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CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

MÉDICO-CIRÚRGICA

Cuidar com segurança na administração de componentes sanguíneos

Maria Clara de Matos Pina

Coimbra, Outubro de 2013


CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

MÉDICO-CIRÚRGICA

Cuidar com segurança na administração de


componentes sanguíneos

Maria Clara de Matos Pina

Orientador: Professor Doutor José Carlos Amado Martins, Professor Adjunto,


Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.

Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra para


obtenção do grau de Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica

COIMBRA

Outubro, 2013
AGRADECIMENTOS

Ao Professor Doutor José Carlos Amado Martins pela sua incansável ajuda, pelo
incentivo inesgotável e excelente orientação. Um agradecimento muito especial pela
forma sábia e amiga como conduziu a orientação. Sem o seu empenho este
trabalho não teria sido realizado. A minha sincera gratidão.

Ao Conselho de Administração e à Comissão de Ética do Centro Hospitalar e


Universitário de Coimbra, E.P.E. pela viabilização do estudo através da autorização
para aplicação do instrumento de colheita de dados.

À Comissão de Ética da Unidade de Investigação em Ciências da Saúde da Escola


Superior de Enfermagem de Coimbra, pelo parecer favorável para a realização do
estudo.

Ao Exmº Sr. Doutor Jorge Tomaz, Director do Serviço de Sangue e Medicina


Transfusional, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, pelo apoio e prontidão
com que emitiu o parecer favorável que tornou possível a concretização do estudo.

Aos Srs. Directores dos Serviços de Medicina Intensiva, Hematologia,


Gastroenterologia, Cardiologia, Neurologia e Psiquiatria, pelo seu parecer favorável
para a aplicação do instrumento de colheita de dados.

Aos Srs. Enfermeiros Chefes que tão prontamente autorizaram a realização do estudo.

Aos colegas dos serviços que de forma tão generosa, disponibilizaram o seu precioso
tempo para participaram no estudo.

Às colegas e amigas do Serviço de Sangue e Medicina Transfusional pelo incansável


apoio, disponibilidade e amizade. Bem hajam!

Aos demais profissionais do Serviço de Sangue e Medicina Transfusional pela


disponibilidade e contributo.

A todos os meus amigos, sem excepção, pela ajuda e pelo inestimável apoio e alegria
que souberam dar-me quando a desmotivação e o cansaço persistiam. As minhas
palavras não conseguem expressar a minha gratidão.

À minha família…………………………….

… a minha profunda gratidão e reconhecimento.


LISTA DE SIGLAS

AABB – American Association of Blood Banks

EDSA – Eritrócitos Desleucocitados em solução aditiva

IPS - Instituto Português do Sangue

HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana

HUC – Hospitais da Universidade de Coimbra

PHI – Plasma humano inactivado

PPD – Pool de plaquetas desleucocitadas

PAD – plaquetas de aférese desleucocitadas

SETS – Sociedad Espanõla de Transfusión Sanguínea y Terapia Celular

SSMT – Serviço de Sangue e Medicina Transfusional


RESUMO

A transfusão de sangue e seus derivados é uma medida terapêutica essencial, no


exercício da prática clínica. Contudo, tal como outras medidas terapêuticas, não é
isenta de riscos evitáveis, cuja ocorrência continua a ser uma das principais causas de
morte, associadas à transfusão. Preocupados com a segurança transfusional, os
profissionais do Serviço de Sangue e Medicina Transfusional, dos Hospitais da
Universidade de Coimbra, EPE, desenvolveram diversas estratégias formativas junto
dos enfermeiros do hospital, procurando a consolidação de conhecimentos e o
cumprimento das recomendações Nacionais e Comunitárias existentes.

Foi neste contexto que surgiu o presente estudo, centrado na temática do cuidar da
Pessoa doente submetida a transfusão de componentes sanguíneos, tendo como
objectivos: analisar a percepção dos enfermeiros sobre os próprios conhecimentos
relativos aos componentes sanguíneos, pré, per e pós transfusão, sobre a aplicação
das recomendações constantes nos flyers e sobre os conhecimentos relativos às
complicações e efeitos adversos da transfusão; conhecer a opinião dos enfermeiros
sobre a importância da implementação de orientações e protocolos relativos aos
cuidados de enfermagem na administração de componentes sanguíneos e sobre a
importância de implementar programas de formação contínua, que permitam melhorar
a qualidade e a segurança transfusional.

É um estudo de índole quantitativo, descritivo, analítico e exploratório, com recolha de


dados por questionário junto de amostra não probabilística, intencional.

Os resultados obtidos revelaram que a maioria dos enfermeiros considera adequado e


muito adequado o seu nível de conhecimentos sobre administração de componentes
sanguíneos e sobre reacções transfusionais e muito e totalmente importante a
elaboração de normas e protocolos relativos aos cuidados de enfermagem na
transfusão de componentes sanguíneos, bem como o desenvolvimento de programas
de formação contínua no tema. A maioria dos enfermeiros refere, ainda, cumprir
sempre e quase sempre as recomendações dos flyers. Contudo, ainda que em
número reduzido, há enfermeiros que descuram procedimentos base da segurança
transfusional.

Palavras-chave: enfermeiro; transfusão de sangue; formação; segurança.


ABSTRACT

Transfusion of blood and blood products is an essential therapeutic measure in the


course of clinical practice. However, as other therapeutic measures, it is not free from
avoidable risks whose occurrence remains a major cause of death associated with
transfusion. Concerned about the safety of blood transfusion, the professional workers
of the Blood and Transfusion Medicine Service, of the University Hospitals of Coimbra,
EPE, developed several training strategies among hospital nurses, seeking to
consolidate knowledge and accomplishment of the national and community
recommendations that exist nowadays.

It was in this context that the present study appeared, focused on the theme of taking
care of patients subjected to transfusion blood components, with the following
objectives: to analyze the perception of nurses about their knowledge concerning blood
components, pre, peri and post transfusion on implementation of the recommendations
contained in flyers and on the knowledge concerning the complications and adverse
effects of transfusion; to know the nurses' opinion on the importance of the
implementation of guidelines and protocols for nursing care in the administration of
blood components and the importance of implementing continuing education programs
in order to improve the quality and safety of blood transfusion .

It is a study of quantitative, descriptive, analytical and exploratory character, with data


collection through questionnaires towards an intentional non-probabilistic sample.
The results revealed that most nurses consider appropriate and very appropriate their
level of knowledge about administration of blood components and transfusion reactions
and very and totally important the development of standards and protocols for nursing
care in the transfusion of blood components, as well as the development of continuing
education programs on the subject. Most nurses also refer that they accomplish always
or almost always the recommendations of flyers. However, although in a few number,
there are nurses who neglect the basic procedures concerning transfusion safety.

Keywords: nurse, blood transfusion, training, safety.


ÍNDICE DE QUADROS

Pg.
Quadro 1 – Compatibilidade entre grupos sanguíneos do sistema ABO………….. 23
Quadro 2 – Número de componentes transfundidos por serviço de 01/01/10 a
31/05/11…………………………………………………………………………………… 62
Quadro 3 – Distribuição dos enfermeiros, por serviço………………………………. 69
Quadro 4 – Distribuição da amostra segundo o género…………………………….. 70
Quadro 5 - Distribuição da amostra segundo o grupo etário……………………….. 70
Quadro 6 – Distribuição da amostra de acordo com o tempo de serviço…………. 70
Quadro 7 – Distribuição da amostra segundo a periodicidade com que se
realizam transfusões ……………………………………………………………………. 71
Quadro 8 – Distribuição da amostra de acordo com a obtenção de formação na
área da Medicina Transfusional para Enfermeiros……………………………........... 71
Quadro 9 – Distribuição da amostra de acordo com obtenção de formação na
área da Medicina Transfusional para enfermeiros e a frequência com que
realizam transfusões…………………………………………………………………...... 71
Quadro 10 - Distribuição da amostra de acordo com o nível de importância
atribuído a programas de formação sobre Medicina Transfusional para
enfermeiros……………………………………………………………………….……….. 72
Quadro 11 - Distribuição da amostra de acordo com o nível de importância
atribuído ao desenvolvimento de programas de formação sobre Medicina
Transfusional para enfermeiros e a frequência com que realizam transfusões…... 72
Quadro 12 - Distribuição da amostra quanto ao conhecimento da
Recomendação 18 (2004) do Conselho da Europa………………………………...... 73
Quadro 13 - Distribuição da amostra de acordo com o conhecimento da
Recomendação 18 (2004) e a frequência com que realizam transfusões no
serviço……………………………………………………………………………………... 73
Quadro 14 - Distribuição da amostra de acordo com o próprio nível de
conhecimentos sobre a intervenção do enfermeiro na administração de
componentes sanguíneos………………………………………………………………. 73
Quadro 15 - Distribuição da amostra de acordo com o próprio nível de
conhecimentos sobre a administração de componentes sanguíneos e a
frequência com que transfundem………………………………………………………. 74
Quadro 16 - Distribuição da amostra de acordo o conhecimento dos flyers……... 74
Quadro 17 - Distribuição da amostra de acordo o conhecimento dos flyers e a
frequência com que realizam transfusões…………………………………………….. 74
Quadro 18 - Distribuição da amostra de acordo com o nível de importância
atribuído à informação contida nos flyers……………………………………………… 75
Quadro 19 - Distribuição da amostra de acordo com o nível de importância
atribuído aos flyers e a frequência com que realizam transfusões no serviço…….. 75
Quadro 20 - Distribuição da amostra de acordo com a utilização dos flyers para
o esclarecimento de dúvidas……………………………………………………............ 75
Quadro 21 - Distribuição da amostra de acordo com a utilização dos flyers para
o esclarecimento de dúvidas e a frequência com que realizam transfusões……… 76
Quadro 22 – Distribuição da amostra de acordo com a contribuição dos flyers
para a melhoria dos conhecimentos sobre administração de componentes 76
sanguíneos………………………………………………………………………………...
Quadro 23 – Distribuição da amostra de acordo com a contribuição dos flyers
para a melhoria dos conhecimentos sobre administração de componentes
sanguíneos e a frequência com que realizam transfusões………………………….. 76
Quadro 24 - Distribuição da amostra de acordo com os recursos utilizados para
o esclarecimento de dúvidas relativas ao processo transfusional………………….. 77
Quadro 25 - Distribuição da amostra de acordo com os recursos utilizados para
o esclarecimento de dúvidas relativas ao processo transfusional e a frequência
com que realizam transfusões………………………………………………………….. 77
Quadro 26 - Distribuição da amostra de acordo com o procedimento de
identificação e colheita de sangue para testes pré-transfusionais………………….. 78
Quadro 27 – Distribuição da amostra de acordo com o modo de actuação na
identificação dos tubos de análises para realização de testes pré transfusionais e
o número de transfusões realizado…………………………………………………...... 78
Quadro 28 - Distribuição da amostra de acordo com o modo de actuação relativo
à identificação do doente/componente, antes de iniciarem a transfusão………….. 79
Quadro 29 - Distribuição da amostra de acordo com o modo de actuação na
identificação do doente/componente, antes de iniciarem a transfusão e o número
de transfusões realizadas……………………………………………………………….. 79
Quadro 30 - Distribuição da amostra de acordo com a forma de proceder relativa
à confirmação do tipo e volume do componente sanguíneo prescrito……………... 79
Quadro 31 - Distribuição da amostra de acordo com a confirmação do tipo e
volume do componente sanguíneo prescrito pré transfusão e com o número de
transfusões realizadas………………………………………………………………….... 80
Quadro 32 – Distribuição da amostra de acordo com a avaliação dos parâmetros
vitais pré transfusão………………………………………………………...................... 80
Quadro 33 – Distribuição da amostra de acordo com a avaliação dos parâmetros
vitais pré transfusão e o número de transfusões realizados…………...................... 81
Quadro 34 - Distribuição da amostra relativa aos ensinos pré-transfusão………... 81
Quadro 35 - Distribuição da amostra de acordo com os ensinos ao doente, pré-
transfusão e com o número de transfusões realizadas……………………………… 82
Quadro 36 - Distribuição da amostra relativa à certificação da prescrição de pré
medicação…………………………………………………………………………………. 82
Quadro 37 - Distribuição da amostra de acordo com a certificação da prescrição
de pré medicação e com o número de transfusões realizadas……………………... 83
Quadro 38 - Distribuição da amostra relativa à devolução dos componentes……. 83
Quadro 39 - Distribuição da amostra de acordo com a devolução dos
componentes ao SSMT e o número de transfusões efectuado…………………….. 83
Quadro 40 - Distribuição da amostra de acordo com a utilização do sistema
enviado com os componentes para a sua administração……………………………. 84
Quadro 41 - Distribuição da amostra de acordo com a utilização do sistema
enviado com os componentes para a sua administração e com o número de
transfusões efectuado……………………………………………………………………. 84
Quadro 42 - Distribuição da amostra de acordo com a manutenção da vigilância
do doente………………………………………………………………………………….. 85
Quadro 43 - Distribuição da amostra de acordo com a manutenção da vigilância
do doente e com a frequência com que realizam transfusões……………………… 85
Quadro 44 - Distribuição da amostra de acordo com o nível de informação sobre 85
o tempo recomendado para a administração de cada componente………………...
Quadro 45 - Distribuição da amostra de acordo com o nível de informação sobre
o tempo recomendado para a administração dos componentes e o número de 86
transfusões efectuadas…………………………………………………………………..
Quadro 46 – Distribuição da amostra em relação ao próprio nível de
conhecimentos sobre as condições de conservação dos componentes…………... 86
Quadro 47 - Distribuição da amostra quanto ao próprio nível de conhecimentos
sobre as condições de conservação dos componentes, relativamente à
periodicidade com que realizam transfusões…………………………………………. 87
Quadro 48 - Distribuição da amostra sobre a avaliação dos parâmetros vitais 15
minutos após o início da transfusão e no final da mesma…………………………… 87
Quadro 49 - Distribuição da amostra sobre a avaliação dos parâmetros vitais 15
minutos após o início da transfusão e no final da mesma, relativamente ao
número de transfusões efectuadas…………………………………………………….. 88
Quadro 50 - Distribuição da amostra em relação ao próprio nível de
conhecimentos sobre os diferentes tipos de reacções adversas à transfusão……. 88
Quadro 51 – Distribuição da amostra quanto ao próprio nível de conhecimentos
sobre reacções adversas à transfusão, relativamente ao número de transfusões
realizado…………………………………………………………………………………… 89
Quadro 52 - Distribuição da amostra em relação ao próprio nível de
conhecimentos sobre os sinais e sintomas dos diferentes tipos de reacções
adversas…………………………………………………………………………………… 89
Quadro 53 - Distribuição da amostra em relação ao próprio nível de
conhecimentos sobre os sinais e sintomas dos diferentes tipos de reacções
adversas e o número de transfusões realizadas……………………………………… 90
Quadro 54 - Distribuição da amostra quanto ao próprio nível de conhecimentos
sobre como actuar nos diferentes tipos de reacções transfusionais……………….. 90
Quadro 55 – Distribuição da amostra em relação ao próprio nível de
conhecimentos sobre como actuar nos diferentes tipos de reacções
transfusionais e o número de transfusões realizadas………………………………... 91
Quadro 56 - Distribuição da amostra quanto à forma de actuação perante um
doente com reacção transfusional……………………………………………………… 91
Quadro 57 - Distribuição da amostra quanto à forma de actuação perante um
doente com reacção transfusional, relativamente ao número de transfusões
realizadas………………………………………………………………………………….. 92
SUMÁRIO
Pág.
INTRODUÇÃO ……...………………………………………………………………….. 17
CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO ……………… 19
1 – O SANGUE …………………………………………………………………………. 21
1.1 – A DÁDIVA DE SANGUE E A OBTENÇÃO DE COMPONENTES
SANGUÍNEOS PARA TRANSFUSÃO ………………………………………………. 24
1.2 – A TRANSFUSÃO DE COMPONENTES SANGUÍNEOS E A SEGURANÇA
TRANSFUSIONAL …………………………………………………………………...… 27
1.3 – O SISTEMA NACIONAL DE HEMOVIGILÂNCIA ……………………………. 34
1.4 - REACÇÕES TRANSFUSIONAIS ………………………………………………. 38
1.4.1 – Reacções transfusionais agudas, de origem imunológica ………….…….. 38
1.4.2 - Reacções transfusionais agudas, de origem não imunológica ………....... 40
1.4.3 - Reacções transfusionais tardias, de origem imunológica …………………. 41
1.4.4 - Reacções transfusionais tardias, de origem não imunológica ……………. 42
1.5 – CUIDAR COM SEGURANÇA NA TRANSFUSÃO DE COMPONENTES
SANGUÍNEOS…………………………………………………………………………... 44
CAPÍTULO II – ESTUDO EMPÍRICO …..………………………. 57
2 – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO ……………………………………….. 59
2.1 - TIPO DE ESTUDO………………………………………………………………... 59
2.2 - O PROBLEMA, OS OBJECTIVOS E AS QUESTÕES DE
INVESTIGAÇÃO………………………………………………………………………… 60
2.3 - PARTICIPANTES NO ESTUDO………………………………………………… 61
2.4 – PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS DE COLHEITA DE DADOS …………… 63
2.5 - PROCEDIMENTOS FORMAIS E ÉTICOS…………………………………….. 65
CAPÍTULO III – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .. 67
3 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS …………………………………. 69
4 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ……………………………………………… 93
CONCLUSÂO …………………………………………………………………………... 113
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ……………………………………………….. 117
ANEXOS

ANEXO I – Flyer “Princípios Gerais de Actuação do Enfermeiro perante o Doente


submetido a Transfusão Sanguínea”.

ANEXO II – Flyer “Administração de eritrócitos desleucocitados em solução aditiva”.


ANEXO III – Flyer “Administração de plasma”.

ANEXO IV - Flyer “Administração de pool de plaquetas desleucocitadas ou plaquetas


de aférese desleucocitadas”.

ANEXO V – Questionário.

ANEXO VI – Autorização do Exmo. Sr. Director do Serviço de Sangue e Medicina


Transfusional.

ANEXO VII - Autorizações dos Exmo(s). Sr(s). Directores dos Serviço de: Medicina
Intensiva, Hematologia, Cardiologia, Gastroenterologia, Neurologia e Psiquiatria.

ANEXO VIII – Autorização do Conselho de Administração dos HUC-EPE, com o


parecer favorável da Comissão de Ética.

ANEXO IX - Parecer da Comissão de Ética da Unidade de Investigação em Ciências


da Saúde da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.
INTRODUÇÃO

A utilização do sangue humano para transfusão, constitui um método terapêutico que,


de há longa data, tem contribuído para a evolução da medicina e para a resolução de
situações clínicas que, sem a sua administração, seriam irreversíveis.

Contudo, esta medida terapêutica não é isenta de riscos, podendo ocorrer


complicações severas, durante e/ou após a transfusão pelo que, se por um lado a
transfusão de sangue pode salvar uma vida, a ocorrência de um erro, neste processo,
pode comprometê-la.

Na sua actividade profissional diária, os enfermeiros são confrontados com doentes


que, pela sua patologia, necessitam de ser submetidos a transfusão de componentes
sanguíneos. Sendo os enfermeiros responsáveis pela sua administração, a segurança
e eficácia desta medida terapêutica depende de factores como o conhecimento e
habilidades que estes intervenientes no processo possuem. Más práticas podem
traduzir-se em complicações, potencialmente fatais para o doente (Hijji et al, 2010).

É neste contexto que surgiu a curiosidade em aferir sobre os conhecimentos dos


enfermeiros, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra – EPE, polo dos
Hospitais da Universidade de Coimbra, relativos a esta área de intervenção, uma vez
que de acordo com a revisão da literatura efectuada, os enfermeiros têm algum défice
de conhecimentos relativos aos cuidados na administração de componentes
sanguíneos.

O desenvolvimento deste projecto de investigação resultou do facto de ser Enfermeira


a desempenhar funções no Serviço de Sangue e Medicina Transfusional, empenhada
em desenvolver conhecimento científico em Enfermagem no cuidar da pessoa doente
submetida a transfusão de componentes sanguíneos. Acresce o facto de ser
enfermeira formadora neste serviço, preocupada com a segurança transfusional
assumindo, assim, o seu mandato profissional e ético.

O conhecimento adquirido, sobre metodologias de investigação, para a prática


especializada, no Curso de Pós – Licenciatura de Especialização em Enfermagem
Médico-Cirúrgica e a transição para o Curso de mestrado em Enfermagem Médico-
Cirúrgica promoveram a implementação do projecto e a elaboração do presente
relatórios de investigação.

17
A escolha de um estudo quantitativo descritivo exploratório teve como objecto de
estudo, “Cuidar com segurança na administração de componentes sanguíneos”, tendo
sido definidos os objectivos:

 Analisar a percepção dos enfermeiros sobre os próprios conhecimentos relativos


aos cuidados na administração de componentes sanguíneos pré, per e pós transfusão.

 Analisar os conhecimentos dos enfermeiros relativos às possíveis complicações e


efeitos adversos da transfusão de componentes sanguíneos.

 Analisar a aplicação das recomendações constantes nos flyers relativos aos


cuidados gerais na administração de componentes sanguíneos e aos cuidados
específicos na administração de cada componente.

 Conhecer a opinião dos enfermeiros sobre a importância de implementação de


orientações e protocolos relativos aos cuidados de enfermagem na transfusão de
componentes sanguíneos.

 Conhecer a opinião dos enfermeiros sobre a pertinência de implementar programas


de formação contínua, com o objectivo de melhorar a qualidade e a segurança
transfusional.

De modo a proporcionar uma melhor compreensão do estudo realizado, estruturamos


o presente relatório em três capítulos distintos.

No primeiro, o enquadramento teórico, é efectuada uma abordagem da problemática


em estudo, mais concretamente sobre a intervenção do enfermeiro na transfusão de
componentes sanguíneos.

No segundo capítulo é efectuado o enquadramento metodológico da investigação e


justificada a opção por um estudo de natureza quantitativa. Nele é efectuada uma
abordagem aos objectivos, questões, participantes, procedimentos de colheita e
análise de dados e às considerações éticas e formais.

No terceiro capítulo são apresentados os resultados da investigação e efectuada a


discussão dos resultados confrontando-os com outros estudos desenvolvidos nesta
área. Neste capítulo é, ainda, efectuada uma abordagem às limitações do estudo e
apresentadas algumas das implicações dos resultados obtidos para a prática de
enfermagem no cuidar com segurança na administração de componentes sanguíneos.

18
CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

19
20
1 – O SANGUE

O sangue é um órgão especializado que difere dos outros órgãos por existir em estado
líquido. É constituído por elementos celulares e por uma parte líquida, o plasma.

Os elementos celulares constituem 40 a 45% do volume sanguíneo e a sua maioria


apresenta um período de vida curto, pelo que o organismo tem a capacidade de
efectuar, continuamente, a sua produção, diferenciação e maturação, num processo
designado por hematopoiese. Esta decorre, maioritariamente, na medula óssea e em
órgãos como o saco vitelino, o fígado, o baço, o timo e os gânglios linfáticos, diferindo,
a sua intervenção, do desenvolvimento fetal até à idade adulta. Os elementos
celulares do sangue designam-se por glóbulos vermelhos ou eritrócitos, glóbulos
brancos ou leucócitos e plaquetas, ou trombócitos (Smeltzer, Bare, 2005; Ciesla,
2007):

Os eritrócitos são células desprovidas de núcleo, com forma de disco bicôncavo,


produzidas na medula óssea com origem nas células percursoras pluripotentes. Têm
uma vida média de 120 dias em circulação e, entre outras funções, promovem as
trocas gasosas através da hemoglobina, a qual constitui 95% da sua massa celular. A
membrana do eritrócito é tão fina que os gases como o oxigénio e o dióxido de
carbono facilmente se difundem, através dela. A forma de disco proporciona uma
grande área de superfície, a qual facilita a absorção e libertação das moléculas de
oxigénio. Este liga-se à hemoglobina nos pulmões e é transportado como
oxiemoglobina no sangue arterial. Nos tecidos dissocia-se da hemoglobina, sendo
necessário para o metabolismo celular (Ciesla, 2007).

Os leucócitos têm a função de proteger o organismo de bactérias, vírus, fungos e


outros corpos estranhos. São, na sua maioria, granulados e os grânulos possuem
enzimas que são utilizadas na digestão e destruição dos microorganismos invasores.
Os glóbulos brancos têm um ciclo de maturação complexo, permanecem em
circulação apenas, durante horas e nos tecidos durante 2 a 5 dias. Tal como os
eritrócitos, também têm origem nas células percursoras pluripotentes, existindo cinco
formas maduras de glóbulos brancos: neutrófilos, eosinófilos, basófilos, monócitos e
linfócitos. Os linfócitos, contrariamente aos restantes leucócitos, têm órgãos principais
de produção, como a medula óssea e o timo e órgãos secundários, como o baço, os
gânglios linfáticos, as placas de Peyer do trato gastrointestinal e as amígdalas
(Smeltzer, Bare, 2005; Ciesla, 2007).

21
As plaquetas, de acordo com os mesmos autores, são pequenas células discóides
cuja produção é estimulada pela hormona trombopoietina. As células progenitoras das
plaquetas são designadas de megacariócitos produzindo, cada uma, cerca de 2000
plaquetas. Não há reservas de plaquetas na medula, pelo que 80% se encontra em
circulação e 20% na polpa vermelha do baço. As plaquetas não têm núcleo e
desempenham um papel fundamental na formação do tampão primário e na cascata
da coagulação.

Removidos os elementos celulares do sangue, remanesce a porção líquida, o plasma,


cuja composição é, maioritariamente, água (mais de 90%), proteínas (albumina e
globulinas), factores de coagulação e pequenas quantidades de substâncias como
nutrientes, enzimas e produtos residuais.

No ser humano o volume de sangue circulante é de, aproximadamente, 7 a 10% do


peso corporal. Circula através do sistema vascular e, servindo de ligação entre os
restantes órgãos corporais, transporta oxigénio absorvido nos pulmões e nutrientes
absorvidos do sistema gastrointestinal, até às células, elementos essenciais para o
metabolismo celular. Deste metabolismo resultam produtos residuais, também
transportados pelo sangue até aos pulmões, pele, fígado e rins, onde são
transformados e eliminados do organismo. Transporta, ainda, hormonas, anticorpos e
outras substâncias (Smeltzer, Bare, 2005).

O sangue encontra-se classificado em grupos, cuja categorização é efectuada pela


presença de antigénios específicos na membrana dos eritrócitos e pelos anticorpos
que fluem livremente no plasma. Estão descritos mais de 400 antigénios, resultando
da sua associação, diversos sistemas de grupos sanguíneos independentes e bem
definidos, nomeadamente os sistemas ABO, Rh, Lutheran, Kell, Lewis, Duffy, Kidd,
entre outros (Martins, Franco e Fernandes, 2005; American Association of Blood
Banks (AABB), 2007).

O primeiro sistema sanguíneo a ser descoberto foi o sistema ABO, em 1900, pelo
cientista austríaco Karl Landsteiner que, ao fazer reagir amostras de sangue de
diversas pessoas, isolou os glóbulos vermelhos. Fez diferentes combinações entre
plasma e hemácias, tendo como resultado a presença de aglutinação dos glóbulos, em
alguns casos e a sua ausência, noutros. Descobriu que alguns tipos de sangue eram
incompatíveis e que a incompatibilidade se devia a uma reacção imunológica entre
substâncias dissolvidas no plasma (anticorpos) e substâncias presentes nos eritrócitos
(antigénios). Descreveu, assim, padrões de reactividade de três tipos de grupos: grupo
A, grupo B e grupo O. Posteriormente, em 1902, Decastello e Sturli identificaram um

22
quarto grupo sanguíneo: o grupo AB. Os antigénios do sistema ABO encontram-se
presentes não só na membrana dos eritrócitos, mas também em muitas outras células
do organismo, assim como na maioria dos seus fluidos. Temos assim características
específicas, que diferenciam cada grupo sanguíneo (Amaro,2005; Duran et al, 2007):

 Grupo A – contém o antigénio A na superfície dos eritrócitos e o anticorpo


anti B no plasma.
 Grupo B - contém o antigénio B na superfície dos eritrócitos e o anticorpo
anti A no plasma.
 Grupo O – apresenta apenas o antigénio H, substância básica para a
constituição dos antigénios dos grupos A, B e AB. Contém anticorpos anti A e
anti B, no plasma.
 Grupo AB – contém antigénios A e B nos eritrócitos e não contém
anticorpos anti A ou anti B, no plasma.

O quadro 1 sintetiza a relação de compatibilidade e incompatibilidade entre os grupos


sanguíneos do sistema ABO (Amaro, 2005; Duran et al, 2007).

Quadro 1 – Compatibilidade entre grupos sanguíneos do sistema ABO.

Grupo Antigénios presentes Anticorpo Características


sanguíneo nos eritrócitos presente no soro
Pode dar Pode receber

A A anti-B A e AB AeO
B B anti-A B e AB BeO
AB AeB Nenhum AB AB, A, B, O
O H anti-A e anti-B A,B,AB,O O

A frequência dos grupos de sangue difere com a localização geográfica. Em Portugal,


de acordo com dados publicados pelo Instituto Português do Sangue, em 2007, do
estudo dos 231766 dadores inscritos nos três Centros Regionais (Lisboa, Coimbra e
Porto), 46,6% eram do grupo A, 42,28% do grupo O, 7,69% do grupo B e 3,43% do
grupo AB (Duran et al, 2007).

Em 1940 Landsteiner e Wiener, ao efectuarem estudos em macacos Rhesus,


identificaram outro sistema de grupos sanguíneos, o sistema Rh. Este é um sistema
composto por múltiplos antigénios (D, C, E, c, e,…) dos quais o antigénio “D” é o mais
antigénico. A presença do antigénio “D” determina que uma pessoa seja do grupo Rh
positivo e a ausência deste, que seja Rh negativo. Em Medicina Transfusional, depois
do sistema ABO, este sistema é o que possuiu maior importância. Em Portugal, de

23
acordo com o estudo do Instituto Português do Sangue, estima-se que 83,45% da
população seja do grupo Rh positivo e 16,55% do grupo Rh negativo (Martins, Franco
e Fernandes, 2005; Duran et al, 2007).

Os trabalhos de Landsteiner sustentaram todos os desenvolvimentos, até à


actualidade, na área da Imunohemoterapia e possibilitaram a realização de
transfusões sanguíneas assentes em bases científicas. Em 1907, Ruben Ottemberg,
inicia a realização da determinação do grupo sanguíneo no dador e receptor e efectua,
pela primeira vez, a pesquisa de compatibilidade entre os mesmos (Duran et al, 2007).

1.1 – A DÁDIVA DE SANGUE E A OBTENÇÃO DE COMPONENTES SANGUÍNEOS


PARA TRANSFUSÃO

No processo tranfusional, o sangue obtêm-se da dádiva voluntária e não remunerada


do cidadão, sendo um dever cívico, de cada cidadão saudável, contribuir para a
satisfação das necessidades de sangue, da comunidade. De acordo com o Decreto-
Lei nº 270/2007, de 26 de Julho, compete ao Estado assegurar a todos os cidadãos o
acesso à utilização terapêutica do sangue, seus componentes e derivados, bem como
garantir os meios necessários à sua correcta obtenção, preparação, conservação,
fraccionamento, distribuição e utilização. Este diploma determina, ainda, que é
proibida toda e qualquer comercialização do sangue humano.

O processo da dádiva encontra-se regulamentado pelo Decreto-Lei nº 267/2007 de 24


Julho e envolve um conjunto de requisitos cuja verificação é fundamental para a
preservação da saúde do dador e do receptor. Inicia-se com a inscrição do candidato a
dador para a dádiva e com o preenchimento do Questionário para Dadores de
Sangue, elaborado com base no questionário para dadores do Instituto Português do
Sangue e da Transplantação.

Este questionário, além de disponibilizar informação relevante sobre a dádiva, é


constituído por conjunto de questões, fundamentais para a segurança transfusional,
relativas a: prática de comportamentos de risco (mudança de parceiro sexual nos
últimos seis meses, ao consumo de drogas injectáveis ou inaláveis não receitadas
pelo médico, a parceiro sexual com patologia infecciosa como HIV, hepatite B ou
sífilis, etc.); realização de exames de diagnóstico como colonoscopias, endoscopias ou
cistoscopias, nos últimos quatro meses; viagens efectuadas para fora do país;
intervenções cirúrgicas realizadas; internamentos hospitalares; episódios de
convulsões; doenças ou acidentes graves; transplantes de córnea, tecidos ou órgãos;
24
problemas de saúde recentes; vacinação realizada no último mês; tratamentos
dentários efectuados nos últimos sete dias; medicamentos tomados no último mês;
tatuagens, piercings e tratamentos de acupunctura ou de mesoterapia efectuados nos
últimos quatro meses; problemas com dádivas anteriores; entre outras. Ao preencher o
questionário, o dador garante a veracidade da informação registada e concede o
consentimento informado para a dádiva.

O processo prossegue com um exame médico onde, além de ser confirmada a


informação registada no questionário, é verificada a existência dos critérios mínimos
de elegibilidade de dadores de sangue, definidos no Decreto-Lei nº 267 de 24 de
Julho, relativos à idade (dos 18 aos 65 anos), ao peso (≥50kg) e à hemoglobina
(mulher ≥12,5 mg/dl; homem ≥ 13,5 mg/dl). São ainda verificados, os critérios de
suspensão temporária ou definitiva dos dadores, definidos no mesmo diploma e que
envolvem questões relativas a doenças infecciosas, do sistema nervoso central e
cardiovasculares; episódios de síncope ou antecedentes de convulsões; doenças
gastrointestinais, hematológicas, imunológicas, renais, metabólicas, infecciosas ou do
aparelho respiratório; febre> 38ºC; síndrome gripal; vacinação; gravidez; medicação;
pequenas e grandes cirurgias; utilização de drogas; paludismo; entre outras.

Obtido o consentimento informado do dador, e após a sua aprovação clínica para a


dádiva, é efectuada a colheita de uma unidade de sangue total, com um volume de
450 ml e que constitui a matéria-prima para a preparação dos diferentes componentes
sanguíneos para transfusão.

A colheita de sangue total é efectuada para um sistema de sacos estéril que contêm
uma solução anticoagulante, para prevenir a coagulação do sangue e uma solução
conservante que permite a sua conservação durante o armazenamento.

Colhida a unidade de sangue total, procede-se ao seu acondicionamento em placas de


butanodiol, até que se proceda ao seu fraccionamento nos diferentes componentes:
eritrócitos, plasma e plaquetas (Hospital Geral de Santo António, 2001; AABB, 2007;
Sociedad Espanõla de Transfusión Sanguínea y Terapia Celular, 2010 (SETS);
European Committee on Blood Transfusion, 2010):

 Os eritrócitos obtêm-se através do fraccionamento da unidade de sangue total,


utilizando técnicas como a centrifugação, a separação e a leucorredução, à qual é
removida a maior parte do plasma e adicionada uma solução conservante. Deste
processo resulta uma unidade de Eritrócitos Desleucocitados em Solução Aditiva
(EDSA), cuja validade varia com o tipo de solução conservante utilizada, devendo ser
armazenados a uma temperatura de 4ºC 2ºC.
25
 O plasma obtém-se por centrifugação da unidade de sangue total, com separação
de todas as células e posterior congelação. Deste processo resulta uma unidade de
Plasma Fresco Congelado, que contém a totalidade dos factores de coagulação,
incluindo os factores lábeis (factor V e factor VIII). Cada unidade tem um volume
aproximado de 200-300 ml e é armazenada a temperaturas inferiores a - 18ºC, pelo
que é necessário proceder à sua descongelação a 35-37ºC, durante 20 minutos, para
que possa ser administrado.
 As plaquetas obtêm-se, também, da centrifugação e separação da unidade de
sangue total. Cada unidade tem um volume aproximado de 40 a 60 ml de plasma e
uma concentração de plaquetas de 60x109. No adulto, são necessárias 4 a 6 unidades
de plaquetas para se obter um efeito terapêutico, pelo que a sua administração é
efectuada sob a forma de pool. A junção das unidades de plaquetas, para formação da
pool, é efectuada em sistema fechado, através de um conector estéril. Obtida a pool,
procede-se à sua desleucocitação, obtendo-se uma pool de plaquetas
desleucocitadas. São componentes cuja validade é de apenas cinco dias e que
necessitam de estar armazenadas, em agitação permanente, a uma temperatura de
20-22 º C.

Além da dádiva de sangue total, os componentes sanguíneos podem ser obtidos por
aférese, que consiste na colheita selectiva de um ou mais componentes sanguíneos,
através de separadores celulares automáticos que efectuam a separação dos
componentes por centrifugação, de acordo com a diferença de densidade de cada
componente. O separador efectua a colheita do componente pretendido e reinfunde os
restantes (AABB, 2007).

Ainda no âmbito dos requisitos da segurança transfusional e de acordo com os


requisitos do Decreto-Lei nº 267/2007 de 24 de Julho, todas as unidades são
submetidas a um rigoroso controlo analítico, sendo efectuado o estudo do grupo
sanguíneo, nomeadamente nos sistemas ABO e Rh e o rastreio serológico de doenças
transmissíveis como a sífilis, o vírus linfotrópico da célula T humana as hepatites B e C
e o Vírus da Imunodeficiência Humana I e II (HIV), sendo as técnicas laboratoriais
cada vez mais específicas para cada teste, como o estudo dos ácidos nucleicos dos
vírus.

26
1.2 – A TRANSFUSÃO DE COMPONENTES SANGUÍNEOS E A SEGURANÇA
TRANSFUSIONAL

A transfusão de componentes sanguíneos consiste na transplantação de células vivas,


directamente na circulação do receptor. É uma medida terapêutica não isenta de
riscos, podendo ocorrer complicações severas, durante e/ou após a transfusão pelo
que, se por um lado pode salvar uma vida, a ocorrência de um erro neste processo,
pode comprometê-la. O seu potencial para causar danos advém do facto do sangue
ser um produto biológico, de origem humana (Hijji et al, 2010).

Por esse facto, como qualquer outra decisão terapêutica, a decisão de transfundir,
deve basear-se numa análise prévia dos riscos, benefícios e alternativas terapêuticas
(AABB, 2007; EU, Optimal Blood Project, 2010).

A indicação da transfusão obedece a objectivos básicos como o de manter ou


aumentar o aporte de oxigénio aos tecidos, corrigir défices resultantes de uma
hemorragia, normalizar alterações da coagulação e proporcionar o aporte de derivados
plasmáticos como albumina e imunoglobulinas. Neste contexto, a transfusão de
sangue total não apresenta quase nenhuma indicação clínica sendo eficazmente
substituída, pela administração selectiva dos seus componentes: eritrócitos, plasma e
plaquetas (SETS, 2010).

Relativamente à transfusão de eritrócitos, tem como principal finalidade restabelecer


ou manter a capacidade de transporte de oxigénio e a massa eritrocitária, em
situações de hemorragia activa e em doentes com anemias de diversas etiologias que,
quando não tratadas, podem originar lesões hipoxémicas irreversíveis. Num adulto,
com 70 kg de peso, a transfusão de 1 unidade de eritrócitos aumenta a concentração
de hemoglobina em cerca de 0,8 gr/dl (AABB, 2007; Ciesla, 2007; SETS, 2010).

A administração deste componente requer que seja efectuada a determinação do


grupo sanguíneo do receptor, nos sistemas ABO e Rh e realizada a pesquisa de
anticorpos clinicamente significativos que, quando positiva, requer a realização de
outros testes laboratoriais para os identificar e seleccionar unidades de dadores
compatíveis (EU, Optimal Blood Use Project Team, 2010).

Requer, ainda, a realização de testes de compatibilidade que confirmem a ausência de


reacção imune entre antigénios e anticorpos do dador e do receptor, de modo a evitar
uma das complicações mais temidas da transfusão: a reacção hemolítica aguda. As
provas de compatibilidade consistem em testes laboratoriais realizados em diferentes
meios químicos, com o objectivo de detectar possíveis anticorpos no receptor contra
27
antigénios das células a transfundir. A negatividade das provas de compatibilidade
assegura a compatibilidade com o dador (Martins, Franco e Fernandes, 2005).

Quanto à administração de plasma, está indicada em doentes com deficiência de


múltiplos factores da coagulação, nomeadamente em doentes com insuficiência
hepática, com coagulopatias ou com necessidade de inversão rápida do tratamento
com anticoagulantes. A transfusão deste componente requer que seja efectuada a
determinação do grupo sanguíneo do receptor, no sistema ABO (AABB, 2007; SETS,
2010).

Sobre as plaquetas, são essenciais para a formação do tampão hemostático primário,


proporcionando a superfície sobre a qual se irá depositar a fibrina. A sua membrana
possui uma actividade procoagulante potente, que favorece a formação de fibrina.
Alterações no número ou na função das plaquetas poderão ter consequências graves,
como a hemorragia que, se não for controlada, pode por em risco a vida do doente. A
transfusão deste componente está indicada em situações de trombocitopenia ou
disfunção plaquetar pelo que, a decisão médica para transfundir, depende da causa da
hemorragia, da situação clínica do doente e do número e funcionalidade das plaquetas
circulantes (AABB, 2007).

Pelo facto de o sangue ser um produto biologicamente activo, a transfusão dos seus
componentes não é isenta de riscos, pelo que a segurança transfusional constitui uma
preocupação sistemática das autoridades e serviços de saúde assim como dos
profissionais envolvidos no processo.

Actualmente é considerado um procedimento clínico com elevado nível de segurança


e, de acordo com o Serious Hazards of Transfusion (2011), apesar de se ter verificado
um aumento do número de eventos adversos notificados em relação aos anos
anteriores, houve uma diminuição do número de mortes e da morbilidade associados à
transfusão. O mesmo relatório refere que grande parte dos eventos adversos têm
origem em erros humanos, pelo que a formação e treino dos profissionais é
fundamental para a segurança transfusional.

Na opinião de Cabaud (2007), a formação dos profissionais ocupa um papel


fundamental, no quadro da aplicação das directivas Nacionais e Europeias, ao nível
dos Sistemas de Saúde, nomeadamente em Medicina Transfusional e deve envolver,
não só a formação inicial realizada nas escolas, como também a formação contínua e
a avaliação das práticas.

O mesmo autor considera, ainda, que todos os profissionais envolvidos na cadeia


transfusional devem ser detentores de formação específica e ser sujeitos a programas
28
de avaliação de competências e que a competência profissional é um indicador válido
da qualidade do desempenho prático dos profissionais, pois permite ter evidência do
nível de conhecimentos que podem ser demonstrados.

A segurança transfusional envolve todas as fases deste processo terapêutico que, no


seu conjunto, constituem a cadeia transfusional, composta por fases relativas ao
produto (o sangue) e por fases relativas ao próprio processo. As primeiras contemplam
o recrutamento e selecção do dador, a colheita e processamento das unidades e a
realização de testes de despiste de doenças infecciosas. As segundas envolvem a
decisão médica de transfundir, os testes pré transfusionais, a administração, vigilância
e avaliação da eficácia da transfusão.

Para melhorar a segurança nesta área, têm sido desenvolvidos numerosos esforços.
Ao nível da segurança do sangue, os avanços resultaram da definição de critérios
rigorosos de selecção dos dadores e dos avanços científicos das técnicas laboratoriais
que, actualmente dispõem de elevada capacidade para detectarem agentes
patogénicos potencialmente transmitidos por transfusão, como os recentes testes de
ácidos nucleicos (Fastman e Kaplan, 2011).

Sobre o recrutamento e selecção do dador e a colheita e processamento das unidades


de sangue total, os requisitos de segurança, já anteriormente abordados, encontram-
se definidos no Decreto-Lei nº 267/2007 de 24 de Julho. O mesmo diploma
estabelece, ainda, no Anexo V, os requisitos de segurança em matéria de análise das
dádivas de sangue total e dos seus componentes.

Relativamente à possibilidade de transmissão de infecções por transfusão, esta é


reconhecida desde há vários anos. Infecções causadas por um agente que se
encontre numa fase sanguínea assintomática podem ser, inadvertidamente,
transmitidas por transfusão. A transmissão da infecção depende da capacidade de
sobrevivência do agente infeccioso ao processamento e conservação dos produtos
sanguíneos, do seu potencial para causar doença significativa, quando transmitidos
por esta via, e de factores associados ao receptor, como o seu estado imunitário
(Pereira et al, 2011).

Além do risco conhecido de transmissão de doenças infecciosas, por transfusão, como


as hepatites B e C, o HIV e o vírus linfotropico das células T humanas I e II, outros
riscos foram emergindo, ao longo dos tempos, como a possível contaminação, por
transfusão, pelos agentes causadores das encefalopatias espongiformes
transmissíveis (Fastman e Kaplan, 2011).

29
Sobre a possibilidade de transmissão por transfusão, do prião causador das
encefalopatias espongiformes transmissíveis, nomeadamente a doença de Creutzfeldt-
Jackob e a sua variante, o Instituto Português do Sangue declarou como obrigatória a
leucorredução dos componentes, através da Circular Normativa nº 009/CN-IPS/97 de
10 de Dezembro, e da Circular Normativa Nº 004/CN-IPS/98 de 19 de Março de 1998.
Esta medida contribuiu, significativamente, para o aumento da segurança
transfusional, não só pela prevenção da transmissão das encefalopatias
espongiformes como também por ter permitido uma diminuição drástica das reacções
febris não hemolíticas e da possibilidade de aloimunização por antigénios leucocitários
humanos nos doentes politransfundidos.

Contudo, fenómenos associados à globalização, como aumento das viagens


internacionais e os movimentos migratórios de pessoas e animais, aumentaram o risco
de exposição a agentes infecciosos, como sejam a doença das Chagas, a malária e o
vírus de West Nile, levantando o problema da sua transmissão por via transfusional
(Pereira et al, 2011).

Por estes motivos, o Conselho Europeu emitiu directivas, às organizações de


hemovigilância europeias, para que implementassem medidas de prevenção, da
transmissão deste tipo de infecção, como a identificação de dadores de risco através
do preenchimento do questionário, pré-dádiva, a realização de testes de rastreio e a
utilização de inactivação de agentes patogénicos (Pereira et al, 2011).

Sobre esta matéria, o Instituto Português do Sangue e a Autoridade para os Serviços


de Sangue e da Transplantação emitiram, ao longo dos anos, circulares normativas
com alterações específicas para os critérios de suspensão ou exclusão dos candidatos
a dadores, nomeadamente relativas à variante da doença de Creutzfeldt Jakob
(Circular Normativa Nº 007/CN-IPS/04, de 04 de Agosto).

Contudo, outros riscos infecciosos vão emergindo, pelo que as autoridades


competentes continuam a emitir normas, no sentido de assegurarem a segurança do
sangue e derivados, como sejam as Circulares Normativas da Autoridade para os
Serviços de Sangue e da Transplantação, nº 11/GDG/2009 de 30 de Abril e nº
17/GDG/2009 de 28 de Outubro relativas à Pandemia do vírus da Gripe A (H1N1) e a
Circular Normativa, nº 4/GDG/2011 de 01 de Junho, relativa ao vírus West Nile.

Quanto ao processo transfusional, existem pontos críticos na cadeia que, na opinião


de Brilhante (2004), comprometem a sua segurança, pelo que necessitam de ser
melhorados. Destaca a decisão médica de transfundir, a colheita de amostras do

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doente, para realização de testes pré-transfusionais e a administração dos
componentes.

Sobre a decisão médica de transfundir, a mesma autora considera que a existência de


guidelines relativas à indicação clínica de administração de cada componente é
fundamental para a utilização correcta dos mesmos. Esta questão constitui uma
preocupação das autoridades de saúde, em matéria de segurança transfusional, pelo
que, especificamente em relação à abordagem da transfusão maciça, a Direcção
Geral da Saúde publicou, em 30/07/2013, a Norma 011/2013, que se encontra em
discussão pública.

Em relação aos testes pré-transfusionais, a colheita das amostras constitui o primeiro


passo dos testes pelo que, qualquer erro a este nível poderá ter consequências
drásticas como a transfusão de componentes ABO incompatíveis. Este tipo de erros
são considerados evitáveis e podem ter origem na colheita das amostras ao doente
errado, na identificação incorrecta do doente e/ou na incorrecta identificação dos tubos
e/ou do pedido de transfusão (Bielefeldt e DeWitt, 2009).

A este nível do processo, também podem ocorrer erros no laboratório, como a


selecção incorrecta da amostra para realização dos testes pré transfusionais, a
incorrecta determinação do grupo sanguíneo, a selecção errada do componente e a
rotulagem incorrecta das unidades (Fastman e Kaplan, 2011).

Quanto à administração dos componentes sanguíneos, a troca à cabeceira é o risco


mais temido da transfusão. De acordo com os mesmos autores, mais de 40% dos
erros ocorridos na cadeia transfusional, ocorrem na fase pós analítica e a maioria
ocorre pela não confirmação, à cabeceira, da identificação do doente/componente.

A identificação positiva do doente, sendo um elemento simples, é um elemento chave


da segurança transfusional, devendo ser efectuada, imediatamente antes da colheita
de amostras para testes pré-transfusionais e da administração de cada unidade. No
caso de doentes inconscientes ou impossibilitados de comunicar, a sua identificação
deverá ser efectuada com base no seu número de processo único e com os dados de
identificação constantes no processo clínico (Brilhante, 2004; Tramalloni et al, 2005).

Da mesma opinião compartilham Hijji, Oweis e Dabbour (2012) ao afirmarem que,


sendo a transfusão de sangue uma medida terapêutica de elevada eficácia, a falta de
conhecimentos dos profissionais envolvidos neste processo, continua a ser uma
ameaça real para a segurança dos doentes. Consideram que a incorrecta identificação
do doente à cabeceira continua a ser a causa mais frequente de erros transfusionais,

31
resultando em taxas de mortalidade consideráveis, pelo que é uma área de actuação
que carece de melhoria.

Com os avanços da ciência, novas tecnologias têm sido desenvolvidas, com o


objectivo de melhorarem a segurança transfusional. Destacam-se os sistemas que
auxiliam os profissionais na identificação precisa do doente, baseados na leitura óptica
de códigos de barra. Estes permitem estabelecer uma ligação directa entre o pedido, o
doente, as amostras colhidas para testes pré transfusionais, as unidades
compatibilizadas, a sua administração e monitorização. Temos como exemplo as
pulseiras de identificação, que funcionam com base num número de segurança
transfusional, impresso sob a forma de código de barras.

Estas novas tecnologias revelam-se eficazes no incremento da segurança


transfusional, uma vez que reduzem a informação escrita em papel e evitam erros de
transcrição. Contudo, a possibilidade de erro humano permanece, pelo que a
possibilidade de falha do sistema não é nula (Gray et al, 2008; British Committee for
Standards in Haematology, 2012).

Num estudo realizado por Bennardello et al (2009) relativo à implementação de um


sistema de registo de dados biométrico, em doentes submetidos a transfusão
sanguínea, concluiu-se que, durante um ano de utilização do sistema não houve
registo de nenhum erro de identificação. Os problemas detectados foram relativos a
erros de leitura de impressões digitais ou de códigos de barras das unidades. A
maioria das falhas detectadas foram a ausência do registo do final da transfusão e do
registo de reacções transfusionais. O sistema revelou-se muito eficaz para a
segurança transfusional permitindo, ainda, efectuar a rastreabilidade dos
componentes.

A este nível da cadeia e de modo a potencializar a segurança na administração de


componentes sanguíneos, o SSMT implementou, em alguns serviços, o sistema
Gricode. Este sistema permite estabelecer uma ligação física entre o pedido de
transfusão, o doente, as amostras colhidas para testes pré transfusionais, as unidades
compatibilizadas e a sua administração e monitorização. Funciona com base numa
pulseira de identificação com etiquetas, que dispõem de um número de segurança
transfusional, impresso sob a forma de código de barras e na leitura óptica que valida
a coincidência do número de segurança transfusional no pedido de transfusão, no
doente, nas amostras e nas unidades a transfundir. Se a coincidência do número não
se verificar, o operador será alertado através de um sinal sonoro, evitando-se, assim, a
complicação mais temida da transfusão: a incompatibilidade ABO por erro de

32
identificação. Este sistema permite, ainda, identificar todos os intervenientes no
processo e registar a ocorrência de reacções adversas, permitindo obter a
rastreabilidade de todo o processo.

A implementação desta metodologia foi faseada, iniciando-se pelos serviços que mais
transfundiam, como sejam o Serviço de Medicina Intensiva e de Hematologia.
Posteriormente a sua implementação foi alargada a outros serviços encontrando-se,
actualmente, implementada em 16 serviços. Sendo reconhecida a eficácia deste
sistema, para a segurança transfusional, foi cancelado o alargamento da sua
implementação aos restantes serviços, por motivos institucionais.

Apesar de todos os avanços técnico-científicos na área da medicina transfusional, a


administração de componentes sanguíneos continua a ser uma medida terapêutica
não isenta de riscos. No Reino Unido, apesar de terem sido implementadas diversas
medidas destinadas a apoiar a execução de uma prática transfusional segura,
manteve-se a incidência de possíveis erros no processo, nomeadamente os
relacionados com a troca de componentes à cabeceira. Em 2012, o Serious Hazards
of Transfusion do Sistema de Hemovigilância do Reino Unido revelou que,
comparativamente a 2011, houve um aumento do número de transfusões do
componente incorrecto/ da troca de doentes, e que este erro teve origem em aspectos
como a colheita ao doente incorrecto das amostras de sangue para testes pré
transfusionais, à identificação incorrecta das amostras ou do pedido de transfusão, a
erros no laboratório e à não identificação ou à identificação incorrecta do doente, à
cabeceira, antes de iniciarem a transfusão.

Na opinião de Gray et al (2008) a segurança transfusional, é sustentada por medidas


como a definição de directrizes Nacionais e Europeias, a elaboração e implementação
de guidelines, programas de auditorias e investigação, o desenvolvimento de
programas de formação contínua e a avaliação de competências.

Sobre as directrizes nacionais, afirma que compete ao Sistema Nacional de Saúde


assegurar que a terapêutica transfusional é efectuada de forma segura e eficaz, com
base em directrizes e protocolos escritos sobre a transfusão de sangue, que devem
ser divulgados através da formação interna.

Sobre as iniciativas educacionais, a formação teórica e prática presencial, bem como a


formação com recurso a meios informáticos que permitam a formação online, são
medidas que permitem incrementar níveis de qualidade elevados no exercício da
prática transfusional. É neste contexto que o sistema de Hemovigilância do Reino

33
Unido elabora, anualmente, um relatório que contém recomendações e pontos de
aprendizagem que incrementem a segurança no processo transfusional.

Sobre o papel das auditorias e da investigação na melhoria da prática transfusional, os


mesmos autores consideram que se tem vindo a assistir ao desenvolvimento de uma
base de evidências práticas sobre a terapêutica transfusional. Contudo, é necessária
desenvolver mais pesquisa clínica que sustente todo o processo e promova a sua
segurança. As auditorias que monitorizem questões como más práticas transfusionais
e a utilização indevida desta medida terapêutica, são fundamentais para a
implementação de medidas de melhoria, com posterior avaliação da eficácia das
medidas implementadas.

1.3 – O SISTEMA NACIONAL DE HEMOVIGILÂNCIA

Em Portugal, de acordo com o publicado no Decreto-Lei Nº 270/207 de 26 de Julho, o


Instituto Português do Sangue, IP (IPS) era o organismo da administração indirecta do
Estado que tinha por missão, regular a actividade da Medicina Transfusional. Com o
Decreto-Lei n.º 39/2012 de 16 de Fevereiro, este instituto assumiu a designação de
Instituto Português do Sangue e da Transplantação-IP, cuja missão consiste em
coordenar, a nível nacional, a colheita, análise, processamento, preservação,
armazenamento e distribuição de sangue humano, de componentes sanguíneos, de
órgãos, tecidos e células de origem humana e assegurar o funcionamento do Sistema
Nacional de Hemovigilância e de Biovigilância.

A nível nacional, o regime jurídico da qualidade e segurança do sangue humano e dos


componentes sanguíneos, encontra-se regulamentado pelo Decreto-Lei nº 267/2007,
de 24 de Julho, já anteriormente referido. Com vista a assegurar um elevado nível de
protecção da saúde pública este diploma determinou, ainda, os requisitos de
rastreabilidade e notificação de reacções e incidentes adversos graves, as normas e
especificações relativas ao sistema de qualidade dos serviços de sangue e definiu os
requisitos da hemovigilância.

Sobre os requisitos da rastreabilidade, Directivas Europeias com transposição a nível


nacional exigem a rastreabilidade do sangue e componentes sanguíneos do dador ao
receptor, e deste até ao dador, pelo que foi atribuída, aos Serviços de Sangue e de
Medicina Transfusional, a responsabilidade de implementarem um sistema que
permita a identificação de cada dador, de cada unidade de sangue colhida, de cada

34
componente sanguíneo e do seu destino final (Decreto-Lei nº 267/2007, de 24 de
Julho).

Neste âmbito, os serviços de sangue devem poder identificar, inequivocamente, os


serviços a quem forneceram as unidades de sangue e os seus componentes bem
como, o dador de sangue, a unidade de sangue e os seus componentes e a data da
colheita.

Quanto aos serviços de Medicina Transfusional, devem possuir um sistema de registo


que identifique cada unidade de sangue, cada componente sanguíneo e o seu destino
final, quer tenha sido administrado, devolvido ou destruído. Devem, ainda, dispor de
um procedimento que permita confirmar a administração do componente
disponibilizado, ao receptor previsto.

O mesmo Decreto-Lei determinou, também, no anexo VIII, os requisitos de rotulagem


de cada componente, que deve conter informações como o volume, o peso ou número
de células do componente (consoante o caso), a identificação única, numérica ou
alfanumérica da dádiva, o grupo ABO, o grupo Rh, a data ou prazo de validade, a
temperatura de armazenamento e o nome, composição e volume do anticoagulante
e/ou solução aditiva.

Sobre o requisito de obter a confirmação da administração da transfusão, foi


implementada, no serviço, uma folha de registo da Administração de Componentes
Sanguíneos, que acompanha cada unidade a transfundir. Neste documento constam
dados relativos à identificação do doente, ao tipo de componente, ao grupo sanguíneo
do doente e do componente e ao número de identificação da unidade a transfundir e
encontra-se descrito o modo de actuação caso o doente apresente algum sinal ou
sintoma de reacção transfusional.

Nos serviços, deve proceder-se ao preenchimento deste documento, com os dados


relativos à identificação do enfermeiro que recepcionou os componentes, à
identificação do enfermeiro que iniciou e concluiu a administração dos componentes,
ao registo dos parâmetros vitais avaliados antes da transfusão, quinze minutos após o
seu início e no final e ao registo de efeitos adversos da transfusão. Este documento
deve ser devolvido, ao SSMT, até 24 horas após a finalização da transfusão, onde
informaticamente é efectuada a confirmação da administração da transfusão.

Relativamente aos sistemas de qualidade, a sua implementação, no processo


transfusional, permite garantir que o tratamento é seguro, eficaz e eficiente e que
todos os intervenientes no processo estão devidamente treinados para fazer, como
fazer e porque fazer, conduzindo à melhoria.
35
Directivas Europeias exigem aos serviços de sangue, que mantenham sistemas de
gestão da qualidade, que sejam submetidos a inspecções regulares e que introduzam
um sistema de qualidade em partes fundamentais da cadeia transfusional. Pretendem,
com estas medidas, promover uma melhoria da qualidade deste processo,
administrando o componente certo, ao doente correcto, no momento correcto, nas
condições correctas e de acordo com guidelines apropriadas (EU, Optimal Blood Use
Project, 2010; European Committee on Blood Transfusion, 2010).

No Serviço de Sangue e Medicina Transfusional do Centro Hospitalar e Universitário


de Coimbra – EPE, polo dos HUC, a implementação do sistema da Qualidade, teve
início em 2007.

No processo transfusional o sistema de gestão da qualidade deve garantir ao doente,


à comunidade e aos médicos que o tratamento é seguro, eficaz e eficiente e realizado
por profissionais com conhecimentos e competências específicas na área e fornecer
evidência de que o trabalho desenvolvido é efectuado de acordo com os
procedimentos adequados e conduzir à melhoria na qualidade, evidenciando o
desempenho.

Deve ser constituído por um conjunto de elementos essenciais dos quais fazem parte
a liderança (compromisso da gestão com a qualidade); os standards ou especificações
(instruções explícitas do que o produto é ou deve ser ou o processo deve atingir); a
documentação (instruções escritas para cada trabalho e registos que evidenciem que
o trabalho foi feito correctamente); o controlo das alterações dos procedimentos; a
avaliação ou auditorias; a formação dos profissionais e avaliação dos seus
conhecimentos e competências e a melhoria da qualidade, decorrente da
aprendizagem com os erros (EU, Optimal Blood Use Project, 2010).

Para o sucesso da implementação destes sistemas é fundamental a existência de


Comissões de Transfusão Hospitalar, que promovam a divulgação e o uso de
guidelines relativas ao processo clínico transfusional, a revisão e actualização da
documentação existente sobre a transfusão, a promoção de auditorias de avaliação do
processo transfusional, a promoção da formação e treino dos profissionais envolvidos,
a notificação das reacções e efeitos adversos ao programa nacional de Hemovigilância
e a garantia de que os incidentes ocorridos são analisados e que a informação obtida
deverá ser utilizada na melhoria das práticas clínicas.

Estas Comissões devem ser constituídas por médicos das especialidades que, com
maior frequência, prescrevem a administração de transfusões, como hematologistas,

36
anestesistas, cirurgiões e intensivistas e incluir enfermeiros do SSMT e do
departamento de investigação e auditoria.

Nos HUC, esta Comissão foi criada a 30/04/2010 e é constituída por médicos de
diferentes especialidades clínicas (Imunohemoterapia, Anestesia, Cirurgia e
Gastroenterologia), por duas enfermeiras (enfermeira chefe do serviço de Hematologia
e uma enfermeira especialista do serviço de Urgência) e por uma farmacêutica. Até ao
momento definiram e divulgaram as Guidelines para transfusão de Plasma Humano.

Quanto à hemovigilância, é definida pelo European Committee on Blood Transfusion,


(2010) como um sistema organizado de vigilância relacionado com eventos ou
reacções adversas graves ou inesperadas em dadores ou receptores e o seguimento
epidemiológico dos dadores. Este sistema tem como objectivos recolher e avaliar
informações relacionadas com os efeitos indesejáveis e/ou inesperados da utilização
de componentes sanguíneos e determina a obrigatoriedade de notificar incidentes e
reacções adversas graves, relacionados com a qualidade e segurança do sangue ou
componentes sanguíneos.

De acordo com o Decreto-lei nº 267/2007 de 24 de Julho, considera-se reacção


adversa grave a resposta inesperada de um dador ou doente, associada à colheita ou
transfusão de sangue ou componentes sanguíneos, que causem a morte ou coloquem
a vida em perigo, que provoquem deficiência ou incapacidade ou que conduzam ou
prolonguem a hospitalização ou a morbilidade.

O mesmo diploma define incidentes adversos graves como as ocorrências nocivas


durante a colheita, análise, processamento, armazenamento e distribuição de sangue
ou componentes sanguíneos, susceptíveis de levar à morte ou por em risco a vida do
doente, de conduzir a uma deficiência ou incapacidade ou de provocar ou prolongar a
hospitalização ou morbilidade.

A nível nacional, o programa de hemovigilância determina, ainda, a notificação dos


erros e dos quase erros. O erro é definido como o desvio a um procedimento padrão
ou a uma política, que não é identificado antes do início da transfusão e que pode dar
origem a uma transfusão errada ou a uma reacção num receptor (EU, Optimal Blood
Use Project, 2010).

O quase erro define-se como o desvio a um procedimento padrão ou a uma política,


que é identificado antes do início da transfusão e que poderia dar origem a uma
transfusão errada ou a uma reacção (EU, Optimal Blood Use Project, 2010).

37
O Sistema Nacional de Hemovigilância, do qual fazem parte integrante os hospitais, é
coordenado pelo Instituto Português do Sangue e da Transplantação –IP, existindo um
sistema nacional de registo no site www.hemovigilancia.net/. Os serviços onde são
efectuadas transfusões têm a responsabilidade de notificar ao SSMT os eventos ou
reacções adversas graves ocorridas durante ou após a transfusão. Ao SSMT compete
notificar às autoridades competentes a ocorrência dos mesmos.

1.4 - REACÇÕES TRANSFUSIONAIS

Como anteriormente foi referido, o sangue é um produto biológico, de origem humana,


com potencial para causar danos ao doente. Com a sua administração podem ocorrer
efeitos adversos, potencialmente fatais pelo que, na sua prescrição, devem ser,
sempre, ponderados os seus riscos e benefícios.

De acordo com a revisão da literatura, as reacções adversas da transfusão


classificam-se em agudas, se surgirem durante o acto transfusional ou até 24 horas
após o seu términus e em tardias, se surgirem após esse período. Numa fase inicial
pode ser difícil distinguir quer o tipo de reacção aguda quer a sua gravidade. Por esse
facto, deve ser sempre considerada qualquer sintomatologia que surja durante a
transfusão, pois pode tratar-se do primeiro sinal de uma reacção grave (AABB, 2007;
SETS, 2010; EU, Optimal Blood Use Project, 2010).

1.4.1 – Reacções transfusionais agudas, de origem imunológica.

De acordo os autores anteriormente referidos, as reacções agudas da transfusão


podem ser de origem imunológica e não imunológica. Destacam-se, entre as
complicações agudas imunológicas: a reacção hemolítica aguda; a reacção febril não
hemolítica; a reacção alérgica; a lesão pulmonar aguda associada à transfusão e a
aloimunização com destruição plaquetar imediata:

 A reacção hemolítica aguda é a complicação mais temida da transfusão, sendo


causada por transfusão de sangue ABO incompatível. As hemácias transfundidas são
destruídas, de forma aguda, por anticorpos presentes no plasma do receptor. É a
causa mais frequente e evitável, de morte associada à transfusão.
Embora este tipo de erro possa ser atribuído à incorrecta identificação do pedido, a
erros na colheita das amostras, aos bancos de sangue e aos laboratórios, a grande

38
maioria é causada por erros no momento da sua administração, pela não confirmação
da identificação do receptor do componente.
A sintomatologia inicial deste tipo de reacção é a dor torácica e lombar, taquicardia,
dispneia, calafrios, febre, hemorragia e choque. Analiticamente ocorrerão alterações
como hemoglobinémia, hemoglobinúria, aumento da bilirrubina sérica, teste da
antiglobulina humana directo positivo e alterações das provas de coagulação. Em
doentes anestesiados o primeiro sinal pode ser a hipotensão, seguida dos secundários
à instalação de uma coagulação intravascular disseminada. A gravidade deste tipo de
reacção é proporcional ao volume do componente infundido (Ferreira et al, 2007;
AABB, 2007; SETS, 2010).

 A reacção febril não hemolítica é a reacção transfusional que ocorre com maior
frequência, afectando cerca de 1 a 2% dos doentes transfundidos. É causada por
substâncias (citocinas) libertadas pelos leucócitos ou pelas plaquetas, durante o seu
período de armazenamento, ou por anticorpos anti-leucocitários presentes no plasma
do receptor. A leucorredução dos componentes veio permitir a diminuição deste tipo
de reacção, em cerca de 50% para a transfusão de EDSA e superior a 90%, para a
transfusão de plaquetas.
Manifesta-se por calafrios e por um aumento da temperatura corporal superior a 1ºC,
durante ou até duas horas após o final da transfusão. Contudo, esta sintomatologia
não é específica deste tipo de reacção, podendo ser o primeiro sinal de uma reacção
transfusional grave, como a contaminação bacteriana e a reacção hemolítica aguda
(Smeltzer, Bare, 2007; SETS, 2010; British Society for Haematology, 2012).

 A reacção alérgica é causada por substâncias presentes no produto transfundido,


como proteínas ou fármacos, aos quais o doente é alérgico. De acordo com a
gravidade, distinguem-se dois tipos de reacções alérgicas: a anafiláctica, muito grave
e pouco frequente e a moderada ou ligeira, que surge em cerca de 15% dos doentes
transfundidos.
As reacções anafilácticas são reacções transfusionais graves, pouco frequentes e com
potencial para comprometer a vida do doente. Habitualmente surgem durante a
transfusão, ou imediatamente após esta ter terminado. Os sinais e sintomas que
caracterizam este tipo de reacção são a dispneia, a dor torácica, a dor abdominal, as
náuseas, a hipotensão, o broncospasmo, o edema laríngeo e peri-orbital, os vómitos, o
eritema cutâneo, a urticária e as conjuntivites.

39
As reacções alérgicas moderadas e ligeiras afectam cerca de 1% dos doentes
transfundidos e manifestam-se por urticária, prurido e rubor, com início poucos
minutos depois de iniciada a transfusão. Habitualmente surgem na transfusão de
componentes que contêm maior volume de plasma, como os concentrados de
plaquetas e as unidades de plasma (Amaro, 2005; SETS, 2010).
 A lesão pulmonar aguda associada à transfusão (TRALI) caracteriza-se pela
presença de edema pulmonar de causa não cardiogénica, verificando-se edema
pulmonar bilateral sem a presença de insuficiência cardíaca. Não havendo certeza
relativa à patogénese deste tipo de reacção, existe consenso sobre a possibilidade de
ser causada por uma reacção dos anticorpos do dador com os antigénios
correspondentes, presentes nos leucócitos do receptor. Na Europa estima-se que a
incidência deste tipo de reacção seja de 1/8000 transfusões. Contudo, é considerada
um tipo de reacção infra diagnosticada que se caracteriza por calafrios, febre, cianose,
hipotensão e insuficiência respiratória, após a transfusão de um volume do
componente que habitualmente não culmina em hipervolémia (AABB,2007;SETS,
2010).

 A aloimunização com destruição plaquetar imediata surge em doentes com


anticorpos anti-HLA ou antigénios plaquetares específicos. Estes anticorpos produzem
a destruição das plaquetas que contem o antigénio correspondente. Além da
trombocitopenia, este tipo de reacção manifesta-se por calafrios e hipertermia,
nomeadamente quando se administram plaquetas incompatíveis (AABB,2007; SETS,
2010).

1.4.2 - Reacções transfusionais agudas, de origem não imunológica

Fazem parte das complicações agudas da transfusão, de origem não imunológica, a


contaminação bacteriana, a sobrecarga circulatória, a hemólise não imune e as
reacções hipotensivas (AABB, 2007;SETS, 2010):

 A contaminação bacteriana é uma reacção pouco frequente mas de consequências


potencialmente fatais para o doente. A contaminação dos componentes é,
habitualmente, causada pela persistência de germes no local da punção, aquando da
colheita da unidade de sangue total. Caracteriza-se pelo aparecimento de febre alta,
calafrios, hipotensão, taquicardia e choque, durante ou imediatamente após o final da
transfusão (Smeltzer, Bare, 2007; SETS, 2010).

40
 A sobrecarga circulatória pode ocorrer quando os componentes são transfundidos a
um débito superior a 2-4ml/kg/hora, principalmente em doentes idosos, doentes com
anemia crónica ou em doentes com as funções cardíaca ou renal, comprometidas.
Este tipo de reacção é manifestado por dispneia, taquipneia, tosse produtiva, aumento
da pressão venosa central, hipertensão e taquicardia (Amaro, 2005; EU, Optimal Blood
Use Project, 2010).

 A hemólise não imune é causada por situações como a hemólise mecânica devida
a válvulas cardíacas ou circulação extracorpórea, a infusão de soluções hipertónicas,
a administração de certos fármacos, o aquecimento excessivo dos eritrócitos, a
contaminação bacteriana da unidade, a exposição das unidades de ESDA a
temperaturas inapropriadas entre outras. Não existem manifestações clínicas
associadas a este tipo de reacção, excepto se tiver origem na contaminação
bacteriana, cuja primeira manifestação é a hemoglobinúria e a presença de
hemoglobinémia, com posterior aumento da bilirrubina sérica (SETS, 2010).

 As reacções hipotensivas ocorrem por inibição do metabolismo das citocinas


(geralmente as bradiquininas) quando a filtração dos componentes sanguíneos
celulares é efectuada à cabeceira do doente. Quando a leucorredução é anterior ao
armazenamento do componente celular, este tipo de reacção não se manifesta, dado
o período de vida em circulação, da bradiquinina, ser curto. Este tipo de reacção
manifesta-se por hipotensão sistólica e/ou diastólica aguda, logo após o início da
transfusão. Pode ser acompanhada de manifestações respiratórias, como a dispneia
e/ou hipoxemia e por manifestações alérgicas, como a urticária, o prurido e o eritema
facial (SETS, 2010).

1.4.3 - Reacções transfusionais tardias, de origem imunológica

Sobre as complicações tardias da transfusão, também podem ter origem imunológica


ou não imunológica. Das primeiras fazem parte a reacção hemolítica tardia; a
aloimunização face aos antigénios eritrocitários, plaquetares, leucocitários ou às
proteínas plasmáticas; a purpura pós transfusional; a doença do enxerto contra o
hospedeiro e a imunomodulação (AABB, 2007;SETS, 2010):

 A reacção hemolítica tardia surge quando a transfusão de eritrócitos induz a


formação de anticorpos contra os antigénios ertitrocitários do receptor dias ou
semanas após a transfusão (imunização primária). Este tipo de reacção raramente

41
produz hemólise dos eritrócitos transfundidos e raramente põe em risco a vida do
doente ou precisa de tratamento. As suas manifestações mais frequentes são a
febrícula, mal-estar geral e ligeira icterícia 3 a 7 dias após a transfusão. É,
habitualmente, diagnosticada, pela diminuição inexplicável dos valores da
hemoglobina, pela positividade do teste da antiglobulina directo e pelo aumento da
bilirrubina (Smeltzer, Bare, 2007; SETS, 2010).

 A aloimunização face aos antigénios eritrocitários, plaquetares, leucocitários ou às


proteínas plasmáticas pode ocorrer algum tempo após a transfusão e geralmente não
causa sintomatologia. Se posteriormente forem transfundidos componentes portadores
desses antigénios, pode verificar-se uma diminuição da vida média dos mesmos,
acompanhada, ou não, de sintomatologia clínica (SETS, 2010).

 A purpura pós transfusional manifesta-se por uma descida brusca do valor de


plaquetas após uma transfusão, em doentes com sensibilização prévia causada por
transfusão ou gestação. Manifesta-se por trombocitopenia, por vezes acompanhada
de petéquias que surgem três a dez dias após a transfusão de concentrado de
eritrócitos ou de plaquetas (SETS, 2010).

 A doença do enxerto contra o hospedeiro é uma complicação imunológica quase


sempre fatal. É causada pela transfusão de linfócitos T viáveis, a doentes
imunodeprimidos ou a doentes que recebem transfusão de dadores com os quais
partilham um haplotipo (familiares do primeiro ou segundo grau). Os linfócitos
transfundidos proliferam e agridem diversos órgãos e tecidos do receptor, como a
pele, o fígado, o baço e principalmente, a medula óssea. A sintomatologia surge 10 a
15 dias após a transfusão e manifesta-se por febre, erupção cutânea, alterações da
função hepática e pancitopenia. Este tipo de reacção pode ser prevenido por
inactivação dos linfócitos T residuais dos componentes, através da irradiação por raios
gamma (AABB, 2007; EU, Optimal Blood Use Project, 2010; SETS, 2010).

 A imunomodulação surge quando a transfusão de componentes sanguíneos origina


uma desregulação da imunidade celular, relacionada com a infusão de leucócitos. Este
tipo de reacção pode ter implicações em mecanismos que dependem de uma resposta
imunitária normal, como o crescimento tumoral e o aparecimento de infecções ou de
processos auto-imunes (SETS, 2010).

42
1.4.4 - Reacções transfusionais tardias, de origem não imunológica

Relativamente às reacções tardias de origem não imunológicas, temos a transmissão


de agentes infecciosos e a hemossiderose:

 Sobre as infecções transmissíveis por transfusão, apesar dos avanços científicos


nesta área, o risco de transmissão de infecções virais, bacterianas e parasitárias,
ainda persiste, assim como persiste a possibilidade de transmissão de eventuais
agentes ainda desconhecidos.
Recorrendo a técnicas laboratoriais cada vez mais avançadas, como o estudo dos
ácidos nucleicos dos vírus, é efectuada, a todos os dadores, a pesquisa de agentes
infecciosos como os vírus da hepatite B e C, o HIV I e II, o vírus linfotropico das
células T humanas I e II e o Treponema pallidum, agente causador da sífilis. Estima-se
que o risco de transmissão do vírus da hepatite C é de 1/2381000 doações, o risco de
transmissão de HIV é de 1/806000 e de 1/177000 para o vírus da hepatite B (AABB,
2007;SETS, 2010)

 A hemossiderose pode surgir em doentes que requerem a transfusão sistemática


de eritrócitos, durante largos períodos de tempo, produzindo-se uma acumulação de
ferro e, consequentemente, sobrecarga. O ferro acumula-se no coração, fígado e
outros órgãos, podendo dar origem a miocardiopatias. Estima-se que, a partir da
transfusão de 20 unidades de eritrócitos, possa ocorrer hemossiderose secundária. A
determinação periódica dos níveis de ferritina sérica permite realizar o controlo do
ferro acumulado (Smeltzer, Bare, 2007; SETS, 2010).

Dada a potencial gravidade de algumas reacções transfusionais, o evitar de


ocorrências fatais passa pela sua prevenção, pelo diagnóstico precoce, pelo
estabelecimento imediato de medidas terapêuticas e pela notificação rápida ao Serviço
de Sangue (Santos e Alves, 2009).

Inicialmente as diferentes reacções transfusionais podem apresentar-se com sinais e


sintomas comuns a todos os tipos de reacções, o que dificulta a sua distinção. Assim
sendo, pode acontecer que uma reacção potencialmente fatal seja, inicialmente,
interpretada como uma reacção de menor gravidade ou até mesmo atribuída à
patologia de base apresentada pelo doente. No caso das reacções hemolíticas,
causadas pela transfusão de eritrócitos ABO incompatíveis, os primeiros sintomas
podem surgir após a perfusão de escassos mililitros.

43
Deste modo, é fundamental que a actuação do enfermeiro, responsável pela
administração da transfusão e vigilância do doente, seja efectuada com base em
conhecimentos sólidos sobre os diferentes tipos de reacções e como intervir em cada
uma delas. A vigilância do doente, nomeadamente nos primeiros 15 minutos após o
início da transfusão é fundamental para que possa ser detectada, precocemente, uma
possível reacção adversa e intervir atempadamente, minimizando a ocorrência de
efeitos adversos graves que podem culminar na morte do doente.

Na opinião de Amaro (2005) e de Santos e Alves (2009), existem um conjunto de


normas que devem ser respeitadas para a prevenção de reacções transfusionais:

 Avaliar, adequadamente, o risco/benefício da transfusão.


 Confirmar a identificação do doente em todas as fases da cadeia
transfusional
 Respeitar as normas relativas ao tempo de administração de cada
componente.
 Não administrar qualquer fármaco ou solução na mesma via onde perfunde
o componente sanguíneo, com a excepção do soro fisiológico.
 Manter o doente sob vigilância apertada, durante os primeiros 15 minutos e
pelo menos até uma hora, depois de terminada a transfusão.
 Em caso de reacção transfusional: parar a transfusão, de imediato,
confirmar a identificação do doente/componente; manter o acesso venoso com
soro fisiológico; avaliar os parâmetros vitais, comunicar ao médico responsável
pelo doente e ao Serviço de Sangue; administrar a medicação prescrita.

1.5 – CUIDAR COM SEGURANÇA NA TRANSFUSÃO DE COMPONENTES


SANGUÍNEOS

Relativamente à administração dos componentes sanguíneos, sendo os enfermeiros


os profissionais responsáveis por este procedimento, a segurança e eficácia desta
medida terapêutica depende, entre outros, dos seus conhecimento e competências.
Más práticas podem traduzir-se em complicações, potencialmente fatais para o doente
(Hijji et al, 2010).

Da mesma opinião compartilham Silva, Soares e Iwamoto (2009) ao afirmarem que a


transfusão de componentes sanguíneos é uma medida terapêutica não isenta de
riscos, pelo que deve ser realizada por uma equipa de profissionais treinados e

44
capacitados, que garantam a segurança do procedimento e que previnam as possíveis
complicações e reacções transfusionais.

Os enfermeiros são responsáveis por diversas etapas da cadeia transfusional e são


detentores de conhecimentos e competências que lhes permitem prestar cuidados
com elevado padrão de qualidade, pelo que têm a responsabilidade profissional de se
assegurarem de que detêm os conhecimentos e competências necessários para
prestarem cuidados seguros e eficazes. Se actuarem deste modo, a possibilidade de
ocorrerem erros reduz-se para valores mínimos. (Gray et al, 2008; Aslani, Etemadyfar
e Noryan, 2010).

Das etapas da cadeia transfusional onde os enfermeiros têm uma intervenção directa,
exercendo um papel fundamental na segurança transfusional, destacam-se a colheita
de sangue para testes pré-transfusionais, a administração da transfusão e a vigilância
do doente (Torezan e Sousa, 2010).

Sobre a colheita de sangue para testes pré-transfusionais, é fundamental que o


enfermeiro proceda à identificação positiva do doente perguntando, ao próprio, os
seus dados de identificação e que os compare com os do pedido de transfusão. Se o
doente estiver inconsciente ou impedido de comunicar confirmar com os dados que
constam no seu processo clínico. Deve identificar sempre os tubos junto do doente,
imediatamente antes da colheita, de modo a evitar possíveis trocas das amostras. Da
identificação dos tubos deve constar o nome completo, processo único, data de
colheita e o número mecanográfico do flebotomista. Preferencialmente devem ser
utilizadas etiquetas de identificação pré-impressas. Se a identificação for feita
manualmente deve conter todos os elementos previamente definidos e ser efectuada
com letra legível (Hospital Geral de Santo António, 2001; British Committee for
Standards in Hematology (2012).

Quanto à administração da transfusão, nunca deve ser iniciada sem que que seja
efectuada a prévia identificação do doente. A identificação incorrecta do doente é uma
causa importante de danos evitáveis, pelo que deve ser efectuada com base em
normas definidas e com o apoio de sistemas como o uso de pulseiras de identificação
e os sistemas electrónicos de registo de administração dos componentes, colocados à
cabeceira. A identificação positiva do doente deve focar aspectos como o nome, a
data de nascimento, o género e o número do processo, o número do sistema Nacional
de Saúde ou da Segurança Social.

Em relação aos doentes inconscientes, aos recém-nascidos e a pessoas de um grupo


linguístico diferente, devem ser implementadas normas que assegurem a sua correcta
45
identificação. Deste modo, sempre que possível deve ser perguntada ao doente a sua
identificação e a identificação positiva tem de acontecer imediatamente antes da
colheita das amostras e da transfusão (Eu, Optimal Blood Use Project, 2010).

De acordo com Bielefeldt e DeWitt (2009), uma prática segura na administração de


componentes sanguíneos deve obedecer a princípios básicos, como:

 Confirmar a prescrição da transfusão.


 Efectuar uma avaliação do doente com avaliação dos parâmetros vitais,
que permita identificar, precocemente, alterações no decorrer da transfusão.
 Confirmar se o doente deu o seu consentimento informado.
 Informar o doente acerca dos riscos e benefícios da transfusão, efectuar
ensinos sobre os sinais e sintomas de uma possível reacção transfusional e
sobre como proceder, caso ocorram.
 Seleccionar um acesso vascular adequado.
 Possuir conhecimentos sólidos acerca dos diferentes tipos de
componentes e sobre os cuidados na sua administração.
 Ter conhecimento dos diferentes tipos de reacções transfusionais e de
como actuar, caso ocorram.
 Certificar-se da prescrição de pré-medicação.
 Antes de iniciar a transfusão, efectuar a identificação positiva do doente e
confirmar a identificação do componente.
 Transfundir o componente através de um sistema com filtro de 170-200µ.
Em simultâneo apenas pode perfundir soro fisiológico.

Quanto à vigilância do doente é fundamental que seja continua, nomeadamente nos


primeiros quinze minutos e que o enfermeiro conheça os protocolos existentes sobre o
modo de actuação perante a suspeita de uma reacção transfusional e que assegure a
rastreabilidade dos componentes transfundidos (Lagneaux, 2008).

Neste contexto, o Conselho da Europa publicou, em 2004, a Recomendação (2004)


18, relativa ao ensino de Medicina Transfusional para Enfermeiros, onde considera
que:

 A segurança transfusional depende, em grande parte, dos enfermeiros


envolvidos no processo.

 A maioria das reacções e eventos adversos graves, associados à


transfusão, têm origem em erros humanos e podem ocorrer a qualquer nível da
cadeia transfusional.

46
 As reacções transfusionais podem ser evitadas ou reduzidas pela adopção
de medidas de segurança antes e durante a transfusão.

 A formação adequada dos enfermeiros é um factor determinante para


garantir a segurança, eficácia e qualidade da transfusão sanguínea.

A mesma Recomendação veio determinar a implementação de medidas que permitam


garantir que:

 Todos os Enfermeiros recebem formação específica na área da terapêutica


transfusional e desenvolvem competências específicas na mesma.

 Só os enfermeiros com formação específica em Medicina Transfusional


são autorizados a praticar a mesma.

 São implementados programas de formação contínua, com o objectivo de


melhorar a qualidade e a segurança transfusional.

 São criados procedimentos para monitorizar os conhecimentos nesta área


de actuação e implementadas medidas correctivas que permitam assegurar a
melhoria contínua do desempenho.

 São desenvolvidas orientações e protocolos para os enfermeiros e outros


profissionais em conformidade com as Recomendações do Conselho da
Europa.

Esta Recomendação teve por base a necessidade de harmonizar a prática


transfusional nos países Europeus uma vez que os cursos de formação sobre
transfusão sanguínea, nas escolas e nos estabelecimentos de saúde, divergem muito
de país para país. Considera, também, que é fundamental definir princípios comuns
em matéria de formação dos enfermeiros e definir uma base comum de boas práticas
transfusionais. Determina que os enfermeiros devem receber formação específica
nesta área, que só esses enfermeiros sejam autorizados a prestarem cuidados ao
doente submetido a terapêutica transfusional e que os mesmos frequentem programas
de actualização de conhecimentos, dados os avanços científicos permanentes.

A mesma Recomendação determina, ainda, que as autoridades dos Estados membros


devem rever os cursos de formação para enfermeiros, tanto ao nível das escolas como
nos hospitais bem como vigiar e avaliar a prática transfusional e define os conteúdos
programáticos que devem ser incluídos nos programas de formação de base e nos
programas de formação frequentados depois de obtido o diploma profissional.

47
Como anteriormente foi referido, a maioria dos eventos adversos associados à
transfusão têm origem no erro humano e, embora eliminar totalmente a possibilidade
de erro humano não seja possível, reduzir as oportunidades para que ocorram é um
objectivo alcançável. Por esse facto, é fundamental que todos os profissionais
envolvidos neste processo tenham conhecimentos e competências sólidos e
actualizados, nesta área de actuação. Assim sendo, ter procedimentos escritos,
adequados e disponíveis, que transmitam às equipas instruções adequadas e
consistentes sobre como proceder na transfusão de componentes sanguíneos, são
elementos fundamentais para o incremento da segurança transfusional (Ferreira et al,
2007).

Neste contexto, de modo a uniformizar procedimentos e a incrementar a segurança


transfusional, no SSMT todos os procedimentos de enfermagem, relativos à
terapêutica transfusional, que inclui a colheita e a administração dos componentes,
estão descritos em instruções de trabalho que são cumpridas por todos os
enfermeiros.

Para a administração dos componentes sanguíneos, o SSMT adoptou, como linhas


orientadoras, os requisitos definidos no relatório da Conferência de Consenso: Uso de
Sangue e Derivados do Hospital Geral de Santo António (2001), no Guia sobre a
transfusão de componentes sanguíneos e derivados plasmáticos, da Sociedade
Espanhola de Transfusão Sanguínea e Terapia Celular (2010) e no Manual para Uso
Óptimo do Sangue publicado, em 2010, pelo Conselho da Europa.

Conhecedores da complexidade do processo transfusional e das dificuldades dos


enfermeiros dos serviços, que diariamente colocam questões relativas aos cuidados
de enfermagem na conservação, administração de componentes sanguíneos e à
actuação perante um doente com reacção transfusional, em Outubro de 2003, uma
equipa de enfermeiros do serviço elaborou um conjunto de flyers sobre esta temática,
com o objectivo de consolidar os conhecimentos dos enfermeiros dos serviços, onde
esta medida terapêutica era praticada. Foram elaborados quatro flyers, um relativo aos
cuidados gerais na administração de componentes sanguíneos e os restantes relativos
aos cuidados específicos na administração de cada componente. Os flyers foram,
posteriormente, disponibilizados a todos os Enfermeiros Chefes dos Serviços, onde
esta medida terapêutica se realiza, para serem divulgados nas equipas que lideram.

A implementação desta medida teve por base a importância da tomada de decisão e


da implementação das intervenções do enfermeiro ser efectuada com base em guias
orientadores de boas práticas de cuidados de enfermagem, baseados na evidência

48
empírica o que, de acordo com os Padrões de Qualidade dos Cuidados de
Enfermagem (2012) constitui uma base estrutural importante para a melhoria contínua
da qualidade do exercício profissional dos enfermeiros.

Sendo a Medicina Transfusional uma área onde os avanços técnicos e científicos são
permanentes, em 2008, 2010 e 2011, foram efectuadas revisões/actualizações dos
flyers, com a colaboração da médica responsável pelo sector transfusional. As duas
últimas revisões foram efectuadas com base nos requisitos definidos na legislação em
vigor, no relatório da Conferência de Consenso: Uso de Sangue e Derivados do
Hospital Geral de Santo António (2001), no Guia sobre Transfusão de Componentes
Sanguíneos e Derivados Plasmáticos, publicado pela Sociedade Espanhola de
Transfusão Sanguínea e Terapia Celular (2010) e no Manual para Uso Óptimo do
Sangue publicado, em 2010, pelo Conselho da Europa.

Um dos flyers efectuado foi relativo aos princípios gerais de actuação do enfermeiro no
cuidar de um doente submetido a transfusão sanguínea onde foram definidas as
normas de boas práticas, relativas à colheita de amostras de sangue para testes pré
transfusionais, os cuidados gerais pré, per e pós transfusão e ainda os cuidados de
enfermagem e caso de ocorrência de uma reacção transfusional (Anexo I):

Colheita de amostras para testes pré transfusionais:

 Se no serviço estiver implementado o Sistema de Identificação de um Receptor de


Componentes Sanguíneos e respectivas amostras, com pulseiras de identificação,
proceda de acordo com o protocolo existente.

 Se este sistema não estiver implementado:

 Proceder à identificação do doente, perguntando, ao próprio, os seus


dados de identificação e compará-los com os que constam no pedido de
transfusão. Se o doente estiver inconsciente ou impedido de comunicar
confirmar com os dados que constam no seu processo clínico.

 Identificar os tubos junto do doente, imediatamente antes da colheita, de


modo a evitar possíveis trocas das amostras. Da identificação dos tubos deve
constar o nome completo, processo único, data de colheita e o número
mecanográfico do flebotomista.

 Proceder à colheita de sangue para determinação do grupo sanguíneo e


realização de provas de compatibilidade. Se possível preservar o acesso
venoso para posteriormente efectuar a transfusão.
49
 Não colher as amostras de uma linha intravenosa onde estejam a ser
administrados fármacos pois existe a possibilidade de estes comprometerem o
uso da amostra para a execução dos estudos imuno-hematológicos
necessários.

 Se efectuar a colheita a partir de um cateter deverá fazer uma lavagem


prévia da via, com soro fisiológico e, antes de colher as amostras, desperdiçar
um volume de sangue correspondente ao dobro do conteúdo necessário para
preencher a linha intravenosa.

 Enviar as amostras de sangue ao SSMT acompanhadas pelo respectivo


pedido de transfusão (correctamente preenchido, com letra legível), de modo a
evitar possíveis erros.

 Registar no processo do doente as colheitas efectuadas e a hora de envio


das amostras e do pedido de transfusão ao SSMT.

Cuidados pré transfusão:

 Confirmar se os dados inscritos na etiqueta de identificação do componente


coincidem com os dados do processo do doente (nome, número de processo e data
de nascimento).

 Fazer a identificação “positiva” do doente: perguntar ao doente os dados referentes


à sua identificação (nome; data de nascimento). Caso o doente se encontre
inconsciente ou impossibilitado de comunicar, confirmar com os elementos presentes
no seu processo clínico.

 Verificar se o tipo e o volume do componente sanguíneo a administrar estão de


acordo com a prescrição médica.

 Esclarecer as dúvidas do doente sobre o acto transfusional.

 Certificar-se da história clínica do doente relativa a transfusões anteriores e à


ocorrência de reacções transfusionais.

 Avaliar e registar parâmetros vitais (temperatura, tensão arterial, pulso). Iniciar o


preenchimento do impresso de Registo de Administração dos componentes, que
acompanha cada unidade de eritrócitos/pool de plaquetas enviados.

 Providenciar o acesso venoso, que deve permitir um bom débito. Se for necessário
cateterizar uma veia periférica utilizar, sempre que possível, um cateter 18 G.

50
 Informar o doente que deverá comunicar de imediato ao Enfermeiro o aparecimento
de sinais e sintomas, como: calafrios; tremores; cefaleias; mal-estar; vómitos, rubor,
prurido, pápulas, dispneia e lombalgias.

Durante a transfusão:

 Utilizar um sistema próprio com filtro de 200 para transfundir o componente. Este
permite a perfusão adequada do componente e a remoção de células agregadas,
microrganismos e coágulos.

 Sempre que possível, não utilizar sacos de pressão para aumentar o débito da
transfusão, uma vez que pressões elevadas danificam as células sanguíneas. Em
caso de extrema necessidade não ultrapassar os 200 mmHg de pressão.

 Não administrar soluções ou medicamentos na mesma via em que perfundem os


componentes sanguíneos, pois podem provocar hemólise, com excepção do cloreto
de sódio a 0.9% que permite diminuir a viscosidade do sangue e não danifica as
células sanguíneas.

 Avaliar e registar os parâmetros vitais 15 minutos após o início da transfusão e


proceder a sua re-avaliação sempre que necessário. Preencher o impresso (HUC-
PA.4.Mod.05).

 Registar no processo do doente os dados relativos à transfusão: tipo de


componente e hora de início da administração. Colar a parte destacável da etiqueta de
identificação da unidade, no processo do doente.

 Estar atento às manifestações do doente relativas ao aparecimento de sinais e/ou


sintomas como: ansiedade; náuseas/vómitos; rubor, taquipneia, taquicardia; calafrios
seguidos de hipertermia; cianose, hemoglobinúria; dor no local da punção; hipotensão;
oligúria/anúria; cefaleias, lombalgias; erupção cutânea; hipertensão; dor subesternal;
edema da laringe, entre outras.

Após a transfusão:

 Avaliar e registar os parâmetros vitais.

 Concluir o preenchimento do impresso de Registo de Administração dos


componentes (HUC-PA.4.Mod.05) que acompanha cada unidade de eritrócitos /pool
de plaquetas.

51
 Registar, no processo único do doente, a hora a que terminou a transfusão e a
ocorrência de qualquer incidente associado à administração dos componentes
sanguíneos.

 Manter o doente sob vigilância durante cerca de uma hora de modo a despistar
precocemente, possíveis reacções tardias.

Perante a suspeita de uma reacção transfusional:

 Suspender de imediato a transfusão.

 Manter o acesso venoso com soro fisiológico a 0,9%.

 Monitorizar o doente.

 Confirmar a identificação da unidade/doente.

 Comunicar a ocorrência ao Médico/Enfermeiro do SSMT, contacto telefónico


(Extensão:12525/12526).

 Preparar e administrar a medicação prescrita.

 Efectuar o registo da reacção ocorrida e dos cuidados prestados.

 Preencher o impresso de Registo de Administração dos Componentes (HUC-


PA.4.Mod.05), que acompanha cada unidade de eritrócitos / pool e devolver ao SSMT
no prazo de 24 horas.

Atendendo às características específicas de cada componente, foram elaborados


flyers relativos aos cuidados de enfermagem na administração de EDSA (Anexo II), na
administração de plasma (Anexo III) e na administração de pool de plaquetas
desleucocitadas/plaquetas de aférese desleucocitadas (Anexo IV):

Transfusão de Eritrócitos Desleucocitados em Solução Aditiva:

 Utilizar um sistema próprio com filtro de 200 para transfundir o componente. Este
permite a perfusão adequada dos eritrócitos e a remoção de células agregadas,
microrganismos e coágulos. Cada sistema permite a transfusão de duas unidades.

 Iniciar a transfusão a um ritmo de 10 gotas/ min., vigiando o doente nos primeiros 5


a 10 minutos, uma vez que é nesse período que podem ocorrer grande parte das
reacções.

52
 Aumentar o ritmo de perfusão para 30 a 60 gotas por minuto, ou adequá-lo à
situação clínica do doente, mediante prescrição médica.

 Num doente sem disfunção cardio-vascular a duração da transfusão deve ser de 90


a 120 minutos. Nunca deve demorar mais de 4 horas, uma vez que, ultrapassado este
período diminui a viabilidade do componente, favorecendo a proliferação bacteriana.

 Sempre que possível não utilizar sacos de pressão para aumentar o débito da
transfusão, uma vez que pressões elevadas danificam as células sanguíneas. Em
caso de necessidade não ultrapassar os 200 mmHg de pressão.

 O aquecimento dos eritrócitos apenas é recomendável em situações de transfusão


maciça, transfusões com um ritmo superior a 50 ml/min, na transfusão permuta no
recém-nascido e na transfusão em doentes com aglutininas frias potentes. Nestas
situações poderá ser prescrito o seu aquecimento devendo ser efectuado com
aquecedores próprios, dotados de termóstato para prevenir os efeitos do
sobreaquecimento.

 Não administrar soluções ou medicamentos na mesma via em que perfundem os


eritrócitos pelo risco de ocorrência de hemólise, com excepção do cloreto de sódio a
0,9% que não danifica as células sanguíneas e permite diminuir a viscosidade do
sangue. Em caso de extrema necessidade, a transfusão deve ser interrompida e a
linha venosa lavada com soro fisiológico.

 Preencher o impresso de Registo da administração de cada unidade (HUC-


PA.4.Mod.05) e devolvê-lo ao SSMT no prazo de 24 horas.

 Caso ocorra alguma reacção transfusional: suspender a transfusão, manter a via


permeável com soro fisiológico e contactar o Médico/Enfermeiro do SSMT (Extensão:
12525/12526).

Transfusão de Plasma:
 No momento da recepção das unidades de plasma, confirmar os dados de
identificação do doente e a prescrição clínica e validar a sua recepção no pedido de
transfusão.
 Iniciar a transfusão logo que as unidades cheguem ao serviço requisitante, de modo
a garantir um aporte adequado dos factores lábeis da coagulação.
 Se não for possível iniciar a transfusão, de imediato, devolver as unidades ao
SSMT.

53
 As unidades de plasma devem ser administradas através de um sistema com filtro
de 200 .
 A transfusão de plasma deve iniciar-se a um ritmo de 10 gotas/minuto, vigiando o
aparecimento de efeitos adversos. Posteriormente ajustar o ritmo de perfusão à
situação clínica do doente.
 Num adulto sem disfunção cardiovascular uma unidade de plasma deve ser
transfundida durante 20 a 30 minutos, a um ritmo de 125 a 175 gotas por minuto.
 A transfusão de uma unidade de plasma nunca deve ultrapassar as 2 horas, de
modo a preservar os factores de coagulação.
 Administração deve ser registada no “Quadro D” na “Via Serviço” e posteriormente
arquivada no processo clínico do doente.
 Caso ocorra alguma reacção transfusional: suspender a transfusão, manter a via
permeável com soro fisiológico e contactar o Médico/Enfermeiro do SSMT (Extensão:
12525/12526).

Transfusão de pool de plaquetas desleucocitadas/plaquetas de aférese


desleucocitadas:
 Transfundir, de imediato, a pool de plaquetas desleucocitadas, após a sua chegada
ao serviço requisitante.
 Na impossibilidade de iniciar, de imediato, a transfusão, devolver a pool ao SSMT,
para que as suas condições de armazenamento possam ser preservadas e garantida
a qualidade do componente.
 Nunca colocar este componente no frigorífico, sob pena de o inutilizar em termos de
efeitos hemostáticos.
 A transfusão deve ser efectuada através de um sistema com filtro de 200 .
 A duração da transfusão deve ser de 20 a 30 minutos, a um ritmo de 125 a 225
gotas/ minuto. A situação clínica do doente poderá condicionar o ritmo da transfusão,
devendo, neste caso, ser efectuada de acordo com a prescrição clínica.
 A transfusão de plaquetas nunca deve exceder as 4 horas, devido ao risco de
proliferação bacteriana.
 Preencher o impresso de Registo da administração da pool (HUC-PA.4.Mod.05) e
devolvê-lo ao SSMT no prazo de 24 horas.
 Caso ocorra alguma reacção transfusional: suspender a transfusão, manter a via
permeável com soro fisiológico e contactar o Médico/Enfermeiro do SSMT (Extensão:
12525/12526).

54
Apesar da elaboração e divulgação dos flyers, os enfermeiros do SSMT continuam a
ser confrontados com pedidos de esclarecimentos de dúvidas, por parte dos
enfermeiros dos serviços que solicitam a transfusão, nomeadamente relativas à
conservação e cuidados na administração dos diferentes componentes.

Preocupados com a segurança transfusional e de acordo com o preconizado pela


Recomendação 18 (2004) do Conselho da Europa, foi constituído um grupo de
trabalho, composto por duas enfermeiras, uma das quais especialista em enfermagem
médico-cirúrgica, dois técnicos de análises clínicas e saúde pública e por duas
médicas, responsáveis pelo sector de transfusões e pelo sector de colheitas e, em
articulação com o Exmº Sr. Director do SSMT, elaboraram um projecto de formação,
cujo desafio central consistia na proposta de articulação com o Serviço de Formação e
Aperfeiçoamento Profissional para a realização do segundo Curso de Formação para
Enfermeiros, subordinados ao tema “A Pessoa Doente submetida a Transfusão de
Componentes Sanguíneos”.

Com a sua concretização pretendia-se potenciar a capacitação dos enfermeiros, dos


diferentes serviços do hospital, no cuidar da Pessoa doente submetida a transfusão de
componentes sanguíneos.

A proposta de realização do curso mereceu a aprovação da Direcção de Enfermagem


e da direcção do Serviço de Formação e Aperfeiçoamento Profissional, tendo o
mesmo decorrido durante o mês de Junho de 2011. No total foram realizadas seis
sessões lectivas com a duração de 3h30 cada, onde foram abordados os seguintes
conteúdos:

 Evolução da Segurança Transfusional

 O processo transfusional como um todo: a cadeia transfusional

 Pontos críticos do processo

 A ocorrência de erros

 Reacções adversas da transfusão

 A importância dos registos: rastreabilidade

 Componentes sanguíneos e testes pré transfusionais

 Cuidados de Enfermagem na transfusão de componentes sanguíneos

 Hemovigilância

55
Este curso teve o carácter de participação obrigatória, por parte dos formandos, tendo
frequentado a formação 122 enfermeiros.

Por indisponibilidade de recursos humanos para os profissionais do SSMT para


efectuarem formação a todos os enfermeiros do hospital, definiu-se como metodologia,
que o curso fosse frequentado pelo enfermeiro chefe do serviço e por outro enfermeiro
por este designado. Após a formação, os formandos ficaram com a responsabilidade
de efectuarem a sua replicação nos serviços, de modo a potencializar o número de
enfermeiros com formação específica na área.

Com o objectivo de aumentar o número de enfermeiros com formação específica na


área da medicina transfusional, em Março de 2012 foi efectuado um novo Projecto de
formação sobre esta temática e solicitada autorização para o desenvolvimento, do
mesmo. Até ao momento não foi obtido consentimento.

É neste contexto que surgiu a curiosidade em aferir sobre os conhecimentos dos


enfermeiros do Centro Hospitalar e Universitário, EPE, mais concretamente, dos
enfermeiros do polo dos Hospitais da Universidade de Coimbra, relativos a esta área
de intervenção, uma vez, que de acordo com a revisão da literatura efectuada, os
enfermeiros têm algum défice de conhecimentos relativos aos cuidados na
administração de componentes sanguíneos.

56
CAPÍTULO II – ESTUDO EMPÍRICO

57
58
2 – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

A investigação científica é um processo que permite resolver problemas ligados ao


conhecimento dos fenómenos do mundo real em que vivemos. É um método particular
de aquisição de conhecimentos, uma forma ordenada e sistemática de encontrar
respostas para questões que necessitam de uma investigação (Fortin, 2009).

Sendo a metodologia de investigação um conjunto de conhecimentos, métodos e


técnicas que conduzem o desenvolvimento do processo de investigação, torna-se
imperativo a sua escolha e definição, na tentativa de obter respostas às questões de
investigação, previamente definidas (Polit, Beck e Hungler, 2004; Fortin, 2009).

Dedicamos, assim, este capítulo à apresentação das etapas percorridas, ao longo da


investigação, abordando o tipo de estudo, os objectivos, as questões de investigação,
os participantes no estudo, o instrumento de colheita de dados, os procedimentos
formais e éticos, os procedimentos de colheita de dados e, por último, a apresentação
e análise dos dados.

2.1 - TIPO DE ESTUDO

Este estudo enquadra-se no domínio da investigação quantitativa, uma vez que, de


acordo com Fortin (2009), este tipo de investigação tem como objectivo estabelecer
factos, por em evidência relações entre variáveis, predizer resultados de causa-efeito
ou verificar teorias ou preposições teóricas. Visa a generalização de resultados a
populações alvo, através dos resultados obtidos com a amostra.

Quanto ao nível de análise, esta pesquisa caracteriza-se como sendo do tipo


descritivo, analítico, exploratório pois pretende obter resultados susceptíveis de serem
utilizados no plano prático e de proporcionarem melhorias em situações particulares
(Fortin, 2009). Mais concretamente pretende obter informações sobre uma
problemática que constitui uma preocupação crescente no âmbito da enfermagem: a
segurança transfusional. É um estudo analítico porque faz a análise dos dados e
exploratório, porque se pretendem obter mais conhecimentos sobre esta temática.

59
2.2 - O PROBLEMA, OS OBJECTIVOS E AS QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO

A investigadora acredita que a pesquisa sobre “Cuidar com segurança na


administração de componentes sanguíneos” é relevante para a enfermagem e que os
resultados certamente darão uma contribuição efectiva para o desenvolvimento desta
profissão. Sendo este problema uma preocupação constante dos enfermeiros, como
referem Gauthier et al (1998), torna-se mais relevante seleccionar o problema quando
este afecta parte considerável da população ou preocupa os responsáveis por
actividades de saúde do que quando é vivenciado isoladamente por algumas pessoas.

Tendo em consideração a pesquisa bibliográfica, em que vários autores referem que


os enfermeiros possuem um nível médio de conhecimentos sobre hemoterapia e
segurança transfusional, definiram-se os seguintes objectivos:

 Analisar a percepção dos enfermeiros sobre os próprios conhecimentos


relativos aos cuidados na administração de componentes sanguíneos pré, per
e pós transfusão.

 Analisar os conhecimentos dos enfermeiros relativos às possíveis


complicações e efeitos adversos da transfusão de componentes sanguíneos.

 Analisar a aplicação das recomendações constantes nos flyers relativos


aos cuidados gerais na administração de componentes sanguíneos e aos
cuidados específicos na administração de cada componente.

 Conhecer a opinião dos enfermeiros sobre a importância de


implementação de orientações e protocolos relativos aos cuidados de
enfermagem na transfusão de componentes sanguíneos.

 Conhecer a opinião dos enfermeiros sobre a pertinência de implementar


programas de formação contínua, com o objectivo de melhorar a qualidade e a
segurança transfusional.

Os objectivos, segundo Gauthier et al (1998), estabelecem directrizes e a estratégia


global para o desenvolvimento da acção.

Para que toda a informação obtida não se amontoe de uma forma difusa e irrelevante
é necessário a delimitação progressiva do foco do estudo e a formulação de questões
analíticas (Bogdan e Biklen, 1994).

Tendo em conta os referidos objectivos do estudo emergiram as seguintes questões:


60
 Qual a percepção dos enfermeiros sobre os próprios conhecimentos
relativos aos cuidados na administração de componentes sanguíneos pré, per
e pós transfusão?

 Quais os conhecimentos dos enfermeiros relativos às possíveis


complicações e efeitos adversos da transfusão de componentes sanguíneos?

 Qual a aplicação das recomendações constantes nos flyers relativos aos


cuidados gerais na administração de componentes sanguíneos e aos cuidados
específicos na administração de cada componente?

 Qual a opinião dos enfermeiros sobre a importância de implementação de


orientações e protocolos relativos aos cuidados de enfermagem na transfusão
de componentes sanguíneos?

 Qual a opinião dos enfermeiros sobre a pertinência de implementar


programas de formação contínua, com o objectivo de melhorar a qualidade e a
segurança transfusional?

2.3 - PARTICIPANTES NO ESTUDO

Por se tratar de um estudo descritivo, cujo objectivo é explorar e descrever fenómenos


(Fortin, 2009), optou-se pelo de método de amostragem não probabilístico, intencional,
cuja principal característica reside no facto de cada elemento da população ou
universo não ter uma probabilidade igual de ser escolhido para formar a amostra.

Tendo em conta os objectivos do estudo, a selecção dos participantes incidiu sobre


Enfermeiros de seis serviços do polo dos HUC: os enfermeiros dos dois serviços que
mais transfundem, os enfermeiros de dois serviços onde é realizado um número
intermédio de transfusões e os enfermeiros dos dois serviços que menos transfundem.
Não sendo objectivo desta investigação efectuar um estudo comparativo do nível de
conhecimentos/experiência entre os enfermeiros dos diferentes serviços, a opção por
incluir na amostra enfermeiros pertencentes a serviços com uma realidade diferente na
área da medicina transfusional justifica-se com o objectivo de obter participantes com
uma multiplicidade de experiência/conhecimentos nesta área tão específica de
actuação dos enfermeiros.

Assim sendo, foi efectuada uma pesquisa sobre o número de transfusões efectuadas
por serviço, no período compreendido entre 01/01/10 e 31/05/11, utilizando a

61
aplicação informática “Sistema Integrado de Bancos de Sangue”, utilizada no serviço.
A pesquisa foi relativa aos diversos componentes transfundidos, nesse período,
nomeadamente: eritrócitos desleucocitados em solução aditiva (EDSA), pool de
plaquetas desleucocitadas (PPD), plaquetas de aférese desleucocitadas (PAD) e
plasma humano inactivado (PHI).

Concluída a pesquisa, foram seleccionados os serviços de Medicina Intensiva (SMI) e


de Hematologia, como os serviços onde anualmente é efectuado o maior número de
transfusões, os serviços de Cardiologia B (que inclui a Unidade de Cuidados
Intensivos Coronários) e de Gastroenterologia Mulheres (que inclui a Unidade de
Cuidados Intensivos Gastroenterológicos), como os serviços com um número
intermédio de transfusões e os serviços de Neurologia B e de Psiquiatria Homens,
como os serviços onde anualmente é efectuado o menor número de transfusões.

De salientar que, na pesquisa efectuada, o serviço de Urgência foi o serviço onde


foram realizadas o maior número de transfusões, no período em análise. Contudo, por
limitações de tempo e pela dificuldade em solicitar a todos os enfermeiros do serviço o
preenchimento dos questionários, a investigadora optou por excluir este serviço.

Quadro 2 – Número de componentes transfundidos por serviço de 01/01/10 a


31/05/11.

SERVIÇO / COMPONENTES EDSA PPD PAD POOL PHI

SMI 1289 455 4 52 1288


Hematologia 2916 7539 68 836 1614
Gastro M 754 19 0 4 322
Cardiologia B 232 62 0 2 60
Neurologia B 19 5 1 1 7
Psiquiatria Homens 2 0 0 0 0
Nº Total de Transfusões 35299 15133 110 1614 20161
(todos os serviços)
Fonte: Serviço de Sangue e Medicina Transfusional dos HUC: aplicação informática “Sistema
Integrado de Bancos de Sangue”.

Ao efectuar esta pesquisa, a investigadora deparou-se com algumas limitações,


nomeadamente o facto de a administração dos componentes sanguíneos nem sempre
ser efectuada no serviço que solicitou a transfusão. Temos o exemplo de um pedido
de reserva de componentes sanguíneos para intervenção cirúrgica: a sua
administração pode ser efectuada no bloco operatório, na unidade de Cuidados Pós
62
Anestésicos, na Unidade de cuidados cirúrgicos intensivos ou no próprio serviço que
efectuou a reserva. Por esse facto, foram excluídos alguns os serviços,
nomeadamente os do foro cirúrgico, por não ser possível determinar, com exactidão, o
local onde os componentes foram administrados.

A população a estudar é, assim, constituída por todos os enfermeiros que integram as


equipas dos seis serviços, anteriormente referidos, abrangendo um total de 203
enfermeiros: 68 enfermeiros do Serviço de Medicina Intensiva; 28 enfermeiros do
serviço de Hematologia; 21 enfermeiros do serviço de Gastroenterologia Mulheres; 42
enfermeiros do serviço de Cardiologia B; 21 enfermeiros do serviço de Neurologia B e
23 enfermeiros do serviço de Psiquiatria Homens.

2.4 – PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS DE COLHEITA DE DADOS

A investigação pode incidir sobre uma variedade de fenómenos pelo que, de acordo
com Fortin (2009), requer o acesso a diversos métodos de colheita de dados, sendo a
natureza do problema de investigação e a metodologia seleccionada que determinam
o tipo de método de colheita de dados a utilizar.

De acordo com a mesma autora, o processo de colheita de dados consiste em colher,


de forma sistemática, a informação desejada junto dos participantes, com a ajuda de
instrumentos de medida escolhidos. A técnica seleccionada procurou não perder de
vista o objectivo da investigação e o contexto de realização do estudo, razão pela qual
se optou pelo questionário.

O questionário é um instrumento de colheita de dados que requer, dos participantes,


respostas escritas a um conjunto de questões e tem como objectivo recolher
informação factual sobre acontecimentos ou situações conhecidas, sobre atitudes,
crenças, conhecimentos, sentimentos e opiniões. Apesar de ser um dos métodos de
recolha de dados mais utilizado em investigação quantitativa, o questionário apresenta
algumas vantagens e desvantagens. Relativamente às vantagens, é um método rápido
e pouco dispendioso de obter dados, junto de um grande número de pessoas. A sua
natureza impessoal, bem como a uniformidade de apresentação e das directivas,
assegura uma constância de um questionário para outro e, por esse facto, a fidelidade
do instrumento. Por outro lado, o anonimato das respostas leva os participantes a
exprimirem livremente, as suas opiniões alvo (Hill e Hill, 2004; Fortin, 2009).

63
Quanto às desvantagens, temos as fracas taxas de resposta e as elevadas taxas de
dados em falta.

De acordo com os objectivos desta investigação, foi elaborado um questionário,


especificamente para este estudo. A sua construção teve por base diversas fases,
nomeadamente a definição da informação a recolher, a elaboração das questões e a
ordenação das mesmas, a submissão do esboço do questionário a peritos na matéria
e a realização de um pré teste junto de uma amostra reduzida da população alvo (Hill
e Hill, 2004; Fortin, 2009).

O pré-teste consiste na aplicação do instrumento de colheita de dados, a um número


restrito de indivíduos, com as mesmas características da população em estudo, de
forma a identificar falhas na estrutura, avaliar as exigências de tempo, a sua eficácia,
pertinência e praticabilidade. A sua aplicação tem como objectivos detectar erros de
construção, a possibilidade de indução de respostas e o esclarecimento de dúvidas,
com vista a um reajustamento ou correcção, antes da aplicação final (Fortin, 2009).

Tendo em conta que no SSMT, os enfermeiros do serviço procedem à administração


de componentes sanguíneos, no Hospital Dia de Imunohemoterapia, e por se serem
profissionais com uma formação sólida na área da Medicina Transfusional, a
investigadora optou por realizar a aplicação do pré teste aos enfermeiros deste
serviço. A equipa de enfermagem era constituída por 11 elementos, tendo todos
participado no preenchimento do questionário. A sua aplicação foi realizada na
semana de 23 a 27 de Abril de 2012 e não produziu alterações significativas no
questionário.

O questionário aplicado é constituído por questões fechadas (questões dicotómicas,


questões com formato de resposta tipo likert e uma questão múltipla) e é constituído
por quatro partes (Anexo V).

Na primeira é efectuada uma breve introdução ao estudo e a apresentação da


investigadora, apelando ao preenchimento do questionário, com garantia do
anonimato e confidencialidade dos dados recolhidos.

Na segunda pretende-se efectuar a caracterização da amostra no que diz respeito ao


serviço onde exerce funções, ao tempo de serviço, à categoria profissional; à idade,
sexo e à periodicidade com que realizam transfusões decomponentes sanguíneos.

Na terceira parte, pretende-se obter informação sobre a obtenção de formação


específica relativa à segurança transfusional e à intervenção do Enfermeiro na
administração de componentes sanguíneos; sobre se considera importante o

64
desenvolvimento de programas de formação contínua, relativos à Medicina
Transfusional, para Enfermeiros; sobre se tem conhecimento da Recomendação 18
(2004) do Conselho da Europa relativa à Formação dos Enfermeiros na área da
Medicina Transfusional) que determina que todos os enfermeiros devem receber treino
na administração de componentes sanguíneos; sobre como considera o seu próprio
nível de conhecimentos relativo à intervenção do Enfermeiro na administração de
componentes sanguíneos; sobre se tem conhecimento dos flyers (folhetos
informativos) relativos aos cuidados de enfermagem na administração de
componentes sanguíneos, elaborados por profissionais do Serviço de Sangue e
Medicina Transfusional e disponibilizados a todos os Senhores Enfermeiros Chefes
dos serviços, para divulgação na sua equipa de trabalho; sobre se Já utilizou a
informação contida nos flyers para esclarecer dúvidas relativas à administração dos
componentes sanguíneos e sobre se considera que a informação contida nos flyers
contribuiu para melhorar o seu nível de conhecimentos relativos à intervenção do
enfermeiro na administração de componentes sanguíneos.

Na quarta parte pretende-se obter informação sobre a intervenção do enfermeiro na


transfusão de componentes sanguíneos.

2.5 - PROCEDIMENTOS FORMAIS E ÉTICOS

A realização de todos os estudos de investigação pressupõe efectuar previamente


determinados procedimentos formais e éticos que a possibilitem.

Assim, a 14 de Junho de 2011, foi solicitada autorização, por escrito, ao Exmo. Sr.
Director do Serviço de Sangue e Medicina Transfusional dos Hospitais da
Universidade de Coimbra para a realização do estudo, tendo sido concedida a 15 de
Junho de 2011 (Anexo VI).

A 12 de Outubro de 2011 foi solicitada autorização para realização do estudo, por


escrito, aos Exm.os Srs. Directores dos serviços de: Medicina Intensiva, Hematologia,
Cardiologia, Gastroenterologia, Neurologia e Psiquiatria. A mesma foi concedida a
20/10/11, 12/10/11, 21/10/11, 18/10/11, 21/10/11 e 17/10/11, respectivamente (Anexo
VII).

Reunidas as autorizações dos digníssimos Directores de Serviço foi solicitada, a 3 de


Novembro de 2011, autorização, por escrito, ao Exm.º Sr. Presidente do Conselho de
Administração dos Hospitais da Universidade de Coimbra para a realização do estudo,
65
tendo esta sido concedida em 12 de Dezembro de 2011, com o parecer favorável da
Comissão de Ética para a Saúde (Anexo VIII).

Após obtenção da autorização, foram contactados os Exm.os Srs. Enfermeiros Chefes


dos serviços onde se efectuaria o estudo, a fim de os informar sobre o mesmo e
solicitar a colaboração dos elementos da sua equipa.

A colheita de informação foi iniciada a 08 de Maio de 2012 e terminada em 10 de


Junho de 2012.

Com estes procedimentos foram cumpridos os requisitos formais e éticos defendidos


por vários autores, como Polit, Beck e Hungler (2004) e Martins (2008) que referem
que o investigador deve evitar a violação dos direitos dos participantes, deve obter a
participação voluntária dos intervenientes e que estes devem ser informados da
natureza do estudo e decidir livremente sobre a sua participação.

Também Streubert e Carpenter (2002) defendem que os investigadores devem ter em


atenção certos princípios quando fazem investigação: os participantes não devem ser
prejudicados, respeitando o princípio da não maleficência; os investigadores devem
obter consentimento informado, sendo a participação do informante voluntária,
respeitando o princípio da autonomia e devem garantir a confidencialidade e
anonimato e tratar os participantes com dignidade e respeito, atendendo aos princípios
da beneficência e da justiça.

Foi, também, solicitado o parecer da Comissão de Ética da Unidade de Investigação


em Ciências da Saúde da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, que emitiu
parecer favorável - Parecer 43-09/2011 (Anexo IX).

66
CAPÍTULO III - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

67
68
3 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Neste capítulo é efectuada a apresentação dos resultados obtidos, junto dos


participantes e efectuada a sua análise, em função dos objectivos definidos para o
estudo.

Como anteriormente foi referido, no total foram entregues 203 questionários,


distribuídos de acordo com o número de enfermeiros que constituía cada equipa.
Foram obtidos apenas 110 questionários e dos 110 enfermeiros que responderam ao
questionário, 60 pertenciam aos serviços que mais transfundem (SMI e Hematologia),
29 aos serviços com um nível intermédio de transfusões (Cardiologia e
Gastroenterologia) e 21 aos serviços onde é realizado o menor número de transfusões
(Neurologia e Psiquiatria).

Quadro 3 - Distribuição dos enfermeiros por serviço.

Serviço Nº de enfermeiros Nº participantes no


da equipa estudo
SMI 68 40
Hematologia 28 20
Gastro Mulheres 21 15
Cardiologia B 42 14
Psiquiatria Homens 23 10
Neurologia B 21 11
Total 203 110

Consideramos como variáveis que caracterizam a amostra deste estudo, o sexo, a


idade, o tempo de serviço, a categoria profissional, o serviço onde exercem funções e
a periodicidade com que realizam transfusões de componentes sanguíneos.

A categoria profissional foi excluída da apresentação dos resultados por ter havido
enfermeiros que responderam com base no diploma que anteriormente definia as
categorias profissionais da Carreira de Enfermagem e outros que responderam com
base no actual Decreto-Lei n.º 247/2009 de 22 de Setembro, que define o Regime
Legal da Carreira de Enfermagem.

Da análise do quadro 4 verificamos que, dos 110 enfermeiros que responderam ao


inquérito, a maioria (87,3%) são do sexo feminino.

69
Quadro 4 – Distribuição da amostra segundo o género.

Género N %
Masculino 14 12,7
Feminino 96 87,3
Total 110 100

A idade dos participantes varia entre os 26 e os 56 anos, sendo a média idades de


35,5 anos, a mediana de 33 anos e o desvio padrão de 7,07 anos. Quando agrupados
em classes predomina a classe dos 30 aos 35 anos.

Quadro 5 - Distribuição da amostra segundo o grupo etário.

Grupo etário N %
<30 31 28,2
30-35 34 30,9
35-40 20 18,2
40-45 13 11,8
45-50 8 7,3
50-55 2 1,8
>55 2 1,8
Total 110 100

Quanto ao tempo de serviço, oscila entre os 2 e os 28 anos. A média é de 12,5 anos, a


mediana de 10,5 anos, a moda de 8 e o desvio padrão de 6,14. Quando agrupados em
classes, predomina a dos 5 aos 10 anos de serviço.

Quadro 6 - Distribuição da amostra de acordo com o tempo de serviço.

Tempo de serviço N %
<5 10 9,1
5 -10 45 40,9
10 -15 20 18,2
15 - 20 25 22,7
20 - 25 7 6,4
> 25 3 2,7
Total 110 100

Sobre a periodicidade com que realizam transfusões nos serviços, a maioria dos
enfermeiros referiram efectuar transfusões diariamente (45,5%) ou semanalmente
(21,8%).
70
Quadro 7 - Distribuição da amostra segundo a periodicidade com que se realizam
transfusões.

Periodicidade com que transfundem N %


Diariamente 50 45,5
Semanalmente 24 21,8
Quinzenalmente 3 2,7
Mensalmente 18 16,4
Anualmente 15 13,6
Nunca 0 0
Total 110 100

Realizada a caracterização da amostra, o estudo compreendeu outras questões que


passamos a apresentar.

Questionados sobre se obtiveram formação específica na área da segurança


transfusional e sobre a intervenção do enfermeiro na administração de componentes
sanguíneos, a maioria dos enfermeiros respondeu afirmativamente (63,6%).

Quadro 8 - Distribuição da amostra de acordo com a obtenção de formação na área


da Medicina Transfusional para Enfermeiros.

Formação específica N %
Sim 70 63,6
Não 38 34,5
Não respondeu 2 1,8
Total 110 100,0

Foram os enfermeiros dos serviços onde é realizado o maior número de transfusões


que mais referiram (76,7%) ter obtido formação específica nesta área de actuação.

Quadro 9 – Distribuição da amostra de acordo com obtenção de formação na área da


Medicina Transfusional para enfermeiros e a frequência com que realizam transfusões.

Formação específica Sim Não Total


N % N %
> Nº transfusões (SMI/Hematologia) 46 76,7 14 23,3 60
Nº médio transfusões (Gastro/Cardiologia) 17 62,97 10 37,03 27
< Nº transfusões (Neurologia/Psiquiatria) 7 33,3 14 66,7 21
Total 70 64,8 38 35,2% 108

71
Sobre a importância do desenvolvimento de programas de formação contínua, sobre
Medicina Transfusional para enfermeiros, a maioria dos inquiridos referiu considerar
totalmente (45,5%) e muito importante (44,5%) a sua realização.

Quadro 10 - Distribuição da amostra de acordo com o nível de importância atribuído a


programas de formação sobre Medicina Transfusional para enfermeiros.

Nível de importância N %
Nada importante 0 0
Pouco importante 2 1,8
Importante 9 8,2
Muito importante 49 44,5
Totalmente importante 50 45,5
Total 110 100

Foram os enfermeiros dos serviços onde são realizadas transfusões, com maior
frequência que atribuíram maior nível de importância (55%) a esta questão.

Quadro 11 - Distribuição da amostra de acordo com o nível de importância atribuído


ao desenvolvimento de programas de formação sobre Medicina Transfusional para
enfermeiros e a frequência com que realizam transfusões.

Serviço / N.º Nada Pouco Import. Muito Totalmente Total


transf. import. import. importante importante

N % N % N % N % N %
> Nº transf. 0 0 0 0 2 6,9 25 41,6 33 55 60
(SMI/Hemat.)
Nº médio transf. 0 0 2 6,9 5 17,2 14 48,3 8 27,6 29
(Gastro/Card.)
< Nº transf. 0 0 0 0 2 9,9 10 47,6 9 42,8 21
(Neur./Psiq.)
Total 0 0 2 1,8 9 8,2 49 44,5 50 45,5 110

À questão sobre se conheciam a Recomendação 18 (2004) do Conselho da Europa


relativa à formação dos Enfermeiros na área da Medicina Transfusional, a maioria dos
enfermeiros (56,4) referiu não conhecer.

72
Quadro 12 - Distribuição da amostra quanto ao conhecimento da Recomendação 18
(2004) do Conselho da Europa.

Conhecimento da Recomendação 18 (2004) N %


Sim 45 40,9
Não 62 56,4
Não respondeu 3 2,7
Total 110 100

Foi nos serviços onde se realizam transfusões com maior frequência que os
enfermeiros mais referiram ter conhecimento desta Recomendação (48,3%).

Quadro 13 - Distribuição da amostra de acordo com o conhecimento da


Recomendação 18 (2004) e a frequência com que realizam transfusões no serviço.

Conhecimento da Recomendação / N.º Sim Não Total


transf. N % N %
> Nº transfusões (SMI/Hematologia) 29 48,3 31 51,7 60

Nº médio transfusões (Gastro/Card.) 8 30,7 18 69,3 26


< Nº transfusões (Neur./Psiq.) 8 38 13 62 21
Total 45 42 62 58 107

Quando questionados quanto ao próprio nível de conhecimentos relativos à


intervenção do enfermeiro na administração de componentes sanguíneos, a maioria
considera-o adequado (49,1%) ou muito adequado (36,4%).

Quadro 14 - Distribuição da amostra de acordo com o próprio nível de conhecimentos


sobre a intervenção do enfermeiro na administração de componentes sanguíneos.

Nível de conhecimentos N %
Nada adequado 1 0,9
Pouco adequado 5 4,5
Adequado 54 49,1
Muito adequado 40 36,4
Totalmente adequado 10 9,1
Total 110 100

Foram os enfermeiros dos serviços que mais transfundem que referiram deter um
maior nível de conhecimentos (13,4%) nesta área.

73
Quadro 15 - Distribuição da amostra de acordo com o próprio nível de conhecimentos
sobre a administração de componentes sanguíneos e a frequência com que
transfundem.

Nível Nada Pouco Adequado Muito Totalm. Total


conhecimentos/ adequado adequado adequado adequado
nº transf. N % N % N % N % N %
> Nº transf. 0 0 2 3,3 24 40 26 43,3 8 13,4 60
(SMI/Hemat.)
Nº médio transf. 1 3,5 1 3,5 16 55 11 38 0 0 29
(Gastro/Card.)
< Nº transf. 0 0 2 9,5 14 66,7 3 14,3 2 9,5 21
(Neur./Psiq.)
Total 1 0,9 5 4,5 54 49,1 40 36,5 10 9 110

À questão sobre se conheciam os flyers elaborados por profissionais do SSMT e


disponibilizados aos enfermeiros de todos os serviços, relativos aos cuidados de
enfermagem na administração de componentes sanguíneos, a maioria (68,2%)
respondeu ter conhecimento dos mesmos.

Quadro 16 - Distribuição da amostra de acordo o conhecimento dos flyers.

Conhecimento dos flyers N %


Sim 75 68,2
Não 33 30
Não respondeu 2 1,8
Total 110 100

Foram os enfermeiros dos serviços onde é realizado um número médio de transfusões


que mais referiram ter conhecimento dos flyers (81,5%).

Quadro 17 - Distribuição da amostra de acordo o conhecimento dos flyers e a


frequência com que realizam transfusões.

Conhecimento flyers / n.º transf. Sim Não Total


N % N %
> Nº transfusões 41 68,3 19 31,7 60
Nº médio transfusões 22 81,5 5 18,5 27
<Nº transfusões 12 57,2 9 42,8 21
Total 75 69,4 33 30,6 108

74
Questionados sobre se consideram importante, para a segurança transfusional, a
informação contida nos flyers, a maioria dos enfermeiros considera muito (50,7%) e
totalmente importante (33,3%).

Quadro 18 - Distribuição da amostra de acordo com o nível de importância atribuído à


informação contida nos flyers.

Nível de importância N %
Nada importante 0 0
Pouco importante 0 0
Importante 12 16
Muito importante 38 50,7
Totalmente importante 25 33,3
Total 75 100

Foram os enfermeiros dos serviços que menos transfundem que atribuíram maior
importância (totalmente importante para 41,7% dos inquiridos) à informação contida
nos flyers.

Quadro 19 - Distribuição da amostra de acordo com o nível de importância atribuído


aos flyers e a frequência com que realizam transfusões no serviço.

Nível de Nada Pouco Importante Muito Totalm. Total


importância dos import. import. importante importante
flyers/ n.º transf. N % N % N % N % N %
>Nº transf. 0 0 0 0 5 12,2 21 51,2 15 36,6 41
(SMI/Hemat.)
Nº médio transf. 0 0 0 0 7 31,8 10 45,5 5 22,7 22
(Gastro/Cardiol)
<Nº transf. 0 0 0 0 0 0 7 58,3 5 41,7 12
(Neur./ Psiq.)
Total 0 0 0 0 12 16 38 50,7 25 33,3 75

À questão sobre se já utilizaram a informação contida nos flyers, para o


esclarecimento de dúvidas, a maioria referiu já ter utilizado (84%).

Quadro 20 - Distribuição da amostra de acordo com a utilização dos flyers para o


esclarecimento de dúvidas.
Utilização dos flyers N %
Sim 63 84
Não 12 16
Total 75 100

75
Foram os enfermeiros dos serviços onde é realizado o maior número de transfusões
que mais utilizaram a informação contida nos flyers (87,8%).

Quadro 21 - Distribuição da amostra de acordo com a utilização dos flyers para o


esclarecimento de dúvidas e a frequência com que realizam transfusões.

Utilização dos flyers/ nº transf. Sim Não Total


N % N %
>Nº transf. (SMI/Hematologia) 36 87,8 5 12,2 41
Nº médio transf.(Gastro/Cardiologia) 15 75 5 25 20
<Nº transf. (Neur./ Psiq.) 12 85,7 2 14,3 14
Total 63 8 12 16 75

Questionados sobre se consideram que a informação contida nos flyers contribuiu


para melhorar o nível de conhecimentos, relativos à intervenção do enfermeiro na
administração de componentes sanguíneos, a quase a totalidade dos enfermeiros
(96%), respondeu afirmativamente.

Quadro 22 – Distribuição da amostra de acordo com a contribuição dos flyers para a


melhoria dos conhecimentos sobre administração de componentes sanguíneos.

Flyers / melhoria dos conhecimentos N %


Sim 72 96
Não 3 4
Total 75 100

A totalidade dos enfermeiros dos serviços que menos transfundem considerou que a
informação dos flyers contribuiu para melhorar o nível de conhecimentos relativos à
administração de componentes sanguíneos.

Quadro 23 – Distribuição da amostra de acordo com a contribuição dos flyers para a


melhoria dos conhecimentos sobre administração de componentes sanguíneos e a
frequência com que realizam transfusões.
Flyers/melhoria dos Sim Não Total
conhecimentos / n.º transf. N % N %
>Nº transf. (SMI/Hemat.) 38 95 2 5 40
Nº médio transf.(Gastro/Cardiol) 21 95,5 1 4,5 22
<Nº transf. (Neur./ Psiq.) 13 100 0 0 13
Total 72 96 3 4 75

76
Questionados sobre onde recorrem quando têm dúvidas relativas à administração de
componentes sanguíneos, a maioria dos enfermeiros (39,1%) referiu que recorria aos
enfermeiros do SSMT. O segundo grupo mais representativo (27,3%) referiu recorrer
aos enfermeiros do SSMT e aos enfermeiros do próprio serviço, seguindo-se o grupo
dos que consideram recorrer apenas aos enfermeiros do próprio serviço (19,1%).

Quadro 24 - Distribuição da amostra de acordo com os recursos utilizados para o


esclarecimento de dúvidas relativas ao processo transfusional.

Esclarecimento de dúvidas N %
Enfermeiro do próprio serviço 21 19,1
Enfermeiro do SSMT 43 39,1
Flyers 2 1,8
Enfermeiro do SSMT e enfermeiro do serviço 30 27,3
Enfermeiros do serviço e aos flyers 2 1,8
Enfermeiros do SSMT e aos flyers 1 0,9
Enfermeiros do SSMT, enfermeiros do serviço e flyers 9 8,2
Outros 2 1,8
Total 110 100,0

Foram os enfermeiros dos serviços que transfundem com maior frequência que mais
recorrem aos enfermeiros do SSMT (41,9%) para o esclarecimento de dúvidas
relativas ao processo transfusional.

Quadro 25 - Distribuição da amostra de acordo com os recursos utilizados para o


esclarecimento de dúvidas relativas ao processo transfusional e a frequência com que
realizam transfusões.

Esclarecimento de dúvidas/ n.º > Nº Nº médio < Nº Total


de transfusões transfusões transfusões transfusões
N % N % N %
Enfermeiro do serviço 15 71,4 2 50 4 19,04 21
Enfermeiro do SSMT 18 41,9 15 34,9 10 23,3 43
Flyers 1 50 1 50 0 0 2
Enfermeiros do SSMT e do 19 63,3 9 30 2 6,67 30
serviço
Enfermeiros do serviço e flyers 0 0 1 50 1 50 2
Enfermeiro do SSMT e flyers 0 0 1 100 0 0 1
Enfermeiros do SSMT/ enf. do 6 66,7 0 0 3 33,3 9
serviço / flyers
Outros 1 50 0 0 1 50 2
Total 60 54,5 29 26,40 21 19,1 110

77
Relativamente à colheita de sangue para realização de testes pré transfusionais,
questionados sobre se identificam os tubos junto do doente, depois de confirmarem a
sua identificação (identificação positiva) e imediatamente antes de fazerem a colheita,
a maioria dos enfermeiros (69) referiu que actuava sempre ou quase sempre (25,5%)
desta forma.

Quadro 26 - Distribuição da amostra de acordo com o procedimento de identificação e


colheita de sangue para testes pré-transfusionais.

Identificação dos N %
tubos de análise
Sempre 69 62,7
Quase sempre 28 25,5
Por vezes 9 8,2
Raramente 2 1,8
Nunca 2 1,8
Total 110 100

A maioria dos enfermeiros que actuam sempre (66,7%) deste modo, na colheita de
sangue para realização dos testes pré-transfusionais pertence aos serviços onde é
realizado o maior número de transfusões.

Quadro 27 – Distribuição da amostra de acordo com o modo de actuação na


identificação dos tubos de análises para realização de testes pré transfusionais e o
número de transfusões realizado.

Identificação dos Sempre Quase Por Raramente Nunca Total


tubos / nº de sempre vezes
transfusões N % N % N % N % N %
>Nº transf. 40 66,7 11 18,3 6 10 1 1,67 2 3,33 60
(Hemat/SMI)
Nº médio transf. 18 62,06 9 31,04 2 6,9 0 0 0 0 29
(Gastro/Card)
<Nº transf. 11 52,4 8 38,1 1 4,8 1 4,8 0 0 21
(Neur/Psiq)
Total 69 62,7 28 25,5 9 8,2 2 1,8 2 1,8 110

À questão sobre se antes de iniciarem a transfusão questionam o doente sobre a sua


identificação e/ou confirmam a identificação do doente com a constante no processo
clínico e se confirmam com a informação que consta na etiqueta do componente a
transfundir, a maioria dos enfermeiros (82,7%) referiu que actuavam sempre desta
forma, seguindo-se os enfermeiros que assim actuam, quase sempre (12,7%).
78
Quadro 28 - Distribuição da amostra de acordo com o modo de actuação relativo à
identificação do doente/componente, antes de iniciarem a transfusão.

Identificação do doente N %
Sempre 91 82,7
Quase sempre 14 12,7
Por vezes 2 1,8
Raramente 2 1,8
Nunca 1 0,9
Total 110 100

A maioria dos enfermeiros que actua sempre (52) deste modo, na identificação do
doente, antes de iniciar a transfusão, pertence aos serviços onde é realizado o maior
número de transfusões.

Quadro 29 - Distribuição da amostra de acordo com o modo de actuação na


identificação do doente/componente, antes de iniciarem a transfusão e o número de
transfusões realizadas.

Identificação do Sempre Quase Por Raram. Nunca Total


doente/componente/ sempre vezes
nº de transfusões N % N % N % N % N %
>Nº transf. 52 86,7 5 8,3 2 3,3 0 0 1 1,7 60
(Hemat/SMI)
Nº médio transf. 24 82,8 5 17,2 0 0 0 0 0 0 29
(Gastro/Card)
<Nº transf. 15 71,4 4 19,1 0 0 2 9,5 0 0 21
(Neur/Psiq)
Total 91 82,8 14 12,7 2 1,8 2 1,8 1 0,9 110

Sobre se antes de iniciarem a transfusão se certificam da prescrição do componente a


administrar e do número de unidades, a maioria dos enfermeiros (72,7%) referiu que
se certificam sempre ou quase sempre (18,2%).

Quadro 30 - Distribuição da amostra de acordo com a forma de proceder relativa à


confirmação do tipo e volume do componente sanguíneo prescrito.
Confirmação da transfusão N %
Sempre 80 72,7
Quase sempre 20 18,2
Por vezes 5 4,5
Raramente 4 3,6
Nunca 1 0,9
Total 110 100

79
A maioria dos enfermeiros que antes de iniciar a transfusão verifica se o tipo e o
volume do componentes a administrar estão de acordo com a prescrição, pertence aos
serviços onde é realizado o maior número de transfusões (80%).

Quadro 31 - Distribuição da amostra de acordo com a confirmação do tipo e volume


do componente sanguíneo prescrito pré transfusão e com o número de transfusões
realizadas.

Confirmação da Sempre Quase Por Raram. Nunca Total


transfusão/nº de sempre vezes
transfusões N % N % N % N % N %
>Nº transf. 48 80 9 15 1 1,67 1 1,67 1 1,66 60
(Hemat./ SMI)
Nº médio transf. 17 58,6 8 27,6 2 6,9 2 6,9 0 0 29
(Gastro / Card)
<Nº transf. 15 71,4 3 14,3 2 9,5 1 4,8 0 0 21
(Neur / Psiq)
Total 80 72,7 20 18,2 5 4,6 4 3,6 1 0,9 110

Á questão sobre se antes de iniciarem a transfusão avaliam os parâmetros vitais do


doente, a maioria dos inquiridos referiu que o efectuam sempre (66,4%) ou quase
sempre (18,2%).

Quadro 32 – Distribuição da amostra de acordo com a avaliação dos parâmetros vitais


pré transfusão.

Avaliação dos parâmetros N %


vitais pré transfusão
Sempre 73 66,4
Quase sempre 20 18,2
Por vezes 9 8,2
Raramente 8 7,3
Nunca 0 0
Total 110 100

É nos serviços onde se realiza um número médio de transfusões que a totalidade dos
enfermeiros efectua sempre a avaliação dos parâmetros vitais, antes de iniciarem a
transfusão.

80
Quadro 33 – Distribuição da amostra de acordo com a avaliação dos parâmetros vitais
pré transfusão e o número de transfusões realizados.

Avaliação Sempre Quase Por Raramente Nunca Total


parâmetros vitais / sempre vezes
nº de transf. N % N % N % N % N %
>Nº transf. 26 43,3 18 30 9 15 7 11,7 0 0 60
(Hemat./ SMI)
Nº médio transf. 29 100 0 0 0 0 0 0 0 0 29
(Gastro / Card)
<Nº transf. 18 85,7 2 9,5 0 0 1 4,8 0 0 21
(Neur / Psiq)
Total 73 66,4 20 18,2 9 8,2 8 7,2 0 0 110

Sobre se antes de iniciarem a transfusão efectuam ensinos ao doente sobre os sinais


e sintomas de uma possível reacção adversa e a conduta a adoptar, caso ocorram, a
maioria dos enfermeiros referiu que procede desta forma sempre (39) ou quase
sempre (31).

Quadro 34 - Distribuição da amostra relativa aos ensinos pré-transfusão.

Ensinos pré transfusão N %


Sempre 39 35,5
Quase sempre 31 28,2
Por vezes 14 12,7
Raramente 20 18,2
Nunca 6 5,5
Total 110 100,0

Proporcionalmente são os enfermeiros dos serviços que menos transfundem que


efectuam sempre este tipo de ensinos e são os enfermeiros dos serviços que mais
transfundem que mais referiram nunca proceder deste modo.

81
Quadro 35 - Distribuição da amostra de acordo com os ensinos ao doente, pré-
transfusão e com o número de transfusões realizadas.

Ensinos pré Sempre Quase Por vezes Raramente Nunca Total


transfusão/ sempre
nº de transfusões N % N % N % N % N %
>Nº transf. 19 31,7 9 15 9 15 18 30 5 8,3 60
(Hemat./ SMI)
Nº médio transf. 11 38 14 48,3 3 10,3 0 0 1 3,4 29
(Gastro / Card)
<Nº transf. 9 42,8 8 38,2 2 9,5 2 9,5 0 0 21
(Neur / Psiq)
Total 39 35,5 31 28,2 14 12,6 20 18,2 6 5,5 110

Relativamente à certificação da prescrição de pré medicação, antes de iniciarem a


administração dos componentes, a maioria dos enfermeiros referiram que se certificam
sempre (63,6%) ou quase sempre (22,7%).

Quadro 36 - Distribuição da amostra relativa à certificação da prescrição de pré


medicação.

Confirmação da prescrição de pré N %


medicação
Sempre 70 63,6
Quase sempre 25 22,7
Por vezes 7 6,4
Raramente 5 4,5
Nunca 3 2,7
Total 110 100

A maioria dos enfermeiros que se certifica sempre da prescrição de pré medicação


pertence aos serviços onde é realizado o maior número de transfusões (71,7%).
Contudo, também nestes serviços existem profissionais que apenas o efectuam
raramente (5%) ou mesmo nunca (1,6%).

82
Quadro 37 - Distribuição da amostra de acordo com a certificação da prescrição de
pré medicação e com o número de transfusões realizadas.

Confirmação da Sempre Quase Por Raram. Nunca Total


prescrição de pré sempre vezes
medicação/nº transf. N % N % N % N % N %
>Nº transf. 43 71,7 10 16,7 3 5 3 5 1 1,6 60
(Hemat./ SMI)
Nº médio transf. 14 48,3 10 34,5 2 6,9 1 3,4 2 6,9 29
(Gastro / Card)
<Nº transf. 13 61,9 5 23,8 2 9,5 1 4,8 0 0 21
(Neur / Psiq)
Total 70 63,6 25 22,8 7 6,4 5 4,5 3 2,7 110

Questionados sobre se devolvem os componentes sanguíneos ao SSMT, no caso de


não poderem ser administrados de imediato, a maioria dos enfermeiros procedem
sempre (55,5%) e quase sempre e (34,5%) deste modo.

Quadro 38 - Distribuição da amostra relativa à devolução dos componentes.

Devolução dos componentes N %


Sempre 61 55,5
Quase sempre 38 34,5
Por vezes 5 4,5
Raramente 3 2,7
Nunca 3 2,7
Total 110 100,0

Na impossibilidade de iniciar a transfusão, a maioria dos enfermeiros que devolve os


componentes sanguíneos, de imediato, ao SSMT pertencem aos serviços onde são
realizadas transfusões, com menor frequência (57,2%).

Quadro 39 - Distribuição da amostra de acordo com a devolução dos componentes ao


SSMT e o número de transfusões efectuado.
Devolução dos Sempre Quase Por Raramente Nunca Total
componentes/nº sempre vezes
transf. N % N % N % N % N %
>Nº transf. 33 55 21 35 4 6,6 1 1,7 1 1,7 60
(Hemat./ SMI)
Nº médio transf. 16 55,2 13 44,8 0 0 0 0 0 0 29
(Gastro / Card)
<Nº transf. 12 57,2 4 19,1 1 4,7 2 9,5 2 9,5 21
(Neur / Psiq)
Total 61 55,5 38 34,5 5 4,6 3 2,7 3 2,7 110

83
Sobre se administram os componentes sanguíneos através do sistema com filtro
enviado pelo SSMT que acompanha cada componente, a grande maioria dos
enfermeiros (96,4%) referiu que administram sempre com o respectivo sistema.

Quadro 40 - Distribuição da amostra de acordo com a utilização do sistema enviado


com os componentes para a sua administração.

Utilização do sistema com filtro N %


Sempre 106 96,4
Quase sempre 3 2,7
Por vezes 0 0
Raramente 1 0,9
Nunca 0 0
Total 110 100

Em todos os serviços, a quase totalidade dos componentes sanguíneos é sempre


administrada através do sistema de perfusão com filtro, facultado pelo SSMT.

Quadro 41 - Distribuição da amostra de acordo com a utilização do sistema enviado


com os componentes para a sua administração e com o número de transfusões
efectuado.

Utilização do sistema Sempre Quase Por Raramente Nunca Total


com filtro/ nº transf. sempre vezes
N % N % N % N % N %
>Nº transf. 59 98,3 1 1,7 0 0 0 0 0 0 60
(Hemat./ SMI)
Nº médio transf. 27 93,1 2 6,9 0 0 0 0 0 0 29
(Gastro / Card)
<Nº transf. 20 95,2 0 0 1 4,8 0 0 0 0 21
(Neur / Psiq)
Total 106 96,4 3 2,7 1 0,9 0 0 0 0 110

Questionados sobre se mantêm o doente sob vigilância nos primeiros 5 a 15 minutos


após o início da transfusão, de modo a detectar precocemente possíveis reacções
adversas, 75,5% dos enfermeiros efectuam-no sempre e 19,1%, quase sempre.

84
Quadro 42 - Distribuição da amostra de acordo com a manutenção da vigilância do
doente.

Vigilância do doente N %
Sempre 83 75,5
Quase sempre 21 19,1
Por vezes 4 3,6
Raramente 2 1,8
Nunca 0 0
Total 110 100,0

São os enfermeiros dos serviços onde é realizado um número intermédio de


transfusões que mais referiram manter sempre (82,8%) o doente sob vigilância nos
primeiros 5 a 15 minutos, depois de iniciarem a transfusão.

Quadro 43 - Distribuição da amostra de acordo com a manutenção da vigilância do


doente e com a frequência com que realizam transfusões.

Vigilância doente/ Sempre Quase Por vezes Raram. Nunca Total


nº transf. sempre
N % N % N % N % N %
>Nº transf. 42 70 14 23,3 3 5 1 1,7 0 0 60
(Hemat./ SMI)
Nº médio transf. 24 82,8 4 13,8 1 3,4 0 0 0 0 29
(Gastro / Card)
<Nº transf. 17 80,9 3 14,3 0 0 1 4,8 0 0 21
(Neur / Psiq)
Total 83 75,5 21 19,1 4 3,6 2 1,8 0 0 110

Quanto ao tempo recomendado para administração de cada componente, apenas 10%


dos enfermeiros se consideram completamente informados. A maioria (47,3%)
considera-se bem informada.

Quadro 44 - Distribuição da amostra de acordo com o nível de informação sobre o


tempo recomendado para a administração de cada componente.

Tempo de administração dos componentes N %


Nada informado 1 0,9
Pouco informado 7 6,4
Informado 39 35,5
Bem informado 52 47,3
Completamente informado 11 10,0
Total 110 100
85
São os enfermeiros dos serviços que mais transfundem que mais se consideram bem
(51,67%) ou totalmente informados (11,67%) sobre o tempo recomendado para
administração dos diferentes componentes sanguíneos.

Quadro 45 - Distribuição da amostra de acordo com o nível de informação sobre o


tempo recomendado para a administração dos componentes e o número de
transfusões efectuadas.

Tempo de adm. Nada Pouco Informado Bem Totalm. Total


componentes/nº inform. inform. informado informado
transf. N % N % N % N % N %
>Nº transf. 1 1,67 2 3,33 19 31,66 31 51,67 7 11,67 60
(Hemat./ SMI)
Nº médio transf. 0 0 1 3,5 13 44,8 13 44,8 2 6,9 29
(Gastro / Card)
<Nº transf. 0 0 4 19 7 33,4 8 38,1 2 9,5 21
(Neur / Psiq)
Total 1 0,9 7 6,4 39 35,5 52 47,2 11 10 110

Sobre o próprio nível de conhecimentos relativos às condições de conservação dos


diferentes componentes, a maioria dos inquiridos referiu considerar-se informado
(43,6%) e bem informado (40%).

Quadro 46 – Distribuição da amostra em relação ao próprio nível de conhecimentos


sobre as condições de conservação dos componentes.

Conservação dos componentes N %


Nada informado 1 0,9
Pouco informado 9 8,2
Informado 48 43,6
Bem informado 44 40,0
Completamente informado 8 7,3
Total 110 100

São os enfermeiros dos serviços que mais transfundem que consideram ter maior
nível de informação sobre as condições de conservação dos diferentes componentes
sanguíneos (8,33% totalmente informado e 48,3% bem informado).

86
Quadro 47 - Distribuição da amostra quanto ao próprio nível de conhecimentos sobre
as condições de conservação dos componentes, relativamente à periodicidade com
que realizam transfusões.

Conservação dos Nada Pouco Inform. Bem Totalm. Total


componentes/nº inform. inform. inform. inform.
transf. N % N % N % N % N %
>Nº transf. 1 1,67 1 1,7 24 40 29 48,3 5 8,33 60
(Hemat./ SMI)
Nº médio transf. 0 0 1 3,5 18 62 9 31 1 3,5 29
(Gastro / Card)
<Nº transf. 0 0 7 33,3 6 28,6 6 28,6 2 9,5 21
(Neur / Psiq)
Total 1 0,9 9 8,2 48 43,6 44 40 8 7,3 110

Questionados sobre se avaliam os parâmetros vitais 15 minutos após o início da


transfusão e quando esta termina, a maioria dos enfermeiros avalia sempre (51,8%)
ou quase sempre (26,4%).

Quadro 48 - Distribuição da amostra sobre a avaliação dos parâmetros vitais 15


minutos após o início da transfusão e no final da mesma.

Avaliação dos parâmetros vitais aos 15 min. N %


Sempre 57 51,8
Quase sempre 29 26,4
Por vezes 10 9,1
Raramente 12 10,9
Nunca 2 1,8
Total 110 100

São os enfermeiros dos serviços que efectuam um número intermédio de transfusões


que com maior frequência avaliam sempre (86,2%) os parâmetros vitais 15 minutos
após o início da transfusão e quando esta termina.

87
Quadro 49 - Distribuição da amostra sobre a avaliação dos parâmetros vitais 15
minutos após o início da transfusão e no final da mesma, relativamente ao número de
transfusões efectuadas.

Avaliação dos Sempre Quase Por Raram. Nunca Total


sinais vitais aos 15 sempre vezes
min./ nº transf. N % N % N % N % N %
>Nº transf. 17 28,3 20 33,4 9 15 12 20 2 3,3 60
(Hemat./ SMI)
Nº médio transf. 25 86,2 4 13,8 0 0 0 0 0 0 29
(Gastro / Card)
<Nº transf. 15 71,4 5 23,8 1 4,8 0 0 0 0 21
(Neur / Psiq)
Total 57 51,8 29 26,4 10 9,1 12 10,9 2 1,8 110

Quanto ao próprio nível de conhecimentos sobre os diferentes tipos de reacções


adversas à transfusão, a maioria dos enfermeiros consideram-no adequado (50%) e
muito adequado (35,5%).

Quadro 50 - Distribuição da amostra em relação ao próprio nível de conhecimentos


sobre os diferentes tipos de reacções adversas à transfusão.

Conhecimento das reacções transfusionais N %


Nada adequado 0 0
Pouco adequado 7 6,4
Adequado 55 50,0
Muito adequado 39 35,5
Totalmente adequado 9 8,2
Total 110 100,0

São os enfermeiros dos serviços que mais transfundem que consideram ter melhor
nível de conhecimentos (13,4% totalmente adequado e 43,3%, muito adequado)
acerca dos diferentes tipos de reacções adversas à transfusão.

88
Quadro 51 – Distribuição da amostra quanto ao próprio nível de conhecimentos sobre
reacções adversas à transfusão, relativamente ao número de transfusões realizado.

Conhecimento Nada Pouco Adequado Muito Totalm. Total


das reacções /nº adequado adequado adequado adequado
transfusões N % N % N % N % N %
>Nº transf. 0 0 2 3,3 24 40 26 43,3 8 13,4 60
(Hemat./ SMI)
Nº médio transf. 0 0 1 3,5 18 62 10 34,5 0 0 29
(Gastro / Card)
<Nº transf. 0 0 4 19 13 62 3 14,2 1 4,8 21
(Neur / Psiq)
Total 0 0 7 6,4 55 50 39 35,5 9 8,1 110

Sobre como consideram o próprio nível de conhecimentos acerca dos sinais e


sintomas que caracterizam cada tipo de reacção adversa à transfusão, a maioria dos
enfermeiros consideram-no adequado (48,2%) ou muito adequado (34,5%).

Quadro 52 - Distribuição da amostra em relação ao próprio nível de conhecimentos


sobre os sinais e sintomas dos diferentes tipos de reacções adversas.

Conhecimentos sobre sinais e N %


sintomas das reacções transf.
Nada adequado 0 0
Pouco adequado 13 11,8
Adequado 53 48,2
Muito adequado 38 34,5
Totalmente adequado 6 5,5
Total 110 100

São os enfermeiros dos serviços que mais transfundem que consideram ter melhor
nível de conhecimentos (8,3% totalmente adequado e 40% muito adequado) sobre os
sinais e sintomas que caracterizam cada tipo de reacção transfusional.

89
Quadro 53 - Distribuição da amostra em relação ao próprio nível de conhecimentos
sobre os sinais e sintomas dos diferentes tipos de reacções adversas e o número de
transfusões realizadas.

Conhecimento Nada Pouco Adequado Muito Totalm. Total


sinais e sintomas adequado adequado adequado adequado
das reacções/ n.º N % N % N % N % N %
transf.
>Nº transf. 0 0 5 8,3 26 43,4 24 40 5 8,3 60
(Hemat./ SMI)
Nº médio transf. 0 0 3 10,3 16 55,2 10 34,5 0 0 29
(Gastro / Card)
<Nº transf. 0 0 5 23,8 11 52,4 4 19 1 4,8 21
(Neur / Psiq)
Total 0 0 13 11,8 53 48,2 38 34,5 6 5,5 110

Questionados sobre como consideram o seu nível de conhecimentos relativos à


intervenção do enfermeiro perante um doente com reacção adversa à transfusão, a
maioria dos enfermeiros consideram-no adequado (50,9%) ou muito adequado
(36,4%).

Quadro 54 - Distribuição da amostra quanto ao próprio nível de conhecimentos sobre


como actuar nos diferentes tipos de reacções transfusionais.

Conhecimentos sobre intervenção N %


em reacções transfusionais
Nada adequado 0 0
Pouco adequado 5 4,5
Adequado 56 50,9
Muito adequado 40 36,4
Totalmente adequado 9 8,2
Total 110 100

São os enfermeiros dos serviços onde é realizado o maior número de transfusões que
consideram deter maior nível de conhecimentos sobre como actuar em caso de
ocorrerem reacções transfusionais (43,4% considera muito adequado e 13,4%
totalmente adequado).

90
Quadro 55 – Distribuição da amostra em relação ao próprio nível de conhecimentos
sobre como actuar nos diferentes tipos de reacções transfusionais e o número de
transfusões realizadas.

Conhecimento sobre Nada Pouco Adequado Muito Totalm. Total


intervenção reacções adeq. adeq. adequado adequado
/n.º transf. N % N % N % N % N %
>Nº transf. 0 0 1 1,6 25 41,6 26 43,4 8 13,4 60
(Hemat./ SMI)
Nº médio transf. 0 0 1 3,5 17 58,6 11 37,9 0 0 29
(Gastro / Card)
<Nº transf. 0 0 3 14,3 14 66,6 3 14,3 1 4,8 21
(Neur / Psiq)
Total 0 0 5 4,5 56 50,9 40 36,4 9 8,2 110

Sobre se em caso de suspeita de uma reacção transfusional, suspendem, de imediato


a transfusão, mantém o acesso venoso com soro fisiológico, confirmam a identificação
da unidade/doente e comunicam a ocorrência ao médico/enfermeiro do SSMT, a
maioria dos enfermeiros actua sempre desta forma (74,5%).

Quadro 56 - Distribuição da amostra quanto à forma de actuação perante um doente


com reacção transfusional.

Actuação em caso de Reacção transfusional N %


Sempre 82 74,5
Quase sempre 17 15,5
Por vezes 5 4,5
Raramente 6 5,5
Nunca 0 0
Total 110 100

São os enfermeiros dos serviços que menos transfundem que com maior frequência
actuam sempre desta forma (85,7%), perante um doente com suspeita de reacção
transfusional.

91
Quadro 57 - Distribuição da amostra quanto à forma de actuação perante um doente
com reacção transfusional, relativamente ao número de transfusões realizadas.

Actuação Sempre Quase Por Raram. Nunca Total


reacções /n.ºtransf. sempre vezes
N % N % N % N % N %
>Nº transf. 40 66,7 10 16,6 4 6,7 6 10 0 0 60
(Hemat./ SMI)
Nº médio transf. 24 82,8 5 17,2 0 0 0 0 0 0 29
(Gastro / Card)
<Nº transf. 18 85,7 2 9,5 1 4,8 0 0 0 0 21
(Neur / Psiq)
Total 82 74,5 17 15,5 5 4,5 6 5,5 0 0 110

Concluída a análise dos dados, o estudo prossegue com a interpretação e discussão


dos resultados, relacionando-os com os conhecimentos e referências obtidos na
revisão da literatura que serviu de suporte à sua fundamentação teórica.

92
4 - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo destina-se à discussão detalhada dos resultados obtidos tendo por base
o referencial teórico que sustentou a concepção do estudo. Pretende-se evidenciar os
aspectos mais significativos, face aos objectivos propostos e às questões de
investigações formuladas. Contudo, não podemos deixar de considerar algumas
limitações do estudo, como sejam, o tipo de amostra. Não sendo possível abordar
todos os elementos da população e sendo o estudo de natureza exploratória, optámos
por um tipo de amostragem não probabilístico, conscientes de que não poderíamos
inferir os resultados para a população em geral.

Outra das limitações do estudo foi o facto de, na aplicação informática utilizada no
serviço (Sistema Integrado de Bancos de Sangue, da Glintt) apenas ser efectuado o
registo do serviço que solicitou a transfusão e não do local onde foi administrada. Por
esse facto, foram excluídos do estudo os serviços cirúrgicos, condicionando a
selecção dos serviços para o presente estudo.

No entanto, apesar das referidas limitações, pensamos ter um conjunto de resultados


válidos que passamos a discutir.

A amostra da população que inquirimos (n=110) é constituída, maioritariamente, por


profissionais do sexo feminino (87,3%) e apenas 12,7% do sexo masculino, com uma
média de idades de 35,5 anos e um desvio padrão de 7,07 anos. Estes resultados
convergem com os divulgados pela Ordem dos Enfermeiros (2013) onde, num total de
65467 enfermeiros existentes no país em 2012, 81,42% são do sexo feminino e
apenas 18,58% são do sexo masculino.

São profissionais jovens, sendo o grupo etário mais representativo o dos enfermeiros
cuja idade se situava entre os [30-35[ anos (30,9%) seguindo-se o grupo dos
enfermeiros com idade inferior a 30 anos (28,2%).

Nesta questão, os resultados são coincidentes com os dados do Balanço Social do


Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (2012), relativo ao ano de 2012, onde
num total de 2743 enfermeiros, a maioria (669) tinha entre 30 e 34 anos. Contudo, no
estudo, o segundo grupo mais representativo foi o dos enfermeiros com idade inferior
a 30 anos, enquanto, no hospital, é o dos enfermeiros com idade entre os 45 e 49
anos (439).

93
Estas diferenças podem estar relacionadas com a realidade dos próprios serviços
onde foram colhidos os dados, assim como com a maior ou menor disponibilidade
para responder aos questionários nos diferentes grupos etários.

A maioria dos inquiridos tinha entre 5 e 10 anos de serviço (40,9%), seguindo-se o


grupo dos enfermeiros que se situavam entre os 15 e os 20 anos de serviço (22,7%).

Também neste item, os resultados são coincidentes com os dados do Balanço Social
do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (2012) onde a maioria dos
enfermeiros tinha entre 5 e 9 anos de serviço (573), seguindo-se os enfermeiros cujo
tempo de serviço se situava entre os 25 e os 29 anos de serviço (543) e entre os 20 e
os 24 anos (525).

Quanto à periodicidade com que realizavam transfusões, a maioria dos inquiridos


referiu efectuar transfusões diariamente (45,5%) ou semanalmente (21,8%), o que
revela que a prática transfusional é uma medida terapêutica frequentemente utilizada,
no hospital.

Este é um número também explicado pelo facto de mais de metade dos enfermeiros
que responderam ao questionário desempenharem funções num dos dois serviços do
hospital que mais transfundem.

No estudo realizado por Saillour-Glénisson et al (2002), com o objectivo de conhecer


os factores associados à falta de conhecimentos dos enfermeiros e a uma prática
transfusional segura, verificou-se que 4% dos inquiridos realizavam transfusões,
semanalmente e que 30% apenas o efectuavam mensalmente. O estudo demonstrou
que factores como a frequência e o treino com que os enfermeiros realizam
transfusões influenciam, directamente, a segurança transfusional

Num outro estudo elaborado por Silva et al (2008), com o objectivo de aferir sobre o
conhecimento dos profissionais de enfermagem de unidades de terapia intensiva
sobre o processo transfusional concluiu que, para 51,9% dos inquiridos, a frequência
com que realizaram transfusões foi de 15 transfusões, num mês.

Também Torezan e Souza (2009) efectuaram um estudo com o objectivo de verificar o


conhecimento e competências dos enfermeiros sobre a transfusão de sangue. Os
resultados revelaram que apenas 31% dos enfermeiros efectuava transfusões
diariamente e que a maioria (50%) efectua este procedimento, semanalmente.

Para conhecer as práticas de enfermagem, na transfusão sanguínea e estudar as


causas dos erros transfusionais, Jimenez-Marco et al (2011) realizaram um estudo nos

94
hospitais das ilhas Baleares, onde concluíram que a maioria dos enfermeiros (65,29%)
realizava transfusões uma vez por mês, ou menos.

Um outro estudo realizado por Hijji, Oweis e Dabbour (2012), com o objectivo de
investigar os níveis de conhecimento dos enfermeiros hospitalares sobre a transfusão
de sangue, revelou que nos seis meses que antecederam o estudo, a maioria dos
enfermeiros (89%) procedeu à administração de componentes sanguíneos com uma
frequência que oscilou de 1 a 4 vezes a mais de 12 vezes.

Verificamos, assim, que a periodicidade com que os enfermeiros intervenientes no


estudo efectuam transfusões é muito elevada, comparativamente a outros estudos
similares.

Para além das características da nossa amostra, atrás referidas, podem ser elementos
relevantes, as diferenças entre o tipo de hospital ou as unidades de internamento onde
foram colhidos os dados nos diferentes estudos.

Quando questionados sobre se detinham formação específica na área da Medicina


Transfusional para enfermeiros, a maioria (63,6%) dos inquiridos respondeu
afirmativamente. Foram os enfermeiros dos serviços que mais transfundem que mais
referiram terem tido formação nesta área específica de actuação do enfermeiro.
Sobre o desenvolvimento de programas de formação continua, relativos à medicina
Transfusional para enfermeiros, a maioria dos inquiridos considera serem totalmente
(45,5%) ou muito importante (44,5%) para a segurança transfusional e também nesta
questão, são os enfermeiros dos serviços que mais transfundem que lhe atribuem
maior nível de importância (55% consideram ser totalmente importante).

Enquanto responsáveis pela administração dos componentes sanguíneos, é


fundamental que os enfermeiros detenham conhecimentos sólidos sobre todo o
processo transfusional. A sua actuação pode minimizar, significativamente, o risco
transfusional e evitar danos graves para o doente. Por esse facto, em países como a
Escócia, só os profissionais que completaram o programa de formação contínua sobre
“Melhor Transfusão Sanguínea” é que podem participar no processo transfusional
(British Committee for Standards in Haematology, 2012). O mesmo Comité
recomenda, ainda, que o treino de competências, nesta área, deve ser actualizado
com um intervalo de dois anos.

Como referido na Recomendação (2004) 18 do Conselho da Europa, relativa ao


ensino da Medicina Transfusional para enfermeiros, a segurança transfusional
depende, em grande parte, dos enfermeiros envolvidos neste processo, considerando,

95
ainda, que a formação adequada dos enfermeiros é um factor determinante para
garantir a segurança, eficácia e qualidade da transfusão.

Na opinião de Cabaud (2007), a formação ocupa um papel fundamental na vida dos


sistemas de saúde e nomeadamente em transfusão sanguínea. Considera que todos
os profissionais envolvidos na cadeia transfusional, devem ser detentores de formação
específica e ser sujeitos a programas de avaliação de competências e que existem
dois níveis de formação distintos: a formação inicial e a formação contínua, com
avaliação das práticas.

Ainda na opinião do mesmo autor, a avaliação, a auto-avaliação e as auditorias


internas ou externas são ferramentas que permitem confirmar o cumprimento das
normas existentes, identificar as diferenças nas práticas e definir as questões
prioritárias a melhorar.

De acordo com Tramalloni et al (2005), os enfermeiros têm um papel fundamental na


segurança transfusional pelo que, a implementação de um guia de boas práticas e de
um programa de formação inicial e de formação contínua, constituem duas medidas
que devem ser implementadas a nível hospitalar. Fundamentaram esta opinião com
um estudo que elaboraram, em 2005, intitulado ”Implicações dos enfermeiros na
segurança transfusional: avaliação dos conhecimentos e das práticas no Instituto
Gustave-Roussy”, que teve por base, um inquérito previamente realizado, que
demonstrou que os enfermeiros apresentavam défice de conhecimentos teóricos sobre
a segurança transfusional.

De modo a suprir estes défices formativos, elaboraram normas de boas práticas e


implementaram um programa de formação específico. Dois anos depois aplicaram um
segundo inquérito sobre segurança transfusional. A análise das questões comuns aos
dois inquéritos revelou uma melhoria significativa de respostas correctas. No geral, o
estudo revelou que a implementação de um guia de boas práticas transfusionais,
associado a programas de formação, permitiram melhorar os conhecimentos dos
enfermeiros em matéria de segurança transfusional.
No estudo efectuado por Silva et al (2008) onde pretendiam aferir sobre o
conhecimento dos profissionais de enfermagem de unidades de terapia intensiva
sobre o processo transfusional, 74,1% dos enfermeiros referiram que não tinham
frequentado formação na área, nos últimos dois anos.
Já no estudo realizado por Silva, Soares e Iwamoto (2009), com o objectivo de
descrever a formação dos médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem de uma
unidade de cuidados intensivos sobre a prática transfusional, 60% dos enfermeiros

96
tiveram formação teórica e prática sobre esta medida terapêutica e frequentaram
cursos de aperfeiçoamento. A mesma percentagem considerou-se informada sobre o
processo transfusional.
Contrariamente, no estudo de Hijji, Oweis e Dabbour (2012), a maioria (92,4%) dos
enfermeiros referiu que nunca tinham frequentado nenhuma formação específica em
transfusão de sangue e em que apenas 33% dos inquiridos revelou a percepção da
necessidade de formação nesta área de actuação.

Ainda neste âmbito, o estudo realizado por Jimenez-Marco (2011) revelou que 97,52%
dos enfermeiros referiram que necessitavam de mais formação e prática sobre
transfusão sanguínea. Quanto aos conhecimentos nesta área, 49,31% dos
participantes consideraram que eram bons, mas 49,59% consideraram-nos
deficitários.

Neste contexto, os resultados obtidos no nosso estudo remetem-nos para o Projecto


de Formação, anteriormente descrito, realizado em articulação com o Serviço de
Formação e Aperfeiçoamento profissional, sobre “A Pessoa doente submetida a
transfusão de componentes sanguíneos.

Como já referido, este projecto decorreu durante o mês de Junho de 2011, tendo sido
formados 122 enfermeiros. Os enfermeiros que frequentaram a formação ficaram com
a responsabilidade de replicarem, até Novembro do mesmo ano, a formação aos
restantes elementos das suas equipas.

Tendo o presente estudo decorrido entre Maio e Junho de 2012, apesar de os


inquiridos não terem sido questionados sobre o tipo de formação que frequentaram,
parece-nos que, de alguma forma, podemos considerar que o curso realizado
contribuiu para a actualização/consolidação dos conhecimentos dos enfermeiros, na
área da Medicina Transfusional para enfermeiros.

Contudo, não deixa de ser preocupante o facto de, sendo o sangue um produto
biologicamente activo, com potencial para causar danos, ainda haver uma
percentagem significativa (34,5%) de enfermeiros que procedem à sua administração
sem nunca terem frequentado formação específica sobre esta área de actuação.

Sobre a Recomendação 18 (2004) do Conselho da Europa, relativa à formação dos


enfermeiros na área da Medicina Transfusional, que regulamenta as práticas de
enfermagem nesta área de intervenção, a maioria dos enfermeiros (56,4%) referiu
desconhecer. Foram os enfermeiros dos serviços onde é realizado um maior número
de transfusões que mais referiram ter conhecimento da mesma (48,3%).

97
Podemos concluir que, no geral, os enfermeiros revelaram falta de informação sobre
as Directivas dos Estados Membros da União Europeia relativas à terapêutica
transfusional, definidas com o objectivo das suas práticas serem exercidas com base
em conhecimentos sólidos que permitam potencializar a segurança transfusional.

Como anteriormente referido, os enfermeiros desempenham um papel fundamental na


transfusão segura dos componentes sanguíneos, devendo actuar com base em
conhecimentos científicos sólidos. Se actuarem deste modo, a possibilidade de
ocorrerem erros reduz-se para valores mínimos.

Neste contexto, quando questionados sobre como consideram o próprio nível de


conhecimentos sobre a intervenção do enfermeiro na administração de componentes
sanguíneos, a maioria dos enfermeiros considerou que era adequado (49,1%) ou
muito adequado (36,4%). São os enfermeiros dos serviços que mais transfundem que
referiram deter um maior nível de conhecimentos nesta área de intervenção
(totalmente adequado: 13,4%; muito adequado: 43,3%).

Um estudo realizado por Ferreira et al (2007), no âmbito de um programa de formação


teórica em hemoterapia, proposto aos enfermeiros com o objectivo de avaliar o seu
conhecimento sobre hemoterapia e segurança transfusional revelou que, quanto à
própria percepção sobre os conhecimentos que possuíam relativos à transfusão, a
maioria dos inquiridos (58,8%) referiu que se sentia pouco ou mal informados sobre
esta temática.

Já o estudo de Silva et al (2008), que pretendia aferir sobre o conhecimento dos


profissionais de enfermagem de unidades de terapia intensiva sobre o processo
transfusional, revelou que a maioria dos participantes (63%) se considera informada
sobre o processo transfusional.

No geral, os enfermeiros participantes neste estudo consideraram ter um nível


adequado e muito adequado de conhecimentos relativos à administração de
componentes sanguíneos, o que lhes permite efectuar uma prestação de cuidados
segura, à pessoa doente submetida a transfusão de componentes sanguíneos. Estes
resultados foram consideravelmente melhores aos encontrados na revisão da
literatura, em estudos similares. Não será alheio a este facto a formação efectuada.
Apesar de tudo, não deixa de ser preocupante termos enfermeiros a referir que os
programas de formação, nesta área, são pouco importantes, ou que os seus
conhecimentos são pouco ou nada adequados.

Sobre os flyers elaborados pelos profissionais do SSMT, relativos aos cuidados de


enfermagem na administração de componentes sanguíneos, a maioria dos
98
enfermeiros (68,2%) referiu conhecê-los e foram os enfermeiros dos serviços onde é
realizado um número intermédio de transfusões que mais referiram conhecê-los
(81,5%).

Também a maioria dos enfermeiros considerou que a informação dos flyers é muito
(50,7%) e totalmente importante (33,3%) para a segurança transfusional e foram os
enfermeiros dos serviços que menos transfundem que atribuíram maior nível de
importância a essa informação (41,7%).

Dos participantes no estudo, 84% já utilizaram os flyers para o esclarecimento de


dúvidas e foi nos serviços onde é realizado o maior (87,8%) e o menor número de
transfusões (85,7%) que este facto mais se verificou.

A quase totalidade dos enfermeiros (96%) considerou que os flyers contribuíram para
melhorar o nível de conhecimentos relativos à administração de componentes
sanguíneos e foi nos serviços que menos transfundem que isso foi referido pela
totalidade dos participantes.

Pelos resultados obtidos parece-nos poder concluir que esta estratégia de formação
se revelou muito positiva para a maioria dos enfermeiros, uma vez que permitiu
melhorar o nível de conhecimentos sobre a transfusão de componentes sanguíneos.

Sabemos que a nossa memória é “selectiva”, deixando facilmente acessíveis os


conhecimentos que são frequentemente necessários e “arrumando” aqueles que não
se utilizam. Embora nem sempre o entendamos como tal, a formação frequente e a
disponibilidade de documentação científica de fácil acesso e consulta é, algumas
vezes, mais importante quando uma determinada tarefa é raramente executada.

Verificamos, porém, que ainda há uma percentagem considerável de enfermeiros


(30%) que não conheciam os flyers. Podemos então questionar-nos sobre a eficácia
da estratégia de divulgação dos mesmos que consistiu em facultá-los a todos os
enfermeiros chefes para que procedessem à sua divulgação e disponibilização a todos
os enfermeiros da equipa. Nos primeiros anos a entrega dos folhetos foi feita
pessoalmente pelas enfermeiras do serviço. Posteriormente foram enviados por
correio electrónico, sem que tenham sido desenvolvidas estratégias de confirmação da
sua divulgação nas equipas, o que representa um aspecto a melhorar.

Contudo, no âmbito da implementação do Sistema de Gestão da Qualidade, o SSMT


tem sido submetido a auditorias e inspecções, efectuadas pelas autoridades
competentes. Relativamente às inspecções, as duas últimas, foram realizadas em
2010, pela Autoridade para os Serviços de Sangue e da Transplantação e em 2013,

99
pelo Instituto Português do Sangue e da Transplantação. Nas duas inspecções foram
realizadas visitas a serviços, com o objectivo de verificarem o modo de actuação no
processo transfusional. Entre outras questões, foi perguntado aos enfermeiros se
tinham conhecimento dos flyers, havendo evidência desse facto e de que os mesmos
se encontravam disponíveis para consulta.

Neste contexto, verificamos que as auditorias internas e externas que monitorizem


questões como as práticas transfusionais, são ferramentas que permitem confirmar o
cumprimento das normas existentes, identificar as diferenças nas práticas, definir as
questões prioritárias a melhorar e programar a posterior avaliação da eficácia das
medidas implementadas (Cabaud, 2007; Gray et al, 2008).

Questionados sobre onde recorriam quando tinham dúvidas relativas à administração


dos componentes sanguíneos, a maioria dos participantes (39,1%) referiu recorrer aos
enfermeiros do SSMT. Na verdade, apesar da formação realizada sobre “A pessoa
doente submetida a transfusão de componentes sanguíneos” e dos flyers
disponibilizados, os enfermeiros do SSMT continuam, diariamente, a ser questionados
sobre aspectos relativos à transfusão. Das questões mais frequentes destacam-se as
relativas à transfusão em doentes com hipertermia, ao tempo recomendado para
administração dos componentes, nomeadamente das plaquetas, ao local de
armazenamento dos componentes, caso não se inicie a transfusão, de imediato, entre
outros.

Sobressai, assim, a influência que os enfermeiros do SSMT têm na formação dos


enfermeiros dos serviços, pelo que é fundamental que sejam profissionais com uma
formação sólida e com competências específicas na área da terapêutica transfusional.

Por esse facto, foi integrado, no Plano de Formação em Serviço, do SSMT, o curso “A
Pessoa doente submetida a transfusão de componentes sanguíneos”, de presença
obrigatória para todos os enfermeiros da equipa, com o objectivo de consolidar
conhecimentos e competências e de uniformizar procedimentos, nesta área tão
específica do cuidar.

Em relação ao procedimento da colheita de sangue para testes pré-transfusionais,


nomeadamente à identificação do doente e ao momento de identificação dos tubos de
análise, a maioria dos enfermeiros referiu que actuava sempre (62,7%) ou quase
sempre (25,5%) do modo recomendado nos flyers. São os enfermeiros dos serviços
que mais transfundem que mais referiram ter sempre esta forma de actuação.

Sobre esta questão, além de se encontrar descrito nos flyers, o modo de proceder à
identificação do doente e dos respectivos tubos de análise, foram, também definidos e
100
publicados, no Boletim de Direcção n.º 75 de 22 de Dezembro dos HUC-EPE (2009),
os requisitos que deverão ser cumpridos na identificação das amostras de sangue
para realização de testes pré transfusionais e que são relativos ao local de
identificação dos mesmos, que deve ser efectuada junto do doente, à identificação do
doente, à data da colheita e à identificação do enfermeiro que efectuou a colheita,
através do registo do número mecanográfico nos tubos.

Ainda sobre esta questão, o British Committee for Standards in Haematology (2012),
recomenda a impressão de etiquetas de identificação do doente, de modo minimizar a
ocorrência de erro humano, nesta fase do processo. Considera, também, que é
imperativo a identificação positiva do doente, em cada fase do processo transfusional
e que esta deve ser efectuada questionando o doente sobre o seu nome e data de
nascimento. Em doentes incapazes de se identificar, como crianças e doentes
confusos ou inconscientes, a confirmação da sua identificação deve ser efectuada com
um familiar ou pessoa de referência e com os dados da pulseira de identificação (caso
exista) e do processo único.

Neste âmbito, o estudo elaborado por Hijji et al.,em 2010, com o objectivo de conhecer
as práticas de enfermagem na transfusão de sangue, revelou que os resultados
obtidos sobre as práticas de enfermagem foram baixos e que, dos défices
encontrados, a maioria ocorreu na identificação do doente.

Num outro estudo realizado por Hijji, Oweis e Dabbour (2012), com o objectivo de
investigar os níveis de conhecimento dos enfermeiros hospitalares sobre a transfusão
de sangue, a maioria dos enfermeiros demonstrou não ter a percepção da importância
do correcto procedimento na colheita de amostras para testes pré-transfusionais.

Na opinião de Bennardello et al (2009) sendo um aspecto crucial para a segurança


transfusional e uma das fases da cadeia onde os erros são mais frequentes, apesar de
haver disponíveis meios que permitem minimizar a sua ocorrência, este tipo de erro é
inevitável, sendo inerente à natureza humana.

Ao SSMT, no período de 01-01-2012 a 31-10-12, apenas foi notificado um caso de


erro na colheita das amostras de sangue para testes pré transfusionais, o que revela
que a grande maioria dos enfermeiros actua de acordo com as recomendações
existentes.

Contudo, não podemos relevar o facto de haver enfermeiros que não cumprem
sempre estes requisitos, fundamentais para a segurança transfusional. A não
identificação dos tubos de análise, à cabeceira, potencializa a ocorrência de erros

101
evitáveis, na cadeia transfusional e a ocorrência de reacções adversas graves, como a
reacção hemolítica por incompatibilidade ABO.

Em relação ao modo de actuação na identificação do doente/componente, antes de


iniciarem a transfusão, a grande maioria dos enfermeiros (91%) referiu que actua
sempre de acordo com o recomendado e são os enfermeiros dos serviços que mais
transfundem que mais referiram actuar desse modo (86,7%).

No estudo de Silva et al (2008), já referido, os resultados obtidos revelaram que,


quanto aos cuidados durante a transfusão, nomeadamente na identificação do
doente/componente a grande maioria respostas (88,9%) foram adequadas.

Já o estudo elaborado por Hijji et al.,em 2010, revelou que os resultados obtidos,
sobre as práticas de enfermagem foram baixos e que, dos défices encontrados, a
maioria ocorreu na identificação do doente, no registo dos sinais vitais e nos métodos
utilizados para o aquecimento do sangue.

Num outro estudo realizado por Jimenez-Marco (2011) 52,62% dos enfermeiros
afirmaram que a identificação do doente, à cabeceira, era sempre verificada por dois
profissionais enquanto para 21,76% dos inquiridos, este requisito era sempre
efectuado por uma enfermeira. Surpreendentemente, esta prática (verificação por uma
ou duas pessoas) era extremamente variável dentro do mesmo hospital.

Posteriormente, no estudo de Hijji, Oweis e Dabbour (2012) os dados obtidos


revelaram que quanto aos cuidados de enfermagem pré-transfusão, 70% dos
inquiridos consideravam que a identificação do doente é a etapa do processo com
maior nível de responsabilidade para o enfermeiro. Contudo, apenas 2% dos
enfermeiros conheciam as etapas que devem seguir para identificar correctamente
doente.

Ao SSMT, no período de 01/01/2012 a 31/10/12, foram notificados 3 casos de erros na


identificação do doente. Num dos casos ocorreu a administração da unidade errada,
por não ter sido confirmada a identificação do doente.

Verificamos, assim, que a maioria dos enfermeiros inquiridos cumpre sempre as


normas relativas à identificação do doente/componente, antes de iniciarem a
transfusão, requisito fundamental da segurança transfusional.

Sobre a confirmação do tipo de componente e do número de unidades prescritas, a


maioria dos enfermeiros efectua sempre (72,7%) ou quase sempre (18,2%) este
procedimento. Foram os enfermeiros dos serviços que mais transfundem que mais
referiram actuar sempre (80%) deste modo.
102
Este procedimento é fundamental, para diagnosticar enganos de prescrição ou de
envio dos componentes, pelo SSMT, nomeadamente relativos ao número de unidades
solicitadas. De modo a minimizar a ocorrência deste tipo de eventos, é imprescindível
que o preenchimento dos pedidos de transfusão cumpra os requisitos definidos no
Boletim de Direcção Nº 75, de 22 de Dezembro dos HUC-EPE (2009), nomeadamente
quanto à identificação correcta do doente, ao serviço requisitante, ao tipo de
componente e número de unidades solicitadas, à data e grau de urgência da
transfusão, à informação clínica e à identificação do médico prescritor.

À questão sobre se avaliam os parâmetros vitais do doente, antes de iniciarem a


transfusão, também a maioria dos enfermeiros respondeu que actua sempre (66,4%)
ou quase sempre (18,2%) deste modo.

A esta questão, a totalidade dos enfermeiros dos serviços onde é efectuado um


número médio de transfusões respondeu que efectuava sempre este procedimento.
Foram os enfermeiros dos serviços que mais transfundem que menos referiram avaliar
sempre os parâmetros vitais pré-transfusão (43,3%). Estes resultados podem estar
relacionados com o facto de a maioria dos enfermeiros pertencerem ao serviço de
Medicina Intensiva (36,4%), onde os doentes apresentam monitorização contínua dos
parâmetros vitais.

No estudo de Torezan e Souza (2009) os resultados revelaram que quanto aos


cuidados de enfermagem pré e per transfusão, 88% dos inquiridos avaliavam os
parâmetros vitais, pré e per transfusão.

Contrariamente, o estudo de Hijji et al (2010) demonstrou que os défices encontrados


foram mais significativos nas questões relativas à identificação do doente, ao registo
dos sinais vitais e aos métodos utilizados para o aquecimento do sangue.

À questão relativa aos ensinos ao doente pré-transfusão, 35,5% dos enfermeiros


efectuam-no sempre e quase sempre (28,2%). Foram os enfermeiros dos serviços que
menos transfundem que mais referiram actuar sempre (42,8%) deste modo. Também
estes resultados podem ser influenciados pelo facto de a maioria dos enfermeiros dos
serviços que mais transfundem pertencerem ao SMI, onde a maioria dos doentes
estão sedados e entubados, pelo que não é possível realizar os ensinos.

No âmbito de um programa de formação teórica em hemoterapia, proposto aos


profissionais de enfermagem, Ferreira et al (2007) elaboraram um estudo onde
pretendiam efectuar uma “Avaliação do conhecimento sobre hemoterapia e segurança
transfusional de profissionais de enfermagem”. Concluíram que, quanto à questão
sobre se realizam ensinos ao doente, antes de iniciarem a transfusão, 81% dos
103
profissionais de enfermagem referiu que efectua ensinos sobre os benefícios da
transfusão. Apenas 40% orientam os doentes sobre os riscos da transfusão e somente
60% abordam os sinais e sintomas de reacções transfusionais. Este último aspecto
levanta uma questão crucial, na segurança transfusional, uma vez que, a detecção
precoce de uma reacção adversa constitui uma arma poderosa para minimizar os
danos ao doente, e que a sua colaboração, ao comunicar precocemente qualquer
alteração sugestiva de reacção é fundamental.

Num outro estudo, elaborado por Torezan e Souza (2009), os resultados revelaram
que, quanto aos ensinos ao doente pré-transfusão, relativos às reacções
transfusionais, a maioria dos inquiridos (43%) referiu que apenas o efectuam, às
vezes.

Verificamos, assim, que sendo os ensinos ao doente, sobre os sinais e sintomas das
reacções transfusionais, uma intervenção de enfermagem imprescindível para o seu
diagnóstico precoce, ainda é uma intervenção desvalorizada por alguns profissionais.

Relativamente à pré medicação, a sua administração tem como objectivo prevenir a


ocorrência de reacções transfusionais, pelo que é um procedimento fundamental para
a segurança transfusional. Nesta questão, a maioria dos enfermeiros confirma sempre
se o doente tem prescrita pré-medicação (63,6%) e são os enfermeiros dos serviços
que mais transfundem que efectuam este procedimento com maior frequência
(71,7%).

Este resultado pode ser justificado pelo facto do maior número de transfusões ser
realizado no serviço de Hematologia, como referenciado no Quadro 2, onde a maioria
dos doentes se encontram imunodeprimidos, necessitando desta medida terapêutica
para prevenir a ocorrência de reacções adversas.

De acordo com as recomendações existentes, a administração dos componentes


sanguíneos deve ser iniciada logo que os mesmos cheguem ao serviço, para que
sejam transfundidos componentes cuja qualidade e condições de segurança se
encontrem preservadas. Por esse facto, caso não seja possível iniciar, de imediato, a
sua administração, devem ser devolvidos ao SSMT, onde serão armazenados de
acordo com os seus requisitos de armazenamento e conservação.

Questionados sobre se devolvem os componentes ao SSMT, caso não possam ser


administrados, a maioria dos enfermeiros devolvem-nos sempre (55,5%) ou quase
sempre (34,5%). São os enfermeiros dos serviços que menos transfundem que com
maior frequência (57,2%) devolvem os componentes. Estes resultados permitem-nos
concluir que a maioria dos enfermeiros participantes no estudo tem uma elevada
104
percepção sobre a importância desta intervenção, para que sejam preservadas as
condições de armazenamento e a qualidade dos componentes.

Sobre esta questão foram elaborados, no SSMT, os critérios de integração dos


componentes no stock, encontrando-se descritos em instrução de trabalho, dos quais
fazem parte o tempo de permanência fora do serviço, a integridade do saco, a normal
coloração do conteúdo e a temperatura a que se encontra o componente. Estes
critérios são avaliados pelo enfermeiro do serviço, procedendo à sua validação
informática. O não cumprimento destes requisitos determina que os componentes
devolvidos sejam inutilizados.

Como já referido, os componentes sanguíneos obtêm-se da dádiva voluntária e


altruísta do cidadão, que têm vindo a diminuir, nos últimos anos. Esta realidade
reflecte-se no número de colheitas de sangue, efectuadas pelos profissionais do
serviço, que tem sido insuficiente para suprir as necessidades dos doentes que
necessitam desta medida terapêutica.

Apesar de ser efectuada uma rigorosa gestão de stocks dos componentes, pelo
médico de serviço, o número de unidades colhidas é inferior ao número de transfusões
solicitadas. Por esse facto o serviço recorre, frequentemente, ao Instituto Português do
Sangue e da transplantação para manter os stocks, em níveis de segurança, de modo
a não comprometer as necessidades dos doentes, nesta medida terapêutica.

Esta questão remete-nos para um dos pontos críticos da cadeia transfusional: a


decisão médica de transfundir. Na opinião de Brilhante (2004), a existência de
guidelines relativas à indicação clínica de administração de cada componente é
fundamental, não só para a utilização correcta dos mesmos, como para a sua
monitorização. Constitui uma forma de racionalizar a sua utilização, minimizando o seu
desperdício.

Por outro lado, é fundamental que o enfermeiro cumpra as orientações definidas nos
flyers, relativas ao momento da administração dos componentes sanguíneos e à sua
devolução, caso não possam ser administrados, garantindo, assim, a transfusão de
componentes de qualidade, evitando a inutilização dos mesmos.

Além de o sangue ser um “bem precioso e escasso”, a obtenção dos seus


componentes é dispendiosa, encontrando-se definida, por Despacho Governamental
(n.º 282/2009), a tabela de preços das unidades terapêuticas de sangue a cobrar pelo
IPS

105
Quadro 58 - Tabela de preços das unidades terapêuticas de sangue a cobrar pelo
IPS.

Produtos homólogos para uso terapêutico Preço

Concentrado eritrocitário desleucocitado 186 €

Pool concentrado de plaquetas desleucocitado 320 €

Plaquetas de aférese desleucocitadas 400 €

Plasma fresco congelado desleucocitado 75 €

Fonte: Despacho n.º 282/2009, do Ministério da Saúde. Diário da


Republica. Série II, nº 3 de 06/01/2009.

De acordo com as recomendações existentes, a transfusão dos componentes


sanguíneos deve ser sempre efectuada através de sistemas de perfusão com filtro, de
170 a 200 , com o objectivo de remover células agregadas, microrganismos e
coágulos, formados durante o seu armazenamento. Por esse facto, todos os
componentes enviados pelo SSMT são sempre acompanhados pelo respectivo
sistema de administração.

Questionados os enfermeiros, sobre se administram os componentes através do


sistema com filtro que acompanha as unidades, a grande maioria dos enfermeiros
participantes no estudo (96,4%) referiram que os utilizam sempre e foram os
enfermeiros dos serviços que mais transfundem que o efectuam com maior frequência
(98,3%), o que revela um excelente desempenho por parte dos enfermeiros.

Resultados opostos foram obtidos no estudo de Hijji, Oweis e Dabbour (2012), onde
64% dos enfermeiros utilizaram um sistema incorrecto, para administração dos
componentes, havendo mesmo 10% dos inquiridos que afirmaram não terem
conhecimentos sobre este item.

De acordo com o European Committee on Blood Transfusion (2010), a vigilância do


doente submetido a transfusão sanguínea, é vital. A avaliação dos parâmetros vitais
deve ser realizada antes do início da transfusão, durante e após a sua administração.
A observação do doente durante os primeiros 15 minutos, após o início da transfusão,
é especialmente importante para detectar, precocemente, qualquer sinal ou sintoma
de reacções transfusionais.

106
Sobre esta questão, a maioria dos enfermeiros referiu manter sempre (75,5%) ou
quase sempre (19,1%) os doentes sob vigilância. Foram os enfermeiros dos serviços
onde é realizado um número médio de transfusões que com maior frequência realizam
este procedimento (82,8%). Contrariamente são os enfermeiros dos serviços que mais
transfundem que o efectuam com menor frequência (sempre:70%; quase sempre:
23,3%). Estes resultados podem, também, ser justificados pelo facto de no serviço de
Medicina Intensiva os doentes apresentarem monitorização contínua dos parâmetros
vitais.

Associada à vigilância do doente, surge a da avaliação dos sinais vitais 15 minutos


após o início da transfusão e no final da mesma.

De acordo com o British Committee for Standards in Haematology (2012), estas


medidas devem ser, sempre, adoptadas, durante a transfusão de componentes
sanguíneos, uma vez que permitem o diagnóstico precoce, de possíveis reacções
adversas.

A maioria dos enfermeiros referiu que avalia sempre (51,8%) e quase sempre (26,4%),
os parâmetros vitais, nos momentos recomendados. Nesta questão foram os
enfermeiros dos serviços onde se realiza um número intermédio de transfusões que
referiram efectuar este procedimento com maior frequência (86,2%). Contrariamente,
os enfermeiros dos serviços que mais transfundem formam os que menos referiram
executar este procedimento (28,3%) o que talvez possa ser justificado pelo facto de,
nomeadamente no SMI, os doentes se encontrarem monitorizados.

Também no estudo elaborado por Torezan e Souza (2009), com o objectivo de


verificar o conhecimento e competências dos enfermeiros sobre a transfusão de
sangue, quando questionados sobre os cuidados de enfermagem pré e per transfusão,
a maioria dos inquiridos (88%) referiu avaliar os parâmetros vitais, pré e per
transfusão.

Para cada componente sanguíneo encontra-se definido, nos flyers, o tempo


recomendado de administração. Sobre esta questão, 47,3% dos enfermeiros
consideram-se bem informados e 35,5%, informados. Foram os enfermeiros dos
serviços que mais transfundem que revelaram maior nível de informação sobre esta
temática (11,67% consideram-se totalmente informados).

Em 2008, Silva et al elaboram um estudo onde pretendiam aferir sobre o


conhecimento dos profissionais de enfermagem de unidades de terapia intensiva
sobre o processo transfusional. Sobre os cuidados durante a transfusão,

107
nomeadamente relativos ao tempo máximo de perfusão, a grande maioria respostas
(88,9%) foram adequadas.

Também no estudo de Torezan e Souza (2009), 65% dos enfermeiros revelaram


conhecer o tempo recomendado para a transfusão de cada componente.

Quanto ao próprio nível de conhecimentos sobre as condições de conservação dos


componentes, a maioria dos enfermeiros considerou-se informada (43,6%) e bem
informada (40%). Nesta questão foram os enfermeiros dos serviços que mais
transfundem que referiram maior nível de informação (bem informado: 48,3%;
totalmente informado: 8,33%). Não deixa de ser relevante a percentagem de
enfermeiros que que se considera pouco (8,2%) ou nada (0,9%) informada sobre este
requisito da segurança transfusional.

A nível nacional, as condições de armazenamento e distribuição do sangue e dos seus


componentes encontram-se regulamentadas no Anexo XIII do Decreto-Lei Nº
267/2007 de 24 de Julho. Este diploma determina, ainda, que o Sistema de Qualidade
dos serviços de sangue deve assegurar os requisitos de armazenamento e distribuição
do sangue e que os procedimentos de armazenamento e distribuição devem ser
validados, de forma a assegurar a qualidade dos mesmos.

Cumprindo esta exigência legal, no SSMT todos os equipamentos de armazenamento


de componentes são calibrados e verificados, periodicamente e dispõem de
dispositivos de controlo de temperatura, que permitem identificar, precocemente,
qualquer alteração.

Sobre a expedição, acondicionamento e transporte dos componentes sanguíneos para


os serviços, foi elaborada uma instrução de trabalho, no âmbito do Sistema de Gestão
da Qualidade, onde se encontram definidos os requisitos que permitem garantir a
qualidade dos componentes.

Sobre o acondicionamento dos componentes, esta instrução determina que seja


efectuado em malas térmicas e, no caso de envio de unidades de EDSA, com
termoacumuladores de gelo, de acordo com o número de unidades enviadas.

O serviço dispõe de um sistema de controlo de temperatura das unidades de EDSA


enviadas, que consiste em pequenos dispositivos de controlo de temperatura (Logger),
que são colocados nas malas térmicas, juntamente com os componentes. Estes
dispositivos funcionam através de uma aplicação informática (IT2Go) e efectuam
leituras da temperatura em intervalos regulares, previamente definidos. Quando os
componentes são devolvidos ao serviço, é efectuada a leitura dos dados do Logger,

108
confirmando-se a temperatura a que os componentes estiverem sujeitos desde que
saíram do SSMT até à sua devolução, caso não sejam administrados. Dado o número
insuficiente de dispositivos disponíveis (5), são utilizados no envio de componentes
para serviços fora do edifício central do hospital, nomeadamente para o bloco
operatório dos serviços periféricos. Estes componentes são, com alguma frequência,
devolvidos ao SSMT e, atendendo a que são serviços distantes do edifício central do
hospital, o que dificulta a sua devolução imediata, é fundamental que se efectue um
controlo rigoroso da sua temperatura o que, entre outros critérios, determinará a sua
devolução, ou não, aos stocks.

Apesar de nos flyers conterem informação relativa às condições de armazenamento


dos componentes, os enfermeiros do SSMT continuam a ser contactados para o
esclarecimento de dúvidas, sobre esta questão, com alguma frequência. O
componente cuja conservação suscita mais dúvidas são as pools de plaquetas,
provavelmente porque, com excepção do serviço de hematologia, onde se procede à
sua administração diariamente, nos outros serviços a frequência de administração é
reduzida, comparativamente às unidades de EDSA e de PHI.

Em relação aos efeitos adversos da transfusão, a British Society for Haematology


(2012) considera que todos os doentes submetidos a transfusão de componentes
sanguíneos devem ser mantidos sob vigilância, que a administração dos componentes
deve ser efectuada por profissionais com formação teórica e prática específica e que o
reconhecimento imediato de uma reacção transfusional é mandatorio, requerendo
treino dos profissionais envolvidos no processo.

Neste contexto, questionados os enfermeiros que participaram no estudo, sobre o


próprio nível de conhecimentos relativo aos diferentes tipos de reacções
transfusionais, a maioria considerou que era adequado (50%) e muito adequado
(35,5%). Também nesta questão forma os enfermeiros dos serviços que mais
transfundem que revelaram maior nível de conhecimentos (muito adequado: 43,3%;
totalmente adequado: 13,4%).

No seguimento desta questão, foi colocada outra sobre o próprio nível de


conhecimentos quanto aos sinais e sintomas de cada tipo de reacção adversa da
transfusão. A maioria dos enfermeiros referiram que era adequado (48,2%) e muito
adequado (34,5%). Também nesta questão, os enfermeiros dos serviços que mais
transfundem revelaram maior nível de conhecimentos (totalmente adequado: 8,3%;
muito adequado: 40%).

109
Ainda no âmbito das reacções transfusionais foi colocada uma questão relativa ao
próprio nível de conhecimentos sobre como actuar nos diferentes tipos de reacções
transfusionais. A maioria dos inquiridos consideraram que o seu nível de
conhecimentos era adequado (50,9%) e muito adequado (36,4%). Também nesta
questão foram os enfermeiros dos serviços que mais transfundem que referiram maior
nível de conhecimentos (totalmente adequado: 13,4%; muito adequado: 43,4%).

Sobre esta questão, além da informação disponível nos flyers, foi publicado no Boletim
de Direcção, dos HUC-EPE, Nº 75, de 22 de Dezembro (2009), os procedimentos de
enfermagem a adoptar perante o aparecimento de sinais ou sintomas sugestivos de
reacção transfusional. Esta informação encontra-se, ainda reforçada, no documento de
registo de administração dos componentes sanguíneos, que acompanha cada
componente o qual, além de referenciar os principais sinais e sintomas de reacções
transfusionais, define como actuar, na sua presença.

No estudo de Torezan e Souza (2009), apenas 42% dos enfermeiros souberam


identificar os sinais e sintomas de uma reacção transfusional e 88% souberam como
actuar na sua presença. Os resultados evidenciaram que os enfermeiros detêm
conhecimentos sobre as práticas transfusionais em detrimento dos conhecimentos
específicos sobre a transfusão sanguínea. Alguns aspectos dos cuidados mostraram-
se deficitários, nomeadamente os relativos à intervenção do enfermeiro numa reacção
transfusional.

Com o objectivo de avaliar os conhecimentos dos enfermeiros sobre os componentes


sanguíneos, sobre os cuidados na transfusão e sobre as complicações desta medida
terapêutica, Aslani, Etemadyfar e Noryan, elaboraram um estudo, em 2010 onde
concluíram que, quanto às indicações e às complicações da transfusão, apenas 16,2%
dos participantes revelaram um bom nível de conhecimentos, enquanto que 24,8%
revelaram um nível de conhecimentos deficitário.

Apesar de serem diversos os recursos que disponibilizam informação sobre as


reacções transfusionais, não deixa de ser relevante o número de enfermeiros que
ainda consideram, que os seus conhecimentos, nesta área, são pouco ou nada
adequados.

Claro que devemos levar em conta que o que avaliámos foi a percepção do próprio
conhecimento e não o conhecimento propriamente dito, sabendo nós que pode haver
aqui uma distância a considerar.

110
Por último, a questão sobre se em caso de reacção transfusional suspendem a
transfusão, mantém o acesso venoso com soro fisiológico, se confirmam a
identificação do doente/unidade e se comunicam a ocorrência ao médico/enfermeiro
do SSMT, a maioria dos enfermeiros referiu actuar sempre (74,5%) deste modo.
Foram os enfermeiros dos serviços que menos transfundem que mais referiram ter
sempre (85,7%) esta forma de actuação.

Como anteriormente referido, estes procedimentos encontram-se descritos não só nos


flyers, como também na folha de registo de administração dos componentes
sanguíneos, que acompanha cada componente. São recomendações fundamentais
para a segurança transfusional, uma vez que a intervenção imediata e eficaz do
enfermeiro é determinante para a recuperação da situação clínica do doente.

Assim sendo, não deixa de ser preocupante ainda haver enfermeiros que só actuam,
de cordo com as recomendações, por vezes (4,5%) ou mesmo raramente (5,5%).

No geral, os resultados do nosso estudo, revelaram que a maioria dos enfermeiros


frequentou formação específica sobre os cuidados de enfermagem pré, per e pós
transfusão, que a maioria dos enfermeiros consideram muito e totalmente importante a
realização de programas de formação contínua sobre esta área de intervenção, que
lhes permita uma actualização sistemática, que a maioria dos enfermeiros considera
que os flyers contribuíram para a melhoria dos seus conhecimentos relativos à
administração de componentes sanguíneos, que a maioria dos enfermeiros considera
adequado e muito adequado o próprio nível de conhecimentos sobre a intervenção do
enfermeiro na transfusão de componentes sanguíneos, que a maioria dos enfermeiros
considera adequado e muito adequado, o próprio nível de conhecimentos sobre como
actuar nos diferentes tipos de reacções transfusionais e que, no geral, a maioria
cumpre sempre e quase sempre as recomendações dos flyers, no cuidar do doente
submetido a transfusão de componentes sanguíneos, o que lhes confere uma prática
segura de cuidados de enfermagem, assente em princípios científicos, fundamentais
para a segurança transfusional.

111
112
CONCLUSÃO

Como referido, o sangue é um produto biológico, de origem humana, com potencial


para causar danos ao doente, submetido a esta medida terapêutica.

Apesar dos avanços científicos, que conferem um elevado nível de segurança a todo o
processo, a possibilidade de ocorrência de erros humanos subsiste, nomeadamente
em procedimentos simples, mas cruciais para a segurança transfusional, como a não
confirmação da identificação do doente, à cabeceira, imediatamente antes da colheita
de amostras para testes pré-transfusionais e antes de se iniciar a sua transfusão.

Deste modo, sendo da responsabilidade dos enfermeiros, a administração dos


componentes sanguíneos, a segurança e eficácia desta medida terapêutica depende
de factores como o conhecimento e competência dos enfermeiros envolvidos neste
processo.

Esta questão constitui uma preocupação das Autoridades Nacionais e Comunitárias,


pelo que, em 2004, o Conselho da Europa emitiu a Recomendação (2004) 18, onde
determina que todos os enfermeiros devem receber formação específica na área da
terapêutica transfusional e que devem desenvolver competências específicas sobre a
mesma. Determina, ainda, que só os enfermeiros com formação específica sobre
Medicina Transfusional para enfermeiros estão autorizados a praticar a mesma.

Atendendo a que a prática profissional de enfermagem necessita de ser sustentada


por evidências científicas, obtidas através da investigação, este estudo permitiu
reflectir sobre as práticas dos enfermeiros, no cuidar da Pessoa doente submetida a
transfusão de componentes sanguíneos.

Os resultados obtidos revelaram-se muito gratificantes, pois demonstraram que a


maioria dos enfermeiros detém formação específica na área, consideram muito e
totalmente importante o desenvolvimento de programas de formação sobre Medicina
Transfusional para enfermeiros, consideram ter um nível de conhecimentos adequado
e muito adequado sobre a intervenção do enfermeiro na administração de
componentes sanguíneos, consideram muito e totalmente importante a informação dos
flyers, cumprem sempre e quase sempre, as recomendações dos flyers e consideram
ter um nível de conhecimentos adequado e muito adequado sobre reacções
transfusionais.

Deste modo, apesar das limitações que envolveram o estudo, decorrentes da


inexperiência da autora, da indisponibilidade de tempo e da desmotivação que
113
teimosamente persistia, vivencia-se uma sensação de agrado, pela concretização dos
objectivos de investigação, inicialmente definidos.

Contudo, tendo em conta que os enfermeiros participantes no estudo são detentores


de diferentes níveis de conhecimentos/experiência, sobre o processo transfusional e
que cada serviço tem as suas especificidades, os resultados obtidos não podem ser
transpostos para a população, em geral.

Consideramos que, em trabalhos futuros, seria relevante alargar o âmbito do estudo a


outros serviços e envolver um maior número de enfermeiros, o que permitiria obter
resultados mais representativos da população sobre esta área, tão específica, do
cuidar. Esta medida seria fundamental para o desenvolvimento de estratégias de
melhoria contínua dos cuidados de enfermagem pré, per e pós transfusão, com o
intuito de atingir a excelência dos mesmos, potencializando a segurança transfusional.

O presente estudo reflectiu, ainda, a preocupação dos profissionais do Serviço de


Sangue e Medicina Transfusional, com a segurança transfusional e o seu empenho
em cumprir as exigências legais sobre esta temática.

Na área da formação, as estratégias que desenvolveram, nomeadamente o curso de


formação sobre “A Pessoa doente submetida a transfusão de componentes
sanguíneos”, os flyers e as orientações publicadas em Boletim da Direcção, revelaram
um elevado nível de eficácia, na prática segura de cuidados de enfermagem, na
transfusão de componentes sanguíneos.

Destaca-se, ainda, a importância dos enfermeiros do SSMT serem profissionais com


formação específica e actualizada na área da Medicina Transfusional, para
enfermeiros pois, de acordo com os resultados obtidos é a eles que recorre, a maioria
dos enfermeiros dos serviços, para o esclarecimento de dúvidas relativas ao processo
transfusional.

Perante os resultados obtidos e reflectindo sobre o desempenho dos profissionais do


SSMT, no desenvolvimento de estratégias formativas que permitissem uma prestação
segura e eficaz de cuidados de enfermagem na transfusão de componentes
sanguíneos, importa tecer algumas sugestões que consideramos pertinentes.
Atendendo a que a área da Medicina Transfusional é uma área em constante
evolução, é imprescindível realizar uma nova actualização dos flyers e proceder à sua
divulgação nos diferentes serviços. Por outro lado, atendendo a que alguns
enfermeiros desconhecem a sua existência, apesar de haver evidência da sua
divulgação e disponibilização nos serviços, torna-se necessário desenvolver

114
estratégias que permitam evidenciar que os flyers foram disponibilizados a todos os
enfermeiros dos serviços.

Por outro lado, actualmente os HUC, EPE integram o Centro Hospitalar e Universitário
de Coimbra, EPE, do qual fazem parte outras instituições hospitalares. Tendo ocorrido
a unificação dos serviços de Sangue e Medicina Transfusional, cuja Direcção ficou
sediada no polo dos HUC, é fundamental a actualização dos flyers e a sua
disponibilização a todos os enfermeiros dos serviços que integram o Centro Hospitalar
e Universitário de Coimbra, EPE, de modo a uniformizar as práticas dos enfermeiros
na transfusão de componentes sanguíneos.

Neste contexto, surge a necessidade reformular o projecto de formação que integrou o


curso sobre “A Pessoa doente submetida a transfusão de componentes sanguíneos”.
Além da necessidade de actualizar os conteúdos programáticos e de inserir novos
conteúdos como a transfusão em pediatria, uma vez que o Hospital Pediátrico também
integra o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, EPE, é fundamental alterar
aspectos como a obrigatoriedade de replicação da formação, nos serviços, pelos
enfermeiros que a frequentaram. Pretende-se, com esta medida, que a transmissão
dos conteúdos seja o mais fidedigna possível, pelo que é fundamental que seja
efectuada por profissionais com competências específicas nesta área.

Posteriormente propõe a apresentação à Direcção de Enfermagem e ao Serviço de


Formação Profissional, do pedido de autorização para o desenvolvimento do curso,
com periodicidade anual e assim disponibilizar, a sua frequência, a todos os
enfermeiros que integram os serviços do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra,
EPE.

Depois de implementadas estas medidas de melhoria dos cuidados de enfermagem,


propomos a realização de um novo estudo, que permita aferir sobre as práticas de
enfermagem no cuidar do doente submetido a transfusão de componentes
sanguíneos.

Pelo exposto, confirmamos a relevância desta temática para a evolução do


conhecimento e da investigação, nesta área específica de actuação dos enfermeiros.

115
116
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123
ANEXOS
Anexo I – Flyer “Princípios Gerais de Actuação do Enfermeiro perante o Doente
submetido a Transfusão Sanguínea”.
Anexo II – Flyer “Administração de eritrócitos desleucocitados em solução aditiva”.
Anexo III – Flyer “Administração de plasma”.
ANEXO IV – Flyer “Administração de pools de plaquetas desleucocitadas ou plaquetas
de aférese desleucocitadas”.
Anexo V - Questionário
CUIDAR COM SEGURANÇA NA ADMINISTRAÇÃO DE COMPONENTES SANGUÍNEOS

Prezado Senhor (a) Enfermeiro (a)

Chamo-me Maria Clara de Matos Pina, sou enfermeira especialista em Enfermagem Médico-
Cirúrgica e exerço funções no Serviço de Sangue e Medicina Transfusional dos Hospitais da
Universidade de Coimbra, EPE.
Encontro-me a frequentar o Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica, na Escola Superior
de Enfermagem de Coimbra. Neste âmbito, pretende realizar um estudo subordinado ao tema
“Cuidar com segurança na administração de componentes sanguíneos” orientado pelo Sr.
Professor Doutor José Carlos Amado Martins.
Para tal necessito da sua colaboração, através da resposta a este questionário que se
destina, apenas, a identificar necessidades formativas e não a avaliar os conhecimentos dos
enfermeiros.
É totalmente livre de não responder ao questionário e de o entregar em branco.
Saliento o carácter anónimo e voluntário da sua participação e sublinho que os dados
contidos neste questionário são confidenciais e não serão usados para outro fim que não seja o
estudo em causa, pelo que solicito que faculte o seu consentimento.
Agradeço, antecipadamente, garantindo, pessoalmente, o anonimato das informações
prestadas.
MUITÍSSIMO OBRIGADO
Anexo VI – Autorização do Exmo. Sr. Director do Serviço de Sangue e Medicina
Transfusional.
Anexo VII - Autorizações dos Exmo(s). Sr(s). Directores dos Serviço de: Medicina
Intensiva, Hematologia, Gastroenterologia, Cardiologia, Neurologia e Psiquiatria.
Anexo VIII – Autorização do Conselho de Administração dos HUC-EPE, com o
parecer favorável da Comissão de Ética.
Anexo IX - Parecer da Comissão de Ética da Unidade de Investigação em Ciências da
Saúde da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.

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