Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Costa Vargas 2021 Terror Sexual É Genocidio PDF
Costa Vargas 2021 Terror Sexual É Genocidio PDF
Resumo
Em di ogo principa mente com a intervenç o cr tica de Ana Flauzina e Thula Pires
, este ensaio prop e que, ao centra izarmos ana tica e po iticamente o estupro
de mu heres negras como aspecto cr tico do mundo socia contempor neo, quer dizer,
da modernidade, definimos com mais exatid o a o conceito e os processos espec ficos
da antinegritude distintos do racismo , inc uindo o genoc dio e o terror sexua ; b as
possibi idades de pontes epistemo gicas e po ticas entre experi ncias negras e
ind genas; e c os par metros para uma an ise qui ombista, que considera a abo iç o
um projeto ut pico e ho stico da sociedade contempor nea, diferentes daque es
pautados pe o antirracismo, os quais s o muitas vezes inf uenciados por vieses
cisheteronormativos e patriarcais, legalistas, politicamente reformistas, e que, por fim e
ao cabo, acreditam na redenç o do projeto vigente de democracia mu tirracia . Uma vez
que aceitamos a an ise que vincu a a antinegritude, o genoc dio, o terror sexua , e o
estupro da mu her negra, conc u mos que n o h o que sa var desse mundo social
presentemente constitu do. H que inventarmos um outro mundo.
Palavras-chave
Estupro da Mulher Negra Terror Sexual Genoc dio Antinegritude.
Abstract
In dialogue mainly with the critical intervention of Ana Flauzina and Thula Pires (2020),
this essay proposes that, by analytically and politically centralizing the rape of Black
women as a critical aspect of the contemporary social world, that is, of modernity, we
define more precisely (a) the concept and specific processes of antiblackness (as distinct
from racism), including genocide and sexual terror; (b) the possibilities of
epistemological and political bridges between Black and Indigenous experiences; and
(c) the parameters for a Quilombista analysis, which considers abolition a utopian and
holistic project of contemporary society, different from those guided by anti-racism,
which are often influenced by cisheteronormative and patriarchal, legalistic, politically
reformist biases, and which, finally, believe in the redemption of the current project of
multiracial democracy. Once we accept the analysis that links antiblackness, genocide,
sexual terror, and the rape of black women, we conclude that there is nothing to save
from this presently constituted social world. We have to invent another world.
Keywords
Rape of Black Women Sexual Terror Genocide Antiblackness.
Resumen
En di ogo principa mente con a intervenci n cr tica de Ana F auzina y Thu a Pires
, este ensayo propone que, a centra izar ana tica y po ticamente a vio aci n de
as mujeres negras como aspecto cr tico de mundo socia contempor neo, es decir, de
a modernidad, definimos m s precisamente a e concepto y os procesos espec ficos
de anti-negritud (a diferencia del racismo), incluyendo el genocidio y el terror sexual; (b)
as posibi idades de puentes epistemo gicos y po ticos entre as experiencias negras e
ind genas; y c os par metros para un an isis qui ombista, que considera a abo ici n
como un proyecto ut pico y ho stico de a sociedad contempor nea, diferente a os
guiados por el antirracismo, que suelen estar influenciados por sesgos
cisheteronormativos y patriarca es, ega istas, po ticamente reformistas, y que,
fina mente, creen en a redenci n de actua proyecto de democracia mu tirracia . Una
vez que aceptamos e an isis que vincu a a antinegra, e genocidio, e terror sexua y a
vio aci n de mujeres negras, egamos a a conc usi n de que no hay nada que salvar de
este mundo social actualmente constituido. Tenemos que inventar otro mundo.
Palabras clave
Vio aci n de Mujer Negra Terror Sexual Genocidio Antinegritud.
Sum rio
Introduç o. Antinegritude, genoc dio, terror sexua , estupro. Possibilidades de pontes
epistemo gicas e po ticas entre experi ncias negras e ind genas. Por uma an ise
quilombista-abolicionista do terror sexual e do estupro da mulher negra. Refer ncias
Introduç o
...o estupro uma chave exp icativa fundamenta n o s para o
entendimento profundo das consequ ncias do genoc dio, como para a
compreens o da organizaç o po tico-social da sociedade brasileira de
uma forma mais amp a. Afina , em seu potencia efetivo e simb ico, o
estupro um regu ador socia FLAUZINA e PIRES, 2020: 74).
... a forma como temos denunciado o genoc dio privi egia as vio ncias
deflagradas contra os corpos dos homens negros cisheteronormativos.
Isso se d em grande parte pe a dimens o e a bruta idade do exterm nio,
como um dado concreto, rea , que est sempre espreita para
sentenciar mais um jovem negro. Acho que essa dimens o t o
perturbadora do nosso quotidiano tem nos feito encapsular as mulheres
quase que exc usivamente como m es no debate do genoc dio negro
no Brasil.
Trata-se ent o, por um ado, de manter o foco no genoc dio como princ pio e
fato marcante da formaç o socia do Brasi sen o do mundo moderno , e de outro,
pensar o genoc dio atrav s de uma ente ana tica capaz de capturar e ava iar as
experi ncias nicas de mu heres negras. F auzina e Pires : especificam:
Apesar de essa den ncia do genoc dio ser centra nas nossas disputas,
preciso reconhecer que esse padr o de an ise tem significado o
afastamento dessa poderosa lente interpretativa das dores vivenciadas
pe as mu heres negras como seres aut nomos, como um grupo que
sofre vio aç es de forma direta. O debate do aumento do n mero de
feminic dios entre as mu heres negras, por exemp o, n o tem contado,
via de regra, com an ises que partam do genoc dio para sua
compreens o.... Para mim, a chave da vio ncia sexual, mais
especificamente no debate do estupro, estruturante para a p ena
compreens o do sentido do genoc dio entre n s.
Este ensaio prop e que, ao centra izarmos ana tica e po iticamente o estupro
de mu heres negras como aspecto cr tico do cont nuo de ultrajes (ROCHA, 2014; 2017)
e seque as SANTOS, ; SMITH, definimos com mais exatid o a o conceito
e os processos espec ficos da antinegritude, inc uindo o genoc dio e o terror sexua ; b
as possibi idades de pontes epistemo gicas e po ticas entre experi ncias negras e
ind genas; e c os par metros para uma an ise qui ombista, que considera a abo iç o
um projeto ut pico e ho stico da sociedade contempor nea, distinto daque es
pautados pe o antirracismo, os quais s o muitas vezes inf uenciados por vieses
cisheteronormativos e patriarcais, legalistas, politicamente reformistas, e que, por fim e
ao cabo, acreditam na redenç o do projeto vigente de democracia mu tirracia VARGAS
; ; a; b . Esse projeto genocida inevitave mente masculinista e
cisheteronormativo ALEXANDER, . Uma vez que aceitamos a an ise que vincu a
a antinegritude, o genoc dio, o terror sexua , e o estupro da mu her negra, conc u mos
que n o h o que sa var desse mundo socia presentemente constitu do.
uma maneira mais sistem tica. Fa ar da emerg ncia dos feminismos negros como um
fato discreto marc ve no tempo e no espaço obviamente n o faz sentido. H autoras
que identificam elementos dos feminismos negros entre as mulheres negras
escravizadas e as abo icionistas do s cu o XIX GUY-SHEFTALL, 1995). All the Women
are White, A the B acks are Men Todas as Mu heres s o Brancas, Todos os Negros
s o Homens : o titu o dessa anto ogia pub icada em , editada por Akasha G oria
Hull, Patricia Bell-Scott e Barbara Smith, representa a conf u ncia de v rias correntes
te ricas, ana ticas, e po ticas de feministas negras, muitas de as sbicas, previamente
separadas pe o tempo hist rico e pe o espaço geogr fico. Todas as Mu heres s o
Brancas, Todos os Negros S o Homens representa co etivos de mu heres negras cujas
experi ncias e projetos po ticos n o eram contemp ados nem nos espaços onde a raça
e a negritude eram os eixos das abordagens cr ticas porque raça e negritude eram
vistos atrav s do prisma dos homens negros cisheteronormativos , nem nos espaços
feministas porque o g nero era visto atrav s do prisma de mu heres brancas
cisheteronormativas.)
L ia Gonza ez, tamb m em , pub icou um ensaio intitu ado A Mu her
Negra na Sociedade Brasileira no qua aponta a gumas das consequ ncias ana ticas e
po ticas das imitaç es dos espaços naciona istas negros e proto feministas:
Para fina izar, gostar amos de chamar a atenç o para a maneira como a
mu her negra praticamente exc u da dos textos e do discurso do
movimento feminino e portanto n o feminista em nosso pa s. A
maioria dos textos, apesar de tratarem das re aç es de dominaç o
sexua , socia , e econ mica a que a mu her est submetida, assim como
da situaç o das mu heres de camadas mais pobres etc., etc., n o
atentam para o fato da opress o racia . As categorias uti izadas s o
exatamente aque as que neutra izam o prob ema da discriminaç o racia
e, consequentemente, o do confinamento a que a comunidade negra
est reduzida GONZALEZ, : 00).
Friso que essas pub icaç es, como muitas outras, inc uindo a dec araç o do
Combahee River Collective em 1977 (TAYLOR, 2017), na qual a teoria dos sistemas de
opress o inter igados inter ocking systems of oppression , que precede e informa a
teoria da intersecciona idade CRENSHAW, , s o apenas retratos moment neos
de um processo po tico transgeraciona o qua , parte constitutiva de uma tradiç o negra
diasp rica, insiste no ugar de fa a e perspic cia epistemo gica e po tica de mu heres
negras. Assim como aponta Jurema Werneck , n o se pode entender a
... a centra idade dos efeitos da vio ncia sexua como premissa
fundacional de uma sociedade com herança co onia escravista como a
brasi eira, repousa nas mu heres que foram vio entadas. N o h espaço,
por exemplo, para pensar no estupro como algo que foi realizado para
violentar a honra do suposto parceiro dessas mulheres ou para macular
o processo de sucess o patrimonia da inhagem a que essa mu her
integra. Talvez esses motivos possam ter influenciados os violadores,
mas se a centra idade est na resist ncia dessas mu heres, s o os efeitos
sobre elas que devem orientar nossas conversas e nossas intervenç es
p b icas em mat ria de vio ncia sexua FLAUZINA e PIRES, : .
portanto, significa desenvo ver uma gram tica cr tica em pretugu s, como os escritos
de L ia Gonza ez imp icam e convidam GONZALEZ, ; FLAUZINA e PIRES, .
Essa gram tica cr tica insiste na centra idade das experi ncias de mu heres negras, tanto
na formataç o do estado de terror e suas tecno ogias de contro e que definem o estado-
imp rio contempor neo JUNG, , quanto na formu aç o de cr ticas das dimens es
m tip as do genoc dio e da antinegritude fundante. A figura da escrava (VARGAS,
a ta vez nos ajude a ref etir sobre os desafios epistemo gicos e po ticos de uma
perspectiva que, ao reconhecer a vio abi idade ina ter ve da mu her negra, e, portanto,
a sua condiç o de n o estupr ve HARTMAN, ; WILDERSON, , n o espera
nem acredita na redenç o do projeto moderno de civi izaç o mu tirracia . Pois este
projeto, cujo a goritmo a antinegritude, um projeto mascu inista, homossocia e
cisheteropatriacal (ALEXANDER, 2005), que requer e permanentemente reproduz o
terror sexua e a morte socia e f sica das pessoas negras. Centrar o estupro como
estrutura e estruturante, como o querem F auzina e Pires, significa, no imite da an ise,
ponderar formas alternativas de onto ogia e de organizaç o socia que necessariamente
extrapo am o que presentemente nos define onto gica e socia mente.
A vio ncia sexua , e particu armente o estupro sistem tico da mu her ind gena
como instrumento da m quina de exterm nio do co onia ismo, estabe ece a ideologia
que corpos Nativos s o inerentemente vio veis -- e, por extens o, que Terras Nativas
s o tamb m vio veis SMITH : . A autora, que traba hou como assistente de
v timas de vio ncia sexua em uma comunidade Ind gena, expande a sua ente ana tica
para a m das mu heres nativas. A vio ncia sexua de g nero gender vio ence e o
genoc dio, afirma e a, funcionam como uma ferramenta do racismo e do co onia ismo
entre mulheres de cor de um modo geral." Mais especificamente,
A formaç o do povo brasi eiro, assim, deriva de uma gica de genoc dio e terror
sexua comum aos processos de co onizaç o das Am fricas. Apesar das diferenças
bvias nas manifestaç es quotidianas e sociais dessa gica comum no Brasi e nos
Estados Unidos, o foco no genoc dio e no terror sexua demanda um reconhecimento
s rio e definitivo das inhas de continuidade diasp rica que definem os pa ses igados
pe a Amefricanidade GONZALEZ, : . As unidades de naç es da Am frica, assim,
devem ser entendidas como partes de um mesmo complexo estrutural de ontologias e
sociabi idades, e portanto muito mais simi ares nas suas entranhas simb icas do que
comumente aceitamos.
portanto, permanentes -- s reforça essa constataç o simp es mas ta vez dif ci de ser
aceita.
Aqui o conceito de abo iç o ti porque remete precisamente a essa
necessidade de um outro mundo. O processo de abo iç o n o tem fim definido; a
abo iç o sempre co etiva, enraizada em saberes ancestrais, e ao mesmo tempo
transcendenta . O conceito de abo iç o eminentemente ut pico pois n o s projeta
uma rea idade pouco definida mas definitivamente me horada , como tamb m requer
uma exp os o Fanoniana permanente das epistemo ogias, sociabi idades, e instituiç es
terroristas e genocidas.
Para me hor entendermos a utopia que energiza o projeto de abo iç o,
podemos distinguir utopia de ideologia. Para Dolores Hayden, utopia refere-se " a um
esquema imagin rio ou experimenta de uma sociedade ideal," enquanto ideologia
remete a um corpo de ideias no qua se baseia um sistema po tico, econ mico, ou
social particular, real ou ideal." Ademais, podemos pensar tanto a utopia quanto a
ideo ogia como conceitos que possibi itam ir a m da ordem social existente. A
diferença est no fato de que a utopia abre possibi idades revo ucion rias enquanto
que a ideo ogia se restringe aos xicos simb icos j existentes. A utopia, fina mente,
consiste no materia exp osivo que arrebentar os imites da ordem existente, e
cont m de forma condensada as tend ncias n o rea izadas que representam as
necessidades de cada era HAYDEN, : .
Essa necessidade de uma exp os o da ordem existente se torna urgente ao nos
depararmos com a antinegritude, que informa o genoc dio e o terror sexua que incidem
paradigmaticamente nos corpos de mulheres negras e pessoas transexuais negras.
Estamos diante dos efeitos combinados de uma estrutura onto gica, um sistema de
significado e gerenciamento social que afeta todas as pessoas humanas ao mesmo
tempo em que exclui permanentemente as pessoas negras. Como Hortense Spillers
descreve minuciosamente, desde o transporte forçado de pessoas escravizadas,
corpos negros foram tratados como objetos, sem qua quer distinç o de g nero, que
ocupavam espaços precisamente de imitados nos navios de carga. Aque as pessoas
Africanas durante o trans ado forçado do At ntico Midd e Passage , Spi ers indica,
e de estupro que o definem. Mas quer dizer que para as pessoas negras o sofrimento, a
exc us o, e a morte prematura s o de uma natureza distinta porque as pessoas negras
ocupam posiç es onto gicas distintas e nicas. Vio ncia, estupro e morte podem
parecer iguais apesar das diferenças raciais de suas v timas -- e de fato o s o nos seus
resu tados finais e terr veis -- mas as suas justificativas simb icas e po ticas, e os
posicionamentos onto gicos que os motivam n o o s o.
Alguns dados marcam isso contundentemente. Primeiro, em 2017, 75,5% das
v timas de homic dios foram pessoas negras. Isso corresponde a uma taxa de homic dio
(numero de homic dios por mi pessoas negras de , , ao passo que para pessoas
n o negras e a foi de , . Ou seja, a taxa de homic dio de pessoas negras quase tr s
vez maior -- mais precisamente, para cada indiv duo n o negro que sofre homic dio, ,
indiv duos negros s o mortos. Ademais, pe o menos desde a diferença entre as
taxas de homic dios de pessoas negras e n o negras vem aumentando -- em outras
pa avras, vem sendo acentuada a dist ncia entre esse dois mundo distintos. Isso fica
mais gritante ainda quando consideramos dois pontos apresentados no Atlas da
Vio ncia de . O primeiro: entre e , enquanto para as pessoas n o
negras houve uma diminuiç o de , nas taxas de homic dio no Brasi , as taxas de
homic dio apresentaram um aumento de 11,5% para as pessoas negras. A segunda:
nesse mesmo per odo, enquanto a taxa de homic dios de mu heres n o negras caiu
11,7%, a taxa entre as mulheres negras aumentou 12,4% (CERQUEIRA e BUENO, 2020:
37, 47).
A an ise do terror sexua e do estupro como ndices do genoc dio, como
F auzina e Pires prop em, torna essa distinç o entre o mundo das pessoas negras e o
mundo das pessoas n o negras mais marcante ainda. Um estudo rea izado pe a Rede de
Observat rios da Segurança divu gou que, em , as mu heres negras sofreram 73%
dos casos de vio ncia sexua registrados no Brasi , enquanto as mu heres brancas foram
v timas em , dos casos. Ademais, entre e , aumentou quase vezes o
n mero de mu heres negras v timas de estupro. Para mu heres habitantes do estado do
Bahia, a taxa de estupro entre mu heres negras de casos por mi mu heres, o
dobro da taxa entre as brancas, que de por mi mu heres REDE DE
OBSERVAT RIOS DA SEGURANÇA, : .
normativas imposs veis de serem p enamente rea izadas por pessoas negras -- em bases
de possibi idades transformadoras? O que nos impede de exp orar os hier g ifos da
carne para inventar novas moda idades de ser, e n o para adaptar ou reproduzir o que
j est dispon ve ? O que nos impede de exercitar, ao menos simbo icamente, uma vis o
de g nero n o como fixo e compu s rio, mas como necessariamente em movimento e
indefinido, e ta vez at como desnecess rio?
Me parece que a cr tica do genoc dio a partir do terror sexua e do estupro
requer que, concomitante ao traba ho pragm tico de organizaç o po tica, imaginemos
uma outra humanidade, uma humanidade independente e ivre das normas de g nero
dominantes, e, portanto, uma humanidade que n o depende da exc us o de pessoas
negras, as quais, nesse mundo, est o inevitave mente sempre aqu m ou a m dessas
normas -- e por isso tamb m sempre sujeitas ao terror antinegro. Esse traba ho da
imaginaç o transcendenta tem de informar a uta pragm tica, e vice-versa. Do
contr rio reproduzimos o que a imenta o genoc dio e o terror sexua . O projeto ut pico
de abo iç o qui ombista das Ia od s requer uma reformu aç o necess ria de como nos
entendemos como pessoas em sociedade. J que o aparato epistemo gico e o
inconsciente co etivo FANON, que comparti hamos s o de fato os alicerces do
mundo que habitamos, do mundo moderno, ent o a tarefa t o evidente quanto e a
vasta. Imaginar um mundo sem g nero, como Haraway : - prop e,
exatamente o que os hier g ifos da carne prefiguram. Imaginar um mundo sem a
antinegritude, que a grande m quina que produz a morte socia e f sica, significa ta vez
imaginar um mundo sem g nese, e ta vez um mundo sem fim. Como sugere Sy via
Wynter MCKITTRICK, , para que a express o pessoa negra n o seja um oximoro,
necess rio que rompamos a correspond ncia normativa entre o Homem e a
Humanidade. O qui ombismo ut pico informado pe as pr ticas futuristas das Ia od s
sugere a abo iç o da tota idade desse mundo socia , e nos força a imaginar um outro
mundo.
Notas
1
Doutor em Antropo ogia pe a Universidade da Ca if rnia em San Diego; Professor da Universidade da
Ca if rnia em Riverside.
2
preciso que reconheçamos que F auzina e Pires n o defendem a minha interpretaç o de seu texto,
principalmente como eu o relaciono ao conceito da antinegritude -- esse ensaio de minha
responsabilidade exclusiva.
3
Todas as traduç es s o do autor.
4
Os ensaios autobiogr ficos de E dridge C eaver, um dos deres do Partido das Panteras Negras, abrem
uma janela para esses padr es de terror sexua perpetrado por homens negros. C eaver
descreve como que estuprou mulheres negras como "treinamento" para estuprar mulheres brancas.
Refer ncias
Alexander, Jacqui M. 2005. Pedagogies of Crossing: Meditations on Feminism, Sexual
Politics, Memory, and the Sacred. Durham: Duke University Press.
A ves, Jaime, Vargas, Jo o. . The Specter of Haiti: Structura Antib ackness, the
Far-Right Backlash and the Fear of a Black Majority in Brazil." Third World Quarterly
645-662.
Azevedo, Celia Maria Marinho de. 2004. Onda Negra, Medo Branco: O Negro no
Imagin rio das E ites do S cu o XIX. S o Pau o: Annab ume.
Bederman, Gail. 2008. Manliness and Civilization: A Cultural History of Gender and
Race in the United States, 1880-1917. Chicago: University of Chicago Press.
Churchill, Ward. 1997. A Little Matter of Genocide: Holocaust and Denial in teh
Americas, 1492 to the Present. San Francisco: City Lights Books.
Cohen, Cathy. 1997. "Punks, Bulldagger, and Welfare Queens: The Radical Potential
of Queer Politics?" GLQ 3 (4): 437-465.
. 1999. The Boundaries of Blackness: AIDS and the Breakdown of Black Politics.
Chicago: University of Chicago Press.
Collins, Patricia Hill. 1990. Black Feminist Thought: Knowledge, Consciousness, and
the Politics of Empowerment. New York, NY: Routledge.
Douglass, Patrice. 2018. "Black Feminist Theory for the Dead and Dying." Theory &
Event 21 (1): 106-123.
Fanon, Frantz. 1967. Black Skin, White Masks. Translated by Charles Lam Markman.
New York, NY: Grove Press.
Flauzina, Ana e Pires, Thula. . Uma Conversa de Pretas Sobre Vio ncia Sexua .
In Raça e G nero: Discrminaç es, Intersecciona idades e Resist ncias, by Beatriz,
Me o, Monica, Pimente , Si via, Ara jo, Pereira, Sim ia Eds. , - . S o Pau o: EDUC.
Haraway, Donna. 1991. "A Cyborg Manifesto." In Simians, Cyborgs, and Women: The
Reinvention of Nature, by Donna Haraway, 149-181. New York, NY : Routlege.
hooks, bell. 2004. We Real Cool: Black Men and Masculinity. London: Routledge.
Hull, Gloria, Patricia Bell Scott, and Barbara Smith. 1982. All the Women are White,
All the Blacks are Men, but Some of US are Brave. Old Wesbury, NY: Feminist Press.
James, Joy (ed.). 2005. The New Abolitionists: (Neo) Slave Narratives and
Contemporary Prison Writings. Albany, NY: State University of New York Press.
Jung, Moon-Kie. 2015. Beneath the Surface of White Supremacy: Denaturalizing U.S.
Racisms Past and Present. Stanford, CA: Stanford University Press.
Kelley, Robin. 2000. "'Slangin' Rocks... Palestinian Style: Dispatches from the
Occupied Zones of North America." In Police Brutality, by Jill (Ed.) Nelso, 21-59. New
York: Norton.
King, Tiffany Lethabo. 2019. The Black Shoals: Offshore Formations of Black and
Native Studies. Durham, NC: Duke University Press.
Miles, Tiya. 2015. Ties That Bind: The Story of an Afro-Cherokee Family in Slavery
and Freedom. Berkeley, CA: University of California Press.
Muhammad, Khalil. 2011. The Condemnation of Blackness: Race, Crime, and the
Making of Modern Urban America. Cambridge, MA: Harvard University Press.
Nascimento, Abdias do. 1989. Brazil, Mixture or Massacre?: Essays on the genocide of
a Black People. Dover, MA: Majority Press.
Patterson, William. 1971. The Man who Cried Genocide: an autobiography. New
York: International Publisher.
. 1951. We Charge Genocide: The Historic Petition to the United Nations for Relief
for a Crime of the United States government against the Negro People. New York:
Civil Rights Congress.
Richie, Beth. 2000. "Exploring the Link between Violence against Women and
Women's Involvement in Illegal Activity." Research on Women and Girls in the Justice
System: Plenary Papers in teh 1999 Conference on Criminal Justice Research and
Evaluation -- Enhancing Policy and Practice through Research. Washington, D.C.:
Department of Justice. 1-14.
Robinson, Cedric. 2000. Black Marxism: The Making of the Black Radical Tradition.
Chapel Hill, NC: The University of North Carolina Press.
Rocha, Luciane. . Morte ntima: a Gram tica do Genoc dio Antinegro na Baixada
F uminense. In Motim: Horizontes do Genoc dio Antinegro na Di spora, by Ana,
Vargas, Jo o H. Costa eds. Flauzina, 37- . Bras ia: Brado Negro.
. 2014. "Outraged Mothering: Black Women, Racial Violence, and the Power of
Emotions in Rio de Janeiro's African Diaspora." Doctoral Dissertation. Austin, TX:
University of Texas.
Sharpe, Christina. 2016. In the Wake: On Blackness and Being. Durham, NC: Duke
University Press.
Smith, Andrea. 2005. Conquest: Sexual Violence and American Indian Genocide.
Cambridge, MA: South End Press.
Smith, Christen. 2016. "Facing the Dragon: Black Mothering, Sequalae, and Gendered
Necropolitics in the Americas." Transforming Anthropology 31-48.
Snorton, C. Riley. 2017. Black on Both Sides: a Racial History of Trans Identity.
Minneapolis, MN: Minnesota University Press.
Spillers, Hortense. 2003. Black, White, and in Color: Essays on American Literature
and Culture. Chicago: The University of Chicago Press.
Taylor, Keeanga-Yamahtta. 2017. How We Get Free. Chicago, Il: Haymarket Books.
Vargas, Jo o H. Costa, e Jung, Moon-Kie. 2021. "Antiblackness of the Social and the
Human." In Antiblackness, Jung, Moon-Kie, e Vargas, Jo o H. Costa, -14. Durham,
NC: Duke University Press.
Wilderson, Frank. 2017. "Reciprocity and Rape: Blackness and the Paradox of Sexual
Violence." Women & Performance: a Journal of Feminist Theory 27 (1): 104-111.
Wilkerson, Isabel. 2014. "Mike Brown's shooting and Jim Crow Lynchings have too
much in common. ." The Guardian. August 25.
https://www.theguardian.com/commentisfree/2014/aug/25/mike-brown-shooting-
jim-crow-lynchings-in-common.