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Políticas Sociais

e Questões
Contemporâneas
Material Teórico
Políticas Sociais e Problemas Transversais III

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Esp. Mauricio Vlamir Ferreira

Revisão Técnica:
Prof. Me. Priscila Beralda Moreira de Oliveira
a

Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Políticas Sociais e Problemas
Transversais III

• As Demandas Globais e Nacionais em Torno do Problema da


Dependência de Drogas Enquanto Questão de Saúde Pública;
• A Questão das Ações em Relação à Redução de Danos no Âmbito
Nacional e Global;
• Análise Crítica das Políticas Sociais Brasileiras na Atualidade em
Relação às Drogas.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Explicar de que forma as políticas sociais são importantes ferramentas
na prevenção ao uso de drogas e na proteção aos usuários.
· Identificar como o Serviço Social em seu processo de consolidação se
aproximou das ações de prevenção ao uso de drogas e de tratamento
aos usuários.
· Elucidar de que forma as drogas influenciam a relação social e
pessoal dos usuários.
· Evidenciar a necessidade de um trabalho preventivo e de uma ação
que envolva a sociedade na questão de uma melhor proposta de
tratamento aos usuários.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Políticas Sociais e Problemas Transversais III

Contextualização
As drogas, como substâncias entorpecentes, sempre existiram na história, sendo
seu uso difundido por motivos religiosos, culturais, sociais ou pela busca de novas
experiências pessoais que pudessem dar algum tipo de relaxamento, estímulo ou
preparação aos homens para os desafios do seu cotidiano.

Vale considerar que, no decorrer da vida, tanto o tabaco como o cigarro provo-
cam e causam consequências danosas que, por muitas vezes, levam os usuários a
doenças crônicas – como o câncer de pâncreas, conhecido como cirrose, no caso
dos usuários do álcool; e o câncer de pulmão e enfisema pulmonar, no caso dos
usuários do tabaco.

A partir da dependência, os hábitos saudáveis passam a ser deixados de lado,


como os relacionamentos sociais, de lazer, além da necessidade do trabalho.

Atualmente existem possibilidades de tratamento dentro da especificidade e


do nível de gravidade do usuário dependente do uso de drogas. O CAPS A/D
(Centro de Atenção Psicossocial para usuários de Álcool e Drogas), por exemplo,
existe para os cuidados de usuários de menor gravidade, através de um sistema de
tratamento ambulatorial.

A partir de 2003, a política de redução de danos passa a ser encabeçada pelo


Ministério da Saúde, que passa a criticar os métodos de abstinência e a proibição
do uso de drogas, reposicionando as ações do Sistema Único de Saúde para a
implantação de uma estratégia nacional de redução de danos no Brasil.

O Assistente Social deve estar atento em visitas domiciliares e também no


atendimento individual dos usuários, observando como está o vínculo familiar desse
com os outros componentes de seu núcleo.

A discussão sobre a política de redução de danos deve passar também pelo


debate e pela ação educativa das comunidades. A ausência de uma política de
tratamento a usuários de drogas, em substituição a uma prática repressiva junto à
segurança pública, ocasionou um abismo entre o tratamento púbico e o tratamento
particular dos usuários de drogas.

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As Demandas Globais e Nacionais em Torno
do Problema da Dependência de Drogas
Enquanto Questão de Saúde Pública
As drogas, como substâncias entorpecentes, sempre existiram na história, sendo
seu uso difundido por motivos religiosos, culturais, sociais ou pela busca de novas
experiências pessoais que pudessem dar algum tipo de relaxamento, estímulo ou
preparação aos homens para os desafios do seu cotidiano.

O uso de substâncias alcoólicas por exemplo é milenar, estando algumas drogas


ao lado do desenvolvimento das sociedades dos tempos primitivos até os dias
atuais. A normatização, liberação ou proibição do uso de determinadas drogas
variam para cada país e em cada época da história.

A sociedade médica mundial define algumas drogas com potencialidade maior


ou menor de causarem danos aos seres humanos, seja por resultar em algum
transtorno físico, emocional ou psíquico.

As drogas nem sempre foram vistas como um fator de danos à saúde, sendo
indicadas muitas vezes, em tempos passados, como formas de sanar as dores e
os problemas de enfermidades, embora sem um estudo mais elaborado de seus
efeitos colaterais e de seus malefícios, passando assim as drogas a se deslocarem
do campo das religiões para o campo farmacêutico e da medicina.

A realidade do mundo atualmente conta com o uso de drogas como uma prática
existente em todos os locais. Alguns países como a Holanda e a Suíça praticam a
tolerância de alguns espaços específicos para o consumo de determinados tipos de
drogas. No Uruguai, a maconha é legalizada para o porte e brevemente a venda
dessa substância será permitida nas farmácias, assim como também o comércio e
o uso medicinal dessa substância foram liberados parcialmente nos Estados Unidos
(com algumas legislações específicas em alguns estados, embora ainda proibida
em outros).

No Brasil, há movimentos a favor e contrários


à legalização da maconha, que é considerada
droga ilícita pela legislação atual.

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UNIDADE Políticas Sociais e Problemas Transversais III

Figura 1 - Drogas ilícitas (Ex.: Maconha, Cocaína, ecstasy)


Fonte: iStock/Getty Images

No Brasil, o debate em relação à descriminalização das drogas, principalmente


em relação ao uso da maconha, ainda está começando, sendo necessária uma
ampla discussão com a sociedade sobre o tema. Mas talvez a questão principal
seja: quais os danos efetivos que a droga pode causar ao organismo humano?

As drogas lícitas ou legais – como o álcool e o tabaco – e as drogas ilícitas ou


ilegais – como a maconha, a cocaína, o crack, entre outras – alteram o Sistema
Nervoso Central (SNC) e a dependência dessas substâncias faz o consumo aumentar
cada vez mais, tornando-a um problema social, indo além do campo da saúde.

Em 2013, cerca de 185 milhões de pessoas, o que equivale a 3% da população


do mundo, consumia algum tipo de droga; sendo que 1,7milhões de brasileiros
usaram maconha e haxixe, segundo o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e
Crime (UNODC). Nesse período, 38 milhões de pessoas consumiram anfetaminas,
13 milhões de pessoas consumiram cocaína e 15 milhões de pessoas consumiram
heroína, morfina e ópio, sendo que o ecstasy foi utilizado por 8 milhões de pessoas.

A questão da dependência e do uso das drogas muitas vezes podem estar relaciona-
das não apenas ao consumo simplesmente, mas à existência de familiares dependentes,
o que pode potencializar o uso de substâncias químicas em novos usuários.

Confira a tabela abaixo:

Tabela 1 - Distribuição dos 7.939 entrevistados, segundo dependência


de drogas, nas 108 cidades com mais de 200 mil habitantes do Brasil
DEPENDÊNCIA
% de dependentes:
TIPO DE DROGA 2005
ÁLCOOL 12,3
TABACO 10,1
MACONHA 1,2
BENZODIAZEPÍNICOS 0,5
SOLVENTES 0,2
ESTIMULANTES 0,2

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De acordo com a tabela, em 2005 a maior dependência relacionada ao uso de
drogas estava relacionada ao álcool e ao tabaco, drogas consideradas socialmente
aceitas, porém que desenvolvem potencialmente ao longo do tempo um alto grau
de dependência em relação às outras drogas.

Figura 2 - Bebidas alcoólicas e cigarro de tabaco (ex.: Marlboro, Free)


Fonte: iStock/Getty Images

Vale considerar que, no decorrer da vida, tanto o tabaco como o cigarro


provocam e causam consequências danosas que, muitas vezes, levam os usuários a
doenças crônicas – como o câncer de pâncreas, conhecido como cirrose, no caso
dos usuários do álcool; e o câncer de pulmão e enfisema pulmonar, no caso dos
usuários do tabaco.

A partir da dependência, os hábitos saudáveis passam a ser deixados de lado,


como os relacionamentos sociais, de lazer, além da necessidade do trabalho. Esses
afazeres da rotina diária dessas pessoas passam a ser substituídos pela dependência
do prazer permitido pela substância química, que, com o passar do tempo, pede
uma dosagem cada vez maior, causando problemas físicos, síndrome de abstinência,
alterações de deterioração física, taquicardia, sudorese, entre outras alterações.

Atualmente, existem possibilidades de tratamento dentro da especificidade e


do nível de gravidade do usuário dependente. O CAPS A/D (Centro de Atenção
Psicossocial para usuários de Álcool e Drogas) existe para os cuidados de usuários de
menor gravidade, por meio de um sistema de tratamento ambulatorial. O tratamento
para dependentes químicos em situações mais graves é recomendado a partir da
concordância do paciente, ou compulsoriamente, por meio da determinação da
justiça. Nestes casos, a internação em locais especializados é uma possível ação a
ser realizada pela família.

A atenção aos usuários de drogas deve contar com uma equipe multiprofissional,
composta por assistentes sociais, psicólogos, enfermeiros, psiquiatras, terapeutas
ocupacionais, fisioterapeutas, educadores físicos, arte educadores, entre outros
profissionais que devem trabalhar sempre pela reabilitação e pela ressocialização como
meta principal, além da conscientização dessas pessoas de que a dependência em

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UNIDADE Políticas Sociais e Problemas Transversais III

relação às drogas é uma porta aberta a outros problemas pessoais e sociais. Para tanto,
a adesão do usuário ao tratamento é uma questão fundamental em sua reabilitação,
bem como a participação dos familiares em todo o processo de tratamento.

Ao longo do processo tradicional dos programas de tratamento dos usuários de


drogas, a abstinência é um fator preponderante para a reabilitação da dependência
e, por consequência, para a continuidade do tratamento.

Importante! Importante!

Para uma maior compreensão sobre os efeitos do uso de drogas, recomendamos que
você assista o filme: Diário de um adolescente. O filme trata a questão da drogadição e
os efeitos químicos das drogas e suas consequências na vida de um adolescente.
O link desse vídeo pode ser encontrado no material complementar para atividades de
aprofundamento.

A Questão das Ações em Relação à Redução


de Danos no Âmbito Nacional e Global
No final da década de 1980, com a organização dos movimentos sociais,
principalmente os movimentos de saúde que lutavam pela humanização das formas
de tratamento de saúde, além da chegada da descoberta do vírus HIV, que podia
contaminar pelo uso compartilhado de seringas, começam a aparecer algumas
tentativas e ações estratégicas denominadas de redução de danos, prática hoje
difundida como uma das alternativas às internações dos usuários de drogas. A
cidade de Santos é uma referência mundial no assunto por conta das ações e
políticas de redução de danos implantadas sob a coordenação do médico sanitarista
Davi Capistrano.

Essa estratégia, a partir de seu sucesso na prevenção do HIV e na constatação da


aceitação dos usuários, foi contemplada na Lei 10.216 de 2001, legitimando em
seu bojo a reforma psiquiátrica da saúde mental, trazendo os direitos do tratamento
de saúde mental aos usuários de drogas. Também no ano de 2001 a implantação da
Política Nacional Antidrogas (PNAD) acabou por contemplar estratégias, na forma
de atenção individual ou coletiva, em caráter preventivo à aquisição de doenças
infectocontagiosas e para a redução de danos.

Porém, a PNAD não especifica quais as práticas e quais métodos são utilizados
especificamente na questão da redução de danos. A partir de 2003, a política de
redução de danos começa a ser encampada pelo Ministério da Saúde, que passa a
criticar os métodos de abstinência e a proibição do uso de drogas, reposicionando
as ações do Sistema Único de Saúde para a implantação de uma estratégia nacional
de redução de danos no Brasil.

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Desde 2005, a Política Nacional sobre Drogas possibilita ao usuário de drogas
ser ouvido e amplia as ações do Estado através da criação do Plano Emergencial
de Ampliação e Acesso ao Tratamento e a Prevenção em Álcool e outras Drogas
no Sistema Único de Saúde (PEAD). Porém, o desafio de continuar o trabalho de
implantação da política de redução de danos é grande.

A discussão da redução de danos na comunidade acadêmico-científica leva a


alguns pontos polêmicos. Esses pontos aparecem uma vez que há uma variação
entre as expectativas de diminuição potencial da redução do uso de drogas pelo
usuário e a sua subjetividade, ou seja, a experiência pessoal e individual das pessoas
que podem diminuir ou não o consumo das drogas através das políticas de redução
de danos.

Para a comunidade científica, existem alguns pontos a


serem analisados:
A recusa da validade da estratégia no âmbito da preven-
ção, sob o argumento de falta da sua cientificidade;
A aceitação parcial da redução de danos;
A aceitação total da estratégia.

No entanto, a experiência realizada com as equipes dos CAPS A/D em São


Paulo demonstram um interessante resultado, quando treinadas e fortalecidas em
novas tecnologias para subsidiar suas intervenções. O serviço de Saúde Mental
Álcool e Drogas do município de São Paulo, em parceria com a DST/AIDS, vem
seguindo o seguinte modelo de intervenção:
· Redução de danos é um instrumental abrangente embasado em conceitos
da Saúde Pública e, portanto, replicável para todos os usuários dos serviços,
e não só para o UDI. Implica em considerar que a abstinência não é o foco
do cuidado ao usuário que é acessado ou chega ao serviço, seja ele UDI
ou não;
· A mudança de padrão de consumo de droga é uma meta, pois, passar
de um padrão ou forma de uso de drogas de maior risco para um de menor
risco pode ser uma meta demandada pelo próprio usuário ou estabelecida
em conjunto com os profissionais da equipe vinculados a esse usuário;
· Outro passo a ser internalizado pelas equipes é o das terapias de
substituição, pois, como a droga ilegal de uso mais difundido no Brasil é
a cocaína, não há droga de substituição reconhecida. Portanto, substituir
um padrão de consumo de injetável por aspirado, por exemplo, ou a
cocaína/crack pela maconha, constitui-se em um recurso possível para a
minimização dos riscos a esse usuário e à sua rede social;
· A prevenção de overdose ou de intoxicação aguda, quando assimilada
pelas equipes e, assim, passível de ser transmitida aos usuários, pode ser

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UNIDADE Políticas Sociais e Problemas Transversais III

uma forma de redução de graves danos à saúde ou mesmo a evitação


da morte;
·· Oferecimento de insumos de prevenção, ou seja, dos kits para os UDIs,
assim como kits específicos para usuários de outras drogas, como a oferta
de cachimbos aos usuários de crack ou canudos descartáveis para os que
utilizam cocaína aspirada;

A partir dessas estratégias, as ações foram sendo consolidadas e atingidas com


maior ou menor grau de dificuldade na aceitação desses conceitos. A mudança de
paradigmas e novos métodos como o da redução de danos devem ser cada vez
mais aceitos, uma vez que a convivência com o uso de drogas é uma realidade cada
vez mais próxima de todas as famílias.

Expressões da questão social devem cada vez mais ser trabalhados nos
atendimentos sociais juntamente com a política de redução de danos, uma vez que
muitos problemas decorrentes do uso de drogas podem estar contidos dentro da
realidade dos sujeitos e em suas relações sociais cotidianas.

O Assistente Social deve estar atento em visitas domiciliares e também no


atendimento individual dos usuários, observando como está o vínculo familiar desse
com os outros componentes de seu núcleo. É importante também a identificação
de casos de violência doméstica, do preconceito vivido pelo usuário e até que ponto
a questão da falta de sua inserção no mundo do trabalho pode prejudicar o seu
desenvolvimento e sua inserção social.

A discussão sobre a política de redução de danos deve passar também pelo


debate e pela ação educativa das comunidades. Muitos usuários sofrem com as
questões do abuso da violência policial, em ameaças nas abordagens ocorridas
principalmente nas grandes cidades do Brasil.

As estratégias relacionadas às questões sobre a prevenção e o uso de drogas no


país não têm um modelo único e devem ser pensadas a partir do conhecimento da
realidade do território vivido. Tanto as políticas de prevenção como as políticas de
redução de danos devem ser elencadas em todos os setores sociais, desde as escolas
de ensino fundamental. Em um futuro breve, a educação deverá ser incluída nessas
ações de modo a existir um diálogo e uma maior compreensão dos problemas
vivenciados pelos usuários de drogas.

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Figura 3 - Reunião em grupo
Fonte: iStock/Getty Images

A questão das drogas deve sempre ser tema de debates nas comunidades
acadêmicas, independente da disciplina. A interdisciplinaridade no trabalho em
relação a novos conceitos de abordagem, práticas e alternativas sobre a questão da
diminuição da dependência das drogas deve ter o empenho de todos. E para tanto,
o diálogo deve ser o instrumento fundamental para que a sociedade possa trabalhar
abertamente esse tema, sem preconceitos, acolhendo sempre quem precisa de
nosso apoio.

Importante! Importante!

Para uma maior compreensão sobre a questão da redução de danos, recomendamos que
você assista ao vídeo: O que é redução de danos? O vídeo traz um conteúdo explicativo
que coloca em debate o uso, o consumo e a questão do fim da guerra às drogas.
O link desse vídeo pode ser encontrado no material complementar para atividades
de aprofundamento.

Análise Crítica das Políticas Sociais Brasileiras


na Atualidade em Relação às Drogas
Os conceitos elencados sobre a proibição do uso de drogas no mundo têm
considerado o fator da alteração da produtividade e da capacidade de alienação
do ser humano, o que preocupava e muito os países europeus que vivenciavam
a Revolução Industrial e viam na massa trabalhadora afetada pelo consumo das
drogas um enorme prejuízo frente para as suas linhas de produção.

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UNIDADE Políticas Sociais e Problemas Transversais III

Figura 4 - Blitz policial em repressão ao tráfico de drogas


Fonte: iStock/Getty Images

A partir de então, dá-se a repressão, o intervencionismo, a proibição e o combate


às drogas. Esse combate tem por meta, até os dias atuais, a redução da oferta e da
procura pelas drogas, porém não prioriza os métodos preventivos, a característica
das drogas, mas atuam pela via de repressão aos usuários, da degradação moral e
pela vertente do mundo do crime. Assim, os modelos repressivos desencadeiam a
perseguição, a prisão dos usuários e a definição da dependência como uma doença
orgânica, como outra qualquer.

A intenção dos métodos repressivos é a utilização da proibição como uma


ação coercitiva de convencimento moral, fazendo com que a sociedade perceba
o usuário de droga como alguém degradado, gerando a intolerância em relação
ao usuário de drogas. Contudo, a mesma repressão histórica não foi percebida ao
longo do tempo em relação ao consumo do álcool e do tabaco. A tolerância social
em relação ao consumo dessas drogas é um fato presente em todo o mundo.

Apenas recentemente, campanhas relacionadas à proibição publicitária do


tabaco em eventos esportivos e avisos sobre a toxicidade do cigarro vêm ganhando
apoio de governos em vários países. No Brasil, a Lei Federal 12.546 de 2011,
conhecida como Lei Antifumo, definiu a proibição do cigarro em locais públicos
total ou parcialmente fechados. Em relação à restrição de bebidas alcoólicas no
país, a Lei 10.671 de 2003 proíbe o consumo desses produtos em estádios e
arenas esportivas.

Além dessas restrições, a venda de cigarros e


bebidas alcoólicas é proibida para menores de
18 anos, segundo a Lei 9.294 de 2010.

Porém, apesar da limitação e da proibição do uso do cigarro e de bebidas


alcoólicas por parte do Estado, essas drogas lícitas tem uma aceitação social que
denota uma liberdade e, algumas vezes, até o incentivo ao seu uso em círculos de
amizade e, até mesmo, em outros casos, em ambientes familiares.

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Tabela 2 - Produtos Campeões de Carga Tributária em 2014

Em
Porcentagem PIS COFINS ICMS IPI Outros Total
( %)
Cachaça 1,65 7,6 25 46 1,62 81,87
Casaco de Pele
1,65 7,6 25 40 7,61 81,86
de Vison
Vodca 1,65 7,6 25 38 9,27 81,52
Cigarro 1,65 7,6 18 48 5,17 80,42
Perfume
1,65 7,6 25 42 2,18 78,43
Importado
Caipirinha 1,65 7,6 25 40 2,41 76,66
Videogame -
1,65 7,6 25 30 7,93 72,18
Console
Arma de Fogo 1,65 7,6 18 40 4,33 71,58
Jogos de
1,65 7,6 25 32 4,93 71,18
Videogame
Maquiagem 1,65 7,6 25 30 4,79 69,04
Motocicleta
1,65 7,6 25 28 2,4 64,65
acima de 250 cc
Chope 1,65 7,6 25 25 2,95 62,2
Mesa de bilhar 1,65 7,6 25 25 2,8 62,05

Conforme demonstra a tabela acima, o álcool e o tabaco estão entre os produtos


que geram maior arrecadação de impostos para o Governo nas esferas federal,
estadual e municipal.

Em decorrência desse fato, o uso do álcool e do tabaco ainda são alvo de tímidas
ações dos governos, tanto no combate como no tratamento de usuários dessas
drogas lícitas, mesmo com a pressão da sociedade médica no país. As políticas
mais intransigentes utilizadas pela repressão ao uso de drogas são elaboradas
sobre a denominação de “guerra às drogas”, que envolve o planejamento de
ações, a utilização de tecnologias em testes, vigilância de fronteiras e de áreas de
maior incidência do tráfico, utilização de parceria da polícia com a justiça, prisão
compulsória de traficantes e usuários, testes de uso de drogas em rodovias (como
o bafômetro), aeroportos, entre outros locais.

Esse aparato de combate e a ligação com a criminalidade comum acabaram por


aumentar o aparato policial para esse tipo de combate aos atos ilícitos, ocasionando
um significativo aumento de prisões e mortes em países que utilizam essa estratégia,
como o Brasil. Porém, as estratégias da guerra ao tráfico e do uso das drogas vêm
ampliando o debate na sociedade sobre a validade e a eficiência dessas políticas nos
países que desenvolvem essa política de repressão, acarretando também o estigma
e o preconceito a quem faz uso das drogas.

Assim, as políticas públicas pensadas sobre o tema da drogadição são estratégias


novas no Brasil. As drogas em no país não passavam por nenhuma limitação,
fiscalização ou proibição no início do século XX. Conforme o desenvolvimento

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UNIDADE Políticas Sociais e Problemas Transversais III

urbano e o processo de industrialização nacional, o uso começou a ser reprimido


por meio da força policial e da internação compulsória dos usuários de cocaína
e ópio, que não conseguiam controlar a intensidade de seus vícios, sendo
consequentemente indicado o afastamento do convívio com a sociedade.

Segundo o Decreto-Lei 891 de 1938, o Estado passaria a reconhecer de


maneira oficial essa questão, fiscalizando o uso de drogas, colocando no rol das
drogas ilícitas a heroína, a cocaína e a maconha. De acordo com esse decreto, o
uso de drogas passaria a ter uma classificação na categoria das doenças, havendo a
proibição de seu tratamento na casa do paciente, sendo obrigatória a internação em
hospitais psiquiátricos, quando em ordem judicial, tendo a alta hospitalar definida
apenas pelo médico responsável quando da internação, embasado em laudos que
comprovassem o retorno da sanidade do paciente.

Visando colocar uma hipotética distância dos trabalhadores da questão


da drogadição, essa legislação foi incorporada em 1941 ao Código Penal e
posteriormente consolidado na Lei 6.368 de 1976. Durante as décadas de 1970,
1980 e 1990, o absenteísmo, o combate ao tráfico de drogas e a política clínica de
utilização de medicamentos acabaram por conceituar a dependência e não o vício
dos usuários.

Fica claro assim o direcionamento do combate histórico às drogas como


uma ação de segurança pública e não preventivamente como uma questão de
investimentos em campanhas de saúde. A saúde pública efetivamente como forma
de implantação de políticas públicas de prevenção ao uso de drogas surge apenas
na década de 1980 e evidencia uma grande questão até então não enfrentada
de forma clara pela sociedade: a maior parte das internações psiquiátricas era
decorrente do abuso de álcool no Brasil.

A ausência de uma política de tratamento a usuários de drogas, em substituição


a uma prática repressiva junto à segurança pública, ocasionou um abismo entre o
tratamento púbico e o tratamento particular dos usuários de drogas. A ausência
dessa política pública na década de 1980 oportunizou a instalação de comunidades
terapêuticas de caráter religioso, sem vínculos com órgãos púbicos do governo.

Na segunda metade desse período, foi constatada a falência da chamada “guerra


contra as drogas” e, uma vez embasado nos esforços da luta dos movimentos
sociais de direitos humanos, o Estado brasileiro passa a se preocupar em elaborar
ações e políticas públicas voltadas aos usuários de drogas ilícitas.

Na contramão do Estado e da internação das comunidades terapêuticas, desde


1978 o Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), que congregava
os trabalhadores, familiares e membros de associações profissionais, lutava
pelos direitos dos pacientes psiquiátricos, denunciando a violência e gerando um
movimento de luta antimanicomial, sendo preponderante essa luta para o início de
um processo de debates com a sociedade brasileira.

Esse processo, contrário ao domínio institucionalizado da psiquiatria e do modo


de gerenciamento privado dos chamados manicômios, levou ao caráter público

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denúncias de abusos em relação a pacientes internados nos locais de internação
psiquiátrica e em comunidades terapêuticas. Passa a surgir então a necessidade da
Reforma Psiquiátrica no país.

Em conjunto com a necessidade da Reforma Psiquiátrica no Brasil, no início da


década de 1990, há o avanço da AIDS no mundo e a consciência do Estado e da
sociedade que o uso de drogas se tornava um problema de saúde, tanto quanto um
problema social, exigindo a elaboração de uma legislação atualizada sobre o tema.

Somente em 2001, após anos de intensa luta no Congresso Nacional, o projeto


de lei que tramitava desde 1987 foi aprovado e a Lei Federal 10.216 foi sancionada,
trazendo importantes mudanças em relação à assistência em saúde mental. Essa
nova lei procurou garantir a universalidade de acesso e direito à assistência, além
da integralidade dos serviços, valorizando e descentralizando-os, procurando dar
uma proximidade para o tratamento aos usuários de álcool e drogas, evitando a
ruptura da vivência social dos usuários.

A partir da III Conferência Nacional em Saúde Mental, no ano de 2002, o


Ministério da Saúde implanta o Programa Nacional de Atenção Comunitária
Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas, admitindo assim a necessidade
da construção de políticas públicas específicas para a prevenção ao uso das drogas
e para a acolhida e o tratamento dos usuários de drogas no país.

Com a chegada da lei 10.409 de 2002, que trata de uma nova abordagem do
Estado sobre as drogas no Brasil, a punição dos usuários passa a sugerir um rol de
até dez penas alternativas ou a pena de dois anos de reclusão. Essa nova legislação
foi revista em 2006 e constituída na Lei 11.343, que dita com maior clareza sobre
a posse e o uso de drogas em pequenas quantidades, separando o usuário e seu
consumo pessoal do traficante que negocia, compra e vende grandes quantidades
de drogas.

Assim a justiça abre as portas para a descriminalização do uso de drogas,


diminuindo a influência penal e jurídica na questão do consumo individual de
substâncias ilícitas, mas ainda normatizando e repreendendo a produção ilegal e o
tráfico de drogas no país.

No ano de 2005, o Governo Federal desenvolveu a Política Nacional sobre


Drogas e em 2007 instituiu o Decreto 6.117 que instituiu a Política Nacional sobre
o Álcool, no sentido de redução do uso dessas substâncias, acabando por pensar e
executar estratégias de prevenção em relação à violência e à criminalidade, como
consequências ao uso das substâncias químicas.

Desde 2010 foi implantado no país o Plano Intersetorial de Enfrentamento ao


Crack e outras Drogas, elencando as ações de prevenção, cuidados e autoridade
cujos direcionamentos permitem a capacitação de técnicos que possam se apropriar
de conhecimentos através de estudos sobre o crack e também outras drogas, com
a aplicação dessas pesquisas e desses estudos em centros públicos de tratamento
e prevenção.

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UNIDADE Políticas Sociais e Problemas Transversais III

Nesse sentido, há a perspectiva do aumento de atendimento dos usuários pelo


Sistema Único de Saúde através do avanço da implantação de CAPS A/D (Centros
de Atenção Psicossocial para os usuários de Álcool e Drogas), com equipes cada
vez mais especializadas e preparadas para lidar com as questões de atendimento
aos usuários de álcool e drogas.

Também há a perspectiva do Estado em melhorar o sistema de repreensão


do tráfico de drogas com a melhor tecnologia desenvolvida atualmente. Porém,
apesar dos avanços, as discussões sobre o tratamento dos usuários no país estão
amplamente abertas e existem projetos que atualmente discutem desde a internação
compulsória até a ampliação e o fortalecimento das comunidades terapêuticas
no país.

Além dessa discussão, o enfrentamento diário dos problemas urbanos vividos


pelos usuários de núcleos de consumo de drogas, como a cracolândia na região
central da cidade de São Paulo, leva a compreensão de que devem ser ouvidos
todos os lados da sociedade para o melhor encaminhamento e a ação do estado
sobre a comunidade desses locais, incluindo-se os outros moradores, não usuários.

Atualmente na cidade de São Paulo, a política da Assistência Social define os


Centros de Referência Especializado para População em Situação de Rua (POP).
Essas unidades públicas e estatais de abrangência municipal funcionam dentro
do Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua que, de acordo com
a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, identificam os serviços da
Proteção Social Especial de Alta Complexidade.

Um outro serviço importante que atende aos usuários de


drogas no centro de São Paulo é o Centro de Referência de
Álcool, Tabaco e Outras Drogas (CRATOD), órgão criado pelo
Decreto 46.860 em 2002 pelo Governo do Estado de São
Paulo, de acordo com a lógica do Sistema Único de Saúde,
o Programa Nacional de Atenção Comunitária Integrada a
Usuários de Álcool e Outras Drogas.

O local conta com uma equipe multiprofissional de atendimento e faz


encaminhamentos para tratamentos de usuários de álcool e drogas, além de
cadastrar e encaminhá-los a programas sociais do governo.

Importante! Importante!

Para uma maior compreensão sobre os graves problemas sociais do mundo e do meio
ambiente, recomendamos que você assista ao vídeo: CAPS A/D, a Saúde, o Álcool e
outras Drogas. O vídeo traz a explicação da funcionalidade do CAPS A/D e o trabalho
em relação ao tratamento dos usuários de Álcool e Drogas. O link desse vídeo pode ser
encontrado no material complementar para atividades de aprofundamento.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Diário de um Adolescente
https://youtu.be/nZVJPV7Sjl4
O que é Redução de Danos
https://goo.gl/O3nPdK
CAPS A/D, a Saúde, o Álcool e outras Drogas
https://goo.gl/iXUr63

Leitura
Os Programas de Redução de Danos como Espaços de Exercício da Cidadania dos Usuários de Drogas
Isabela Saraiva de Queiroz
https://goo.gl/WobTXt
Políticas sobre Drogas no Brasil: A Estratégia de Redução de Danos
Letícia Vier Machado e Maria Lúcia Boarini
https://goo.gl/4Ggb1M
Estudo/Pesquisa – Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil:
Estudo Envolvendo as 108 Maiores Cidades do País
E. A. Carlini (supervisão) [et. al.], UNIFESP II - São Paulo - Universidade Federal de
São Paulo. CEBRID – Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas Psicotrópicas.
https://goo.gl/2P1AO1

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UNIDADE Políticas Sociais e Problemas Transversais III

Referências
ASSUMPÇÃO, Alessandra de Fátima Almeida; GARCIA, Maria Lúcia.
Entraves e avanços no processo da descriminalização da maconha. XII
CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA GT: SAÚDE E SOCIEDADE.
Disponível em: http://www.sbsociologia.com.br/portal/index.php?option=com_
docman&task=doc_download&gid=331&Itemid=171

BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. 6. ed.


São Paulo: Cortez, 2009.

CENTRO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO SOBRE DROGAS PSICOTRÓPICAS


– CEBRID. Levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no
Brasil: estudo envolvendo as 108 maiores cidades do país. São Paulo: Universidade
Federal de São Paulo, 2006. Disponível em: <http://www.cebrid.com.br/wp-
content/uploads/2014/10/II-Levantamento-Domiciliar-sobre-o-Uso-de-Drogas-
Psicotr%C3%B3picas-no-Brasil.pdf>.

DELBON, Fabiana; ROS, Vera da; FERREIRA, Elza Maria Alves. Avaliação da
disponibilização de Kits de redução de danos. Disponível em: <http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902006000100005#back1a>.

MACHADO, Letícia Vier; BOARINI, Maria Lúcia Boarini. Políticas sobre


drogas no Brasil: a estratégia de redução de danos. Universidade Estadual
de Maringá. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1414-98932013000300006>.

QUEIROZ, Isabela Saraiva de. Os programas de redução de danos como espaços


de exercício da cidadania dos usuários de drogas. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932001000400002>.

SADER, E. S. Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o estado democrático.


São Paulo: Paz e Terra, 2010.

UNASUS. Drogas: um dos principais problemas de saúde pública no mundo.


Disponível em: <http://www.unasus.ufma.br/site/servicos/noticias/28-
dependencia-quimica/692-drogas-um-dos-principais-problemas-de-saude-publica-
no-mundo>.

YAZBEK, M. C. A Política Social Brasileira no Século XXI: a prevalência dos


programas. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

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