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MÉDICO-CIRÚRGICA
ATITUDE DO ENFERMEIRO
PERANTE A MORTE
MÉDICO-CIRÚRGICA
ATITUDE DO ENFERMEIRO
PERANTE A MORTE
Os resultados obtidos permitiram verificar que estamos perante uma amostra de enfermeiros
jovens, com predomínio do género feminino, maioritariamente casados ou vivem em união de
facto, sendo maioria, detentores da licenciatura em enfermagem. Verificamos que a maioria
dos enfermeiros inquiridos apresentam atitudes muito favoráveis ou positivas perante um
doente em processo de morte. Das hipóteses formuladas para este estudo, confirmaram-se a
influência da idade, do tempo de exercício profissional e da formação frequentada pelos
enfermeiros ao longo do seu percurso profissional, nas atitudes que estes apresentam perante a
morte.
Dos resultados deste estudo, surgem vários contributos para a profissão de enfermagem, como
alguns conhecimentos para a compreensão desta temática, essenciais à melhoria da prática de
cuidados perante doentes em fase final de vida.
Destes achados surgem um conjunto de sugestões, apresentados no final deste trabalho, sendo
estas dirigidas a diversas áreas do exercício profissional do enfermeiro.
ABSTRACT
The transfer of death from home to hospital implies a need for changing attitudes on the part
of hospitals as structure, and by their health professionals. This reality has led to new
implications and concerns from nurses who are confronted with it daily, and before which
they feel deprived of knowledge and training to enable them to face up to a reality that every
moment stands before their eyes. Since the death, a situation that nurses find it difficult to
cope and act upon this, we developed this study with the aim of knowing the attitudes of
nurses facing death and to determine the influence of socio-demographic, religious and
professional in them.
The results indicate that this is a sample of nurses young, predominantly female, mostly
married or living with a partner, with majority holders of diploma in nursing. We found that
the majority of nurses surveyed have positive attitudes towards very favorable or a patient
death process. Of the hypotheses of this study confirmed the influence of age, exercise time
and professional training followed by nurses throughout their careers, they have attitudes
towards death.
The results of this study, there are numerous contributions to the nursing profession, as some
knowledge to understand this issue, essential to improving the practice of care towards
patients in final stage of life.
From these findings emerge a set of suggestions submitted by the end of this work, these
being directed to various areas of professional practice of nurses.
SUMÁRIO
Pág.
INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………... 19
1– ATITUDES …………………………………………………………………….. 25
4- METODOLOGIA ………………………………………………………………. 53
CONCLUSÃO …………………………………………………………………………. 97
ANEXOS
ANEXO I - Instrumento de Colheita de Dados
ANEXO II – Pedido de autorização para utilização da Escala de Atitudes
ANEXO III – Pedidos de autorização aos Conselhos de Administração do Hospital
Cândido Figueiredo de Tondela e Hospital São Teotónio de Viseu, EPE para a
aplicação do Instrumento de Colheita de Dados
ANEXO IV – Respostas de autorização dos Conselhos de Administração do Hospital
Cândido Figueiredo de Tondela e Hospital São Teotónio de Viseu, EPE para a
aplicação do Instrumento de Colheita de Dados
LISTA DE QUADROS
Pág.
Pág.
Gráfico 1- Distribuição da amostra segundo a instituição a que pertence o enfermeiro
inquirido ………………………………………………………………………………… 60
Gráfico 2 – Distribuição dos enfermeiros segundo o tipo de morte com que mais se
confrontaram no último ano …………………………………………………………….. 64
INTRODUÇÃO
Tanto em hospitais como em locais públicos, ninguém quer falar de morte, pois esta
representa um acontecimento triste para que pensemos nela, no entanto é o confronto
com ela o que mais angustia e inquieta os enfermeiros (Teixeira, 2006).
A morte não é assim uma utopia, mas antes uma realidade intrínseca à vida do
enfermeiro, pois este cuida diariamente de pessoas próximas do fim da vida. As suas
atitudes perante a morte quebram as fronteiras do biológico, ultrapassam a cultura e o
inconsciente, e exigem uma compreensão urgente e consciente. O enfermeiro é uma
pessoa que sofre como qualquer outra, com o desprezar da morte, sendo esta o
acontecimento mais desgastante no seu dia-a-dia profissional, interferindo não só com o
seu equilíbrio, como no funcionamento do hospital, que está mais preparado para curar
do que para cuidar o doente incurável.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
São poucos os que se encontram absolutamente preparados para a morte, e muito menos
o enfermeiro preparado para a morte daqueles que cuida. Por mais experiência que sinta
na assistência aos vivos, o enfermeiro quase sempre se aproxima do moribundo com um
certo sentimento de incerteza, desespero e angústia. Cuidar de pessoas que se
aproximam do fim da vida, é uma das situações mais difíceis para o enfermeiro,
constituindo um verdadeiro desafio pessoal e profissional.
Segundo Saraiva (2009), os resultados obtidos no seu estudo realizado sobre esta
temática, evidenciam que apesar da modernidade e adventos tecnológicos, os
enfermeiros ainda sentem dificuldades para lidar e agir perante a morte, levando-nos a
crer que a melhoria da qualidade dos seus cuidados e a sua execução neste domínio é,
na actualidade, um grande desafio.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Uma vez que as atitudes do enfermeiro se reflectem sobre as suas acções, pretendemos
com este estudo, conhecer a atitude destes profissionais de saúde e a forma como
enfrentam uma situação de morte.
De acordo com Saraiva (2009), dado que nos confrontamos com a morte nos nossos
contextos de trabalho, necessitamos adquirir conhecimentos e desenvolver capacidades
e competências, de forma a encarar e gerir a morte do outro que nos é semelhante.
Do ponto de vista estrutural, este trabalho desenvolve-se em duas partes. Numa primeira
parte, fazemos um enquadramento teórico, onde apresentamos uma breve revisão de
literatura sobre atitudes e sobre a morte e evolução histórica desta. A segunda parte
deste trabalho é referente ao contributo pessoal desta investigação, onde abordamos
aspectos da metodologia: o tipo de estudo e objectivos, as questões de investigação e
hipóteses, as variáveis em estudo e sua operacionalização, a população e amostra, o
instrumento de colheita de dados utilizado, os procedimentos formais e éticos, os
procedimentos no tratamento estatístico dos dados. Seguidamente, apresentamos os
dados e discutimos os resultados, terminando com um conjunto de conclusões e
sugestões com potencial para, contribuir para uma melhor compreensão da problemática
da morte, por parte dos enfermeiros no seu exercício profissional, para que possam lidar
e encarar a morte com maior naturalidade, bem como melhorar os cuidados a prestar a
utentes em fim de vida.
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PARTE UM: ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
1- ATITUDES
“Segundo a acepção de alguns psicólogos sociais de hoje, uma atitude é uma posição
mental estável, assumida com respeito a uma ideia, objecto ou pessoa” (Gleitman, 1998,
p.472).
De acordo com Lima (1993), o termo atitude vem de origem latina da palavra que une
dois termos: actus que significava acto, acção; e aptitudo que significava aptidão. Daí,
se explica que no início do século tenham existido duas expressões, que especificavam
o conceito de atitude: atitude motora e atitude mental. Para a mesma autora, a riqueza
do seu significado torna-a, também para a psicologia social, num conceito que pretende
ser mediador entre a forma de agir e a forma de pensar dos indivíduos: as atitudes são
inferidas e não directamente observadas, mas que, por outro lado, se pressupõe que têm
ligação com os comportamentos.
Em 1935, Allport considerou na sua obra Atitudes, que o conceito de atitudes era central
em psicologia social, constituindo as mesmas, elementos básicos das relações sociais. A
atitude é definida como uma tendência, uma predisposição, para responder a um
objecto, pessoa ou situação, de uma forma positiva ou negativa. A atitude implica um
estado, que orienta o indivíduo a reagir de determinado modo a um objecto, que pode
ser: uma pessoa, um grupo social, uma instituição, uma coisa, um valor, um conceito,
etc. (Monteiro e Santos, 1997)
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
não lhes dará esmola quando for solicitado, apoiará medidas para erradicar os mendigos
das ruas e produzirá um discurso contra a mendicidade. A atitude determinará reacções
semelhantes, sempre que se verifiquem situações em que determinado objecto está
implicado. Não constitui uma reacção isolada, mas um conjunto de predisposições,
reacções que se desencadeiam em determinadas situações.
Segundo Neto (1998), uma abordagem tradicional tem considerado as atitudes como
sendo multidimensionais, com uma organização relativamente duradoira. Assim, para o
modelo tripartido clássico (modelo proposto por Rosenberg e Hovland, 1960), a atitude
é uma disposição que resulta da organização de três componentes: afectiva, cognitiva e
comportamental, com a vantagem de distinguir estas três dimensões para se poderem
operacionalizar.
A componente cognitiva diz respeito a crenças e opiniões, através das quais a atitude é
expressa, embora nem sempre sejam conscientes. A crença é a informação que
aceitamos sobre uma situação, um acontecimento, um conceito, é o que acreditamos
como verdadeiro acerca do objecto.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Neto (1998, p.337), para melhor compreendermos estas três dimensões de uma atitude,
dá-nos o seguinte exemplo:
“…uma pessoa pode crer que os estudantes universitários são arrogantes (componente
cognitiva), pode sentir-se tensa face a um estudante universitário (componente afectiva) e
pode recusar-se a dar boleia a um estudante para assistir às suas aulas (componente
comportamental) ”.
Fishbein e Azjen, citado por Neto (1998, p.340), definem atitude como sendo “uma
predisposição aprendida para responder de modo consistentemente favorável ou
desfavorável em relação a dado objecto”. Outros pesquisadores, citados também por
Neto (1998), dão ênfase às cognições que se têm a respeito do objecto da atitude.
Assim, é o caso de Zanna e Rempel (1988), que definem atitude como um processo
cognitivo de categorização dos objectos, e Fazio (1989), que a caracteriza como sendo
uma associação na memória entre o objecto da atitude e a avaliação.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
demonstrar que são as atitudes que se modificam em função da acção. Este autor critica
a ideia de facto demasiado simples, de que bastaria uma pessoa estar informada (ter
conhecimento), para agir (comportamento), de forma racional.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Para além destas características, as atitudes têm outras características básicas (Ibidem).
Assim, as atitudes são inferidas do modo como os indivíduos se comportam, podendo-
se aqui incluir o comportamento de preencher um questionário. As atitudes são dirigidas
em relação a um objecto psicológico ou categoria, podendo os objectos ser diversos, tais
como: objectos tangíveis (cadeiras, casas, automóveis), pessoas, grupos, ideias
abstractas ou comportamentos. As atitudes são aprendidas, isto é, provêm da
experiência e sendo aprendidas podem ser mudadas. Para alguns psicólogos sociais
(Eaves, Eysenck e Martin, 1989; Tesser, 1993) citados por Neto (1998), as nossas
atitudes podem ser também influenciadas por factores genéticos (exemplo da música e
estilos musicais de um indivíduo).
No que se refere à formação de atitudes, temos que reconhecer que estas são
influenciadas pelo processo de socialização e logo, sofrem reflexos dos padrões
culturais vigentes. Entretanto, à medida que a pessoa se desenvolve e se torna adulta, as
atitudes vão sendo reestruturadas pelas suas experiências de vida e pela informação que
o indivíduo elabora afectiva e cognitivamente de forma selectiva. Este processo é
contínuo, dinâmico e nítido durante a vida adulta. Nesta óptica, pensamos que a
formação, consolidação e modificação de atitudes, se relaciona e depende dos valores e
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
crenças veiculados pela educação e feedback, recebidos das pessoas que estão incluídas
tanto nos grupos de pertença, como nos grupos de referência.
Para Fazio e Zana, citado por Lima (1993), as atitudes que se formam em consequência
de experiencias directas com o objecto da atitude, são mais duradouras e estáveis, mas
há muitas questões sociais que exigem um posicionamento sem experiência directa.
Nestes casos, a informação atitudinal é obtida de forma indirecta, em que os pais são,
normalmente, a primeira fonte das crenças.
resposta que não provocava anteriormente, por ter sido emparelhado com outro estímulo
que naturalmente provoca essa reacção, estamos perante condicionamento clássico.
O estudo das funções das atitudes representam a tentativa de perceber para que servem
as atitudes, e quais as razões que nos levam a manter ou não as nossas atitudes perante
forças de persuasão.
Neste contexto, Tesser e Shaffer, citado por Neto (1998), abordam algumas das funções
das atitudes: função de conhecimento, função instrumental, função de expressão de
valores e função social.
temos apenas de nos convencer de que alguma alternativa nos traria maiores
benefícios.
Função de expressão de valores – as atitudes que exprimem os nossos valores,
que reflectem os nossos auto-conceitos, têm a função de expressão de valores.
Função Social – as atitudes têm um importante papel na construção e
manutenção das identidades grupais, na integração dos indivíduos nos grupos sociais,
na formação do sentimento de pertença e de uma maneira geral, na sua preservação.
Elas podem funcionar como elementos distintivos, emblemáticos, de um determinado
grupo social.
As escalas de atitudes constituem uma das técnicas utilizadas para medir a qualidade, a
intensidade e a direcção das atitudes. Baseiam-se no pressuposto de que se podem medir
através das opiniões, sendo para isso, necessário encontrar indicadores adequados, isto
é, relevantes para a atitude que vai ser medida. (Monteiro e Santos, 1997)
A escala de Lickert é uma das escalas mais utilizadas, devido à sua economia e
facilidade de aplicação, em que se pede ao inquirido que analise o que pensa sobre um
determinado objecto, manifestando a intensidade do seu acordo ou desacordo. É
atribuído um número a cada resposta, que reflecte a direcção da atitude do inquirido, em
relação a cada afirmação. O somatório das pontuações obtidas para cada afirmação, é
dado pela pontuação total da atitude de cada inquirido. As escalas de Likert são mais
populares que as escalas de Thurstone porque além de serem confiáveis, são mais
simples de construir e permitem obter informações sobre o nível dos sentimentos dos
inquiridos, dando-lhes mais liberdade para responderem, já que não precisam de se
restringir ao simples concordo/discordo, usado pela escala de Thurstone.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Os psicólogos sociais estiveram tão interessados no estudo das atitudes durante décadas,
em grande parte, porque acreditavam que a partir das atitudes podiam prever o
comportamento. Assim, pretendiam mudar comportamentos através da influência
exercida sobre as atitudes das pessoas. (Neto, 1998)
A atitude é um conceito que se define como uma tendência para avaliar as entidades
com algum grau de favor ou desfavor, expressando-se por respostas cognitivas e
comportamentais. Deste modo, acreditamos que as atitudes se correlacionam com os
nossos comportamentos. As atitudes positivas orientam-nos para comportamentos de
aproximação, aceitação do objecto da atitude e as atitudes negativas orientam para
comportamentos de oposição, recusa, aversão do objecto da atitude.
Neste sentido de explicar a relação entre atitude e comportamento, Fazio, citado por
Neto (1998), propôs um modelo no qual enfatiza a motivação e oportunidade como
determinantes na forma como as atitudes influenciam os comportamentos. Segundo o
autor, quando o indivíduo está motivado para pensar deliberadamente no objecto da
atitude, ou seja, quando tem oportunidade para isso, as atitudes influenciam os
comportamentos. Por outro lado, quando a motivação ou oportunidade estão ausentes,
só a elevada acessibilidade às atitudes guiam o comportamento.
Na generalidade dos autores, prevalece a ideia de que as atitudes têm uma prioridade
causal relativamente ao comportamento observável.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
“A morte foi sempre tema actual, porque faz parte da vida (no reino animal é mesmo
uma forma de subsistência), e o pensar nela pode dar mais qualidade à própria vida,
aventura grandiosa e ao mesmo tempo tão frágil” (Oliveira, 1998, p.7).
Philippe Ariès escreveu alguns livros sobre a temática da morte e sua relação com o
Homem ao longo da história. Através do seu livro - Sobre a História da Morte no
Ocidente, o autor explora uma perspectiva antropológica e histórica da morte,
mostrando-nos que a atitude do Homem perante a morte sofreu grandes alterações ao
longo dos séculos e que a forma como ela é hoje encarada é, na verdade, muito recente.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
O homem submetia-se na morte a uma das grandes leis da espécie e não pensava nem
em se lhe esquivar nem em a exaltar. “Aceitava-a simplesmente como justa, o que
carecia de solenidade para marcar a importância das grandes fases por que todas as
vidas devem passar” (Ibidem, p.31).
Segundo o historiador, no início da Idade Média havia uma familiaridade com a morte,
que a elevava ao estatuto de um acontecimento público. A morte era um acontecimento
muito simples e ninguém tinha medo dela, sendo que a única preocupação residia no
facto de não serem prevenidos a tempo da sua própria morte ou então de morrerem
sozinhos. O moribundo, ao pressentir a morte, recolhia-se no seu quarto acompanhado
por familiares, amigos, crianças e vizinhos. O doente cumpria assim, um ritual em que
pedia perdão pelas suas culpas, doava os seus bens e esperava a morte chegar, não
havendo, portanto, um carácter dramático ou gestos de emoção excessivos. Ao terminar
os rituais da confissão dos seus pecados, das orações para salvação da sua alma e da
absolvição dos seus pecados pelo padre, o moribundo aguardava no leito a sua morte.
Esses momentos eram tornados públicos com uma cerimónia a que o moribundo
presidia, não havendo pressa para que a morte chegasse nem havendo motivos para que
tardasse.
E assim se foi encarando a morte, bem como os seus rituais com simplicidade, sem
dramatismos ou emoções excessivas, onde para além do seu protagonista não faltava
também a família, os amigos e os vizinhos onde o acarinhavam, acompanhavam,
homenageavam, testemunhavam ou mesmo ajudavam a cumprir o seu último papel que
precedia o momento da partida.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
contacto, sendo que os cemitérios da Antiguidade foram construídos fora das cidades,
ao longo das estradas.
A partir do século VI, esta realidade sofreu algumas alterações com uma nova atitude
por parte da igreja cristã, em que afastava a ideia do medo dos vivos pelos mortos. “O
clero fez sucumbir a tradição e com ela fez desaparecer a distinção dos locais onde se
enterrava” (Ariès, 1989,p.26), ou seja, próximo da basílica junto aos santos e a cidade,
até então interdita às sepulturas. Desta forma, a abadia cemiterial e a igreja catedral
deixaram de ficar separadas. Na Época Medieval, a Igreja era um edifício com um
espaço à sua volta e o cemitério era a parte exterior da mesma, onde a prática de enterrar
os mortos nos pátios das igrejas, que também eram palco de festas populares e feiras,
era uma evidência de que mortos e vivos coexistiam no mesmo espaço. Nesta época
importava apenas que os ossos ficassem perto dos santos ou na Igreja, sendo esta e o seu
pátio locais públicos onde, para além de lugar de sepultura, servia também de asilo e
local onde era permitido construir casas, onde se podiam encontrar livreiros,
comerciantes e outros e abriam-se túmulos e levantavam-se cadáveres, ainda não
totalmente decompostos, que emanavam odores nauseabundos.
No final do século XVII surgem sinais de intolerância face a esta situação, o que
contrasta com a atitude tradicional dos vivos relativamente aos mortos. O facto do
espectáculo dos mortos em que os ossos se encontravam expostos à superfície nos
cemitérios, impressionava os vivos que começaram desta forma a perder a familiaridade
com os mortos e com a sua própria morte.
A partir dos séculos XI e XII ocorreram algumas alterações que foram concebendo um
sentido dramático e pessoal à familiaridade do Homem perante a morte. A morte, até
então aceite como algo colectivo, uma das leis da natureza e cuja ordem natural se
impunha ao Homem, começa a despertar o mesmo para uma multiplicidade de
fenómenos novos que o conduziram a preocupar-se mais com a unicidade de cada
individuo do que com o destino colectivo de toda a humanidade.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
A representação do juízo final foi um dos fenómenos que sofreu grandes modificações,
pois nos primeiros séculos do Cristianismo não existia julgamento nem condenação do
Homem. Acreditava-se na ressurreição dos mortos (os que pertenciam à Igreja e lhe
tinham confiado o seu corpo) no fim dos tempos, mas a partir do século XII, surgem
duas novas noções em que altera-se e começa-se a falar dos justos e pecadores, por
intermédio do julgamento e da pesagem das almas. Cada Homem é julgado pelo
balanço da sua vida, prevalecendo a ideia do juízo final e assumindo-se este como um
tribunal de justiça. No século XIII surge a representação do juízo final como um
tribunal de justiça, onde cada Homem é julgado pelo balanço da sua vida, as boas e as
más acções são escrupulosamente separadas nos dois pratos da balança (Ariès, 1989).
“Tudo era meticulosamente anotado num livro, o liber vitae, inicialmente concebido
como o espantoso recenseamento do universo, um livro cósmico. Mas, no final da Idade
Média, converteu-se no livro de contas individual” (Ariès, 1989, p.33).
De acordo com Ariés, a ideia do Juízo Final pode estar ligada à biografia individual, que
só acaba no final dos tempos e não na hora da morte.
Quarto do Moribundo
surge agora como um árbitro ou testemunha, que não só, mediará a luta cósmica entre as
forças que disputam a posse do moribundo, mas também, se encontra presente com a
sua corte para verificar o comportamento do moribundo no decorrer da prova que
determinará a sua sorte na eternidade. A atitude do moribundo leva-o a ter a
oportunidade de anular os pecados cometidos ao longo da sua vida, determinando a sua
ascensão ao céu ou ao inferno.
Le transi (o trespassado)
Apenas a partir do séc. XVII, é que o esqueleto ou os ossos se expandiram por túmulos
e até no interior das casas, mas com um significado diferente do cadáver putrefacto. O
horror pela decomposição do corpo é um tema familiar na poesia do século XV, não
estando o horror associado à decomposição do corpo no pós-morte, mas à doença e à
velhice. A decomposição é o sinal da ruína do homem, e aí se encontra o verdadeiro
sentido do macabro, que a torna num fenómeno novo e original.
No final da Idade Média, o Homem tinha a consciência da sua morte mas tinha uma
paixão pela vida. “A vida e a morte converteram-se no lugar onde o Homem tomou
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
melhor consciência de si mesmo” (Ariès, 1989, p.38). O fenómeno dos túmulos, ou seja,
da individualização das sepulturas, confirma esta tendência.
As Sepulturas
A partir do século XVI, as paredes das Igrejas começaram a exibir placas com os nomes
dos defuntos, traduzindo assim, a vontade de individualizar o local da sepultura e de
perpetuar a lembrança do morto. Para além das placas, os defuntos previam nos
testamentos serviços religiosos perpétuos pela salvação da sua alma. Independentemente
do seu significado, o que importava era o registo da identidade do defunto e não o
reconhecimento do lugar onde o corpo havia sido depositado.
Assim, desde o século XI, que a morte conquista o Homem, no sentido de ir tomando
consciência da sua individualidade. Na opinião de Ariès (1989), o Homem Ocidental,
desde meados da Idade Média, rico, poderoso ou letrado reconhece-se a si mesmo na
sua morte toma consciência da morte de si próprio.
A partir do século XVIII, o Homem Ocidental tenta dar um novo sentido à morte. “(…)
exalta-a, dramatiza-a, quere-a impressionante e dominadora” (Ariès, 1989, p.43). O
Homem começa a preocupar-se agora menos com a sua própria morte e mais com a
morte do outro próximo, a da pessoa amada ou próxima.
No séc. XIX, o ritual da morte no leito mantém-se, mas os que rodeiam o moribundo
agitam-se e emocionam-se, rezam e gesticulam inspirados por uma dor única e
apaixonada. A dor expressa pelos sobreviventes é entendida como que um sinal forte de
intolerância em relação à separação. A morte é considerada como uma ruptura, que
arranca o homem da sociedade racional, do seu trabalho e o lança para um mundo
irracional, violento e cruel.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Desde o final da Idade Média e até final do século XVIII, o luto era uma forma de
obrigar a família do defunto a retardar um desgosto, nem sempre sentido, e por outro
lado, defendia contra os excessos de dor. No entanto, a partir do século XIX, o luto
torna-se exagerado, o que significa que “os sobreviventes aceitam a morte do próximo
mais dificilmente que noutros tempos” (Ariès, 1989, p.48). Ou seja, o Homem teme não
a sua própria morte, mas a morte do próximo, a morte do outro (Ibidem). Estes
sentimentos geram um novo fenómeno religioso: o culto moderno dos túmulos e dos
cemitérios. A sepultura converteu-se numa espécie de propriedade e um local onde se
vai visitar o familiar ou ente querido, tendo-se o hábito de enfeitar com flores,
perdurando este hábito até aos nossos dias. Contudo, assistimos na actualidade, a uma
ruptura nas mentalidades com a recusa da morte no Ocidente – morte interdita.
Desde a Alta Idade Média até aos meados do século XIX, que a atitude perante a morte
tem vindo a sofrer mudanças progressivas. A partir de 1930, e mais rapidamente na
década de 50, que assistimos a uma revolução profunda de ideias e sentimentos, de tal
modo que a morte, outrora tão presente se tornou vergonhosa, interdita e considerada
por muitos como tema tabu (Ariès, 1989).
Esta atitude perante a morte começa a ter lugar na segunda metade do século XIX, onde
os que rodeiam o moribundo vão tentar esconder-lhe o seu fim, ou a sua morte,
ocultando a verdade, sendo rapidamente esta atitude generalizada e assumida pela
sociedade actual. Os avanços na ciência e em especial na medicina foram por certo
aspectos que estiveram na base desta viragem de atitude face à morte.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Por volta de 1930 e 1950, dão-se grandes mudanças, sendo uma delas a transferência do
local da morte, em que o moribundo deixa de viver os seus últimos dias em casa e passa
para o hospital. É no hospital que se morre, porque é aí que se concentram todos os
cuidados que não se podem proporcionar em casa, mas também porque o hospital
deixou de ser asilo de miseráveis e se transformou num centro médico, cuja cura e luta
contra a morte se tornaram nos principais objectivos. Ariès (1989) designa esta
passagem, do local da morte da casa do moribundo para o hospital, de medicalização da
morte, em que as pessoas acreditam e encaram a hospitalização como uma necessidade.
O hospital surge, no tempo actual, como o único local onde se pode morrer, porque nem
a sociedade e tão pouco a família a querem enfrentar. Se no final do século XVIII, a
família desfrutava da confiança do moribundo, actualmente a família e o moribundo
encontram-se alheios às circunstâncias da morte, que passa agora para as mãos dos
profissionais de saúde. De acordo com Ariès (1989), estes controlam-na e esforçam-se
para que a pessoa aceite a sua própria morte e que seja também admitida pelos
familiares. Uma morte aceite é aquela que é admitida pelos familiares, sendo que estas
desencadeiam nos mesmos, emoções fortes.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
A morte tornou-se num tema tabu do século XX, substituindo o tema da sexualidade,
assistindo na actualidade a uma recusa, quase generalizada, em admitir e enfrentar a
morte e tudo o que com esta se relacione. Segundo alguns autores, e na opinião de Ariès
(1989), é possível que esta atitude perante a morte, ou seja, o interdito da morte, tenha
nascido nos Estados Unidos no inicio do século XX, com o objectivo de preservar a
felicidade dos intervenientes.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
3- A MORTE NA ACTUALIDADE
Henriques et al (1995) refere que estatísticas, a nível dos países europeus, demonstram
que entre 70% a 90% das mortes na actualidade, se verificam em instituições
hospitalares e afins.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
De acordo com dados do estudo desenvolvido por Cunha (1999), a nível nacional,
verifica-se que se parte, em 1969, de uma situação em que 76,6% da população morria
em casa e apenas 17,9% morria no hospital, para uma situação, em 1993, em que 42,6%
morria no hospital e 47,2% morria em casa. Segundo a mesma autora, esta inversão do
local de morte registou-se em 1991, pelo que foi resultante de uma evolução gradual, a
modernização das atitudes face à morte.
Noutros tempos, a morte era um acontecimento social que envolvia não só a família,
mas toda a comunidade onde se encontrava inserido. Morria-se em casa, junto dos
familiares, vizinhos, amigos e conhecidos que vinham prestar a ultima homenagem ao
moribundo, ao mesmo tempo que partilhavam o sofrimento da família. O moribundo,
alem de morrer acompanhado, era alguém com muito poder nos seus últimos
momentos, e onde os seus desejos e opiniões eram ouvidos e valorizados.
Hoje em dia, com as alterações nas condições de vida e habitação, o núcleo familiar
reduzido, o isolamento em que se vive, especialmente nos grandes centros urbanos
levam a que já não se morra em família. A casa começa a ser considerada um local
impróprio para morrer, não só pela indisponibilidade da vida contemporânea, como
também porque é nas unidades hospitalares que se concentram os saberes e meios
técnicos de luta contra a doença e a morte.
Esta situação surge do resultado dos avanços científicos e tecnológicos, no âmbito das
ciências biomédicas, que vieram possibilitar a resolução de muitas situações de doença,
dando origem a que a morte deixasse de ser vista como um acontecimento ou fenómeno
natural e passasse a ser sentida como um dos problemas que o homem ainda não é capaz
de resolver.
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Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Na segunda fase, de raiva, à medida que o seu mecanismo de negação se vai atenuando,
o doente começa a sentir revolta, inveja e de ressentimento, perguntando “porquê eu?” e
invejando a sorte dos outros e exteriorizando a sua hostilidade contra o tratamento,
contra os profissionais de saúde e contra Deus. Nesta fase, o meio que o rodeia tem de
mostrar muita compreensão e aguardar pacientemente que o doente ultrapasse esta fase.
Serra et al (1991) considera que esta raiva deverá ser exteriorizada, sendo quase
inevitável para que o doente evolua para uma aceitação da morte.
47
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
A terceira fase, fase de negociação, é aquela em que os doentes tentam realizar acordos
por um pouco mais tempo de vida, podendo esta negociação ser feita com Deus, com os
profissionais de saúde ou até com ele próprio. Para Serra et al (1991), a respeito desta
fase, o doente passa a seguir escrupulosamente o tratamento, prometendo ser mais
compreensivo e tolerante com os outros, dedicando-se às práticas religiosas.
48
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Pacheco (2002) refere que o enfermeiro tem um papel fundamental junto do doente
terminal, na medida em que é o profissional da saúde que está mais próximo do doente e
da família, e que mais os pode ajudar numa fase terminal da vida. Contudo, a maioria
dos enfermeiros foram preparados na sua formação inicial para a cura da doença, não
estando preparados para enfrentar a morte, e não possuindo formação suficiente que
lhes permita compreender a importância de cuidar o doente em fase terminal.
O enfermeiro, perante o processo de morte, decide evitar todo e qualquer contacto com
o doente, com o objectivo de escudar-se contra sentimentos que lhe lembrem a morte e
que lhe causem mal-estar. Este, confrontado com a doença grave e com a morte, tenta
proteger-se da angústia gerada pela mesma, adoptando estratégias de adaptação,
conscientes ou inconscientes designadas de mecanismos de defesa. (Ibidem)
fim de vida, têm a tendência de adoptar atitudes extremas, tais como afastar-se do
doente ou, pelo contrário, envolverem-se emocionalmente e de forma muito intensa.
Segundo a autora, a atitude mais comum por parte do enfermeiro é desligar-se do doente
e da morte, desenvolvendo mecanismos de defesa e comportamentos de fuga. O
enfermeiro limita-se a prestar cuidados apressados e despersonalizados, limitando uma
relação interpessoal e impossibilitando a comunicação e o diálogo com o doente em fim
de vida. Por outro lado, os enfermeiros envolvem-se muito emocionalmente em
determinadas situações particulares de alguns doentes.
Segundo Rosado, citado por Saraiva (2009), do confronto com a morte podem surgir
nos enfermeiros, problemas psicológicos tais como: pensamentos involuntários
dedicados ao doente, sentimento de impotência, de choro, sensação de abatimento,
sentimento de choque e de incredibilidade perante a perda, dificuldades de
concentração, cólera, ansiedade e irritabilidade. Estas atitudes, por parte dos
enfermeiros, levam frequentemente ao absentismo, desejo de mudança de serviço,
isolamento, entre outras práticas e atitudes reveladoras da situação e de insegurança.
50
PARTE DOIS: CONTRIBUIÇÃO PESSOAL
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
4- METODOLOGIA
A melhor forma para se estudar um problema passa pela investigação científica que se
desenvolve em várias etapas interligadas, sendo um processo controlado, disciplinado e
sistemático, exigindo a utilização de uma metodologia.
Neste capítulo faremos uma abordagem ao tipo de estudo utilizado e seus objectivos, às
questões de investigação e hipóteses, às variáveis em estudo e sua operacionalização,
população e amostras, ao instrumento de colheita de dados, aos procedimentos formais
e éticos e ao procedimento no tratamento estatístico dos dados.
Segundo Fortin (2000), a metodologia deve ser escolhida em função dos objectivos de
investigação, dos resultados esperados e do tipo de análise que se pretende efectuar.
53
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
54
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Para Polit e Hungler (1995, p.76), a hipótese “(…) traduz o enunciado do problema para
uma previsão precisa e clara dos resultados esperados”. A hipótese estabelece sempre
uma relação entre uma variável dependente e uma ou mais variáveis independentes e
necessita de ser submetida a uma análise estatística (teste de hipóteses), mediante o qual
se aceita ou infirma a hipótese estatística. Assim, a sua função na pesquisa científica, é
propor explicações para certos factos e ao mesmo tempo orientar a busca de outras
informações.
H10 – Há relação entre o tipo de morte com que mais se confrontou no último ano e
a atitude do enfermeiro perante a morte.
H11 – Há relação entre a formação frequentada e a atitude do enfermeiro perante a
morte.
Existem vários tipos de variáveis, sendo que neste estudo considerámos a variável
dependente (o fenómeno que se pretende estudar), e as variáveis independentes que
explicam um dado acontecimento.
A variável dependente é, de acordo com Polit e Hungler (1995, p.26), “aquela que o
pesquisador tem interesse em compreender, explicar ou prever”.
56
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Idade
No sentido de avaliar a idade dos inquiridos, recolhemos os dados no questionário
através de uma pergunta aberta tendo sido os mesmos, posteriormente, agrupados em
classes etárias de acordo com a variação encontrada.
Sexo/Género
Para esta variável foi efectuada uma pergunta fechada no questionário com duas opções
de resposta: masculino e feminino.
Estado Civil
Esta variável foi operacionalizada nos seguintes itens: “solteiro(a)”, “casado(a) / união
de facto”, “separado(a) / divorciado(a)” e “viúvo(a)”
Habilitações Académicas:
Esta variável foi operacionalizada nos seguintes níveis: “bacharelato”, “licenciatura”,
“pós-licenciatura e em que área”, “mestrado” e “outra, qual?”.
57
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Religião
No contexto do nosso estudo, para operacionalizar esta variável, utilizámos uma
pergunta mista, com as seguintes opções de resposta: “católica”, “outra e qual?” e
“nenhuma”.
Prática da Religião
Esta variável foi operacionalizada nos seguintes itens: “muito”, “moderadamente”,
“pouco” e “nada”.
Categoria Profissional
Tendo por base o Decreto-lei n.º 437/91 de Novembro, que define a Carreira de
Enfermagem, operacionalizámos esta variável em: “Enfermeiro(a)”, “Enfermeiro(a)
Graduado(a)”, “Enfermeiro(a) Especialista”, e “Enfermeiro(a) Chefe”.
58
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Uma vez que era nosso objectivo estudar as atitudes do enfermeiro perante a morte,
escolhemos enfermeiros que cuidam de doentes em fim de vida e que frequentemente
lidam com o processo de morte no seu dia-a-dia profissional.
Assim, foi definida como população alvo, o conjunto dos enfermeiros que exercem
funções no Hospital Cândido de Figueiredo de Tondela (HCF) e no Hospital São
Teotónio de Viseu, EPE (HST). A escolha desta população alvo prendeu-se com o facto
da proximidade e vínculo profissional que o investigador mantém com estas duas
instituições hospitalares, procurando no futuro contribuir com os resultados obtidos no
estudo para o aperfeiçoamento da actividade profissional do mesmo e dos restantes
profissionais de enfermagem.
Definida a nossa população alvo, tornou-se imperiosa a selecção de uma amostra que
caracterizasse de forma representativa essa mesma população.
escolhidas pelo investigador, ou que se escolhem a si próprias, uma vez que todos os
indivíduos colaboram voluntariamente na investigação (Polit e Hungler, 1995).
A maioria dos enfermeiros inquiridos (70.00%) exerce a sua actividade no HST, sendo
que os restantes (30.00%) exercem a actividade profissional no HCF, tal como podemos
verificar no gráfico 1.
n=80
30%
HCF
70% HST
60
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Grupo Etário
≤ 35 anos 47 58.80
36 - 45 anos 23 28.80
> 45 anos 10 12.50
Género
Masculino 24 30.00
Feminino 56 70.00
Estado Civil
Solteiro 15 18.80
Casado/União de facto 63 78.80
Separado/divorciado 02 02.50
Habilitações Académicas
Licenciatura 63 78.80
Pós-Licenciatura/Especialização 15 18.80
Mestrado 02 02.50
61
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
De salientar que 49,30% dos enfermeiros católicos considera-se pouco praticante da sua
religião, 40,00% são praticantes moderados, 6,70% não praticam nada e apenas 4,00%
praticam muito a religião católica.
Prática da Religião
Muito 03 04.00
Moderadamente 30 40.00
Pouco 37 49.30
Nada 05 06.70
62
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
63
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
No que se refere ao tipo de morte com que o enfermeiro inquirido mais se confrontou no
último ano, e analisando o Gráfico 2, verificamos que a maioria dos inquiridos
(63,80%) refere a morte decorrente de doença crónica/terminal e 35,00% afirmam ter
sido a morte súbita/inesperada. Apenas 1,30% dos enfermeiros referiram terem-se
confrontado com os dois tipos de morte no último ano de exercício profissional.
Gráfico 2 – Distribuição dos enfermeiros segundo o tipo de morte com que mais se
confrontaram no último ano
Frequência
60
50
40
30
20
10
0
Súbita/inesperada Doença Ambas
crónica/terminal
64
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
65
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
formação específica frequentada nos últimos dois anos, e, por último duas perguntas
abertas onde se pede ao inquirido que indique duas principais dificuldades sentidas no
lidar/cuidar da pessoa e no relacionamento com os familiares do doente em processo de
morte). O ICD é constituído ainda por uma quarta parte, onde se encontra uma Escala
de Atitudes, construída e validada por Amaro (2001), destinada a avaliar as atitudes do
enfermeiro perante doentes terminais ou em fase de morte, na qual obtivemos
autorização para a sua utilização por parte da autora (APÊNDICE II).
Trata-se de uma escala ordinal, do tipo Likert, constituída por 20 preposições, a que
corresponde cada uma das quatro alternativas de resposta: “Raramente”, “Por vezes”,
“Com frequência”, “A maior parte das vezes”.
O índice global desta escala varia entre 20 e 80, sendo que quanto menor for este valor,
melhor ou mais favorável será a atitude do enfermeiro perante o doente em fase
terminal. Ao contrário, quanto maior o valor global da escala, pior ou menos favorável
será a atitude do enfermeiro.
É uma escala preliminar, que tem apenas o sentido de verificar os contrastes do que se
consideram atitudes muito favoráveis e atitudes pouco favoráveis. Para uma melhor
compreensão e análise desta variável dependente – atitude do enfermeiro perante a
morte, a autora da escala criou dois grupos de coorte, da seguinte forma:
Esta escala de atitudes foi objecto de análise factorial, tendo a autora da mesma,
submetido aos estudos de fiabilidade e validade, para verificar a sua consistência
interna. Estes testes levaram à eliminação de alguns itens, dos 37 existentes na escala
inicial, por apresentarem correlações inferiores a 0,2 ficando a escala final, reduzida a
20 ítens. Estes 20 ítens, da escala final, foram submetidos a novas correlações de
Pearson, tendo a autora verificado que todos os itens apresentavam uma correlação com
67
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
valor global superior a 0,2 e os valores de alpha Cronbach entre os 0,68 e 0,71, o que os
enquadra dentro dos intervalos normais, considerando-se a escala com boa consistência
interna e validade.
Pela análise dos alpha de cronbach, os valores obtidos são satisfatórios (todos superiores
a 0,747), o que nos indica que mesmo excluindo as dimensões uma a uma, os valores de
fiabilidade interna (alpha) mantêm-se superiores a 0,747, o que significa que a atitude
global não depende exclusivamente de uma só dimensão. Em termos gerais, o valor de
alpha geral obtido (0,803), é considerado bom.
68
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Após termos solicitado, junto dos Presidentes dos Conselhos de Administração do HCF
e do HST, a devida autorização para aplicação dos questionários, prontamente
concedida (APÊNDICE III), procedemos à colheita dos dados. Iniciámos pelo contacto
informal com os Enfermeiros chefes dos serviços seleccionados, a quem explicámos os
objectivos do estudo e pedimos colaboração na distribuição e recolha dos questionários.
A recolha dos dados decorreu durante os meses de Maio, Junho e Julho de 2010, sendo
neste decurso, nossa preocupação constante preservar todos os aspectos éticos
decorrentes da investigação.
69
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Para uma melhor interpretação e análise dos dados os mesmos são apresentados em
quadros, gráficos e tabelas, utilizando a estatística descritiva e a análise inferencial.
Para a análise descritiva das variáveis, utilizámos medidas de tendência central, tais
como a Média (X) e Moda (Mo), e medidas de dispersão: desvio padrão (s) e variância
(v), máximos e mínimos.
Nas variáveis a estudar, antes da utilização dos testes estatísticos, aplicámos o teste de
Kolmogorov-Smirnov com a correcção de Lilliefors, como teste de normalidade da
distribuição, para avaliar se as variáveis em estudo apresentavam ou não distribuição
normal dos resultados. Pela aplicação do referido teste (Quadro 9), verificámos que a
distribuição de dados referente à variável dependente (Atitudes do enfermeiro perante a
morte), não se encontra enquadrada na normalidade na dimensão reacções (p=0,000).
Kolmogorov-Smirnov-Lilliefors
DIMENSÕES
Estatísticas p
70
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
71
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Tendo em conta estes pressupostos, as hipóteses formuladas para este estudo foram
testadas, recorrendo aos seguintes testes não paramétricos:
- Teste U de Mann-Whitney;
- Teste de Kruskal-Wallis.
As hipóteses foram testadas com uma probabilidade de 95%, de onde resulta um nível
de significância de 5% ( =0,05). Este nível de significância permite-nos afirmar com
uma "certeza" de 95%, caso se verifique a validade da hipótese em estudo, a existência
de uma relação causal entre as variáveis.
72
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Neste capítulo, pretendemos apresentar e analisar alguns dados relativos aos resultados
dos questionários, aplicados aos enfermeiros da nossa amostra, deixando a interpretação
dos mesmos para o capítulo seguinte, da discussão dos resultados. Apresentamos os
resultados relativos às análises estatísticas dos dados colhidos, no sentido de responder à
nossa questão de investigação e hipóteses levantadas para este estudo.
73
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
_ DESVIO PERCENTIS
Md MODA Min. Máx.
X PADRÃO
25 50 75
De acordo com os dados obtidos, pela aplicação da Escala de Atitudes dos enfermeiros
perante doentes terminais, e analisando a Tabela 1 e Gráfico 4, podemos verificar que
51,30% dos enfermeiros inquiridos apresentam atitudes muito favoráveis perante um
doente em fase terminal, sendo que os restantes 48,80% apresentam atitudes pouco
favoráveis. A moda situa-se, assim, em itens considerados de resposta muito favorável,
compatível com atitudes positivas por parte do enfermeiro, no confronto doentes em fim
de vida.
Tabela 1 – Distribuição dos enfermeiros segundo as atitudes perante um doente em fase
terminal
ATITUDES N.º %
41
40,5
40
39,5
39
38,5
38
Muito favorável Pouco favorável
74
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Pela análise das respostas, dos enfermeiros da nossa amostra, constatamos que, as suas
maiores dificuldades perante um doente terminal ou em processo de morte prendem-se,
maioritariamente, com o falar abertamente sobre o tema da morte e, sobre as respostas a
dar a um doente que se encontra próximo do fim de vida. Os enfermeiros sentem
dificuldade em presenciar de perto o sofrimento físico e emocional do doente, sentindo-
se impotentes e frustrados por não conseguirem aliviar o sofrimento e a dor deste. A
comunicação é outra dificuldade muito apontada pelos enfermeiros, nomeadamente a
comunicação com o doente terminal, esclarecimento de dúvidas sobre a evolução e
prognóstico da sua situação. Houve ainda, enfermeiros que apontaram como
dificuldades no lidar/cuidar de doentes em processo de morte, o facto da falta de tempo
para permanecer junto dos seus doentes.
75
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
ou quando ocorre uma morte de causa súbita ou inesperada, em que a família não se
encontra preparada para essa perda. Os enfermeiros apontaram também como
dificuldade, o facto de não existir no serviço um local apropriado, com privacidade e
ambiente propício para receber os familiares.
77
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Dimensões r P
No entanto, quer para cada uma das dimensões, quer em termos de global da escala
(p=0,817), não se verificam diferenças estatisticamente significativas, o que nos leva a
concluir que a hipótese por nós formulada (H1) não é aceite, prevalecendo a hipótese
estatística (H0). Concluímos, assim, que não existe relação entre o sexo e a as atitudes
do enfermeiro perante a morte.
78
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Elaborámos esta hipótese, para sabermos qual a influência das habilitações académicas
nas atitudes do enfermeiro perante a morte, e para a testar utilizamos um Teste de
Kruskal-Wallis. Pela análise do Quadro 14, verificamos que em termos de atitude
global, os enfermeiros detentores do grau de mestrado são os que apresentam melhores
atitudes, seguidos dos enfermeiros com uma especialização. Os enfermeiros licenciados
são os que revelam atitudes menos favoráveis perante a morte.
79
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
*p < 0,05
Contudo, quer para cada uma das dimensões, quer em termos de global (p=0,220), não
se verificam diferenças estatisticamente significativas, o que nos leva a concluir que a
hipótese por nós formulada (H1) não é aceite, prevalecendo a hipótese estatística (H0).
De acordo com estes resultados, podemos afirmar que, não existe relação entre a
crença religiosa do enfermeiro e as suas atitudes perante a morte.
80
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
*p < 0,05
81
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
82
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
** p < 0,01
83
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Para conhecermos a influência do serviço onde o enfermeiro exerce funções, nas suas
atitudes perante a morte, utilizámos um Teste de Kruskal-Wallis.
84
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Todavia, quer para cada uma das dimensões, quer em termos de valor global (p=0,841),
não se verificam diferenças estatisticamente significativas, o que nos leva a rejeitar a
hipótese por nós formulada (H1), prevalecendo a hipótese estatística (H0). Ou seja, não
há relação entre o tipo de morte com que o enfermeiro mais se confrontou no último
ano, e as suas atitudes perante a mesma.
Morte Doença
Tipo de Morte Súbita/Inesperada Crónica/Terminal Z p
_ _
X X
85
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Sim Não
Frequentou formação _ _
Z p
X X
**p<0,01
86
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Este capítulo serve para uma discussão detalhada dos resultados obtidos, onde
procuramos salientar os resultados mais relevantes, face aos objectivos traçados. Será
efectuada uma síntese e apreciação crítica dos resultados, no sentido de os confrontar
entre si e com outros estudos já existentes.
87
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
serviços de Medicina interna, Cirurgia, Ortopedia e Urgência Geral, sendo este último, o
mais representado com 43,80%.
A nível de formação frequentada pelos enfermeiros inquiridos, nos últimos dois anos, a
grande maioria participou em cursos relacionados com cuidados paliativos/doente
terminal, suporte básico e avançado de vida e em outras temáticas na área de saúde.
Contudo, uma grande parte dos enfermeiros da nossa amostra, não desenvolveu
qualquer formação específica na área de ética.
89
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
No caso particular do HCF verificamos, ao longo do ano de 2009 e 2010, uma estratégia
clara, por parte da enfermeira responsável pelo DEP, em desenvolver formações
relacionadas com cuidados paliativos, uma vez que esta instituição se encontrou em
remodelação da sua estrutura física, com vista a abertura de novos serviços, com
valências de cuidados paliativos e serviço de convalescença. A nível do serviço de
urgência, a principal prioridade do DEP, foi direccionada a formações de SBV e SAV,
com o intuito de melhorar o nível de conhecimentos, dos seus enfermeiros, na área de
emergência e, consequente melhoria dos cuidados prestados por estes à população que
ali recorre diariamente. De referir também, o facto de este tipo de formação constituir
um dos requisitos do perfil de um enfermeiro de serviço de urgência.
A falta de disponibilidade de tempo, para permanecer junto do doente, foi outra das
dificuldades apontadas pelos enfermeiros do nosso estudo. Sulzbacher et al (2009)
referem que nos hospitais, habitualmente, a enfermagem substitui a família. No entanto,
90
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Costa (2005), a respeito do lidar com doentes em fase terminal, refere que,
frequentemente os enfermeiros vivenciam sensações de frustração, incapacidade,
fragilidade, dor, medo, dificuldade de aceitação, tristeza e luto em decorrência da morte
de pacientes sob seus cuidados.
Henriques et al. (1995) referem que, por vezes, surgem no enfermeiro sentimentos de
insegurança e impotência perante uma situação de morte. Relativamente à falta de
tempo e disponibilidade, estes autores mencionam que “muitas vezes falta-nos tempo,
outras vezes falta-nos paciência, outras vezes também, sobra-nos o medo, o medo da
nossa própria morte, o medo daquilo a que o dialogo com o moribundo poderá levar…”
(1995, p.15).
91
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
92
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Assim, concluímos que a idade que o enfermeiro apresenta, influencia a sua atitude
perante um doente em fase terminal, ou seja, com o aumento da idade, aumenta o score
da escala nas suas dimensões e no global das atitudes e, consequentemente, pioram as
suas atitudes. Esses dados vêm contrariar as nossas expectativas, uma vez que
esperávamos que os enfermeiros mais velhos seriam aqueles com atitudes mais
favoráveis ou positivas, talvez por considerarmos que, com o avançar da idade, os
profissionais estariam mais sensíveis para questões relacionadas com a fase de
envelhecimento e de doença terminal. Também Loureiro (2001) partilha do nosso
raciocínio, ao referir que é difícil para os enfermeiros, em especial para os mais novos
ou sem experiencia de morte, saber o que dizer e como cuidar do doente em fase
terminal.
93
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Assim, o tempo que o enfermeiro possui na profissão, influencia a sua atitude perante
situações de morte. Os enfermeiros, que possuem mais de 25 anos de exercício
profissional, são os que apresentam atitudes mais favoráveis perante a morte. Este
resultado é concordante com os obtidos por Saraiva (2009), que confirmou no seu
estudo que os enfermeiros considerados por Benner, de iniciados ou iniciados
avançados, ou seja, com menos de 3 anos de exercício profissional, são os que
apresentam uma atitude predominantemente negativa ou pouco favorável em relação à
morte. Os enfermeiros com poucos anos de exercício profissional, interiorizam muito
pouco das situações que vivenciam, dado que tudo é muito novo e estranho, e dai que
muitas das suas atitudes perante a morte não sejam as mais positivas e favoráveis. Pelo
contrário, os enfermeiros com mais anos de exercício profissional apresentam uma
atitude mais positiva no confronto com o doente em fim de vida, motivada pela
experiencia e competência que se adquire, levando a uma melhoria da actuação perante
esta situação.
94
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Vários estudos têm demonstrado o efeito benéfico das formações, frequentadas pelos
profissionais de saúde, destinadas a melhorar a relação profissional com utentes em fase
terminal. Num estudo realizado por Chen, citado por Andrade (2007), este constatou
que as atitudes perante a morte se tornavam mais positivas em enfermeiros, após
frequentarem algumas horas de formação na área da morte.
Também Frommelt, in Andrade (2007), num estudo levado a cabo com 34 enfermeiros,
corrobora esta percepção, na medida em que chegou à conclusão de que as atitudes
destes face ao doente terminal, se modificavam em sentido positivo após estes
frequentarem uma formação de 2 horas, com temas acerca da morte e do morrer,
baseados em sessões de roll-play e cenários de treino da comunicação com doentes em
fase terminal.
Ao chegar à recta final deste estudo, pensamos ter atingido os objectivos inicialmente
traçados, ainda que este apresente algumas limitações. Assim podemos apontar, como
limitações deste estudo:
95
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Assim, a avaliação dos resultados provenientes deste estudo, não podem deixar de levar
em conta estas limitações, impondo-se alguma prudência na sua interpretação e
generalização dos mesmos para outras populações, sendo pois, um estudo deste
contexto específico.
96
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
CONCLUSÃO
Actualmente, ainda muitos enfermeiros pensam que cessam as suas funções, a partir do
momento em que se sabe que um doente apresenta uma doença incurável. Estes
sentimentos, por parte dos enfermeiros, prendem-se com o facto de não estarem
preparados para enfrentar a morte, e de não possuírem formação suficiente que lhes
permita compreender a importância do cuidar de um doente em fase terminal.
Ao terminar esta investigação, importa relembrar que o nosso objectivo, ao realizar este
estudo, se centrava em conhecermos a atitude dos enfermeiros perante a morte e
procurar a relação existente entre alguns dos factores e as mesmas atitudes.
Apesar do facto, do lidar com a morte constituir uma das maiores dificuldades com a
qual o enfermeiro se confronta no dia-a-dia profissional, verificámos ainda assim, no
presente estudo, que a maioria destes apresenta uma atitude positiva ou favorável no
confronto com a morte.
Dos resultados obtidos neste trabalho, concluímos que a idade, o tempo de exercício
profissional e a formação frequentada pelo enfermeiro ao longo do seu percurso
profissional, influencia as suas atitudes perante a morte.
97
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Verificamos que com o aumento da idade dos enfermeiros, estes apresentam atitudes
menos favoráveis relativamente à morte, contrariando assim as nossas expectativas
iniciais, uma vez que com o aumento da idade, seria previsível uma atitude mais
positiva perante situações de doença terminal.
Para terminar este trabalho, deixamos algumas sugestões que devem ser levadas em
conta pelos profissionais de enfermagem, e que devem abarcar diversas áreas,
nomeadamente da investigação, formação, prática de cuidados, gestão de cuidados e
gestão operacional e estratégica.
98
Atitude do Enfermeiro perante a Morte
Uma outra sugestão que deixamos, após a realização deste trabalho, é a de que devem
ser realizados futuros estudos, sobre as atitudes dos enfermeiros perante a morte, em
amostras de maior dimensão, englobando outros serviços e outras populações.
99
BIBLIOGRAFIA
GIL, António C. – Como Elaborar Projectos de Pesquisa. 3ª ed. São Paulo: Editora
Atlas S.A, 1991. 159p. ISBN 85-224-0724-X.
LAKATOS, Eva M.; MARCONI, Marina A. – Técnicas de Pesquisa. 3ª ed. São Paulo:
Editora Atlas, 1996. 231p. ISBN 85-224-1419-x.
102
LOUREIRO, Chotika Y. – Cuidados de Enfermagem a doentes em fase terminal. In
Revista Sinais vitais. Coimbra. nº36 (Maio 2001). ISSN 0872-8844. p.45-50.
NETO, Félix – Psicologia Social. Vol. I. Lisboa: Universidade Aberta, 1998. 695p.
ISBN 972-674-219-6.
SERRA, Vaz [et al] – Reacções Emocionais à Doença Grave: Como Lidar. 1ª ed.
Coimbra: Clínica Psiquiátrica dos HUC, 1991.
104
ANEXOS
ANEXO I
Instrumento de Colheita de Dados
ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE COIMBRA
Sou António Pedro Lima Tojal, enfermeiro no Hospital Cândido Figueiredo de Tondela e estou a
frequentar o Curso de Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica na Escola Superior de
Enfermagem de Coimbra. Encontro-me a desenvolver um trabalho de investigação intitulado
“Atitude do Enfermeiro perante a morte”, no âmbito da disciplina Metodologia de Investigação
em Enfermagem, sobre a orientação do Sr. Professor Doutor José Carlos Amado Martins.
O seu contributo ao preencher este questionário, ainda que voluntário, é imprescindível para a
continuidade deste estudo. Ficaria muito grato se colaborasse, exprimindo individualmente a sua
opinião. O questionário é anónimo, as respostas são confidenciais e não se pretende qualquer
avaliação individual, sendo as respostas tratadas na sua globalidade.
Pedro Tojal
_______________________
PARTE I – DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS
2. Sexo/Género:
1 Masculino
2 Feminino
3. Estado Civil:
1 Solteiro
2 Casado / União de facto
3 Separado / Divorciado
4 Viúvo
4. Habilitações Académicas:
1 Bacharelato
2 Licenciatura
3 Pós-Licenciatura/Especialização. Área: ____________________________________
4 Mestrado
5 Outra. Qual? ________________________________________________________
6. Categoria Profissional:
1 Enfermeiro (a)
2 Enfermeiro(a) Graduado(a)
3 Enfermeiro(a) Especialista
4 Enfermeiro Chefe
11. Formação frequentada nos últimos dois anos nas seguintes áreas:
Ética
1 Sim. Quantas horas? ______ Horas
2 Não
(Amaro, 2001)
Este questionário é composto por um conjunto de atitudes que os enfermeiros podem ter perante um doente
em fase terminal. As pessoas não são todas iguais a lidar com este tipo de doentes, por isso, gostaríamos de
saber a sua opinião pessoal.
Leia atentamente cada uma das afirmações que se seguem e, para cada uma, assinale a sua resposta com uma
cruz (X) na coluna que acha que melhor descreve a sua maneira de pensar. Pedimos-lhe que responda sincera
e espontaneamente com base na sua maneira habitual de pensar e agir e não no seu estado de espírito de
momento. Não há respostas certas ou erradas, há apenas a sua resposta. O resultado do questionário é
absolutamente confidencial. Quando terminar, verifique se respondeu a todas as questões.
Com A Maior
Raramen-
ATITUDES Por Vezes Frequên- parte das
te
cia vezes
Obrigado!
ANEXO II
Pedido de autorização para utilização da Escala de Atitudes
ANEXO III
Pedidos de autorização aos Conselhos de Administração do Hospital
Cândido Figueiredo de Tondela e Hospital São Teotónio de Viseu, EPE
para a aplicação do Instrumento de Colheita de Dados
ANEXO IV
Respostas de autorização dos Conselhos de Administração do Hospital
Cândido Figueiredo de Tondela e Hospital São Teotónio de Viseu, EPE
para a aplicação do Instrumento de Colheita de Dados