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CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

MÉDICO-CIRÚRGICA

ATITUDE DO ENFERMEIRO
PERANTE A MORTE

ANTÓNIO PEDRO LIMA TOJAL

Coimbra, Março de 2011


CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

MÉDICO-CIRÚRGICA

ATITUDE DO ENFERMEIRO
PERANTE A MORTE

ANTÓNIO PEDRO LIMA TOJAL

Orientador: Professor Doutor José Carlos Amado Martins


Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra – Unidade Científico-
Pedagógica de Enfermagem Médico-Cirúrgica

Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra para obtenção do grau


de Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica

Coimbra, Março de 2011


Dedicatória

Dedico este trabalho à minha esposa, à minha mãe, aos meus


sogros, irmãs e toda a família, que estiveram comigo em
todos os momentos, e me ajudaram a ultrapassar todos os
obstáculos ao longo desta etapa.
Agradecimentos

Ao Professor Doutor José Carlos Martins, pelo seu saber, disponibilidade,


compreensão e amizade;

Aos Conselhos de Administração do Hospital Cândido de Figueiredo de


Tondela e do Hospital São Teotónio de Viseu, pela autorização concedida
para a aplicação dos questionários nos serviços visados;

À Enfermeira Idalina Amaro, pela cedência e autorização para aplicação da


Escala de Atitudes, construída e validada por si;

A todos os Enfermeiros que aceitaram responder aos questionários, sendo


possível a apresentação dos resultados;

E a todos os que, directa ou indirectamente, contribuíram para que esta


dissertação fosse possível.

A todos, Muito Obrigado!


LISTA DE SIGLAS

CIPE - Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem

EPE – Entidade Pública Empresarial

HCF – Hospital de Cândido Figueiredo

HST – Hospital de São Teotónio

ICD – Instrumento de Colheita de Dados

INE – Instituto Nacional de Estatística

SAV - Suporte Avançado de Vida

SBV – Suporte Básico de Vida

SPSS - Statistical Package for Social Sciences


RESUMO

A transferência da morte do domicílio para o hospital implica uma necessidade de mudança


de atitudes por parte das instituições hospitalares como estrutura, e por parte dos seus
profissionais de saúde. Esta realidade levou a novas implicações e preocupações por parte dos
enfermeiros, que com ela se confrontam diariamente, e perante a qual se sentem desprovidos
de conhecimentos e de formação profissional que lhes permita olhar de frente para uma
realidade, que a cada instante se coloca diante dos seus olhos. Sendo a morte, uma situação
em que os enfermeiros sentem dificuldade em lidar e agir perante esta, desenvolveu-se o
presente estudo, com o objectivo de conhecermos as atitudes do enfermeiro perante a morte e
determinar a qual a influência dos factores sócio-demográficos, religiosos e profissionais nas
mesmas.

Trata-se de um estudo de natureza quantitativo, com características de um estudo descritivo-


correlacional e de corte transversal. Para a sua concretização, utilizámos um questionário que
foi aplicado a uma amostra de 80 enfermeiros, que exercem funções no Hospital Cândido
Figueiredo de Tondela e Hospital São Teotónio de Viseu. Os dados colhidos foram,
posteriormente, tratados informaticamente, recorrendo ao programa estatístico SPSS, versão
18.8 para o Windows.

Os resultados obtidos permitiram verificar que estamos perante uma amostra de enfermeiros
jovens, com predomínio do género feminino, maioritariamente casados ou vivem em união de
facto, sendo maioria, detentores da licenciatura em enfermagem. Verificamos que a maioria
dos enfermeiros inquiridos apresentam atitudes muito favoráveis ou positivas perante um
doente em processo de morte. Das hipóteses formuladas para este estudo, confirmaram-se a
influência da idade, do tempo de exercício profissional e da formação frequentada pelos
enfermeiros ao longo do seu percurso profissional, nas atitudes que estes apresentam perante a
morte.

Dos resultados deste estudo, surgem vários contributos para a profissão de enfermagem, como
alguns conhecimentos para a compreensão desta temática, essenciais à melhoria da prática de
cuidados perante doentes em fase final de vida.

Destes achados surgem um conjunto de sugestões, apresentados no final deste trabalho, sendo
estas dirigidas a diversas áreas do exercício profissional do enfermeiro.
ABSTRACT

The transfer of death from home to hospital implies a need for changing attitudes on the part
of hospitals as structure, and by their health professionals. This reality has led to new
implications and concerns from nurses who are confronted with it daily, and before which
they feel deprived of knowledge and training to enable them to face up to a reality that every
moment stands before their eyes. Since the death, a situation that nurses find it difficult to
cope and act upon this, we developed this study with the aim of knowing the attitudes of
nurses facing death and to determine the influence of socio-demographic, religious and
professional in them.

This is a quantitative study of nature, with characteristics of a descriptive-correlational and


cross-sectional. For their achievement, we used a questionnaire that was administered to a
sample of 80 nurses employed in the Hospital Cândido Figueiredo de Tondela and Hospital
São Teotónio de Viseu. Collected data were then processed by computer, using the statistical
program SPSS, version 18.8 for Windows.

The results indicate that this is a sample of nurses young, predominantly female, mostly
married or living with a partner, with majority holders of diploma in nursing. We found that
the majority of nurses surveyed have positive attitudes towards very favorable or a patient
death process. Of the hypotheses of this study confirmed the influence of age, exercise time
and professional training followed by nurses throughout their careers, they have attitudes
towards death.

The results of this study, there are numerous contributions to the nursing profession, as some
knowledge to understand this issue, essential to improving the practice of care towards
patients in final stage of life.

From these findings emerge a set of suggestions submitted by the end of this work, these
being directed to various areas of professional practice of nurses.
SUMÁRIO
Pág.
INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………... 19

PARTE UM: ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1– ATITUDES …………………………………………………………………….. 25

1.1- DEFINIÇÃO DE ATITUDES ………………………………………………….. 25

1.2- COMPONENTES DAS ATITUDES …………………………………………… 26

1.3- CARACTERÍSTICAS DAS ATITUDES ………………………………………. 28

1.4- FORMAÇÃO DAS ATITUDES ……………………………………………….. 29

1.5- FUNÇÃO DAS ATITUDES ……………………………………………………. 31

1.6- MEDIDA DAS ATITUDES ……………………………………………………. 32

1.7- ATITUDES E COMPORTAMENTOS ………………………………………… 33

2- PERSPECTIVA DA MORTE NO OCIDENTE …………………………….. 35

2.1- A MORTE FAMILIARIZADA OU DOMESTICADA ………………………... 35

2.2- A MORTE DE SÍ PRÓPRIO …………………………………………………… 37

2.3- A MORTE DO OUTRO ………………………………………………………... 40

2.4- A MORTE INTERDITA ……………………………………………………….. 41

3- A MORTE NA ACTUALIDADE …………………………………………….. 45

3.1- HOSPITALIZAÇÃO DA MORTE …………………………………………….. 45

3.2- FASES DA MORTE NO DOENTE TERMINAL ……………………………... 47

3.3- ATITUDES DO ENFERMEIRO FACE À MORTE …………………………… 48

PARTE DOIS: CONTRIBUIÇÃO PESSOAL

4- METODOLOGIA ………………………………………………………………. 53

4.1- TIPO DE ESTUDO E OBJECTIVOS ……………………………………………... 53


4.2- QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO E HIPÓTESES ……………………………… 54

4.3- VARIÁVEIS EM ESTUDO E SUA OPERACIONALIZAÇÃO …………………. 56

4.3.1- Variável Dependente …………………………………………………………… 56

4.3.2- Variáveis Independentes ……………………………………………………….. 57

4.4- POPULAÇÃO E AMOSTRA ……………………………………………………... 59

4.4.1- Selecção e Caracterização da Amostra ………………………………………... 59

4.5- INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS ………………………………….. 66

4.6- PROCEDIMENTOS FORMAIS E ÉTICOS ……………………………………… 69

4.7- PROCEDIMENTO NO TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS …….. 70

5- APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ………………………………. 73

6- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ……………………………………………. 87

CONCLUSÃO …………………………………………………………………………. 97

BIBLIOGRAFIA ……………………………………………………………………… 101

ANEXOS
ANEXO I - Instrumento de Colheita de Dados
ANEXO II – Pedido de autorização para utilização da Escala de Atitudes
ANEXO III – Pedidos de autorização aos Conselhos de Administração do Hospital
Cândido Figueiredo de Tondela e Hospital São Teotónio de Viseu, EPE para a
aplicação do Instrumento de Colheita de Dados
ANEXO IV – Respostas de autorização dos Conselhos de Administração do Hospital
Cândido Figueiredo de Tondela e Hospital São Teotónio de Viseu, EPE para a
aplicação do Instrumento de Colheita de Dados
LISTA DE QUADROS

Pág.

Quadro 1 – Dados estatísticos relativos à idade dos enfermeiros inquiridos no estudo... 60

Quadro 2 – Principais características sócio-demográficas dos enfermeiros …………... 61

Quadro 3 – Características religiosas dos enfermeiros ………………………………… 62

Quadro 4 – Principais características profissionais dos enfermeiros ………………….. 63

Quadro 5 – Dados estatísticos relativos ao tempo de exercício profissional na


profissão, na instituição e no actual serviço ……………………………………………. 64

Quadro 6 – Distribuição dos enfermeiros segundo a formação frequentada nos últimos


dois anos em Cuidados paliativos/Doente terminal, Suporte básico e avançado de vida,
Ética e Outras formações ……………………………………………………………….. 65

Quadro 7 – Estatísticas relativas ao número de horas de formação frequentada, nos


últimos dois anos, em cuidados paliativos/doente terminal, suporte básico e avançado
de vida, ética e outras formações ……………………………………………………….. 66

Quadro 8 – Determinação dos valores de Alpha de Cronbach para as dimensões das


atitudes da nossa escala …………………………………………………………………. 69

Quadro 9 – Teste de normalidade de kolmogorov-Smirnov-Lilliefors ………………... 70

Quadro 10 – Dados estatísticos relativos às atitudes dos enfermeiros perante um


doente em fase terminal ………………………………………………………………… 74

Quadro 11 – Resultado da Correlação de Spearman entre a idade e a atitude do


enfermeiro perante a morte ……………………………………………………………... 78

Quadro 12 – Resultados do Teste U de Mann-Whitney entre o sexo e as atitudes dos


enfermeiros perante a morte ……………………………………………………………. 78

Quadro 13 – Resultado do Teste de Kruskal-Wallis entre o estado civil e as atitudes


do enfermeiro perante a morte ………………………………………………………….. 79
Quadro 14 – Resultado do Teste de Kruskal-Wallis relacionando as habilitações
académicas e a atitude do enfermeiro perante a morte …………………………………. 80

Quadro 15 – Resultado do Teste U de Mann-Whitney entre a crença religiosa e a


atitude do enfermeiro perante a morte ………………………………………………….. 81

Quadro 16 – Resultado do Teste de Kruskal-Wallis entre a prática da religião e a


atitude do enfermeiro perante a morte ………………………………………………….. 81

Quadro 17 – Resultado do Teste de Kruskal-Wallis entre a categoria profissional e a


atitude do Enfermeiro perante a morte …………………………………………………. 82

Quadro 18 – Resultado do Teste de Kruskal-Wallis entre o tempo de exercício


profissional e a atitude do enfermeiro perante a morte …………………………………. 83

Quadro 19 – Resultado do Teste de Kruskal-Wallis entre o serviço onde exerce


funções e a atitude do enfermeiro perante a morte ……………………………………... 84

Quadro 20 – Resultado do Teste U de Mann-Whitney entre o tipo de morte com que o


enfermeiro mais se confrontou no último ano e a sua atitude perante a mesma ………... 85

Quadro 21 – Resultado do Teste U de Mann-Whitney entre a formação frequentado


pelos enfermeiros, nos últimos dois anos, e a atitude destes perante a morte ………….. 86
LISTA DE GRÁFICOS

Pág.
Gráfico 1- Distribuição da amostra segundo a instituição a que pertence o enfermeiro
inquirido ………………………………………………………………………………… 60

Gráfico 2 – Distribuição dos enfermeiros segundo o tipo de morte com que mais se
confrontaram no último ano …………………………………………………………….. 64

Gráfico 3 – Histogramas da escala global das atitudes e dimensões, com curva de


normalidade …………………………………………………………………………….. 71

Gráfico 4 – Distribuição dos enfermeiros segundo as atitudes perante um doente em


fase terminal …………………………………………………………………………….. 74
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

INTRODUÇÃO

A morte é um fenómeno que suscita no ser humano um misto de fascínio e medo,


tratando-se de uma vivência singular, que tem sofrido alterações ao longo dos tempos.
Esta varia de sociedade para sociedade, de cultura para cultura, de família para família e
de indivíduo para indivíduo, sendo sempre um evento que perturba a vida do Homem,
na medida em que representa o desconhecido e a nossa finitude. Na nossa cultura
ocidental, o Homem prefere-a ignorar, uma vez que não está preparado nem foi educado
para morrer.

A morte é um acontecimento com o qual os profissionais de saúde se confrontam no seu


dia-a-dia sendo, devido à natureza dos seus cuidados, o enfermeiro um dos profissionais
de saúde que vivencia mais directa e imediatamente o processo de morte de alguém.

A transposição da morte de casa para o hospital, levou a novas implicações e


preocupações por parte dos enfermeiros, que com ela se confrontam diariamente e
perante a qual se sentem reduzidos à sua condição de mortais, desprovidos de
conhecimentos e de formação profissional que lhes permita olhar de frente para uma
realidade que a cada instante se coloca diante dos seus olhos.

Tanto em hospitais como em locais públicos, ninguém quer falar de morte, pois esta
representa um acontecimento triste para que pensemos nela, no entanto é o confronto
com ela o que mais angustia e inquieta os enfermeiros (Teixeira, 2006).

A morte não é assim uma utopia, mas antes uma realidade intrínseca à vida do
enfermeiro, pois este cuida diariamente de pessoas próximas do fim da vida. As suas
atitudes perante a morte quebram as fronteiras do biológico, ultrapassam a cultura e o
inconsciente, e exigem uma compreensão urgente e consciente. O enfermeiro é uma
pessoa que sofre como qualquer outra, com o desprezar da morte, sendo esta o
acontecimento mais desgastante no seu dia-a-dia profissional, interferindo não só com o
seu equilíbrio, como no funcionamento do hospital, que está mais preparado para curar
do que para cuidar o doente incurável.

19
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

São poucos os que se encontram absolutamente preparados para a morte, e muito menos
o enfermeiro preparado para a morte daqueles que cuida. Por mais experiência que sinta
na assistência aos vivos, o enfermeiro quase sempre se aproxima do moribundo com um
certo sentimento de incerteza, desespero e angústia. Cuidar de pessoas que se
aproximam do fim da vida, é uma das situações mais difíceis para o enfermeiro,
constituindo um verdadeiro desafio pessoal e profissional.

Segundo Saraiva (2009), os resultados obtidos no seu estudo realizado sobre esta
temática, evidenciam que apesar da modernidade e adventos tecnológicos, os
enfermeiros ainda sentem dificuldades para lidar e agir perante a morte, levando-nos a
crer que a melhoria da qualidade dos seus cuidados e a sua execução neste domínio é,
na actualidade, um grande desafio.

Perante estas inquietações e por constituir uma problemática crescente no dia-a-dia de


grande parte dos profissionais de enfermagem, consideramos pertinente estudar o
seguinte tema: Atitude do Enfermeiro perante a Morte.

“O tema de uma pesquisa é o assunto que se deseja provar ou desenvolver” (Lakatos e


Marconi, 1995, p.126). Fortin (2000), refere que para se iniciar uma investigação é
necessário encontrar e delimitar um campo de interesse preciso.

Tendo em conta estes pressupostos e visando delinear um ponto de partida, formulamos


o seguinte enunciado de problema: Qual a atitude do Enfermeiro perante a Morte e
quais os factores que se relacionam com a mesma?

A formulação do problema constitui assim, a fase inicial de um processo de


investigação, podendo dizer-se que é o ponto de partida desse mesmo processo.
“Qualquer investigação tem por ponto de partida uma situação considerada como
problemática, isto é, que causa um mal-estar, uma irritação, uma inquietação e que, por
consequência, exige uma explicação” (Fortin, 2000, p.48). Segundo Lakatos e Marconi
(1996, p.24), “um problema é uma dificuldade, teórica ou prática, no conhecimento de
alguma coisa de real importância para o qual se deve encontrar uma solução”.

Concebemos um estudo de natureza quantitativo, com características de um estudo


descritivo-correlacional e de corte transversal. Optámos por este tipo de estudo, em

20
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

virtude de o considerarmos como o mais adequado ao problema a investigar, tendo em


conta o tempo e os recursos disponíveis.

Uma vez que as atitudes do enfermeiro se reflectem sobre as suas acções, pretendemos
com este estudo, conhecer a atitude destes profissionais de saúde e a forma como
enfrentam uma situação de morte.

De acordo com Saraiva (2009), dado que nos confrontamos com a morte nos nossos
contextos de trabalho, necessitamos adquirir conhecimentos e desenvolver capacidades
e competências, de forma a encarar e gerir a morte do outro que nos é semelhante.

Assim, para além de aprofundar e sistematizar conhecimentos sobre a problemática da


morte na actualidade, o nosso principal objectivo com a realização deste trabalho, é o de
conhecer as atitudes do enfermeiro e a forma como reagem perante situações de morte,
bem como identificar alguns dos factores que determinam a sua atitude face à mesma.

Este estudo realizou-se no âmbito do Curso de Mestrado em Enfermagem Médico-


Cirúrgica, na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.

Do ponto de vista estrutural, este trabalho desenvolve-se em duas partes. Numa primeira
parte, fazemos um enquadramento teórico, onde apresentamos uma breve revisão de
literatura sobre atitudes e sobre a morte e evolução histórica desta. A segunda parte
deste trabalho é referente ao contributo pessoal desta investigação, onde abordamos
aspectos da metodologia: o tipo de estudo e objectivos, as questões de investigação e
hipóteses, as variáveis em estudo e sua operacionalização, a população e amostra, o
instrumento de colheita de dados utilizado, os procedimentos formais e éticos, os
procedimentos no tratamento estatístico dos dados. Seguidamente, apresentamos os
dados e discutimos os resultados, terminando com um conjunto de conclusões e
sugestões com potencial para, contribuir para uma melhor compreensão da problemática
da morte, por parte dos enfermeiros no seu exercício profissional, para que possam lidar
e encarar a morte com maior naturalidade, bem como melhorar os cuidados a prestar a
utentes em fim de vida.

21
PARTE UM: ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

1- ATITUDES

“Segundo a acepção de alguns psicólogos sociais de hoje, uma atitude é uma posição
mental estável, assumida com respeito a uma ideia, objecto ou pessoa” (Gleitman, 1998,
p.472).

Neste capítulo desenvolvemos o tema atitudes, a sua definição, componentes,


características, formação, função, a sua mensuração e a relação destas com o
comportamento humano.

1.1- DEFINIÇÃO DE ATITUDES

De acordo com Lima (1993), o termo atitude vem de origem latina da palavra que une
dois termos: actus que significava acto, acção; e aptitudo que significava aptidão. Daí,
se explica que no início do século tenham existido duas expressões, que especificavam
o conceito de atitude: atitude motora e atitude mental. Para a mesma autora, a riqueza
do seu significado torna-a, também para a psicologia social, num conceito que pretende
ser mediador entre a forma de agir e a forma de pensar dos indivíduos: as atitudes são
inferidas e não directamente observadas, mas que, por outro lado, se pressupõe que têm
ligação com os comportamentos.

Em 1935, Allport considerou na sua obra Atitudes, que o conceito de atitudes era central
em psicologia social, constituindo as mesmas, elementos básicos das relações sociais. A
atitude é definida como uma tendência, uma predisposição, para responder a um
objecto, pessoa ou situação, de uma forma positiva ou negativa. A atitude implica um
estado, que orienta o indivíduo a reagir de determinado modo a um objecto, que pode
ser: uma pessoa, um grupo social, uma instituição, uma coisa, um valor, um conceito,
etc. (Monteiro e Santos, 1997)

Segundo os mesmos autores, não se pode confundir atitude com comportamento. A


atitude é um potencial para reagir de determinado modo a um objecto. Por exemplo, se
uma pessoa tem uma atitude negativa relativamente aos pedintes, muito provavelmente

25
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

não lhes dará esmola quando for solicitado, apoiará medidas para erradicar os mendigos
das ruas e produzirá um discurso contra a mendicidade. A atitude determinará reacções
semelhantes, sempre que se verifiquem situações em que determinado objecto está
implicado. Não constitui uma reacção isolada, mas um conjunto de predisposições,
reacções que se desencadeiam em determinadas situações.

É através do comportamento manifestado pelo indivíduo que se pode inferir as atitudes


deste, dado que estas não são objectivamente observáveis. Manifestam-se através de
expressões verbais ou não verbais, de opiniões, de comportamentos, como a adesão a
um grupo religioso ou político, através da aquisição de determinados objectos. Por outro
lado, se conhecermos a atitude de uma pessoa, por exemplo, face à religião católica,
será possível descrever, compreender e até prever alguns aspectos do seu
comportamento (Ibidem).

1.2- COMPONENTES DAS ATITUDES

Segundo Neto (1998), uma abordagem tradicional tem considerado as atitudes como
sendo multidimensionais, com uma organização relativamente duradoira. Assim, para o
modelo tripartido clássico (modelo proposto por Rosenberg e Hovland, 1960), a atitude
é uma disposição que resulta da organização de três componentes: afectiva, cognitiva e
comportamental, com a vantagem de distinguir estas três dimensões para se poderem
operacionalizar.

A componente afectiva de uma atitude refere-se, aos sentimentos subjectivos e às


respostas fisiológicas que acompanham uma atitude. Assim, ao possuir uma atitude, a
pessoa desenvolve sentimentos positivos ou negativos relativamente ao objecto. A
componente afectiva está ligada ao sistema de valores sendo a sua dimensão emocional.

A componente cognitiva diz respeito a crenças e opiniões, através das quais a atitude é
expressa, embora nem sempre sejam conscientes. A crença é a informação que
aceitamos sobre uma situação, um acontecimento, um conceito, é o que acreditamos
como verdadeiro acerca do objecto.

26
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

A componente comportamental diz respeito, ao processo mental e físico que prepara o


indivíduo a agir de determinada maneira. É constituída pelo conjunto de reacções de um
sujeito relativamente ao objecto da atitude.

Neto (1998, p.337), para melhor compreendermos estas três dimensões de uma atitude,
dá-nos o seguinte exemplo:
“…uma pessoa pode crer que os estudantes universitários são arrogantes (componente
cognitiva), pode sentir-se tensa face a um estudante universitário (componente afectiva) e
pode recusar-se a dar boleia a um estudante para assistir às suas aulas (componente
comportamental) ”.

Nem sempre as atitudes são expressas directamente em acções. É tradicional a


divergência entre os pesquisadores, quanto ao carácter unidimensional ou
multidimensional das atitudes. Os que consideram que as atitudes são unidimensionais,
dão ênfase à dimensão afectiva, ou seja, a atitude representa a resposta avaliativa
(afecto), favorável ou desfavorável em relação ao objecto de atitude (Ibidem).

Fishbein e Azjen, citado por Neto (1998, p.340), definem atitude como sendo “uma
predisposição aprendida para responder de modo consistentemente favorável ou
desfavorável em relação a dado objecto”. Outros pesquisadores, citados também por
Neto (1998), dão ênfase às cognições que se têm a respeito do objecto da atitude.
Assim, é o caso de Zanna e Rempel (1988), que definem atitude como um processo
cognitivo de categorização dos objectos, e Fazio (1989), que a caracteriza como sendo
uma associação na memória entre o objecto da atitude e a avaliação.

A questão que inicialmente se coloca quando pretendemos estudar as atitudes, é saber se


estas influem nas acções do indivíduo, ou se é que o individuo influencia as atitudes.

A importância do conhecimento das atitudes para a compreensão do comportamento


humano é fundamental, dado estas serem entendidas como uma disposição da qual o
comportamento manifesto e observável depende. É pois, através da manifestação do
comportamento dos indivíduos, que se irão avaliar as suas atitudes. Esta ideia de que as
atitudes afectam as nossas acções, baseia-se no pressuposto de que, para mudar a acção
de alguém, têm que ser primeiro alteradas as suas opiniões, crenças ou sentimentos.

Um dos primeiros autores a questionar se a mudança de atitudes conduz à mudança de


comportamento, terá sido Festinger, citado por Lima (1993). Os seus estudos vieram

27
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

demonstrar que são as atitudes que se modificam em função da acção. Este autor critica
a ideia de facto demasiado simples, de que bastaria uma pessoa estar informada (ter
conhecimento), para agir (comportamento), de forma racional.

1.3- CARACTERÍSTICAS DAS ATITUDES

De acordo com Neto (1998), a atitude enquanto realidade psicológica possui


determinadas características oriundas das realidades físicas, podendo-se encarar como
um continuum psíquico, ou seja, uma entidade que tem um começo e um termo de modo
que se possa passar de um ao outro por variações de grau. Deste continuum ressaltam,
de acordo com o mesmo autor, quatro características: a direcção, a intensidade, a
dimensão e a acessibilidade.

A direcção de avaliação refere-se ao sentido de concordância ou no sentido da


discordância, aprovação/desaprovação, a favor/contra ou gosta/não gosta. O sujeito
também poderá considerar-se indiferente a essa questão. Nesse caso, esta questão
resolve-se caso se considere uma outra característica das atitudes, a intensidade. As
diferentes posições dos sujeitos são expressas num continuum que oscila entre dois
extremos (favorável e desfavorável) com um ponto intermédio.

A intensidade ou força da atitude exprime-se pela força de atracção ou de repulsa em


relação ao objecto. A intensidade das atitudes tem constituído grande atenção dos
investigadores, sendo objecto de teorias das escalas clássicas de medida e recorre-se a
ela para determinar o grau de mudança de atitude. Torna-se imprescindível referir, que
as atitudes com elevada intensidade são importantes fontes de identidade e resistem
fortemente à mudança, exercendo um amplo efeito na percepção da realidade e nos
comportamentos que temos perante a mesma.

A dimensão da atitude permite-nos apreender se se trata de um objecto complexo e que


não está bem definido. Assim, uma atitude pode ser unidimensional, se abarca um só
domínio da actividade comportamental, e multidimensional se abrange vários domínios.
Na opinião de Neto (1998), os autores que elaboram escalas unidimensionais
consideram, à priori, a variável internalidade-externalidade como uma característica
fundamental do funcionamento psicológico dos sujeitos. Nestas escalas, obtém-se um

28
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

score global de internalidade ou de externalidade mediante o carácter de aditividade dos


itens. Por outro lado, os autores que elaboram escalas multidimensionais rejeitam a
hipótese de existência de uma expectativa geral de controlo para todos os domínios, e
espartilham o conceito em várias dimensões, propondo várias sub-escalas consoante as
dimensões encaradas.

A acessibilidade da atitude refere-se à solidez da associação entre o objecto de atitude e


a sua avaliação afectiva.

Para além destas características, as atitudes têm outras características básicas (Ibidem).
Assim, as atitudes são inferidas do modo como os indivíduos se comportam, podendo-
se aqui incluir o comportamento de preencher um questionário. As atitudes são dirigidas
em relação a um objecto psicológico ou categoria, podendo os objectos ser diversos, tais
como: objectos tangíveis (cadeiras, casas, automóveis), pessoas, grupos, ideias
abstractas ou comportamentos. As atitudes são aprendidas, isto é, provêm da
experiência e sendo aprendidas podem ser mudadas. Para alguns psicólogos sociais
(Eaves, Eysenck e Martin, 1989; Tesser, 1993) citados por Neto (1998), as nossas
atitudes podem ser também influenciadas por factores genéticos (exemplo da música e
estilos musicais de um indivíduo).

Finalmente, as atitudes influenciam o comportamento, ou seja, a atitude que se tem


relativamente a um objecto, pode fornecer-nos uma razão para nos comportarmos em
relação a esse objecto de determinado modo.

1.4- FORMAÇÃO DAS ATITUDES

No que se refere à formação de atitudes, temos que reconhecer que estas são
influenciadas pelo processo de socialização e logo, sofrem reflexos dos padrões
culturais vigentes. Entretanto, à medida que a pessoa se desenvolve e se torna adulta, as
atitudes vão sendo reestruturadas pelas suas experiências de vida e pela informação que
o indivíduo elabora afectiva e cognitivamente de forma selectiva. Este processo é
contínuo, dinâmico e nítido durante a vida adulta. Nesta óptica, pensamos que a
formação, consolidação e modificação de atitudes, se relaciona e depende dos valores e

29
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

crenças veiculados pela educação e feedback, recebidos das pessoas que estão incluídas
tanto nos grupos de pertença, como nos grupos de referência.

Na nossa opinião, as atitudes são um produto de processos cognitivos, afectivos e


comportamentais. No processo cognitivo (linha teórica cognitivista), é a informação que
temos disponível sobre um objecto que orienta as nossa atitudes face a esse objecto.
Como exemplo desta posição temos a teoria da acção reflectida de Fishbein e Ajzen,
citado por Lima (1993), que considera a atitude como resultante de um trabalho
cognitivo de avaliação de crenças. Deste modo, as crenças que sustentamos a respeito
de um determinado objecto têm origem em informação obtida directamente (através da
nossa experiencia pessoal) ou indirectamente (através da interacção com os outros).

Para Fazio e Zana, citado por Lima (1993), as atitudes que se formam em consequência
de experiencias directas com o objecto da atitude, são mais duradouras e estáveis, mas
há muitas questões sociais que exigem um posicionamento sem experiência directa.
Nestes casos, a informação atitudinal é obtida de forma indirecta, em que os pais são,
normalmente, a primeira fonte das crenças.

Outra importante fonte de aprendizagem de crenças são os amigos e os grupos, que


servem de referência à avaliação da realidade para os sujeitos. Segundo Lima (1993),
são também fonte de aprendizagem de crenças as grandes instituições normalizadoras,
tais como a escola, a igreja e forças armadas, crenças essas que vão ser importantes na
nossa vida, como as da existência do inferno, da importância da democracia, do respeito
pelas autoridades. Os mass-media também assumem importante fonte de informação
atitudinal, funcionando como forma de construir realidade e, como tal, moldam as
atitudes e crenças dos indivíduos.

Outra perspectiva teórica parte de pressupostos menos racionais, ligando a formação de


atitudes a experiências emocionais. Nesta linha de estudos, Zajonc in Lima (1993),
aponta o efeito de mera exposição para descrever o facto de, ao expor os indivíduos a
um mesmo estímulo, melhora a atitude face a este estímulo. Ou seja, a exposição
repetida (maior familiaridade com o objecto) levaria ao aparecimento de sentimentos
positivos face a um objecto inicialmente neutro.

O condicionamento clássico é outro processo de formação de atitudes, sem intervenção


da sua componente cognitiva. Ou seja, quando um estímulo passa a desencadear uma
30
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

resposta que não provocava anteriormente, por ter sido emparelhado com outro estímulo
que naturalmente provoca essa reacção, estamos perante condicionamento clássico.

Monteiro e Santos (1997) referem que, entre o fim da adolescência e os 30 anos, as


atitudes tomam a sua forma final, sendo menor a probabilidade de mudança nos anos
seguintes. Isto não significa, no entanto, que as atitudes não mudem ou que não se
possam adquirir novas atitudes. A modificação das atitudes depende basicamente de
novas informações relativas ao objecto. Por exemplo, uma experiência traumática
possibilita a formação ou modificação das atitudes. Se um indivíduo for assaltado por
um cigano, este facto pode determinar uma atitude hostil face aos elementos desta etnia.
Por outro lado, se um familiar for ajudado por um cigano, poder-se-á desenvolver uma
atitude positiva relativamente a este grupo.

1.5- FUNÇÃO DAS ATITUDES

O estudo das funções das atitudes representam a tentativa de perceber para que servem
as atitudes, e quais as razões que nos levam a manter ou não as nossas atitudes perante
forças de persuasão.

As atitudes guiam o ser humano na interpretação e categorização dos objectos, eventos e


na decisão de se aproximar ou afastar de determinados estímulos, sendo que esta função
é provavelmente satisfeita pela maior parte das atitudes.

Neste contexto, Tesser e Shaffer, citado por Neto (1998), abordam algumas das funções
das atitudes: função de conhecimento, função instrumental, função de expressão de
valores e função social.

Função de conhecimento – as atitudes que nos ajudam a extrair um sentido do


mundo, a ordenar as informações que assimilamos no decorrer das nossas vivências,
servem uma função de conhecimento. Essas atitudes são esquemas que muito
simplificam a realidade, ajudando-nos a organizar e a categorizar a informação de
modo a torná-la congruente, facilitando a sua utilização posterior.
Função Instrumental – as atitudes que mantemos, por razões práticas, têm uma
função instrumental. Elas expressam casos específicos do nosso desejo geral, de
modo a obtermos benefícios e evitar punições. A fim de modificar essas atitudes,
31
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

temos apenas de nos convencer de que alguma alternativa nos traria maiores
benefícios.
Função de expressão de valores – as atitudes que exprimem os nossos valores,
que reflectem os nossos auto-conceitos, têm a função de expressão de valores.
Função Social – as atitudes têm um importante papel na construção e
manutenção das identidades grupais, na integração dos indivíduos nos grupos sociais,
na formação do sentimento de pertença e de uma maneira geral, na sua preservação.
Elas podem funcionar como elementos distintivos, emblemáticos, de um determinado
grupo social.

1.6- MEDIDA DAS ATITUDES

As escalas de atitudes constituem uma das técnicas utilizadas para medir a qualidade, a
intensidade e a direcção das atitudes. Baseiam-se no pressuposto de que se podem medir
através das opiniões, sendo para isso, necessário encontrar indicadores adequados, isto
é, relevantes para a atitude que vai ser medida. (Monteiro e Santos, 1997)

As escalas mais utilizadas para medir as atitudes são a escala de Thurstone e a de


Lickert. A escala de Thurstone, consiste em apresentar aos sujeitos um certo número de
afirmações, às quais devem responder seleccionando uma opção “verdadeiro” ou
“falso” ou “concordo” ou “discordo”. Não são cumulativas. Esta escala tem a
desvantagem de não permitir identificar a intensidade dos sentimentos em relação a
cada frase.

A escala de Lickert é uma das escalas mais utilizadas, devido à sua economia e
facilidade de aplicação, em que se pede ao inquirido que analise o que pensa sobre um
determinado objecto, manifestando a intensidade do seu acordo ou desacordo. É
atribuído um número a cada resposta, que reflecte a direcção da atitude do inquirido, em
relação a cada afirmação. O somatório das pontuações obtidas para cada afirmação, é
dado pela pontuação total da atitude de cada inquirido. As escalas de Likert são mais
populares que as escalas de Thurstone porque além de serem confiáveis, são mais
simples de construir e permitem obter informações sobre o nível dos sentimentos dos
inquiridos, dando-lhes mais liberdade para responderem, já que não precisam de se
restringir ao simples concordo/discordo, usado pela escala de Thurstone.
32
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

1.7- ATITUDES E COMPORTAMENTOS

Os psicólogos sociais estiveram tão interessados no estudo das atitudes durante décadas,
em grande parte, porque acreditavam que a partir das atitudes podiam prever o
comportamento. Assim, pretendiam mudar comportamentos através da influência
exercida sobre as atitudes das pessoas. (Neto, 1998)

Esta questão sobre se as atitudes influenciam o comportamento ou o comportamento


influencia as atitudes, mantém-se em reflexão.

Para Wilson (1986), as atitudes têm uma prioridade causal relativamente ao


comportamento observável, supondo-se que as atitudes da pessoa modelam o seu
comportamento em relação ao objecto da atitude. Por outro lado, Olson e Zanna, citado
por Neto (1998), referem-nos que a atitude pode ser influenciada pelas características do
objecto da atitude, reduzindo assim a previsibilidade do comportamento.

A atitude é um conceito que se define como uma tendência para avaliar as entidades
com algum grau de favor ou desfavor, expressando-se por respostas cognitivas e
comportamentais. Deste modo, acreditamos que as atitudes se correlacionam com os
nossos comportamentos. As atitudes positivas orientam-nos para comportamentos de
aproximação, aceitação do objecto da atitude e as atitudes negativas orientam para
comportamentos de oposição, recusa, aversão do objecto da atitude.

Neste sentido de explicar a relação entre atitude e comportamento, Fazio, citado por
Neto (1998), propôs um modelo no qual enfatiza a motivação e oportunidade como
determinantes na forma como as atitudes influenciam os comportamentos. Segundo o
autor, quando o indivíduo está motivado para pensar deliberadamente no objecto da
atitude, ou seja, quando tem oportunidade para isso, as atitudes influenciam os
comportamentos. Por outro lado, quando a motivação ou oportunidade estão ausentes,
só a elevada acessibilidade às atitudes guiam o comportamento.

Na generalidade dos autores, prevalece a ideia de que as atitudes têm uma prioridade
causal relativamente ao comportamento observável.

33
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

2- PERSPECTIVA DA MORTE NO OCIDENTE

“A morte foi sempre tema actual, porque faz parte da vida (no reino animal é mesmo
uma forma de subsistência), e o pensar nela pode dar mais qualidade à própria vida,
aventura grandiosa e ao mesmo tempo tão frágil” (Oliveira, 1998, p.7).

A morte é algo que existe desde sempre na história da humanidade, apesar de se


verificar algum desinteresse por parte da sociedade contemporânea, por tudo o que diz
respeito à mesma. Este desinteresse vem confirmar a tese de alguns historiadores,
sociólogos e psicanalistas de que, se instaurou no mundo actual o interdito da morte.
Contudo, a história mostra-nos que nem sempre foi assim. A percepção da morte
depende do tempo histórico e do contexto social e cultural em que se insere.

Dedicamos este capítulo à abordagem de aspectos bibliográficos que retratam o


percurso da morte, suas concepções, práticas e atitudes perante a mesma no mundo
ocidental desde a Idade Média até à actualidade.

Recorremos a vários autores bibliográficos, nomeadamente Philippe Ariès, que sendo


um historiador francês contemporâneo, se debruçou sobre o tema morte e sua evolução
histórica. Baseado neste autor, apresentamos em seguida as perspectivas da morte em
quatro épocas distintas, em função das atitudes do Homem perante esta: a morte
familiarizada ou domesticada, a morte de si próprio, a morte do outro e a morte
interdita.

2.1- A MORTE FAMILIARIZADA OU DOMESTICADA

Philippe Ariès escreveu alguns livros sobre a temática da morte e sua relação com o
Homem ao longo da história. Através do seu livro - Sobre a História da Morte no
Ocidente, o autor explora uma perspectiva antropológica e histórica da morte,
mostrando-nos que a atitude do Homem perante a morte sofreu grandes alterações ao
longo dos séculos e que a forma como ela é hoje encarada é, na verdade, muito recente.

35
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

“A atitude antiga, em que a morte é simultaneamente familiar, próxima e atenuada,


indiferente, opõe-se muito à nossa, em que a morte provoca medo, a ponto de nem
ousarmos dizer-lhe o nome” (Ariès, 1989, p.25).

O homem submetia-se na morte a uma das grandes leis da espécie e não pensava nem
em se lhe esquivar nem em a exaltar. “Aceitava-a simplesmente como justa, o que
carecia de solenidade para marcar a importância das grandes fases por que todas as
vidas devem passar” (Ibidem, p.31).

Segundo o historiador, no início da Idade Média havia uma familiaridade com a morte,
que a elevava ao estatuto de um acontecimento público. A morte era um acontecimento
muito simples e ninguém tinha medo dela, sendo que a única preocupação residia no
facto de não serem prevenidos a tempo da sua própria morte ou então de morrerem
sozinhos. O moribundo, ao pressentir a morte, recolhia-se no seu quarto acompanhado
por familiares, amigos, crianças e vizinhos. O doente cumpria assim, um ritual em que
pedia perdão pelas suas culpas, doava os seus bens e esperava a morte chegar, não
havendo, portanto, um carácter dramático ou gestos de emoção excessivos. Ao terminar
os rituais da confissão dos seus pecados, das orações para salvação da sua alma e da
absolvição dos seus pecados pelo padre, o moribundo aguardava no leito a sua morte.
Esses momentos eram tornados públicos com uma cerimónia a que o moribundo
presidia, não havendo pressa para que a morte chegasse nem havendo motivos para que
tardasse.

E assim se foi encarando a morte, bem como os seus rituais com simplicidade, sem
dramatismos ou emoções excessivas, onde para além do seu protagonista não faltava
também a família, os amigos e os vizinhos onde o acarinhavam, acompanhavam,
homenageavam, testemunhavam ou mesmo ajudavam a cumprir o seu último papel que
precedia o momento da partida.

Contudo, apesar da familiaridade com a morte, os povos da Antiguidade temiam a


proximidade dos mortos e mantinham-nos afastados deste mundo. No entanto,
honravam as sepulturas porque temiam o regresso dos defuntos e o culto tinha como
objectivo, impedir que os mortos retornassem à terra e perturbassem os vivos. Assim a
morada dos vivos estava separada da morada dos mortos, a fim de evitar qualquer

36
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

contacto, sendo que os cemitérios da Antiguidade foram construídos fora das cidades,
ao longo das estradas.

A partir do século VI, esta realidade sofreu algumas alterações com uma nova atitude
por parte da igreja cristã, em que afastava a ideia do medo dos vivos pelos mortos. “O
clero fez sucumbir a tradição e com ela fez desaparecer a distinção dos locais onde se
enterrava” (Ariès, 1989,p.26), ou seja, próximo da basílica junto aos santos e a cidade,
até então interdita às sepulturas. Desta forma, a abadia cemiterial e a igreja catedral
deixaram de ficar separadas. Na Época Medieval, a Igreja era um edifício com um
espaço à sua volta e o cemitério era a parte exterior da mesma, onde a prática de enterrar
os mortos nos pátios das igrejas, que também eram palco de festas populares e feiras,
era uma evidência de que mortos e vivos coexistiam no mesmo espaço. Nesta época
importava apenas que os ossos ficassem perto dos santos ou na Igreja, sendo esta e o seu
pátio locais públicos onde, para além de lugar de sepultura, servia também de asilo e
local onde era permitido construir casas, onde se podiam encontrar livreiros,
comerciantes e outros e abriam-se túmulos e levantavam-se cadáveres, ainda não
totalmente decompostos, que emanavam odores nauseabundos.

No final do século XVII surgem sinais de intolerância face a esta situação, o que
contrasta com a atitude tradicional dos vivos relativamente aos mortos. O facto do
espectáculo dos mortos em que os ossos se encontravam expostos à superfície nos
cemitérios, impressionava os vivos que começaram desta forma a perder a familiaridade
com os mortos e com a sua própria morte.

2.2- A MORTE DE SÍ PRÓPRIO

A partir dos séculos XI e XII ocorreram algumas alterações que foram concebendo um
sentido dramático e pessoal à familiaridade do Homem perante a morte. A morte, até
então aceite como algo colectivo, uma das leis da natureza e cuja ordem natural se
impunha ao Homem, começa a despertar o mesmo para uma multiplicidade de
fenómenos novos que o conduziram a preocupar-se mais com a unicidade de cada
individuo do que com o destino colectivo de toda a humanidade.

37
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

O homem estava profundamente socializado com a natureza e a aceitação da morte era


uma forma de aceitação da ordem da natureza, não pensando, portanto, nela nem a
exaltava mas sim, aceitava-a como justa. O Homem, ao contrário do passado, em que se
preocupava com o destino colectivo da espécie, começou a preocupar-se com seu
destino particular, e apercebeu-se da existência de uma série de fenómenos, que
segundo Ariès (1989) se resumem a quatro fenómenos, que passamos seguidamente a
descrever.

A Representação do Juízo Final

A representação do juízo final foi um dos fenómenos que sofreu grandes modificações,
pois nos primeiros séculos do Cristianismo não existia julgamento nem condenação do
Homem. Acreditava-se na ressurreição dos mortos (os que pertenciam à Igreja e lhe
tinham confiado o seu corpo) no fim dos tempos, mas a partir do século XII, surgem
duas novas noções em que altera-se e começa-se a falar dos justos e pecadores, por
intermédio do julgamento e da pesagem das almas. Cada Homem é julgado pelo
balanço da sua vida, prevalecendo a ideia do juízo final e assumindo-se este como um
tribunal de justiça. No século XIII surge a representação do juízo final como um
tribunal de justiça, onde cada Homem é julgado pelo balanço da sua vida, as boas e as
más acções são escrupulosamente separadas nos dois pratos da balança (Ariès, 1989).
“Tudo era meticulosamente anotado num livro, o liber vitae, inicialmente concebido
como o espantoso recenseamento do universo, um livro cósmico. Mas, no final da Idade
Média, converteu-se no livro de contas individual” (Ariès, 1989, p.33).

De acordo com Ariés, a ideia do Juízo Final pode estar ligada à biografia individual, que
só acaba no final dos tempos e não na hora da morte.

Quarto do Moribundo

O segundo fenómeno consistiu em suprimir o tempo escatológico entre a morte e o fim


dos tempos e em deslocar o Juízo Final para o quarto do moribundo. O moribundo
deitado no seu leito, rodeado da família e amigos, passa em revisão toda a sua vida.
Contudo há qualquer coisa que perturba as cerimónias: seres sobrenaturais invadiram o
quarto do moribundo e juntam-se em redor da cabeceira do seu leito. A Virgem, a
Trindade, toda a corte celeste, de um lado da cabeceira do moribundo, e Satanás e o seu
exército de demónios, do outro. Deus despido dos seus atributos de juiz de outrora,
38
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

surge agora como um árbitro ou testemunha, que não só, mediará a luta cósmica entre as
forças que disputam a posse do moribundo, mas também, se encontra presente com a
sua corte para verificar o comportamento do moribundo no decorrer da prova que
determinará a sua sorte na eternidade. A atitude do moribundo leva-o a ter a
oportunidade de anular os pecados cometidos ao longo da sua vida, determinando a sua
ascensão ao céu ou ao inferno.

Até ao séc. XV torna-se definitiva a relação entre a morte e a biografia de cada


indivíduo. A partir de então a última prova substitui o Juízo Final, e acredita-se que
nessa prova o Homem passa em revisão toda a sua vida, no momento da morte.
Contudo, a solenidade ritual tornou-se, entre as classes instruídas, numa carga dramática
e emocional que não possuía, vindo a persistir até finais do séc. XIX. Com a reforma
católica, os autores espirituais lutaram contra a crença popular que dizia que não era
necessário uma pessoa esforçar-se muito para levar uma vida virtuosa, dado que uma
boa morte conquistava todas as faltas cometidas, pelo que cada homem deveria agir e
praticar o bem. Só com a chegada do século XX é que esta crença foi declinada nas
sociedades industrializadas.

Le transi (o trespassado)

O terceiro fenómeno, Le transi, surge com o aparecimento de temas macabros e o


interesse pela decomposição física, na literatura e na arte, pois até fim do século XVI a
representação da morte com os traços de uma múmia ou de um cadáver era pouco
frequente e encontrava-se nas ilustrações do ofício dos mortos em manuscritos do
século XV, na decoração das paredes das Igrejas e dos cemitérios (dança dos mortos)

Apenas a partir do séc. XVII, é que o esqueleto ou os ossos se expandiram por túmulos
e até no interior das casas, mas com um significado diferente do cadáver putrefacto. O
horror pela decomposição do corpo é um tema familiar na poesia do século XV, não
estando o horror associado à decomposição do corpo no pós-morte, mas à doença e à
velhice. A decomposição é o sinal da ruína do homem, e aí se encontra o verdadeiro
sentido do macabro, que a torna num fenómeno novo e original.

No final da Idade Média, o Homem tinha a consciência da sua morte mas tinha uma
paixão pela vida. “A vida e a morte converteram-se no lugar onde o Homem tomou

39
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

melhor consciência de si mesmo” (Ariès, 1989, p.38). O fenómeno dos túmulos, ou seja,
da individualização das sepulturas, confirma esta tendência.

As Sepulturas

O quarto fenómeno, descrito por Ariès, refere-se à individualização das sepulturas. A


partir do século XII, começam-se a reencontrar as inscrições funerárias, onde os
túmulos que haviam desaparecido por volta do século V, que numa fase inicial eram
encontradas apenas nos túmulos de ilustres personagens, como os santos, reaparecem e
tornam-se mais frequentes.

A partir do século XVI, as paredes das Igrejas começaram a exibir placas com os nomes
dos defuntos, traduzindo assim, a vontade de individualizar o local da sepultura e de
perpetuar a lembrança do morto. Para além das placas, os defuntos previam nos
testamentos serviços religiosos perpétuos pela salvação da sua alma. Independentemente
do seu significado, o que importava era o registo da identidade do defunto e não o
reconhecimento do lugar onde o corpo havia sido depositado.

Assim, desde o século XI, que a morte conquista o Homem, no sentido de ir tomando
consciência da sua individualidade. Na opinião de Ariès (1989), o Homem Ocidental,
desde meados da Idade Média, rico, poderoso ou letrado reconhece-se a si mesmo na
sua morte toma consciência da morte de si próprio.

2.3- A MORTE DO OUTRO

A partir do século XVIII, o Homem Ocidental tenta dar um novo sentido à morte. “(…)
exalta-a, dramatiza-a, quere-a impressionante e dominadora” (Ariès, 1989, p.43). O
Homem começa a preocupar-se agora menos com a sua própria morte e mais com a
morte do outro próximo, a da pessoa amada ou próxima.

No séc. XIX, o ritual da morte no leito mantém-se, mas os que rodeiam o moribundo
agitam-se e emocionam-se, rezam e gesticulam inspirados por uma dor única e
apaixonada. A dor expressa pelos sobreviventes é entendida como que um sinal forte de
intolerância em relação à separação. A morte é considerada como uma ruptura, que
arranca o homem da sociedade racional, do seu trabalho e o lança para um mundo
irracional, violento e cruel.
40
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

A grande mudança nesta fase, é a atitude na relação entre o moribundo e a família,


sendo que estas novas atitudes demonstram as relações de sentimento e afecto
desenvolvidas no seio da família.

Desde o final da Idade Média e até final do século XVIII, o luto era uma forma de
obrigar a família do defunto a retardar um desgosto, nem sempre sentido, e por outro
lado, defendia contra os excessos de dor. No entanto, a partir do século XIX, o luto
torna-se exagerado, o que significa que “os sobreviventes aceitam a morte do próximo
mais dificilmente que noutros tempos” (Ariès, 1989, p.48). Ou seja, o Homem teme não
a sua própria morte, mas a morte do próximo, a morte do outro (Ibidem). Estes
sentimentos geram um novo fenómeno religioso: o culto moderno dos túmulos e dos
cemitérios. A sepultura converteu-se numa espécie de propriedade e um local onde se
vai visitar o familiar ou ente querido, tendo-se o hábito de enfeitar com flores,
perdurando este hábito até aos nossos dias. Contudo, assistimos na actualidade, a uma
ruptura nas mentalidades com a recusa da morte no Ocidente – morte interdita.

2.4- A MORTE INTERDITA

Desde a Alta Idade Média até aos meados do século XIX, que a atitude perante a morte
tem vindo a sofrer mudanças progressivas. A partir de 1930, e mais rapidamente na
década de 50, que assistimos a uma revolução profunda de ideias e sentimentos, de tal
modo que a morte, outrora tão presente se tornou vergonhosa, interdita e considerada
por muitos como tema tabu (Ariès, 1989).

Esta atitude perante a morte começa a ter lugar na segunda metade do século XIX, onde
os que rodeiam o moribundo vão tentar esconder-lhe o seu fim, ou a sua morte,
ocultando a verdade, sendo rapidamente esta atitude generalizada e assumida pela
sociedade actual. Os avanços na ciência e em especial na medicina foram por certo
aspectos que estiveram na base desta viragem de atitude face à morte.

Há a preocupação em esconder a verdade não só à pessoa em fim de vida, mas também


à sociedade, o incómodo e a emoção forte provocada pela agonia da morte. Apesar de
nada ter mudado no ritual da morte, começa a esvaziar-se a sua faceta dramática.

41
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Por volta de 1930 e 1950, dão-se grandes mudanças, sendo uma delas a transferência do
local da morte, em que o moribundo deixa de viver os seus últimos dias em casa e passa
para o hospital. É no hospital que se morre, porque é aí que se concentram todos os
cuidados que não se podem proporcionar em casa, mas também porque o hospital
deixou de ser asilo de miseráveis e se transformou num centro médico, cuja cura e luta
contra a morte se tornaram nos principais objectivos. Ariès (1989) designa esta
passagem, do local da morte da casa do moribundo para o hospital, de medicalização da
morte, em que as pessoas acreditam e encaram a hospitalização como uma necessidade.

O hospital surge, no tempo actual, como o único local onde se pode morrer, porque nem
a sociedade e tão pouco a família a querem enfrentar. Se no final do século XVIII, a
família desfrutava da confiança do moribundo, actualmente a família e o moribundo
encontram-se alheios às circunstâncias da morte, que passa agora para as mãos dos
profissionais de saúde. De acordo com Ariès (1989), estes controlam-na e esforçam-se
para que a pessoa aceite a sua própria morte e que seja também admitida pelos
familiares. Uma morte aceite é aquela que é admitida pelos familiares, sendo que estas
desencadeiam nos mesmos, emoções fortes.

Na Idade Média, pertencia ao médico informar a pessoa da proximidade da sua morte.


Contudo, com o avançar do tempo, assistimos a uma mudança de realidade em que o
Homem não se apercebe ou finge não perceber a proximidade da hora da morte, e
também o médico não cumpre com o seu dever de informá-lo. Os profissionais de saúde
adiam, assim, o mais possível o momento de avisar a família ou o próprio doente, com o
receio das possíveis reacções do doente e família.

Actualmente, evitam-se as emoções intensas, as cerimónias fúnebres são entregues às


agências funerárias, encarregando-se estas da realização das cerimónias de forma
discreta, devendo estas ser breves, o acto de velar o morto é cada vez mais raro,
embeleza-se o morto de forma a disfarçar a presença da morte, as condolências aos
familiares enlutados quase desaparecem ou são mais discretas e o luto tende a
desaparecer. A sociedade procura ignorar a morte, evitando qualquer demonstração
pública da mesma, desprezando tudo o que com ela se relaciona e que de alguma forma
impeça a felicidade.

42
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

A morte tornou-se num tema tabu do século XX, substituindo o tema da sexualidade,
assistindo na actualidade a uma recusa, quase generalizada, em admitir e enfrentar a
morte e tudo o que com esta se relacione. Segundo alguns autores, e na opinião de Ariès
(1989), é possível que esta atitude perante a morte, ou seja, o interdito da morte, tenha
nascido nos Estados Unidos no inicio do século XX, com o objectivo de preservar a
felicidade dos intervenientes.

O luto deixou de ser um tempo necessário imposto pela sociedade, tornando-se


mórbido, sendo desejável abreviá-lo. Segundo esta perspectiva vemos o crescer das
ideias que levaram ao interdito actual da morte.

Na Europa, tal como em Portugal começa a verificar-se o desenvolvimento e


crescimento da pratica de cuidados paliativos, que nasce como uma necessidade sentida
pelos profissionais de saúde de prestar cuidados à pessoa em estado terminal de vida,
numa unidade exclusiva e direccionada para estas pessoas e onde exista a preocupação
em proporcionar um ambiente de conforto.

43
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

3- A MORTE NA ACTUALIDADE

A Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE) define o conceito


de morte como, sendo um fenómeno pertencente ao desenvolvimento físico, com as
seguintes características específicas: cessação da vida, diminuição gradual ou súbita das
funções orgânicas, levando ao fim dos processos de manutenção da vida; a cessação da
vida manifesta-se pela ausência dos batimentos cardíacos, da respiração e da actividade
cerebral.

No mundo ocidental, e em especial na sociedade portuguesa contemporânea, assiste-se a


mudanças no domínio das configurações sociais da morte, designada por vários autores
de hospitalização da morte. Ou seja, a percentagem de mortes ocorridas no hospital
ganha significado relativamente às mortes ocorridas em casa.

Segundo Cunha (1999), as transformações ocorridas neste século no sentido da


hospitalização da morte e da supressão do luto, são equacionadas como crise de uma
sociedade que já não sabe lidar com a morte e com os seus mortos, ao contrário do que
acontecia na sociedade tradicional. Trata-se, portanto de um indicador de mudança de
atitudes, quer dos profissionais de saúde quer da sociedade em geral, face à morte e que
é a hospitalização da sua ocorrência.

3.1- HOSPITALIZAÇÃO DA MORTE

Desde há algum tempo até à actualidade, que assistimos a uma medicalização e


hospitalização da morte, fenómeno esse que tem a ver com a evolução da nossa
sociedade. De facto, hoje em dia as pessoas saem das suas casas para irem morrer no
hospital, com todos os inconvenientes que esta situação arrasta consigo.

Henriques et al (1995) refere que estatísticas, a nível dos países europeus, demonstram
que entre 70% a 90% das mortes na actualidade, se verificam em instituições
hospitalares e afins.

45
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

De acordo com dados do estudo desenvolvido por Cunha (1999), a nível nacional,
verifica-se que se parte, em 1969, de uma situação em que 76,6% da população morria
em casa e apenas 17,9% morria no hospital, para uma situação, em 1993, em que 42,6%
morria no hospital e 47,2% morria em casa. Segundo a mesma autora, esta inversão do
local de morte registou-se em 1991, pelo que foi resultante de uma evolução gradual, a
modernização das atitudes face à morte.

Noutros tempos, a morte era um acontecimento social que envolvia não só a família,
mas toda a comunidade onde se encontrava inserido. Morria-se em casa, junto dos
familiares, vizinhos, amigos e conhecidos que vinham prestar a ultima homenagem ao
moribundo, ao mesmo tempo que partilhavam o sofrimento da família. O moribundo,
alem de morrer acompanhado, era alguém com muito poder nos seus últimos
momentos, e onde os seus desejos e opiniões eram ouvidos e valorizados.

Hoje em dia, com as alterações nas condições de vida e habitação, o núcleo familiar
reduzido, o isolamento em que se vive, especialmente nos grandes centros urbanos
levam a que já não se morra em família. A casa começa a ser considerada um local
impróprio para morrer, não só pela indisponibilidade da vida contemporânea, como
também porque é nas unidades hospitalares que se concentram os saberes e meios
técnicos de luta contra a doença e a morte.

A sociedade moderna dessocializou a morte, expulsando-a do seio familiar e


encaminhando-a para os hospitais, onde muitas das vezes se acaba por morrer sozinho,
isolado por um biombo ou num quarto isolado para não incomodar os outros doentes,
estando apenas acompanhado de equipamentos, de tecnologia avançada, mas sem
ninguém para conversar nos últimos momentos de vida.

Esta situação surge do resultado dos avanços científicos e tecnológicos, no âmbito das
ciências biomédicas, que vieram possibilitar a resolução de muitas situações de doença,
dando origem a que a morte deixasse de ser vista como um acontecimento ou fenómeno
natural e passasse a ser sentida como um dos problemas que o homem ainda não é capaz
de resolver.

Na opinião de Pacheco (2002), a morte é deslocada para os hospitais, em que o


moribundo deixa de estar acompanhado da família e amigos, passando a estar junto dos

46
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

profissionais de saúde, onde muitas das vezes, se verifica a ausência de comunicação


com o doente. Refere a mesma autora que, esta atitude por parte dos profissionais de
saúde estendeu-se também às próprias famílias e à sociedade, sendo muito frequente,
nos nossos dias, perante um doente em fase terminal, a família levá-los para o hospital,
onde muitas das vezes estes vão morrer sozinhos, isolados de tudo e de todos.

3.2- FASES DA MORTE NO DOENTE TERMINAL

A situação de fase final de vida obriga os doentes a enfrentarem novas situações e


implica adaptações sucessivas. O doente apresenta uma crise de vida significativa no
seu equilíbrio pessoal, conduzindo a alterações no seu relacionamento social e familiar.

Kubler Ross, uma psiquiatra americana, dedicou-se ao estudo do processo de morte em


doentes terminais, descrevendo as diversas fases por que passam os mesmos. De acordo
com Ross (1981), citado por Oliveira (1998), os doentes terminais habitualmente
passam por várias fases ou estádios: negação e isolamento, raiva, negociação,
depressão e por ultimo a fase de aceitação.

Assim, refere que a primeira fase ou estádio é o da negação e o isolamento, em que o


doente ao receber a notícia ou tomar consciência da sua situação de fase final de vida,
tende a negar a eminência de morte, considerando o diagnóstico errado, e usando outros
mecanismos, como o isolamento. Os profissionais de saúde devem compreender esta
negação, como um sinal de que o doente ainda não está preparado para enfrentar essa
realidade. É necessário aceitar o doente como um ser humano, que necessita de tempo e
de alguém para partilhar os seus sentimentos de medo, angústia e insegurança.

Na segunda fase, de raiva, à medida que o seu mecanismo de negação se vai atenuando,
o doente começa a sentir revolta, inveja e de ressentimento, perguntando “porquê eu?” e
invejando a sorte dos outros e exteriorizando a sua hostilidade contra o tratamento,
contra os profissionais de saúde e contra Deus. Nesta fase, o meio que o rodeia tem de
mostrar muita compreensão e aguardar pacientemente que o doente ultrapasse esta fase.
Serra et al (1991) considera que esta raiva deverá ser exteriorizada, sendo quase
inevitável para que o doente evolua para uma aceitação da morte.

47
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

A terceira fase, fase de negociação, é aquela em que os doentes tentam realizar acordos
por um pouco mais tempo de vida, podendo esta negociação ser feita com Deus, com os
profissionais de saúde ou até com ele próprio. Para Serra et al (1991), a respeito desta
fase, o doente passa a seguir escrupulosamente o tratamento, prometendo ser mais
compreensivo e tolerante com os outros, dedicando-se às práticas religiosas.

Segue-se a fase de depressão, quando o doente toma consciência das consequências


reais da sua situação. O alheamento anterior, a revolta e a cólera cedem lugar a um
sentimento de perda, onde já não é possível sequer a negociação, enganar os outros ou a
si próprio. Esta depressão pode ser também causada e acompanhada de sentimentos de
vergonha e culpa.

Finalmente, o doente chega à fase da aceitação, em que se mostra capaz de entender a


sua situação, com todas as suas consequências. É neste momento que o doente começa a
falar claramente na morte, revelando necessidade de rever as suas experiencia passadas
mais significativas, como forma de dar sentido à vida e à morte. A aceitação não
excluirá a esperança num pequeno milagre ou tratamento novo. Serra et al (1991) são da
opinião de que neste período deverá ser valorizado o processo de comunicação,
particularmente a escuta activa, pois muitos ficam sós e necessitam de alguém que os
ouça e os ajude a reenquadrar perspectivas e a atingir o equilíbrio natural para viver.

3.3- ATITUDES DO ENFERMEIRO FACE À MORTE

As atitudes perante a morte têm-se modificado ao longo dos tempos, acompanhando o


desenvolvimento da cultura social, da religião, da ciência e da tecnologia. No século XX
a morte deixou de ser um acontecimento social, público e comunitário, deixando de se
morrer em casa, junto dos familiares e amigos, e passando-se a morrer no hospital, o
que traduz uma verdadeira “hospitalização da morte”. Esta realidade trouxe como
consequências, um maior envolvimento dos profissionais de saúde e muito
especialmente os profissionais de enfermagem.

A enfermagem é hoje uma profissão de relação, em que os enfermeiros lidam


diariamente com doentes, trabalhando em contextos em que a morte é uma presença
constante, sendo extremamente difícil e doloroso enfrentar essa realidade.

48
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Pacheco (2002) refere que o enfermeiro tem um papel fundamental junto do doente
terminal, na medida em que é o profissional da saúde que está mais próximo do doente e
da família, e que mais os pode ajudar numa fase terminal da vida. Contudo, a maioria
dos enfermeiros foram preparados na sua formação inicial para a cura da doença, não
estando preparados para enfrentar a morte, e não possuindo formação suficiente que
lhes permita compreender a importância de cuidar o doente em fase terminal.

Também Brêtas, Oliveira e Yamaguti (2006), são da opinião de que muitos


profissionais de saúde, entre os quais os enfermeiros, apresentam dificuldade em se
relacionar com pacientes com prognóstico de morte e em fase terminal. Esta dificuldade
deve-se, em parte, às características apresentadas pelo paciente nessa fase e,
principalmente à dificuldade interna que sentem em lidar com o problema, uma vez que
existem carências de informação durante o processo de formação dos enfermeiros, no
que se refere a esta temática.

Saraiva (2009), refere que os enfermeiros enfrentam todos os dias a morte e,


independentemente da experiência profissional e de vida, quase todos a encaram com
um certo sentimento de incerteza, desespero e angústia. Incerteza, na medida em que os
enfermeiros não sabem se estão a prestar todos os cuidados possíveis para o bem-estar
do doente, para lhe prolongar a vida e lhe evitar a morte. Desespero, porque se sentem
impotentes para fazer algo que o mantenha vivo. Sentimento de angústia, porque os
enfermeiros não sabem como comunicar efectivamente com o doente e seus familiares.
Todos estes factos sobrecarregam severamente o enfermeiro, que procura cuidar aqueles
cuja morte está eminente. De acordo com Rees, citado por Saraiva (2009, p.7):
“o enfermeiro reage a estes sentimentos desligando-se do doente e da própria morte e,
consciente ou inconscientemente, concentra a sua atenção no seu trabalho, no material, no
processo da doença, talvez até em conversas superficiais, com o intuito de afastar
expressões de temor e de morte”.

O enfermeiro, perante o processo de morte, decide evitar todo e qualquer contacto com
o doente, com o objectivo de escudar-se contra sentimentos que lhe lembrem a morte e
que lhe causem mal-estar. Este, confrontado com a doença grave e com a morte, tenta
proteger-se da angústia gerada pela mesma, adoptando estratégias de adaptação,
conscientes ou inconscientes designadas de mecanismos de defesa. (Ibidem)

Também Pacheco (2006) é da opinião de que, os enfermeiros têm ainda alguma


dificuldade em lidar com o processo de morrer. Quando se deparam com um doente em
49
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

fim de vida, têm a tendência de adoptar atitudes extremas, tais como afastar-se do
doente ou, pelo contrário, envolverem-se emocionalmente e de forma muito intensa.
Segundo a autora, a atitude mais comum por parte do enfermeiro é desligar-se do doente
e da morte, desenvolvendo mecanismos de defesa e comportamentos de fuga. O
enfermeiro limita-se a prestar cuidados apressados e despersonalizados, limitando uma
relação interpessoal e impossibilitando a comunicação e o diálogo com o doente em fim
de vida. Por outro lado, os enfermeiros envolvem-se muito emocionalmente em
determinadas situações particulares de alguns doentes.

Estas atitudes de afastamento ou de demasiado envolvimento, dependem de inúmeros


factores que condicionam a forma como encaramos e vivemos a morte, nomeadamente,
o tipo de morte e a idade da pessoa que morre. Os enfermeiros vivem sentimentos
diferentes perante uma morte que acontece no final de uma doença prolongada, uma
morte que acontece subitamente (acidente ou suicídio), morte de uma criança, de um
jovem ou de um idoso. Assim, as atitudes dos enfermeiros perante a pessoa que está a
morrer vão depender, em grande parte, da idade da pessoa que morre. (Ibidem)

Porém, os enfermeiros têm de continuar a defrontar-se com a morte em qualquer idade


e, com maior ou menor aceitação, com maior ou menor sofrimento, com maior ou
menor dificuldade, deverão estar preparados para apoiar o doente e os seus familiares,
de acordo com o Código Deontológico do Enfermeiro (OE, 2003).

Segundo Rosado, citado por Saraiva (2009), do confronto com a morte podem surgir
nos enfermeiros, problemas psicológicos tais como: pensamentos involuntários
dedicados ao doente, sentimento de impotência, de choro, sensação de abatimento,
sentimento de choque e de incredibilidade perante a perda, dificuldades de
concentração, cólera, ansiedade e irritabilidade. Estas atitudes, por parte dos
enfermeiros, levam frequentemente ao absentismo, desejo de mudança de serviço,
isolamento, entre outras práticas e atitudes reveladoras da situação e de insegurança.

50
PARTE DOIS: CONTRIBUIÇÃO PESSOAL
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

4- METODOLOGIA

A melhor forma para se estudar um problema passa pela investigação científica que se
desenvolve em várias etapas interligadas, sendo um processo controlado, disciplinado e
sistemático, exigindo a utilização de uma metodologia.

Fortin (2000, p.132) define metodologia ou desenho de investigação como “o plano


lógico criado pelo investigador com vista a obter respostas válidas às questões de
investigação colocadas ou às hipóteses formuladas”.

Neste capítulo faremos uma abordagem ao tipo de estudo utilizado e seus objectivos, às
questões de investigação e hipóteses, às variáveis em estudo e sua operacionalização,
população e amostras, ao instrumento de colheita de dados, aos procedimentos formais
e éticos e ao procedimento no tratamento estatístico dos dados.

4.1- TIPO DE ESTUDO E OBJECTIVOS

Segundo Fortin (2000), a metodologia deve ser escolhida em função dos objectivos de
investigação, dos resultados esperados e do tipo de análise que se pretende efectuar.

Polit e Hungler (1995), consideram o método quantitativo um processo sistemático de


recolha de dados observáveis e quantificáveis que são caracterizados pela objectividade,
controlo, predictabilidade e generalização.

Face à problemática em estudo, e tendo em conta as questões e os objectivos do mesmo,


optámos pela realização de um estudo de natureza quantitativo, com características de
um estudo descritivo-correlacional e de corte transversal.

Estudo quantitativo, na medida em que os dados colhidos no decurso da pesquisa são


processados através de medidas estatísticas permitindo reduzir, resumir, organizar,
avaliar, interpretar a informação numérica com o intuito de responder às indagações da
investigação.

53
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Estudo descritivo-correlacional, porque visa caracterizar os fenómenos em estudo,


descreve os factores ou variáveis e detecta relações entre estas variáveis ou factores.
Estudo de corte transversal, dado que visa recolher os dados relativos às variáveis em
estudo, num determinado e limitado período de tempo.

Dado que nos propusemos estudar o fenómeno da morte e as atitudes do enfermeiro


perante esta, e na sequência das considerações efectuadas, anteriormente no
enquadramento teórico, definimos para o presente estudo os seguintes objectivos:

 Identificar as atitudes dos enfermeiros relativamente ao processo de morte;


 Determinar a influência de factores sócio-demográficos (idade, sexo, estado
civil e habilitações académicas) relativamente às atitudes do enfermeiro
perante a morte;
 Verificar em que medida os factores religiosos (crença e prática religiosa)
influenciam as atitudes do enfermeiro perante a morte;
 Verificar em que medida os factores profissionais (categoria profissional,
tempo de exercício profissional, serviço onde exerce funções, tipo de morte
com que mais se confrontou no último ano e a formação frequentada) estão
relacionados com a atitude do enfermeiro perante a morte;
 Clarificar a importância da necessidade dos enfermeiros adoptarem
comportamentos e atitudes mais favoráveis perante doentes em processo de
morte.
 Sensibilizar os enfermeiros para a uniformização de comportamentos perante o
doente terminal.

4.2- QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO E HIPÓTESES

As questões de investigação e as hipóteses são componentes muito importantes num


estudo, uma vez que facilitam a orientação do investigador, direccionando-o na causa
provável que este procura. As questões de investigação constituem o elemento
fundamental do início de uma investigação, abrindo caminho a todo o seu percurso.
Segundo Fortin (2000, p.101), são “(…) um enunciado interrogativo, escrito no presente
que inclui habitualmente uma ou duas variáveis e a população a estudar”.

54
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Do primeiro objectivo de investigação, traçado para este trabalho - “Identificar as


atitudes dos enfermeiros relativamente ao processo de morte”, surge a seguinte questão
de investigação:

- Quais as atitudes dos enfermeiros perante a morte?

No desenvolvimento de um trabalho de pesquisa, a formulação de hipóteses é um


processo de extrema importância para a progressão do mesmo, na medida em que os
resultados dependerão da relevância, clareza, consistência lógica e verificabilidade das
hipóteses formuladas.

Para Polit e Hungler (1995, p.76), a hipótese “(…) traduz o enunciado do problema para
uma previsão precisa e clara dos resultados esperados”. A hipótese estabelece sempre
uma relação entre uma variável dependente e uma ou mais variáveis independentes e
necessita de ser submetida a uma análise estatística (teste de hipóteses), mediante o qual
se aceita ou infirma a hipótese estatística. Assim, a sua função na pesquisa científica, é
propor explicações para certos factos e ao mesmo tempo orientar a busca de outras
informações.

Neste estudo, tendo em conta os objectivos e o problema da investigação, formulámos


as seguintes hipóteses:

H1 - Há relação entre a idade e a atitude do enfermeiro perante a morte.


H2 - Há relação entre o sexo e a atitude do enfermeiro perante a morte.
H3 - Há relação entre o estado civil e a atitude do enfermeiro perante a morte.
H4 – Há relação entre as habilitações académicas e a atitude do enfermeiro perante
a morte.
H5 – Há relação entre a crença religiosa e a atitude do enfermeiro perante a morte.
H6 – Há relação entre a prática da religião e a atitude do enfermeiro perante a
morte.
H7 – Há relação entre a categoria profissional e a atitude do enfermeiro perante a
morte.
H8 – Há relação entre o tempo de exercício profissional e a atitude do enfermeiro
perante a morte.
H9 – Há relação entre o serviço onde exerce funções e a atitude do enfermeiro
perante a morte.
55
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

H10 – Há relação entre o tipo de morte com que mais se confrontou no último ano e
a atitude do enfermeiro perante a morte.
H11 – Há relação entre a formação frequentada e a atitude do enfermeiro perante a
morte.

4.3- VARIÁVEIS EM ESTUDO E SUA OPERACIONALIZAÇÃO

Um estudo científico, independentemente do seu tipo, contém variáveis que estão


inseridas nos objectivos e nas hipóteses. Fortin (2000, p.36), define variável como
sendo “as qualidades, propriedades ou características de objectos, de pessoas ou de
situações que são estudadas numa investigação (…) e pode tomar diferentes valores
para exprimir graus, quantidades, diferenças”.

Existem vários tipos de variáveis, sendo que neste estudo considerámos a variável
dependente (o fenómeno que se pretende estudar), e as variáveis independentes que
explicam um dado acontecimento.

As variáveis incluídas num processo de investigação devem ser traduzidas em conceitos


mensuráveis, sendo deste modo imprescindível a sua operacionalização. Segundo Gil
(1991, p.88), a operacionalização das variáveis define-se como “processo que sofre uma
variável (ou um conceito), a fim de se encontrar os correlatos empíricos que
possibilitem a sua mensuração ou classificação”.

Em seguida, abordamos os dois tipos de variáveis presentes neste estudo, procedendo à


respectiva operacionalização dos conceitos.

4.3.1- Variável Dependente

A variável dependente é, de acordo com Polit e Hungler (1995, p.26), “aquela que o
pesquisador tem interesse em compreender, explicar ou prever”.

Neste estudo, a nossa variável dependente é a atitude do enfermeiro perante a morte,


sendo esta avaliada através de uma escala de tipo Likert, presente no questionário. Esta
escala, construída e validada por Amaro (2001), é composta por 20 afirmações,

56
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

contendo 4 alternativas de resposta: “raramente”; “por vezes”; “com frequência”; “a


maior parte das vezes”. Este conceito será completamente clarificado mais à frente,
aquando da descrição do instrumento de colheita de dados (ICD).

4.3.2- Variáveis Independentes

A variável independente é a que o investigador manipula num estudo, no sentido de


medir o seu efeito na variável dependente (Fortin, 2000). Consideramos pertinente
analisar a possível influência de algumas variáveis sócio-demográficas, religiosas e
profissionais sobre a variável dependente, isto é, em que medida estas conduzem a
atitudes menos ou mais favoráveis por parte dos enfermeiros perante a morte dos
utentes a quem presta cuidados.

Neste estudo estabelecemos como variáveis independentes a idade, o sexo/género, o


estado civil, habilitações académicas, religião, a prática da religião, categoria
profissional, tempo de exercício profissional, instituição e serviço onde exerce funções,
o tipo de morte com que mais se confrontou no último ano e formação frequentada nos
últimos dois anos. Seguidamente, procedemos à operacionalização destes conceitos.

Idade
No sentido de avaliar a idade dos inquiridos, recolhemos os dados no questionário
através de uma pergunta aberta tendo sido os mesmos, posteriormente, agrupados em
classes etárias de acordo com a variação encontrada.

Sexo/Género
Para esta variável foi efectuada uma pergunta fechada no questionário com duas opções
de resposta: masculino e feminino.

Estado Civil
Esta variável foi operacionalizada nos seguintes itens: “solteiro(a)”, “casado(a) / união
de facto”, “separado(a) / divorciado(a)” e “viúvo(a)”

Habilitações Académicas:
Esta variável foi operacionalizada nos seguintes níveis: “bacharelato”, “licenciatura”,
“pós-licenciatura e em que área”, “mestrado” e “outra, qual?”.

57
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Religião
No contexto do nosso estudo, para operacionalizar esta variável, utilizámos uma
pergunta mista, com as seguintes opções de resposta: “católica”, “outra e qual?” e
“nenhuma”.

Prática da Religião
Esta variável foi operacionalizada nos seguintes itens: “muito”, “moderadamente”,
“pouco” e “nada”.

Categoria Profissional
Tendo por base o Decreto-lei n.º 437/91 de Novembro, que define a Carreira de
Enfermagem, operacionalizámos esta variável em: “Enfermeiro(a)”, “Enfermeiro(a)
Graduado(a)”, “Enfermeiro(a) Especialista”, e “Enfermeiro(a) Chefe”.

Tempo de Exercício Profissional


Esta variável foi mensurada através de uma pergunta aberta, questionando o enfermeiro
sobre o tempo de exercício profissional como enfermeiro, na profissão, na instituição e
no actual serviço onde desempenhava funções. Após terminada a colheita de dados,
foram constituídas classes, atendendo à amplitude de variação, de forma a facilitar o seu
estudo.

Instituição onde Exerce funções


Esta variável foi operacionalizada através de uma pergunta aberta, onde os enfermeiros
identificaram a instituição hospitalar onde exerciam funções de enfermagem.

Serviço onde exerce funções


Para este estudo, tendo em conta a nossa amostra, esta variável foi operacionalizada
através de uma pergunta fechada, com as seguintes opções de resposta: “Serviço de
Medicina Interna”, “Serviço de Cirurgia”, “Serviço de Ortopedia”, “Serviço de
Urgência Geral”.

Tipo de Morte com que mais se confrontou no último ano


Esta variável foi operacionalizada através de uma pergunta fechada com as seguintes
opções de resposta: “morte súbita/inesperada” e “morte decorrente de doença
crónica/terminal”.

58
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Formação frequentada nos últimos dois anos


Esta variável foi operacionalizada em: “Sim” ou ”Não” a 4 perguntas mistas sobre se
frequentou formação sobre as temáticas referidas, e se “Sim”, “quantas horas?”,
surgindo uma pergunta aberta no final, onde o enfermeiro referiu o(s) tema(s).

4.4- POPULAÇÃO E AMOSTRA

Qualquer estudo necessita de um determinado universo ou população de elementos,


onde se irão testar as hipóteses e confirmar, ou não a relação que se estabelece entre as
variáveis. De acordo com Fortin (2000, p.202), a população “é uma colecção de
elementos ou de sujeitos que partilham características comuns, definidas por um
conjunto de critérios”, sendo a amostra definida como “um sub-conjunto de uma
população ou de um grupo de sujeitos que fazem parte de uma mesma população,
constituindo uma réplica em miniatura da população alvo”.

Uma vez que era nosso objectivo estudar as atitudes do enfermeiro perante a morte,
escolhemos enfermeiros que cuidam de doentes em fim de vida e que frequentemente
lidam com o processo de morte no seu dia-a-dia profissional.

Assim, foi definida como população alvo, o conjunto dos enfermeiros que exercem
funções no Hospital Cândido de Figueiredo de Tondela (HCF) e no Hospital São
Teotónio de Viseu, EPE (HST). A escolha desta população alvo prendeu-se com o facto
da proximidade e vínculo profissional que o investigador mantém com estas duas
instituições hospitalares, procurando no futuro contribuir com os resultados obtidos no
estudo para o aperfeiçoamento da actividade profissional do mesmo e dos restantes
profissionais de enfermagem.

4.4.1- Selecção e Caracterização da Amostra

Definida a nossa população alvo, tornou-se imperiosa a selecção de uma amostra que
caracterizasse de forma representativa essa mesma população.

Os procedimentos de amostragem adoptados para este estudo foram, o tipo de


amostragem não probabilística por conveniência ou acidental. Isto é, são amostras
59
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

escolhidas pelo investigador, ou que se escolhem a si próprias, uma vez que todos os
indivíduos colaboram voluntariamente na investigação (Polit e Hungler, 1995).

A amostra do nosso estudo é assim constituída por um conjunto de 80 enfermeiros que


desenvolvem a sua actividade nos serviços de Medicina Interna 1-A, Cirurgia 2-A,
Ortopedia B e Urgência Geral do Hospital São Teotónio de Viseu, EPE (HST) e no
Serviço de Urgência Básica do Hospital Cândido Figueiredo de Tondela (HCF).

A maioria dos enfermeiros inquiridos (70.00%) exerce a sua actividade no HST, sendo
que os restantes (30.00%) exercem a actividade profissional no HCF, tal como podemos
verificar no gráfico 1.

Gráfico 1- Distribuição da amostra segundo a instituição a que pertence o enfermeiro


inquirido

n=80
30%
HCF
70% HST

CARACTERIZAÇÃO GERAL DA AMOSTRA EM ESTUDO

Neste estudo, responderam ao questionário 80 enfermeiros verificando-se, pela análise


do Quadro 1, relativamente à idade dos inquiridos, que o enfermeiro mais jovem
apresentava 25 anos e o enfermeiro mais idosos 57 anos, sendo que a média se centra
nos 35,58 anos, com um desvio padrão a oscilar em torno da média de 7,57 anos.

Quadro 1 – Dados estatísticos relativos à idade dos enfermeiros inquiridos no estudo

Média Desvio padrão Mínimo Máximo 25% 50% 75%


IDADE
35.58 7.57 25 57 30.25 33.00 39.00

60
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Os dados relativos às principais características sócio-demográficas, dos enfermeiros que


participaram no estudo, podem ser observados no Quadro 2. Assim, quando agrupamos
os inquiridos por grupos etários, verificamos que predomina a classe com idade igual ou
inferior a 35 anos (58.80%), seguindo-se os enfermeiros com idade compreendida entre
36 e 45 anos (28.80%). Apenas 12.50% têm idade igual ou superior aos 45 anos.

A grande maioria dos enfermeiros (70.00%) pertence ao sexo feminino, sendo os


restantes 30.00% do sexo masculino.

Relativamente ao estado civil, os enfermeiros inquiridos são maioritariamente casados


ou em união de facto (78.80%) e minoritariamente separados ou divorciados (2.50%).

A grande maioria dos enfermeiros inquiridos (78,80%) são licenciados, 18,80%


possuem uma Pós-Licenciatura/Especialização e apenas 2,50% possui mestrado.

Quadro 2 – Principais características sócio-demográficas dos enfermeiros


(N=80)
Variáveis N.º %

Grupo Etário
≤ 35 anos 47 58.80
36 - 45 anos 23 28.80
> 45 anos 10 12.50

Género
Masculino 24 30.00
Feminino 56 70.00

Estado Civil
Solteiro 15 18.80
Casado/União de facto 63 78.80
Separado/divorciado 02 02.50

Habilitações Académicas
Licenciatura 63 78.80
Pós-Licenciatura/Especialização 15 18.80
Mestrado 02 02.50

61
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

No que se refere às características religiosas dos enfermeiros inquiridos, estas podem


ser observadas no Quadro 3. Pela análise do mesmo, verificamos que a grande maioria
dos inquiridos (93,80%) referem ser católicos e, apenas 6,30% afirmam não ter qualquer
religião.

De salientar que 49,30% dos enfermeiros católicos considera-se pouco praticante da sua
religião, 40,00% são praticantes moderados, 6,70% não praticam nada e apenas 4,00%
praticam muito a religião católica.

Quadro 3 – Características religiosas dos enfermeiros


(N=80)
Variáveis N.º %
Religião
Católica 75 93.80
Nenhuma 05 06.30

Prática da Religião
Muito 03 04.00
Moderadamente 30 40.00
Pouco 37 49.30
Nada 05 06.70

Relativamente às características profissionais dos enfermeiros da nossa amostra em


estudo, podemos visualizar os dados apresentados no Quadro 4. Assim, no que se refere
à categoria profissional, a maioria dos inquiridos (63,80%) pertence à categoria
enfermeiro graduado, 27,50% à de enfermeiro, 7,50% são enfermeiros especialistas e
apenas 1,30% enfermeiros chefe.

Os tempos de exercício profissional na profissão, na instituição e no actual serviço


foram parametrizados em intervalos de tempo, de onde salientamos que a grande
maioria dos enfermeiros se enquadram abaixo dos 15 anos de serviço e uma minoria
acima dos 25 anos.

Relativamente à instituição onde os enfermeiros inquiridos exercem funções,


verificamos que a grande maioria dos inquiridos (70,00%) exerce a sua actividade no
HST, sendo que os restantes 30,00% exercem funções no HCF.

62
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

De entre os serviços constituintes da nossa amostra, 43,80% dos enfermeiros inquiridos


exercem a sua actividade no Serviço de Urgência Geral, seguem-se com igual
percentagem de 20,00% os inquiridos que trabalham nos Serviços de Medicina e de
Ortopedia. Apenas 16,30% dos enfermeiros exercem funções no Serviço de Cirurgia.

Quadro 4 – Principais características profissionais dos enfermeiros


(N=80)
Variáveis N.º %
Categoria Profissional
Enfermeiro(a) 22 27.50
Enfermeiro(a) graduado(a) 51 63.80
Enfermeiro(a) especialista 06 07.50
Enfermeiro(a) chefe 01 01.30

Tempo Exercício Profissional na Profissão


≤ 15 anos 60 75.00
16 – 25 anos 15 18.80
>25 anos 05 06.30

Tempo Exercício Profissional na Instituição


≤ 15 anos 65 81.30
16 – 25 anos 10 12.50
>25 anos 05 06.30

Tempo Exercício Profissional Actual Serviço


≤ 15 anos 77 96.30
16 – 25 anos 02 02.50
>25 anos 01 01.30

Instituição onde exerce funções


HCF 24 30.00
HST 56 70.00

Serviço onde exerce funções


Medicina Interna 16 20.00
Cirurgia 13 16.30
Ortopedia 16 20.00
Urgência Geral 35 43.80

63
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Visualizando o Quadro 5, relativamente ao tempo de exercício profissional na profissão,


verificamos um mínimo de 3 anos e um máximo de 32 anos, a média centra-se nos
12,72 anos, com um desvio padrão a oscilar em torno da média de 6,80 anos.

Quanto ao tempo de exercício profissional na instituição, verificamos um mínimo de 1


ano e um máximo de 32 anos, a média centra-se nos 11,33 anos, com um desvio padrão
a oscilar em torno da média de 7,00 anos.

No que se refere ao tempo de exercício profissional no actual serviço, verificamos um


mínimo de 1 ano e um máximo de 32 anos, a média centra-se nos 7,15 anos, com um
desvio padrão a oscilar em torno da média de 6,10 anos.

Quadro 5 – Dados estatísticos relativos ao tempo de exercício profissional na profissão,


na instituição e no actual serviço
Média Desvio Padrão Mínimo Máximo

Profissão 12.74 6.80 3 32


Instituição 11.33 7.00 1 32
Actual serviço 7.15 6.10 1 32

No que se refere ao tipo de morte com que o enfermeiro inquirido mais se confrontou no
último ano, e analisando o Gráfico 2, verificamos que a maioria dos inquiridos
(63,80%) refere a morte decorrente de doença crónica/terminal e 35,00% afirmam ter
sido a morte súbita/inesperada. Apenas 1,30% dos enfermeiros referiram terem-se
confrontado com os dois tipos de morte no último ano de exercício profissional.

Gráfico 2 – Distribuição dos enfermeiros segundo o tipo de morte com que mais se
confrontaram no último ano
Frequência

60
50
40
30
20
10
0
Súbita/inesperada Doença Ambas
crónica/terminal

64
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

No capítulo da formação frequentada nos últimos dois anos, constatamos (Quadro 6)


que, a grande maioria dos enfermeiros efectuou formação nas áreas de cuidados
paliativos, suporte básico e avançado de vida e em outras temáticas. Em contrapartida, a
grande maioria não teve qualquer formação específica na área de Ética.

Quadro 6 – Distribuição dos enfermeiros segundo a formação frequentada nos últimos


dois anos em Cuidados paliativos/Doente terminal, Suporte básico e avançado de vida,
Ética e Outras formações
Cuidados Suporte básico e
Formação paliativos avançado de vida Ética Outra
N % N % N % N %

Sim 33 41.30 72 90.00 25 31.30 64 86.40

Não 47 58.80 08 10.00 55 68.80 10 13.60

Analisando o Quadro 7 verificamos, relativamente ao número de horas de formação em


cuidados paliativos/doente terminal, um mínimo de 2 horas e um máximo de 43 horas, a
média centra-se nas 21,13 horas, com um desvio padrão a oscilar em torno da média de
12,15 horas.

Para a formação em suporte básico e avançado de vida, verificamos um mínimo de 2


horas e um máximo de 100 horas, a média centra-se nas 21,58 horas, com um desvio
padrão a oscilar em torno da média de 19,19 horas.

Quanto ao número de horas de formação em ética, verificamos um mínimo de 1 hora e


um máximo de 60 horas, a média centra-se nas 17,48 horas, com um desvio padrão a
oscilar em torno da média de 16,28 horas.

65
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Quadro 7 – Estatísticas relativas ao número de horas de formação frequentada, nos


últimos dois anos, em cuidados paliativos/doente terminal, suporte básico e avançado de
vida, ética e outras formações

HORAS MÉDIA DESVIO PADRÃO MÍNIMO MÁXIMO

Cuidados Paliativos/Doente Terminal 21.13 2.15 2 43

Suporte Básico e Avançado de Vida 21.58 19.19 2 100

Ética 17.48 16.28 1 60

4.5- INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS

Uma das etapas de um trabalho de investigação é a recolha de dados, que permita ir de


encontro aos objectivos do mesmo, e às características da população.

Segundo Polit e Hungler (1995), um instrumento de colheita de dados deve ser


composto por um conjunto de questões, que permitam colher a informação necessária,
válida e pertinente à realização do trabalho de investigação. Assim, a opção pelo
instrumento de colheita de dados (ICD) a utilizar, deve adequar-se aos objectivos da
investigação, pois desta forma irá possibilitar a resposta à questão de investigação.

No presente estudo optámos pelo questionário como ICD, especificamente destinado a


responder aos objectivos que foram delineados para esta investigação. De acordo com
Fortin, o questionário é “um instrumento de medida que traduz os objectivos de um
estudo com variáveis mensuráveis. Ajuda a organizar, a normalizar e a controlar os
dados de tal forma que as informações procuradas possam ser colhidas de uma maneira
rigorosa” (2000, p.249).

Neste estudo, o ICD encontra-se estruturado em quatro partes (APÊNDICE I). A


primeira inclui o questionário sócio-demográfico, que serve para caracterizar os
indivíduos que constituem a amostra: idade, sexo/género, estado civil e habilitações
académicas. A segunda parte é relativa aos dados e crenças religiosas (religião e prática
religiosa) dos inquiridos. A terceira parte deste questionário inclui questões relativas aos
dados profissionais (categoria profissional, tempo de exercício profissional, instituição e
serviço onde exerce funções, tipo de morte com que mais se confrontou no último ano,
66
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

formação específica frequentada nos últimos dois anos, e, por último duas perguntas
abertas onde se pede ao inquirido que indique duas principais dificuldades sentidas no
lidar/cuidar da pessoa e no relacionamento com os familiares do doente em processo de
morte). O ICD é constituído ainda por uma quarta parte, onde se encontra uma Escala
de Atitudes, construída e validada por Amaro (2001), destinada a avaliar as atitudes do
enfermeiro perante doentes terminais ou em fase de morte, na qual obtivemos
autorização para a sua utilização por parte da autora (APÊNDICE II).

Trata-se de uma escala ordinal, do tipo Likert, constituída por 20 preposições, a que
corresponde cada uma das quatro alternativas de resposta: “Raramente”, “Por vezes”,
“Com frequência”, “A maior parte das vezes”.

A cada um destes itens foi atribuída uma pontuação de 1 a 4, sendo o mínimo de 1


(Raramente) e o máximo de 4 (A maior parte das vezes). As questões 2, 5, 8, 9, 10 e 16
estão elaboradas em sentido inverso, pelo que a pontuação mais elevada (4) corresponde
a “Raramente” e a pontuação mais baixa (1) corresponde a “A maior parte das vezes”.

O índice global desta escala varia entre 20 e 80, sendo que quanto menor for este valor,
melhor ou mais favorável será a atitude do enfermeiro perante o doente em fase
terminal. Ao contrário, quanto maior o valor global da escala, pior ou menos favorável
será a atitude do enfermeiro.

É uma escala preliminar, que tem apenas o sentido de verificar os contrastes do que se
consideram atitudes muito favoráveis e atitudes pouco favoráveis. Para uma melhor
compreensão e análise desta variável dependente – atitude do enfermeiro perante a
morte, a autora da escala criou dois grupos de coorte, da seguinte forma:

Atitudes Muito Favoráveis – (≤ Média)


Atitudes Pouco Favoráveis – (> Média)

Esta escala de atitudes foi objecto de análise factorial, tendo a autora da mesma,
submetido aos estudos de fiabilidade e validade, para verificar a sua consistência
interna. Estes testes levaram à eliminação de alguns itens, dos 37 existentes na escala
inicial, por apresentarem correlações inferiores a 0,2 ficando a escala final, reduzida a
20 ítens. Estes 20 ítens, da escala final, foram submetidos a novas correlações de
Pearson, tendo a autora verificado que todos os itens apresentavam uma correlação com

67
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

valor global superior a 0,2 e os valores de alpha Cronbach entre os 0,68 e 0,71, o que os
enquadra dentro dos intervalos normais, considerando-se a escala com boa consistência
interna e validade.

No intuito de conhecer as dimensões subjacentes a esta escala, a autora realizou com os


20 itens, uma análise factorial de componentes principais, com rotação ortogonal de tipo
varimax. A solução factorial final permitiu a selecção de 2 factores, com raízes lactentes
superiores a 1, e que no seu conjunto explicam 32,90% da variância total. O factor 1 foi
designado de atitudes e explica 19,41% da variância total, sendo constituído pelos itens
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 10. O factor 2 foi designado de reacções, explica 13,49% da
variância total, e é constituída pelos itens 9, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20.

Com o intuito de melhor dimensionar a aplicabilidade da nossa escala ao nosso estudo,


efectuámos, também, os testes de consistência interna (homogeneidade dos itens) para
cada uma das dimensões e para a atitude global.

No Quadro 8, estão esquematizados os respectivos valores de Alpha de Cronbach,


obtidos para cada uma das dimensões e global, após a devida correcção. Assim,
constatamos que pela análise das correlações da respectiva dimensão com as restantes,
estas oscilam entre associações positivas moderadas (0,507) e perfeitas (1,000) para o
global. Estes valores indicam-nos que todas as dimensões contribuem de várias formas e
com diferentes “pesos” para medir a atitude global, mas todas as dimensões contribuem
no mesmo sentido (correlações positivas) para o global.

Pela análise dos alpha de cronbach, os valores obtidos são satisfatórios (todos superiores
a 0,747), o que nos indica que mesmo excluindo as dimensões uma a uma, os valores de
fiabilidade interna (alpha) mantêm-se superiores a 0,747, o que significa que a atitude
global não depende exclusivamente de uma só dimensão. Em termos gerais, o valor de
alpha geral obtido (0,803), é considerado bom.

68
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Quadro 8 – Determinação dos valores de Alpha de Cronbach para as dimensões das


atitudes da nossa escala

Correlação Alpha de Cronbach


Médias entre itens (Após ítens eliminados)

Atitude 57,40 0,651 0,747

Reacção 52,89 0,507 0,886

Global 36,76 1,000 0,313

Alpha geral 0.803

4.6- PROCEDIMENTOS FORMAIS E ÉTICOS

No que concerne à investigação, os aspectos éticos são fundamentais no decorrer da


mesma. O comprometimento com um estudo de investigação implica a responsabilidade
pessoal e profissional, de assegurar que o desenho dos estudos quantitativos e
qualitativos sejam sólidos sob o ponto de vista ético e moral (Fortin, 2000).

Após termos solicitado, junto dos Presidentes dos Conselhos de Administração do HCF
e do HST, a devida autorização para aplicação dos questionários, prontamente
concedida (APÊNDICE III), procedemos à colheita dos dados. Iniciámos pelo contacto
informal com os Enfermeiros chefes dos serviços seleccionados, a quem explicámos os
objectivos do estudo e pedimos colaboração na distribuição e recolha dos questionários.

A participação dos enfermeiros no estudo foi voluntária, tendo sido precedida de


informação sobre o seu âmbito e finalidade, comprometendo-nos em manter o sigilo e
confidencialidade das respostas, utilizando o método de entrega e recolha dos
questionários através de envelopes fechados. A entrega/devolução dos questionários
preenchidos pelos enfermeiros, considerou-se como consentimento informado por parte
dos mesmos.

A recolha dos dados decorreu durante os meses de Maio, Junho e Julho de 2010, sendo
neste decurso, nossa preocupação constante preservar todos os aspectos éticos
decorrentes da investigação.

69
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

4.7- PROCEDIMENTOS NO TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS

A etapa seguinte à recolha de dados é a de proceder à sua organização e análise. Para


tal, começámos por elaborar uma base de dados informatizada, utilizando o programa
estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 18.0, para o
Windows.

Para uma melhor interpretação e análise dos dados os mesmos são apresentados em
quadros, gráficos e tabelas, utilizando a estatística descritiva e a análise inferencial.

Para a análise descritiva das variáveis, utilizámos medidas de tendência central, tais
como a Média (X) e Moda (Mo), e medidas de dispersão: desvio padrão (s) e variância
(v), máximos e mínimos.

Nas variáveis a estudar, antes da utilização dos testes estatísticos, aplicámos o teste de
Kolmogorov-Smirnov com a correcção de Lilliefors, como teste de normalidade da
distribuição, para avaliar se as variáveis em estudo apresentavam ou não distribuição
normal dos resultados. Pela aplicação do referido teste (Quadro 9), verificámos que a
distribuição de dados referente à variável dependente (Atitudes do enfermeiro perante a
morte), não se encontra enquadrada na normalidade na dimensão reacções (p=0,000).

Assim, como podemos observar no Gráfico 3, fomos obrigados a assumir a inexistência


de uma distribuição normal ou próximo do normal para essa dimensão, o que nos limita
de certa forma a utilização de medidas estatísticas paramétricas.

Quadro 9 – Teste de normalidade de kolmogorov-Smirnov-Lilliefors

Kolmogorov-Smirnov-Lilliefors
DIMENSÕES
Estatísticas p

Atitudes 0,070 0,200

Reacções 0,154 0,000***

Global 0,092 0,092

***p < 0,001

70
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Gráfico 3 – Histogramas da escala global das atitudes e dimensões, com curva de


normalidade

71
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Tendo em conta estes pressupostos, as hipóteses formuladas para este estudo foram
testadas, recorrendo aos seguintes testes não paramétricos:
- Teste U de Mann-Whitney;
- Teste de Kruskal-Wallis.

No tratamento dos dados, foram utilizados os seguintes níveis de significância:


 p > 0.05 – não significativo
 p < 0.05 – significativo
 p < 0.01 – bastante significativo
 p < 0.001 – altamente significativo

As hipóteses foram testadas com uma probabilidade de 95%, de onde resulta um nível
de significância de 5% ( =0,05). Este nível de significância permite-nos afirmar com
uma "certeza" de 95%, caso se verifique a validade da hipótese em estudo, a existência
de uma relação causal entre as variáveis.

Os critérios de decisão para os testes de hipóteses, baseiam-se no estudo das


probabilidades, confirmando-se a hipótese se a probabilidade for inferior a 0,05 e
rejeitando-se, se superior a esse valor.

Para uma melhor compreensão e análise da nossa variável dependente, mantivemos os


grupos de coorte propostos pela autora da escala:

Atitudes muito favoráveis – (< Média)


Atitudes pouco favoráveis – (>Média)

72
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

5- APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Com a elaboração deste estudo, pretendíamos identificar as atitudes dos enfermeiros


relativamente ao processo de morte, bem como a influência de diversos factores (sócio-
demográficos, religiosos e profissionais) nas mesmas atitudes.

Neste capítulo, pretendemos apresentar e analisar alguns dados relativos aos resultados
dos questionários, aplicados aos enfermeiros da nossa amostra, deixando a interpretação
dos mesmos para o capítulo seguinte, da discussão dos resultados. Apresentamos os
resultados relativos às análises estatísticas dos dados colhidos, no sentido de responder à
nossa questão de investigação e hipóteses levantadas para este estudo.

Para responder à nossa questão de investigação - Quais as atitudes dos enfermeiros


perante a morte, apresentamos os resultados da escala de atitudes aplicada aos
enfermeiros inquiridos.

Relativamente às estatísticas (Quadro 10), referentes à dimensão atitudes dos


enfermeiros inquiridos perante um doente em fase terminal, encontramos um mínimo de
10 pontos e um máximo de 31 pontos, sendo que a média se centra nos 16,11 pontos,
com um desvio padrão a oscilar em torno da média de 3,74 pontos.

Quanto à dimensão reacções, verificamos um mínimo de 14 pontos e um máximo de 29


pontos, a média centra-se nos 20,64 pontos, com um desvio padrão a oscilar em torno
da média de 2,86 pontos.

No que se refere ao global das atitudes, verificamos um mínimo de 27 pontos e um


máximo de 51 pontos, a média centra-se nos 36,75 pontos, com um desvio padrão a
oscilar em torno da média de 5,140 pontos. Podemos visualizar estes dados no quadro
seguinte.

73
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Quadro 10 – Dados estatísticos relativos às atitudes dos enfermeiros perante um doente


em fase terminal

_ DESVIO PERCENTIS
Md MODA Min. Máx.
X PADRÃO
25 50 75

Atitude 16.11 16.00 15 3.74 10 31 13.00 16.00 19.00

Reacção 20.64 20.00 21 2.86 14 29 19.00 20.00 22.00

Global 36.75 36.00 35 5.140 27 51 33.00 36.00 40.00

De acordo com os dados obtidos, pela aplicação da Escala de Atitudes dos enfermeiros
perante doentes terminais, e analisando a Tabela 1 e Gráfico 4, podemos verificar que
51,30% dos enfermeiros inquiridos apresentam atitudes muito favoráveis perante um
doente em fase terminal, sendo que os restantes 48,80% apresentam atitudes pouco
favoráveis. A moda situa-se, assim, em itens considerados de resposta muito favorável,
compatível com atitudes positivas por parte do enfermeiro, no confronto doentes em fim
de vida.
Tabela 1 – Distribuição dos enfermeiros segundo as atitudes perante um doente em fase
terminal

ATITUDES N.º %

Muito favorável 41 51.30


Pouco favorável 39 48.80
TOTAL 80 100.00
M 0 = Muito favorável

Gráfico 4 – Distribuição dos enfermeiros segundo as atitudes perante um doente em


fase terminal

41
40,5
40
39,5
39
38,5
38
Muito favorável Pouco favorável
74
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Relativamente à primeira pergunta aberta do questionário: “Indique duas principais


dificuldades sentidas, enquanto enfermeiro, no lidar/cuidar da pessoa em processo de
morte”, podemos observar, na seguinte representação gráfica, as dificuldades mais
referidas pelos inquiridos do nosso estudo.

Dificuldades dos Enfermeiros no Lidar/Cuidar da Pessoa em


Processo de Morte
- Falar da morte aos doentes que sofrem e que sabem que vão morrer
- Quando o doente não tem conhecimento do diagnóstico
- Comunicar com o doente terminal
- Responder às questões do doente sobre a morte
- Lidar com o sofrimento físico e emocional do doente
- Lidar com a dor do doente quando esta é insuportável e difícil de aliviar
- Controlar os sintomas da pessoa em processo de morte
- Conseguir adequada prescrição analgésica
- Dificuldade quando se trata de doentes jovens em processo de morte
- Comunicar más notícias
- Não conseguir controlar a dor
- Consciencializar o doente para a sua fase terminal
- Impotência para travar o sofrimento
- Frustração por não conseguir reverter a situação de morte
- Angustia na fase de agonia do doente
- Satisfazer a necessidade de frequência de posicionamentos
- Pedido para antecipação da morte
- Conseguir proporcionar o máximo de conforto possível
- Falta de disponibilidade para permanecer junto do doente

Pela análise das respostas, dos enfermeiros da nossa amostra, constatamos que, as suas
maiores dificuldades perante um doente terminal ou em processo de morte prendem-se,
maioritariamente, com o falar abertamente sobre o tema da morte e, sobre as respostas a
dar a um doente que se encontra próximo do fim de vida. Os enfermeiros sentem
dificuldade em presenciar de perto o sofrimento físico e emocional do doente, sentindo-
se impotentes e frustrados por não conseguirem aliviar o sofrimento e a dor deste. A
comunicação é outra dificuldade muito apontada pelos enfermeiros, nomeadamente a
comunicação com o doente terminal, esclarecimento de dúvidas sobre a evolução e
prognóstico da sua situação. Houve ainda, enfermeiros que apontaram como
dificuldades no lidar/cuidar de doentes em processo de morte, o facto da falta de tempo
para permanecer junto dos seus doentes.
75
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Quanto à segunda pergunta aberta do questionário: “Indique duas principais


dificuldades, enquanto enfermeiro, no relacionamento com os familiares do doente em
processo de morte”, obtivemos diversas respostas, tal como podemos verificar na
seguinte representação gráfica.

Dificuldades dos Enfermeiros no Relacionamento com os Familiares


da Pessoa em Processo de Morte
- Comunicar o falecimento à família por telefone (por não estar presente)
- Informar os familiares do estado crítico do doente no sentido de reduzir
falsas esperanças
- Comunicar o óbito
- Comunicação (escolha das palavras) e a privacidade (ausência de)
- Dificuldade em facultar aos familiares algo que vai contra as normas da
instituição
- Comunicação de más notícias
- Lidar com o sofrimento dos familiares perante a perda eminente do seu
ente querido
- Permitir que a família permaneça o maior tempo possível junto do doente
terminal, o que nem sempre é possível por condicionalismos do serviço
- Manter uma postura firme e não me envolver demasiado
- Falar abertamente sobre a morte que se aproxima
- Dificuldade na transmissão das más notícias, principalmente em
situações de morte súbita/inesperada
- Falta de condições para que a família faça um acompanhamento, junto do
doente, na altura da morte no serviço de urgência
- A dor/angústia da família
- Falta de tempo para prestar apoio à família
- Sabermos que a família nunca está preparada para a perda do familiar
- Dificuldade no doseamento de informação e preparação dos familiares
para a perda do ente querido
- Dificuldade em lidar com sofrimento dos familiares
- Explicar aos familiares que, por vezes, o mais importante são os cuidados
de conforto em detrimento dos cuidados curativos

Observando as respostas anteriores, relativas às dificuldades sentidas pelos enfermeiros,


no relacionamento com os familiares do doente em processo de morte, podemos
salientar o aspecto da comunicação com a família, comunicação relativa a informações
sobre o estado de saúde do ente querido, e a comunicação do óbito. Em relação à
comunicação de más notícias aos familiares, a dificuldade por parte do enfermeiro é
ainda maior, quando se trata de doentes jovens que se encontram em processo de morte,
76
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

ou quando ocorre uma morte de causa súbita ou inesperada, em que a família não se
encontra preparada para essa perda. Os enfermeiros apontaram também como
dificuldade, o facto de não existir no serviço um local apropriado, com privacidade e
ambiente propício para receber os familiares.

Após a análise descritiva dos dados obtidos, descrita anteriormente, passamos de


seguida à abordagem inferencial dos mesmos, através da estatística analítica.

Procedemos, assim, à verificação da validade das hipóteses, associando algumas das


variáveis independentes em estudo, à nossa variável dependente. As hipóteses
formuladas foram testadas através de testes não paramétricos, nomeadamente Testes U
de Mann-Whitney, Testes de Kruskal-Wallis e Correlação de Spearman.

Com a finalidade de saber quais os factores que influenciam as atitudes e suas


dimensões, apresentamos as hipóteses que se seguem, na tentativa de encontrar alguma
diferença estatisticamente significativa entre as variáveis em causa.

HIPÓTESE 1 – HÁ RELAÇÃO ENTRE A IDADE E A ATITUDE DO


ENFERMEIRO PERANTE A MORTE.

Para averiguarmos a existência de relação entre a idade e a atitude do enfermeiro


perante a morte, utilizámos um teste de correlação de Spearman. Pela análise do Quadro
11, verificamos a existência de correlações positivas, fracas, em todas as dimensões, que
nos indicam que com o aumento da idade, aumenta o score da escala de atitudes, e
consequentemente pioram as atitudes dos enfermeiros perante a morte.

Constatamos que essas associações revelam-se com diferenças estatísticas significativas


para o global das atitudes (p=0,034), e na dimensão atitudes (p=0,008), o que nos leva a
concluir que a hipótese por nós formulada (H1) é aceite, rejeitando-se a hipótese
estatística (H0). Assim, podemos afirmar que há relação entre a idade dos enfermeiros
constituintes da nossa amostra e as suas atitudes perante a morte.

77
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Quadro 11 – Resultado da Correlação de Spearman entre a idade e a atitude do


enfermeiro perante a morte

Dimensões r P

Atitude 0.296 0.008**


Reacção 0.072 0.527
Global 0.237 0.034*

*p < 0,05 **p < 0,01

HIPÓTESE 2 – HÁ RELAÇÃO ENTRE O SEXO E A ATITUDE DO ENFERMEIRO


PERANTE A MORTE.

Para conhecermos a influência do sexo nas atitudes do enfermeiro perante a morte,


elaborámos esta hipótese, utilizando um Teste U de Mann-Whitney para testar a mesma.
Podemos verificar (Quadro 12) que, os enfermeiros do sexo masculino apresentam
médias superiores na dimensão atitudes e no global das mesmas, o que significa que,
apresentam piores atitudes perante a morte, com excepção para a dimensão Reacções,
em que neste caso o score é mais elevado nas enfermeiras.

No entanto, quer para cada uma das dimensões, quer em termos de global da escala
(p=0,817), não se verificam diferenças estatisticamente significativas, o que nos leva a
concluir que a hipótese por nós formulada (H1) não é aceite, prevalecendo a hipótese
estatística (H0). Concluímos, assim, que não existe relação entre o sexo e a as atitudes
do enfermeiro perante a morte.

Quadro 12 – Resultados do Teste U de Mann-Whitney entre o sexo e as atitudes dos


enfermeiros perante a morte
Masculino Feminino
Sexo _ _ Z p
X X

Atitudes 46,25 38,04 -1,455 0,146

Reacções 34,54 43,05 -1,514 0,130

Global 41,42 40,11 -0,232 0,817

78
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

HIPÓTESE 3 – HÁ RELAÇÃO ENTRE O ESTADO CIVIL E A ATITUDE DO


ENFERMEIRO PERANTE A MORTE.

Para conhecermos a influência do estado civil nas atitudes do enfermeiro perante a


morte, elaborámos esta hipótese, testando-a através de um Teste de Kruskal-Wallis.
Verificamos, pela análise do Quadro 13, que em termos de atitude global, os
enfermeiros separados/divorciados são os que apresentam melhores atitudes, seguidos
dos solteiros. Os enfermeiros casados/união de facto são os que revelam atitudes menos
favoráveis perante a morte.

Assim, constatamos a inexistência de diferenças estatisticamente significativas em


nenhuma das dimensões e no global das atitudes (p=0,103), o que nos leva a concluir
que a hipótese por nós formulada (H1) não é aceite, prevalecendo a hipótese estatística
(H0). Tal resultado significa que, não existe relação entre o estado civil do enfermeiro e
a atitude deste perante a morte.

Quadro 13 – Resultado do Teste de Kruskal-Wallis entre o estado civil e as atitudes do


enfermeiro perante a morte

Solteiro Casado Separado


Estado civil KW p
_ _ _
X X X

Atitudes 38,40 42,13 5,00 5,142 0,076

Reacções 42,93 40,41 25,00 1,073 0,585

Global 41,17 41,44 6,00 4,544 0,103

HIPÓTESE 4 – HÁ RELAÇÃO ENTRE AS HABILITAÇÕES ACADÉMICAS E A


ATITUDE DO ENFERMEIRO PERANTE A MORTE.

Elaborámos esta hipótese, para sabermos qual a influência das habilitações académicas
nas atitudes do enfermeiro perante a morte, e para a testar utilizamos um Teste de
Kruskal-Wallis. Pela análise do Quadro 14, verificamos que em termos de atitude
global, os enfermeiros detentores do grau de mestrado são os que apresentam melhores
atitudes, seguidos dos enfermeiros com uma especialização. Os enfermeiros licenciados
são os que revelam atitudes menos favoráveis perante a morte.
79
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Portanto, constatamos a existência de diferenças estatisticamente significativas apenas


para a dimensão reacções (p=0,020), ausência de significado estatístico para a dimensão
atitudes (p=0,535) e para o global (p=0,164), o que nos leva a concluir que a hipótese
por nós formulada (H1) não é aceite, prevalecendo a hipótese estatística (H0). Ou seja,
podemos afirmar que, não há relação entre as habilitações académicas e a atitude do
enfermeiro perante a morte.

Quadro 14 – Resultado do Teste de Kruskal-Wallis relacionando as habilitações


académicas e a atitude do enfermeiro perante a morte

Habilitações Licenciatura Especialização Mestrado


_ _ _ KW p
Académicas
X X X

Atitudes 41,26 35,70 52,50 1,252 0,535

Reacções 43,77 31,13 7,75 7,788 0,020*

Global 42,95 32,53 23,00 3,616 0,164

*p < 0,05

HIPÓTESE 5 – HÁ RELAÇÃO ENTRE A CRENÇA RELIGIOSA E A ATITUDE DO


ENFERMEIRO PERANTE A MORTE.

Para conhecermos a influência da crença religiosa nas atitudes do enfermeiro perante a


morte, elaborámos esta hipótese, e para a testar utilizamos um Teste U de Mann-
Whitney. O Quadro 15 mostra-nos que, os enfermeiros católicos apresentam médias
superiores nas dimensões atitudes e reacções e no global das atitudes, significando
piores atitudes.

Contudo, quer para cada uma das dimensões, quer em termos de global (p=0,220), não
se verificam diferenças estatisticamente significativas, o que nos leva a concluir que a
hipótese por nós formulada (H1) não é aceite, prevalecendo a hipótese estatística (H0).
De acordo com estes resultados, podemos afirmar que, não existe relação entre a
crença religiosa do enfermeiro e as suas atitudes perante a morte.

80
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Quadro 15 – Resultado do Teste U de Mann-Whitney entre a crença religiosa e a


atitude do enfermeiro perante a morte
Católica Nenhuma
Crença _ _ Z p
X X

Atitudes 40,90 34,50 -0,599 0,549

Reacções 41,14 30,90 -0,962 0,336

Global 41,32 28,20 -1,225 0,220

HIPÓTESE 6 – HÁ RELAÇÃO ENTRE A PRÁTICA DA RELIGIÃO E A ATITUDE


DO ENFERMEIRO PERANTE A MORTE.

Elaborámos esta hipótese, no sentido de perceber qual a influência da prática da religião


na atitude do enfermeiro perante a morte. Para testá-la, utilizamos um Teste de Kruskal-
Wallis (Quadro 16), de onde realçamos que, em termos de atitude global, os enfermeiros
que mais praticam a religião são os que apresentam melhores atitudes, seguidos dos que
nada praticam. Os enfermeiros, que revelam uma prática moderada da religião, são os
que revelam atitudes menos favoráveis. Assim, constatamos a existência de diferenças
estatisticamente significativas apenas para a dimensão atitudes (p=0,038), ausência de
significado estatístico para a dimensão reacções e para o global das atitudes (p=0,061),
o que nos leva a concluir que a hipótese por nós formulada (H1) não é aceite,
prevalecendo a hipótese estatística (H0). Concluímos, portanto, que não há relação
entre a prática religiosa e a atitude do enfermeiro perante a morte.
Quadro 16 – Resultado do Teste de Kruskal-Wallis entre a prática da religião e a
atitude do enfermeiro perante a morte

Muito Moderado Pouco Nada


Prática da Religião _ _ _ _
KW p
X X X X

Atitudes 12,00 36,63 43,05 24,40 8,396 0,038*

Reacções 26,50 46,00 34,08 25,90 7,752 0,051

Global 13,83 41,95 38,88 22,30 7,364 0,061

*p < 0,05

81
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

HIPÓTESE 7 – HÁ RELAÇÃO ENTRE A CATEGORIA PROFISSIONAL E A


ATITUDE DO ENFERMEIRO PERANTE A MORTE.

No sentido de averiguar a influência da categoria profissional do enfermeiro na sua


atitude perante a morte, utilizamos um Teste de Kruskal-Wallis.

Visualizando o Quadro 17 verificamos que, em termos de atitude global, os enfermeiros


especialistas são os que apresentam melhores atitudes perante a morte, seguidos dos
enfermeiros chefes. Os enfermeiros graduados são os que revelam atitudes menos
favoráveis perante a morte.

Constatamos a inexistência de diferenças estatisticamente significativas, quer para as


dimensões atitudes e reacções, quer para o global das atitudes (p=0,755), o que nos leva
a concluir que a hipótese por nós formulada (H1) não é aceite, prevalecendo a hipótese
estatística (H0). Estes resultados significam que, não existe relação entre a Categoria
Profissional do enfermeiro e a sua atitude perante a morte.

Quadro 17 – Resultado do Teste de Kruskal-Wallis entre a categoria profissional e a


atitude do Enfermeiro perante a morte
Enfº Enfº
Enfº Enfº Chefe
Categoria Graduado Especialista
Profissional _ _ _ _ KW p
X X X X

Atitudes 37,39 42,02 39,08 40,00 0,641 0,887

Reacções 43,34 40,52 30,67 36,00 1,465 0,690

Global 40,80 41,56 30,67 39,00 1,194 0,755

82
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

HIPÓTESE 8 – HÁ RELAÇÃO ENTRE O TEMPO DE EXERCÍCIO


PROFISSIONAL E A ATITUDE DO ENFERMEIRO PERANTE A MORTE.

No sentido de conhecermos a relação entre o tempo de exercício profissional do


enfermeiro e as suas atitudes perante a morte, elaborámos esta hipótese, sendo que para
a testar utilizamos um Teste de Kruskal-Wallis.

Da observação do Quadro 18 salientamos que, em termos de atitude global, os


enfermeiros com mais de 25 anos de serviço são os que apresentam melhores atitudes,
seguidos dos enfermeiros com menos de 15 anos. Os enfermeiros, com tempo de
exercício profissional compreendido entre os 16-25 anos, são os que revelam atitudes
menos favoráveis.

Podemos verificar, a existência de diferenças estatísticas altamente significativas para a


dimensão atitudes (p=0,002) e para o global das atitudes (p=0,001), o que nos leva a
concluir que a hipótese por nós formulada (H1) é aceite, rejeitando-se a hipótese
estatística (H0). Tal resultado leva-nos a concluir que, há relação entre o tempo de
exercício profissional e a atitude do enfermeiro perante a morte.

Quadro 18 – Resultado do Teste de Kruskal-Wallis entre o tempo de exercício


profissional e a atitude do enfermeiro perante a morte

< 15 Anos 16-25 Anos > 25 Anos


Tempo Exercício
KW p
Profissional _ _ _
X X X

Atitudes 36,46 59,20 32,90 12,166 0,002**

Reacções 37,98 53,27 32,50 5,928 0,052

Global 36,48 60,63 28,40 14,483 0,001**

** p < 0,01

83
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

HIPÓTESE 9 – HÁ RELAÇÃO ENTRE O SERVIÇO ONDE EXERCE FUNÇÕES E


A ATITUDE DO ENFERMEIRO PERANTE A MORTE.

Para conhecermos a influência do serviço onde o enfermeiro exerce funções, nas suas
atitudes perante a morte, utilizámos um Teste de Kruskal-Wallis.

Da análise do Quadro 19, podemos verificar que, em termos de atitude global, os


enfermeiros do serviço medicina são os que apresentam melhores atitudes, seguidos dos
enfermeiros do serviço de ortopedia. Os enfermeiros do serviço de cirurgia são os que
revelam atitudes menos favoráveis perante a morte.

Constatamos a inexistência de diferenças estatisticamente significativas, quer para as


dimensões atitudes e reacções, quer para o global (p=0,755), levando-nos a que a
hipótese por nós formulada (H1) não seja aceite, prevalecendo a hipótese estatística
(H0). Concluímos assim que, não há relação entre o serviço onde o enfermeiro exerce
funções e a sua atitude perante a morte.

Quadro 19 – Resultado do Teste de Kruskal-Wallis entre o serviço onde exerce funções


e a atitude do enfermeiro perante a morte

Medicina Cirurgia Ortopedia Urgência


Serviço _ _ _ _
KW p
X X X X

Atitudes 28,53 43,88 46,31 42,06 5,727 0,126

Reacções 37,19 49,15 41,06 38,54 2,426 0,489

Global 30,31 49,19 43,84 40,40 5,251 0,154

84
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

HIPÓTESE 10 - HÁ RELAÇÃO ENTRE O TIPO DE MORTE, COM QUE MAIS SE


CONFRONTOU NO ÚLTIMO ANO, E A ATITUDE DO ENFERMEIRO PERANTE
A MORTE.

Elaborámos esta hipótese, no sentido de averiguarmos qual a influência que o tipo de


morte com que o enfermeiro mais se confrontou no último ano, exerce sobre as suas
atitudes perante a morte.

Para testar esta hipótese utilizámos um Teste U de Mann-Whitney, onde verificamos,


pela observação do Quadro 20, que os enfermeiros que presenciaram um tipo de morte
súbita/inesperada, apresentam valores médios superiores em todas as dimensões e no
geral das atitudes, o que significa piores atitudes ou atitudes menos favoráveis, com
excepção para a dimensão reacções, em que as piores atitudes são demonstradas por
quem presenciou morte após um estado de doença crónica terminal/terminal.

Todavia, quer para cada uma das dimensões, quer em termos de valor global (p=0,841),
não se verificam diferenças estatisticamente significativas, o que nos leva a rejeitar a
hipótese por nós formulada (H1), prevalecendo a hipótese estatística (H0). Ou seja, não
há relação entre o tipo de morte com que o enfermeiro mais se confrontou no último
ano, e as suas atitudes perante a mesma.

Quadro 20 – Resultado do Teste U de Mann-Whitney entre o tipo de morte com que o


enfermeiro mais se confrontou no último ano e a sua atitude perante a mesma

Morte Doença
Tipo de Morte Súbita/Inesperada Crónica/Terminal Z p
_ _
X X

Atitudes 43,77 37,93 -1,086 0,277

Reacções 37,18 41,55 -0,816 0,414

Global 40,70 39,62 -0,200 0,841

85
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

HIPÓTESE 11 – HÁ RELAÇÃO ENTRE A FORMAÇÃO FREQUENTADA E A


ATITUDE DO ENFERMEIRO PERANTE A MORTE.

No sentido de averiguarmos, qual a influência da formação frequentada pelos


enfermeiros inquiridos nas suas atitudes perante a morte, elaborámos esta hipótese,
utilizando para o seu teste, um Teste U de Mann-Whitney, cujos resultados estão
apresentados no Quadro 21. Neste, podemos destacar que os enfermeiros que não
frequentaram formações, apresentam médias superiores em todas as dimensões e no
global das atitudes. Tal resultado significa piores atitudes dos enfermeiros perante a
morte.

Quer para a dimensão atitudes, quer em termos de global (p=0,005), verificam-se


diferenças estatisticamente significativas, o que nos leva a aceitar a hipótese por nós
formulada (H1), rejeitando-se a hipótese estatística (H0). Podemos concluir, assim, que
existe relação entre a formação frequentada e a atitude do enfermeiro perante a morte.

Quadro 21 – Resultado do Teste U de Mann-Whitney entre a formação frequentado


pelos enfermeiros, nos últimos dois anos, e a atitude destes perante a morte

Sim Não
Frequentou formação _ _
Z p
X X

Atitudes 29.62 45.45 -2.835 0.005**

Reacções 35.68 42.69 -1.261 0.207

Global 29.78 45.37 -2.788 0.005**

**p<0,01

86
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

6- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo serve para uma discussão detalhada dos resultados obtidos, onde
procuramos salientar os resultados mais relevantes, face aos objectivos traçados. Será
efectuada uma síntese e apreciação crítica dos resultados, no sentido de os confrontar
entre si e com outros estudos já existentes.

No presente estudo, a amostra inquirida é constituída por 80 enfermeiros que exercem


funções no Hospital São Teotónio de Viseu e Hospital Cândido Figueiredo de Tondela,
sendo maioritariamente do sexo feminino (70,00%). As idades dos enfermeiros
inquiridos variam entre um mínimo de 25 anos, e um máximo de 57 anos, apresentando
uma média 35.58 anos, o que nos permite verificar que estamos perante uma amostra de
enfermeiros maioritariamente jovens. Estes dados são congruentes com os valores da
população, uma vez que a profissão de enfermagem é predominantemente exercida por
enfermeiras, tal como refere Benner (2001). Consultando os dados estatísticos
disponíveis na Ordem dos Enfermeiros (OE, 2010) relativos à classe, em Janeiro de
2011, podemos verificar que, cerca de metade dos seus membros no activo apresentam
idade abaixo dos 35 anos, sendo maioritariamente enfermeiras (+/-81%).

Relativamente ao estado civil, verificamos que a grande maioria (78,80%) dos


enfermeiros inquiridos, são casados ou vivem em união de facto, podendo estes
resultados ser justificados pela faixa etária em que se enquadram. Também na realidade
da população portuguesa se verifica que, no geral, a maioria dos cidadãos são casados
ou vivem em união de facto, de acordo com os dados publicados pelo INE (Instituto
Nacional de Estatística).

Dos enfermeiros inquiridos, 78,80% são licenciados, 18,80% são detentores de um


curso de pós-licenciatura de especialização e apenas 2,50% possuem um mestrado.
Estes resultados vão ao encontro da caracterização dos enfermeiros portugueses, a nível
das habilitações académicas, inscritos na Ordem dos Enfermeiros Portugueses.

87
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

No que se refere à crença religiosa, a grande maioria dos enfermeiros da amostra


(93,80%) referem ser católicos, sendo que apenas 4, 00% consideram praticar muito a
sua religião. Consultando os dados de relatórios do INE de 2001, referentes às
características religiosas, constatamos que na cultura portuguesa a religião católica é a
que possui mais seguidores. No entanto, a sua prática tem vindo, ao longo dos anos a
diminuir, assistindo-se a um profundo declínio da igreja católica, por força da influência
de outras religiões, assim como pela desmotivação dos católicos, face a atitudes muito
conservadoras por parte da igreja católica e dos seus representantes (Carreto, 2010).
Também, no nosso estudo, verificamos que a maioria dos enfermeiros inquiridos
revelam ser pouco ou nada praticantes da sua religião.

Em relação à categoria profissional, 63,80% dos enfermeiros inquiridos são enfermeiros


graduados, situação que era previsível, tendo em conta a forma de progressão na
Carreira de Enfermagem, em que os enfermeiros após 6 anos de exercício profissional
progridem automaticamente, para a categoria de enfermeiro graduado. A percentagem
reduzida de enfermeiros nas categorias de enfermeiro especialista e enfermeiro-chefe,
justificam-se pelo acesso às mesmas se realizar por intermédio de concurso público,
pelo que são bastante limitados nas instituições de saúde.

A nível profissional, os enfermeiros inquiridos são maioritariamente jovens, com um


tempo médio de exercício profissional de 12,72 anos, pelo que podemos inferir que se
encontram, relativamente, em inicio de carreira, estando estes resultados em
consonância com os dados da população da enfermagem portuguesa, divulgados pela
Ordem dos Enfermeiros. Estes valores justificam-se, em parte, pela proliferação de
escolas de enfermagem no país, e consequente aumento do número de enfermeiros
formados pelas mesmas, ao longo da última década, e que faz com que tenhamos uma
população de enfermagem jovem em tempo de serviço. Por outro lado, temos as
alterações socioprofissionais onde se tem assistido, nos últimos 10 a 15 anos, a um
elevado número de aposentações na população em geral, e nos enfermeiros em
particular.

Relativamente ao local de trabalho dos inquiridos, a maioria dos enfermeiros (70%)


pertence ao Hospital São Teotónio de Viseu e apenas 30% exercem funções no Hospital
Cândido Figueiredo de Tondela, estando estes valores adequados, proporcionalmente, à
dimensão de cada instituição em causa. Os elementos da amostra pertencem aos
88
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

serviços de Medicina interna, Cirurgia, Ortopedia e Urgência Geral, sendo este último, o
mais representado com 43,80%.

Quanto ao tipo de morte com que os enfermeiros inquiridos mais se confrontaram no


último ano, 63,80% referiu a morte decorrente de doença crónica/terminal. Olhando
para a realidade nacional, assistimos a um aumento da esperança de vida dos
portugueses, que segundo as Tábuas de Mortalidade para o triénio 2006/2008
divulgadas pelo INE, se situa nos 78,70 anos. Com este aumento da esperança média de
vida, acompanhada da evolução da medicina, com os seus recursos diagnósticos e
terapêuticos, as pessoas morrem mais tarde, maioritariamente, por causas de doenças
crónicas, terminais como o exemplo de neoplasias. Os dados obtidos neste estudo,
relativos ao tipo de morte, vêm ao encontro dos obtidos por Saraiva (2009), num
trabalho desenvolvido no âmbito desta temática.

O contacto com uma situação de morte súbita/inesperada verificou-se mais, em


enfermeiros que exercem funções no serviço de urgência geral. Na realidade, as mortes
decorrentes de doença arrastada acontecem com maior prevalência nos serviços de
internamento, e as mortes súbitas ou inesperadas ocorrem, maioritariamente, fruto de
acidentes ou doença aguda, e são vivenciados no serviço de urgência (Saraiva, 2009).

A nível de formação frequentada pelos enfermeiros inquiridos, nos últimos dois anos, a
grande maioria participou em cursos relacionados com cuidados paliativos/doente
terminal, suporte básico e avançado de vida e em outras temáticas na área de saúde.
Contudo, uma grande parte dos enfermeiros da nossa amostra, não desenvolveu
qualquer formação específica na área de ética.

Constatamos, pela consulta dos programas de formação desenvolvidos pelos DEP


(Departamento de Educação Permanente) do HCF e do HST nos últimos dois anos, que
tem sido uma aposta forte, a formação em áreas de práticas de emergência, que
englobam o suporte básico e avançado de vida e trauma, destinada preferencialmente a
enfermeiros que exercem funções no serviço de urgência geral. Por outro lado,
verificaram-se diversas formações na área de geriatria, cuidados ao doente
terminal/cuidados paliativos, sendo estas direccionados, preferencialmente, a pessoal de
enfermagem dos serviços de internamento.

89
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

No caso particular do HCF verificamos, ao longo do ano de 2009 e 2010, uma estratégia
clara, por parte da enfermeira responsável pelo DEP, em desenvolver formações
relacionadas com cuidados paliativos, uma vez que esta instituição se encontrou em
remodelação da sua estrutura física, com vista a abertura de novos serviços, com
valências de cuidados paliativos e serviço de convalescença. A nível do serviço de
urgência, a principal prioridade do DEP, foi direccionada a formações de SBV e SAV,
com o intuito de melhorar o nível de conhecimentos, dos seus enfermeiros, na área de
emergência e, consequente melhoria dos cuidados prestados por estes à população que
ali recorre diariamente. De referir também, o facto de este tipo de formação constituir
um dos requisitos do perfil de um enfermeiro de serviço de urgência.

Relativamente à nossa pergunta aberta, onde questionámos os enfermeiros inquiridos


sobre as principais dificuldades sentidas, no lidar/cuidar da pessoa em processo de
morte, a grande maioria apontou a sensação de impotência perante a morte, por não
conseguirem fazer mais para aliviar o sofrimento dos doentes terminais e não
conseguirem evitar a morte, o presenciar da fase de agonia do doente terminal e todo o
sofrimento do doente e dos familiares. Sulzbacher et al (2009) referem que os
enfermeiros, diante da morte de um paciente, questionam-se, sentem-se impotentes e,
inclusive, limitados na sua acção, dependendo da decisão médica, de investir ou não em
manobras de reanimação.

A comunicação com o doente, que se encontra em processo de morte, foi das


dificuldades mais referidas pelos enfermeiros inquiridos. Dificuldade em falar da morte
com o doente, em responder às questões colocadas por este sobre a sua doença terminal,
e sobre a morte que se aproxima. Estas dificuldades, manifestadas pelos enfermeiros do
nosso estudo, são congruentes com Martins (2007) ao afirmar que a transmissão de
informações ao doente pode ser um processo complexo para os enfermeiros,
especialmente quando estamos perante uma doença grave. Também Pacheco (2002,
p.128) refere que, “…mesmo compreendendo que os cuidados devem ser mantidos até
terminar a vida do doente, muitos enfermeiros sentem dificuldade em lidar tão de perto
com o morrer e, sobretudo, em comunicar quer com o doente, quer com a família”.

A falta de disponibilidade de tempo, para permanecer junto do doente, foi outra das
dificuldades apontadas pelos enfermeiros do nosso estudo. Sulzbacher et al (2009)
referem que nos hospitais, habitualmente, a enfermagem substitui a família. No entanto,
90
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

muitas vezes os profissionais não estão preparados, não dispõem de tempo e de


condições internas para se envolverem com o paciente.

Relativamente às dificuldades vivenciadas pelos enfermeiros, Saraiva (2009) partilha da


mesma opinião, referindo que as maiores preocupações dos enfermeiros, que lidam com
doentes em processo de morte, relacionam-se com sentimentos de impotência e
frustração, angústia e tristeza, com a dificuldade em dar respostas às questões do doente
e com a falta de tempo e disponibilidade. Os profissionais de enfermagem, que cuidam
de doentes em fim de vida, têm medo da sua fragilidade perante o sofrimento do outro,
medo de se sentirem impotentes, o que dificulta o esclarecimento de dúvidas do doente.

Costa (2005), a respeito do lidar com doentes em fase terminal, refere que,
frequentemente os enfermeiros vivenciam sensações de frustração, incapacidade,
fragilidade, dor, medo, dificuldade de aceitação, tristeza e luto em decorrência da morte
de pacientes sob seus cuidados.

Henriques et al. (1995) referem que, por vezes, surgem no enfermeiro sentimentos de
insegurança e impotência perante uma situação de morte. Relativamente à falta de
tempo e disponibilidade, estes autores mencionam que “muitas vezes falta-nos tempo,
outras vezes falta-nos paciência, outras vezes também, sobra-nos o medo, o medo da
nossa própria morte, o medo daquilo a que o dialogo com o moribundo poderá levar…”
(1995, p.15).

Os enfermeiros inquiridos apontaram, ainda como dificuldade, no lidar com doentes em


processo de morte, o facto de quando se trata de doentes em idade jovem. Estas
dificuldades são também mencionadas por Costa (2005), que nos afirma que a morte de
crianças ou pessoas jovens, interpretada como interrupção no seu ciclo biológico,
provoca nos enfermeiros inúmeros sentimentos, incluindo impotência, fracasso,
frustração, tristeza, dor, sofrimentos e angústia. Também Loureiro (2001), partilha da
opinião de que, a morte é aparentemente mais bem aceite em pessoas idosas, do que em
crianças ou pessoas em idade jovem, uma vez que os mais idosos realizaram um
percurso de vida e desempenharam algumas funções, e pelo contrário, as pessoas
jovens, por vezes de forma súbita, morrem sem terem a oportunidade de delinearem um
projecto de vida.

91
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

No que se refere às dificuldades sentidas pelos enfermeiros, no relacionamento com os


familiares do doente em processo de morte, grande parte dos inquiridos referiram a
comunicação com os mesmos. Comunicação do falecimento ou notícia do óbito aos
familiares, a dificuldade na transmissão das más noticias, principalmente em situações
de morte súbita ou inesperada, a dificuldade do enfermeiro em escolher as palavras
certas de conforto para apoiar a família, dificuldade em encontrar a estratégia melhor
para falar da morte aos familiares. Na opinião de Martins (2009), a comunicação de más
notícias, especialmente em situações limite, continuam a ser uma situação difícil para os
enfermeiros, devendo ser uma área às quais o gestor tem de dar atenção especial.
Segundo este, uma boa estratégia passa pela realização de dramatizações roll-play a
partir de eventos críticos, seguidos de discussão no seio da equipa.

A incapacidade de controlar determinados sintomas no doente é, segundo os


enfermeiros inquiridos, um facto difícil de explicar à família. O presenciar da dor e da
angústia dos familiares, a falta de tempo para escutar a família, para poder ouvir mais e
dar mais apoio. O facto de explicar aos familiares que, por vezes, o mais importante são
os cuidados de conforto, em detrimento dos cuidados curativos, são ainda dificuldades
apontadas pelos enfermeiros, no relacionamento com os familiares do doente em
processo de morte.

O presente estudo mostra que a maioria dos enfermeiros inquiridos (51,30%),


apresentam atitudes muito favoráveis ou positivas perante um doente em fase terminal,
o que está em consonância com um estudo realizado por Saraiva (2009), com 83
enfermeiros do Centro Hospitalar da Cova da Beira, onde constatou que 26,5% dos
inquiridos apresentavam uma atitude negativa face à morte e, 73,5% apresentavam uma
atitude positiva ou favorável relativamente ao confronto com doentes em fim de vida.

Neste estudo procurámos identificar os factores que influenciam a atitude dos


enfermeiros perante a morte. Assim, considerando as variáveis em estudo, averiguámos
em que medida as características sócio-demográficas (idade, sexo, estado civil e
habilitações académicas), as crenças religiosas (religião e prática da mesma) e as
características profissionais (categoria profissional, tempo de exercício profissional,
serviço, tipo de morte e formação frequentada) influem nas atitudes dos enfermeiros
perante a morte.

92
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Relativamente às características sócio-demográficas estudadas (idade, sexo, estado civil


e habilitações académicas), da nossa amostra em estudo, verificamos através dos testes
de hipóteses, que existe relação estatisticamente significativa (p<0,05) apenas na
variável idade, rejeitando-se, assim, as hipóteses de que o sexo, o estado civil e as
habilitações académicas influenciavam a atitude do enfermeiro perante a morte.

Assim, concluímos que a idade que o enfermeiro apresenta, influencia a sua atitude
perante um doente em fase terminal, ou seja, com o aumento da idade, aumenta o score
da escala nas suas dimensões e no global das atitudes e, consequentemente, pioram as
suas atitudes. Esses dados vêm contrariar as nossas expectativas, uma vez que
esperávamos que os enfermeiros mais velhos seriam aqueles com atitudes mais
favoráveis ou positivas, talvez por considerarmos que, com o avançar da idade, os
profissionais estariam mais sensíveis para questões relacionadas com a fase de
envelhecimento e de doença terminal. Também Loureiro (2001) partilha do nosso
raciocínio, ao referir que é difícil para os enfermeiros, em especial para os mais novos
ou sem experiencia de morte, saber o que dizer e como cuidar do doente em fase
terminal.

No que se refere às características religiosas dos enfermeiros, constatamos, pela


aplicação dos testes de hipóteses, que não existe relação estatisticamente significativa,
entre o facto de ser religioso, praticante ou não e a atitude destes perante um doente em
fim de vida. Estes resultados são congruentes com os de Inácio et al. (2008), em que
num estudo onde procuraram determinar a influência da religião nas atitudes dos
enfermeiros frente à morte, não encontraram resultados que confirmassem essa mesma
hipótese.

Em relação às características profissionais (categoria profissional, tempo de exercício


profissional, serviço, tipo de morte e formação frequentada) dos enfermeiros do nosso
estudo, verificamos, pela aplicação dos testes de hipóteses, que apenas existe uma
relação estatisticamente significativa (p <0,01) entre a variável tempo de exercício
profissional, e uma relação estatisticamente significativa (p <0,01) entre a variável
formação frequentada pelo enfermeiro nos últimos dois anos, na atitude destes perante a
morte.

93
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Assim, o tempo que o enfermeiro possui na profissão, influencia a sua atitude perante
situações de morte. Os enfermeiros, que possuem mais de 25 anos de exercício
profissional, são os que apresentam atitudes mais favoráveis perante a morte. Este
resultado é concordante com os obtidos por Saraiva (2009), que confirmou no seu
estudo que os enfermeiros considerados por Benner, de iniciados ou iniciados
avançados, ou seja, com menos de 3 anos de exercício profissional, são os que
apresentam uma atitude predominantemente negativa ou pouco favorável em relação à
morte. Os enfermeiros com poucos anos de exercício profissional, interiorizam muito
pouco das situações que vivenciam, dado que tudo é muito novo e estranho, e dai que
muitas das suas atitudes perante a morte não sejam as mais positivas e favoráveis. Pelo
contrário, os enfermeiros com mais anos de exercício profissional apresentam uma
atitude mais positiva no confronto com o doente em fim de vida, motivada pela
experiencia e competência que se adquire, levando a uma melhoria da actuação perante
esta situação.

Estes resultados relativos à influência do tempo de exercício profissional nas atitudes


dos enfermeiros perante a morte, apresentam um sentido oposto ao da hipótese que
relaciona a idade dos enfermeiros e suas atitudes, como referimos anteriormente. Assim,
enquanto na hipótese em que correlaciona a idade e as atitudes dos enfermeiros perante
a morte, verificamos que com o aumento da idade destes, pioram as suas atitudes no
confronto com a morte das pessoas que cuidam, já relativamente ao tempo de exercício
profissional verificamos, através da análise inferencial que, com o aumento do tempo de
serviço profissional, os enfermeiros apresentam melhores atitudes ou atitudes mais
positivas perante a morte. Tal facto poderá ter, no nosso entender, as seguintes
explicações: na variável idade utilizámos um teste de Correlação de Spearman com
valores individuais, ao contrário da variável tempo de exercício profissional, onde aqui
foram constituídos grupos. No agrupamento do tempo de serviço profissional em
classes, verificamos que o grupo de 16–25 anos é aquele em que se encontraram valores
médios mais elevados, que significam piores atitudes, o grupo de enfermeiros com ≤ 15
anos é o mais numeroso, e o de >25anos de serviço é o menos numeroso.

Por último, confirmou-se a hipótese de que há relação entre a formação frequentada


pelo enfermeiro e a sua atitude perante a morte. Os enfermeiros que não frequentaram
formação, apresentaram atitudes menos favoráveis perante doentes terminais. Pelo

94
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

contrário, o facto de os enfermeiros terem realizado formação, levou a que tivessem


atitudes mais favoráveis perante a morte. O nosso estudo veio, assim, comprovar o
impacto positivo da formação nas atitudes dos enfermeiros perante a morte.

Vários estudos têm demonstrado o efeito benéfico das formações, frequentadas pelos
profissionais de saúde, destinadas a melhorar a relação profissional com utentes em fase
terminal. Num estudo realizado por Chen, citado por Andrade (2007), este constatou
que as atitudes perante a morte se tornavam mais positivas em enfermeiros, após
frequentarem algumas horas de formação na área da morte.

Também Frommelt, in Andrade (2007), num estudo levado a cabo com 34 enfermeiros,
corrobora esta percepção, na medida em que chegou à conclusão de que as atitudes
destes face ao doente terminal, se modificavam em sentido positivo após estes
frequentarem uma formação de 2 horas, com temas acerca da morte e do morrer,
baseados em sessões de roll-play e cenários de treino da comunicação com doentes em
fase terminal.

Ao terminar esta discussão de resultados, importa referir, relativamente à nossa variável


dependente – Atitude do enfermeiro perante a morte, que os enfermeiros da nossa
amostra apresentam, de uma forma geral, uma atitude favorável ou positiva no
confronto com a morte. Essas atitudes, apresentadas pelos enfermeiros perante a morte,
estão relacionadas com a idade, o tempo de exercício profissional e a formação
frequentada pelos mesmos ao longo do seu percurso profissional.

Ao chegar à recta final deste estudo, pensamos ter atingido os objectivos inicialmente
traçados, ainda que este apresente algumas limitações. Assim podemos apontar, como
limitações deste estudo:

 O tamanho da amostra (reduzido face à população);


 O tipo e a técnica de amostragem (a escolha de determinados serviços em
detrimento de outros, o que não permite generalizar os resultados à população);
 A inexperiência por parte do investigador;
 O Instrumento de Colheita de dados utilizado, nomeadamente a sua escala de
atitudes, pelo facto da mesma não ter sido aplicada em muitos estudos,

95
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

apresentando ainda alguma imaturidade, não permitindo algumas comparações


entre outros estudos realizados.

Assim, a avaliação dos resultados provenientes deste estudo, não podem deixar de levar
em conta estas limitações, impondo-se alguma prudência na sua interpretação e
generalização dos mesmos para outras populações, sendo pois, um estudo deste
contexto específico.

96
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

CONCLUSÃO

A morte continua a ser, na actualidade, um tema bastante controverso, suscitando nos


profissionais de enfermagem, sentimentos e atitudes diversas, constituindo ainda hoje
um assunto polémico, evitado por alguns e gerando medo e ansiedade.

Actualmente, ainda muitos enfermeiros pensam que cessam as suas funções, a partir do
momento em que se sabe que um doente apresenta uma doença incurável. Estes
sentimentos, por parte dos enfermeiros, prendem-se com o facto de não estarem
preparados para enfrentar a morte, e de não possuírem formação suficiente que lhes
permita compreender a importância do cuidar de um doente em fase terminal.

O enfermeiro é o profissional de saúde mais solicitado pelos familiares de pacientes em


processo de morte, sendo que, em muitas das vezes, este se sente inseguro, confuso e
angustiado em lidar com a situação, na medida em que necessita de mais conhecimentos
técnicos para lidar com a morte, exigindo-lhe competências na dimensão física,
emocional e espiritual. Daí, a necessidade do desenvolvimento de estudos sobre o
fenómeno da morte no dia-a-dia dos enfermeiros, bem como sobre as atitudes destes
perante a mesma, com vista a uma reflexão sobre o tema e consequentemente, a uma
melhor prática profissional.

Ao terminar esta investigação, importa relembrar que o nosso objectivo, ao realizar este
estudo, se centrava em conhecermos a atitude dos enfermeiros perante a morte e
procurar a relação existente entre alguns dos factores e as mesmas atitudes.

Apesar do facto, do lidar com a morte constituir uma das maiores dificuldades com a
qual o enfermeiro se confronta no dia-a-dia profissional, verificámos ainda assim, no
presente estudo, que a maioria destes apresenta uma atitude positiva ou favorável no
confronto com a morte.

Dos resultados obtidos neste trabalho, concluímos que a idade, o tempo de exercício
profissional e a formação frequentada pelo enfermeiro ao longo do seu percurso
profissional, influencia as suas atitudes perante a morte.
97
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

Verificamos que com o aumento da idade dos enfermeiros, estes apresentam atitudes
menos favoráveis relativamente à morte, contrariando assim as nossas expectativas
iniciais, uma vez que com o aumento da idade, seria previsível uma atitude mais
positiva perante situações de doença terminal.

No que se refere ao tempo de exercício profissional, podemos concluir que os


enfermeiros que exercem funções de enfermagem há mais anos, são aqueles que
apresentam melhores atitudes ou atitudes mais positivas perante a morte.

A formação frequentada pelos enfermeiros, ao longo do seu percurso profissional,


nomeadamente com temas relacionados com doença terminal, cuidados de emergência e
suporte básico e avançado de vida influencia, favoravelmente, as atitudes destes perante
situações de doentes em processo de morte. A procura de conhecimentos, por parte dos
enfermeiros, através da frequência de acções de formação sobre temáticas nesta área,
contribui para enfrentar favoravelmente situações de morte, no sentido de melhor a
entender como parte do processo de viver. Assim, falar sobre a morte contribui para
compreender o seu significado e, consequentemente, aceitá-la com menos sofrimento.

Os resultados deste estudo têm implicações para a prática de enfermagem, na medida


em que contribuem para o conhecimento de saberes, a aplicar na prática dos cuidados
pelo enfermeiro no seu dia-a-dia, perante doentes em fim de vida. Procuramos assim,
desenvolver um estudo que contribuísse para a profissão de enfermagem, com alguns
conhecimentos na temática em causa, pelo que pensamos ter cooperado para a produção
de conhecimentos essenciais à melhoria da prática de cuidados de enfermagem perante a
morte.

Para terminar este trabalho, deixamos algumas sugestões que devem ser levadas em
conta pelos profissionais de enfermagem, e que devem abarcar diversas áreas,
nomeadamente da investigação, formação, prática de cuidados, gestão de cuidados e
gestão operacional e estratégica.

Devem ser introduzidas, ao longo do percurso profissional dos enfermeiros, formações


relacionadas com a morte e doente terminal, para que este vá adquirindo e aprofundando
conhecimentos no lidar com doentes em fim de vida, facilitando e melhorando as suas
capacidades de relação com os mesmos. Aqui, também será importante que os

98
Atitude do Enfermeiro perante a Morte

enfermeiros vão treinando estas competências relacionais, a nível prático em ambiente


de simulação, do tipo roll-play, onde poderão treinar questões relacionadas com a
comunicação com o doente em processo de morte, bem como com os familiares, assim
como a transmissão de más notícias. No final dessas sessões, será benéfico promover
uma discussão (debriefing), no seguimento dessas situações, o que é fundamental para o
crescimento ético dos enfermeiros.

Nessas reuniões onde se promove a discussão e partilha de dúvidas, ideias, medos e


anseios, por parte dos enfermeiros, deve procurar-se a presença de outros profissionais
da equipa multidisciplinar, tais como médicos, psicólogos e assistentes sociais onde
permite uma discussão mais alargada e em diferentes perspectivas.

Relativamente ao gestor do serviço ou enfermeiro chefe, sugere-se que tenha em


atenção a selecção dos enfermeiros em inicio de carreira, que vão trabalhar em serviços
onde a morte é frequente. Deve promover o desenvolvimento de competências
relacionais dos seus enfermeiros, organizando formações em serviço em torno de
temáticas relacionadas com a morte, e envolver os mesmos em reuniões de discussão de
eventos críticos, no sentido de os ajudar a lidar de forma mais positiva perante os
mesmos. O enfermeiro chefe deve ter a preocupação de não escalar enfermeiros, em
inicio de carreira, sozinhos no serviço onde o contacto com doentes em processo de
morte é frequente. Esses enfermeiros devem estar, inicialmente, acompanhados por um
enfermeiro mais experiente, de forma a melhorar o contacto relacional e as atitudes
desses perante um doente em sofrimento ou em fim de vida.

Uma outra sugestão que deixamos, após a realização deste trabalho, é a de que devem
ser realizados futuros estudos, sobre as atitudes dos enfermeiros perante a morte, em
amostras de maior dimensão, englobando outros serviços e outras populações.

Será também interessante, o desenvolvimento de trabalhos de investigação numa


vertente qualitativa, onde o investigador possa identificar e analisar as vivencias dos
enfermeiros que prestam cuidados de enfermagem, no seu dia-a-dia, a doentes em fase
final de vida.

99
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104
ANEXOS
ANEXO I
Instrumento de Colheita de Dados
ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE COIMBRA

INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS

Exmo. (a) Sr. (a) Enfermeiro(a)

Sou António Pedro Lima Tojal, enfermeiro no Hospital Cândido Figueiredo de Tondela e estou a
frequentar o Curso de Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica na Escola Superior de
Enfermagem de Coimbra. Encontro-me a desenvolver um trabalho de investigação intitulado
“Atitude do Enfermeiro perante a morte”, no âmbito da disciplina Metodologia de Investigação
em Enfermagem, sobre a orientação do Sr. Professor Doutor José Carlos Amado Martins.

O seu contributo ao preencher este questionário, ainda que voluntário, é imprescindível para a
continuidade deste estudo. Ficaria muito grato se colaborasse, exprimindo individualmente a sua
opinião. O questionário é anónimo, as respostas são confidenciais e não se pretende qualquer
avaliação individual, sendo as respostas tratadas na sua globalidade.

Obrigado pela sua atenção e disponibilidade.

Pedro Tojal

_______________________
PARTE I – DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS

Preencha os espaços indicados ou coloque um (X) nos quadrados, conforme o caso.

1. Idade: ______ Anos

2. Sexo/Género:
1 Masculino
2 Feminino

3. Estado Civil:
1 Solteiro
2 Casado / União de facto
3 Separado / Divorciado
4 Viúvo

4. Habilitações Académicas:
1 Bacharelato
2 Licenciatura
3 Pós-Licenciatura/Especialização. Área: ____________________________________
4 Mestrado
5 Outra. Qual? ________________________________________________________

PARTE II – DADOS / CRENÇAS RELIGIOSAS

5. Qual a sua Religião:


1 Católica
2 Outra. Qual? ________________________________
3 Nenhuma

5.1. Se tem Religião, considera-se praticante (Prática da Religião)?


1 Muito
2 Moderadamente
3 Pouco
4 Nada

PARTE III – DADOS PROFISSIONAIS

6. Categoria Profissional:
1 Enfermeiro (a)
2 Enfermeiro(a) Graduado(a)
3 Enfermeiro(a) Especialista
4 Enfermeiro Chefe

7. Tempo de Exercício Profissional

Na profissão:____ anos Na instituição:____ anos No actual serviço: ____anos


8. Instituição onde exerce funções: __________________________________________

9. Serviço onde exerce funções:


1 Serviço de Medicina Interna
2 Serviço de Cirurgia
3 Serviço de Ortopedia
4 Serviço de Urgência Geral

10. Tipo de morte com que mais se confrontou, no último ano:


1 Morte súbita/inesperada
2 Morte decorrente de doença crónica/terminal

11. Formação frequentada nos últimos dois anos nas seguintes áreas:

Cuidados Paliativos / Doente Terminal


1 Sim. Quantas horas? ______ Horas
2 Não

Suporte Básico e Avançado de Vida


1 Sim. Quantas horas? ______ Horas
2 Não

Ética
1 Sim. Quantas horas? ______ Horas
2 Não

11.1- Frequentou outras formações?


1 Sim
2 Não

Se respondeu Sim, quais os temas?

Tema: ______________________________________________________ Nº de horas:________


Tema: ______________________________________________________ Nº de horas:________
Tema: ______________________________________________________ Nº de horas:________

12. Indique 2 principais dificuldades sentidas, enquanto enfermeiro:

No Lidar/Cuidar da pessoa em processo de morte


__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

No relacionamento com os familiares do doente em processo de morte


__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
PARTE IV – ESCALA DE ATITUDES

(Amaro, 2001)

Este questionário é composto por um conjunto de atitudes que os enfermeiros podem ter perante um doente
em fase terminal. As pessoas não são todas iguais a lidar com este tipo de doentes, por isso, gostaríamos de
saber a sua opinião pessoal.

Leia atentamente cada uma das afirmações que se seguem e, para cada uma, assinale a sua resposta com uma
cruz (X) na coluna que acha que melhor descreve a sua maneira de pensar. Pedimos-lhe que responda sincera
e espontaneamente com base na sua maneira habitual de pensar e agir e não no seu estado de espírito de
momento. Não há respostas certas ou erradas, há apenas a sua resposta. O resultado do questionário é
absolutamente confidencial. Quando terminar, verifique se respondeu a todas as questões.

Com A Maior
Raramen-
ATITUDES Por Vezes Frequên- parte das
te
cia vezes

1 Evito falar da morte aos doentes em fase terminal.

2 Sempre que possível permaneço junto do doente em fase


terminal.
3 Habitualmente não dou oportunidade ao doente que se queixe
com dores.
Faço tudo o que está ao meu alcance para que o doente em
4
fase terminal não morra enquanto estou presente.
Procuro que os familiares estejam constantemente junto dos
5
doentes em fase terminal.
Evito que os familiares dos doentes em fase terminal estejam
6
junto do doente porque interferem no meu trabalho.

7 Evito que os doentes verbalizem os seus medos.

Incentivo a verbalização dos medos receios porque é benéfico


8
para o doente e para mim.
Procuro apoio emocional de outras pessoas para aceitar as
9
alterações dos comportamentos dos doentes em fase terminal.
Faculto, aos familiares dos doentes em fase terminal, um
10
horário de vista mais flexível.
Fico com pensamentos desagradáveis sempre que lido com
11
doentes em fase terminal.
O cuidar de um doente em fase terminal faz-me lembrar de
12
coisas passadas ou recentes.
Com A Maior
Raramen-
ATITUDES Por Vezes Frequên- parte das
te
cia vezes

Vêm-me facilmente as lágrimas aos olhos perante doentes em


13
fase terminal.
Fico triste e pensativo acerca de certas coisas quando cuido de
14
um doente em fase terminal.

15 Sinto-me atemorizado perante doentes em fase terminal.

Nestas situações procuro frequentemente os meus amigos para


16
desabafar com eles.
Tenho dificuldade em adormecer quando cuido de doentes em
17
fase terminal.
Sinto que o cuidar de um doente em fase terminal me traz
18
pensamentos constantes sobre a morte ou enterros.

19 O meu sono é agitado durante a noite.

20 Fico com sentimentos de culpa.

Obrigado!
ANEXO II
Pedido de autorização para utilização da Escala de Atitudes
ANEXO III
Pedidos de autorização aos Conselhos de Administração do Hospital
Cândido Figueiredo de Tondela e Hospital São Teotónio de Viseu, EPE
para a aplicação do Instrumento de Colheita de Dados
ANEXO IV
Respostas de autorização dos Conselhos de Administração do Hospital
Cândido Figueiredo de Tondela e Hospital São Teotónio de Viseu, EPE
para a aplicação do Instrumento de Colheita de Dados

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