estudo recente publicado no Journal of Small Business Economics, Ayyagari, Demirgüç-


-Kunt e Maksimovic (2014) mostram que as PMEs são responsáveis por empregar cerca de 50%
dos funcionários que trabalham sob sistemas formais nos países em desenvolvimento e encon-
tram evidências de que as PMEs ajudam a diminuir pobreza e a desigualdade de renda. Isso
ocorre a despeito do fato de que pequenas empresas tipicamente apresentam taxas menores de
crescimento de produtividade do que empresas grandes, uma vez que não podem gozar de eco-
nomias de escala e tendem a ser geridas por empreendedores menos qualificados. Resultados
nessa linha são verificados não só para países em desenvolvimento como um todo, mas também
para o caso brasileiro em específico, onde podemos citar a análise feita pelo Banco de Desen-
volvimento Inter-Americano, que utilizando dados fornecidos por instituições voltadas para o
microempreendedor, mostra um efeito positivo e significante advindo do acesso ao microcrédito
sobre a renda dos tomadores de empréstimo.

Apesar disso, as PMEs (pequenas e médias empresas) ainda são muito limitadas em seu acesso
a serviços financeiros quando comparadas às grandes empresas. Isso se deve a uma miríade de
fatores identificados pela literatura. Segundo relatório do Banco Mundial (2017), alguns dos prin-
cipais impedimentos ao acesso ao crédito no setor são: a baixa robustez institucional e financeira
dos países em desenvolvimento; os elevados custos de transação associados ao monitoramento
e a execução de pequenos empréstimos; as elevadas taxas de juros cobradas devido aos riscos
envolvidos; e problemas de assimetria de informação decorrentes do fato de que pequenos ne-
gócios, ao contrário de grandes empresas, não costumam seguir quaisquer diretrizes de controle
ou divulgação de resultados financeiros e operacionais. O relatório destaca ainda que, apesar de
as PMEs estarem buscando cada vez mais formas alternativas de se capitalizar, como através da
emissão de títulos corporativos ou acordos de financiamento baseado em ativos, os governos
têm papel fundamental a desempenhar no apoio ao micro e pequeno empreendedor.

164
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Nesse sentido, cabe analisar algumas outras


contribuições relevantes da literatura no que se
refere aos efeitos de programas de microcré-
dito e de suporte ao pequeno empreendedor.
Em um artigo de 2015 publicado no American
Economic Journal: Applied Economics, Banerjee,
Karlan e Zinman (2015) fazem uso de dados de
seis programas de microcrédito realizados no
México, Bósnia, Etiópia, Índia, Marrocos e Mon-
gólia, para concluir que a taxa de ingresso nos
programas de empréstimos é tipicamente baixa,
variando entre 17% e 31% nos países analisados,
o que indica dificuldade por parte dos gover-
nos de países em desenvolvimento em alcançar
efetivamente o micro e pequeno empresário.
Apesar disso, todos os estudos apresentaram
alguma evidência de relação positiva entre dis-
ponibilidade de microcrédito e aumento da
atividade empresarial.

Fazendo uso de dados de países do Oriente Mé-


dio e da Ásia Central, um estudo do FMI de 2019
também verificou que um maior nível de integra-
ção financeira – entendido aqui como um maior
acesso ao crédito – está diretamente relaciona-
do a ganhos de produtividade e empregabilidade
em PMEs. Uma vez removidas as barreiras ao
crédito, as pequenas e médias empresas ten-
dem a se expandir, levando a investimentos

165
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

que geram um maior produto por trabalhador e/ou a um aumento no número de trabalha-
dores contratados, impulsionando assim o crescimento econômico. Vale notar que o acesso a
crédito formal impulsiona o crescimento no nível de emprego de forma significante para todas as
empresas – não somente para as pequenas – mas o impacto é menor para as grandes, de acor-
do com o estudo. Não só isso, mas foram encontradas também evidências de que políticas de
microcrédito geram maior eficácia na propagação da política monetária e fiscal. Para a política
monetária, tendo acesso ao crédito formal, pequenas e médias empresas potencializam o efeito
da taxa de juros na economia, facilitando a transmissão da política monetária e a manutenção da
estabilidade do nível de preços. No caso fiscal, maior inclusão financeira de PMEs através de
maior acesso a crédito auxilia uma maior formalização das atividades desses negócios, tendo
um impacto positivo na eficiência da coleta de tributos.

No momento de crise do coronavírus, é ainda maior a atenção que deve ser conferida a progra-
mas de suporte ao micro e pequeno empreendedor. Isso porque, apesar de firmas de todos os
tamanhos terem sido afetadas negativamente pela pandemia, existe forte evidência empírica de
que as PMEs são aquelas que apresentam maior fragilidade diante das políticas de isolamento
social adotadas ao redor do mundo. Nesse sentido, o Banco Mundial (2020) realizou um estudo
para determinar os impactos das medidas de contenção do coronavírus em firmas de todos os
tamanhos e setores, com dados de 13 países diferentes. Os resultados encontrados evidenciam
a importância de programas de microcrédito dentro do contexto da pandemia. Por exemplo: fir-
mas pequenas (menos de 20 empregados) tiveram, em média, uma queda 10% maior em suas re-
ceitas de venda do que empresas de grande porte (mais de 100 empregados) e 4% maior do que
empresas médias; PMEs têm também, em média, uma probabilidade 10% maior de sofrer com
problemas de liquidez ou disponibilidade de fluxo de caixa devido ao Covid-19. Isso não surpreen-
de, já que negócios pequenos, além de terem, naturalmente, menor acesso ao crédito e menor
capacidade de liquidez do que firmas grandes, também não costumam poder contar com estra-
tégias de mitigação de efeitos das políticas de lockdown. Uma estatística encontrada pelo estudo
ilustra bem este ponto: firmas de pequeno porte têm 30% menos chances de terem iniciado ou
aumentado o trabalho remoto durante a pandemia do que firmas grandes.

166
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Por fim, porém não menos importante, o estudo mostra que PMEs são mais dependentes de
financiamentos de capital próprio ou de auxílio governamental do que firmas grandes para lidar
com deficiências de fluxos de caixa. De fato, PMEs têm em média 12,5% mais chances de utilizar
um desses instrumentos do que as grandes empresas, já que estas últimas tendem a recorrer
mais a empréstimos comuns junto a bancos. Diante disso, torna-se indispensável a atuação do
governo na promoção de programas de oferta de microcrédito no intuito de resguardar as pe-
quenas e médias empresas e, com isso, assegurar uma recuperação rápida e eficiente no cenário
pós-pandemia. No Município do Rio de Janeiro, segundo os dados da RAIS, em 2019 temos que
78,6% dos estabelecimentos são microempresas, 17,8% são empresas pequenas e somente 2%
são empresas de porte médio e 1,6% de porte grande, segundo a classificação do Sebrae de ta-
manho da empresa por número de empregados.91
_
91
Definição de tamanho do estabelecimento do SEBRAE: Microempresa: até 9 empregados nos setores de Serviços e Comércio e até 19
empregados na Indústria e Construção. Pequena Empresa: de 10 a 49 empregados em Serviços e Comércio, de 20 a 99 empregados na In-
dústria e Construção. Empresa Média: de 50 a 99 empregados em Serviços e Comércio, de 100 a 499 empregados na Indústria e Construção.
Empresa Grande: 100 ou mais empregados em Serviços e Comércio, 500 ou mais empregados na Indústria e Construção;Vale ressaltar que
o MEI que não possui empregados não é obrigado a declarar RAIS.

167
32
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
3.3
Propostas

168
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

D uas das principais metas do Plano Estratégico da Prefeitura do Rio, lideradas pela Secre-
taria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SMDEIS) são:

reduzir a taxa de desemprego do Rio de 14,7% (média anual de 2020) para


8,0% até 2024;

fortalecer a economia do Rio, visando o crescimento de 3% ao ano, em


média, do PIB carioca.

Diante da atual conjuntura, pretendemos promover políticas ativas de trabalho para os cariocas
vulneráveis, com foco especial nos mais pobres, e, dentro desse grupo, com prioridade às mul-
heres, aos jovens e aos negros.

Card et al. (2010) fazem uma revisão sobre políticas ativas de trabalho, envolvendo quatro tópicos:

1
programas de treinamento no estilo sala de aula
ou na própria empresa;

2
incentivos à busca por emprego, envolvendo
auxílios ou sanções para a não procura;

3
emprego subsidiado
no setor público;

4
emprego subsidiado
no setor privado.

As políticas de emprego subsidiado, sobretudo no setor público, não tiveram impactos positivos
significativos no geral. Enquanto incentivos à busca por trabalho têm impactos já no curto pra-

169
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

zo, os impactos positivos do treinamento se materializam mais no médio prazo (isto é, em 2


ou 3 anos). Um outro aspecto interessante é que as políticas ativas de trabalho têm impacto mais
positivo na duração do desemprego (encurtando-a) do que na renda do trabalho, por exemplo.

As avaliações de impacto do PRONATEC nos mostram grande heterogeneidade nos impactos do


programa. Embora alguns trabalhos mostrem que o efeito é, em média, inexpressivo, Da Mata et
al. (2021) mostram um benefício significativo para mulheres e não para homens,92 o que é atri-
buído à escolha dos setores – elas escolheram cursos em áreas cujo crescimento do emprego era
maior. Isso indica que a capacitação para quem quer um emprego deve privilegiar habilidades
úteis para setores de alta empregabilidade no Rio.

Outro caminho é treinar informais e desempregados para o empreendedorismo. Uma revisão


feita por Mckenzie (2021) sobre programas de treinamento voltados para micro e pequenos
empreendedores em países em desenvolvimento mostra que tais iniciativas podem aumentar
significativamente as vendas e a lucratividade, embora a literatura fosse inicialmente pessimista
sobre esses programas. Esse efeito pode ser potencializado, por exemplo, com um foco maior
em treinamentos simples e o uso de regras de bolso.93

Com base nisso, nossa estratégia consiste em combinar programas de treinamento objetivos,
de curta duração, com informações necessárias para empreender e procurar emprego.94 Adicio-
nalmente, oferecemos um incentivo financeiro para aqueles que participam dessa iniciativa, no
intuito de auxiliá-los em um momento difícil e incentivá-los a se capacitar.

_
92
Camargo et al. (2021) chegam a essa mesma conclusão.
93
Um resultado nesse sentido é encontrado por Arraíz et al. (2019) em um experimento randomizado no Equador. Nesse experimento, com-
para-se o oferecimento de um curso tradicional, cobrindo mais conteúdos, com um treinamento focado em regras de bolso.
94
Adicionalmente, também há a possibilidade também de oferecer incentivos financeiros, no intuito de auxiliá-los em um momento difícil e
incentivá-los a se capacitar.

170
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

PROGRAMADORES
CARIOCAS
Apesar de o Rio de Janeiro se destacar na geração de pesquisa e na formação de profissionais
altamente especializados, é importante ter em mente que o acesso ao desenvolvimento tec-
nológico e à inovação não deve ser elitizado e tornado restrito apenas àqueles que estão no topo
da cadeia educacional. Deve, em vez disso, ser utilizado como alavanca para o desenvolvimento
social e como ferramenta propulsora para a ascensão econômica de classes menos favorecidas
– especialmente num contexto de crescente desigualdade devido aos efeitos da pandemia do
coronavírus.

No Rio há uma alta demanda por profissionais qualificados no setor de tecnologia e, decorrente
disso, cursos técnicos de programação com duração de 3 a 12 meses surgiram a fim de capac-
itar profissionais que nunca tiveram contato com este mundo para que neste curto período se
formem profissionais iniciantes. Após formado, os salários iniciais são bastante atraentes e tem
uma alta empregabilidade, que pode alcançar mais de 80% da mão de obra formada.

171
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Dessas considerações foi que nasceu a iniciativa dos “Programadores Cariocas”. Esta iniciativa é
baseada em alguns pilares:

formação de mão de obra: suprir parte do déficit de mão de obra no setor de


tecnologia, a fim de atender às futuras startups cariocas;

mercado de trabalho: haverá a criação de uma plataforma para que as em-


presas declarem sua demanda por mão de obra de profissionais formados em
tecnologia nos níveis iniciantes. Os números obtidos por essas autodeclarações
serão capazes de balizar o mercado, e, diminuir os riscos de empregabilidade
que afetam a decisão das pessoas a se profissionalizarem.

Também nessa área de tecnologia e educação, a fim de incentivar o interesse por programação
e acelerar a formação de alunos no longo prazo, é preciso dar experimentação às crianças em
estágios iniciais de formação, com cursos para jovens do Ensino Fundamental, numa verdadeira
“Alfabetização Digital”.

172
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

EDUCAÇÃO
FINANCEIRA
Ampliar o acesso à educação financeira é uma iniciativa das mais relevantes para fomentar o
empreendedorismo. A educação financeira é um recurso primordial para esse público, pois pos-
sibilita ao indivíduo o uso, com sabedoria, de produtos e serviços financeiros, tornando-o capaz
de fazer escolhas assertivas e ter melhor qualidade de vida. Para o MEI (microempreendedor
individual), especialmente, esse conhecimento é essencial para que ele consiga gerenciar seu
fluxo de caixa e planejar sua atividade de forma inteligente.

É por isso que no programa “Crédito Carioca”, elaborado pela SMDEIS em parceria com a Invest.
Rio e o setor privado, não apenas são disponibilizados os empréstimos financeiros, mas também
palestras de educação financeira, oferecendo capacitação online para empreendedores apren-
derem a gerir suas finanças e seus negócios.

Buscando ampliar esse tema para não somente os empreendedores que buscaram o “Crédito
Carioca”, a Prefeitura do Rio visa propiciar educação financeira para um público maior, incluindo
os jovens, num programa de Educação Financeira. Essas noções básicas de como lidar com o
dinheiro são pilares importantes tanto para a vida profissional, quanto pessoal.

173
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

PLATAFORMA
DIGITAL DE VAGAS
DE TRABALHO NO RIO
Plataforma que será desenvolvida pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico,
Inovação e Simplificação (SMDEIS) para realizar o matching entre vagas de trabalho no Rio e
potenciais trabalhadores, separados por localidade, setor, nível de escolaridade, entre outros.
As vagas abertas serão divulgadas em parceria com a Secretaria Municipal de Trabalho e Renda
(SMTE).

Kunh e Mansour (2014),95 citados por Ottoni, Duque e Ulyssea (2020, p. 173),96 “mostram que a
busca por emprego pela internet é mais custo efetiva do que a presencial. Também é mostrado
que o trabalhador desempregado encontra emprego mais rapidamente quando busca pela in-
ternet. Deste modo, plataformas virtuais tendem a reduzir, com baixo custo, o desemprego fric-
cional – isto é, aqueles que estão desempregados pela demora para encontrar outra ocupação
após a saída do trabalho anterior.”
_
95
Kuhn e Mansour (2014)
96
Ottoni, Duque e Ulyssea (2020)

174
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

CRÉDITO
CARIOCA
Seguindo o que foi feito ao redor do mundo, com programas de suporte ao micro e pequeno
empreendedor, com base na literatura internacional disponível, e constando no “Plano de Ações
para os 100 primeiros dias de Governo”, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico,
Inovação e Simplificação (SMDEIS), em parceria com a Invest.Rio, empresa de investimentos da
Prefeitura do Rio, ligada à SMDEIS, elaborou o “Crédito Carioca”,97 um programa de microcrédi-
to para micro e pequenas empresas, com dinheiro privado,98 com o objetivo de minimizar os
impactos da pandemia com a concessão de crédito. Além da concessão de crédito, o programa
também conta com educação financeira.

No Crédito Carioca, o público-alvo abrange tanto o microempreendedor, com um ticket-médio


esperado para tomar emprestado entre R$ 2 mil e R$ 5 mil, quanto pequenos empresários com
faturamento anual de até R$ 4,8 milhões, com um ticket-médio maior, a partir de R$ 10 mil.99
_
97
Bulhões, Balassiano, Azevedo e Gontijo (2021).
Inicialmente com R$ 4 milhões disponíveis, das instituições financeiras Sicoob Rio e Estímulo Rio (50% de cada uma), e depois
98

houve um aporte adicional de R$ 8 milhões do Sicoob Rio. Ou seja, no primeiro semestre de 2021, o programa tinha R$ 12 mil-
hões disponíveis, de dinheiro do setor privado.
99
Na fase inicial do programa, o limite máximo de empréstimo era de R$ 400 mil, limite esse que acabou na segunda fase do
projeto, a partir de junho de 2021.

175
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Em resumo, o Crédito Carioca, programa da Prefeitura do Rio, feito pela SMDEIS e Invest.Rio, em
parceria com a iniciativa privada, inicialmente para mitigar os impactos negativos da pandemia,
mas que será uma política pública permanente nos próximos anos, com concessão do crédito
e educação financeira, tem como objetivo beneficiar tanto os empresários como trabalhadores
cariocas, contribuindo para o desenvolvimento econômico do Rio.

176
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

AUXÍLIO EMPRESA CARIOCA


- MEDIDAS NO COMBATE
À PANDEMIA
Diante das medidas de quarentena adotadas para frear a propagação do vírus da Covid-19, auto-
ridades em todo o mundo implementaram medidas de alívio temporário para assegurar o fluxo
de crédito, garantindo a solvência das instituições financeiras. Tais medidas visavam garantir a
sobrevivência de empresas impactadas pela crise da Covid-19 através de prestação de apoio
com garantias públicas, subsídios do Estado, moratórias de reembolso de dívidas ou incentivo à
reestruturação de empréstimos – muitas vezes em cenários delicados que requeriam prudência
na condução de políticas fiscais.

Em um estudo de dezembro de 2020,100 o Banco Mundial concluiu que todos os 154 países
abrangidos em sua base de dados emitiram ao menos uma medida e 95% deles implementa-
ram pelo menos duas, com ênfase em políticas que afetavam o sistema bancário, a liquidez e as
condições de financiamento das empresas. Uma medida que se mostrou positiva e comumente
adotada foi a disponibilidade e aceitação dos meios de pagamento em dinheiro vivo e também
de forma digital. Entre outras razões, isso se mostrou essencial para a realização de pagamentos

_
Feyen, E. et al. (2020). “Taking Stock of the Financial Sector Policy Response to COVID-19 around the World”. Policy Research Working
100

Paper. nº 9497. World Bank.

177
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

que garantissem o alívio de governos para empresas e indivíduos, mitigando choques de fluxos -
especialmente em países de baixa renda. Observa-se também que países ricos e com altos graus
de endividamento privado responderam mais lentamente às medidas dos sistemas de pagamen-
to do que a média.

Em um outro estudo,101 de janeiro de 2021, fazendo uso de uma base de dados de mais de
120.000 firmas – em negócios a nível micro, pequeno, médio e grande- espalhadas por 60 países
de diferentes níveis de renda, foi possível compreender melhor a interação entre oferta e de-
manda por políticas de auxílio, assim como a relativa eficiência de cada uma delas.

Do lado da oferta, como mencionado anteriormente, a maior parte dos programas de auxílio
oferecidos ao redor do mundo focou em medidas de financiamento de dívidas: políticas como
empréstimos subsidiados, expansão da oferta de crédito, reestruturação de pagamentos e trans-
ferências monetárias representam mais de 1/3 do total de medidas tomadas, com políticas de
manutenção de empregos – em especial através subsídios salariais – ocupando o segundo lugar
(25% do total). Além disso, constatou-se também que micro e pequenas empresas têm menor
probabilidade de receberem auxílio do que firmas grandes: microempresas têm, em média, 12%
a menos de chances de receber algum tipo de auxílio do que empresas grandes, sugerindo maior
dificuldade por parte dos governos em alcançar o microempreendedor.
_
Cirera, X. et al. (2021). “Policies to Support Businesses through the COVID-19 Shock: A Firm Level Perspective”. Policy Research Working
101

Paper. no 9506. World Bank.

178
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Já por parte da demanda, cerca de 50% das firmas analisadas elencaram medidas de acesso a
financiamento como sua principal prioridade, com firmas menores e empreendedores informais
reportando também a necessidade de medidas de transferências monetárias diretas, já que ou-
tros tipos de medidas mais formais, como programas de isenção fiscal e tributária ou subsídios
salariais são tipicamente menos acessíveis a empreendedores informais.

Com isso, o estudo concluiu, enfim, que as medidas de facilitação de acesso ao crédito e trans-
ferências monetárias diretas foram as políticas mais bem sucedidas na manutenção da solvência
e liquidez das firmas, enquanto políticas de subsídios salariais provaram-se eficazes contra o
aumento do desemprego. Por outro lado, programas de isenção fiscal e reduções tarifárias não
parecem ser eficazes nesse sentido – sendo necessário particular esforço por partes dos policy
makers no alcance desses programas a micro e pequenas empresas e negócios informais.

Seguindo o que foi feito no Brasil e ao redor do mundo, e adaptando para a realidade carioca, a
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SMDEIS) lançou
a iniciativa “Auxílio Empresa Carioca”, em parceria com a Câmara Municipal de Vereadores, que
disponibilizou os recursos financeiros, ajudando diretamente as empresas impactadas pelas me
didas mais restritivas entre o final de março e começo de abril de 2021, com o objetivo de man
ter os empregos. Sendo focalizado, e com o objetivo de ajudar, principalmente, as micro e peque-

179
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

nas empresas do setor de serviços, como comércio, bares, restaurantes, lanchonetes, cabeleirei-
ro, entre outros, a Prefeitura concedeu o auxílio, proporcional ao período das medidas restritivas
(dez dias, inicialmente), de um salário-mínimo para empregados que recebem até três salários-
-mínimos, no limite máximo de cinco funcionários por empresa. A contrapartida é que a empre-
sa não poderia demitir nenhum funcionário por dois meses. Quase vinte mil empregos foram
mantidos com essa iniciativa, beneficiando mais de cinco mil empresas cariocas. O Auxílio
Empresa Carioca foi uma lei (nº 48.644 / 2021) aprovada pela Câmara Municipal dos Vereadores,
enviada pelo Poder Executivo.102

_
102
Bulhões e Balassiano (2021).

180
34
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
3.4
Referências

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04
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Competitividade
e Inovação

188
41
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
41
.

Introdução

189
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A
principal preocupação de qualquer economia de mercado no longo prazo é
seu crescimento. O desenvolvimento econômico traz consigo maior núme-
ro de empregos, mais receita tributária, estabilidade política e social, além
de ser condição necessária para a redução da desigualdade. Sendo assim,
não surpreende que os determinantes do crescimento sejam estudados há décadas. Nesse con-
texto, o trabalho de Solow nos anos 1950 e, posteriormente, os de Romer nos anos 1990 con-
sagraram-se na literatura de desenvolvimento e renderam aos seus autores o prêmio Nobel de
Economia ao destacar o papel fundamental da inovação tecnológica para o crescimento, uma
vez que devido aos retornos marginais decrescentes do capital e do trabalho, apenas mudanças
tecnológicas são capazes de levar a altos ganhos de produtividade em economias mais desen-
volvidas.

Portanto, não surpreende que, ao redor de todo o mundo, governos tenham começado a se
engajar ativamente no intuito de fomentar o empreendedorismo e a inovação em seus paí-
ses. É o caso, por exemplo, da Coréia do Sul, que através de seu programa I-Korea 4.0, objetiva
trazer o país à quarta “revolução industrial”, por meio de políticas pró-empreendedorismo e de
investimentos intensivos por parte do setor público em tecnologias de ponta. Outro exemplo é
a cidade de Haifa, em Israel, que se tornou referência internacional de ecossistema de inovação
de alto impacto. Ela é hoje a terceira maior cidade de Israel, atrás apenas de Jerusalém e Tel
Aviv, e está se tornando um novo polo científico-tecnológico global. O Haifa Economic Corpo-
ration, principal agente no desenvolvimento econômico e de inovação da cidade há 40 anos, é
uma entidade 100% pertencente ao município de Haifa. O ambiente de inovação instalado na
cidade exerce um papel chave no ecossistema de empreendedorismo e inovação da cidade, por
meio de seus parques tecnológicos e outras iniciativas que propiciam a formação de uma forte
comunidade empreendedora, com forte apoio do Governo. Já em Toronto, no Canadá, o cluster
de ciências da vida e ciências da saúde atrai mais de US$ 1 bilhão anualmente em pesquisa e
emprega cerca de 40 mil profissionais altamente qualificados (dados de 2019). No centro desse
ecossistema está o Toronto Discovery District, que desde 2005 oferece serviços de apoio a em-
preendimentos e programas educacionais.

190
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Engana-se, porém, quem acredita que apenas


países já desenvolvidos, como os citados, têm
potencial de protagonismo no setor tecnoló-
gico. A China, por exemplo, cedeu em 2017 ao
território de Hong Kong, referência como pólo
financeiro internacional, um terreno de pouco
menos de um quilômetro quadrado como parte
do projeto Lok Ma Chau Loop, que será utiliza-
do para a construção do Parque de Tecnologia e
Inovação de Hong-Kong. Por sua vez, a Índia, país
em certo sentido mais comparável com o Brasil,
também tem se destacado como uma das eco-
nomias emergentes de maior crescimento no se-
tor de pólos de inovação e tecnologia: em 2017,
o país recebeu 1.000 novas start-ups – elevan-
do o número total a 5.200 - e o governo lançou
uma série de iniciativas pró-empreendedorismo,
como o Start-Up India Mission, que promove o
financiamento de start-ups, e o Atal Innovation
Mission, uma plataforma para a promoção de
polos de inovação e de negócios.

No Brasil, apesar de ainda não sermos referên-


cia no segmento de tecnologia, sua importância
para a economia não deve ser menosprezada.
Enquanto a pandemia do coronavírus trouxe con-
sigo efeitos devastadores para a maioria dos se-
tores produtivos no país e no mundo, o setor de
tecnologia foi um dos poucos que apresentou
crescimento expressivo no Brasil a despeito da
crise: enquanto o PIB brasileiro recuou em 4,1%
durante o ano de 2020, o setor de tecnologia e

191
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

comunicação cresceu 4,4%, segundo o IBGE. Não só isso, mas diante de um cenário de grande
número de demissões em diversos eixos da atividade econômica e uma taxa de desemprego
nacional de mais de 14%, o segmento tecnológico apresentou um superávit de quase 60 mil
empregos em 2020 e estima-se que o déficit de mão de obra do Brasil no setor seja da ordem
de 24 mil profissionais por ano.

É por este motivo que mesmo aqui já é possível verificar a atuação de diversos governos a nível
estadual e local com o objetivo de fomentar a inovação e o desenvolvimento tecnológico. Po-
demos citar como exemplo o caso do Porto Digital de Recife que, surgindo em 2000 como fruto
de uma política pública do governo de Pernambuco com a finalidade de aumentar a relevância
do estado no setor tecnológico, tornou-se hoje um dos principais parques tecnológicos do país,
apresentando em 2020 um faturamento de R$2,86 bilhões, cerca de 350 empresas vinculadas e
um total de mais de 13 mil profissionais empregados. Exemplos de iniciativas similares também
já podem ser encontrados em outras partes do país. O ecossistema de inovação de Santa Rita do
Sapucaí, em Minas Gerais, conta com a presença do apoio e estímulo governamental, com incen-
tivos fiscais, formação de recursos humanos altamente qualificados, desenvolvimento científico,
constituição de empresas estabelecidas e conectadas globalmente, além de forte promoção à
cultura empreendedora a partir de eventos que mobilizam a cidade. A cidade atualmente é um
cluster eletroeletrônico, conhecido como Vale da Eletrônica, e apresenta alto volume de expor-
tações.

Com uma academia de excelência, grande mercado consumidor e integração logística com o
resto do país e mundo, o Rio de Janeiro possui um elevado potencial para constituir-se como
um grande hub de inovação e ser um player relevante no mercado global de tecnologia. Para
obter tal sucesso, a criação de um espaço físico destinado ao ecossistema mostra-se essencial,
podendo agregar uma série de projetos periféricos. É imprescindível a atuação do governo local
no intuito de explorar as muitas oportunidades que se apresentam neste contexto – em especial
diante dos severos impactos econômicos e sociais causados pela pandemia do coronavírus. O
que este capítulo ambiciona, portanto, é diagnosticar a situação atual do setor de tecnologia e
inovação na cidade do Rio de Janeiro, analisar a evidência empírica oferecida pela literatura no
que se refere às formas mais bem-sucedidas de se intervir neste setor e, finalmente, fazer pro-
postas para impulsionar seu desenvolvimento no âmbito municipal.

192
42
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
4.2
Diagnóstico e
Revisão da Literatura

193
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

4.21
. Diagnóstico

Antes de compreender a dimensão das oportunidades que o setor tecnológico pode oferecer aos
governos e à sociedade em termos de desenvolvimento econômico e social, é necessário com-
preender o contexto específico em que nos encontramos para que seja possível a proposição de
políticas públicas sob medida, através das quais o governo possa auxiliar o crescimento do setor.
Para isso, cabe fazermos uma análise do ambiente de negócios no Brasil, no estado e no mu-
nicípio do Rio de Janeiro para que possamos identificar os gargalos que solapam a inovação e o
empreendedorismo na cidade.

O Technology and Innovation Report de 2021, da Conferência das Nações Unidas para o Desenvol-
vimento e Comércio, apresenta um “readiness index”, isto é, um “índice de prontidão”, que avalia
a capacidade de uso, adoção e adaptação de inovações de países ao redor do mundo. O índice é
composto por cinco fatores e faz um ranking de um total de 158 países, dentre os quais o Brasil se
encontra na 41ª posição. Os cinco fatores julgados são: implantação de tecnologia da informação
e comunicação (73° lugar), habilidades dos recursos humanos (53° lugar), pesquisa e desenvolvi-
mento (17° lugar), atividades da indústria (42° lugar) e acesso a recursos financeiros (60° lugar). As
avaliações do relatório indicam que, em um contexto mais geral, a falta de liderança do Brasil – e,
consequentemente, do Rio de Janeiro - no setor de inovação e tecnologia não parece ser fruto
da ausência de pessoal qualificado ou de produção de atividade de pesquisa relevante no país,
mas de uma série de outros fatores institucionais e sociais. Por exemplo, restrições de acesso ao
crédito, baixo nível de fluência digital e uma conexão deficiente entre as pontas de pesquisa e
desenvolvimento e de divulgação e comercialização de novos produtos e serviços.

194
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Nessa mesma linha, a CB Insights, líder global em dados sobre startups, tecnologia e venture ca-
pital, estudou a fundo mais de 110 startups após seu fechamento. O principal motivo encontrado
para o insucesso desses novos empreendimentos foi a falta de financiamento, uma tendência glo-
bal que foi confirmada também aqui no Brasil por pesquisa feita pelo SEBRAE. Em 2018, o órgão
elaborou um estudo com 1.044 startups brasileiras: das empresas de tecnologia analisadas, 30%
encerraram suas operações dentro do período de um ano e a principal justificativa foi a dificulda-
de de acesso a capital, reclamação feita por 40% dos empreendedores entrevistados.

Diagnósticos similares são encontrados por outros órgãos competentes. O Global


Innovation Index de 2020, da World Intellectual Property Organization, mostra que, em relação ao

195
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

grupo de países de renda média-alta (upper middle-income), o Brasil tem pontuações elevadas
em quatro fatores: capital humano e pesquisa, infraestrutura, sofisticação empresarial e produ-
ção de conhecimento e tecnologia. Por outro lado, o Brasil tem pontuação abaixo da média para
seu grupo de renda em três fatores: instituições, sofisticação de mercado e produtos criativos
(creative outputs). Isso faz sentido: apesar de o Brasil contar com cerca de 52 milhões de empre-
endedores (segundo pesquisa da Endeavor, em 2018), o SEBRAE estimava que, mesmo antes da
pandemia, cerca de 80% das empresas não possuíam caixa para sobreviver por mais de um mês
sem receitas. Além disso, 50% dos CNPJ contabilizados eram, na realidade, autônomos (MEI) que
trabalhavam em atividades de baixa produtividade, como motoristas de aplicativo, entregadores,
manicures e afins.

O Global Innovation Index de 2020 também elencou uma série de pontos positivos e negativos
que influenciam o potencial de inovação do Brasil. Enquanto os pontos fortes do país incluíam fa-
tores como seus gastos em educação, o nível de P&D e a qualidade do ensino nas universidades,
havia sérios gargalos no que se refere à facilidade de se obter crédito, à infraestrutura e, prin-
cipalmente, à dificuldade de se abrir um novo negócio. Portanto, o Brasil como um todo possui
amplo espaço para melhora em termos de diminuição das barreiras a um ambiente propício à
inovação.

No estado do Rio de Janeiro, a dicotomia entre a abundância de mão-de-obra qualificada e pro-


dução científica e os problemas de financiamento à inovação e desenvolvimento de produtos
tecnológicos é ainda mais intensa. No índice de inovação elaborado pela Federação das Indústrias
do Estado do Ceará (FIEC) em 2018, o estado do Rio de Janeiro estava em 4º lugar em termos
de capacidades e em 5º lugar em termos de resultados dentre as unidades da federação. Mais
especificamente, no que se refere às suas capacidades, o estado do Rio de Janeiro é classificado
pelo estudo como o melhor do país nos quesitos “Qualidade da Pós-Graduação” e “Inserção de
Mestres e Doutores na Indústria”, evidenciando a existência tanto de uma oferta de mão-de-obra
altamente qualificada no estado quanto de uma demanda por esses profissionais especializados
no mercado de trabalho.

196
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

O Rio de Janeiro também se destaca por sua infraestrutura de telecomunicações (3º lugar no
país) e por sua produção científica (2º lugar), o que obviamente constitui condições favoráveis ao
desenvolvimento do setor tecnológico e de inovação no estado. Contudo, o Rio é 27º colocado no
quesito “Investimento Público em Ciência e Tecnologia” (lembrando que o Brasil tem apenas 27
estados mais o Distrito Federal) e apenas o 9º em “Intensidade Tecnológica da Estrutura Produ-
tiva”. Ou seja, apesar das grandes potencialidades do estado e de sua vocação natural para líder
do setor tecnológico do ponto de vista técnico e acadêmico, falta uma maior inserção do governo
no sentido de efetivamente capitalizar essas oportunidades.

Já falamos do Brasil e do estado do Rio de Janeiro, mas o que pode ser dito especificamente da ci-
dade do Rio? Uma fonte de diagnósticos relevantes para o município é o relatório Doing Business
Subnational, do Banco Mundial. Este relatório, ao contrário do Doing Business tradicional, que foi
feito anualmente para comparar o ambiente de negócios de diversos países, é focado apenas em
um país específico e no ambiente de negócios de cada uma das capitais dos estados desse país.
Ele é realizado apenas a pedidos do governo federal e foi feito pela primeira vez para o Brasil em
agosto de 2021, trazendo consigo uma série de informações acerca de como o Rio de Janeiro
performa em termos de hospitalidade e incentivos a novos negócios e investimentos.

Segundo o relatório, o Rio de Janeiro se encontra em quinto lugar no ranking de melhores am-
bientes de negócios no Brasil, atrás de Belo Horizonte, São Paulo, Boa Vista e Curitiba. Apesar
disso, o fato é que o Brasil, como um todo, se encontra substancialmente atrasado em diversos
indicadores quando comparado ao resto do mundo, seja com os países ricos da OCDE ou mesmo
com seus pares dos BRICS, de modo que essa “liderança” do Rio de Janeiro no ambiente de ne-
gócios nacional não deve ser super-estimada.

197
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Um exemplo desse atraso é o fardo bu-


rocrático, medido em quantidade de dias,
para se ter um negócio: desde sua aber-
tura, passando pela obtenção de licenças,
o registro da propriedade, a resolução de
eventuais disputas jurídicas e o pagamen-
to de impostos. Enquanto a média carioca
é um pouco pior que a média do Brasil,
com 1.500 dias, a média dos BRICS fica em
cerca de 1.000 dias e nos países da OCDE
por volta de apenas metade. A quantida-
de de procedimentos necessários para se
abrir um negócio no Rio de Janeiro (dez)
também é maior do que a média de seus
pares na América Latina (oito), nos BRI-
CS (seis) e na OCDE (cinco), assim como a
porcentagem média da renda per capita
necessária para fazê-lo. Isso evidencia o
excesso de procedimentos burocráticos
que fazem do processo de se empreender
e acabam por desincentivar a abertura e
a formalização de negócios na cidade, en-
quanto a necessidade de pagamento de
diversas taxas aumenta o custo de fazê-lo.

198
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Outra dimensão relevante de análise proposta pelo Doing Business Subnacional diz respeito ao
processo de licenciamento de construção para a abertura de negócios. No Rio de Janeiro, este
processo atualmente requer a execução de 19 procedimentos e demora quase 9 meses (257
dias). Nos BRICS e na América Latina são necessários, em média, apenas 16 procedimentos, e o
tempo para obtenção de toda documentação jurídica fica em torno de 170 dias para os BRICS e
apenas 150 dias para a OCDE. Esse atraso substancial que o Rio de Janeiro apresenta em relação
aos seus pares se deve, segundo o estudo, a uma série de motivos, dentre eles a falta de digitali-
zação e o número elevado de interações necessárias por parte do empreendedor com diferentes
órgãos regulatórios – principalmente municipais - que, tipicamente, não se coordenam entre si.
Novamente, fica patente o espaço para melhorias simples no processo de obtenção de licenças
através da redução ou unificação de alguns dos passos envolvidos, reduzindo o dispêndio exigido
dos empreendedores e agilizando o processo como um todo.

Diante das evidências apresentadas, fica claro que os problemas do ambiente de negócios na ci-
dade do Rio de Janeiro são parte de um quadro institucional muito mais complexo e de difícil so-
lução do que aquilo que apenas uma única entidade municipal possa combater. Para fomentar a
inovação e o empreendedorismo, não só na cidade, mas no país, as esferas municipal, estadual e
federal devem trabalhar juntas no intuito de tornar o Brasil um ambiente propício para negócios.
Embora em aspectos como o tributário, por exemplo, a capacidade de influência do governo mu-
nicipal seja limitada, continua havendo espaço de manobra para políticas municipais que visem
simplificar regulações, reduzir custos burocráticos, esclarecer regulamentos e acelerar processos
de licenciamento e a emissão de alvarás. É justamente nesse sentido que medidas como a Lei da
Liberdade Econômica e o Licenciamento Integrado (LICIN),103 caminham, tentando transformar
a cidade do Rio de Janeiro, dentro do possível, em um ambiente dinâmico e que favoreça a aber-
tura de novas empresas e negócios, a criação de polos tecnológicos, a atração de investimentos
e a geração de emprego.
_
103
Ver os boxes da Lei da Liberdade Econômica Carioca e do Licenciamento Integrado (LICIN) neste capítulo.

199
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

4.2.2 O que determina a abertura


de novas empresas?

No que se refere aos fatores determinantes à inovação e ao empreendedorismo, Glaeser e Kerr


(2009) utilizam dados do Censo norte-americano para estudar porque startups do setor de ma-
nufatura escolhem se situar em certas cidades e não em outras, usando como medida de em-
preendedorismo a quantidade de novas firmas abertas no ano que são independentes de outras
firmas já existentes. Através de indicadores de criação própria e controlando para efeitos fixos
entre indústrias e cidades, eles testam empiricamente diversas hipóteses do que influencia a ino-
vação em uma região.

A hipótese demográfica de que certos tipos de pessoas (especificamente, pessoas mais velhas e
com maiores níveis educacionais) seriam mais propensos a empreender não encontra respaldo
empírico, apesar de taxas de autoemprego serem tipicamente mais altas em cidades com popu-
lações mais velhas. Diversas medidas de aglomeração, como índices que capturam a presença
de fornecedores de insumos ou de consumidores do produto final na cidade que a firma atua,
apresentaram impacto estatisticamente significativo, se bem que não muito alto. Isso confirma
a intuição de que a proximidade entre fornecedor, firma e consumidor, ao reduzir os custos de
transporte e as dificuldades de logística do negócio, implica num aumento da produtividade e,
consequentemente, incentiva a criação de novos negócios na região.

Foram encontrados efeitos robustos para um índice de concentração de força de trabalho es-
pecializada para o setor na região e de um índice de fragmentação do mercado de insumos pro-
dutivos. Ou seja, políticas de atração e retenção de mão de obra qualificada para o setor que se
deseja desenvolver e políticas de regulação que favoreçam a competição no mercado de insumos
produtivos do setor a ser desenvolvido, com diversos fornecedores pequenos e independentes
atuando localmente (em oposição a grandes fornecedores que atuam em maior escala), estão
associados a um maior surgimento de novas empresas. Este último fator se mostrou especial-
mente importante para novas empresas de pequeno porte, já que novos negócios tendem a ter
uma maior necessidade de um relacionamento mais personalizado e ágil com seus fornecedores
(Chinitz 1961).

200
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

4.2.3 Isenções tributárias


incentivam a inovação?

Um instrumento muito popular entre policy makers que visam fomentar a inovação e o surgimen-
to de startups é a concessão de benefícios fiscais oferecidos por governos a empresas – principal-
mente PMEs, firmas jovens e startups, que tipicamente são as menos financeiramente robustas
- para impulsionar sua pesquisa e desenvolvimento. No intuito de compreender melhor a eficácia
deste tipo de programa em diferentes tipos de indústrias, Castellaci e Lie (2015) fazem uma me-
ta-análise de 34 artigos, que fizeram uso de dados em diversos países (como EUA, Taiwan, Japão,
França, Canadá) e uma série de diferentes especificações para os modelos. Os resultados ofere-
cem evidências significativas de que há um efeito empírico real de medidas de incentivo fiscal
(especificamente, de redução da carga tributária) sobre os níveis de pesquisa e desenvolvimento
das firmas em geral. Porém, os estudos que focaram em sub-amostras de empresas do setor de
alta tecnologia apresentaram, em média, aumentos menores de P&D vis-à-vis esses incentivos.

Não só isso, mas, conforme o esperado, os benefícios fiscais apresentaram um efeito maior do
que a média em firmas de pequeno e médio porte - muitas das quais não fazem esforços de pes-
quisa e desenvolvimento de maneira contínua e permanente – do que em firmas de grande por-
te, cujas atividades de P&D já são bem estabelecidas. Por fim, um efeito substancialmente maior
foi encontrado para as firmas do setor de serviços – o que é um resultado inesperado, haja visto
que firmas desse setor tipicamente inovam através de estratégias que não incluem pesquisa.
Uma possível explicação para esse resultado é que firmas nesses setores, por serem tipicamente
firmas pequenas ou médias, aplicam para programas de benefícios fiscais no intuito de aliviar

201
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

restrições financeiras temporárias ou realizar investimentos pontuais de inovação (por exemplo,


uma nova estratégia de marketing ou aquisição de capital), sem ter, no entanto, o intuito de in-
vestir diretamente em P&D.

Ainda no que se refere ao uso de isenções tributárias como forma de incentivar a inovação, se-
gundo revisão de literatura feita pelo Banco Mundial, os efeitos desse tipo de política são maio-
res no longo prazo do que no curto prazo e é importante que haja previsibilidade da estrutura
tributária a ser enfrentada por parte dos empreendedores. Apesar de a maioria dos estudos do
tipo ser conduzida com dados de países da OCDE, cuja comparabilidade com o Brasil é limitada
por serem países desenvolvidos com setores de tecnologia mais avançados e maior capacidade
de investimento, existem algumas evidências da eficácia da redução de tributos como forma de
induzir a inovação também em países em desenvolvimento. Por exemplo, Binelli e Maffioli (2007)
analisam um programa desse tipo na Argentina e concluem que um adicional de 1% em receita
tributária “abdicada” por parte do governo resulta em média em 13,2% de aumento no investi-
mento em P&D. Mercer-Blackman (2008), utilizando dados da Colômbia, conclui que o esquema
gerou um aumento de apenas US$0,05 de P&D particular no curto prazo, mas que no longo prazo
este efeito aumenta para US$2,96. Por fim, Calderón-Madrid (2010) encontra evidências de que
em um programa no México, a cada dólar economizado pelas firmas no pagamento de imposto
correspondia um aumento de US$0,48 em P&D.

202
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

4.2.4 Parques tecnológicos e


ecossistemas de inovação

Um parque tecnológico é um espaço físico que tem como objetivo auxiliar o desenvolvimento de
empresas inovadoras através da aglomeração de atividades de pesquisa e do oferecimento de
atividades de suporte, como incubação e aceleração de novas empresas, networking entre dife-
rentes agentes interessados, ou comercialização de novos produtos. De uma perspectiva mais
macro, parques tecnológicos podem servir como hubs que melhoram ecossistemas locais de
inovação e empreendedorismo, promovendo a colaboração entre diferentes grupos como a
indústria, a academia e o governo, catalisando o desenvolvimento tecnológico da economia
local.

Verificar o impacto de parques tecnológicos é desafiador por dois motivos. O primeiro é que
entre diferentes parques existe enorme variedade de objetivos, financiamento e estruturas de
gestão, além do fato de que a performance de cada parque está intimamente ligada ao clima so-
cial, econômico e político da região que se encontram. A segunda dificuldade é que os benefícios
desses parques vêm principalmente das dinâmicas que eles estimulam ao promover uma maior
integração e colaboração entre os diversos atores envolvidos, e ainda não existem muitos dados
capazes de oferecer uma visão quantitativamente precisa do efeito dessas iniciativas. Contudo,
há alguma evidência que indica os efeitos positivos de parques tecnológicos sobre a inovação
em uma economia local.

Jongwanic, Kohpaiboon e Yang (2014) usam dados de províncias da China para mostrar que par-
ques científicos e tecnológicos têm efeitos positivos significativos na performance regional de
registro de patentes (utilizada como medida de inovação). Além disso, os parques parecem ter
um papel chave em coordenar a colaboração em P&D entre vários players daquela região e con-

203
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

tribuem players daquela região e contribuem indiretamente para melhorar o nível tecnológico
regional. Squicciarini (2008) também encontra efeitos positivos de parques tecnológicos sobre a
atividade inovadora de firmas: utilizando dados da Finlândia, ele conclui que, apesar de todas as
firmas reduzirem o seu nível de inovação (novamente medido pelo número de patentes registra-
das) na medida em que avançam em seu ciclo de vida, firmas dentro de parques tecnológicos o
fazem mais lentamente. Por fim, Vásquez-Urriago et al. (2014) mostram que parques na Espanha
têm um forte impacto positivo na probabilidade e na quantidade de inovação obtida por firmas
dentro deles. Os resultados são válidos mesmo quando controlado para a possível endogeneida-
de do local de construção dos parques.

204
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

4.2.5 A importância da ponte


entre academia e mercado

Um dos fatores cruciais para o sucesso da incorporação e comercialização de tecnologias inova-


doras pelo mercado é o estabelecimento de uma parceria coordenada entre os produtores
de conhecimento de fronteira, a academia, e os empreendedores e potenciais investidores.
Segundo Youtie e Shapira (2008), nos EUA as universidades vêm passando por um processo de
transformação, deixando de ser apenas uma fábrica de conhecimento para se tornarem centros
de conhecimento geradores de inovação tecnológica que desenvolvem economicamente seu
entorno.

Uma das maneiras pelas quais as universidades podem realizar essa transferência e integração
regional é através da criação e acúmulo de papéis que abrangem fronteiras, isto é, realizando
um esforço consciente para fazer com que uma atividade de fronteira envolva não só o desen-
volvimento, mas também a comunicação do conhecimento além dos limites de uma organiza-
ção. Por exemplo, o programa de extensão agrícola dos EUA, que envolve uma parceria entre
universidades e órgãos federais e estaduais, é um mecanismo de expansão de limites ativo na
tradução e transferência de descobertas científicas para os agricultores, como mostram Carr e
Wilkinson (2005).

A análise feita sobre as universidades mostra que o contexto regional é muito importante. Entre
os exemplos mais conhecidos de regiões dos EUA onde as universidades são centrais na inova-
ção e no desenvolvimento econômico local estão o Vale do Silício e a Route 128 (região metro-
politana de Boston em Massachusetts). Nas últimas décadas, houve muitos novos esforços para
alavancar universidades para o desenvolvimento econômico regional, incluindo nas regiões de
rápido crescimento no Sunbelt nos Estados Unidos e três exemplos proeminentes na região sul:
o Triângulo de Pesquisa (Carolina do Norte), Austin (Texas) e Atlanta (Geórgia). No caso da Ge-
órgia, que é aquele abordado no artigo, os autores mencionam a criação do Georgia Research

205
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Alliance (GRA), formado em 1990 como uma


iniciativa de pesquisa colaborativa entre as
seis principais universidades de pesquisa no
estado da Geórgia. O estado investiu cerca de
US$ 400 milhões na iniciativa, com ênfase no
programa Eminent Scholars, que recruta pes-
quisadores líderes em áreas específicas de in-
teresse. O programa informa que esse investi-
mento permitiu um retorno de cerca de US$ 2
bilhões em novos setores federais e privados,
além de acrescentar 120 pesquisadores líde-
res ao ecossistema e auxiliar na formação de
100 empresas de alta tecnologia. Outro pro-
grama de sucesso foi o VentureLab, criado em
2001, visando melhorar as taxas de sucesso e
comercializar spinoffs da pesquisa do corpo
docente da Georgia Institute of Technology.
O VentureLab fornece serviços de pré-incu-
bação para auxiliar os membros do corpo do-
cente durante o processo de comercialização,
incluindo o desenvolvimento de divulgações
de propriedade intelectual e fazendo ligações
com experientes empreendedores de tecnolo-
gia do setor privado e recursos de capital de
risco. Entre 2001 e 2004, Georgia Tech relata
que o VentureLab funcionou com 100 ideias
de 80 membros do corpo docente e gerou oito
novas empresas que foram apoiadas com US$
9 milhões em financiamento.

206
43
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
4.3
Propostas

207
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Duas metas importantes no Plano Estratégico da Prefeitura do Rio, lideradas pela SMDEIS, e que
têm total relação com os temas descritos neste capítulo, são:

Tornar o Rio a melhor cidade da América Latina para abertura de empresas


e licenciamento de obras;
Atrair e fomentar a criação de 400 novas startups.

Considerando relevância do setor de tecnologia e inovação como ferramenta de crescimento e


desenvolvimento econômico e tomando como base o diagnóstico apresentado, a gestão atual
apresenta as seguintes propostas para tornar o Rio de Janeiro um polo tecnológico:

Desenvolver um ecossistema de inovação na cidade do Rio de Janeiro a


partir do Projeto Porto Maravalley, de maneira a concentrar e conectar
empresas jovens e inovadoras numa mesma região, potencializando dessa
forma os efeitos de spillover de P&D. Mais especificamente, o desenvolvi-
mento desse ecossistema facilitará a disseminação do conhecimento de
fronteira e oferecerá suporte a novos empreendedores através de servi-
ços de incubação e aceleração de startups, promovendo com isso um am-
biente favorável ao surgimento de novos produtos, tecnologias e serviços;

Melhorar o ambiente de negócios da cidade do Rio de Janeiro através


de medidas que visem reduzir e simplificar o fardo burocrático associado
à abertura e à manutenção de novos negócios. Isso reduzirá os custos e o
trabalho do pequeno empreendedor, incentivando o desenvolvimento de
novas empresas e atraindo investimentos que geram empregos e renda
para a população carioca;

208
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Promover a aproximação entre os diferentes players do setor de tecno-


logia, dando ênfase especial à comunicação e à coordenação de atores da
ponta comercial, como investidores, empreendedores e firmas, e atores
da ponta de desenvolvimento, como universidades, professores e pesqui-
sadores;

Facilitar não somente a abertura, mas também a prosperidade e a evo-


lução de novos negócios, através da concessão (ou não) de incentivos fis-
cais e tributários, e da qualificação técnica de pessoal por meio de pro-
gramas de alfabetização digital, Programadores Cariocas e de educação
financeira;104

Garantir que os benefícios decorrentes do progresso tecnológico também


sejam colhidos diretamente por jovens de classe baixa, que são os mais
afetados pela falta de oportunidades. Isso será feito por meio de progra-
mas e iniciativas que visem qualificar esses jovens em programação e
informática, promovendo sua inserção no mercado de trabalho e suprin-
do a demanda por mão-de-obra para esse setor em crescimento.
_
104
Ver os boxes dos “Programadores Cariocas” e “Educação Financeira” no capítulo 3 de Trabalho e Renda.

209
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

PORTO
MARAVALLEY
A atual gestão, ciente da necessidade do governo de assumir um papel ativo no desenvolvimento
tecnológico e na transformação da cidade do Rio de Janeiro em um polo de inovação, e toman-
do como base as diversas experiências bem-sucedidas no Brasil e no mundo, tem como uma de
suas principais propostas a criação de um hub de inovação – o chamado Porto Maravalley. Esse
hub tem o intuito de aquecer o setor de tecnologia na economia carioca e facilitar a ponte entre
academia, investidores e empreendedores. A Invest.Rio, empresa de investimentos da cidade
ligada à SMDEIS, está liderando o projeto.

Com o objetivo de unir tudo em um só lugar: melhor educação, maiores investidores, empreend-
edores cariocas e a tecnologia mais avançada na melhor cidade do mundo, o projeto busca solu-
cionar quatro pontos:

baixa conversão de atividade acadêmica em negócios;

falta de startups na cidade;


ausência de um ponto de encontro da comunidade;

gap de formação de mão de obra em tecnologia.105

_
105
A iniciativa contempla a necessidade de promover a transformação digital da mão de obra local e o atendimento das demandas desse
mercado tecnológico a ser incentivado, através do programa denominado “Programadores Cariocas”, voltado para jovens cariocas que
visam ingressar nesses polos de startups. Ver o box “Programadores Cariocas” no capítulo 3 de Trabalho e Renda.

210
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Com isso, o hub de inovação Porto Maravalley vai juntar educação, corporações e startups.

Em resumo, o desenvolvimento de atividades produtivas inovadoras, situadas na fronteira tec-


nológica, se estabelece como requisito para o aprimoramento e diversificação da base produtiva
e de novas oportunidades de trabalho. O Porto Maravalley, um polo de inovação e tecnologia,
que tem por objetivo atrair grandes empresas de tecnologia (big techs), startups e centros de
pesquisa para o coração da zona portuária do Rio, será um dos principais vetores do desenvolvi-
mento econômico do Rio!

211
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

LEI DA LIBERDADE
ECONÔMICA CARIOCA
Nos últimos 40 anos os investimentos no Brasil cresceram, em média, 0,5% ao ano, uma taxa
muito baixa. Nesse contexto, em quatro décadas, o país apresentou duas “décadas perdidas”,106
mostrando uma fraqueza da atividade econômica nesse período. E um dos entraves ao aumento
dos investimentos no Brasil é o seu ambiente de negócios. Para tentar solucionar este problema,
em 2019 foi editada uma Lei Federal, conhecida como Lei de Liberdade Econômica (LLE), esta-
belecendo normas de proteção à livre iniciativa e ao livre exercício de atividades econômicas.
Seu objetivo era facilitar o processo de abertura de empresas no país, reduzindo a burocracia e
simplificando o ambiente de negócios, a fim de atrair investimentos e capital para o país, desen-
volvendo a economia e gerando empregos. Desde a edição da Lei Federal, diversas leis estaduais
e municipais foram feitas buscando incorporar em suas próprias legislações os comandos da Lei
Federal, com o intuito de adaptá-los às suas especificidades regionais e locais.

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SMDEIS) do


Rio elaborou o Projeto de Lei de Liberdade Econômica do Município do Rio de Janeiro, enviado
pelo Prefeito Eduardo Paes à Câmara Municipal na abertura dos trabalhos legislativos de 2021.
Também na linha de melhorar o ambiente de negócios do Rio, o PL tem por objetivo facilitar a
vida de quem quer empreender, gerando mais empregos e desenvolvendo a economia carioca.
_
106
Balassiano (2020) .

212
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A autodeclaração para atividades de baixo risco, sem a necessidade de obter licenciamento em


razão da sua baixa complexidade e baixo impacto no ambiente de negócios, é um dos principais
pontos do projeto. Estimativas da SMDEIS indicam que, com a LLE, o PIB per capita anual do Rio
pode crescer até R$ 4 mil (passando de R$ 54,4 mil para R$ 58,4 mil), com um potencial de gerar
aproximadamente 115 mil empregos novos na cidade, em até dez anos.107

Gráfico 1: Cenários de Crescimento do PIB Per Capita


(R$, mil) do Município do Rio de Janeiro*

59
58,4
58
58,0
57,5
57,1
57 56,8 56,6
56,4 56,2 56,4
56
56,0 55,7 56,0
55,6 55,5
55,2 55,1 55,3
55 54,6 54,8 54,9
54,454,4
54

53

52
ano 0 ano 1 ano 2 ano 3 ano 4 ano 5 ano 6 ano 7 ano 8 ano 9 ano 10

Crescimento médio anual de 0,4% Crescimento médio anual de 0,7%

_
107
SMDEIS, Estudo Especial (2021).

213
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

De forma geral, a LLE carioca incorpora os princípios e regras dispostos na Lei Federal à Admi-
nistração Pública Municipal da segunda maior cidade do país. Isto é, cria uma classificação de
risco da atividade econômica que permite identificar quais atividades não precisam obter licen-
ciamento em razão da sua baixa complexidade e baixo impacto no ambiente de negócios. Com
isso, o empreendedor que atua nessas atividades deve apenas emitir uma autodeclaração de
que exerce atividade classificada como baixo risco e realizar um cadastramento perante o Poder
Público Municipal para fins fiscais. Para evitar fraudes, a lei cria uma multa para aquele que fizer
uma autodeclaração em que eventual fiscalização constatar declarações falsas ou omissões re-
levantes.

214
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

LICENCIAMENTO INTEGRADO -
LICIN
Uma das principais metas da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e
Simplificação (SMDEIS) do Rio é tornar a cidade mais simples, menos burocrática e mais acessí-
vel para o cidadão. Com a implementação do Licenciamento Integrado (LICIN),108 o Rio deu um
grande passo em direção à desburocratização, onde os pedidos de licenças urbanísticas para no-
vas construções na cidade são dados em até 30 dias, uma diminuição de quase 90% no tempo de
espera. A modificação também vai atrair mais investimentos para cidade, uma vez que a demora
na concessão de licenças é um dos entraves atuais para aplicação de mais recursos externos no
Rio de Janeiro. Com isso, ganha o cidadão, que pode fazer a sua construção ou reforma (de forma
regular) com mais facilidade e agilidade, o setor da construção civil e o mercado como um todo.

Importante sempre ressaltar que simplificar não é sinônimo de flexibilizar leis. Não houve ne-
nhuma alteração de legislação ou parâmetro. A equipe técnica da Secretaria revisou os fluxos
dos processos, entendendo como eles poderiam ser otimizados. Um verdadeiro choque de ges-
tão que vai aumentar a produtividade da equipe, economizando recursos públicos – financeiros
e humanos. Dentre as mudanças, 90% dos quesitos passam a ser declarados pelo responsável
técnico da obra e pelo autor do projeto, que têm a obrigação de cumprir o que determina a
lei. Caso a fiscalização constate irregularidades, estes profissionais serão responsabilizados e as
obras poderão sofrer sanções. Ou seja, o LICIN nasceu de um choque de gestão, uma alteração
interna de procedimentos com o objetivo de otimizar as análises dos pedidos. Sem necessidade
de mudança legislativa, com forte demonstração de que é possível desburocratizar sem liberti-
nagem de regras.
_
108
Bulhões, Dias, Bastos e Quintão (2021).

215
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Essas mudanças vão possibilitar grandes impactos no ambiente de negócios e no mercado do


Rio de Janeiro, atraindo mais investimentos e consequentemente gerando mais empregos para
os cariocas. Em 2020, a Prefeitura emitiu 252 alvarás de construção dentro do processo antigo.
Com a diminuição do tempo de análise dos processos, o LICIN gera um aumento de capacidade
operacional que possibilitará a emissão do dobro de alvarás no mesmo período, contribuindo
para o aquecimento da economia carioca.

A partir de agora, o processo de licenciamento será dividido em três etapas: apresentação da


proposta inicial pelo requerente, parametrização e apresentação do projeto, seguida da con-
ferência e da concessão da licença. Ao receber a proposta do empreendimento, o técnico da
prefeitura informa os parâmetros autorizados para construção no local, de acordo com as leis
vigentes, e se há necessidade de outras autorizações (como Secretaria de Meio Ambiente ou
CET-RIO). Com isso, o requerente já pode dar entrada do projeto nos outros órgãos simultane-
amente. Caso a análise da SMDEIS seja favorável e termine antes dos demais, a licença é con-
cedida (o que pode agilizar empréstimos e burocracias internas). Porém, o início das obras está
condicionado à aprovação dos demais órgãos envolvidos.

Ao receber a parametrização, o requerente deve preencher um formulário com os dados do em-


preendimento e assinar um termo de responsabilidade pela veracidade das informações presta-
das. Os técnicos então conferem se tudo está de acordo com a legislação para conceder ou não
a licença. Todas as etapas contam com prazos a serem cumpridos pelos funcionários.

216
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

DIGITALIZAÇÃO DOS
PEDIDOS DE LICENCIAMENTO
URBANÍSTICO E AMBIENTAL
Em medida complementar ao LICIN, a SMDEIS também digitalizou os novos pedidos para licenci-
amento urbanístico e ambiental. É o começo do fim das pastas de papel. Desde o início de junho
de 2021, todos os novos processos são abertos exclusivamente de forma online e digital. Além
de otimizar o tempo (do técnico e do requerente), reduzir os prazos e aumentar a eficiência, a
medida também contribui para a redução dos gastos com papel e material administrativo. Além
disso, todo o procedimento fica mais transparente, com a possibilidade de acesso remoto às
informações. O objetivo é digitalizar o acervo para que todos os processos – novos e antigos –
possam ser disponibilizados de forma remota.

Em resumo, tanto o LICIN quanto a implantação do licenciamento digital fazem parte de um


amplo projeto desenvolvido pela Prefeitura do Rio, por meio da SMDEIS, cujo objetivo principal
é trazer uma nova dinâmica aos serviços prestados pelo poder público, baseada na eficiência,
transparência e agilidade nas respostas ao cidadão. Essas iniciativas têm o potencial de melhorar
a vida não só do requerente, mas também do servidor. E essas medidas são importantes para
simplificar a economia e melhorar o ambiente de negócios, impactando positivamente o desen-
volvimento econômico do Rio.

217
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

SANDBOX
REGULATÓRIO
O Sandbox Regulatório, liderado pela Subsecretaria de Regulação e Ambiente de Negócios (SUB-
RAN) da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SM-
DEIS), é o mecanismo que permite a entidades públicas o teste, em um ambiente micro e con-
trolado, de novos produtos, modelos de organização ou condução de serviços – podendo servir
como instrumento útil ao fomento do desenvolvimento econômico local.

No Brasil, as iniciativas de sandbox regulatório estão sendo incubadas no seio de agências e en-
tidades federais, como a SUSEP, o BACEN e a CVM. No entanto, isso não impediu que surgissem
projetos em outras esferas da atuação pública.

Os objetivos do projeto são criar monitoramento do sandbox regulatório para que possa ser-
vir posteriormente para novos modelos de negócio que interessem à Administração Pública; e
proporcionar um canal de interligação entre atores privados e Poder Público, de modo que haja
intercâmbio de informações e cooperação para alcance dos mesmos fins pretendidos.

218
44
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
4.4
Referências

219
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

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Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

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221
05
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Rio em Transição
para uma Economia
de Baixo Carbono

222
51
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
5.1
Introdução

223
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A
pesar de iniciativas anteriores, pode-se considerar como marco inicial para as
discussões a respeito das mudanças climáticas o relatório intitulado “Limites do
Crescimento”, elaborado pelo Clube de Roma em 1972. Este relatório concluiu
que o crescimento econômico exponencial, sem cuidados com os impactos do
homem no planeta, faria com que este entrasse em colapso, sendo através de um comprometi-
mento global a única forma de preveni-lo (Colombo, 2001).

O avanço do aquecimento global, de catástrofes naturais e de relatórios científicos cor-


roboravam com a teoria de que ações humanas seriam responsáveis por aquecer o planeta
e de que este aquecimento traria o aumento de desastres naturais, o que fez com que paí-
ses aumentassem o ritmo de suas ações, decidindo, em 1990, realizar um primeiro gesto de
aproximação no sentido de combater o aquecimento global.

Em 1992, no Rio de Janeiro, na Rio 92 (Eco92), foi então aberta a assinatura de participantes,
uma convenção que estabelecesse a base para cooperação internacional sobre as questões
técnicas e políticas relacionadas ao aquecimento global, a Convenção Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC). Em 1994, a CQNUMC, assinada e ratificada por
mais de 175 países, teve seu início. O objetivo deste órgão é mobilizar os países para de forma
coordenada estabilizar a emissão de gases de efeito estufa (GEE), a fim de prevenir uma interfe-
rência humana perigosa para o clima de nosso planeta (Pinto et al., 2009).

A CQNUMC começou a promover encontros anuais, Conference of Parts (COPs), que passaram
a decidir a estratégia de atuação dos países filiados em relação ao clima. Em 1997, durante a
COP-3, o Protocolo de Quioto foi proposto e destinou aos países desenvolvidos signatários me-
tas de redução de emissões, no período entre 2008-2012, em média 5,2% menores que aquelas
obtidas em 1990. Neste primeiro compromisso foi reconhecido o princípio das responsabilida-
des comuns, porém diferenciadas, e consequentemente países em desenvolvimento signatários
ficaram isentos de metas obrigatórias de redução de emissões (Pinto et al., 2010).

224
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Estudos científicos continuaram a ser promo-


vidos e constataram que as ações mitigatórias
promovidas e propostas não eram suficientes
para a manutenção climática (IPCC, 2007; IPCC,
2013).109 Alguns países em desenvolvimento,
como a China, que não assinaram o protocolo
de Quioto apresentavam à época mais de 40%
das emissões globais (IEA, 2011). Desta forma, a
COP 21, realizada em Paris, foi realizada com o
entendimento da necessidade de se promover
um acordo global.

O Acordo de Paris foi então ratificado durante a


COP21, e definiu que os países deveriam promo-
ver um esforço coletivo para que as metas não
ultrapassem 1,5-2°C até o final do século. Assim,
a partir de 2020, as medidas de redução de emis-
são adotadas pelos países passaram a ocorrer de
_
109
O sexto relatório AIR6 (IPCC, 2021) ratifica relatórios anteriores e
indica que reduções de emissões de gases de efeito estufa precisam
acontecer de forma urgente para que o aquecimento planetário não
supere a marca de 1,5°-2°C em relação ao período pré-industrial até
o fim do século. A fim de atacar essa questão, medidas no setor de
transportes, energia, resíduos, processos industriais, florestas e uso do
solo são indicadas para mitigar as emissões globais.

225
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

forma voluntária, a partir das Pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas (PCND).


Os países em desenvolvimento foram convidados a assumir metas de redução de emissões, sen-
do suas ações sujeitas a apoio do Fundo Climático Verde.

O Brasil enviou a sua proposta de “Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada” (PCND)


(Itamaraty, 2017) com uma meta de redução de emissões de 37% em relação aos níveis de 2005
até 2025 e 43% até 2030 (MMA, 2017a), o que em termos de intensidade de emissões em relação
ao PIB projetado (tCO2e GWP-100/US$2005 PIB) indicaria uma redução de 66% em 2025 e 75%
em 2030 (MMA, 2017b).

Com a finalidade de alcançar esta meta, o país, alinhado a outras iniciativas globais, se compro-
meteu a realizar ações nos setores de biocombustíveis, florestal e de mudança do uso da terra,
energético, agrícola, industrial e transportes (MCTIC, 2016; MMA, 2017a).

A cidade do Rio de Janeiro vem acompanhando essas tendências. Desde 1984, o Rio promove
o mutirão de reflorestamento, que já foi responsável por plantar mais de 10 milhões de árvo-
res. Além disso, a cidade é a primeira da América Latina a tentar entender as fontes de suas
emissões, através da elaboração de inventários, que são divulgados desde os anos 2000. Além
disso, tem mais de 30% do seu território protegido com Unidades de Conservação, possuindo a
primeira e a terceira maiores florestas urbanas do mundo contidas em seu território, a Flores-
ta da Pedra Branca e a Floresta da Tijuca.

226
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A cidade que foi sede da Rio 92, da Rio +10 e da Rio+20 nunca abandonou seu protagonismo
em relação ao clima. Através da Lei nº 5.248/2011, instituiu a Política Nacional sobre Mudan-
ça do Clima e Sustentabilidade. Em 2016, assinou, junto ao C40, o compromisso “Deadline
2020”, em que se compromete a realizar esforços para reduzir suas emissões no montante
e ritmo necessário para que as metas acordadas em Paris sejam cumpridas, alcançando a
neutralidade de carbono até 2050. Em 2019, o Decreto Rio nº 46.079/2019 instituiu o Progra-
ma Cidade pelo Clima que tem como objetivo promover o desenvolvimento de baixo carbono e
promover a adaptação aos impactos das mudanças climáticas. Às vésperas da Rio+30, a cidade
provida de belezas naturais que a qualificam ao título de “Cidade Maravilhosa”, reconhecida pela
Unesco como patrimônio cultural da humanidade, se prepara para dar novos passos.

Tendo em vista o contexto climático global, que demanda ações mitigatórias contundentes para
o combate ao aquecimento do planeta, a participação brasileira no Acordo de Paris e o compro-
metimento da cidade do Rio de Janeiro nas questões climáticas, este capítulo avaliará o inventá-
rio de emissões e o cenário de empregos verdes da cidade. A partir desse diagnóstico irá propor
medidas para guiar o Rio de Janeiro para um desenvolvimento econômico focado na economia
de baixo carbono.110
_
110
Por fim, gostaríamos de ressaltar que este trabalho focou seus esforços em propor ações para mitigação de danos ambientais que promo-
vam o crescimento econômico do Rio visando uma transição para economia de baixo carbono. Entende-se que é prioritário para a cidade do
Rio de Janeiro investir em adaptação em virtude dos possíveis impactos climáticos futuramente enfrentados pela cidade devido a catástrofes
ambientais causadas pelo aquecimento global, contudo esta análise não faz parte do escopo deste trabalho.

227
52
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
5.2
Diagnóstico e
Revisão da Literatura

228
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

C
om a finalidade de traçar um diagnóstico do comportamento ambiental da econo-
mia carioca, recorreu-se aos inventários de emissão da cidade do Rio de Janeiro.111
A metodologia adotada para o inventário de emissões foi a GPC - Global Protocol for
Community-Scale Greenhouse Gas Emissions Inventories. Esta metodologia, adapta
para o contexto local, foi o ferramental desenvolvido pelo IPCC para o inventário de Gases de
Efeito Estufa (GEE) elaborado por países. Ela pode ser desenvolvida em dois níveis: “Basic”, que
engloba emissões dos setores de Energia Estacionária, Transporte e Resíduos; e, “Basic+”, que
incorpora os setores de Agropecuária, Florestas e Uso do Solo (AFOLU) e Processos Industriais e
Uso de Produtos (IPPU), além de exigir o cálculo e reporte de todas as fontes de emissão relevan-
tes da cidade (IPP, 2021). A cidade do Rio de Janeiro sempre realizou seus inventários de forma
completa, adotando assim o nível Basic+.112

Logo, o diagnóstico aqui proposto analisará o inventário de emissões e os cenários mitigatórios


previstos pela cidade, para entender quais campos deverão receber a maior atenção para que
o Rio de Janeiro avance na direção de um desenvolvimento econômico alinhado à economia de
baixo carbono.
_
111
Entende-se que um panorama ambiental da economia carioca deveria ser mais completo, incorporando análises de outros seguimentos,
como por exemplo o aquífero da cidade. Contudo a análise proposta neste estudo tem o seu enfoque voltado para ações climáticas e temas
relacionados.
112
É importante destacar, que a nível local, parte das emissões da cidade não estão necessariamente dentro de sua fronteira. Como exemplo,
podemos citar as emissões decorrentes do setor elétrico e de aterros sanitários, que apesar de provenientes do município, podem ocorrer
em outra localidade. Essas emissões, também são incorporadas no inventário da cidade.

229
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

5.21
.
Inventário
de Emissões
O Rio de Janeiro foi a primeira cidade da América Latina a divulgar um inventário de emissões. A cida-
de realiza esse esforço desde 2000, já tendo realizado inventários referentes aos anos de 1990, 1996,
1998, 2005, e do período de 2012-2017. Atualmente o Instituto Pereira Passos (IPP) é responsável por
sua execução. Segundo a Entidade, a divulgação passará a ser anual.

Apesar de existirem inventários anteriores, este trabalho se concentrará em analisar as emissões dos
períodos a partir de 2012 posto que estas foram contabilizadas usando a mesma metodologia de
cálculo.

Segundo o inventário de emissões do Rio de Janeiro, em 2017, as emissões cariocas, correspondiam


aproximadamente a 20,5 MtCO2/ano113 (Rio, 2019). Ao analisar de perto a série histórica constatamos
que seu volume foi crescente dos anos de 2012 a 2014, ano em que atingiu o pico de 23,42 MtCO2/
ano. Posteriormente as emissões começam a cair de forma sequencial a uma média de 4,7% a.a.

Gráfico 1: Emissões Totais no Rio (MtCO2)

24,0
23,5
23,0
22,5
22,0
21,5
21,0
20,5
20,0
19,5
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: Inventário de Emissões do Rio – IPP. Elaboração: SMDEIS.


_
113
MtCO2 = milhões de toneladas de CO2 equivalente. Entenda-se CO2 como CO2 equivalente
230
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Ao analisar a participação de cada setor nessas emissões, constatamos que não há alterações
abruptas ao longo do tempo. As maiores variações de participação são provenientes dos seto-
res de processos industriais e uso de produtos (IPPU) e do setor de transportes. O setor de IPPU
passou da média de 9,7% do total entre 2012 e 2015, para 12,4% no período 2016-2017. O setor
de transportes apresentou uma consistente redução na participação total a partir de 2013, alcan-
çando, em 2017, um patamar 4% inferior ao de 2012.

Gráfico 2: Emissões de CO2 por Categoria (MtCO2)

25
9,9%
10,3% 9,4% 9,6%
20 12,2%
16,3% 12,7%
16,8% 16,4%
17,4%
16,5% 16,1%
15
35,3% 36,1%
37,8%
40,3% 36,9% 36,0%
10

5 38,4% 37,7%
32,0% 35,9% 34,2% 35,0%

0
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Energia Estacionária Transporte Resíduos IPPU AFOLU

Fonte: Inventário de Emissões do Rio – IPP. Elaboração: SMDEIS.

Fazendo uma fotografia do ano de 2017, o último da série, verificamos que 35% das emissões são
provenientes do setor de energia estacionária, 36% do setor de transportes, 16,1% do setor
de resíduos, 12,7% de processos industriais e uso de produtos (IPPU), e, 0,1% agropecuária,
floresta e uso do solo (AFOLU). A partir desses dados, concluímos que mais de 70% das emis-
sões são provenientes de apenas dois setores, transportes e energia estacionária, sendo os
setores de resíduos e IPPU também relevantes. Em contraste ao perfil de emissões nacional, as
emissões provenientes de AFOLU possuem tendência de neutralidade na cidade.

231
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

5.2.1.1 Setor de Transportes

As emissões do setor de transportes são decorrentes do consumo de combustíveis fósseis ou


energia elétrica necessários para a sua utilização. A combustão desses combustíveis gera emis-
sões de gases de efeito estufa, que varia de acordo com a intensidade de carbono de cada um
deles. Os transportes podem ser classificados em quatro categorias de acordo com sua natureza:
aquaviários, rodoviários, ferroviários e aéreo. No Rio de Janeiro, a maior parte das emissões
advém dos setores aéreo e rodoviário, responsáveis por mais de 97% das emissões em todo
o período verificado.

Analisando o Gráfico 3, observa-se que há manutenção da participação de cada um dos setores


no total de emissões ao longo do tempo. Por outro lado, constata-se um decréscimo significativo
no total de emissões, que caiu da ordem de 8,7MTCO2 eq. em 2012 para 7,3MTCO2eq. no fim da
série.

Gráfico 3: Composição das Emissões de Transporte (MtCO2)

10
9
8
7 36% 37% 37% 36%
37%
6 36%

5
4
3 61% 61%
61% 62% 62% 63%
2
1
0
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Rodoviária Ferroviário Aquaviário Aéreo

Fonte: Inventário de Emissões do Rio – IPP. Elaboração: SMDEIS.

232
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

No setor aéreo, nem ao menos a presença de grandes eventos, tais como a Copa do Mundo de
2014 e os Jogos Olímpicos Rio 2016, que aumentaram o número de turistas na cidade, foram ca-
pazes de impedir a tendência de queda das emissões (Gráfico 4).

Gráfico 4: Emissões do Setor Aéreo (MtCO2)*

3,3
3,2
3,2
3,1
3,1 3,0
3,0
2,9
2,9 2,8
2,8

2,7 2,7

2,6

2,5

2,4
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: Inventário de Emissões do Rio – IPP. Elaboração: SMDEIS.

233
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Analisando dados de tráfego do setor, verificamos queda no número de voos partindo da cidade,
sugerindo que uma possível causa pode ser o deslocamento do Rio como hub de voos nacio-
nais e internacionais para outras regiões (ANAC, 2021). Além disso, é importante destacar que a
contabilização de emissões é realizada através do consumo de combustível para abastecimento,
assim sendo, uma hipótese adicional seria o deslocamento do abastecimento das aeronaves para
outras regiões.

Gráfico 5: Emissões do Setor Rodoviário (MtCO2)

5,6

5,4
5,4
5,2
5,2
5,1
5,0
5,0
4,8
4,8
4,6
4,6

4,4

4,2
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: Inventário de Emissões do Rio – IPP. Elaboração: SMDEIS.

234
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

O setor rodoviário também apresentou forte redução de emissões no período analisado. A


expansão dos corredores de BRT e o aumento do preço dos combustíveis, em relação inclusive a
outras regiões, pode ser uma das causas das reduções das emissões de Diesel e Gasolina C. Ainda
em relação a esses combustíveis, é importante destacar que o percentual de biocombustíveis em
sua composição aumentou ao longo do tempo, o que reduziu sua intensidade de carbono por
energia produzida (ANP, 2021). Além disso, é possível observar um aumento no uso de gás natural
para transportes no período, o que pode demonstrar um deslocamento de parte da demanda de
combustíveis mais carbono intensivos que este. É importante lembrar que o valor e a eficiência
do kit GNV foram melhorados nos últimos anos e o Estado do Rio concede descontos no IPVA -
que possui alíquota de 4% e passa a ser 1,5% para os que instalarem o kit-GNV.

Gráfico 6: Participação do Consumo de Combustível


Rodoviário (MtCO2)

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017

óleo diesel BX gás natural gasolina C etanol hidratado

Fonte: Inventário de Emissões do Rio – IPP. Elaboração: SMDEIS.

235
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

As opções ferroviárias, que concorrem diretamente com as rodoviárias apresentaram expansão


neste período. O metrô teve sua malha expandida e a linha 4 concluída no ano de 2016. No mes-
mo ano, o VLT carioca foi inaugurado. Somadas a estas questões, intervenções urbanas, como a
reforma do centro do Rio que dificultou o acesso de transportes rodoviários individuais contri-
buem também para o aumento da participação deste modal, menos carbono intensivo.

Gráfico 7: Emissões do Setor Ferroviário (MtCO2)

3
91,4%
90,2%
2 88,8% 85,6% 85,6%

83,7%
1

16,3% 11,2% 8,6% 9,8% 14,4% 14,4%


0
2012 2013 2014 2015 2016 2016

óleo diesel BX eletricidade do grid

Fonte: Inventário de Emissões do Rio – IPP. Elaboração: SMDEIS.

236
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Dados apontam para o crescimento de emissões deste setor comparando o ano de 2012 com
2017. É importante lembrar que o fator de emissão da rede influencia diretamente suas emis-
sões, que são majoritariamente provenientes do setor elétrico. Uma vez que o fator de emissão
da rede teve comportamento similar ao da variação de energia, como poderá ser visualizado no
Gráfico 9, não é possível afirmar que o aumento do consumo ou da utilização dos modais ferro-
viários tenha ocorrido, e consequentemente investigações adicionais devem ser levadas adiante.

237
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

5.2.1.1.1 Laboratório de Mobilidade Urbana no Porto Maravalley

A área portuária do Rio de Janeiro iniciou, em 2009, um processo de revitalização, dando início
ao Projeto do Porto Maravilha. Esta iniciativa decorrente de parceria público-privada objetivou
alterações urbanísticas e sociais da região. Através de 8 bilhões de investimentos e prazo de
conclusão de 30 anos, o projeto prevê a revitalização da chamada Área de Especial Interesse
Urbanístico (AEIU) da Região do Porto do Rio, compreendida por 5 milhões de metros quadrados
da região portuária da cidade.

O projeto possui ações voltadas para urbanismo, infraestrutura e projetos estruturais. Na área
de mobilidade, além da requalificação dos espaços urbanos, que facilitam o acesso a pedestres,
haverá a reurbanização de 70 km de vias, 650 mil m2 de calçadas, 17 km de ciclovia e implan-
tação do VLT. O VLT, em especial, supera a área do porto, tendo 28km instalados e 32 paradas.
Além de conectar a área portuária ao centro, liga o porto a outros modais de massa, tais como:
metrô, teleférico, trens, barcas, navios, ônibus rodoviários e convencionais, BRT, e o aeroporto
Santos Dumont (VLT, 2021).

Somada a esta renovação estrutural, que contempla uma área recentemente revitalizada e co-
nexão com todos os grandes modais de massa, o Porto passa por uma nova transformação de
vocação em que se propõe a atrair um ecossistema inovador, com o Porto Maravalley, formado,
principalmente, por startups a serem instaladas na região. Assim sendo, este ambiente inovador
com grande capilaridade de modais, forma o cenário adequado para que o porto se transforme
em um laboratório de mobilidade para a cidade.

238
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

5.2.1.2 Setor de Energia Estacionária

O setor de energia estacionária engloba emissões do consumo de combustíveis e energia elé-


trica em prédios, indústrias, atividades rurais e na geração e transformação de energia.

Realizando uma fotografia do ano de 2017, último da série, constatamos que 73% das emissões
são provenientes de consumo de combustíveis dentro da cidade e suas emissões fugitivas114
e 27% formado pelo consumo de energia elétrica somados das perdas decorrentes das redes
de transmissão e distribuição de eletricidade.

Gráfico 8: Emissões GEE Energia Estacionária (MtCO2)

10
9
8
36%
7 27% 34%
21% 26% 29%
6
27% 27%
5
4
3 79% 64% 66% 74%
73% 71% 73%
73%
2
1
0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Energia elétrica + perdas


Fonte: Inventário de Emissões do Rio – IPP. Elaboração: SMDEIS.

_
A Resolução CONAMA nº 382, de 26/12/2006, define emissão fugitiva, como: “lançamento difuso na atmosfera de qualquer forma de
114

matéria sólida, líquida ou gasosa, efetuado por uma fonte desprovida de dispositivo projetado para dirigir ou controlar seu fluxo.”

239
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

As emissões provenientes da utilização de energia elétrica são calculadas através do consumo


multiplicado pelo fator de emissão da rede. O fator de emissão da rede corresponde à média de
toneladas de CO2eq. por Quilowatt gerado através do mix de usinas utilizadas na produção de
eletricidade. No Brasil, a geração e distribuição de energia elétrica é planejada de forma centrali-
zada a fim de atender todos os entes federativos, explorando as medidas mais eficientes e com-
plementares a nível nacional. O Operador Nacional do Sistema (ONS) gerencia esse sistema único
e interligado, o Sistema Interligado Nacional (SIN).

Gráfico 9: Fator Médio Anual SIN (tCO2/MWh)

0,14

0,13

0,12

0,11

0,10

0,09

0,08

0,07

0,06
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: MCTI (2021). Elaboração: SMDEIS.

240
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Desta forma, não compete diretamente ao município influenciar no fator de emissão da rede.
Assim como também não é de sua competência o fator de emissão dos combustíveis transacio-
nados.115 Apesar disso, o município pode influenciar na geração de energia distribuída e explo-
ração de oportunidades locais, como no aproveitamento de biogás em aterros sanitários. Suas
principais ações são destinadas a influenciar o consumo de energia e consequentemente de suas
emissões.

Ao avaliar o perfil de emissões decorrentes do consumo energético, verificamos que a maior


parte é proveniente dos setores de indústria de manufatura e construção, residencial e comer-
cial. Somente o primeiro é responsável por cerca de 60% das emissões e, em conjunto com o
segundo e terceiro mais poluentes, é responsável por mais de 90% das emissões deste setor.

Gráfico 10: Emissões de GEE do Setor Energético por Setor

4,4%
0,3% 0,8%

17,6%
Residencial
Comercial

Indústrias de Manufatura e Construção


12,8%
Agropecuário
Perdas Comerciais de Energia Elétrica + Outros

60,7%
3,3%

*dados de 2017. Fonte: Inventário de Emissões do Rio - IPP. Elaboração: SMDEIS.

_
115
Os combustíveis têm fatores de emissão pré-definidos a partir de suas características. O governo federal possui certa influência no fator
de emissão final dos combustíveis consumidos no país por poderem influenciar o percentual de biocombustíveis misturados no combustível
final comercializado.

241
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Analisando para o ano de 2017 os três principais setores, verificamos que as emissões prove-
nientes das indústrias de manufatura e construção possuem no combustível quase a tota-
lidade de suas emissões: 96% do total. O setor residencial, por sua vez, possui metade das
emissões provenientes da energia elétrica e, a outra metade, de combustíveis. Por fim, o
setor comercial e o setor institucional possuem 79% das suas emissões atreladas a energia
elétrica (Gráfico 11).

Gráfico 11: Emissões de Setores de Energia


Estacionária por Fonte (%)*

100% 4%
90%
80%
50%
70%
79%
60%
50% 96%
40%
30%
50%
20%
10% 81%
0%
Residencial Indústria de Manufatura
e Construção
Energia Elétrica + Perdas

*dados de 2017. Fonte: Inventário de Emissões do Rio - IPP. Elaboração: SMDEIS.

242
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Analisando o consumo de energia estacionária de forma geral, conforme mostra o Gráfico 12,
verificamos que o comportamento de suas emissões se assemelha ao dos fatores de emissão
da rede e da atividade econômica do período. Como ambos os fatores influenciam no consumo
de energia estacionária, eles explicam muito do motivo pelo qual as emissões crescem de 2012 a
2014, período em que atingem seu pico e começam a decrescer em períodos posteriores.

Gráfico 12: Emissões GEE Energia Estacionária (MtCO2)

9,0

8,5

8,0

7,5

7,0

6,5
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: Inventário de Emissões do Rio - IPP. Elaboração: SMDEIS.

243
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

5.2.1.3 Setor de Resíduos

Ao olhar questões ambientais, o diagnóstico do setor de resíduos envolve não apenas as questões
climáticas, mas também a gestão do lixo. De maneira geral o processo envolve três etapas: cole-
ta, triagem e transbordo de resíduos e destinação final.

Figura 1: Caminho dos Resíduos Sólidos


Urbanos no Rio de Janeiro

Tratamento, triagem Destinação


Coleta e transbordo final
de resíduos

Aproveitamento
de Resíduos

Transbordo Aterramento

Fonte: Comlurb (2021).

244
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Segundo dados municipais dos resíduos sólidos urbanos do primeiro semestre de 2021, a Comlurb
coleta em média, 7.944 toneladas/dia. A coleta domiciliar e a remoção de lixo de locais públi-
cos são as principais fontes, sendo responsáveis por aproximadamente 90% do volume total.

Gráfico 13: Geração de Resíduos Sólidos (t/dia)*

0,7%

7,3%

Coleta Domiciliar

Coleta Hospitalar
30,2%
Remoção Gratuita
Remoção de Lixo de Locais Públicos
58,9% Manutenção de Áreas Verdes

0,9%
0,0%
1,9%

*dados do 1S21. Fonte: Comlurb (2021). Elaboração: SMDEIS.

245
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Uma vez coletados, os resíduos sólidos urbanos são destinados a estações de transbordo. Nelas,
uma pequena fração é aproveitada para a geração de biogás, aproveitamento energético prove-
niente da poda e reinserção na cadeia de logística direta dos materiais recicláveis, que passam
por triagem das cooperativas instaladas nestas unidades. O Gráfico 14 mostra os usos do lixo
reaproveitado.

Gráfico 14: Tratamento e Triagem de Resíduos

1%

6%

Biometanização

93%

Fonte: Comlurb (2021). Elaboração: SMDEIS.

246
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

No entanto, a maior parte, cerca de 98%, é destinada a aterros sanitários. Além deste mal apro-
veitamento dos resíduos gerar custos a Prefeitura do Rio, relacionados à transferência dos resídu-
os para o aterro, custo de aterramento e custos de oportunidade das possíveis receitas geradas a
partir de um maior aproveitamento dos resíduos, a concentração destes materiais aterrados sob
pressão e calor geram gases de efeito estufa.

Analisando de perto o inventário de emissões do setor, verificamos que suas emissões apresen-
taram crescimento no período de 2012-2014, e a partir desse ano reverteram sua tendência atin-
gindo 3,3MTCO2 eq. em 2017.

Gráfico 15: Emissões de Gases de Efeito Estufa


(GEE) - Resíduos (MtCO2)

3,9

3,8

3,7

3,6

3,5

3,4

3,3

3,2
2012 2013 2014 20152 0162 017

Fonte: Inventário de Emissões do Rio - IPP. Elaboração: SMDEIS.

247
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Fazendo um retrato do ano de 2017, último ano da série, é possível observar que dois segmentos
são responsáveis por quase 100% das emissões, os setores de aterramento e esgotos e efluen-
tes.

Gráfico 16: Participação das Emissões do Setor


de Resíduos por Categoria

13%

Aterramento

87%

*dados de 2017. Fonte: Inventário de Emissões do Rio - IPP. Elaboração: SMDEIS.

248
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

5.2.1.4 Setor de Processos Industriais e Uso de Produtos (IPPU)

As emissões deste setor são decorrentes do uso de energia utilizada para o consumo e processos
produtivos das indústrias.116

Como pode ser visualizado no Gráfico 17, a produção de ferro e aço é responsável por aproxi-
madamente 94,5% em todo o período analisado. Em seguida temos a produção de vidros, repre-
sentando em 2017, 2,4% das emissões.

Gráfico 17: Emissões de Processos Industriais (MtCO2)

3,0

2,5

2,0

1,5
94,4% 94,7%
94,0% 94,7% 94,2%
1,0 94,8%

0,5

0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Produção de Vidro Produção de Ferro e Aço


Uso de Lubrificantes e Parafinas Uso de Ácido Nitroso

Fonte: Inventário de Emissões do Rio – IPP. Elaboração: SMDEIS.

Olhando as emissões de como um todo, é possível ver uma tendência de aumento das emissões
do setor no período, apesar de flutuações negativas ocorridas no ano de 2013 e 2015.
_
116
Apenas as siderúrgicas e indústrias de vidro foram consideradas no inventário da cidade IPP (2021).

249
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

5.2.1.5 Setor de Agricultura, Floresta e Uso do Solo (AFOLU)

Este setor engloba as emissões decorrentes de mudanças no uso do solo, devido a alteração
de cobertura florestal devido a desmatamentos, reflorestamentos e regenerações naturais.
São contabilizadas também as atividades emissoras ligadas a agricultura e pecuária.

Como pode ser visualizado no Gráfico 18, as emissões reduzem entre 2012 e 2013, ano em que
chegam a seu mínimo histórico de 16,9 mil toneladas. A partir de então, iniciam um crescimento
acelerado até praticamente dobrarem em relação ao ano de 2012.

Gráfico 18: Emissões Totais AFOLU (Mil tCO2)

50
43,0
40 38,0

32,5
30
22,9
20 16,9 17,5

10

0
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: Inventário de Emissões do Rio – IPP. Elaboração: SMDEIS.

250
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Os setores que mais tiveram participação nessas alterações foram os de mudança do uso do
solo, que cresceram praticamente em todo o período; o de manejos de dejetos que tiverem alto
crescimento a partir de 2016, a queda dos índices de remoção por reflorestamento que não con-
seguiram ser compensadas pelo aumento da arborização urbana.

O Gráfico 19 mostra a participação de cada setor nas emissões líquidas de AFOLU no ano de
2017.117 A maior parte das emissões decorre de mudanças de uso do solo, seguido por fermen-
tação entérica, emissões diretas de NO2 e manejo de dejetos. Dentre as remoções, o refloresta-
mento corresponde a aproximadamente 2/3 do total.

Gráfico 19: Participação das Emissões do Setor


de Resíduos por Categoria

50
95%
40
30
20
23%
10 11% 13%
4% 0% 4% 1%
0
-10 -14%
-20 -37%
Fermentação entérica

Reflorestamento
Manejo de dejetos

do manejo de dejetos
Arborização urbana

Calagem
Mudança de uso do solo

Emissões diretas de

Emissões indiretas de

Emissões indiretas de N20


Aplicação de ureia

N20 do manejo de solos

N20 do manejo de solos

*dados de 2017. Fonte: Inventário de Emissões do Rio - IPP. Elaboração: SMDEIS.

_
117
Alguns setores têm participação negativa pois removem CO2 da atmosfera.

251
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

5.2.2 Inventário
de Emissões
Em 2019, de forma pioneira, o município do Rio de Janeiro desenvolveu um indicador de empre-
gos verdes para a cidade (Mattos et al., 2019).118 Este estudo foi concebido através da adaptação
da metodologia proposta pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para o caso brasileiro,
em nível federal.119 Seus principais resultados serão apresentados nesta subseção.

Em primeiro lugar, é necessário entender o que são empregos verdes. De acordo com o estudo,
são empregos em atividades econômicas que contribuem para redução de emissões, me-
lhoria e/ou preservação da qualidade ambiental. Tendo em vista esta definição, os empregos
verdes foram classificados de acordo com o seu registro junto ao Ministério do Trabalho, e as in-
formações de trabalhadores acessadas via Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). O estudo
enquadrou 76 atividades como empregos verdes, as quais foram organizadas em seis grandes
grupos, que podem ser visualizados na Tabela 1.

Tabela 1: Distribuição das Atividades Verdes,


por Grupo de Atividades

Telecomunicações e tele atendimento 5


6
Geração e distribuição de energias renováveis 9
Saneamento, gestão de resíduos e de riscos ambientais 11
Manutenção, reparação e recuperação de produtos e materiais 21
24

_
A iniciativa de criar um relatório com o volume de empregos verdes na cidade do Rio de Janeiro foi pioneira a nível municipal. Esta medida
118

auxilia a cidade a ter um termômetro a respeito de como este setor está se desempenhando na economia do Rio. Desta forma, a equipe
econômica da SMDEIS também vai atualizar esse estudo, para fazer parte do Observatório Econômico do Rio.
Segundo os autores do estudo, mesmo em face de trabalhos que elaboraram metodologias para levantamento de empregos verdes, as
119

particularidades dos dados existentes restringem sua aplicação direta para o município do Rio de Janeiro. Eles ressaltam ainda a competên-
cia da geração dos dados de emprego que é federal, proveniente do Ministério do Trabalho.
252
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Devido a alteração metodológica da RAIS, em 2008, o estudo capturou a série histórica a partir
desse ano até a última disponível antes de sua publicação, para que não houvesse divergência
entre os dados, contemplando assim o período de 2008 a 2017.120 Dentre os resultados encontra-
dos é possível verificar que a média de empregos verdes no Rio foi na ordem de 220 mil/ano.
O período de 2008-2014, apresentou crescimento constante do nível desses empregos, que após
atingir seu pico de 254 mil vagas em 2014, apresentou queda até o fim da série em 2017.

Gráfico 20: Empregos Verdes no Rio (milhares de pessoas)

270
254,8
197,6
250
236,2 239,0
233,7
230
215,3 215,1
210,4
210 204,2
199,2

190

170

150
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

et. al. (2019). Elaboração: SMDEIS.

_
Os autores destacam que existem falhas na base de dados da RAIS, que podem distorcer o número de trabalhadores total do setor, como
120

exemplo: a contabilização exclusiva de empregos formais nesta base.

253
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Em virtude desses números é possível observar que os empregos verdes variaram entre 8,6%
e 9,6% do total de empregos formais do Rio. Os autores compararam esses números com a
maior metrópole do país, São Paulo, e a média das 27 capitais brasileiras, e constataram que, em
média, o Rio de Janeiro apresentou uma concentração de 1,8 p.p. maior de empregos verdes
em relação ao total de empregos formais que as demais capitais nacionais e 2,0 p.p. quando
comparado a São Paulo.

Tabela 2: Empregos Verdes - Visão Percentual


Comparativa, 2008 - 2017

Média das Diferença Rio x Diferença Rio x Média


Rio de Janeiro São Paulo
Capitais São Paulo (p.p.) das Capitais (p.p.)

2008 9,1% 6,8% 7,0% 2,3 2,2


2009 8,9% 6,6% 6,9% 2,3 2,1
2010 9,0% 6,7% 6,9% 2,3 2,0
2011 8,6% 7,2% 7,2% 1,4 1,5
2012 9,2% 7,1% 7,2% 2,1 2,0
2013 9,1% 6,7% 7,1% 2,5 2,1
2014 9,6% 6,9% 7,3% 2,8 2,3
2015 9,3% 6,9% 7,3% 2,4 2,0
2016 9,0% 6,9% 7,2% 2,2 1,8
2017 8,9% 7,0% 7,1% 1,9 1,8
Média do Período 8,2% 6,2% 6,4% 2,0 1,8

et. al. (2019). Elaboração: SMDEIS.

Por fim, os autores ainda concluíram que os empregos verdes não foram salvaguardas em perí-
odos de crise, tendo este setor apresentado maior número de demissões que os demais. Além
disso, concluíram que foram predominantemente ocupados por trabalhadores do sexo mas-
culino e com ensino médio e superior completos.

254
53
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
5.3
Propostas

255
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

D
ado o contexto apresentado nas seções anteriores, sobre as principais fontes de emissão
de gases de efeito estufa da cidade do Rio de Janeiro, e levando-se em consideração as
metas da cidade, que pretende alcançar uma redução de 20% das suas emissões em
2030 e ser carbono neutra até 2050, há uma série de medidas e ações propostas no Plano
Estratégico da Prefeitura do Rio, alinhado também ao “Plano de Desenvolvimento Sustentável e
Ação Climática da Cidade do Rio de Janeiro”.

Pinheiro, (2012, p. 201-2) argumenta que o “Rio de Janeiro já foi o grande centro financeiro do
Brasil, posição que ostentou por mais de século e meio de história. Inquestionavelmente, po-
rém, essa situação se devia em grande medida aos benefícios diretos e indiretos de ser a capital
do país. A partir dos anos 1960, em alguma escala difícil de precisar, a mudança da capital para
Brasília e a perda de dinamismo econômico que se seguiu contribuíram para que o Rio de Janeiro
fosse perdendo participação no setor financeiro nacional: de 28,3% em 1950 para 19,6% em
1980, 10,9% em 2000 e 9,5% em 2009, quando essa participação foi inferior à do estado no PIB
do país”. Vale ressaltar que o setor financeiro ainda tem uma presença relevante no Rio, em
especial na arrecadação municipal de ISS. Em 2020, os serviços financeiros foram responsáveis
por 10,9%121 da arrecadação desse imposto no Rio, sendo o quarto principal segmento.

Pinheiro e Balassiano (2020, p. 26) argumentam que “o Rio pode reverter parte dessa perda
ao focar em nichos desse mercado”. Um exemplo passível de ser seguido, segundo Pinheiro
(2012, p. 194), é o da cidade de Boston, que, “sem chegar a rivalizar com Nova York enquanto
centro financeiro dos EUA, concentra uma elevada parcela do mercado nas áreas de gestão de
patrimônio e seguros. Nesse modelo, o Rio de Janeiro funcionaria como centro nacional – e,
futuramente, até latino-americano – em certos setores, mas com forte interação com São Pau-
lo, onde permaneceriam as matrizes dos grandes bancos comerciais (junto com Brasília) e de
investimentos”. Pinheiro e Balassiano (2020, p. 26) citam que “um nicho, com presença impor-
tante na cidade do Rio de Janeiro e com grande potencial, é o segmento de gestão de ativos, de
patrimônio e de private equity. A expansão desse nicho deve ser impulsionada por um ambiente
de taxa de juros mais baixas e pela presença dos principais fundos de pensão no Rio de Janeiro
(Pinheiro 2012, p. 194)”. O nicho de ativos ambientais também é uma excelente opção para o
Rio, por seu histórico.122
_
121
SMDEIS, Estudos Especiais (2021).
122
Ver a linha do tempo desse contexto histórico na presente seção deste capítulo.

256
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A cidade do Rio de Janeiro possui um longo e rico histórico de atuação em prol da sustentabili-
dade e do combate às mudanças climáticas, tendo sido, inclusive, o atual Prefeito, Eduardo Paes,
presidente do C40 (2014-16),123 durante o seu segundo mandato à frente da Prefeitura do Rio de
Janeiro. Abaixo uma breve linha do tempo desse contexto histórico: 124

Criação do programa Mutirão Reflo-


restamento que replantou 10 mil-
hões de árvores nativas na cidade, in-
cluindo biomas de mata atlântica da
cidade e recuperação de manguezais

1861 1992

1984 - 2001

Floresta da Tijuca (replantio de Rio 92


4 mil hectares de Mata Atlântica)

_
https://c40-production-images.s3.amazonaws.com/press_releases/images/47_112513_20PaesBloomberg_20Announce_20Final.origi-
123

nal.pdf?1388095718
124
Trecho contido no relatório final do GT da Bolsa Verde Rio.

257
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Primeiro Inventário de Emissões de Gases O Rio de Janeiro torna-se uma das primei-
de Efeito Estufa (SMAC/COPPE), nos anos ras cidades do Brasil a estabelecer uma
base 1990, 1996, 1998, no âmbito da Cam- Política Municipal de Mudança do Clima
panha Cidades para a Proteção do Clima e Desenvolvimento Sustentável - Lei nº
(CCP) do ICLEI, o primeiro e maior movimen- 5.248 de 27 de janeiro de 2011 - estabe-
to global de governos locais para comba- lecendo metas de redução de emissões
ter as mudanças climáticas de gases de efeito estufa

2010 2012

2000 2011

Segundo Inventário de Emissões de Ga- Rio +20


ses de Efeito Estufa (SMAC/COPPE), no
ano base 2005. O estudo permitiu sub-
sidiar o estabelecimento de metas de
redução de emissões, previstas na Lei
nº 5.248 de 27 de janeiro de 2011

258
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

O Rio de Janeiro é convidado para


testar a versão final da metodologia
para elaboração de inventários de
emissões de gases de efeito estufa, O Rio de Janeiro é a primeira cida-
Global Protocol for Community-Sca- de brasileira a publicar a Estratégia
le GHG Emissions – GPC. Com isso, de Resiliência, bem como Estraté-
é publicado o Terceiro Inventário de gia de Adaptação às Mudanças Cli-
Emissões de Gases de Efeito Estufa máticas da Cidade do Rio de Janei-
(SMAC/COPPE), ano base 2012, com ro (SMAC/COPPE)
dados mais precisos, comparáveis e
confiáveis
2015

2016

2013
O Rio de Janeiro é a primeira cidade do mundo em
plena conformidade com o Pacto Global de Prefeitos,
uma coligação global de líderes urbanos dedicados à
redução das suas emissões de gases de efeito de estufa
(GEE), tornando as comunidades urbanas mais resis-
tentes às mudanças climáticas. A cidade foi a primei-
ra do mundo a estabelecer o compromisso de reduzir
emissões, a estabelecer metas de redução de emissões
de GEE e a publicar um Plano de Ação para Redução
das Emissões de GEE (SMAC/COPPE)

259
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

A Cidade do Rio de Janeiro recebe o selo de “Total Conformi-


dade” com o Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e Energia,
tendo atingido todas as etapas de mitigação e adaptação esta-
belecidas pela coalizão. Plano de Desenvolvimento Sustentável
e Ação Climática. Distrito Neutro em emissões até 2030. Com-
promisso de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa
(GEE) da cidade do Rio de Janeiro até 2050. Refloresta Rio =
plantio de mais de seis milhões de mudas nos próximos anos.
GT “Bolsa Verde Rio”

2017 2022

2021

A Cidade do Rio de Janeiro renova o com- Rio +30 Cidades


promisso com o Pacto Global de Prefeitos
pelo Clima e Energia, uma aliança global
de cidades e governos locais voluntaria-
mente comprometidos com a luta à mu-
dança climática, reduzindo seus impactos
inevitáveis e facilitando o acesso à ener-
gia sustentável e acessível para todos

260
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Segundo Domingues (2021), “a Cidade do Rio guarda uma série de vantagens comparativas por
ter sido a sede da governança global sobre mudanças climáticas desde a Conferência Rio 92,
hospedar as administrações das maiores empresas do setor de óleo e gás, agências reguladoras,
bancos públicos de fomento, além de deter todo um parque científico e educacional voltado
para a pesquisa e disseminação do conhecimento que será essencial para superar os desafios
das mudanças climáticas e da transição energética”.

Duas das principais metas do Plano Estratégico da Prefeitura do Rio, lideradas pela Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SMDEIS) são:

Reduzir a taxa de desemprego do Rio, de 14,7% (média anual de 2020) para


8,0% até 2024;
Fortalecer a economia do Rio, visando o crescimento de 3% ao ano, em
média, do PIB carioca.

Diante disso, sob o aspecto do desenvolvimento econômico, com as metas de fortalecer a eco-
nomia e reduzir a taxa de desemprego, com a importância do setor financeiro no Rio, e o con-
texto e a narrativa em prol do Rio sob temas ambientais e de desenvolvimento sustentável, um
caminho para a perpetuação da economia verde do Rio é o projeto da Bolsa Verde Rio.125
_
125
Ver o Box: Bolsa Verde Rio

261
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

BOLSA
VERDE RIO
De acordo com Domingues (2021),126 “o último relatório do IPCC (AR6 Climate Change 2021),
com base em evidências científicas, reconheceu a ação humana como causadora inequívoca
das mudanças climáticas.127 Segundo o mesmo relatório, alguns efeitos já seriam irreversíveis
enquanto outros tendem a se agravar na próxima década, causando sérias perdas. A humanida-
de estaria diante da última oportunidade para adotar medidas urgentes, intensas e continuadas
para promover a redução de suas emissões”. Ainda para o autor, “dentre as principais políticas
elegíveis para se mitigar as mudanças climáticas, destacam-se a criação e a expansão de mer-
cados de carbono. Essa agenda ganhou forte impulso após o anúncio do Green Deal pela União
Europeia e a inauguração do mercado de carbono na China, ambos ocorridos em julho de 2021.
A COP 26, a ser realizada em novembro de 2021 em Glasgow, também gera expectativas de no-
vos avanços no arcabouço regulatório internacional sobre esse tema”.128

Pires (2021)129 argumenta que “discussões sobre o mercado de carbono não são conse-
quências da pandemia. A proposta do mercado de carbono ganhou forma com o Protocolo de
Quioto, em 1997. Em 2015, com a assinatura do Acordo de Paris, a proposta ganhou mais parti-
cipantes, agora com os países subdesenvolvidos, e normas foram estabelecidas. De lá para cá, al-
gumas tentativas foram feitas. Porém, até o momento, o mercado de carbono é feito basicamen-
te apenas pelo EU-ETS (Sistema de Comércio de Emissões da União Europeia). Em 2020, esse
sistema correspondeu a quase 90% do valor global e grande parte do volume comercializado.”130
_
126
Domingues (2021).
127
IPCC (2021).
128
Domingues (2021).
129
Pires (2021) .
130
O mercado regulado movimentou U$45 bilhões em 2019, contra U$320 milhões do mercado voluntário.

262
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Soriano (2013)131 estudou mecanismos de compensação de carbono no contexto do Protocolo


de Quioto e resumiu a função deste mercado, como “a utilidade desse mecanismo decorre do
diferente custo de reduzir o nível de emissões entre países, devido a diferentes custos de opor-
tunidade entre eles referentes: ao tipo e quantidade de emissão, à diferença de matrizes ener-
géticas nacionais, às diferentes políticas governamentais, entre outros”. Ainda segundo o autor,
“o Protocolo de Kyoto, ao estabelecer metas de redução de emissões aos países [Anexo 1], criou
um ônus aos mesmos que poderiam se tornar barreiras ao cumprimento de suas metas. Logo, a
redução destes tornou-se necessária, e para tanto foram criados os mecanismos de flexibilização
do protocolo de Quioto”, dentro os quais destaca-se o mercado de transação europeu, o EU-ETS.

Nesse contexto, o decreto nº 48.995/21, de 22 de junho de 2021, “dispõe sobre a criação de


Grupo de Trabalho destinado a empreender estudos, realizar análises e propor ações e projetos
relacionados ao desenvolvimento de um mercado de créditos de carbono na cidade do Rio de
Janeiro”.132 Este grupo teve como objetivo entender se faria sentido para a cidade do Rio atrair
uma plataforma para a transação de ativos ambientais, e em caso positivo, entender qual tipo
de mercado deveria ser desenvolvido e as ações por parte da cidade que apoiariam a atração
deste mercado. O GT133 reuniu especialistas de diferentes áreas do Município (SMDEIS, Invest.
Rio, SMFP, SMAC e PGM), e vem desenhando um modelo de ambiente de negócios para atrair
para a cidade a operação de um mercado organizado de créditos de carbono e outros ativos am-
bientais, contando com o apoio e o entusiasmo de diversos atores dos setores público e privado,
mesmo por aqueles que ainda não adotam as diretrizes ESG.
_
131
Soriano (2013).
132
Ver também Almeida (2018).
133
Ver o relatório final do GT no Observatório Econômico do Rio. Disponível em: https://observatorioeconomico.rio/

263
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

Os estudos e interlocuções do GT indicam a existência de uma clara vocação da Cidade para


estimular a implantação de uma Bolsa Verde, a partir de uma tripla ancoragem:

1
A força da “marca Rio” para projetar um ambiente de negócios de “finan-
ças sustentáveis” no Brasil e no exterior, emoldurado pelas suas belezas na-
turais e pela forte identidade que a “Rio 92” proporcionou à Cidade, como
precursora da governança global sobre meio ambiente e mudanças climá-
ticas;

2 A presença local de diversos atores públicos e privados que geram, ope-


ram e demandam “créditos verdes”;

3 A existência de um ambiente técnico, acadêmico e de pesquisas de alta


qualificação em sustentabilidade e em finanças.

A iniciativa conta com o apoio e suporte de diversos atores dos setores público e privado, pre-
sentes na academia e/ou mercado, interessados no tema.

Vale ressaltar que o objetivo da Prefeitura não é o de operar uma plataforma de negociações de
ativos ambientais (bolsa, balcão organizado ou market-place), e sim criar condições favoráveis
para que este projeto seja ancorado na cidade. Logo, em princípio, seria uma plataforma de
transação de ativos ambientais voluntária, de cunho privado, que transacionaria créditos de
carbono de projetos localizados em todo o território nacional, e teria o apoio e o respaldo da
prefeitura do Rio.

264
54
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

.
5.4
Referências

265
Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

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Desenvolvimento Econômico do Rio: Diagnósticos e Ações / SMDEIS

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267
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação é o órgão da Pre-
feitura responsável por promover o desenvolvimento econômico do Rio de Janeiro através da me-
lhoria do ambiente de negócios, segurança jurídica, inovação e excelência nos serviços prestados,
atraindo novos investimentos e oportunidades para a cidade.

Prefeito do Rio de Janeiro Chefe de Gabinete


Eduardo Paes Márcio Menezes Lopes

Secretário Municipal de Desenvolvimento Comunicação e Assessoria de Imprensa


Econômico, Inovação e Simplificação Fernanda Freire
Chicão Bulhões Luna Vale

Subsecretário Executivo Equipe Econômica da Subsecretaria de


Thiago Ramos Dias Desenvolvimento Econômico e Inovação
(SUBDEI/SMDEIS)
Subsecretário de Desenvolvimento Econômico Cadu Figueira
e Inovação Helena Laneuville Teixeira Garcia
Marcel Grillo Balassiano Leonardo Vianna Moog Barreto
Lucas Siqueira Simões
Subsecretário de Regulação e Ambiente de Maíra Penna Franca
Negócios Manoel Tabet Soriano
Carina de Castro Quirino Marcus Gerardus Lavagnole Nascimento

Subsecretária de Controle e Licenciamento Coordenador da Publicação


Urbanístico “Desenvolvimento Econômico do Rio:
Marcia Queiroz Bastos Diagnósticos e Ações”
Marcel Grillo Balassiano
Subsecretário de Controle e Licenciamento
Urbanístico
Paulo Silva

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