Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Faz mais de 50 anos que a Xerox lançou sua primeira copiadora para escritório que utilizava papel
comum. Nas décadas seguintes, a empresa que inventou a fotocópia dominou totalmente o setor
que criou. O nome Xerox se tornou praticamente sinônimo de fazer cópias (“Vou xerocar isso para
você”).
Ao longo dos anos, a Xerox enfrentou diversos rivais para se manter no topo do setor altamente
competitivo de cópias. No final de década de 1990, os lucros e o preço das ações da empresa
atingiam níveis astronômicos.
E, então, as coisas começaram a dar muito errado para a Xerox. As ações e a fortuna da lendária
empresa receberam um duro golpe. Em apenas 18 meses, a Xerox perdeu cerca de 38 bilhões de
dólares em valor de mercado. Em meados de 2001, o preço de suas ações, que tinha atingido
quase 70 dólares em 1999, alcançou um patamar inferior a 5 dólares.
A empresa que tinha sido líder absoluta de mercado se viu à beira da falência. O que aconteceu?
Chame isso de mudança ou, se preferir, de incapacidade da Xerox em se adaptar a seu ambiente
de marketing em rápida mudança. O mundo estava se tornando digital a passos largos, e a Xerox
não estava conseguindo acompanhá-lo.
No novo ambiente digital, os clientes da Xerox não dependiam mais dos produtos com a marca da
empresa — de copiadoras — para compartilhar informações e documentos.
Em vez de manipular e distribuir pilhas de cópias em preto e branco, eles criavam documentos
digitais e os compartilhavam eletronicamente. Ou, então, imprimiam diversas cópias utilizando sua
impressora conectada à rede que ficava ali do lado. Em um nível mais amplo, enquanto a Xerox
estava ocupada aperfeiçoando copiadoras, os clientes estavam procurando “soluções de gestão
de documentos” mais sofisticadas. Eles queriam sistemas que os permitissem escanear registros
em Frankfurt, transformá-los em peças coloridas e customizadas em São Francisco e imprimi-los
sob demanda em Londres — e alterando o inglês para o usado nos Estados Unidos.
Isso levou a Xerox à beira do desastre financeiro. “Nós não tínhamos dinheiro e tínhamos poucas
perspectivas para consegui-lo”, diz Ursula Burns, atual CEO da Xerox. “A única coisa que
queríamos eram líderes bons e fortes que estivessem alinhados e pudessem nos conduzir, e nós
não tínhamos isso.” Na época, Burns não sabia, mas ela lideraria a empresa em que tinha sido
preparada ao longo de 20 anos. De fato, Burns estava para deixar a empresa quando Anne
Mulcahy, sua colega e amiga, se tornou CEO e a convenceu a ficar. Foi dada a Burns carta
branca para começar a arrumar a casa.
O começa da virada
A receita, os lucros e o preço das ações da Xerox começaram a dar sinais de recuperação. Mas,
antes que a empresa pudesse dar como encerrados seus problemas, outra força ambiental
desafiadora emergiu: a grande recessão. A recessão atingiu em cheio o principal negócio da
Xerox, de serviços e equipamentos para cópia e impressão, derrubando, novamente, as vendas e
o preço das ações da empresa. Então, em um grande movimento para manter seu momento de
transição, a Xerox adquiriu a Affiliated Computer Services (ACS), uma empresa de serviços de TI
de 6,4 bilhões de dólares que parece ter um pé dentro de todo escritório no mundo. A expertise,
as competências e os canais estabelecidos da ACS eram justamente do que a Xerox precisava
para fazer florescer seu novo plano de negócios.
A sinergia entre a Xerox, a ACS e outras empresa adquiridas resultou em um amplo portfólio de
produtos, softwares e serviços voltados para os clientes que os ajudam a gerenciar documentos e
informações. De fato, a Xerox lançou mais de 130 produtos inovadores somente nos últimos
quatro anos.
Ela agora oferece produtos e sistemas digitais que vão de multifuncionais e impressoras de rede a
sistemas de publicação e impressão colorida, impressões digitais e “fábricas de livro”.
Oferece também uma quantidade impressionante de serviços de terceirização e consultoria na
área de gestão de impressão, os quais ajudam as empresas a desenvolver arquivos de
documentos on-line, operar serviços de correspondência e cópias internamente, analisar como os
funcionários podem compartilhar documentos e conhecimento de maneira mais eficiente e
construir processos baseados na Internet para personalizar malas diretas, faturas e brochuras.
Esses novos produtos permitem que a Xerox ofereça soluções para os clientes, e não apenas
máquinas. Por exemplo, a empresa tem um novo dispositivo para as seguradoras — um
computador compacto com funcionalidades de escâner e impressora que acessa a Internet. Em
vez de depender do correio para transportar cópias físicas de apólices, esses documentos, bem
como outros relacionados, são escaneados, separados, enviados e inseridos imediatamente em
um sistema de fluxo.
Não se trata de uma nova engenhoca decorativa para as seguradoras: elas estão vendo
benefícios reais. Os índices de erros têm diminuído bastante, juntamente com o tempo de
processamento — e isso significa aumento na receita e na satisfação do cliente.
Sonhando para além de suas fronteiras
Graças à combinação dos pontos fortes da Xerox com suas novas aquisições, Burns e o restante
da equipe da empresa têm agora uma imagem mais visionária do que os aguarda adiante. Eles
acreditam que as ferramentas e os serviços que oferecem estão ficando mais inteligentes. “Não se
trata apenas de processar os pagamentos do Medicaid [programa de saúde do governo norte-
americano para pessoas de baixa renda]”, diz Stephen Hoover, diretor das instalações de
pesquisa da Xerox. “Trata-se de usar nossa pesquisa de cognição social para acrescentar
funcionalidades que ajudem as pessoas a administrar melhor condições como a diabetes”. Hoover
diz ainda que o futuro pode ver uma nova geração de dispositivos da Xerox, como um aparelho
com o qual as prefeituras podem analisar, em tempo real, dados sobre lugares para estacionar e o
tráfego, permitindo a elas ajudar os cidadãos a achar um local para parar o carro ou,
automaticamente, multá-los quando estiverem a uma velocidade acima da permitida. Atualmente,
a Xerox está testando um parquímetro que é capaz de ligar para a emergência ou tirar fotos
quando um botão é acionado.
Nem todos os produtos como esses farão sucesso no mercado, mas a Xerox agora tem um
modelo que a permite sonhar para além de suas conhecidas fronteiras.
Ao longo de sua metamorfose corporativa, a Xerox não se concentrou em tentar fabricar
copiadoras melhores. Em vez disso, ela se concentrou em melhorar todo processo de que uma
empresa ou governo precisa para operar e fazê-lo de maneira mais eficiente. A nova era de
máquinas da Xerox consegue ler e entender os documentos que escaneiam, reduz o tempo de
tarefas complexas de algumas semanas para minutos ou mesmo segundos. De agora em diante,
a Xerox quer ser líder mundial em fornecimento de serviços e tecnologia para processos
empresariais e gestão de documentos.
Hoje, com todas as impressionantes tecnologias que estão emergindo, Burns admite que o setor
de serviços empresariais no qual a Xerox está desenvolvendo suas novas competências centrais,
decididamente, não é chamativo.
Mas ela também assinala que “são processos que qualquer empresa precisa para operar seus
negócios. São atividades paralelas; não é o negócio principal”. O que Burns quer dizer é que
operar esses processos é agora o negócio principal da Xerox. Em outras palavras, a Xerox
oferece serviços de documentação e TI para os clientes, de modo que eles possam se concentrar
naquilo que é mais importante — nos seus negócios de verdade.
A transição da Xerox ainda está em andamento. Nos últimos três anos, as receitas e os lucros da
empresa tiveram um crescimento modesto, ao passo que o preço de suas ações flutuou. Assim
como o e-mail e os softwares para desktops mataram a fotocópia, os smartphones e os tablets
estão acabando com as impressoras a laser e à tinta. Mesmo com sua recente estratégia de
diversificação, a Xerox ainda depende, em certa medida, dessas categorias de produtos para
cópia e impressão. Mas ela depende muito menos do que a Hewlett- Packard e a Lexmark, suas
concorrentes. Por conta disso, especialistas acreditam que a Xerox vai se recuperar muito mais
rápido do que seus rivais nos próximos anos. Burns e sua equipe estão confiantes de que, à
medida que a Xerox evoluir em sua transição para fornecedora de soluções, as sementes que
foram plantadas ao longo dos últimos anos logo darão frutos.
A Xerox sabe que a mudança e a renovação são contínuas e nunca terminam. “A única coisa
previsível nos negócios é o fato de eles serem fundamentalmente imprevisíveis”, diz o relatório
anual da empresa. “Forças externas como a globalização, as tecnologias emergentes e, mais
recentemente, a crise nos mercados financeiros geraram novos desafios diários para empresas de
todos os tamanhos.” A mensagem é clara. Mesmo as mais dominantes empresas podem ser
vulneráveis ao ambiente de marketing em mudança e, muitas vezes, turbulento. As empresas que
entenderem seus ambientes e se adaptarem a eles com maestria podem prosperar.
Aquelas que não fizerem isso correm o risco de não sobreviver.