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O Tatuador de Auschwitz

Baseado em fatos reais, tem-se a história de amor entre Lale Sokolov e Gita, dois judeus
eslovacos que se conheceram nos campos de concentração da Alemanha nazista em
Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial. Lale ficou incumbido de ser o tatuador, cujo
trabalho era marcar os respectivos números nas pessoas que chegavam ao campo.

O livro é narrado em terceira pessoa e acompanhamos o que acontece com Lale nos
tempos em que passou em Auschwitz, a linguagem é simples e a leitura é bem fluída. Há
poucos momentos mais densos de escrita, havendo bastante diálogos.

A história, assim como outras que contam sobre pessoas que viveram as barbáries dos
campos de concentração, é emocionante, mostra como elas precisavam ser inteligentes e
também possuírem muita sorte para saírem vivos de lá. O tratamento desumano, as
repressões, o medo constante, a fome, doenças, trabalho forçado e até serem cobaias,
são características que marcaram a vida de muitas pessoas que passaram pelos campos
de concentração.

Um ponto que me incomodou foi uma ou outra fala dos personagens, já que o livro conta
eventos da década de 1940, ocorrem diálogos que não parecem se passar em tal época.
Acredito que Lale tivesse uma visão diferenciada sobre determinadas questões, muito pela
sua criação, mas não a ponto de dizer exatamente aquelas palavras. Aparentemente, a
maioria dos diálogos tiveram um toque a mais pela autora, afinal, dificilmente Lale
lembraria tudo o que foi dito nesse período, ainda mais 60 anos depois. Posso estar
enganado? Claro, mas de qualquer forma esses diálogos descontextualizaram a
ambientação e o período.

Um ponto interessante, foi entender a dinâmica de trabalho que as pessoas tinham nos
campos de concentração, cada um tinha uma função, seja na parte administrativa, de
controle de quem era preso e na própria construção das alas. No mais, uma história muito
bonita, que mostra que as coisas quando são para acontecer, as pessoas fazem
acontecer, mesmo que o ambiente não seja o mais propício e que tenham que enfrentar
muitas adversidades.

A história (de sobrevivência e


amor) do tatuador de Auschwitz
Ludwig Eisenberg era mais um prisioneiro em Auschwitz. Mas
acabaria por se tornar no tatuador de outros prisioneiros. Sobreviveu.
E conheceu a mulher, Gita, no "campo dos horrores".


Heather Morris/Sokolov family

Ludwig Eisenberg nasceu na então Checoslováquia. Judeu, foi


enviado para o campo de concentração de Auschwitz durante três
anos. Era o prisioneiro 32407.

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Acabou por sobreviver aos horrores de Auschwitz, primeiro


trabalhando na expansão deste e, mais tarde, como tatuador de
outros prisioneiros como ele era. Mas como é que Ludwig se
tornaria tatuador? Por acaso. E o “acaso” foi uma doença. Logo
que chegou ao campo de concentração contraiu febre tifóide e foi
tratado pelo mesmo homem que o havia tatuado à chegada:
Pepan, um académico francês, também ele judeu. Pepan escolheu-
o mais tarde para ser seu assistente. E quando (subitamente e sem
que Ludwig Eisenberg entendesse o porquê) Pepan desapareceu,
este tornar-se-ia no tatuador principal de Auschwitz.

Ao assumir esse trabalho, Ludwig ganhou privilégios que eram


negados a outros prisioneiros: tinha direito a mais refeições por
dia – algumas delas no mesmo prédio dos oficiais nazis –, dormia
em quarto individual e não em camaratas e, quando não tinha a
quem tatuar, podia até “folgar”.
Em julho de 1942, Ludwig teve que tatuar o braço de Gita
Fuhrmannova (também de nacionalidade checa) com o número
34902. Não seria uma tatuagem mais. Ludwig apaixonou-se pela
mulher que viu depois ser transferida para a ala feminina de
Auschwitz: Birkenau. Nunca perderam o contacto. Com o
beneplácito de um guarda de Auschwitz, logo tratou de enviar
cartas à amada Gita. Mais tarde contrabandeou comida para esta
– como contrabandearia, usando a sua posição “privilegiada” em
Auschwitz, para outros prisioneiros do campo.

Um prisioneiro no campo de Auschwitz mostra o número tatuado (Créditos: ERIC


SCHWAB/AFP/Getty Images)
Mas Ludwig não era tão privilegiado assim. Não ao ponto de não
temer a morte. Várias foram as ocasiões em que o médico Josef
Mengele terá afirmado: “Um dia, tatuador, vou-te levar [para uma
câmara de gás]. Um dia…” Nunca levou. E o campo seria libertado
pelo Exército Vermelho a 27 de janeiro de 1945.

Separação e reencontro

Ludwig Eisenberg perdeu o contacto com Gita aquando da


libertação. Mas não perdeu a intenção de voltar a encontrá-la,
partindo à sua procura rumo a Bratislava – onde se concentraram
a seguir à libertação muitos dos sobreviventes de Auschwitz.
Esperou-a na estação de caminhos de ferro durante semanas. E
quando Ludwig resolveu partir, procurando-a noutro lugar,
cruzaram-se por fim.

Os dois casaram em outubro de 1945. E passaram a utilizar o


apelido Sokolov e não Eisenberg. Mas os primeiros anos foram
tudo menos pacatos e felizes para o casal que sobreviveu ao
holocausto. É que ambos financiavam a criação do Estado de
Israel. E quando o governo (de influência forte soviética)
descobriu, Ludwig foi detido e os negócios deste (na indústria
têxtil) nacionalizados.

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O casal conseguiria fugir do país, primeiro para Viena, depois


Paris e, finalmente, para Melbourne, na Austrália, onde nasceria
o filho, Gary, e viveram o resto das suas vidas. Ludwig, ou “Lale”,
nunca contou a sua história – nem ao filho o fez – por temer ser
considerado um “colaborador” dos horrores do holocausto. Mais:
sentia-se culpado (foi um “fardo” que carregou desde a libertação,
dizia) por ter sobrevivido e outros prisioneiros (tatuou dezenas de
milhar em Auschwitz) não.

Ludwig morreu em 2016. Pouco antes morrera Gita. Foi então que
este resolveu, por fim, contar a sua história (e a história do amor
entre ambos) a Heather Morris – que a reuniria no livro “ O
Tatuador de Auschwitz”. “Os horrores de sobreviver quase três
anos em Auschwitz fizeram com que ele [Ludwig] vivesse o resto
da vida com medo e paranóia. Demorei três anos para desvendar
esta história”, recorda Heather à BBC. Em fevereiro o livro será
publicado em Portugal pela Editorial Presença.
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