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24/02/22

Visualização da peça de Shakespeare Júlio Cesar

 Questão do drama e do dramático – em particular tragédia


 Antiguidade – Poética de Aristóteles [onde lança as bases
para o entendimento do drama; referência ao seu carácter
político e democrático]
 Mais clássica de todas as tragédias que Shakespeare
escreveu – 1595: data da primeira representação; ação
situada na antiguidade/presentes (ocasionalmente) os
princípios poéticos aristotélicos
 Romantismo: 2º momento da reflexão sobre o drama /
teorias do Hegel no âmbito do romantismo alemão
[Estética] / Victor Hugo em França – visionam Shakespeare
como o primeiro dos românticos

 Shakespeare como lugar de nascimento de tudo o que foi


feito a partir do século XVIII e XIX – Harold Bloom –
Shakespeare, a invenção do humano [no sentido em que
cria pela primeira vez na literatura o tipo de herói
problemático, que se encontra dividido e que equaciona nas
suas falas teatrais essa mesma divisão interior; não é
totalmente bom nem totalmente mau; quer uma coisa
consegue outra; quer fazer algo bom e faz o mal / assaltado
por problemas no plano ético e moral – Hamlet como anjo e
vilão, como razoável e louco, atormentado …]
 Problematização da conduta do ser humano / luta interior
para superar os abates da existência
 Aristóteles – a personagem define-se pelas acções que
prática, as quais revelam determinado pensamento.
/ Em Shakespeare a personagem não pratica
necessariamente em prol de um pensamento, isto é, as
acções não são monolíticas – ou seja, todas as personagens
mudam ao longo da história, densidade psicológica

 Questão da Retórica: estoicos acreditavam que um homem


superiormente educado deveria destinar os seus serviços à
causa pública – aspecto importante em Shakespeare
 Trama política – “porque é que vocês celebram um tirano?”
 Peça fundamentada pela documentação de historiadores
como Plutarco e Suetónio / fontes historiográficas

 Roland Barthes “A Antiga Retórica”, A Aventura


Semiológica
 18 de Abril a 12 de Maio: 2 contos de Dores, Maria Velho
da Costa
 Teste: questão sobre Júlio César e sobre esses contos
Aula no caderno !!!! – Passar para aqui

31/03/22

Roland Barthes – “A Antiga Retórica” – pags. 19-31, 50-


56

Júlio César
Cena: mudança de lugar da acção | Acto: mudança de
tempo da acção
Sonhos premonitórios, avisos, ideia do sobrenatural, do
destino escrito nos astros – “ultrapassa” a peça
Cícero (?) “Quem decide o destino dos homens são os
homens”

Pág. 78 – Referência a Atnidoro (?): personagem


secundária, alguém que tenta avisar César de Cássio e de
Brutus [provavelmente devido a uma fuga de informação do
núcleo dos conspiradores] /impedi-lo de entrar no capitólio
– nome referência a um antigo escritor da Grécia que
escreveu um tratado dos sonhos

Décio – que vai buscar César na manhã, para ter a certeza


de que vai ao capitólio – “Esse sonho teve uma errada
interpretação, pelo contrario a visão é tao bela como
auguro…” : várias linhas de sentido, Shakespeare não deixa
nada por acaso [história dos sonhos e dos presságios e das
suas interpretações – e nomeadamente do sangue] – sangue
pode dizer que ele vai ser morte, mas também pode não
estar associado à desgraça mas sim ao rejuvenescimento
Shakespeare é um autor que traz sangue para o palco –
aspecto de patético: que é um dos traços fundamentais do
teatro, porque o autor dramático têm sempre o intuito de
despertar paixões [vêm da concepção do Pathos]: discurso
do Marco António no Capitólio | (?) contraste com discurso
frio de Brutus na sequência da morte

O autor nunca responde por nós – leva o leitor ao trabalho


interpretativo do texto, nunca desmente a ideia do traço
particular e causal do destino – no entanto, apresenta a
leitura numa tensão entre leituras diferentes (nessa
concepção antiga do destino, e na concepção de Cícero [que
é citada na peça por Cácio] de que os homens são apenas
escravos enquanto quiserem, dado que são donos do próprio
destino

– A Morte de César / Os discursos do Capitólio


– Cena I do acto III
– Cena II do acto III: momento crucial na peça – à vez,
discursam Brutus e Marco António, os discursos de ambos
provocam determinado efeito
Para os romanos o imperador era uma divindade o que
torna muito difícil, nestas circunstâncias, a concretização
efetiva do discurso de Brutus [como acto civilizado de
libertação] sem que soe a uma tentativa de justificação da
carnificina. | Acalmar a multidão, que acaba por aceitar mas
contrariar esse acto – logo de seguida, o discurso de Marco
António tem um cariz incendiário capaz mesmo de
despertar a guerra civil.

[recurso ao pathos (paixão), socorre-se de outros elementos


que não estão presentes no do Brutus, nomeadamente a
exibição do sangue do cadáver que provoca terror na
assistência – momento de catarse, que liberta a tensão e a
revolta]

Ambos os homens – são tribunos e seguem na perfeição o


modelo retórico da antiguidade, o bom uso da palavra.

Um dos traços do Maneirismo é a ideia de uma


representação dentro da representação [exemplo do Hamlet
– desmascarar com a reprodução de uma companhia
ambulante de teatro as circunstâncias de morte de pai de
Hamlet – ver no rosto do assassino do pai a expressão de
culpabilidade: até o nome da peça dentro da peça como
Ratoeira alude a esse efeito]

Discurso civilizado sobre homens civilizados – obviamente


como forma de representação – chora antes do monólogo e
não quando profere para a multidão (uso da retórica)

[paginas 103-102, depois 107 e em diante – análise na


próxima aula – trazer o livro]

Estoicismo conspiradores

04/04/22

Fontes historiográfica de Shakespeare


Plutarco (46-120 d.C.)
Plutarco, As Vidas Paralelas – As vidas dos nobres e gregos
romanos

As três biografias de romanos serviram mais do que fonte


de inspiração – Shakespeare usa o texto de Plutarco como
uma espécie de guião: Júlio César, Marco Bruto, Marco
António
– Dramatizando-as: mudando o modo de enunciação, ao
invés de ter um narrador, as personagens falam diretamente
com o leitor sem essa mediação

Existiu uma conhecida tradução de Plutarco chamada


tradução de North, em 1595

Shakespeare segue Plutarco:


(1) No detalhe histórico do perdão que César confere a
Bruto e outros, por terem tomado o partido de Pompeu;
(2) Marca a hesitação de Bruto, que temia o poder
crescente de César, ao mesmo tempo que se sente
ligado a ele por laços filiais. E nisto, afasta-se
ligeiramente de Plutarco, para quem as hesitações que
Bruto demonstra se devem ao receio pelos riscos
implicados na conjura. *
(3) Na descrição de César como um valente general, um
grande eloquente, vaidoso, ambicioso e popular. A
epilepsia de César é também referida em Plutarco.

*Monólogo em que ele está sozinho [“Esmaguemos-lhe na casca”];


Divisão num plano ético – as dúvidas que Bruto tem [explicação
com a dimensão afetiva típica de Shakespeare – difere de
Plutarco aqui]
// Bruto encontra-se dividido entre os seus antepassados: (1)
Bruto, fundador da República; (2) Catão, o velho sogro de Bruto
(monarquia)

Conversa de Bruto com Cácio (“se não te vês a ti próprio, vê te a


ti em mim que eu sou um espelho que revela a tua virtude”) –
pensamento grego platónico: banquete diálogo socrático sobre o
amor dos tempos da alma que se vê reflectida nos olhos do ser
amado // “não Cácio, os olhos não se veem a si próprios (…)”:
referência ao tratado dos sentidos aristotélico
– Cácio está a incentivar para ele tomar as rédeas de poder

Bruto afirma que está nas mãos dos homens alterar a própria
vida (?)
Não quer que alguém que não é um deus seja venerado por um
Deus – justificação de Cácio, que talvez seja movido por
interesses pessoais; não sendo o mesmo caso que o de Bruto que
se move, de certo modo, com intenções “puras”

P.37, Acto I
Sobre a coroa que Marco António lhe ofereceu; falas de Casca
O tom do pathos é o típico do actor dramático – comunicar a
paixão, contagiando e empelando à acção [é como se o orador
quase que chorasse a falar]
A professora deu destaque à batalha que foi vencida pela
bravura de César, segundo Plutarco
Leitura dos elementos que estão presentes em Plutarco

07/04/22

– Teste: trazer os textos de Maria da Costa e de Shakespeare

Giuseppe Pomasi di Lampedusa, Shakespeare, Lisboa, Teorema


(1896-1957) [ler o capítulo “O Teatro Isabelino” e as páginas
consagradas a Júlio César]

Mário Avelar, William Shakespeare, Imprensa Nacional – Casa


da Moeda (2012)

Ler o verbete “Drama”, escrito por Helena Seôdio, no e-


dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia

IV Acto – em que aparece o fantasma


Réplicas e monólogos
São nos monólogos que geralmente as personagens demonstram
a sua alma, se revelam [Brutus no jardim de sua casa – quando
fala do lobo e da serpente; famoso discurso de Marco António
diante do cadáver de César]

Espectro na tenda de Bruto: a sorte ou destino


V Acto: Tíndaro dá uma informação errada propositadamente de
que é feito prisioneiro – quer que a guerra acabe; imaginando
que o seu amigo está preso pelo inimigo, Cácio assume que a
guerra está perdida: suicida-se a partir dessa interpretação.
Titinio (tal amigo que vai mais a frente como batedor): vê o seu
amigo Cácio morto e suicida-se também.
Chega Bruto (?) que vinha comunicar a Cácio a sua vitória
sobre Octávio: chega e vê os corpos dos dois generais mais
importantes das suas forças; (suicida-se também)

Quando Bruto se suicida é como se estivesse a atribuir razão a


Platão e à sua afirmação quanto à tirania // Catão como elemento
simbólico de um republicano que se suicida quando chega ao
poder – Catão jovem é o filho deste que luta ao lado de Bruto

V acto; p.155 (edição luis): cássio epicurista (“Messala hoje é o


dia do meu aniversário…”)
156 –(“Agora, mui nobre Bruto…”) – conversa sobre os
suicídios

IV acto, cena III – espectro


p. 176 (edição da prof): César na figura daquele escravo que o
mata – razão dada ao próprio fantasma
Última cena: Bruto aceita, diz que morreu feliz e que não
trabalhou senão para chegar a essa hora – novamente a noção de
que Catão estava certo [em vez de se ter morto alguém, deveria
ter-se morto ele; alegria provém ao facto dos seus amigos
estarem ao lado dele;

“é possível agir de determinada maneira, de forma violenta, sem


se ser apanhado na corrente que toda a violência desperta? – um
acto violento está na origem de sucessivos actos violentos; a
peça termina num palco de cadáveres”

Momento de desfeche: referência nas últimas falas de Marco


António a uma fórmula bíblica (Ecce Homo) – anacronismo
porque a personagem obviamente não conhece a bíblia (chamar
a atenção para o que está por vir, a alteração radical do mundo)

Bruto como heroí que se engana


Epitáfio importante porque contrasta com o discuro que Marco
António faz nas escadas do Capitólio (quando fala dos homens
honrados – que fizeram algo que não está a altura da palavra
honra: carnificina)
// Insinuação que Cácio agiu por vingança/desejo de poder, não
estando pois no mesmo patamar que Bruto

“É possível uma justiça que passe por um acto violento? Um


acto violento pode servir uma boa causa/como sacrifício
necessário – sem que seja visualizado como uma mera
carnificina?”

(de uma edição para a outra a diferença é 8 paginas; 52 na do


luis – 60 na da prof) – ideia acima descrita, “mesmo que seja
necessário realizar um só acto bárbaro, somos virtuosos, não
somos carniceiros” // “lutamos por ideias e nas ideias não há
sangue” – as ideias não são assassináveis, os homens é que são
“não há remedio sem verter o sangue de César”

Página 99 P/93 L: discurso violentíssimo de Marco António –


vingança, mas sobretudo a afirmação de que este acto violento
desencadeará uma violência inaudita/imparável, a violência gera
a violência e gera-a de uma forma imparável
Pensamos que Shakespeare estará por detrás disto ou a rir-se ou
a chorar

Aula suplementar zoom, sobre Mª Velho da Costa, dia 30 de


Abril (14h) ou, em alternativa a decidir pelos alunos, dia 7 de
Maio (16h).
Texto de Platão – Górgias – em que ataca a retórica por ser uma
técnica moralmente neutra – os sofistas sofismam
(manobram/manipulam o auditório para chegar a um fim)

Retórica que nos interessa é a aristotélica: Dois tratados, da


Poética (onde ele se interroga sobre a literatura), e da Retórica
(onde lança as bases de entendimento da palavra como meio de
persuasão) – técnicas distintas: uma para uso literário e outra
para uso dos oradores.

[… mais tarde fundem-se] Para Horácio, Virgílio e Ovídio –


escrever é argumentar bem, logo é ofício dos escritores: retórica
generalizada (discurso ornamentado)
*Retórica generalizada: afastamo-nos da separação da poesia e
da retórica proposta por Aristóteles e pelos retores aristotélicos
(Cícero, Quintiliano…). Aproximamo-nos dos que defendiam o
parentesco entre poesia e arte oratória.

Mais tarde em Roma [35 a 95 a.C] – outros retores (que ensinam


retórica)
Quintiliano, De Institutio Oratorie – livro de 12 volumes, sobre
a educação do orador / definição da retórica e a sua utilidade /
Inventio, Dispositio (partes da técnica retórica) / Elocutio
Um dos mais importantes retores romanos é Cícero [106 a 43
a.C] | Retorica ad Herenius (resume um pensamento que é grego
para romano) – peça de Shakespeare como ator secundário
Brutus, livro escrito por Cícero – exemplo do bom orador (com
as características/forma de argumentar tipicamente romana)

Análise do discurso de Bruto – Acto III, Cena II (pág. 95 L /


102):

Identificar o momento de introdução, de


demonstração/argumentação (o mais importante e depois o
momento conclusivo [etapas da retórica]

1º Momento - o discurso retórico está orientado para o


auditor/receptor – visando a persuasão. A primeira coisa que o
orador faz – “Romanos atentei (…) crê (…) silêncio (…) – pede
silêncio, pede que o ouçam antes de o julgarem e que formulem
a sua perspetiva após o discurso.
A técnica que usa é colocar-se ao nível do auditório, não fala do
púlpito para baixo, não dá lições, mas nivela-se (desce ao nível
do auditório enquanto senador/homem educado que se dirige à
massa popular romana – adapta o discurso às suas
características; pedindo que o julguem com benevolência):
Captatio benevolential (lado sedutor do discurso – ir ao encontro
das ideias/ideais do ouvinte)
Pede, de seguida, que reconheçam que ele é honrado e que o
tratem como tal.

(Captar a benevolência do auditório, pedir paciência e que o ouçam


antes de o julgar, que reconheçam a sua honra e que o tratem como tal)

2º Momento – Argumentação/Demonstração: a argumentação


arruma-se segundo o esquema pergunta/resposta; a estruturação
do discurso que obece a paralelismos (e gradações,
equivalências) de construção, ou seja, dá-se uma certa
geometrização do discurso

César era meu | (1) amigo


foi | (2) feliz [nas suas campanhas militares / bem sucedido]
(3) valoroso
(4) ambicioso

Ações em resposta:
(1) Eu choro-o
(2) Folgo com isso
(3) Presto-lhe as minhas honras
(4) Matei-o

Os argumentos são recapitulados em espelho (invertendo a


ordem de sequência):
Lágrimas para o chorar
Alegria pela sua fortuna
Veneração pelo seu valor
Morte por sua ambição

3º Momento, conclusão: é remetida para o auditório – quem


ouve deve deliberar. Para tal, segue-se novamente o processo da
frase interrogativa e, neste caso, da pergunta retórica. [=ideia de
concordância, ninguém responde o contrário]

Aristóteles afirmava que o discurso retórico era composto por


entimemas, ou seja, silogismos (ex. Todo o homem é mortal, César foi
homem, logo César é mortal). No discurso retórico não é importante
que as premissas sejam verdadeiras, pode partir-se de uma
premissa falsa de modo a executar a persuasão do auditório [ex
no texto: “só os homens vis aceitariam ser escravos / viver sobre
a dominação, só estes condenam o meu ato que foi para pôr fim
à dominação”]
– Mais uma vez, esquema de pergunta resposta (se houver aqui
alguém, eu ofendi – continua-se na geometrização do discurso).
– A questão que nunca é abordada: se de facto, César merecia a
morte por ser ambicioso [busca a aprovação da maior, daí
escapar-se a esta interrogação/ponto ético]
Barthes: A Antiga Retórica, A técnica retórica [essencial da
retórica aristotélica]

Inventio [Euresis], invenire quid dicas: encontrar o que dizer


Res / Verba = assunto/matéria / pôr em discurso

Como se aplica um determinado assunto com uma determinada


articulação expressiva – cada assunto pede uma maneira
específica de ser abordado.

Dispositio: inventa disponerse, pôr em ordem o que se encontrou


Elocutio: ornare verbis, acrescentar o ornamento das palavras e
figuras

Actio: desempenhar o discurso como um ator


Memória: memorização do discurso

– Ler na parte 1 A Viagem, donde a secção As Práticas Retóricas


até à página 32, A Retórica Generalizada
Ler na parte 2 A Máquina Retórica, página 53 e As Cinco Partes
da Técnica Retórica, página 53-55

02/05/22

Carlos Reis, O conhecimento da literatura, Coimbra, Almedina


[capítulos sobre a narrativa]
Carlos Reis e Mª Ana Almeida, Dicionário da Narratologia, “”
[consultar terminologia da narrativa]
Jonathan Culler, “Narrative”, Literary Theory – A very Short
Introduction, Oxford, Oxford Up, 1997

– Discurso indirecto livre: importante para a leitura dos dois


textos

Maria Velho da Costa (Texto) e Teresa Dias Coelho


(Reprodução das Telas), Dores, Lisboa, Publicações Dom
Quixote, 1994

Crioulo “galáctico” (?) – atenção à oralidade, às expressões


ideo- ou sociolectais, os seus romances são povoados de tribos
urbanas.
Quatro personagens principais, sendo a narradora uma delas,
Dudja, Nhô Manel e Lucinda

A autora defende que língua literária deve alargar-se e


incorporar esses traços da oralidade, que são motores da própria
transformação linguística – crioulizar-se. / Abertura da língua
para este tipo de transmissão: concilia o crioulo/oralidade com
todos os registos de língua imaginários, desde calão, ao
vocabulário mais erudito.
Saí da ideia de que escrever bem é escrever conforme a linigua
padrao e usa elementos ricos das falas que ouve e capta em torno
de si.

Qualquer dos contos de dor está centrado na natureza das dores a


que o próprio título alude – denominador comum
Uma das dificuldades tem a ver com o modo como o português
se transfigura, outra com o modo como literariamente as coisas
são trabalhadas – o narrador é o elemento essencial da narrativa
desde a poética de Platão (“Há um tipo de texto em que o
narrador é que diz”), seja o narrador implicado na narrativa,
narrador omnisciente, na primeira pessoa etc; esta narradora não
esta preocupada em constituir os elementos com clareza para o
leitor, e é pouco objectivo, sem dar a sua opinião de forma
directa vai dando a entender que há uma espécie de
solidariedade com as pessoas implicadas naquele caso. Não tem
apenas a ver com as ideias que a narradora defende, tem origem
na afinidade que a narradora tem com Dudja – essa afinidade
está relacionada com o seu passado, com as suas próprias
experiências [há uma alusão a isso – narra e pensa na sua própria
situação]; Assim, existe uma primeira história – que é o caso da
Dudja – não se vai directamente ao assunto, a cena
(narratológica); a acção começa in media rés; temos de fazer um
esforço para reconstituir os eventos a partir do que é dito (tomar
muita atenção ao modo como as coisas são ditas, pois são
expressadas com antecipação/de acordo com esses elementos de
carácter pessoal, pág.10).

Lucinda tem pelo menos 3 nomes no conto – Lucy para a


narrador, para o Nhô Manel é a Casimê (?), como se tivesse dois
nomes afectivos e um nome jurídico
Dama Dudja também não se chama Dudja – (dama=senhora; não
é um titulo nobiliárquico como no pt standart) – o nome dela é
Maria da Cruz
Oralidade representada através das abreviaturas das palavras
Fidjo – não tem género, pode ser filho e filha
“Não foi bem assim que ele falava” – transgressão do ponto de
vista sintático, a própria narradora esta a tentar reconstituir o que
ele disse como ele disse (não foi bem assim mas qualquer coisa
assim)

Primeiro momento – procura na memória o modo que lhe foi


dada o primeiro aviso
Porquê é que ele dorme na garagem? – alguma idade custa-lhe ;
…(=) solidariedade com eles e com o Nhô Manel em particular;
“antes por presunção (vaidade/superioridade ética) e cerimónia”
(alguém que quer acolher um estrangeiro com cerimónia,
tratando-o bem)
Hipótese: “Faz parte daquela história” – age em função da sua
própria história (talvez no passado tenha vivido nas mesmas
condições que o senhor) / em contraposição ao que as outras
pessoas acham; posição moral construída a partir de uma
experiência própria que a coloca numa posição mais próxima do
Nhô Manel do que dos outros

No entanto a identificação que faz é com a Dama Dudja – pode


ter também vítima de violência doméstica
Questão de dependência do marido relacionada com a questão
socioeconómica da personagem.

Matou a sua cabeça – suicidío


Tesoura… com que ele foi morto estava na casa da narradora,
mais um fio que liga as personagens, essa tesoura só podia ter
ido para casa da Dudja pelo Nhô Manel

05/05/2022

“Plot” …………………………… História*


| |
Intriga …………………………… Discurso do narrador

A narrativa é o modo como nos relacionamos com o que nos


acontece, e com o percebermos o que nos acontece

E componentes diegéticos – espaço, tempo, personagem, acção e


intriga. Uma coisa é o tempo outra coisa é o modo como ele é
trabalhado no interior do discurso do narrador,

Espaço igualmente muda. A Dama Dudja – o espaço é fundamental,


aquele casa não é só uma casa é uma casa que tem memórias
Monte Vermelho – coberto do pó do Sael

Casa desalmada – a narradora fala num tempo fora do tempo, que é o


tempo do assassinato e é também o tempo que ela e Lucy vivem
naquela casa – estranha formulação de tempo fora do tempo, onde as
coisas que passam connosco – é importante ter a noção que existe o
espaço simbólico e o tempo simbólico – não é só o tempo histórico

Categorias da narrativa e discurso da narrativa – Texto que está no


mail
“Narrador na terceira pessoa”
Situação é distinta – automaticamente o discurso do narradora varia

Nhô Manel a quem a filha passou uma procuração

O tratamento do tempo é dado não na sua duração mas a partir de


momentos localizados com nitidez nos momentos altos/fortes da
produção narrativa, e depois os outros são omitidos – há muitos
momentos temporais em que o tempo adquire um caracter omisso, com
lacunas que nos temos que reconstituir. De qualquer maneira é um
tempo dado com rapidez

No primeiro o tempo passa mais rápido porque os acontecimentos são


dados em resumo, e de modo mais centralizado; No segundo é mais
lento porque vamos acompanhando os acontecimentos à medida que
eles ocorrem, tendo em conta que a narrativa vive do discurso directo (é
a partir do que é dito que nos temos de inferir o que se passa, grande
variação de perspectivas)

O leitor existe, o autor existe, como pessoas com uma existência


biografia e vida
O narratário é uma figura do texto – como todos os textos narrativos
têm um narrador, todos os textos narrativos têm também um narratário
Mil e uma noites: Cherazard narradora
Rei a quem conta as histórias – narratário
O narratário é aquele que se confronta com a subjectividade do
narrador, aquele que reage e que a confronta.
O narratário constituiu o destinatário imediato da narrativa, o leitor
real poderá ser o narratário mediato
Dois contos – “ o narratário não está lá, não é visível”

Não sabemos a quem conta a história, neste caso, às vezes até parece
que está a falar com os seus botões.
Dirigido a pessoas com determinadas particularidades que a
aproximam culturalmente da voz da narradora, a quem a narradora
pode talvez até indignar, ofender, pelas atitudes pouco consensuais do
meio onde vive.

Iniciais: a questão da raça quando a melhor diz ao homem “tu és um


bêbado deve ser da raça”
Certa violência verbal, violência das relações familiares, violência
implícita da hipocrisia, laços que aproximam as pessoas apenas por
oportunismos de vária ordem e não por aspectos – “nada simpáticos”,
bastante sombrios no modo como descrevem as coisas

Situação de crueldade que se repercute com mais força na figura de


Teresa (única, aliás, que acaba por ter um nome – o que acaba por ser
significante)

No caso do primeiro conto, a perspectiva narrativa é sempre a da


narradora. [Embora esta narradora tem sempre a particularidade de
querer ver as coisas aos olhos dos outros]. Na segunda narrativa o foco
são os olhos de F – o focalizador do texto é aquele através de cujos
olhos nós vemos o caminho / focalizador, focalizado /

Casa (Dama Dudja) – espaço das memórias


Versão do suicídio, que é negada pela Lucinda – nunca ninguém se
poderia matar a si próprio com a tesoura / A tesoura é o laço com a
Dudja, porque a tesoura estava inicialmente na cozinha da narradora /
só poderia ter sido …. Pelo pai.

Oficial que os leva às instalações – também é uma personagem – o seu


papel: remete para o passado colonial português / Fez a guerra,
conhece-a, alguém frágil conseguir ser forte
Discurso indirecto livre em que a voz do oficial aparece fundida com a
da narradora
O mal estar é dito de uma forma muito literária – janelas, fechadas,
gafanhotos – grande importância no plano simbólico, ideia de
desertificação, de deserto, “ No monte vermelho nada de verde cresce”,
ou seja, nada é verdadeiramente humano / ou à sua escala, é tudo
deserção, planeta habitado por insectos
Carpir chorar
Nojo
Narrado em três linhas, resumo, entendimento entre a família do morto
e pai de dudja aceita que os familiares do pai fiquem com os filhos

P. 13 – o que é que nos faz mexer senão propiciar aos filhos e a nos
mesmos o alimento / fazer com que estejam limpos, que comam e nos
mesmos também. Não nos cabe mais que isto em sorte com excepção
de alguma coisa que também possamos ter – a sabura de algum riso e
baile – mas o homem bravo não permite isso. – subsistência e
felicidade que o homem bravo não permite, compreensão pela Dudja,
justificação meio que implícita, mas simultaneamente condena.

Espécie de fraternidade feminina – a narradora identifica-se


verdadeiramente com Lucinda, e de certa forma, com Dudja
Ela – Lucinda – pessoa de bem porque contava consigo mesmo
Eu – pessoa de bem – talvez se enganasse

“pai” de T e futuro marido de “F” – aspecto da paternidade ser


problemática

Não sabemos se é o pai biológico, embora possa ser – filha em


situação de institucionalizada
F nova mãe, de J e de T
T, órfã de mãe (que se suicidara)
A, empregada (“mulata-a-dias”; formação em discurso indirecto livre
que pode ter sido proferida por F… indicando que ele é racista)
J, filho de F
Hamster: Nicolau
T: Teresa – Porque é que T é a única personagem (fora o hamster) que
tem nome?

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