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A DISTRIBUIÇÃO DA POSSE DA TERRA NO BRASIL, COM

RESULTADOS PRELIMINARES PARA 2017


Rodolfo Hoffmann1
Professor Sênior da ESALQ-USP
hoffmannr@usp.br

Grupo de Pesquisa: 9. Questão agrária, governança de terras, políticas agrárias e


assentamentos rurais.

Resumo
É analisada a distribuição da posse da terra no Brasil, utilizando dados dos seis Censos
Agropecuários de 1975 a 2017. É realizada uma comparação mais pormenorizada dos Censos
de 2006 e 2017. Para 2017 são utilizados os dados preliminares disponíveis hoje (março de
2019). São calculadas as áreas médias e medianas e várias medidas de desigualdade da
distribuição da posse da terra. Para 2006 e 2017 essas medidas são calculadas para o Brasil,
suas 5 grandes regiões e as 27 Unidades da Federação. No país como um todo a desigualdade
se mostra bastante estável de 1975 a 2017, mas a análise por Unidades da Federação revela
mudanças importantes de 2006 a 2017.
Palavras-chave: Desigualdade, posse da terra, Brasil, Censo Agropecuário.

Abstract
The paper analyses the distribution of land tenure in Brazil from 1975 to 2017 using
data from six agricultural censuses. A more detailed analysis is presented for 2006 and 2017.
The data from the 2017 census available today (March 2019) are still preliminary. The
mean, the median and several measures of inequality of the land tenure distribution are
computed. For 2006 and 2017 these statistics are computed for Brazil, for each of its five
grand regions and for each of the 27 federation units. Considering the country’s total, the
inequality is quite stable from 1975 to 2017. However, the analysis of the land distribution
within the federation units shows important changes from 2006 to 2017.

Key words: Inequality, land tenure, Brazil, Agricultural Census.

1
O autor agradece o apoio financeiro do CNPq.

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1. Introdução e questões metodológicas

Comparando os resultados preliminares do Censo Agropecuário de 2017 com os dados


do Censo Agropecuário de 20062 podemos verificar se ocorreu, nesse período, modificação
relevante na distribuição da posse da terra no Brasil.

É necessário lembrar que o conceito de estabelecimento agropecuário no último Censo


Agropecuário é ligeiramente diferente do adotado no Censo anterior. Em 2017 as áreas não
contínuas exploradas por um mesmo produtor com os mesmos recursos (máquinas, mão de
obra etc.) que estivessem situadas no mesmo município foram consideradas como um único
estabelecimento. No Censo Agropecuário de 2006, bastava que as áreas não contínuas
estivessem em setores diferentes para que fossem admitidas como estabelecimentos distintos
(IBGE, 2017, p. 12). Vamos supor que o efeito dessa alteração no conceito de
estabelecimento agropecuário é pequeno, não invalidando comparações entre os Censos.

Os resultados apresentados neste trabalho são obtidos a partir de dados publicados


pelo IBGE que consistem no número de estabelecimentos e na respectiva área por estratos de
área total por estabelecimento. Para 2006 havia dados para 17 estratos e nos dados
preliminares para 20173 há 18 estratos. Para estimar as medidas de desigualdade e interpolar
percentis usamos sempre a mesma metodologia, pressupondo que a distribuição dentro dos
estratos com limite superior tem função de densidade linear e que em estrato sem limite
superior a distribuição é a de Pareto com dois parâmetros. Para 1985, 1995/96 e 2006 o
próprio IBGE calculou o índice de Gini usando os microdados, obtendo, respectivamente,
0,857, 0,856 e 0,8584, valores quase iguais aos apresentados na Tabela 1.

Serão usadas várias medidas de desigualdade, sendo o índice de Gini a mais


conhecida. Outras medidas usuais de desigualdade são o T e o L de Theil. Optamos por usar o
dual ( ) do T de Theil que, da mesma maneira que o índice de Gini, pode variar de zero a
1  1/, sendo  o tamanho da população.

  1  exp   (1)

A relação entre o índice de Atkinson () com parâmetro   1 e a medida  de Theil é


uma equação semelhante:

  1  exp  (2)

Enquanto  pode variar de zero a infinito, o índice  varia de zero a 1.

2
Usando os dados da Segunda Apuração.
3
Dados disponíveis no site do IBGE, no SIDRA.
4
Ver IBGE(2012), p. 109.

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Cabe lembrar que a vantagem das medidas e , em comparação com o índice de
Gini é o fato de serem aditivamente decomponíveis quando a população é dividida em grupos.
Assim, essas medidas serão usadas para avaliar a participação da desigualdade entre regiões e
entre Unidades da Federação na desigualdade da distribuição da posse da terra no Brasil.

Seja Φ a ordenada da curva de Lorenz para o k-ésimo percentil da distribuição da


posse da terra, ou seja, a proporção da área total pertencente aos (100/)% menores
estabelecimentos. Então a porcentagem da área pertencente aos 50% menores
estabelecimentos (os com área menor do que a mediana), é

50  100Φ (3)

As porcentagens da área total pertencentes aos 10% maiores e aos 5% maiores


estabelecimentos são, respectivamente,

10  100 1  Φ  (4)

5  100 1  Φ  (5)

Os valores de 10 e 5 são medidas de desigualdade úteis, por serem


conceitualmente simples. Note-se que 50 é uma medida de igualdade, pois um valor mais
elevado indica que a curva de Lorenz está mais próxima da linha de perfeita igualdade no
ponto correspondente à mediana da distribuição.

Sendo  a área média de todos os estabelecimentos, a área média dos 50% menores
pode ser calculada como

Φ 50
 50     (6)
0,5 50

Analogamente, a área média dos 5% maiores estabelecimentos é

1  Φ 5
 5     (7)
0,05 5

Então a razão entre as áreas médias dos 5% maiores e dos 50% menores estabelecimentos,
que outra medida da desigualdade da distribuição da posse da terra, pode ser calculada como

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 5  1  Φ 5
  (8)
 50  Φ 50

Além da desigualdade da distribuição da posse da terra entre os estabelecimentos


agropecuários, interessa, também, avaliar a desigualdade da distribuição da posse da terra
entre todas as famílias dedicadas ao trabalho na agropecuária. Seja  a proporção dessas
famílias sem posse de terra. Sendo  o índice de Gini da distribuição da terra entre os
estabelecimentos existentes, pode-se demonstrar5 que o índice de Gini ( ) da distribuição da
posse da terra levando em consideração as famílias de trabalhadores agrícolas sem posse de
terra é

   ! 1   (9)

2. Distribuição da posse da terra no Brasil de 1975 a 2017

Hoffmann e Ney (2010), analisando os Censos Agropecuários de 1975, 1980, 1985,


1995/96 e 2006, assinalaram a grande estabilidade da desigualdade da distribuição da posse
da terra ao longo desse período. Os resultados preliminares do Censo Agropecuário de 2017
confirmam essa estabilidade da distribuição em todo o Brasil. Observa-se, na Tabela 1, que se
o índice de Gini for arredondado na segunda decimal, seu valor permanece igual a 0,86 de
1975 a 20176

Tabela 1. Características da distribuição da posse da terra(1) no Brasil de acordo com dados


dos Censos Agropecuários de 1975 a 2017

Nº de Área Área Índice Índice Índice 50 5


(%) (%)
Ano estabel. Média mediana de de 
(1000) (ha) (ha) Gini Atkinson
1975 4.988 64,9 8,9 0,855 0,856 0,913 2,5 68,7
1980 5.151 70,8 9,7 0,857 0,860 0,913 2,4 69,3
1985 5.793 64,7 8,4 0,858 0,865 0,910 2,3 69,0
1995/6 4.838 73,1 10,1 0,857 0,867 0,905 2,3 68,8
2006 4.921 67,8 9,7 0,858 0,875 0,911 2,3 69,7
2017(2) 4.995 70,1 9,3 0,864 0,878 0,914 2,2 71,0
(1)
Entre estabelecimentos agropecuários com área informada positiva.
(2)
Com base nos resultados preliminares do Censo Agropecuário de 2017, com 18 estratos.

Nota-se, entretanto, que o índice de Atkinson cresce sempre quando se passa de um


Censo Agropecuário para o seguinte e que há uma ligeira tendência decrescente no valor do
50 . Comparando 2017 com 2006, todas as medidas indicam um ligeiro aumento da
desigualdade.

5
Ver Hoffmann (1998), seção 3.4.
6
Com base nos dados sobre 18 estratos de área para 2017, pode afirmar que o índice de Gini calculado com os
microdados deve ficar entre 0,859 e 0,867 e o índice  deve ficar entre 0,906 e 0,919.

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De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
(PNADC) de 2017, havia no Brasil 1.911 mil domicílios cuja pessoa de referência era um
empregado do setor privado com atividade principal no setor agrícola. Considerando os 4.995
mil estabelecimentos agropecuários existentes, estima-se a proporção de famílias agrícolas
sem terra como

1.911
  0,277
1.911 ! 4.995

Substituindo esse resultado e   0,864 na expressão (9), obtemos   0,902. Apesar do


crescimento do valor de  de 0,858 para 0,864, o valor de  em 2017 é menor que o
estimado para 2006 (  0,911, conforme Hoffmann, 2014, p. 117), devido à substancial
redução no número de famílias cuja pessoa de referência é um empregado no setor agrícola e
a consequente redução da estimativa de  de 0,372 para 0,277.

Os valores relativamente elevados das áreas média e mediana no Censo de 1995-96


provavelmente se devem à não captação de estabelecimentos precários por causa da mudança
do período de coleta7. Não se observa, na Tabela 1, tendência crescente ou decrescente nas
áreas média e mediana. A crescente mecanização das atividades agrícolas poderia levar a um
aumento da área média, pelo aumento da área das explorações familiares. Cabe investigar por
que isso não aconteceu.

A Tabela 2 mostra a evolução do número de estabelecimentos e da respectiva área, de


1975 a 2017, em três grandes estratos de área. O número de estabelecimentos com menos de
10 hectares aumenta em 75 mil entre 1995/96 e 2006 e aumenta em mais 67 mil de 2006 a
2017. Hoffmann e Ney, analisando tanto dados dos Censos Agropecuários como dados da
PNAD, sugerem que o aumento do número de pequenos estabelecimentos de 1995/96 a 2006
se deve, em grande parte, ao crescimento de “chácaras de fim de semana”, cujos proprietários
não têm a agropecuária como atividade principal. Avaliar melhor esse fenômeno e sua
continuidade de 2006 a 2017 é tema para novas pesquisas.

7
Ver Hoffmann e Graziano da Silve (1999) e Hoffmann (2007).

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Tabela 2. Número e área total dos estabelecimentos agropecuários com declaração de área,
conforme três estratos de área. Brasil, 1975 a 2017
Ano Menos de 10 ha 10 a menos de 100 100 ha e mais Total
ha
Número Área Número Área Número Área Número Área
(1.000) Total (1.000) Total (1.000) Total (1.000) Total
(1.000 (1.000 (1.000 (1.000
ha) ha) ha) ha)
1975 2.602 8.983 1.899 60.172 488 254.742 4.988 323.896
1980 2.598 9.004 2.017 64.494 536 291.356 5.151 364.854
1985 3.065 9.987 2.160 69.565 568 295.373 5.793 374.925
1995/96 2.402 7.882 1.916 62.694 519 283.035 4.838 353.611
2006 2.477 7.799 1.972 62.894 472 262.987 4.921 333.680
2017 2.544 7.989 1.980 63.783 471 278.481 4.995 350.253
Fonte: IBGE, Censos Agropecuários.

A Tabela 3 mostra as coordenadas de 12 pontos das curvas de Lorenz da distribuição


da posse da terra em 2006 e 2017. Verifica-se que a ordenada em 2017 é sempre menor ou
igual à ordenada em 2006, indicando que a curva de 2006 domina a de 2017 e que,
consequentemente, qualquer medida de desigualdade que obedeça à condição de Pigou-
Dalton será maior em 2017 do que em 2006. Conforme dados da última linha dessa Tabela,
verifica-se que a porcentagem da área total pertencente ao centésimo de maiores
estabelecimentos cresceu de 45,5% (100−54,5) em 2006 para 47,3% (100−52,7) em 2017.

Tabela 3. Coordenadas da curva de Lorenz e percentis da distribuição da posse da terra em


2006 e 2017
% acumulada do Percentil em hectares % acumulada da área (Φ)
no de 2006 2017 2006 2017
estabelecimentos
10 0,7 0,7 0,05 0,05
20 1,5 1,5 0,22 0,21
30 3,2 3,1 0,56 0,54
40 5,7 5,5 1,20 1,13
50 9,7 9,3 2,29 2,15
60 14,9 14,7 4,08 3,85
70 24,9 24,7 6,97 6,61
80 40,4 40,2 11,64 11,11
90 91,0 90,0 20,61 19,72
95 207,0 202,9 30,33 29,03
98 518,8 531,4 44,35 42,50
99 953,2 1.020,7 54,53 52,74

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3. Resultados por Grande Região e Unidade da Federação em 2006 e 2017

As Tabelas 4, 5 e 6 mostram as principais características da distribuição da posse da


terra em 2006 e em 2017 em cada uma das 5 Grandes Regiões e das 27 Unidades da
Federação (UFs). Resultados por UF utilizando dados dos Censos Agropecuários de 1975 a
2006 são apresentados em Hoffmann e Ney (2010).

Não temos a pretensão de fazer, aqui, uma análise exaustiva de todas essas
informações. Isso certamente exigirá muito mais pesquisa e estudo. Mas cabe destacar alguns
aspectos.

Entre as cinco grandes regiões, o Centro-Oeste se destaca pelas áreas média e mediana
mais elevadas, seguido pelo Norte. O Nordeste é a região com áreas média e medianas mais
baixas. A Figura 1 ilustra a grande variação da área média dos estabelecimentos
agropecuários entre as Unidades da Federação. Nessa Figura a UF é identificada, no eixo das
abscissas, pelo código usado pelo IBGE. Trata-se de um código de dois algarismos, com o
primeiro indicando a grande região, obedecendo a ordenação de regiões e UFs das Tabelas 4,5
e 6.

A desigualdade da distribuição da posse da terra é menor no Sul. Em 2006 a região


com maior índice de Gini é o NE, mas em 2017 o do Centro-Oeste (0,859) supera o do NE
(0,856).

A decomposição da medida T de Theil da distribuição da posse da terra em 2017


(  2,448) mostra que 14,3% da desigualdade no País de deve a diferenças entre regiões e
17,3% se deve a diferenças entre as 27 Unidades da Federação (UFs). Na decomposição do L
de Theil para o Brasil (  2,106), verifica-se que 13,5% se deve a diferenças entre as cinco
regiões e 16,9% se deve a diferenças entre UFs. Note-se que mesmo quando o País é dividido
em 27 UFs, cerca de 83% da desigualdade se deve à desigualdade dentro das Unidades.

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Figura 1. Área média dos estabelecimentos agropecuários nas Unidades da Federação em
2017

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Tabela 4. Número de estabelecimentos agropecuários, sua área, áreas média e mediana, no
Brasil, Regiões e Unidades da Federação, em 2006 e 2017

Unid. Nº Estabelecimentos Área 1000ha área média Área mediana


Geograf. 2006 2017 2006 2017 2006 2017 2006 2017
BR 4.920.617 4.994.694 333.680 350.253 67,8 70,1 9,7 9,3
NO 444.622 571.473 55.536 66.159 124,9 115,8 31,2 25,3
NE 2.272.956 2.261.176 76.074 70.643 33,5 31,2 4,0 3,5
SE 902.580 965.238 54.938 59.977 60,9 62,1 12,9 12,7
SU 986.392 850.806 41.781 42.864 42,4 50,4 12,4 13,0
CO 314.067 346.001 105.351 110.611 335,4 319,7 41,8 36,7
RO 86.164 91.134 8.434 9.220 97,9 101,2 36,5 34,5
AC 27.608 37.070 3.529 4.230 127,8 114,1 54,3 39,5
AM 56.335 77.795 3.669 4.042 65,1 52,0 10,9 6,4
RR 9.865 16.627 1.718 2.625 174,1 157,9 64,5 53,0
PA 205.936 277.571 22.925 29.678 111,3 106,9 25,6 17,9
AP 3.088 8.316 874 1.506 283,0 181,1 53,4 33,6
TO 55.626 62.960 14.388 14.857 258,7 236,0 48,3 47,5
MA 228.055 202.275 13.034 12.234 57,2 60,5 2,1 2,4
PI 221.300 237.261 9.507 9.997 43,0 42,1 4,1 5,4
CE 341.482 370.705 7.948 6.895 23,3 18,6 2,1 2,1
RN 78.674 62.896 3.188 2.697 40,5 42,9 6,9 10,7
PB 160.052 161.653 3.787 3.426 23,7 21,2 4,1 4,0
PE 285.045 279.392 5.434 4.470 19,1 16,0 3,1 3,1
AL 117.792 97.776 2.113 1.635 17,9 16,7 2,0 2,3
SE 98.361 92.714 1.482 1.457 15,1 15,7 2,4 3,0
BA 742.195 756.504 29.582 27.832 39,9 36,8 6,3 5,6
MG 536.786 605.016 33.084 37.900 61,6 62,6 12,9 13,6
ES 83.763 107.365 2.840 3.235 33,9 30,1 10,6 8,8
RJ 56.581 65.016 2.059 2.373 36,4 36,5 7,1 7,1
SP 225.450 187.841 16.955 16.470 75,2 87,7 15,8 15,2
PR 362.231 304.169 15.392 14.736 42,5 48,4 11,5 11,5
SC 189.546 182.486 6.063 6.446 32,0 35,3 13,1 13,3
RS 434.615 364.151 20.327 21.681 46,8 59,5 12,6 13,9
MS 64.564 70.573 30.275 29.160 468,9 413,2 29,3 23,6
MT 111.971 118.394 48.689 54.831 434,8 463,1 53,0 51,7
GO 133.579 151.794 26.136 26.363 195,7 173,7 40,9 35,5
DF 3.953 5.240 251 257 63,6 49,1 8,2 5,7
Fonte. Elaborada pelo autor com base nos dados dos Censos Agropecuários de 2006 (Segunda
apuração) e 2017 (Resultados preliminares).

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Tabela 5. Desigualdade da distribuição da posse da terra no Brasil, Regiões e Unidades da
Federação, 2006 e 2017
Unid.
Índice de Gini Dual do T Índ. de Atkinson Razão 5 /50
Geog.
2006 2017 2006 2017 2006 2017 2006 2017
BR 0,86 0,86 0,91 0,91 0,88 0,88 304,6 329,6
NO 0,81 0,83 0,86 0,88 0,84 0,87 153,7 217,2
NE 0,86 0,86 0,90 0,91 0,87 0,87 327,3 313,2
SE 0,80 0,81 0,84 0,85 0,80 0,80 145,0 150,3
SU 0,76 0,78 0,80 0,82 0,72 0,75 87,4 103,8
CO 0,85 0,86 0,89 0,88 0,86 0,87 246,2 285,6
RO 0,72 0,74 0,77 0,78 0,67 0,71 65,1 76,5
AC 0,72 0,75 0,78 0,77 0,74 0,76 66,1 98,1
AM 0,84 0,84 0,90 0,92 0,92 0,89 391,7 340,7
RR 0,67 0,81 0,74 0,84 0,64 0,87 40,9 159,9
PA 0,82 0,85 0,90 0,92 0,87 0,89 204,8 340,9
AP 0,85 0,88 0,95 0,97 0,87 0,92 173,3 371,3
TO 0,79 0,78 0,80 0,79 0,78 0,77 128,4 107,4
MA 0,87 0,88 0,89 0,91 0,94 0,93 1067,8 989,1
PI 0,86 0,85 0,91 0,92 0,89 0,88 409,9 348,7
CE 0,86 0,85 0,88 0,87 0,88 0,86 317,7 264,8
RN 0,82 0,79 0,84 0,80 0,84 0,77 213,6 128,9
PB 0,82 0,82 0,84 0,84 0,81 0,80 184,7 171,7
PE 0,83 0,80 0,90 0,85 0,83 0,80 190,8 156,8
AL 0,87 0,86 0,93 0,93 0,87 0,84 324,0 253,1
SE 0,82 0,81 0,84 0,82 0,83 0,81 211,9 184,0
BA 0,84 0,85 0,91 0,92 0,84 0,85 230,0 251,4
MG 0,80 0,79 0,83 0,83 0,80 0,79 150,0 139,2
ES 0,73 0,74 0,81 0,82 0,69 0,69 74,4 78,8
RJ 0,80 0,81 0,79 0,80 0,83 0,84 160,9 177,4
SP 0,81 0,83 0,86 0,88 0,80 0,82 140,3 177,4
PR 0,77 0,79 0,81 0,83 0,75 0,78 99,3 122,2
SC 0,68 0,70 0,76 0,77 0,62 0,64 48,5 56,6
RS 0,77 0,79 0,81 0,82 0,73 0,75 96,4 113,1
MS 0,86 0,87 0,87 0,86 0,90 0,91 443,7 512,7
MT 0,87 0,88 0,92 0,90 0,87 0,89 269,0 316,5
GO 0,78 0,79 0,78 0,79 0,77 0,79 116,3 124,2
DF 0,82 0,86 0,82 0,88 0,81 0,84 188,0 243,6
Fonte. Elaborada pelo autor com base nos dados dos Censos Agropecuários de 2006 (Segunda
apuração) e 2017 (Resultados preliminares).

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Tabela 6. Porcentagem de estabelecimentos com menos de 10 ha e porcentagens da área total
dos 50% menores, dos 10% maiores e dos 5% maiores na distribuição da posse da terra no
Brasil, Regiões e Unidades da Federação, em 2006 e 2017
Unid. % <10 ha % 50 % 10 % 5
Geogr. 2006 2017 2006 2017 2006 2017 2006 2017
BR 50,3 50,9 2,3 2,2 79,4 80,3 69,7 71,0
NO 28,5 35,3 4,1 3,0 72,9 74,8 62,7 64,8
NE 65,9 66,8 2,1 2,2 78,0 78,3 67,2 68,0
SE 43,6 43,8 4,1 4,0 71,2 72,4 58,9 60,6
SU 41,2 40,1 6,7 5,9 69,2 71,4 58,7 60,9
CO 16,6 19,9 2,6 2,4 78,1 80,2 64,9 67,2
RO 18,8 21,0 8,2 7,1 63,0 64,8 53,1 54,1
AC 19,1 26,6 7,6 5,3 62,1 64,1 50,5 52,2
AM 48,0 54,2 1,7 1,9 74,2 74,9 65,0 64,3
RR 6,5 33,7 13,2 3,9 64,1 73,5 53,9 63,0
PA 34,0 41,5 3,2 2,0 74,0 77,3 65,5 68,8
AP 17,9 35,1 4,2 2,1 81,8 82,9 73,6 77,7
TO 12,4 10,6 4,4 5,2 70,7 70,4 56,7 56,4
MA 59,6 59,1 0,6 0,7 77,6 80,0 65,3 69,4
PI 60,7 58,7 1,6 1,9 76,8 76,7 65,8 67,0
CE 75,4 76,8 2,1 2,4 79,8 77,8 66,6 64,5
RN 55,5 47,7 3,0 4,5 74,5 70,8 63,2 58,5
PB 69,3 70,5 3,4 3,6 74,7 73,8 62,4 62,1
PE 73,0 73,9 3,3 3,7 74,4 71,1 63,0 58,8
AL 81,3 82,0 2,3 2,9 82,2 80,7 73,2 72,4
SE 77,0 74,9 2,9 3,2 73,3 71,5 61,4 59,7
BA 58,8 61,7 2,9 2,7 76,9 78,0 67,5 69,0
MG 43,9 42,3 3,8 4,2 70,4 70,3 57,7 57,9
ES 48,1 54,2 7,0 6,9 63,6 65,5 52,3 54,4
RJ 58,6 58,3 3,4 3,2 70,0 71,1 55,5 56,8
SP 37,4 37,5 4,4 3,7 73,0 76,9 61,2 66,1
PR 45,7 46,1 5,8 4,9 69,5 71,9 57,6 59,9
SC 36,6 37,1 10,3 9,3 59,8 62,1 50,1 52,5
RS 39,5 36,5 6,4 5,6 71,5 73,5 61,3 62,9
MS 20,8 26,4 1,4 1,2 76,4 77,9 61,1 62,2
MT 13,4 15,1 2,6 2,3 82,1 83,7 69,4 71,3
GO 16,4 19,0 4,6 4,5 68,0 69,9 53,5 55,6
DF 51,6 64,9 3,1 2,9 73,7 81,4 58,7 70,4
Fonte. Elaborada pelo autor com base nos dados dos Censo Agropecuários de 2006 (Segunda
apuração) e 2017 (Resultados preliminares).

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Ao examinar os resultados para as UFs, observa-se mudança excepcionalmente intensa
em Roraima, com a porcentagem de estabelecimentos inferiores a 10 hectares saltando de
6,5% em 2006 para 33,7% em 2017 (Tabela 6), a porcentagem da área total pertencente aos
50% menores estabelecimentos caindo de 13,2% para 3,9% e a área média diminuindo de
174,1 para 157,9 ha (Tabela 4). Como mostram os índices da Tabela 5, esse crescimento no
número de estabelecimentos pequenos em Roraima esteve associado a extraordinário
crescimento da desigualdade, com o índice de Gini subindo de 0,669 em 2006 para 0,807 em
2017, ao mesmo tempo que a razão entre áreas médias dos 5% maiores e dos 50% menores
saltava de 41 para 160. Cabe ressaltar que, para o padrão das UFs da região Norte, as medidas
de desigualdade em Roraima em 2006 eram excepcionalmente baixas, se tornando mais
compatíveis com o padrão regional em 2017.
Em 2017 Santa Catarina apresenta o menor índice de Gini da distribuição da posse da
terra, como ilustra a Figura 2. Isso se relaciona com a maior importância relativa, nesse
estado, da colonização sistemática com propriedades familiares. Características da ocupação
e da estrutura econômica de séculos passados afetam a distribuição da terra e também a
distribuição da renda e o desenvolvimento humano hoje (Hoffmann, 2007, seção 6). Mas
parece haver uma tendência da distribuição da posse da terra em Santa Catarina se aproximar
do padrão nacional. Desde 1975, quando era 0,659, o índice de Gini nessa UF vem crescendo
sistematicamente, chegando a 0,703 em 2017. O dual do T de Theil também cresce
sistematicamente no período, de 0,708 em 1975 para 0,768 em 2017 (Ver Tabela 5 e Tabelas
em Hoffmann e Ney, 2010, p. 97).

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Figura 2. Índice de Gini da distribuição da posse da terra nas Unidades da Federação em 2017

4. Conclusão
Considerando o Brasil como um todo, mostramos, com base nos dados dos Censos
Agropecuários de 1975, 1980, 1985, 1995/96, 2006 e 2017, que não há, nesse período
tendência crescente ou decrescente para os valores das áreas media e mediana. As medidas de
desigualdade também se revelam bastante estáveis, mas há ligeiro aumento da desigualdade
da distribuição da posse da terra no País de 2006 para 2017. Verificamos que a curva de
Lorenz da distribuição da posse da terra em 2006 domina a curva de Lorenz de 2017,
indicando que qualquer medida de desigualdade que obedeça à condição de Pigou-Dalton será
maior em 2017 do que em 2006. Entretanto, quando estimamos medidas de desigualdade da
posse da terra levando em consideração as famílias de trabalhadores agrícolas sem terra,
verificamos que ocorre ligeira redução de 2006 para 2017, devido à redução no número de
famílias sem terra, que admitimos ser igual ao número de famílias cuja pessoa de referência é
um empregado com atividade principal no setor agrícola.
Usando as medidas T e L de Theil, verificamos que apenas cerca de 17% da
desigualdade total pode ser atribuída a diferenças de área média entre as 27 Unidades da
Federação, sendo cerca de 83% devidos à desigualdade dentro das Unidades.

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Constatamos uma extraordinária mudança na estrutura fundiária de Roraima de 2006
para 2017, com grande aumento no número de estabelecimentos com menos de 10 ha e
enorme crescimento da desigualdade da distribuição da posse da terra.
Assinalamos, ainda, a posição de destaque de Santa Catarina, com o menor índice de
Gini entre as 27 Unidades da Federação e tendência crescente dessa medida de desigualdade
de 1975 a 2017.

Referências bibliográficas

HOFFMANN, R. (1998) Distribuição de renda: medidas de desigualdade e pobreza. São


Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.

HOFFMANN, R. (2007) Distribuição da renda e da posse da terra no Brasil. In Ramos, P.


(org.) Dimensões do agronegócio brasileiro: políticas institucionais e perspectivas. Brasília:
Ministério do Desenvolvimento Agrário.

HOFFMANN, R. (2014) Estrutura agrária e acesso à terra. In Senra, N. C. (org.) O Censo


entra em campo: o IBGE e a história dos Recenseamentos Agropecuários. Rio de Janeiro:
IBGE.

HOFFMANN, R.; GRAZIANO DA SILVA, J. (1999) O Censo Agropecuário de 1995-1996 e


a distribuição da posse da terra no Brasil. XXXVII Congresso Brasileiro de Economia e
Sociologia Rural. Anais em CD-Rom, Foz do Iguaçu, 1-5/agosto/1999.

HOFFMANN, R.; NEY, M. G. (2010) Estrutura fundiária e propriedade agrícola no Brasil,


grandes regiões e unidades da federação. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário.

IBGE (2012) Censo Agropecuário 2006. Segunda apuração. Brasil, grandes regiões e
unidades da federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.

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