Você está na página 1de 2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

Centro de Artes e Comunicação


Disciplina: Literatura Portuguesa III
Professora: Raira Costa Maia de Vasconcelos
Aluna: Ana Laura Barboza Oliveira dos Santos

ATITUDES ROMÂNTICAS NO FILME “O SÉTIMO SELO”

O filme “O Sétimo Selo”, dirigido por Ingmar Bergman, exibe uma narrativa no
período da Idade Média, centralizada a partir do retorno do cavaleiro Antonius Black das
Cruzadas, quando se depara com seu país, a Suécia, assolado pela peste negra. O
longa-metragem traz grandes reflexões, com questionamentos sobre o sobrenatural e o
religioso, incluindo um paralelo com o livro bíblico do Apocalipse, assim como sobre a
existência humana e a morte. A Morte, inclusive, é construída como um emblemático
personagem na trama, com quem o cavaleiro joga uma partida de xadrez, simbolizando a
busca pelo prolongamento da vida para entender seu sentido e buscar conhecimento sobre a
fé, a vida e, enfim, a própria morte. A partir da construção dos personagens, da trama e dos
demais aspectos cinematográficos, é possível estabelecer paralelos com a escola
artístico-literária do Romantismo.
Em primeiro lugar, existem, no protagonista Antonius Block, aspectos próprios do
homem romântico, como a angústia e a melancolia. Após tudo que vivenciou, ele questiona a
existência de Deus e do Demônio incansavelmente, até mesmo em seus últimos momentos
que antecedem a morte. O cavaleiro não enxerga significado nas suas ações e em sua própria
vida, justamente por tanto procurar e não encontrar respostas às suas indagações. Em diversas
cenas, suas expressões faciais são de sofrimento e ele parece aceitar que sua vida se findará
em breve, ainda que deseje continuar buscando conhecimento. Nesse sentido, uma cena
importante para a construção do personagem é a ambientada no confessionário, quando ele
expressa sua vontade de morrer por conta do vazio que tomou conta de seu coração.
Dessa maneira, as características fundamentais de Block traduzem tendências
românticas, como o individualismo e o pessimismo, além da maneira de lidar com a morte. A
subjetividade e o sentimentalismo também permeiam sua presença em toda a obra, através das
visões de mundo e de si que são construídas. Há certo egocentrismo, bem como marcas de
autoanálise e de sentimentalismo de um destino fadado à infelicidade, à solidão e à morte.
Ainda no tocante a esse personagem, tem-se que a construção imagética das cenas que
protagoniza apresentam certo tom sombrio: os ambientes são solitários, muitas vezes noturnos
e frios, com uma atmosfera incerta e escura. Esse aspecto cenográfico exemplifica a
característica do Romantismo de promover um prolongamento do sujeito para além de seu
estado de sofrimento interior, que passa a ser expressado também no ambiente que o rodeia. É
possível, ainda, estabelecer uma conexão com a noção de locus horrendus, em oposição ao
preceito árcade de locus amoenus. Ademais, pode-se dizer que a história do “eu” também se
coloca em paralelo à história da nação, ambas em ruínas, quando a narrativa pessoal do
cavaleiro está conectada à coletiva e histórica do país.
Para além de Antonius Block, as atitudes românticas também estão presentes em
diversos outros momentos do filme. Por exemplo, existe certa ideia melodramática de grande
sofrimento amoroso, especialmente quando o ferreiro perde sua esposa para o circense. Em
um diálogo com o escudeiro de Block, ele se encontra desorientado e em profunda tristeza na
ausência da amada, e chega a ouvir: “amor é a mais negra de todas as pragas”. Os sonhos, os
devaneios e as visões do acrobata também configuram aspectos românticos, caracterizando a
expressão da subjetividade dos pensamentos. Há, sobretudo, o traço religioso que acompanha
diversos personagens do filme, principalmente quando postos em temor da morte.
Assim, a obra de Bergman exibe com primazia as diversas facetas que envolvem a
existência e os sentimentos humanos, como também faz o movimento romântico. As
discussões presentes no longa-metragem são de grande complexidade e desenvoltura,
trazendo temáticas e questionamentos constantes na história da humanidade, ou seja,
construindo-se como extremamente atuais e, até mesmo, atemporais.

Você também pode gostar