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Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Centro de Tecnologia e Geociências - CTG


Departamento de Oceanografia - DOCEAN

Vegetação de Dunas e
Restingas

Dra. Gislayne Borges


E-mail: gise_borges@yahoo.com.br
Objetivos de
aprendizado
• Descrever a importância da vegetação para a formação das
dunas.
• Definir restingas.
• Caracterizar a vegetação de restingas em relação ao
zoneamento.
• Descrever os fatores e as adaptações da vegetação para
sobreviver no ambiente dunar.
• Citar as funções ou usos das dunas.
• Citar as atividades que causam impactos na vegetação de
dunas.
• Identificar a importância da vegetação de restingas.
Litoral brasileiro
Rio Oiapoque - Amapá

Grande diversidade de ambientes e


ecossistemas complexos ao longo da costa.

Arroio Chuí – Rio Grande


80% - ecossistema de restinga e ambientes dunares
do Sul
Dunas
Dunas
Dunas
costeiras

Feições Grandes
naturais das acumulações
praias arenosas de areia

Fonte: Google
Forma Tamanho Orientação
Dunas
Dunas fixas Dunas móveis

o Menores - em direção ao interior do o Não conseguem fixar o substrato


continente
o Frequente alteração de forma e
o Formando superfícies pouco posição - deslocar de 8 a 10 metros
onduladas que terminam em lagos e em um ano
lagoas internas e sopé de encostas
serranas.
Características das dunas

o
o
o
o
o
o
Importância das Dunas
Restingas
Vegetação de Restingas
Um conjunto de ecossistemas que compreende
comunidades vegetais florísticas e
fisionomicamente distintas, situadas em terrenos
predominantemente arenosos, de origem
marinha, fluvial, lagunar, eólica ou combinações
destas, de idade quaternária, em geral com solos
pouco desenvolvidos. Estas comunidades vegetais
formam um complexo vegetacional edáfico e
pioneiro, que depende mais da natureza do solo
que do clima, encontrando-se em praias, cordões
arenosos, dunas e depressões associadas,
planícies e terraços.

Ministério do Meio Ambiente

Fonte: Google
No Brasil apresenta vários significados
(significado polissêmico).
Vegetação de Restingas Restinga no sentido de ambiente
geológico e vegetação associada (Código
Florestal e Legislação do Conama n°303)
e no sentido de vegetação e ecossistema
(Decreto n°750 e Legislação do Conama
n°10 e 261).

Sentido Conjunto de depósitos arenosos


geomorfológico costeiros
Restinga
Vegetação
Sentido biótico Sentido botânico
arbustivo arbórea
Vegetação de Restingas

• Diversidade de tipos de vegetação dependendo da região


da costa em que se encontram.
• As espécies apresentam formas particulares e certas
adaptações que as capacitam a viver em um ambiente
altamente peculiar e sensível.
• No nordeste do Brasil compreendem uma estreita faixa
arenosa ao longo de toda a costa, desde o rio Parnaíba
(PI) até o Recôncavo Baiano (BA).
Vegetação de Restingas
• Ocupação humana em áreas litorâneas – descaracterizou parcialmente ou
totalmente.
• Pernambuco - poucas áreas remanescentes de restinga
• Modificadas:
• Agricultura
• Intensificação do turismo predatório
• Especulação imobiliária
Vegetação de Restingas

• Ecossistemas menos conhecidos - diversidade e


conservação.
• Ambientes extremamente frágeis e de baixa
capacidade de resiliência.
• Para a estabilização dos sedimentos e manutenção da drenagem
natural;
Importância da • Preservação da fauna residente e migratória;
vegetação de • Formação e desenvolvimento das dunas;
restingas • Alto potencial biológico por abrigar espécies endêmicas;
• Preservação da morfologia costeira e na configuração paisagística.
Vamos revisar...

Broto Haste
Inflorescência

Adaptações Rizoma
xeromórficas
Vegetação de Restingas

• Os diferentes tipos de vegetação ocorrentes nas restingas brasileiras variam desde formações
herbáceas, passando por formações arbustivas, abertas ou fechadas, chegando a florestas cujo dossel
varia em altura, geralmente não ultrapassando os 20m.

Formações herbáceas Formações arbustivas Formações florestais


Classificação de formas de vida (Raunkiaer 1934)

Fanerófitas: gemas vegetativas acima de 25 cm de altura


Caméfitas: gemas vegetativas no sistema aéreo, acima do
solo, porém abaixo de uma certa altura
Hemicriptófitas: gemas vegetativas no sistema subterrâneo,
mas no nível do solo
Criptófitas: gemas vegetativas no sistema subterrâneo.

Gema vegetativa - se desenvolve e forma


ramos, folhas, sem formar flores
Espécies Hábito Formas de vida

Alternanthera littoralis Herbácea Caméfita

Chrysobalanus icaco Arbusto Fanerófita

Portulaca halimoides Herbácea Hemicriptófita

Sporobolus virginicus Herbácea Criptófita

Alternanthera littoralis
Sporobolus virginicus
Chrysobalanus icaco

Portulaca halimoides
Formações florestais
variam desde
formações com altura
do estrato superior a
partir de 5m, até
formações mais
desenvolvidas, com
alturas em torno de
Formações herbáceas
15-20m;
ocorrem principalmente
nas faixas de praia e ante-
dunas; podem ser atingidos
pelas marés mais altas

Formações arbustivas
variam desde densos
emaranhados de arbustos
misturados a trepadeiras,
bromélias terrícolas e
cactáceas, até moitas com
extensão e altura variáveis.
Vegetação de Restingas
Restingas podem ocorrer (Waechter, 1985) :
• Mosaico
• Certa zonação (sentido oceano-continente)
• Aumentando a riqueza de espécies
• Lenhosidade
• Altura da vegetação

Fonte: Google
Vegetação de Restingas
• Diversidade fisionômica - mesclando espécies nativas com outras provenientes da Floresta Atlântica,
Caatinga e Cerrado.
• Algumas espécies, ao migrarem de outro ambiente para a restinga, foram induzidas a se adaptarem às
novas condições ambientais, através de estratégias funcionais, variando suas estruturas.
Vegetação de Restingas

Principais Fatores Estressantes e Adaptações

• Movimentação de areia
• Ventos
• Salinidade
• Estresse hídrico
• Nutrientes
Vegetação de Restingas

Movimentação de areia:
• Principais fatores ambientais
• Influencia o microambiente físico e biológico das plantas de diferentes
formas:
• diminui a ação de flutuações de temperatura
• aumenta as quantidades de nutrientes
• reduz a área foliar fotossinteticamente ativa
Vegetação de Restingas

• As plantas reagem diferentemente as distintas taxas de deposição de areia.


• Ammophila arenaria, A. breviligulata, Elymus mollis, Panicum amarum, Panicum
racemosum: reagem positivamente a deposição de areia.

Ammophila arenaria
Panicum racemosum
Vegetação de Restingas
Condições de deposição de areia:
• Plantas podem transferir suas reservas
energéticas dos rizomas para um vigoroso
crescimento da parte aérea
• A cada deposição de areia, a planta responde
com um crescimento adicional
• Porção aérea
• Sistema subterrâneo
Aspecto do crescimento de Panicum racemosum após • Construindo e fixando a duna
sucessivas deposições de areia, formando uma rede de
rizomas e raízes.
Vegetação de Restingas

Ventos:
• Áreas frontais das dunas - fortes ventos atuam:
• trazendo areia
• causam uma ação mecânica sobre a vegetação - deformando o
crescimento e danificando fisicamente os brotos novos
• Gramíneas - adaptações:
• hastes flexíveis – funcionam como barreiras forçando a
deposição de areia - acréscimo adicional de areia
• folhas laminares estreitas e finas
Vegetação de Restingas
Salinidade
• A entrada de sal ocorre principalmente através de três maneiras:
(1) através do spray salgado (maresia);
(2) sal adsorvido aos grãos de areia provenientes da praia;
(3) inundações de água salgada durante marés de tempestades e ressacas.
• Efeitos adversos da salinidade: complexa combinação de efeitos osmóticos e efeitos
iônicos - afetar a germinação, a sobrevivência, o estabelecimento e crescimento das
plantas.
Vegetação de Restingas
Modificações adaptativas das plantas:
• Desenvolvimento de suculência: armazenamento de água, para satisfação das
necessidades metabólicas - Carpobrotus edulis.

Carpobrotus edulis
Carpobrotus edulis
Vegetação de Restingas
• Tolerância de certas plantas (Atriplex) ao sal
• Absorver água com elevados teores de sais – excretados através das folhas
• Atriplex, Limonium, Frankenia – necessitam de sais (halófitos obrigatórios).

Atriplex Frankenia
Vegetação de Restingas

Estresse hídrico
• Baixa capacidade de retenção de água pela areia;
• Altas temperaturas da areia durante o verão;
• Altas taxas de evapotranspiração causadas pelos
constantes e fortes ventos;
• Algumas plantas - adaptações xeromórficas
(ambientes áridos).
Vegetação de Restingas

Adaptações morfológicas, anatômicas e fisiológicas -


diminuir a transpiração:
• Folhas reduzidas - Salsola kali e Herniaria maritima
Salsola kali Herniaria maritima
• Forte cutícula - Euphorbia paralias

Euphorbia paralias
Vegetação de Restingas

Nutrientes
• O solo é pobre em nutrientes
• Apresenta uma baixa acumulação de matéria orgânica
(entre 0,5 a 1,5%)
• Principal entrada de nutrientes - spray salgado
(maresia)
Vegetação de Restingas

Ammophila arenaria
Adaptações a carência de nutrientes:
• Maior proliferação de raízes localizadas em zonas com disponibilidade de
nutrientes;
• Transferência de recursos que seriam usados no crescimento vegetativo (caules e
folhas), para a formação de flores e frutos;
• Absorção de nitrogênio via atividade bacteriana (Ammophila arenaria apresenta
pequenas colônias de cianobactérias fixadoras de nitrogênio)
Vegetação de Restingas

Dispersão
• Estruturas de dispersão:
• Esporos;
• Sementes;
• Frutos;
• Inflorescências;
Eugenia crenata Vell.
Vegetação de Restingas

Anemocórica
Ambrosia elatior

Espectro de
Autocórica
dispersão
Ipomoea pes-caprae

Zoocórica
Cereus fernambucensis
Vegetação de Restingas
Dispersão anemocórica:
• Agente mais eficaz de dispersão ao longo da costa
• Vários tipos de adaptações:
Kielmeyera membranacea
• sementes de tamanho pequeno;
• sementes aladas.

Ipomoea Fonte: Google


Vegetação de Restingas
Dispersão autocórica:
• Gravidade
• Explosiva abertura de cápsulas

Blutaparon portulacoides
Vegetação de Restingas
Dispersão zoocórica:
• Animais executam uma função útil na dispersão de muitas plantas ao longo das
áreas costeiras.
• Características morfológicas que ajudam no transporte por animais e partes
comestíveis que atraem animais.

Cerdocyon thous (cachorro do mato)


Syagrus romanzoffiana (Jerivá)
Blutaparon portulacoides (A.St.-Hil.) Mears
• Nome popular: Capotiragua, Pirixi
• Família: Amaranthaceae
• Distribuição: Costa litorânea, desde o Ceará (Brasil) até a
Argentina.
• Erva
• Floresce praticamente o ano todo (outubro a dezembro).
• As suas folhas servem de alimento para pequenos roedores,
lagartas de mariposas, larvas de moscas e também como
habitat para lagartixas.
Blutaparon portulacoides
Ipomoea pes-caprae (L.) R.Br.
• Nome popular: Salsa-da-praia
• Família: Convolvulaceae
• Distribuição: Norte (Pará), Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará,
Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e
Sergipe), Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo) e
Sul (Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina)
• Planta perene, com um sistema caulinar de ramos longos, que
podem atingir até 40 metros de comprimento.

Ipomoea pes-caprae
Panicum racemosum (P. Beauv.) Spreng

• Nome popular: Capim-das-dunas, grama-salgada


• Família: Poaceae
• Distribuição geográfica: Nordeste (Bahia, Ceará, Maranhão,
Pernambuco e Rio Grande do Norte), Sudeste (Espírito Santo
Rio de Janeiro e São Paulo) e Sul (Rio Grande do Sul e Santa
Catarina)
Panicum racemosum
Vegetação de
Restingas

São necessários,
fiscalização, licenciamento,
monitoramento, educação
ambiental, regionalização e
assessorias aos municípios
de uma forma integrada.
Exercício de fixação
1) Baseado na presença ou ausência de vegetação, como as dunas podem ser
subdivididas?
2) Quais são as características do solo das dunas?
3) Defina restingas.
4) Qual a importância da vegetação de restingas?
5) Complete o quadro abaixo:
Fatores estressantes Adaptações da vegetação de restinga
Movimentação de areia
Ventos
Salinidade
Estresse hídrico
Nutrientes

6) Quais são as estruturas que a vegetação de restinga utiliza para a dispersão de suas
sementes? Quais são os tipos de dispersão utilizados?
Referências

http://cebv.fc.ul.pt/cienciaonline/ficheiros/Dunas%202004.pd
f

http://www.icnf.pt/portal/agir/resource/doc/sab-ma/adap-
veg-dun

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