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rlESTAURAÇAO FLORESTAL
Fundamentos e Estudos de Caso
Restauração Florestal:
Fundamentos e Estudos de Caso
República Federativa do Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento


Roberto Rodrigues
Ministro

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa


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Vice-Presidente
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Chefe-Adjunto de Administração
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Chefe-Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento
Antonio Maciel Botelho Machado
Chefe-Adjunto de Comunicação, Negócios e Apoio
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Embrapa Florestas
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Restauração Florestal:
Fundamentos e Estudos de Caso

Editores Técnicos
A. Paulo M. Galvão
Vanderley Porfírio-da-Silva

Colombo, PR
2005
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:
Embrapa Florestas
Estrada da Ribeira, km 111 - CP 319
83411-000 - Colombo, PR - Brasil
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ouvidoria
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Presidente: Luciano Javier Montoya Vilcahuaman
Secretária-Executiva: Cleide da S.N.F. de Oliveira
Membros: Antônio Carlos de S. Medeiros, Edilson B. de Oliveira,
Erich G. Schaitza, Honorino R. Rodigheri, Jarbas Y. Shimizu, José
Alfredo Sturion, Patricia P. de Mattos, Sérgio Ahrens, Susete do
Rocio C. Penteado
Supervisor editorial: Sérgio Gaiad
Revisor de texto: Rejane Stumpf Sberze
Normalização bibliográfica: Elizabeth Câmara Trevisan
Lidia Woronkoff
Foto da capa 1: Acervo da Ligth - Servços de Eletricidade S.A. - A foto
mostra o programa de recuperação de áreas degradadas da Ligth, no
reservatório de Lages nos municípios de Piraí e Rio Claro-RJ
Fotos da capa 2, 3 e 4: Vera Lúcia Eifler ·
Autoria das fotos do texto : Autores dos capítulos
Editoração eletrônica: Cleide da Silva Neto Fernandes de Oliveira
lª edição
lª impressão (2005): 4000 exemplares
Todos os direitos reservados.
A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em
parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).

CIP-Brasil. Catalogação-na-publicação
Embrapa Florestas

Restauração florestal : fundamentos e estudos de caso /


editores técnicos, A. Paulo M. Galvão, Vanderley
Porfírio-da-Silva. - Colombo : Embrapa Florestas, 2005.
139p.
Inclui bibliografia
ISBN 85-89281 -04-3
1 . Mata Atlântica - Restauração. 2. Cerrado -
Restauração. 3 . Restauração florestal. 4 . Legislação
florestal. I. Galvão, Antonio Paulo Mendes. II. Porfírio-da-
Silva, Vanderley.
CDD 333.7153

© Embrapa 2005
Autores

André Rocha Ferretti


Engenheiro Florestal, Mestre - Sociedade de Pesquisa
em Vida Selvagem - SPVS
itaqui@spvs.org. br

Antonio Aparecido Carpanezzi


Engenheiro Florestal, Doutor, Pesquisador da Embrapa
Florestas
carpa@cnpf. embrapa. br

Flávio Bertin Gandara


Professor, Departamento de Ciências Florestais da Esalq/
USP
fgandara@esalq.usp.br

Gizelda Durigan
Engenheira Florestal, Doutora, Pesquisadora do Instituto
Florestal, SMA-SP
gizelda@femanet.com. br

Paulo Y. Kageyama
Professor, Departamento de Ciências Florestais da Esalq/
USP
paulo.kageyama@mma.gov. br
Renato Moraes de Jesus
Engenheiro Florestal, Doutor - Reserva Natural da Vale
do Rio Doce
floresta@tropical.com. br

Ricardo Miranda de Britez


Biólogo, Doutor - Sociedade de Pesquisa em Vida
Selvagem - SPVS
cachoeira@spvs.org.br

Samir Gonçalves Rolim


Engenheiro-Agrônomo, Doutorando - Reserva Natural
da Vale do Rio Doce

Sérgio Ahrens
Engenheiro Florestal, Doutor, Bacharel em Direito,
Pesquisador da Embrapa Florestas
sahrens@cnpf. embrapa. br

Sérgio Pompéia
Engenheiro-Agrônomo, Doutor - Consultora Paulista de
Estudos Ambientais
sergiopompeia@consul toriapaulista. com. br
Apresentação

iquemos restritos à agricultura. Até o início da década de 70, o


F movimento conservacionista sintetizava o grande esforço de ter-se
uma agricultura sustentável. Centrava-se nos solos e, menos enfaticamente,
na água. A divisão do trabalho entre conservacionistas implicou na existência
dos ativistas, com suas bandeiras que tocavam todos os segmentos da
sociedade, visando mostrar quão importante era preservar os solos e a água
para se garantir o futuro da humanidade. Outro membro da divisão dos
trabalhos ficou com as universidades e os institutos de pesquisa que geraram
a tecnologia de conservação de solos, que a extensão rural se encarregou
de difundir. A legislação exigia o desenvolvimento de classes de solos:
classificações foram estabelecidas e, finalmente, a política agrícola criou
estímulos para os agricultores, e a legislação estabeleceu os limites nos
quais os agricultores poderiam operar. Por traz de tudo, estava o princípio
de que conservar solos e água implicava em benefícios para a geração presente
e a futura, por isto ambas tinham que pagar os custos. Os subsídios, sob
várias formas, e as renúncias fiscais encarregaram-se de ligar o presente
ao futuro. É claro que o movimento foi mais bem sucedido nos países
desenvolvidos e não contou com recursos necessários nos subdesenvolvidos,
quem sabe porque falhou em ser um movimento de massas e lhe faltasse a
base científica necessária. Em suma, o movimento conservacionista contou
com os ativistas, procurou ser um movimento de massas, desenvolveu
tecnologias e as aplicou, e procurou repartir custos entre a geração presente
e futura. Deu ênfase à educação e sempre desconfiou de medidas punitivas,
embora se valesse delas, quando necessário. Jamais descuidou de mostrar
a rentabilidade de suas propostas.

Hoje a preservação do meio ambiente permeia todas as atividades


humanas. Mas, para ser uma atividade bem sucedida precisa ser um
movimento de massas, ter uma base científica sólida, saber dosar punição
com estímulo, saber repartir custos entre o presente e o futuro. Ser capaz
de teorizar e propor soluções factíveis. Caminhamos muito nesta direção,
mas ainda fizemos muito pouco.

Coube-me apresentar o livro Restauração Florestal - fundamentos


e estudos de casos. É um bom exemplo, no qual se une o fundamento
científico com a ação. Contém uma boa base teórica e mostra como pode ser
aplicada, no caso de restauração de terras degradadas da Mata Atlântica.
Os estudos de casos não se restringem a relatos cansativos, mas são
estimulantes, e vê-se o coração dos autores pulsar ao lado da razão.

Presente e futuro se ligam pela renúncia fiscal, um aspecto que


merece estudo posterior, bem como a taxa de retorno dos recursos fiscais
investidos.

Devemos o livro à persistência e competência dos empreendedores,


Paulo Galvão e Vanderley Porfírio da Silva, que souberam buscar na Embrapa,
universidades e no setor privado, os autores do estudo de caso. Que esta
experiência se multiplique, é o que todos nós desejamos.

Eliseu Roberto de Andrade Alves 1

1
Engenheiro-Agrônomo, Doutor, Pesquisador da Embrapa, Ex- Presidente da Embrapa e da
Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco.
Prefácio

É acentuada a escassez de publiéações sobre casos reais de


empreendimentos de restauração florestal em nosso país. Não há nenhum
texto publicado apresentando simultaneamente fundamentos técnicos e
teóricos e tampouco experiências práticas ou empreendimentos significativos
sobre esse assunto no Brasil. Por isso, visando oferecer uma contribuição
efetiva para a preservação ambiental e para o sucesso de projetos de
recomposição de Reserva Legal, decidi organizar um livro sobre restauração
florestal.

A primeira etapa para alcançar esse objetivo foi realizar um Seminário


sobre o assunto. Para fazer as apresentações e posteriormente elaborar os
sete capítulos do livro convidei pessoas com significativa experiência em
restauração florestal no Brasil. O seminário serviu de piloto para verificar a
aceitação dos temas selecionados, fornecer a matéria-prima básica para a
obra e estimular os seus autores a aperfeiçoar os textos preparados para a
apostila do evento.

Considerando o sucesso da iniciativa, tanto pelo número, qualidade e


interesse dos participantes, como pela excelente acolhida que teve, parti
para a segunda fase da organização ou edição técnica do livro. Ela demandou
cerca de um ano para ajustes nos textos iniciais usados no seminário. Para
isso, promovi o aperfeiçoamento do material inicial, o aumento do número e
melhoria das ilustrações, assim como a compatibilização, revisão técnica,
ortográfica, gramatical e sintática dos seus sete capítulos. Essas atividades
foram desenvolvidas pelos editores técnicos, pelos próprios autores por
revisores da Embrapa, assim como por convidados de outras instituições. Na
etapa final a edição técnica contou, ainda, com a participação de Vanderley
Porfírio da Silva, pesquisador da Embrapa Florestas. Um derradeiro conjunto
de atividades, incluindo a diagramação, o preparo das ilustrações, a arte
final e a impressão permitiu finalmente que este livro pudesse ser oferecido
ao público.

Os autores convidados são profissionais da área florestal e ambiental


que militam há considerável tempo no setor privado e/ou público. Eles detêm
notável conhecimento e experiência pessoal em restauração florestal, nos
seus aspectos teóricos e práticos. Nesta obra relatam casos de
empreendimentos nos quais tiveram participação direta e apresentam os
resultados da aplicação de distintos modelos e técnicas, assim como os
fundamentos legais ou científicos que permitem conduzir de maneira
apropriada essas ações ambientais.

O texto completa obras anteriores, organizadas por este pesquisador e


editor técnico, que tratam de temas afins: "Reflorestamento de Propriedades
Rurais para Fins Produtivos e Ambientais", publicada em 2000, e "Restauração
da Mata Atlântica em Áreas de sua Primitiva Ocorrência Natural", publicada
em 2002.

Biólogos, engenheiros agrônomos e florestais, advogados, proprietários


rurais, legisladores, administradores públicos, estudantes e demais pessoas
interessadas em assuntos ambientais são o principal publico alvo desta obra.
A sua leitura evidenciará que o sucesso de empreendimentos de restauração
depende da firme decisão de se enfrentar os problemas que aparecerem
durante o processo, procurando sempre as melhores soluções para cada
dificuldade surgida.

A. Paulo M. Galvão 1

Organizador /Editor Técnico

1
Engenheiro-Agrônomo, Doutor, Pesquisador da Embrapa.
Sumário

Capítulo 1 - Sobre a Legislação Aplicável à Restauração de Florestas de


Preservação Permanente e de Reserva Legal.. .......... ....... ...................... 13

Capítulo 2 - Fundamentos para a Reabilitação de Ecossistemas Florestais 27

Capítulo 3 - Resultados do Programa de Restauração com Espécies


Arbóreas Nativas do Convênio Esalq/USP e Cesp ........... ........................ 47

Capítulo 4 - Experiências Relevantes na Restauração da Mata Atlântica 59

Capítulo 5 - A Restauração da Floresta Atlântica no Litoral do Estado do


Paraná: Os Trabalhos da SPVS ...... ..... ..... ...... .. ...... ................................. 87

Capítulo 6 - Restauração da Cobertura Vegetal em Região de Domínio do


Cerrado ... ... ........... .... ... ... .... .. ..... ... ................................ ... ... .. ...... .. ..... ... 103

Capítulo 7 - Recuperação da Vegetação da Serra do Mar em Áreas Afetadas


pela Poluição Atmosférica de Cubatão: Uma Análise Histórica ... ........... 119
Capítulo 1

SOBRE A LEGISLAÇÃO APLICÁVEL À RESTAURAÇÃO


DE FLORESTAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E DE
RESERVA LEGAL

Sergio Ahrens 1

Introdução: antecedentes e a natureza do problema

Ao longo de toda a história bra- Ações de recuperação ambiental


sileira proprietários rurais sempre são necessárias, senão por outras
fizeram uso intensivo da terra dispo- razões, por que a legislação assim
nível em suas propriedades . Se, de determina! O proprietário rural está
um lado, tal utilização das terras per- legalmente obrigado a recompor os
mitiu a prática da agricultura e a pro- solos e os ecossistemas degradados
moção do desenvolvimento sócio-eco- em suas terras. Há situações, no
nômico em diferentes regiões do país, entanto, em que ações de recupera-
muitas vezes a atividade produtiva ção ambiental são uma prioridade.
agrária causou danos ambientais sem Este é o caso da recomposição, em
que o fato fosse imediatamente per- cada propriedade imóvel rural, das
cebido. Dessa forma, constituiu-se, "florestas e demais formas de vege -
ao longo do tempo, um imenso "pas- tação natural de preservação perma-
sivo ambiental", que na atualidade nente", localizadas nas "Áreas de
precisa ser recuperado 2 • Preservação Permanente" (APPs), bem

1
Engenheiro Florestal, Doutor, Bacharel em Direito , Pesquisador da Embrapa Florestas,
Colombo, PR, sahrens@cnpf.embrapa.br.
2
Hernani et al. (2002, p. 52) informam que a Federação das Associações dos Engenheiros Agrô-
nomos do Brasil relatou que, no inicio da década de 90, perdia-se no Brasil, anualmente, em
média, 600 milhões de toneladas de solo por causa do seu mau uso e da erosão.

13
como da vegetação natural que de - mente protegidos: isto é, um preJm-
veria ser mantida no que a lei deno- zo causado a alguém por um terceiro
mina "Reserva Legal" (RL). Assim, que se vê obrigado ao ressarcimento
sempre que não mais exista, mesmo daquele. A reparação de danos é um
que apenas parcialmente, a vegeta - componente essencial da responsa-
ção natural que deveria cobrir as bilidade civil. Nesse sentido, Leite
APPs e a RL, diz-se que aquela é uma (2000, p. 98) enfatiza que o dano é
área degradada. Nesses casos impõe- um pressuposto necessário da obri-
se a obrigatoriedade de recompor a gação de reparar e, por isso, elemen-
vegetação com vistas à restauração to imprescindível para estabelecer a
do ecossistema e de suas funções responsabilidade civil. No Brasil, os
ambientais. Em vista do exposto, o institutos tradicionais da ação e do
propósito deste capítulo é relatar, de processo civil clássicos, apropriados
forma breve e introdutória, aspectos às lides no âmbito privado, têm se
relevantes da legislação relacionada mostrado insuficientes para a prote-
com a restauração da vegetação na- ção dos chamados interesses ou di-
tural que deveria existir nos locais reitos difusos, dentre os quais inse-
anteriormente mencionados: as Áre- re-se o direito ao "meio ambiente
as de Preservação Permanente e a ecologicamente equilibrado". Por esse
Reserva Legal3. motivo criou-se, com a Lei nº 7.347 /
85, a figura da "ação civil pública",
que é o instrumento processual ade-
1. A noção de dano ambiental e sua quado tanto para a prevenção como
reparação para a reparação de danos causados
ao meio ambiente. Na medida em que
Conforme previsto em norma não é objeto deste capítulo, a ação
constitucional (Constituição Federal, civil pública pode ser examinada, em
Art. 225, § 3º) a responsabilização por detalhes, no estudo de Corrêa ( 1992,
danos ambientais pode ocorrer em p. 34-39) e nas obras de Leite (2000),
três dimensões distintas, muito em- Montes (2002, p. 587-597) e Mirra
bora relacionadas entre si: civil, ad- (2002). Aqui importa, em especial
ministrativa e penal (Silva, 1997, p. caracterizar o dano ambiental e dis-
207; Peters & Pires, 2000, p. 55). Na correr sobre a sua reparação.
medida em que este capítulo trata
da restauração ambiental, apenas a Para Milaré (2000, p. 334), "dano
responsabilidade civil será examina- ambiental é a lesão aos recursos
da. ambientais com conseqüente degradação
- alteração adversa - do equilfürio eco-
De forma genérica, um "dano" lógico". Na mesma linha de pensa-
é uma lesão a interesses jurídica- mento, Antunes (1999, p. 148- 149)

3
A obrigatoriedade de recomposição das "Florestas e demais formas de vegetação natural de
Preservação Permanente", existe desde que o Código Florestal entrou em vigência, 120 dias
após a sua publicação, em 16-09- 1965. De outro lado, a recomposição da vegetação que deveria
existir na Reserva Legal foi imposta pelo Art. 99 da Lei nº 8.1 71 / 91, diploma legal que instituiu
a Política Agrícola.

14
reporta que dano ambiental é um ção Permanente e a Reserva Legal.
dano causado aos bens jurídicos que Diante da natureza genérica deste
compõem o meio ambiente, como, por capítulo, apenas os instrumentos le -
exemplo, os solos, as águas, a fauna gais produzidos pelo Poder Público
e a flora. Quanto à reparação dos Federal, e considerados mais rele -
danos ambientais, Machado (1999, p. vantes para a análise, são mencio -
285), informa que tanto a Constitui- nados de forma cronológica. Inicial-
ção Federal, que emprega os termos mente, porém, uma breve análise do
"reparação" e "recuperação", como a conteúdo de norma constitucional que
legislação infraconstitucional, que trata do tema é uma necessidade. Ao
usa expressões como "restauração" leitor recomenda-se uma consulta à
e "reconstituição", estão em harmo - legislação estadual e, eventualmente,
nia no sentido de indicar um cami- também à municipal, para complemen-
nho (necessário) para as pessoas fí - tar o entendimento sobre a matéria.
sicas e jurídicas que danificarem o
meio ambiente. O Art. 225, § 3º, da Constitui-
ção estabelece que a obrigatoriedade
Dado que a existência humana da reparação dos danos causados ao
implica o uso de recursos naturais, meio ambiente independe das san-
Leite (2000, p. 107) coloca a seguin- ções penais e das multas que pos -
te questão, complexa e fundamental: sam incidir sobre as pessoas físicas
"Qual a intensidade do dano ambiental ou jurídicas responsáveis por ativi-
capaz de redundar na obrigação de re - dades e condutas consideradas lesi-
parar?" A resposta à questão certa- vas ao meio ambiente. Determina
mente não é simples! No entanto, na também que a propriedade cumprirá
medida em que há previsão legal, a a sua função social (Art. 5º, XX.III).
restauração da vegetação que deve Ainda por norma constitucional (Art.
existir nas APPs e na RL é uma in- 186) informa-se o conteúdo da fun-
discutível obrigatoriedade. Para este ção social da propriedade rural, in-
estudo, portanto, o exame da legis - dicando-se os quatro requisitos que
lação pertinente, como apresentado devem ser observados simultanea-
na seqüência, é uma necessidade mente: dentre estes encontra-se, no
natural. inciso II: "utilização racional dos recur-
sos naturais e preservação do meio am-
4
biente" •

2. Legislação aplicável à restaura-


ção de APPs e RL No âmbito da legislação
infraconstitucional, o diploma legal
Diversos diplomas legais con- mais relevante para esta análise é o
templam a obrigatoriedade de que Código Florestal, Lei nº 4. 771, edita-
seja mantida e, quando necessário, da em 15-09- 1965, e que contém di-
restaurada, a vegetação natural que versas figuras jurídicas essenciais à
deve recobrir as Áreas de Preserva- proteção do patrimônio florestal do
4
Sobre a "Função Social" da propriedade rural recomenda-se examinar Borges (1999, p . 61 -94)
e Albuquerque (2001, p. 75 -80).

15
país, citando-se, como exemplo: a Re- dos termos, convém examinar a Lei
posição Florestal Obrigatória, a proi- nº 9.985, de 18-07- 2000. Também
bição do uso do fogo, as Florestas e conhecida como "Lei do SNUC", pos-
demais formas de Vegetação Natu - to que instituiu o Sistema Nacional
ral de Preservação Permanente e a de Unidades de Conservação, esta lei
Reserva Legal. Pela sua importância define "restauração" como a restitui-
fundamental ao estudo, esta lei será ção de um ecossistema, ou de uma
examinada em detalhes, no que é população silvestre degradada, o mais
pertinente a esta análise , em seção próximo possível da sua condição ori-
própria. ginal. O termo difere, portanto, da
expressão "recuperação" que signifi-
A Política Nacional de Meio Am- ca a restituição do ecossistema a uma
biente foi instituída com a Lei nº condição não degradada que pode ser
6.938/81. Esta lei define, em seu Art. diferente da sua condição original.
3º, V, que dentre os diferentes re -
cursos ambientais legalmente prote- É oportuno lembrar também que
gidos encontram -se o ar, o solo, o a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº
subsolo, as águas (de superfície e 9 .605/98) transforma em crimes e
subterrâneas), a fauna silvestre e a infrações administrativas diversos
flora, incluindo -se, aqui, portanto, delitos praticados contra a flora. Esta
também as florestas (nativas ou na- Lei impõe, ainda, que além das san-
turais). Também, por definição legal ções pecuniárias, aplicadas pelo Po-
deve -se entender por "degradação" der Executivo (previstas pelo Decre -
da qualidade ambiental "qualquer al- to Federal nº 3.179/99), deve -se co-
teração adversa das características e ele- municar o fato ao Ministério Público.
mentos que integram o meio ambiente." Assim , independentemente da ação
administrativa, aquele que der cau-
O Decreto 750 / 93 informa, em sa a danos ambientais responderá,
seu Art. 12, que o Ministério do Meio também, a uma ação judicial. Mui-
Ambiente, MMA, estimulará estudos tas vezes, para que a cobertura flo -
técnicos visando a conservação e o restal seja rapidamente restaurada,
manejo racional da "Mata Atlântica" o órgão ambiental pode formalizar,
e da sua biodiversidade. Implícito à com os proprietários rurais, um Ter-
conservação dos ecossistemas inse- mo de Ajustamento de Conduta (TAC),
ridos no Domínio da Mata Atlântica informando -se o Ministério Público
está, obviamente, a necessidade ur- (conforme dispõem o Art. 79-A da Lei
gente de sua restauração. Cabe men- nº 9.605/98 e a Lei nº 7.347 /85).
cionar, também, que o Decreto nº
3.420, de 20-04 -2000, diploma legal A Lei de Crimes Ambientais de-
que criou o Programa Nacional de termina, ainda, que as penalidades
Florestas, PNF, prevê a necessidade incidirão sobre todos os responsáveis
da "recomposição e restauração de .flo- pela ação degradadora, sejam eles
restas de preservação permanente, de diretos ou solidários, pessoas físicas
reserva legal e áreas alteradas ... " (Bra- ou jurídicas. Após o cumprimento das
sil, 2000). A respeito do significado obrigações assumidas, a multa ad -

16
ministrativa é reduzida em 90% do Para legitimar a exclusão daquelas
valor inicialmente imposto (Decreto áreas do cálculo do imposto devido
Federal nº 3.179/99, Art. 60). Even- requer-se, no entanto, que a exis -
tualmente, a aplicação da multa tência das mesmas seja informada
pode até mesmo ser suspensa. As - em um "Ato Declaratório Ambiental",
sim ocorre porque é mais importan- ADA, e que este seja protocolado no
te recompor o bem jurídico danifica- Ibama 6 • Obviamente, primeiro a ve -
do do que a aplicação de penas e getação natural que deveria recobrir
multas. Como informam Peters & Pi- aquelas áreas tem que existir "de
res (2000, p. 62) "mais importante que fato"; em qualquer outra hipótese é
a punição é a reparação do dano necessária a sua restauração.
ambiental" . A extinção da
punibilidade (Art. 28, I) dependerá,
no entanto, de "laudo de constatação 3. O Código Florestal
de reparação do dano ambiental",
oportunidade em que a efetiva repa- O Código Florestal foi instituí-
ração do dano (restauração ao "status do pela Lei nº 4.771, de 15-09-1965.
quo ante") é verificada e comprovada Ao proteger as florestas (naturais ou
por meio de um laudo técnico elabo- plantadas) existentes no território
rado pelo órgão ambiental. nacional, aquela lei também protege
os solos (contra a erosão) e as águas
Finalmente cabe mencionar o dos rios, lagos e lagoas (contra o
Decreto nº 4.383, de 19-09-2002, que assoreamento com sedimentos resul-
regulamenta a tributação, fiscaliza - tantes da erosão). As florestas cum-
ção, arrecadação e administração do prem, igualmente, outras importan-
Imposto sobre a Propriedade tes funções ambientais como, por
Territorial Rural, ITR. Este imposto exemplo, a proteção da fauna, da qua-
tem como fato gerador a proprieda- lidade e da quantidade da água e do
de, o domínio útil ou a posse de imó- fluxo gênico. Por esses motivos insti-
vel rural. Para o cálculo do valor do tuiu-se, por lei, a obrigatoriedade de
imposto pode -se excluir, da "área preservação das florestas e demais
tributável", as áreas de APPs, de RL, formas de vegetação natural de Pre-
de RPPN 5 , de Servidão Florestal e servação Permanente, e que devem
as de Interesse Ecológico para a Pro- estar localizadas em locais denomi-
teção de Ecossistemas, assim decla- nados Áreas de Preservação Perma-
radas por ato do órgão competente. nente (APPs) 7 •

5
A instituição, pelo proprietário, de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, RPPN, e
o seu reconhecimento, pelo lhama, por meio de uma portaria, é prevista no Decreto nº 1.920,
de 05 -06-1996.
6
Por ser um Ato Declaratório, o proprietário é legalmente responsável por todas as informações
prestadas no ADA, e por esse motivo poderá ser solicitado a comprovar, perante a autoridade
competente, todas as declarações que porventura tenha documentado.
7
A vegetação existente às margens dos cursos d'água constitui, também, o que se denomina
"Corredores Ecológicos" ou "Corredores de Biodiversidade" e assim protege, adicionalmente, a
fauna e o fluxo gênico desta, bem como aquele da flora.

17
Adicionalmente, o Código Flo - permanente, necessária ao uso susten-
restal também determina que o pro- tável dos recursos naturais, à conserva-
prietário {ou possuidor) rural conser- ção e reabilitação dos processos ecoló-
ve a cobertura vegetal natural em gicos, à conservação da biodiversidade
determinada porcentagem da área e ao abrigo e proteção de fauna e .flora
total de cada propriedade {ou posse) nativas.
a título de Reserva Legal {RL) 8 •
Na seqüência, estas duas figu -
A respeito das duas figuras ju- ras legais serão examinadas, em es-
rídicas mencionadas, o Código Flo- pecial no que diz respeito à restau-
restal estabelece, em seu Art . 1 2 , § ração da cobertura vegetal natural
2 2 , as seguintes definições: (por vezes cobertura florestal) que
deveria existir nos locais onde a lei
Artigo 1 2 ••••••• determina a sua manutenção.

§ 2 2 Para os efeitos deste Código,


entende-se por: 3.1 As Florestas de Preservação
Permanente
li -Área de preservação permanen-
te: área protegida nos termos dos Arts. Em seu Art. 2 2 , o Código Flores-
2º e 3º desta lei, coberta ou não por ve- tal estabelece o que segue:
getação nativa, com afunção ambiental
de preservar os recursos hídricos, a pai- Art. 2º Consideram-se de preser-
sagem, a estabilidade geológica, a vação permanente, pelo só efeito desta
biodiversidade, o.fluxo gênico de fauna lei, as .florestas e demais formas de ve-
e.flora, proteger o solo e assegurar o bem - getação natural situadas 10 :
estar das populações humanas 9 •
a) ao longo dos rios ou de qualquer cur-
Ili - Reserva Legal: área localizada so d'água, desde o seu nível mais
no interior de uma propriedade ou pos - alto em faixa marginal cuja largura
se rural, excetuada a de preservação mínima será: (Tabela 1 );

8
Magalhães ( 1990, p . 51 -53), discorre sobre algumas limitações administrativas impostas ao
exercício dos poderes inerentes ao direito de propriedade (imóvel) rural, o que inclui a
obrigatoriedade de manutenção das APPs e da RL.
9
Se as Áreas de Preservação Permanente são cobertas ou não por vegetação nativa, e se tais
áreas devem cumprir determinadas funções ambientais, é evidente que estas últimas somente
poderão ser verificadas com a presença da vegetação que naturalmente deveria existir nos
mencionados locais, ou seja: a vegetação que não seja nativa (ou cobertura vegetal constituída
por espécies exóticas) não permite o cumprimento das funções ambientais previstas em lei
e deve, portanto, ser substituída por aquela.
10
Apenas as situações previstas no Art. 2 do Código Florestal serão examinadas; uma vez que
são impostas por lei. O Art. 3º informa sobre as florestas e demais formas de vegetação
natural de preservação permanente, quando assim declaradas por ato do poder público.

18
Tabela 1. Largura das áreas de d) no topo de morros, montes, monta-
preservação permanente (APPs) em nhas e serras 13 ;
razão da largura dos rios.
e) nas encostas, ou partes destas, com
Largura do rio Largura da APP declividade superior a 45 graus;
(metros) (metros)*
---- --- ---
Menos que 10 30 j) nas restingas, para afixação de du-
Entre 10 e 50 50 nas e estabilização de mangues;
Entre 50 e 200 100
Entre 200 e 600 200 g) nas bordas dos tabuleiros e
Acima de 600 500 chapadas, emfaíxas nunca inferio -
res a 100 metros, em projeção hori-
* largura mínima, em cada margem e em
projeção horizontal (segundo dispõe a zontal;
Resolução Conama 303/02, a APP inicia-se no
limite do "leito maior sazonal" ou cota de h) em altitude superior a 1.800
máxima inundação). metros.

b) ao redor das lagoas, lagos ou reser - Adicionalmente ao disposto no


vatórios d'água naturais ou Art. 2º, o Art. 18 do Código Florestal
artificiais 11 ; assim determina:

c) nas nascentes, ainda que intermiten- Art. 18 - Nas terras de proprieda-


tes, e nos chamados "olhos d'água", de privada, onde seja necessário o
qualquer que seja a sua situação to - fiorestamento ou o reflorestamento de
pográfica, num raio mínimo de 50 preservação permanente, o Poder Pú -
metros 12 ;

11
Segundo dispõe a Resolução 303/02, editada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente,
Conama (e publicada no Diário Oficial da União, DOU, de 13-05 -2002), a vegetação natural
nas APPs ao redor de lagos e lagoas naturais, localizados em áreas rurais, deve ser mantida
ou restaurada em faixas marginais com, no mínimo, 50 metros (para lagos com área de até 20
ha), ou, no mínimo, 100 metros (para lagos com área maior que 20 ha). Para reservatórios
artificiais (RA), aplica-se o disposto na Resolução Conama 302/02 (DOU de 13-05-2002) e que
prevê faixas marginais (ao redor do reservatório e nas ilhas que porventura sejam formadas)
com, no mínimo, 30 metros para RA situados em áreas urbanas e 100 metros em áreas rurais ;
15 metros para RA construídos para geração de energia elétrica com até dez ha; 15 metros para
RA utilizados para abastecimento público ou geração de energia elétrica, com até 20 ha e
localizados em área rural.
12
Graças à competência concorrente entre União, Estados e Municípios para legislar sobre meio
ambiente recomenda-se, também, consulta à legislação estadual e municipal pertinente. Assim,
por exemplo, o Código Estadual do Meio Ambiente do Estado do Mato Grosso, Lei Estadual
Complementar nº- 038, de 21 - 11 - 1995, determina que, são de Preservação Permanente as
florestas e demais formas de vegetação natural localizadas ao redor das nascentes, das cachoeiras
ou quedas d'água, e em cursos d'água, em um raio mínimo de 100 metros (enquanto que a lei
federal, para nascentes e olhos d'água, prevê um raio de 50 metros).
13 A Resolução Conama 303/02 define "morro" como uma elevação do terreno com altura entre
50 e 300 m em relação à sua base e cujas encostas tenham declividade maior que 30%;
"topo de morro" é a área delimitada a partir da curva de nível localizada a 2/3 da altura da
elevação em relação à base.

19
blico Federal poderá Jazê -lo, se não o tuirá apenas nos casos de "relevan-
fizer o proprietário 14 • te interesse ambiental", hipótese em
que tanto os danos ao meio ambien-
Uma interpretação bastante ra- te como os benefícios de sua restaura-
zoável que pode ser feita do conteú- ção têm reflexos não apenas locais,
do daquela norma legal é a de que, mas dizem respeito a toda a socieda-
primeiro , compete ao particular a de.
obrigação de recompor a cobertura
florestal nas APPs localizadas em sua 3.2 A Reserva Legal
propriedade, e que apenas num se -
Segundo o que dispõe o Art. 16
gundo momento poderá o Poder Pú-
do Código Florestal, as seguintes por-
blico fazê -lo. De outro lado, muito
centagens da área total de cada pro-
embora a lei autorize ao Poder Públi-
priedade ou posse rural 15 devem ser
co realizar o "reflorestamento de pre-
mantidas a título de Reserva Legal,
servação permanente" na proprieda-
com vegetação nativa ou natural, em
de privada, é de amplo conhecimen-
diferentes fitofisionomias e regiões
to que as instituições governamen-
do território nacional:
tais estão pouco preparadas para
implementar as atividades necessá- 80% (fitofisionomias florestais),
rias ao cumprimento da norma legal. ou 35% (cerrado), na Amazônia
Eventualmente, tais atividades pode- Legal;
riam ser realizadas pelo Poder Públi-
co no caso da restauração de vegeta- 20% em outras regiões do país e
ção degradada em conseqüência de
eventos naturais como fogo e enchen- 20% em áreas de campo natural,
tes extraordinárias. De outro lado, localizadas em qualquer região do
na hipótese em que o Poder Público país.
viesse a realizar a restauração de
bem jurídico ambiental degradado por Ainda segundo o Art. 16 do Có-
ação antrópica, na propriedade pri- digo Florestal, a Reserva Legal deve
vada, seria legítimo que aquele fos - ser averbada à margem da inscrição
se ressarcido pelos custos incorridos. da matrícula da propriedade imóvel
Como exposto, a regra geral aplicá- rural no registro de imóveis compe -
vel é a de que a reparação do dano tente. Somente após a sua averbação
ambiental compete àquele que lhe a Reserva Legal passa a ser legal-
deu causa: o Poder Público o substi- mente constituída como tal1 6 • A ve -

14
Recomenda-se o exame dos estudos documentados por Kageyama et ai. (1994) e Davide et ai.
(2000, p.65 -74) que informam sobre o desenvolvimento de modelos para o estabelecimento de
florestas mistas de proteção ambiental, enfatizando a restauração da cobertura florestal em
APPs , particularmente das matas ciliares.
15
Na medida em que , algumas vezes , uma propriedade rural pode ser composta por mais que
uma matrícula, cabe lembrar que a RL é uma figu ra associada a cada matrícula.
16
Na posse , a RL é assegurada por um Termo de Ajustamento de Conduta, TAC , firmado pelo
possuidor e pelo órgão estadual ou federal competente, com força de título executivo.

20
getação que integra a Reserva Legal Conforme determina o Código
pode ser explorada, desde que o pro- Florestal, a localização da Reserva
prietário rural elabore um Plano de Legal é estabelecida a critério da
Manejo Florestal Sustentável e que autoridade ambiental competente.
sua execução seja autorizada pelo Neste caso devem ser observados os
lbama ou pelo órgão ambiental esta- seguintes elementos:
d ual17. Cabe lembrar, também, que
a vegetação que integra a RL não a) a "Função Social" da propriedade
o
pode ser suprimida por meio de cor- (Constituição Federal, Arts. s-,
te raso, admitindo -se, no Plano de XIII e 186);
Manejo, apenas o corte seletivo.
b) o plano de manejo da bacia
A Reserva Legal é, portanto, hidrográfica;
uma determinada parcela da área
total de cada propriedade imóvel ru - c) o Plano Diretor Municipal;
ral, coberta por vegetação nativa (ou
vegetação natural, posto que resulta d) o Zoneamento Ecológico-Econômi-
de processos naturais de sucessão co, ZEE (Decreto n-º 4.297, de 10-
vegetal). É pertinente observar que a 07- 2002);
RL não é apenas florestal, como in-
formam, por exemplo, Machado (1999) e) a proximidade com outra RL, APP,
e Peters & Pires (2000); Ahrens ou Unidade de Conservação.
(2001) enfatiza que melhor seria de-
nominar esta figura jurídica de Re - Para o cálculo da RL na "peque-
serva (Ambiental) Legal, uma vez que na propriedade ou posse rural fami-
se refere à conservação da flora e liar" a lei admite considerar os plan-
não apenas das florestas, como tios já estabelecidos com espécies
explicitado em sua definição legal (Lei exóticas (árvores frutíferas, orna -
o o o
n- 4.771, Art.i-, § 2-, c, III). Adicio- mentais ou industriais), cultivadas
nalmente, conforme definição legal, em sistema intercalar ou em consór-
a RL deve cumprir funções cio com espécies nativas 18 • Para
ambientais que são inerentes a di- quaisquer propriedades, no entanto,
versas fitofisionomias, e não apenas quando não mais existir a vegetação
àquelas com cobertura florestal. na RL, mesmo que apenas parcial-

17
O Art. 19 do Código Florestal menciona apenas o Ibama. Verifica-se, na doutrina, uma discussão
acerca da competência dos órgãos ambientais estaduais sobre a matéria.
18
O Art 1º, § 2º, I, do Código Florestal define "pequena propriedade rural ou posse rural familiar"
como sendo aquela explorada mediante o trabalho pessoal do proprietário ou posseiro e de
sua família, admitida a ajuda eventual de terceiro(s), e cuja renda bruta seja proveniente em,
no mínimo , oitenta por cento, de atividade agroflorestal ou extrativismo. Ademais , impõe-se
que para ser considerada uma "pequena propriedade rural ou posse rural familiar" sua área
não seja superior a:
a) 150 ha: se localizada nos Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e
Mato Grosso, e nas regiões situadas ao norte do paralelo 13º S dos Estados de Tocantins e
Goiás, e ao oeste do meridiano 44 º W do Estado do Maranhão, ou no Pantanal Mato-grossense
ou sul-matogrossense; b) 50 ha: se localizada no polígono das secas ou a leste do meridiano
44 º W do Estado do Maranhão; c) 30 ha: se localizada em qualquer outra região do país.

21
mente, aquela deverá ser restaura- seja autorizada a sua compensação
da com espécies nativas. Em qual - por área equivalente e com, no mí-
quer caso, o Art. 44 do Código Flo- nimo, a mesma importância
restal (alterado pela Medida Provisó- ambiental, em outra propriedade.
ria nº 1.956-50, DOU de 28-05 -2000, Esta, no entanto, deve estar locali-
reeditada, com o mesmo conteúdo zada no mesmo Estado, no mesmo
normativo, até a MP nº 2.166-67, DOU ecossistema e na mesma microbacia
de 25 -08 - 2001, ainda vigente, em em que se encontra a propriedade
função da Emenda Constitucional nº que não dispõe de RL. De outro lado,
32, de 11-09-2001), determina que a em muitas regiões nas quais a co -
recomposição da RL deverá ser rea- bertura vegetal natural seja escas -
lizada adotando -se as seguintes al - sa, a possibilidade de compensar a
ternativas, isolada ou conjuntamen- RL configura - se de difícil
te: implementação, restando aos propri-
etários apenas a sua restauração.
a) Pelo plantio, a cada três anos, de
no mínimo 1 / 1 O da área neces -
sária à sua complementação, com 4. A presença de espécies invaso-
espécies nativas 19 e 20 ; ras em espaços protegidos

b) pela condução da regeneração Nos últimos anos têm crescido


natural, desde que autorizada pelo as preocupações com o que se cha-
órgão ambiental competente, após ma "contaminação biológica" de
comprovação de sua viabilidade, ecossistemas naturais. Segundo in-
com laudo técnico, podendo -se forma Ziller (2003), a dispersão de
exigir que a área seja isolada (por plantas a partir dos "núcleos de re -
exemplo, por meio de cercas) 21 . florestamento" (i. é., florestas plan-
tadas com espécies exóticas) consti-
As modificações introduzidas no tui um problema não apenas nos cam-
Código Florestal pela MP nº 2.166 - pos do sul do Brasil, mas também na
67 incluem, também, uma nova e Argentina, África do Sul, Nova
importante figura jurídica, a "com- Zelândia, Austrália e em outros paí-
pensação". Assim, quando uma pro- ses para os quais ainda não há re-
priedade não disponha de sua RL, gistros oficiais sobre a ocorrência
admite -se a possibilidade de que desse problema. O processo de con-

19
Como exceção àquela regra geral, a lei permite que na restauração da RL seja realizado o
plantio temporário de espécies exóticas, como pioneiras, visando a restauração do ecossistema
original, de acordo com critérios técnicos gerais que ainda deverão ser estabelecidos pelo
Conama.
20
Trapé et al. (1994, p. 375-387) informam sobre o uso de espécies florestais nativas para a
recomposição da RL, muito embora em outro contexto, posto que à época não havia uma
definição legal para RL, incorporada ao Código Florestal apenas posteriormente, pela MP
1.956-50, publicada no DOU de 28-05 -2000.
21
Seitz (1994) informa sobre as possibilidades, e algumas dificuldades, para que a regeneração
natural possa ser utilizada na recuperação de áreas degradadas, o que inclui também a RL.

22
taminação resulta da dispersão de Medidas Provisórias, o Código Flores-
sementes de espécies exóticas (ao tal (Art. 1º, § 2º, IV, V) considera de
ecossistema) e do crescimento não interesse social as atividades impres-
controlado das plantas resultantes, cindíveis à proteção da integridade
fato que impede o desenvolvimento da vegetação nativa, tais como a pre-
das espécies nativas em conseqüên- venção, o combate e o controle do
cia à competição por água, luz e nu- fogo, o controle de erosão, a
trientes. erradicação de espécies invasoras e
a proteção dos plantios com espéci-
Ressalte -se que o problema de es nativas, conforme resolução que
contaminação biológica acentua-se venha a ser editada pelo Conama.
no caso das invasões de APPs e RL
por espécies exóticas: a presença de
tais espécies naqueles locais, cons - 5. Restauração de APPs e RL e a
titui uma forma de degradação certificação ambiental
ambiental. Assim ocorre porque es -
pécies exóticas que venham a se ins- O comércio internacional de
talar ali não contribuem para o cum- produtos florestais vive a realidade
primento das respectivas funções contemporânea da certificação
ambientais conforme a previsão le - ambiental/florestal. Em todo o pla-
gal. Pelo contrário, a presença das neta, e de forma crescente, consu -
espécies exóticas, suplantando ou midores fundamentam suas decisões
até mesmo eliminando as espécies de compra em outros fatores que não
nativas, prejudica tanto a preserva- apenas preço e qualidade . Assim, na
ção como a conservação da atualidade, consumidores indagam
biodiversidade, a conservação e rea- sobre onde, como e quem produziu
bilitação dos processos ecológicos, e determinado produto; as questões
inibem, se não impedem, o fluxo sociais e ambientais deixam, portan-
gênico da fauna e da flora. Aparen- to, de ter relevância apenas local!
temente, a única solução possível Neste cenário de globalização e
para o problema é o corte e a remo- competitividade é preciso produzir de
ção das espécies exóticas daqueles uma forma ambientalmente correta
locais. e socialmente justa. A comprovação
do fato efetiva-se por meio de um cer-
De outro lado, muito embora a tificado.
vegetação nas APP's deva ser preser-
vada, o Código Florestal informa, em Segundo a Associação Brasilei-
seu Art. 4º, que a supressão da vege- ra de Normas Técnicas - ABNT (As -
tação em área de preservação per- sociação ... , 2002), denomina-se cer-
manente poderá ser autorizada em tificação ao " conjunto de atividades
caso de utilidade pública e interes - desenvolvidas por um organismo inde -
se social (desde que não exista ou - pendente de uma relação comercial (en -
tra alternativa locacional). Nesse tre produtor e consumidor) com o obje -
sentido, após as alterações tivo de atestar publicamente, por escri-
introduzidas pela reiterada edição de to, que determinado produto, processo

23
ou serviço está em coriformidade com 6. Considerações finais
requisitos previamente especificados."
A certificação das boas práticas de O proprietário ou possuidor ru-
ral está legalmente obrigado a man-
manejo florestal é avaliada por sua
ter e conservar a vegetação natural
conformidade com princípios, crité -
que deve recobrir as Áreas de Pre -
rios e indicadores previstos, por
servação Permanente, APPs, e a Re-
exemplo , pelo Conselho de Gestão serva Legal, RL. Na existência par-
Florestal, FSC e pelo Programa Bra- cial ou na inexistência daquela ve-
sileiro de Certificação Florestal - getação cabe ao proprietário ou pos -
Cerflor (NBR 14789). Em qualquer suidor da terra a sua restauração.
caso, um princípio fundamental a Ressalte-se que, em várias comar-
ser atendido é o "cumprimento da cas, promotores de Justiça têm im-
legislação". Ressalte -se que o prin- posto, aos proprietários rurais, o ur-
cípio diz respeito a toda a legisla- gente cumprimento das leis ambi -
ção, o que inclui, por exemplo, a ci- entais, como alternativa à aplicação
vil, trabalhista, tributária, previden- imediata de multas pelo órgão am-
ciária e assim, por óbvio, também a biental.
legislação ambiental, observando-se,
De outro lado, o conhecimento
portanto, o disposto no Código Flo-
das normas legais aplicáveis às APPs
restal. e RL é essencial para que as ações
de restauração da vegetação natu -
Assim, desejando candidatar-sé
ral sejam adequadamente planeja-
a uma auditoria florestal, com vis -
das e conduzidas em todo o territó-
tas à obtenção de um certificado de rio nacional. Dessa maneira, as pro-
boa conduta ambiental, cabe a qual- vidências realizadas pelo proprietá-
quer empreendimento verificar, tam- rio (ou possuidor) rural permitirão o
bém, a eventual existência de passi- uso de sua propriedade (ou posse)
vos ambientais: na hipótese da sua para fins produtivos e conser -
existência deve-se proceder à corre- vacionistas, como determina a lei.
ção, o que implica, quando pertinen- Cabe lembrar, também, que uma
te, a restauração florestal. De outro auditoria ambiental que venha a ser
lado, tal qual ocorre com a certi- realizada na propriedade rural, por
ficação do manejo florestal (tanto de exemplo, para fins de certificação
florestas naturais, como de flores - (ambiental ou florestal), poderá re-
tas plantadas), pode-se antecipar, velar a existência de passivos
sem receio, que também para outros ambientais . Tais passivos podem li-
segmentos do agronegócio brasileiro mitar , ou até mesmo impedir, o
(como a agricultura e a pecuária) ha- acesso a mercados. Assim, além de
ser uma obrigatoriedade legal, a res-
verá que se promover, em algum mo-
tauração da vegetação nativa nos
mento futuro, a adequação dos meios
locais onde a lei determina a sua
de produção, objetivando a sua con- existência e manutenção poderá
formidade com as exigências legais. também constituir uma imprescin-

24
dível necessidade em face das exi - BORGES, R. C. Função ambiental
gências dos mercados. da propriedade rural. São Paulo:
LTr., 1999. 229 p.
Estas notas constituem apenas
uma introdução ao tema. Situações BRASIL. Ministério do Meio
complexas poderão justificar consul- Ambiente. Secretaria de Biodiver-
tas ao órgão ambiental competente. sidade e Florestas. Programa
De outro lado, considerando - se a Nacional de Florestas. Brasília,
competência concorrente entre 2000. 49 p.
União, Estados e Municípios para
legislar em matéria ambiental, re - CORRÊA, E. de M. Aspectos jurídicos
comenda-se também consulta à le - na recuperação de áreas degradadas.
gislação estadual e municipal per- ln: SIMPÓSIO NACIONAL RECUPE-
tinente. O exame da literatura com- RAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS,
plementar, cujas referências são 1992, Curitiba. [Anais ... ]. Curitiba:
apresentadas na seqüência, poderá Universidade Federal do Paraná,
também ser particularmente útil Curso de Engenharia Florestal,
para um melhor entendimento da Departamento de Silvicultura e
matéria. Manejo: FUPEF, 1992. p. 34-39.

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25
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doutrina, prática, jurisprudência, SILVA, J. A. da Direito ambiental
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reparação do dano ao meio BARBOSA, N. L. N. ; VALLE, J. F. C.;
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Oliveira, 2002. 399 p. arbóreas nativas com finalidade
econômica em área de reserva legal.
MONEGAT, C. A pequena proprie - ln: CONGRESSO FLORESTAL
dade: degradação, revegetação e BRASILEIRO SOBRE SISTEMAS
outras práticas conservacionistas. ln: AGROFLORESTAIS, l.; ENCONTRO
SIMPÓSIO NACIONAL RECUPE - SOBRE SISTEMAS AGROFLORESTAIS
RAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS, NOS PAÍSES DO MERCO-SUL, 1.,
1992, Curitiba. [Anais ... ). Curitiba: 1994. Anais. Colombo: EMBRAPA-
Universidade Federal do Paraná, CNPF, 1994. v. l. p . 375-387.
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INTERNACIONAL DE DIREITO
Acesso em 06 maio 2003.

26
Ca ítulo 2

FUNDAMENTOS PARA A REABILITAÇÃO DE


ECOSSISTEMAS FLORESTAIS

Antonio Aparecido Carpanezzi 1

Introdução

No Brasil, a superfície ocupada ecossistemas flores tais ou


por plantações florestais comerciais é parcialmente lenhosos como caatinga
estimada atualmente em, no máximo, e cerrados. É evidente, pois, que as
seis milhões de hectares, tendo sido implicações econômicas e sociais da re-
formada principalmente nos últimos 35 c ons tru ç ão dos ecossistemas
anos à custa de grandes investimen- brasileiros são enormes. Por isso, é in-
tos. Todas as rotações dos maciços dispensável aplicar princípios ecológi-
florestais brasileiros implantados ou cos e opera-cionais que racionalizem
reformados nos últimos 100 anos, em as atividades.
empresas florestais, áreas públicas ou
propriedades agrícolas somam, gros - As APPs não permitem qualquer
seiramente, 22 milhões de hectares. O exploração econômica direta pelo pro-
déficit nacional de ecossistemas prietário, e constituem oportunidades
naturais a recuperar por força de de restauração ecológica em sentido
dispositivos legais, especialmente pleno. As RLs implicam recuperação
Áreas de Preservação Permanente ambiental, mas permitem utilização
(APPs) e Reservas Legais (RLs), pode econômica controlada. Portanto, desde
ser estimado em dezenas de milhões o início a reconstrução das RLs deveria
de hectares. A reconstrução destas considerar também
áreas refere -se, na maior parte, a
1
Engenheiro Florestal, Doutor, Pesquisador da Embrapa Florestas, Colombo-PR,
carpa@cnpf.embrapa.br
a otimização da produção a ser reali- árvores, um ajardinamento com plan-
zada no futuro. Todavia, atualmen- tas introduzidas.
te, a sociedade prioriza garantir ter -
renos para APPs e RLs e iniciar sua A ecologia da restauração é o cam-
implantação, tratando ambas as fi - po científico que trata daquilo cha-
guras jurídicas de modo pouco dife - mado, na prática, de recuperação
renciado e valorizando principalmente ambiental. A visão científica e o es-
o lado ambiental. Em consonância, pírito das leis concebem a recupera-
este artigo atém-se, salvo aviso, às ção ambiental como a reaproximação,
finalidades ambientais da recupera- o quanto possível, das condições ori-
ção de áreas que originalmente eram ginais de flora, fauna, solo, clima e
florestas. recursos hídricos que existiam origi-
nalmente no local. Portanto, recupe-
O lado ambiental também tem ração ambiental boa é recuperação
primazia na recuperação de locais de ecossistema .
com solos profundamente alterados,
como áreas terraplenadas, áreas com Ecossistema perturbado é aque-
erosão hídrica e bota-foras de mine- le que sofreu distúrbios, mas man-
ração. A degradação dos solos impli- têm resiliência, isto é, capacidade de
ca limites e ações específicas para a auto -regeneração com rapidez con-
recuperação, originando um campo siderada adequada. A resiliência, na
técnico particular que não será abor- prática, é estimada de modo muito
dado neste capítulo. expedito e considera apenas a vege-
tação . Na realidade, a resiliência di-
fere entre e dentro dos componen -
1. O quê a recuperação tes do ecossistema: por exemplo, no
ambiental busca? incêndio de grandes áreas de cerra-
do, certos animais como araras e
As respostas à questão "O que tamanduás têm recuperação incer-
é um bom ambiente?" estendem-se ta, ao contrário da vegetação (Piauí
por um gradiente contínuo de opini- 2, 1993). A auto-regeneração da ve-
ões e, embora pareça prosaico, acar- getação vale-se de meios locais (ban-
retam ações certas ou erradas de co e chuva de sementes, rebrotações
conseqüências duradouras. Em sua e crescimento de plantas desejáveis
acepção plena, ambiente confunde - remanescentes) ou externos, como
se com ecossistema: uma área mais fragmentos florestais próximos que
ou menos delimitada onde a biota funcionam como fontes de sementes.
nativa (plantas, animais e microrga- Ecossistema degradado é aquele sem
nismos) e os componentes abióticos grau de resiliência aceitável após dis -
(solo, clima, corpos de água) estão em túrbios e, portanto, mais dependen-
interação plena . Na extremidade te do favorecimento humano para sua
oposta, um bom ambiente é confun- recuperação.
dido com uma cobertura verde qual-
quer: um gramado, um parque de A cessação permanente dos dis-
lazer urbano, uma monocultura de túrbios é o ponto inicial na recupera -

28
ção de ecossistemas degradados (RED) ferramenta útil para abordar, racio-
ou perturbados, sendo condição in- nalmente, várias questões conflitan-
dispensável. Ela deve eliminar as tes que persistem em torno da recu-
causas localizadas na área em recu- peração ambiental.
peração (pastejo, erosão, fogo, caça,
extrativismo, árvores indesejáveis, Os serviços oferecidos pelos
entre outras) e em terrenos adjacen- ecossistemas naturais constituem o
tes, como erosão e emissão de deje- principal motivo lógico para sua con-
tos de pocilgas. servação ou recuperação. Os servi-
ços dependentes da função, como os
A degradação de um ecos - ligados à regularização do clima ou à
sistema não está, necessariamente, proteção do solo, podem ser obtidos,
vinculada à degradação do solo. Um muitas vezes, por atividades comer-
capão ou uma mata ciliar que foram ciais agropecuárias ou florestais. Por
há tempos transformados em pasta- isso, eles não causam grandes con-
gem, e que estão longe de qualquer flitos com a finalidade econômica da
fragmento expressivo de floresta na- propriedade. Outros serviços, como
tural, são exemplos de ecossistemas controle biológico de pragas, polini-
degradados em solos conservados. A zação de culturas e manutenção da
degradação, nesses casos, reside na qualidade da vida nos rios, requerem
qualidade da biota, ou na estrutura estrutura (biodiversidade) bem de -
do ecossistema. senvolvida. Todavia, obter estrutura
ou manter estrutura de um ecossis-
Todo ecossistema pode, teorica- tema florestal numa propriedade par-
mente, ser decomposto em função e ticular significa redução de área para
estrutura. A função ignora os seres produção e custos financeiros ao pro-
vivos e refere-se apenas aos grandes prietário. Por isso, a manutenção ou
processos básicos de um ecossiste - a realização de APPs e RLs, que de -
ma: ciclo de água, ciclo de nutrien- vem propiciar serviços dependentes
tes e fluxo de energia, cada um de- da estrutura, é freqüentemente des-
les composto de uma infinidade de cumprida ou combatida.
processos menores. A função pode ser
avaliada por taxas de processos como Ecossistemas naturais ou satis-
acúmulo de biomassa aérea ou sub- fatoriamente recuperados cumprem
terrânea, dinâmica da serapilheira ambos os tipos de serviços. Entretan-
no piso da floresta, evapotranspira- to, o Homem, ao logo de sua civiliza-
ção e escorrimento superficial da ção, tem usado vegetações pouco di-
água. A estrutura do ecossistema versificadas, de realização mais ba-
refere -se aos seres vivos: quem são, rata e mais simples, quando prioriza
como estão organizados, como se re- serviços que só dependem da função,
lacionam; para facilidade de enten- como a proteção de encostas.
dimento, a biodiversidade pode ser
utilizada como sua medida. Embora Na sucessão secundária natu-
pareça inócua, a divisão do ecossis- ral ou num empreendimento huma-
tema em função e estrutura é uma no, a recuperação de um ecossiste -

29
ma degradado pode ser entendida Desde que não se vise criar um
como as reconstruções de sua fun - ecossistema novo, a reabilitação dos
ção e de sua estrutura (Figura 1 ). serviços associados à função é
Há vários objetivos opcionais que ori- indispensável e, normalmente, con-
entam a recuperação de um ecossis- diciona a reabilitação da estrutura.
tema degradado: restauração à sua Em ecossistemas florestais isso é
condição original de função e de es- particularmente visível quanto ao
trutura; reabilitação de apenas algu- rompimento do ciclo d'água. Numa
mas características desejáveis que área em reabilitação, a erosão (uma
foram alteradas; substituição ou cria- expressão do serviço funcional defi-
ção de um ecossistema novo, total - ciente) causa perdas progressivas de
mente distinto do original; e abando- solos e nutrientes, o que implica
no, o que pode levar a um processo uma vegetação progressivamente
normal de sucessão ou a uma degra- mais rala e pouco diversificada.
dação futura se o ecossistema está
sujeito à erosão ou a outro agente Para florestas, em termos
debilitante (Bradshaw, 1984; Cairns simples, a reabilitação da função
Junior, 1986). A restauração é um significa estabelecer uma biomassa
marco teórico; na prática, a reabilita- vegetal duradoura e de porte arbóreo .
ção é o nível de recuperação visado. A Mas o que realmente caracteriza
criação de um ecossistema novo, ge- ações de recuperação de ecossis -
ralmente, decorre de mudanças pro- temas degradados (RED) no sentido
fundas no meio físico original: um caso estrito é a reabilitação da estrutura,
comum é a formação de lagoas subs- isto é, dos seres vivos em toda a
tituindo uma mata destruída pela diversidade possível. Ações "ecológi-
mineração. cas" no sentido popular, como planta-
ções florestais homogêneas em terre-
Funç l o do
nos alterados, ou plantações mistas
acosslstam.i.
de espécies nativas para recreação,
ReabltMaç.lo
falham ao favorecer espécies e dire-
ECOSSISTEMA ORIGINAL cionar processos internos (como a
competição biológica) segundo inte -
resses de produção ou lazer. Planta-
ções de reclamation 2 , isto é, para a
Sucenio nalll ral
_

-
_ ...2-

- -;.
) no e<:osslltenu1
nãodegradado
melhoria da capacidade produtiva de
terrenos muito alterados, como os
terraplenados e bota-foras de mine-
ração, podem ser tanto um passo
Figura 1 . Possibilidades de desenvolvimento inicial na recuperação de ecossis -
do ecossistema degradado (adaptada de temas quanto para a utilização agro-
Bradshaw, 1984). pecuária.

2
"Reclamation" engloba ações muito variadas destinadas a transformar um terreno considerado
inadequado para uso humano, como um deserto, um pântano ou uma área minerada, em local
que possa ser aproveitado, principalmente, para agricultura ou edificação.

30
A RED pode ser planejada e caídos, árvores secas, pedras gran -
realizada pontualmente - um des e certas plantas pré -existentes;
trecho de mata ciliar, um topo de ela é valiosa à reabilitação e inde -
morro, uma grata - ou numa região sejável na silvicultura convencional.
maior (paisagem) que contenha A RED também recomenda uma base
esses pontos. A ligação entre os genética local e ampla para cada
ecossistemas pontuais reabilitados, espécie arbórea utilizada, na contra-
feita por corredores, é apenas uma mão das monoculturas. Outra dife-
ação inicial na restauração da rença crucial, no Brasil, é que os
paisagem e deve respeitar o caráter casos de execução de RED caracte-
produtivo da propriedade rural. Os rizam -se por ser muito variáveis
corredores podem ser de muitos entre si, por motivos técnicos ou
tipos, com distintos graus de financeiros. Todo esse quadro exige
eficiência de recuperação ambien - que o profissional ou a equipe da
tal: faixas contínuas de vegetação RED integre conhecimentos de
natural ou reabilitada, faixa várias áreas, especialmente silvi -
contínua de produção agro-florestal, cultura e ecologia aplicadas para
pequenos talhões ilhados, árvores de decidir rapidamente como agir.
diversas espec1es isoladas na
pastagem e plantações florestais A rigor, a expressão recuperação
comerciais com sub-bosque bem de áreas degradadas (RAD) não é
desenvolvido, entre outros. O inte - sinônima de RED e deve ser usada
resse pela restauração da paisagem com cautela, pois nos últimos anos
e por corredores vem aumentando, tornou -se confusa por causa dos
porém com pouca concretização em muitos significados que lhe são
campo, a qual é normalmente vincu- atribuídos. No Brasil, a expressão
la da a organizações fortes dos RAD firmou -se há cerca de 30 anos.
pontos -de-vista técnico e financeiro .
Originalmente, ela se referia à
A RED pontual é bem mais prati-
"reclamation" de áreas com solos
cada, atualmente, e constitui a prin-
degradados fisicamente, especial-
cipal fonte de demanda de tecno -
mente pela mineração, seguida ou
logia.
complementada por revegetação
Ao lado da silvicultura comer- com qualquer finalidade, mas de
cial convencional existe a silvi - modo geral pouco preocupada com a
cultura da restauração, ainda muito estrutura do ecossistema (exemplo:
incipiente. Ambas procuram racio - Griffith, 1980). Posteriormente, o
nalizar atividades para atingir seus conceito de RAD foi se aproximando
objetivos. Como eles são bem distin- do conceito de RED e, paralelamente,
tos, muitos aspectos práticos da manteve a conotação original e
silvicultura são valorizados de modo incorporou outras acepções, inclusive
bem diferente. Um exemplo é a vinculadas à produção agropecuária
complexação ambiental interna do ou florestal (ver exemplos em
talhão, proporcionada por elementos Recuperação ... , 1998; Simpósio ... ,
de variação espacial como troncos 2000 e Informe Agropecuário, 2001 ).

31
2. Planejamento e Execução Vernonia discolor são abundantes e de
rápido crescimento na vegetação
secundária da Floresta Ombrófila
Na reabilitação de um ecossis - Mista, mas na prática há grandes
tema florestal degradado o processo dificuldades de coleta de sementes
de sucessão secundária progressiva e produção de mudas.
estende-se, comumente, por 100 anos
ou mais (Aide et al., 1996) e, uma
vez deflagrado, sua direção não pode 2.1 A facilitação da sucessão
ser mudada facilmente pelo homem.
A abordagem inicial inadequada de
interações planta-animal, por exem- Há vários modos de interpretar
plo, pode ter conseqüências negati- a sucessão desenvolvidos desde 1916.
vas por séculos quanto à composição Para orientar a recuperação
da biota (Janzen, 1988). Portanto, o ambiental o mais interessante é o
planejamento de uma ação de RED, sistema de Conell & Slatyer,
seguido de uma execução condizen- apresentado em Luken ( 1990) e
te e forçosamente restrita aos pri- Ricklefs (1996). Ele vincula, de modo
meiros anos, é a ferramenta mais nítido, as características de espécies
poderosa, e praticamente a única, de plantas com o desenrolar da
para perseguir o sucesso. sucessão. Nesse sistema são
reconhecidos três modelos:
Quando a ação de RED baseia- afacilitação constitui a visão mais
s e em plantios, a escolha das tradicional e idílica da sucessão.
espécies tem grande peso para o Ela ocorre quando uma espécie
sucesso do empreendimento. Por isso, favorece a instalação de outra
ao se organizar um programa de RED espécie de planta. O modo consa-
numa região é necessário ter bem grado de facilitação é a melhoria
definidas as espécies a serem do estado nutricional do solo, por
utilizadas e garantia de que será exemplo, quando plantas fixa-
possível produzir suas mudas. O doras de N colonizam uma área
zoneamento ecológico para plantios desnuda. Já há algumas descri-
de RED, isto é, a seleção de espécies ções disso, no Brasil (Poggiani &
para uma região, requer também Monteiro, 1990; Carpanezzi ,
crivo silvicultura! advindo da 1997),
experiência, e não apenas conhe -
cimentos de auto - ecologia e das a inibição dá-se quando espécies
características edafo - climá ticas já estabelecidas bloqueiam a inva-
regionais. Várias espécies muito são e o crescimento de espécies
comuns na vegetação natural e de novas durante um período consi-
grande potencial para RED são, derável, e
ainda hoje, mantidas totalmente
fora dos plantios, por não terem a tolerância pode ser entendida
silvicultura dominada. Como como a facilitação ou a inibição vista
exemplos, Piptocarpha angustifolia e do ângulo das espécies inicial -

32
mente dominadas. Ela indica a competição por água, luz e nutrientes
capacidade de uma espec1e, e, em alguns casos, por alelopatia.
eficiente em explorar recursos Quando a ação de RED começa em
escassos, viver inicialmente domi- pastagens plantadas as gramíneas
nada por outra, geralmente de vida constituem um fator inibidor rele -
mais curta, e depois passar a vante, pela competição às mudas e,
espécie dominante ou de maior muitas vezes, por propiciarem incên-
valor de importância, constituindo dios recorrentes. Populações densas
as etapas mais avançadas da de espécies lenhosas longevas e
sucessão, inclusive o clímax. Para muito vigorosas exercem inibição
fins de RED, espécies tolerantes intensa sobre o sub-bosque. Por isso,
encaixam-se como ideais para talhões densos monoespecíficos de
compor o sub -bosque de uma eucaliptos, pínus, leucena e outras
vegetação na qual dominem, inibidoras atrasam a substituição de
inicialmente, espécies facilitadoras. espec1es, a menos que sejam
tomadas medidas corretivas, princi-
Atualmente, a facilitação com- palmente o controle rigoroso da
preende todos os mecanismos pelos densidade.
quais a sucessão é beneficiada,
desde o modo clássico de melhoria
2.2 Sistemas e técnicas para a rea-
do solo até a nucleação, ou atração
lização de RED
de espécies novas. A nucleação dá-
se, principalmente, pela dispersão de É possível, baseando-se em ar-
sementes por animais (zoocoria) e gumentos puramente técnicos e con-
pela polinização por animais (zoofilia). sagrados, tomar decisões sobre como
Muitos arbustos ou arvoretas são agir para reabilitar um ecossistema
nucleadoras eficientes, como Lantana
degradado (Rodrigues & Gandolfi,
camara e espécies com frutos carnosos
1996). Todavia, as ações assim elei-
dos gêneros Cordia e Acnistus.
tas freqüentemente não podem ser
Entretanto, sua participação nos
implementadas com sucesso, sendo
plantios de RED é muito pequena,
a causa mais comum o custo elevado
devendo ser encorajada. A própria
para o produtor. Como valor de refe-
duração curta das espécies pioneiras
rência, a reabilitação pelo sistema
é um aspecto facilitador: sua morte
constitui um autodesbaste 3 previsível mais difundido, um plantio misto com
do talhão, possibilitando mais luz e várias espécies nativas cobrindo todo
recursos do solo para espécies o terreno a ser recuperado, repre-
tolerantes presentes no sub-bosque. senta custo de US$ 800/ha até o fim
da fase de estabelecimento 4 , sem
A inibição processa - se pela incluir cerca de proteção. Os retor-
3
Autodesbaste significa, neste texto, a mortalidade natural de árvores plantadas que sejam,
principalmente, pioneiras ou secundárias iniciais pertencentes aos estratos dominante ou
codominante de um talhão nos primeiros 30 anos.
4
A fase de estabelecimento sucede à implantação e inclui todos os tratos culturais até o
momento em que as limpezas (por capinas, roçadas, herbicida) das plantas desejáveis possam
ser suspensas. Ela dura comumente 1 a 2 anos em plantações comerciais.

33
nos diretos ao produtor são nulos Como tendência geral, os cus -
(caso das APPs) ou incertos e de lon- tos, a rapidez da reabilitação e a com-
go prazo (RLs). Ademais, grande par- plexidade da execução diminuem de
te da população rural brasileira é ido- I para VI. No Brasil, em atividades
sa e cada vez menos apta a serviços pontuais de RED, as modalidades
manuais pesados, muito necessári- TFD e TFS geralmente são pratica-
os até o fim do estabelecimento. Por- das de modo exclusivo, isto é, não
tanto, é necessário adequar, caso a são combinadas entre si ou com as
caso, as práticas de campo ao realis- demais. As modalidades III, IV e V
mo financeiro e social. Nas tomadas podem e devem ser combinadas de
de decisão, a diretriz recomendada muitos modos entre si, pois disso
é procurar obter maior certeza da advêm vantagens. A modalidade VI,
reabilitação ambiental, mesmo que ou cessação permanente dos distúr-
ela demore mais tempo. bios, é obrigatória em todas as ou -
tras; uma boa diretriz amplamente
No Brasil, excluindo-se as áre- aceita no meio técnico é "mais vale
as mineradas, as ações práticas de proteger bem e cultivar mal do que
RED começaram a tomar força há cultivar bem e proteger mal". Na res-
cerca de 20 anos. São indicados a tauração da paisagem ou de superfí-
seguir os sistemas e técnicas mais cies extensas o uso combinado de
famosos para a RED pontual, por se- opções (especialmente I, III e VI) já é
rem os mais empregados ou os mais comum, tendo justificativas econômi-
propostos. Seus detalhes podem ser cas e ecológicas.
apreciados em Reis et al. ( 1999,
2003), Carpanezzi (2001), Kageyama O TFD é o sistema mais difun-
& Gandara (2001), Ferreti (2002) e dido e estudado tecnicamente e o
outros autores. Como não existe uma primeiro que vem à mente das pes-
terminologia formal, cada ação pode soas quando se fala em RED; por isso
se apresentar sob várias denomina- constitui referência para os demais
ções na literatura técnica. procedimentos. Ele tem sucesso
quando realizado integralmente por
I. Talhão facilitador diversificado - uma entidade técnico-financeira for-
TFD te. Fora dessa condição o TFD geral-
mente fracassa na fase de estabele-
II. Talhão facilitador simplificado -
cimento em decorrência das falhas
TFS
na parte operacional, como falta de
III. Renques ou grupos de árvores limpezas e de controle de formigas.
nucleadoras e ou invasoras
Até hoje, na verdade o TFD não
IV. Poleiros tem passado, na maioria das vezes,
de um plantio misto diversificado -
V. Favorecimento inicial da
PMD, com várias espécies nativas (e
regeneração natural
algumas exóticas, como Syzygium
VI. Apenas proteção (cessação Jambolanum e Muntingia calabura, no
permanente dos distúrbios) sul do Brasil) escolhidas e combina-

34
das sem critérios suficientemente to -chave do sucesso da bracatinga,
rigorosos. Como indício, em muitos pouco conhecido, é a mortalidade gra-
viveiros que fornecem mudas não há dativa ao longo de muitos anos, pro-
produção de espécies pioneiras, ou piciando um autodesbaste adequado,
mesmo de secundárias iniciais, que o que normalmente requer a combi-
comumente representam, juntas, ao nação de várias espécies com longe-
menos 60% das mudas de um TFD vidades diferentes, porém próximas.
bem planejado. Mesmo nos melhores
casos atuais do TFD, por exemplo, na Muitos exemplos bons de TFS
revegetação ciliar de lagos de hidre- são provenientes de talhões comer-
létricas, nota-se a necessidade ou a ciais. Entretanto, é óbvio que o pla-
vantagem de evoluir em vários aspec- nejamento do TFS para APPs deve ser
tos . Entre esses, destacam-se a mai- direcionado exclusivamente para a
or participação de espécies facilita - reabilitação ambiental, o que irá per-
doras quanto ao estado nutricional mitir melhorar seu desempenho.
do solo e a valorização do andamen- Caso participem espécies exóticas -
to do autodesbaste do talhão. o que não é desejável, mas com fre -
qüência é uma contingência - elas
O emprego do TFS é há tempos não devem ser colhidas e, se neces-
cogitado no Brasil, onde conta com sário, ser mortas em pé, por anela-
muitos exemplos bem sucedidos, de mento.
origem involuntária (Kageyama et al.,
1989; Stallings, 1990; Silva Júnior et Os talhões facilitadores, nota -
al., 1995 ). Seu valor é, também, re - damente o TFS, devem ser visualiza-
conhecido em outros países (Parro - dos como um importante campo de
ta, 1993; Allen et al., 1995). No Bra- provas para a reconstituição da RL
sil, exceto em locais com solos de - florestal, para a qual ainda não há
gradados , ele é pouco empregado em soluções exclusivas suficientemente
ações de RED por causa da propa- testadas em plantios . O arcabouço
ganda insuficiente e da rejeição, por conceituai dos plantios mistos estri-
motivos geralmente equivocados, que tamente para recuperação ambien-
sofre por parte de alguns profissio - tal (APP) e daqueles que aliam recu-
nais da RED . Um aspecto que não peração ambiental e produção madei-
pode ser descuidado na sua realiza- reira (RL) é similar e baseia-se na
ção planejada é que as espécies do- interpretação silvicultural do proces-
minantes devem ter perfil claramente so da sucessão secundária. Na fase
facilitador da sucessão. A bracatin- inicial, a diferença fundamental re -
ga, Mimosa scabrella, em locais onde side na escolha das espécies secun-
suas árvores vivam pelo menos 15 dárias e de clímax, as mais impor-
anos, é uma espécie-paradigma para tantes para produção madeireira.
a modalidade TFS, permitindo boa Nas fases posteriores, os fatores de
reabilitação do ecossistema a partir crescimento são dirigidos para as
da regeneração natural (Kageyama espécies madeireiras nos plantios de
et al., 1989; Baggio & Carpanezzi, produção (através de desbastes),
1998; Nappo et al., 2000). Um aspec- enquanto que nos plantios de APPs

35
eles não são manipulados, ou são deira costais motorizadas (para uso
orientados para acelerar a sucessão em áreas de recuperação); colocação
(Carpanezzi, 1996). de bebedouros nos pastos ou realiza-
ção de bons corredores para o desse-
Dentre as outras alternativas dentamento (a presença do gado na
para RED (III a VI), somente a últi- faixa ciliar é, muitas vezes, catas-
ma, "apenas proteção", tem sido trófica em termos ambientais, mes-
empregada de modo relevante, na mo que restrita a um corredor); e
prática, pelo cercamento. Ela vem construção de cercas .
sendo cada vez mais aceita e prefe-
rida, principalmente quando a ori- As cercas constituem um as-
entação técnica da RED provém da sunto de relevância financeira, po -
extensão rural pública. Sua associ- rém mal conhecido entre os realiza-
ação com a opção V (favorecimento dores da RED e freqüentemente ig-
seletivo) é, atualmente, a estraté - norado no seu planejamento, acar-
gia mais promissora para melhorar retando custos desnecessários ou
substancialmente a qualidade da proteção ineficaz. Por isso, é neces -
RED na maioria das propriedades sária a difusão de conhecimentos
rurais. O favorecimento das mudas aplicados como adequação das mo-
desejáveis da regeneração natural dalidades de cerca ao uso da terra,
pode ser feito pelo homem (roçadas, práticas de execução, custos e resis-
coroamento com cobertura morta, tência ao roubo. Mesmo onde a cer-
cortes de liberação) ou, controlada- ca seja dispensável, por exemplo, em
divisas entre lavoura e faixa ciliar,
mente, pelo gado bovino, ao baixar a
a experiência aconselha que sempre
altura das gramíneas competidoras.
exista uma delimitação clara, como
Quando a regeneração natural for
árvores sinalizadoras, para que a APP
insuficiente ou mal distribuída ela
seja mais respeitada.
pode ser corrigida pela associação
da opção III (nucleação e invasão), Há problemas de RED em que
que também sempre é beneficiada as opções mais simples constituem,
pela limpeza seletiva. realmente, a resposta lógica. É o que
ocorre em banhados, especialmente
A valorização das opções "po- em regiões de geadas fortes. Nesses
bres" da RED (III a VI) prende -se à casos, as intervenções intensas são
diminuição da carga de trabalho para caras e não garantem resultado am-
o produtor e à execução de ativida- biental seguro, pois as restrições edá-
des mais pertinentes à sua cultura. ficas e a competição por ervas são
Uma conseqüência relevante desta acentuadas e os conhecimentos so-
mudança é quanto ao incentivo ao bre ecologia e silvicultura são par-
produtor, que seria desconcentrado cos. A atitude racional consiste em
do fornecimento de mudas (situação proteger a área (opção VI) e encora-
atual) para incluir, também, outras jar a sucessão por meio de medidas
finalidades. Entre as mais importan- simples (opções IV e V) nas partes do
tes, pode-se citar: aquisição de roça- terreno onde for mais fácil. Uma si-

36
tuação equivalente, bastante comum, taquara pode ser abundante em po-
é o das margens planas de rios onde voamentos densos com diferentes
a ação aluvial é intensa e causa, pe- idades, em vários solos e relevos e
riodicamente, distúrbios naturais associada com vários estágios suces-
fortes (para exemplo, veja -se Pott, sionais (desde capoeirinha até no
2000). sub-bosque de florestas naturais
maduras que sofreram exploração
Plantios de enriquecimento em seletiva). Os taquarais têm forte efei-
vegetação matricial são próprios da to inibidor da sucessão, o que susci-
silvicultura tropical, sendo conheci- ta grande demanda de métodos para
dos há muito tempo. Eles constitu- seu controle. A rebrotação forte, a
em uma opção extra para RED, rara- partir do sistema radicular muito
mente empregada; seu valor depen- robusto, faz com que as roçadas ma-
de muito do contexto . Como regra, nuais, que é a prática de limpeza mais
os custos de implantação e manuten- generalizada e de fácil realização,
ção são altos, há necessidade de ser- sejam pouco eficazes. No momento,
viços manuais pesados e plantas na- não há nenhuma medida embasada
tivas já instaladas serão suprimidas. tecnicamente, segundo os pontos-de-
Essas desvantagens aumentam pro- vista ambiental e silvicultural, para
porcionalmente ao avanço do estágio decidir como tratar os taquarais. Nes-
sucessional da vegetação matricial e se sentido, são necessárias pesqui-
ao seu grau de conservação. Por es- sas sobre aspectos -chave, às vezes
ses motivos, considerando a realida- de caráter básico, como identifica-
de da RED no Brasil, há poucas situ- ção botânica, auto -ecologia, impor-
ações que justificam seu uso. Uma, tância ecológica para a flora e para a
em áreas extensas de vegetação no fauna, demografia, reprodução e prá-
estágio inicial da sucessão em locais ticas de supressão. Como recomen-
que foram repetidamente perturba- dações provisórias, em ações de RED
dos (sucessão retrogressiva), como pode-se fazer: a) apenas proteção do
capoeirinhas dominadas por capins taquaral (alternativa VI); b) favoreci -
altos e as teráceas. As linhas ou fai - mento seletivo de plantas desejáveis
xas de enriquecimento devem ocu - já existentes, por cortes repetidos ou
par somente parte da área total, o arrancamento de taquaras próximas
restante permanecendo intocado. (IV); ou c) instalação de pequenos
Outra, no interior de florestas muito talhões com espécies nucleadoras e
parqueadas, isto é, formadas por ár- invasoras, como ilhas dentro dos ta-
vores adultas bem distanciadas e quarais, realizando seu estabeleci-
com sub-bosque nulo ou ralo; o par- mento por arrancamento ou cortes
queamento, geralmente, é decorrente repetidos (III).
do pastoreio, o qual deve ser cessado.
A RED baseia-se na sucessão
Na Floresta Ombrófila Mista, secundária natural, mas sua prática,
principalmente, os taquarais consti- no Brasil, menospreza a fase inicial
tuem um assunto pouco conhecido e herbáceo-arbustiva (matagal, capoei-
muito importante para RED. Ali, a rinha, juquira e outras denomina-

37
ções) e visa instalar imediatamente mento de uma boa dinâmica implica
a fase arbórea. Existe alguma argu- espécies e arranjo espacial adequa-
mentação técnica para isso, como dos.
diminuição de riscos de incêndio e
recuperação da biodiversidade das A seleção e a combinação das
fases sucessionais avançadas . En- espécies participantes devem priori-
tretanto, o motivo mais forte é o sen- zar o recobrimento muito rápido da
timento, arraigado na sociedade, de área trabalhada e a permanência da
que só a floresta tem valor ambien- cobertura por um tempo mínimo ade-
tal considerável. Como argumentos quado. Como diretriz de planejamen-
a favor da fase herbáceo-arbustiva e, to, nos primeiros 15 a 20 anos o dos-
portanto, das opções "pobres", estão sel deve propiciar constantemente
a presença de uma fauna dependen- clareiras pequenas, mas ser pouco
te dela e o fato de que a coexistência descontínuo e dominado por espéci-
de diferentes fases sucessionais, es instaladas inicialmente. Somen-
numa paisagem, maximiza sua bio- te depois é seguro que a mortalidade
diversidade. Ademais, a intensifica- natural das árvores formadoras do
ção da agropecuária numa região leva dossel seja acentuada, propiciando
a que, paulatinamente, só venham a maior entrada de luz para árvores
existir capoeirinhas protegidas, com bem estabelecidas dos estratos in-
sua riqueza biológica, dentro de áre- feriores.
as reservadas. Finalmente, um as -
pecto pouco conhecido é que a estru- O planejamento do autodesbas-
tura da floresta madura é influenci- te, atualmente, é mais arte que ci-
ada durante séculos pelo tratamen- ência. Ele baseia-se principalmente
to dado à vegetação na fase inicial em características de copa e na lon-
da sucessão secundária (Zavitkovski gevidade estimada de espécies das
& Newton, 1968). fases iniciais da sucessão, o que per-
mite uma certa previsão do compor-
tamento do dossel nos primeiros 15
3. Pontos de estrangulamento nos ou 20 anos. Por exemplo, em planti-
talhões de recuperação ambiental os, a copa de Trema micrantha é densa
e larga até 3-4 anos; depois ela tor-
A convivência com a prática de na-se progressivamente rala ou alta,
talhões de RED no Brasil, permite e as plantas morrem em torno de 7 a
reconhecer dois momentos críticos. 1O anos. Para Mimosajlocculosa estas
Um deles dá-se no estabelecimento. idades seriam, aproximadamente, 2 -
Outro, mais variado e sutil, é a in- 3 anos e 4 a 6 anos. Sem dúvida, o
sustentablidade da sucessão, eviden- conhecimento sobre a longevidade e
ciada a partir de 7 - 1O anos de idade o vigor da copa é maior para as pio-
em talhões até então bem formados . neiras de vida curta.
Muitas vezes, a ocorrência desses
dois grandes problemas decorre de Na composição do talhão em
uma má dinâmica do dossel do ta- campo, espécies de crescimento rá-
lhão, ao longo dos anos. O planeja- pido e copa inicial ampla e densa, mas

38
de vida curta, podem ser usadas em tagens antigas, sem qualquer prepa-
pequena escala. Em maior proporção ro de solo para o plantio . O arranjo
deve -se empregar as espécies de espacial deve ser, sempre, expressa-
crescimento rápido ou moderado, do de modo muito simples, como mó-
mas de vida e copa ativa mais dura- dulos lineares de poucas plantas se-
douras, sendo tipicamente pioneiras gundo suas guildas, em consonância
como Senna multijuga e várias Mimosa com o preparo educacional da mão -
ou secundárias iniciais como Sclero - de-obra e com a dinâmica do momen-
lobium paniculatum, Piptadenia gonoa- to da implantação.
cantha, Anadenanthera colubrina var.
colubrina, Ingá spp., Bastardiopsis den-
siflora e Cytharexylum myrianthum. Al- 3.1 Competição inicial de gramíneas
gumas secundárias tardias de copa
inicial ampla também são recomen- Ao lado da proteção contra dis-
dadas, como os jequitibás. Ressalte- túrbios , a maior necessidade de cam-
se que, dentro de uma guilda 5 , as po na fase inicial da RED é proteger
espécies têm longevidades diferen- o solo e, paralelamente, moderar a
tes embora próximas, o que faz que o competição de gramíneas sobre as
talhão tenha um autodesbaste esca- mudas plantadas ou de regeneração
lonado no tempo; a competição inter- natural.
na também influi para isso. A ênfase
no sombreamento rápido não signifi- Embora não haja levantamen-
ca a exclusão de espécies valiosas tos formais, a maior parte dos esfor-
sem copas vantajosas (como as em- ços de RED fora de empreendimen-
baúbas, de copa estreita, ou outras tos técnico-financeiros fortes fracas -
secundárias), mas apenas que suas sa, e isso ocorre na fase de estabe-
intensidades de participação devem lecimento ou mesmo antes, já que
ser compatíveis com o objetivo prin- muitas mudas distribuídas não são
cipal. O que importa, afinal, é que o plantadas. A causa mais visível do
conjunto de espécies e seu arranjo es - fracasso dos plantios realizados é a
pacial originem um dossel eficiente . competição exercida por gramíneas,
de porte variável entre locais. Real-
As condições de solo, comumen-
mente, os plantios de RED, geralmen-
te, variam mesmo dentro de uma
te baseados no TFD, comumente são
mesma propriedade, o que leva a se-
lecionar espécies e arranjos espaci- executados em áreas abertas aban-
ais para cada situação típica. Quan- donadas ou cujo uso anterior era pas-
to mais intensa for a restrição edáfi- toreio. Por isso, muito desses solos
ca, menor será o número de espéci- encontram-se compactados na super-
es bem adaptadas. Um caso comum fície . As soluções óbvias - intensifi-
de restrição severa refere -se a pas - car o preparo convencional de solo e
5
Guilda refere-se a um grupo de organismos com papéis ecológicos similares dentro de uma
comunidade. O planejamento de atividades de RED no Brasil apóia-se bastante nas guildas
sucessionais ou grupos sucessionais segundo o sistema de Budowski, que reconhece quatro
grupos de espécies: pioneiras, secundárias iniciais, secundárias tardias e clímax. Espécies de
uma mesma dessas guildas tendem a ter a mesma resposta silvicultura! à variação do ambiente.

39
os tratos culturais - não são adota- vos dissociados da teoria da RED que
das por causa, principalmente, das resultam no fomento freqüente de
expectativas negativas do retorno fi - espécies de silvicultura ruim: facili -
nanceiro e da necessidade de esfor- dade de obtenção de sementes; bele-
ço físico árduo. Dentre as opções da za ornamental; produção de frutos
RED, o TFS é, conceitualmente, o muito apreciados pelo homem (mirtá-
mais eficiente para vencer a fase crí- ceas ); apelo sentimental para a soci-
tica do estabelecimento e, portanto, edade, por exemplo, espécies madei-
pode-se esperar sua maior aceitação reiras excessivamente exploradas no
quando esse problema for enfrenta- passado como Aspidospenna polyneu-
do. ron, Ocotea porosa e Caesalpinea echi-
nata. O uso aceitável dessas espécies
Já se conhece um número pe - requer o aumento de sua viabilidade
queno de espécies, em cada biorna, silvicultura!, o que pode ser obtido pelo
que têm bom comportamento silvicul- posicionamento favorecido no arranjo
tura! sob condições adversas encon- espacial e por um regime especial,
tradiças na realidade da RED. Como mais intenso, de tratos culturais (lim-
paradigma, pode -se apontar Mimosa pezas e adubações).
bimucronata, que ocorre naturalmen-
te em toda a Floresta Ombrófila Den- Há várias práticas silviculturais
sa atlântica e, com menor expressão, que devem se·r ajustadas para melho-
na Floresta Ombrófila Mista (sudoes- rar a implantação e o estabelecimen-
te do Paraná) e em certas florestas to. As formigas devem ser controla-
estacionais. Tais espécies devem ser das. Como regra, deve-se preferir es-
usadas o quanto for tecnicamente paçamento inicial mais estreito que
aceitável, mas é necessário associar largo (em torno de 5 m 2 por planta,
outros fatores para obter um nível ra- quando não houver cultivas agrícolas
zoável de reabilitação . associados) para assegurar o recobri-
mento rápido do terreno e para dimi-
O uso de espécies francamente nuir a necessidade de replantio . A
inadequadas do ponto-de-vista silvi- adubação é recomendada, seja quí-
cultura! é freqüente e favorece o fra - mica ou orgânica. Na fertilização quí-
casso decorrente da competição por mica, a aplicação de 100 g/cova de
gramíneas. Aspectos meramente eco- NPK (10:30: 10) pode ser tomada como
lógicos, como uma espécie arbórea valor de referência, dada à multipli-
constar numa lista de guildas (gru- cidade de solos e espécies envolvidas.
pos sucessionais) e atrair pássaros, A adubação tem custo, mas o cresci-
não são suficientes para recomendar mento que ela proporciona reduz a
seu uso rotineiro. Para isso, devem necessidade de limpezas posteriores .
ser consideradas, também, caracte- Numa propriedade agrícola comum, o
rísticas vantajosas relacionadas a dia do plantio das mudas no campo é
aspectos silviculturais como rapidez o único momento seguro em que ha-
de crescimento (para o padrão da guil- verá pessoas dedicando-se a elas. Por-
da), rusticidade, sobrevivência e ca- tanto, deve-se aproveitar ao máximo
racterísticas de copa. Há vários moti- esta ocasião.

40
Após a implantação, a competi- mento de RLs, principalmente em su-
ção só poderá ser vencida com roça - perfícies grandes ocupadas por pas-
das e capinas, ou por abafamento tagem.
via "mulchings" naturais ou artifici-
ais. O uso criterioso de herbicidas
apresenta as vantagens de diminuir 3.2 Falha na sucessão
mão-de-obra e de não revolver o solo,
mas encontra crescentes restrições O início da sucessão nos
ambientais. A vulgarização do uso de talhões de RED é indicado pela
roçadeiras costais motorizadas parece regeneração natural, no sub-bosque,
ser o avanço possível mais imediato, de espécies de fases mais avançadas,
sendo valiosa também para casos de tipicamente secundárias tardias ou
favorecimento da regeneração natu - clímax que sejam zoocóricas. De modo
ral. Existe o temor de os produtores prático, a evolução da sucessão pode
usarem as roçadeiras com propósito ser considerada preocupante se não
inverso, destruindo as plantas dese- houver regeneração natural evidente
jáveis e perpetuando a pastagem, o aos 7 - 1 O anos após a implantação .
que reitera a necessidade de ex- Tecnicamente, é necessário basear-
tensão rural atuante para que a RED se em índices de estoque suficiente,
tenha sucesso. a serem determinados. Para flores -
tas ombrófilas pode -se adotar, pro-
Os assuntos técnicos mais ur- visoriamente, o mínimo de 0,5 plan-
gentes para melhorar o desempenho ta/m2, considerando espécies tole-
da RED no Brasil, e que requerem rantes com altura a partir de 50 cm,
pesquisas, são: a) práticas altamen- aos 1O anos após a implantação.
te inovadoras de controle da compe-
tição e b) espécies adaptadas às con- O planejamento do talhão é o
dições reais do campo, principalmente principal instrumento para induzir
à convivência com gramíneas, com uma sucessão sustentável. O fecha-
destaque para espécies zoocóricas. mento do dossel precisa ser rápido
para dominar a competição por gramí-
A intensificação benéfica do neas. Depois, paulatinamente, deve
preparo de solo e das limpezas inici- ocorrer um processo de autodesbaste.
ais também pode ser conseguida via A abertura gradual do dossel favorece
sistemas agroflorestais com fase
o desenvolvimento das árvores mais
agrícola curta, basicamente varia -
longevas que foram plantadas e das
ções de taungya 6 • Por unir interes -
plantas de regeneração natural
ses ambientais e econômicos, esse
presentes no sub-bosque, em ambos
parece ser um caminho muito pro -
os casos predominando as espécies
missor para viabilizar o estabeleci-
secundárias tardias e do clímax.
6
Taungya denomina um sistema agroflorestal onde se realiza o cultivo agrícola intercalar a
árvores, por um período curto, normalmente seis meses a dois anos , no início da rotação florestal.
O estabelecimento das árvores é muito favorecido pelos cuidados destinados às culturas
agrícolas. Há muitos casos bem sucedidos desse sistema no mundo tropical, por exemplo, com
teca na Ásia e em menor escala com bracatinga e pinheiro-do-paraná no Brasil.

41
Quando necessana, a indução (Senna multijuga, lnga uruguensis ,
da regeneração natural sob dossel Piptadenia gonoacantha) atraírem
fechado pode ser feita principalmente tatus, que buscam larvas de cigarra
por desbaste leve, pelo anelamento nas suas raízes. Ressalte -se que as
de árvores. Decisões sobre o desbaste plantas escolhidas devem ter viabili-
dependem de análise local e devem dade silvicultura! dentro do sistema
levar em conta a longevidade das ou prática de RED que for empre -
espécies que, automaticamente , irá gada. Por causa desse aspecto muitas
regular o futuro autodesbaste do espécies de grande valor para a fauna ,
talhão. Comumente, o desbaste deve como as figueiras nativas, muito pou-
ser dirigido a indivíduos muito vigoro- co estudadas, não podem ser empre-
sos ou muito copadas, que podem gadas com segurança, atualmente.
estar agindo como inibidores ao
competir por fatores de crescimento.
Árvores mortas em pé permitem o 4. Referências Bibliográficas
aumento da entrada de luz sem cau-
sar grandes clareiras e contribuem AIDE, T. M.; ZIMMERMAN, J. K.;
para a complexação ambiental interna. ROSARIO, M.; MARCANO , H. Forest
recovery in abandoned cattle
Outra situação, mais preocupante, é pastures along an elevational
a reinstalação vigorosa e indesejável gradient in northeastern Puerto
da fase herbáceo -arbustiva em um Rico. Biotropica, Washington, v. 28,
talhão já estabelecido, em decorrê - n . 4a, p. 537-548, 1996.
ncia da abertura precoce do dossel,
por autodesbaste excessivamente ALLEN, R. B.; PLATT, K. H.; COKER,
intenso. Para evitar isto, espécies R. E. J. Understorey species
pioneiras de vida muito curta devem composition patterns in a Pinus
ser usadas moderadamente para radiata plantation on the central
compor o dossel, em mistura com pio- north island volcanic plateau, New
neiras e secundárias mais longevas . Zealand. New Zealand Journal of
Forestry Science, Rotorua, v. 25 , n .
Para favorecer a sucessão, a 3, p. 301-317, 1995.
atração de sementes de fontes externas
e o desenvolvimento local da fauna BAGGIO, A. J.; CAPANEZZI, A. A.
devem ser objetivos permanentes, Exploração seletiva do sub-bosque:
desde o planejamento, valendo-se uma alternativa para aumentar a
das relações entre plantas e animais, rentabilidade os bracatingais .
principalmente zoocoria e zoofilia. Há Colombo: Embrapa Florestas, 1998.
muitas possibilidades para isso 1 7 p . (Embrapa Florestas. Circular
(Butanda-Cervera et al., 1978; Nogueira Técnica, 28).
Neto, 1985; Janzen, 1988; Reis et al.,
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conhecidas ou lembradas, como a practice . Landscape Planning,
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45
46
Capítulo 3

RESULTADOS DO PROGRAMA DE RESTAURAÇÃO COM


ESPÉCIES ARBÓREAS NATIVAS DO CONVÊNIO ESALQ /
USP E CESP 1

Paulo Y. Kageyama2
Flávio Bertin Gandara3

Introdução

A ação humana relacionada à ração artificial de espécies nativas


urbanização, agricultura, industria- locais, denomina-se restauração eco-
lização e outras atividades vem lógica de ecossistemas naturais ou,
impactando os ecossistemas natu - mais simplesmente, restauração flo -
rais, levando a um aumento crescen- restal. A restauração visa restabele-
te no total de áreas degradadas. Con- cer os processos e a estrutura do
seqüentemente, ela provoca a ocor- ecossistema original, garantindo a
rência de paisagens fragmentadas permanência da biodiversidade que
com baixa conectividade entre os é a grande riqueza dos ecossistemas
fragmentos florestais remanescen - tropicais, em especial das florestas.
tes, reduz a biodiversidade e aumen-
ta o risco de extinção local de espé- As técnicas empregadas pela
cies. restauração ecológica têm avançado
nos últimos anos. Esse avanço deve-
A estratégia de minimizar os se ao acúmulo de conhecimentos nas
efeitos dos processos de fragmenta - áreas de ecologia florestal (regene-
ção/ degradação, através da regene - ração, sucessão florestal e interações

' Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), Universidade Federal de São Paulo
(USP) e Centrais Elétricas do Estado de São Paulo (Cesp)
2
Professor, Departamento de Ciências Florestais Esalq/USP
3
Professor, Departamento de Ciências Biológicas Esalq/USP

47
ecológicas), na sistemática e na alizado no Brasil (Kageyama e Dias,
tecnologia de produção de sementes 1982). Ele associava a biodiversidade
e mudas. da floresta tropical com a sucessão
ecológica e a genética de espécies
Atualmente, há vários grupos arbóreas nativas, que são conceitos
trabalhando com pesquisa nessas envolvidos nos modelos de restaura-
áreas no Brasil. Eles atuam em di- ção desenvolvidos pela Cesp em coo-
versos biornas e em diferentes situ- peração com a Esalq. Interessando-
ações de degradação. Esse fato tem se pelo trabalho, a FAO solicitou, em
sido importante para o avanço tanto 1984, autorização para publicá-lo na
da ciência como das ações práticas sua revista sobre conservação gené -
de restauração. tica (Kageyama e Dias, 1985).

Diversas regiões tropicais do A Esalq fez em 1984 uma primei-


mundo, e em especial o Brasil, so- ra incursão no estudo da restauração
frem atualmente sérios problemas de de matas ciliares, tendo sido publicada
perda de biodiversidade e de degra- uma aproximação do que é atualmen-
dação de recursos naturais como te denominado "uso da diversidade e
água e solos. A restauração de sucessão na restauração de áreas de-
ecossistemas naturais degradados gradadas" (Kageyama et al., 1986).
tem um papel fundamental para re- Esses autores apresentaram um es-
duzir a extensão desses problemas, tudo sobre a recuperação das cabecei-
especialmente em situações mais ras do rio Corumbataí, feita numa par-
sensíveis como áreas ciliares. ceria entre a Esalq e Daee.
O objetivo deste capítulo é apre- Deve-se dar crédito, também,
sentar os trabalhos do Programa de àqueles que foram precursores dos
Restauração com Espécies Nativas, estudos básicos silviculturais com
baseados principalmente no Convê - espécies nativas, mesmo que em sua
nio Esalq/Cesp e oferecer uma aná- maioria as tratassem similarmente
lise dos avanços tecnológicos alcan- às espécies exóticas e fizessem ex-
çados em termos de fundamentos da perimentos em plantios puros ou
restauração florestal e tecnologias de mono-específicos. Algumas exceções
baixo custo para a recuperação de devem ser registradas, como a de
áreas ciliares. Nogueira ( 1977) que implantou em
Cosmópolis, na década de 60, um
plantio misto de espécies arbóreas
1. A restauração florestal no Brasil (nativas e exóticas), porém sem o
enfoque sucessional.
Um trabalho significativo sobre
aplicação da genética em espécies O histórico do uso de alta di-
nativas, oferecendo uma nova percep- versidade de espécies, associado aos
ção para a restauração da grupos sucessionais em plantios de
biodiversidade, foi apresentado no I nativas, foi apresentado no memo-
Congresso de Essências Nativas, re- rável I Simpósio de Matas Ciliares

48
(Kageyama et al., 1989). Esse con- damental para o avanço do conheci-
ceito de separação das espécies da mento.
floresta em grupos ecológicos, fun -
cionais ou sucessionais foi funda - É oportuno recordar que o Bra-
mentado, basicamente, na teoriza- sil estava, no período relatado, no
ção de Budowski (1965). Outros au- auge dos incentivos fiscais para re -
tores foram também importantes, florestamento, quando as pesquisas
principalmente os que teorizaram com melhoramento genético e im -
sobre a grande diferença entre as plantação florestal eram feitas qua-
florestas tropicais e as de clima tem- se exclusivamente com os gêneros
perado (Gómez-Pompa et al., 1972). Eucalyptus e Pinus. Todo esse perío-
Autores com trabalhos clássicos sobre do de desenvolvimento da pesquisa
banco de sementes tropicais como Hall com espécies exóticas foi importan-
e Swaine ( 1980), devem ser também te, pois todo o conhecimento adqui-
mencionados. rido com as espécies plantadas nes-
sa época foi a base para o desenvol-
O uso dos grupos sucessionais vimento de tecnologia para plantios
para ordenar a alta diversidade de mistos de espécies nativas. A essa
espécies da floresta tropical e base técnica foram acrescentados co-
organizá-las nos plantios, da mesma nhecimentos ecológicos da floresta
forma em que elas ocorrem na flo - tropical, que vinham avançando,
resta natural, foi sem dúvida não só principalmente, no México, Costa
o grande salto no desenvolvimento da Rica e Panamá. Créditos devem ser
tecnologia de plantio de nativas, dados também aos autores que de -
como também o conceito mais discu- senvolveram pesquisas nesses paí-
tido e polemizado nos eventos perti- ses.
nentes. Foi necessário voltar ao con-
ceito da sucessão secundária, como Quando se compara a pesquisa
discutido por Denslow ( 1980), consi- e o desenvolvimento da silvicultura
derando a importância dos diferen- de espécies exóticas com a de nati-
tes tamanhos de clareiras para en- vas deve-se lembrar que o grande
tender a dinâmica do mosaico de ela - aumento da produtividade das plan-
reiras da floresta tropical, e assim tações de eucaliptos, ocorrido no pe-
fundamentar o desenvolvimento das ríodo em referência, está acontecen-
técnicas para indução da sucessão do atualmente com as nativas e po-
secundária. derá aumentar ainda mais no futu -
ro. Assim, a triplicação de produtivi-
Esta revisão histórica mostra dade, de 15 m 3 /ha- 1ano- 1 para 45 m 3 /
que todo trabalho intelectual não ha- 1 ano- 1 para as principais espécies
pode ser individualizado, já que en- exóticas, ocorrida num período de
volve e depende do esforço de auto- cerca de 20 anos (décadas de 60 a
res anteriores, assim como de even- 80), poderia ser o referencial de pro-
tos correlacionados que ocorreram na dutividade atual para as nativas. Isso
época considerada, nos quais a dis- porque bons plàntios de espécies
cussão da teoria e técnicas foi fun - arbóreas nativas, com a metodologia

49
de uso da diversidade e grupos eco- plantios de restauração. Dessa for -
lógicos, já permitem estimar cresci- ma, é parte fundamental do processo
mento da ordem de 15 m 3 /ha- 1 ano- 1 • o uso de espécies nativas da forma -
2. Conceitos básicos na restauração ção vegetal que se busca restabelecer
e que ocorrem na região onde se
O uso de conceitos pouco conhe- desenvolve a restauração.
cidos, anteriormente, nos trabalhos
de restauração com espécies nativas, A própria questão da restaura-
ocasionou longos debates e, por isso, ção, definida na literatura interna-
os autores de pesquisa fundamental cional como sendo a tentativa de
foram resgatados.Visava-se consoli- implantar todas as condições para se
dar não só a terminologia, mas a chegar num novo ecossistema, o mais
própria tecnologia de restauração. semelhante possível ao originalmente
Muitos desses conceitos foram colo - existente no local a ser recuperado,
cados em discussão no decorrer do demandou tempo para chegar-se a
período em referência (décadas de 80 um consenso. Dessa forma, as várias
e 90). Serão revistos apenas alguns denominações para essa atividade de
dos mais importantes, para se enten- restauração, que tem sido apontada
der as diferentes concepções sobre o como mais apropriada para as APPs
funcionamento da complexidade da (Áreas de Preservação Permanente),
floresta tropical. recebeu muitos nomes nesse período.
Assim, recuperação, revegetação,
Além do uso da sucessão no recomposição, reabilitação, revege -
plantio de nativas, outra das mais talização e até matamento foram
importantes questões foi por que utilizados significando, aproxima -
usar espécies nativas na restau - damente, a mesma ação de plantio
ração? Isso se deve à confusão sobre de espécies nativas locais, visando
os conceitos de adaptação ecológica recuperar a função e a forma nas
e silvicultura! que ocorria nessas novas florestas a serem formadas.
discussões. As frases do tipo "espé- Engel e Parrota (no prelo) esclarecem
cies não têm passaporte"; ou "espé- bem essa conceituação, compatibili-
cies naturalizadas", entre outras, re- zando-a com a terminologia interna-
presentam bem esse desenten - cional.
dimento. Principalmente quando se
associa a utilização de espécies A importância do uso de alta
nativas com seus polinizadores, diversidade de espécies em restau -
dispersores de sementes e mesmo ração, similarmente ao que ocorre
predadores específicos, que só ocor- naturalmente nas florestas tropicais,
rem em sua região de origem, fica foi outro ponto de discórdia. A reso-
muito mais clara a importância lução da Secretaria do Meio Ambiente
dessas relações na recriação do do Estado de São Paulo (nº 21, de 21 /
ecossistema original, restabelecendo 11 /2001), que estabelece um número
as interações ecológicas e diver - mínimo de espécies para ações de
sidade de espécies, assim como restauração no Estado de São Paulo,
garantindo a sustentabilidade dos reflete o avanço da legislação nesse

50
assunto. Embora em nossas florestas sementes, que determinam a dis -
tropicais a diversidade de espécies tância entre árvores adultas na flo -
seja muito alta, cerca de 100 a 300 resta. Assim, quanto a esse aspecto,
espécies arbóreas por hectare, esse as espécies seriam classificadas em
número é somente um referencial, raras (menos que uma árvore/ha) e
já que a diversidade apontada na comuns (mais que uma árvore/ha),
portaria (30 a 80 espécies) é se bem que haveria uma grande
considerável e difícil de se realizar. amplitude entre as muito raras e as
muito comuns (Kageyama &
Para exemplificar a importância Gandara, 1993). O importante é que,
da diversidade de espécies nos se a densidade é essencial nas
plantios, o uso exclusivo de espécies populações naturais das espécies,
arbóreas leguminosas, em projeto de esse fator deveria ser incluído nos
restauração pela Prefeitura do Rio de modelos de restauração.
Janeiro, provocou um ataque intenso
de serra -paus (cerambicídeos) nas A questão da densidade natural
plantações. Isso mostra que, apesar das espécies tem, também, impli -
de haver uma certa diversidade de cação na coleta de sementes repre-
espécies, o uso de espécies de sentativas das espécies. Se as espé-
somente uma família pode ser um cies são raras e comuns nas matas
fator de desequilíbrio nas plantações nativas, e elas não estão nessas
de restauração. Isso ocorre porque condições por acaso, isso deve ser
esses insetos são específicos de considerado na coleta de sementes
algumas familias de árvores, em nessas áreas naturais. Não tem sen-
particular das leguminosas, sendo tido a regra de coleta de sementes
que esse fato provoca distúrbios em em populações naturais, respeitando
plantios com espécies dessa familia . a distância mínima de 100 metros
Esse ataque intenso, resultante da entre matrizes , estabelecida há 20
alta densidade das leguminosas, anos, considerando o conceito de
implicou no plantio de espécies de raridade ou abundância das espécies.
outras familias para aumentar a Esse conceito vale somente para
diversidade da restauração e sanar o populações de florestas secundárias,
problema do ataque desses animais. quando as árvores próximas podem
ser endogâmicas (aparentadas) .
Outro aspecto mais complexo, e Nessa situação não se deve coletar
ainda de difícil compreensão e uso, de indivíduos próximos sem conside-
é o da densidade de indivíduos de rar uma distância predeterminada.
cada espécie ou grupo de espécies
que se deve usar nos plantios de Da mesma forma, a seleção de
restauração . As espécies arbóreas matrizes por caracteres fenotipicos
têm suas densidades naturais , ao para coleta de sementes em
que tudo indica , associadas ao seu populações naturais é uma questão
aspecto evolutivo e dependentes do discutível do ponto de vista genético.
alcance de deslocamento dos seus Primeiramente porque na restau -
polinizadores e dispersares de ração deseja-se a representatividade

51
das espécies nas populações e não 3.1 Restauração no entorno dos
uma parte da variação genética das reservatórios
mesmas. Qualquer tentativa de
seleção iria contra o princípio da A primeira discussão para
manutenção da diversidade. Em definir linhas de ações de pesquisa
segundo lugar, porque a variação visando implantar florestas de
fenotípica nas populações naturais proteção no entorno dos reservatórios
tem o efeito ambiental muitas vezes hidroelétricos da Cesp foi sobre as
maior do que o efeito genético. Isso questões de por que usar somente
significa que seria impossível separar espécies nativas e como definir
esses efeitos na seleção, em modelos para implantá-las no campo.
condições da floresta natural Deve -se ressaltar que no início do
(herdabilidade próxima a zero). Isso convênio, principio da década de 80,
já foi amplamente demonstrado em a Cesp já implantava florestas no
experimentos com progênies, com entorno dos reservatórios, porém sem
muitas espécies arbóreas. Dessa um modelo definido, sem usar
forma, as estruturas populacional e espécies pioneiras ou considerar
genética das espec1es nativas grupos sucessionais e sem o uso
precisam ser entendidas, e todos exclusivo de espécies nativas. O
esses conceitos devem auxiliar a modelo adotado atualmente pela Cesp
desenvolver tecnologias adequadas à contém mudanças fundamentais em
restauração. relação ao que se fazia inicialmente.
Muito embora as mudanças pareçam
pequenas, elas realmente
representam um longo caminho
3. Avanços na tecnologia da percorrido.
restauração resultantes do
convênio Esalq/Cesp A restauração, naquela época
denominada revegetação, significava
Os avanços resultantes das incluir o max1mo possível da
atividades de restauração do con - diversidade de espécies arbóreas
vênio Esalq/Cesp são o fruto de inten- locais. Visava-se tornar o ecossis -
sa interação entre os conceitos funda- tema o mais próximo possível da
mentados em trabalhos científicos, no floresta tropical existente anterior-
debate com pesquisadores e na expe - mente na área, incluindo todas as
riência prática da equipe formada interações ecológicas interespecí-
pela Esalq e pela Cesp. Muitas hi- ficas, principalmente as de repro -
póteses foram testadas em experi- dução, para conferir sustentabi -
mentos formais ou informais durante lidade ao processo de implantação
cerca de 20 anos de pesquisa. Des- das novas florestas. Assim, não se
sa forma, serão apresentados os utilizavam espécies exóticas, mesmo
aspectos mais importantes do proje- aquelas que pareciam ser nativas
to, os grupos de experimentos reali- pela grande adaptação silvicultura!.
zados e os principais resultados Isso foi rapidamente superado pela
alcançados. equipe da Cesp, após terem sido

52
discutidos e aceitos por ela os con- Budowski ( 1965) mostrava que
ceitos científicos corretos. o conceito de grupos ecológicos
poderia ser usado para a restauração,
3.2 Grupos ecológicos sucessionais embora não o preconizasse para
de espécies arbóreas plantios florestais. Assim, o primeiro
experimento formal implantado em
Duas pesquisas foram incluídas quatro unidades da CESP, usando o
no programa de pesquisa para avaliar conceito de Budowski (1965 ), testava
o conceito de grupos ecológicos e a existência dos quatro estágios
introduzi-lo nos trabalhos de restau- sucessionais definidos por aquele autor
ração na Cesp. O primeiro foi um le- (Figura 1 ). Para isso usaram-se cinco
vantamento ao acaso nas plantações espécies arbóreas dos quatro grupos,
existentes até a época, analisando o para cada local (uma pioneira, uma
comportamento das principais secundária inicial, duas secundárias
espécies implantadas, em diferentes tardias e uma clímax), instaladas em
situações. Para isso foi usado um 36,8 hectares. Esse experimento,
mínimo de 20 repetições para o com as 20 espécies nativas oriundas
experimento. Assim, comparou-se o de quatro locais do Estado de São
comportamento de árvores de uma Paulo, foi decisivo para o programa,
determinada espécie em condições permitindo os avanços posteriores. A
variáveis de intensidade luminosa coerência e consistência das respos-
(sombra), em relação às suas tas das espécies de cada grupo ecoló-
vizinhas. A hipótese testada era que gico, nos diferentes locais de
as espécies poderiam ser classi - experimentação, permitiu confirmar
ficadas em grupos de acordo com o a hipótese testada. Observou-se que
seu comportamento em relação à luz. havia uma certa hierarquia da
Em realidade, testava-se a hipótese exigência e resposta à luz desde as
da existência de grupos ecológicos de pioneiras até as climácicas, e que
espécies. havia intensidades luminosas mais
favoráveis para cada um dos diferen-
tes grupos ecológicos
(Kageyama et al.,
1992, 1994; Kageyama
& Gandara, 2000).

Figura 1. Experimento de
plantio consorciado de
espécies arbóreas nativas
de quatro grupos
sucessionais , em
Promissão, SP.

53
A própria denominação de cada 3.3 Seleção de populações e coleta
grupo ecológico baseada na sucessão de sementes
secundária merece uma explicação.
Quando se analisa a denominação Uma das questões teóricas
dos grupos ecológicos é conveniente importantes, abordada no programa
observar que Budowski (1965) usou de pesquisa do convênio, foi como
a expressão estágios de regeneração, conservar a diversidade genética de
muito embora estivesse se referindo cada espécie, através da coleta de
à sucessão ecológica na regeneração sementes, representando bem as
da floresta após o corte e abandono, populações naturais dessas espécies.
ou a uma sucessão antrópica. Outra Saliente -se que, ultimamente, os
questão a ser destacada é a termi- estudos genéticos das populações
nologia para os grupos ecológicos, naturais de espécies arbóreas têm
porque não há consenso entre os evoluído bastante no Brasil, permi -
autores, inclusive quanto à forma de tindo a definição de diretrizes bási-
considerar a sucessão. Por exemplo, cas para selecionar populações e não
a terminologia clímax para o último de matrizes na população (Figura 2).
estágio ou grupo poderia implicar que As pesquisas apontam que é mais
a sucessão terminaria numa fase importante selecionar populações
final de estabilidade para a comuni- adequadas e fazer a coleta de semen-
dade. Isso, de fato, não corresponde tes em uma amostra tomada ao aca-
ao conceito atual da sucessão tropi- so, respeitando-se o número mínimo
cal, considerando que coexistem de árvores.
diferentes estágios da sucessão num
só local, como um mosaico de man- Por isso, a seleção da população
chas de diferentes estágios suces - para a coleta de sementes deve levar
sionais. Porém manteve -se essa em conta tanto o tamanho efetivo da
terminologia em respeito a Budowski, população como a sua integridade
porque a descrição dos 4 grupos feita ecológica e genética. Dessa forma,
por ele correspondia ao que se obser- devem ser escolhidas populações com
vava com as caracterís-
ticas das espécies estuda-
das no convênio e eles
podiam ser aplicados na
associação das espécies nos
plantios de restauração.

Figura 2. Vista do
Experimento "Variação
genética em progênies de
espécies pioneiras e clímax".

54
o mínimo de perturbação para forne - Em relação ao número mm1mo
cer sementes de boa qualidade, de matrizes para representar uma
porque populações degradadas, ou população pode-se usar o parâmetro
que sofreram corte seletivo ou des - genético N, ou o tamanho efetivo
matamento, apresentam problemas mínimo que a represente. Para conter
genéticos decorrentes de cruza - a maior parte da variação genética
mento de plantas aparentadas. Popu- de uma população sem perda
lações naturais não perturbadas significativa da mesma, por causas
geralmente não mostram parentesco fortuitas, em um mínimo de gerações
entre os indivíduos, mesmo entre os (10 por exemplo), recomenda-se um
mais próximos. Assim, não há neces- Ne (tamanho genético) mínimo de 50.
sidade de se prevenir em relação à Assim, seguindo -se essa recomen-
endogamia e, portanto, não é neces- dação e considerando-se que a coleta
sário manter uma distância mínima de uma progênie em uma população
entre árvores para a coleta de se - normal vale um Ne de aproxima -
mentes para as populações não damente quatro, deve - se coletar
degradadas. sementes de no mínimo 12 árvores
em populações naturais de uma
Quando se estuda atentamente espécie, ou um Ne igual ou maior que
as espécies arbóreas em populações 50 (Kageyama & Gandara, 2000;
naturais primárias verifica -se que Kageyama et al., 2001 ). Essa é a
elas podem ser classificadas em recomendação que foi seguida pelo
desde muito comuns (mais de 20 programa da Cesp.
indivíduos adultos por hectare) até
3.4 Modelos de implantação na
as muito raras (menos que uma
restauração
árvore adulta por 20 hectares). Há
os grupos intermediários entre esses Havendo sido constatada
extremos: as raras, com menos que experimentalmente a existência dos
uma árvore/ha e as comuns, com grupos ecológicos e da funcionalidade
mais que uma árvore/ha. Uma do seu uso para trabalhos de
espécie rara na Mata Atlântica, como restauração, o modelo operacional de
por exemplo o cedro, com uma árvore plantios na Cesp passou a utilizar a
a cada 1 O hectares e com uma separação das espécies nos 4 grupos
distância média de 230 metros entre ecológicos propostos por Budowski
árvores, geralmente, apresenta (1965). Assim, fazia -se o plantio de
indivíduos próximos não aparentados. linhas de espécies sombreadoras
O mesmo fato ocorre com o palmi- (pioneiras e secundárias iniciais) e
teiro, no mesmo biorna, que apresenta de espécies sombreadas (secundárias
100 indivíduos adultos por hectare. tardias e climácicas) alternada-
Portanto, o critério de distância míni- mente. Nas linhas, mudas dos dois
ma entre árvores não é, de fato, bom grupos ecológicos eram colocados ao
para se escolher matrizes para coleta acaso. Dessa forma, eram plantadas
de sementes representativas das 50% de mudas de espécies sombrea-
populações. doras e 50% de sombreadas, com um

55
espaçamento de 3 x 2 m, ou 833 A Cesp testou um terceiro mo -
mudas de cada um desses grandes delo experimental para ser utilizado
grupos (sombreadoras e sombreadas). em fomento aos proprietários loca-
Esse modelo perdurou com bons lizados ao longo dos tributários forma-
resultados desde 1989 até meados dores da barragem. Nesse caso, em
da década de 90, tendo sido plantados somente 20% da área do proprietário
cerca de 500 hectares por ano nas era utilizado o modelo completo de
quatro unidades da Cesp. restauração, com sombreadoras e
sombreadas. Nos 80% restante eram
Para esclarecer dúvidas quanto plantadas somente as sombreadoras
ao papel da distribuição espacial (pioneiras e iniciais), o que reduziu
entre raras e comuns, resolveu-se
bastante o custo de implantação. Após
implantar um novo experimento. Para
o recobrimento e fechamento daque-
isso, 27 espécies arbóreas da região
les 20% da área esperava-se que,
do Pontal do Paranapanema foram
após o florescimento das espécies
classificadas em raras, interme -
sombreadas (tardias e climácicas),
diárias e comuns, plantando-se todas
elas na forma rara, isto é, um elas iriam espalhar naturalmente
indivíduo por hectare e na forma seus propágulos para o espaço res -
comum, ou seja, 50 indivíduos por tante, que estaria vazio dessas espé-
hectare. Após três anos, os resul - cies responsáveis pela biodiver-
tados dessa pesquisa confirmaram a sidade.
hipótese de espécies raras plantadas
com a densidade das comuns 4. Considerações Finais
apresentarem maior incidência de
A restauração florestal, espe -
pragas e/ ou doenças. Por isso, o
cialmente quando aplicada às Áreas
modelo de restauração do programa
de Preservação Permanente (APPs),
da Cesp incorporou a raridade como
mais um fator. Assim, passou -se a é um instrumento fundamental para
plantar as espécies raras com uma a recuperação de grandes áreas
densidade de oito indivíduos por degradadas, principalmente no domí-
hectare e as comuns com 20 -30 nio da Mata Atlântica. Entretanto, é
indivíduos/ ha. Nesse modelo, as necessário aplicar todo o conheci-
pioneiras e secundárias iniciais mento básico disponível sobre os
eram plantadas como muito comuns, ecossistemas naturais para tornar
ou com 30 mudas por hectare para essa restauração sustentável. Assim,
cada espécie (830 mudas de 30 espé- não sendo a restauração um simples
cies) e as climácicas, que normal - reflorestamento misto de espécies
mente são comuns, foram plantadas arbóreas nativas, é fundamental uti-
com uma densidade de 20 mudas/ha lizar nela os conhecimentos sobre di-
(415 mudas de 20 espécies). As espé- versidade de espécies, a sua repro-
cies raras, que geralmente são as dução e sucessão ecológica natural,
secundárias tardias, eram plantadas entre outros, para que modelos mais
em uma densidade de oito plantas por adequados e sustentáveis sejam
hectare (415 mudas de 50 espécies). utilizados.

56
Também deve -se ressaltar a assim como sementes provenientes
importância da restauração florestal de fragmentos vizinhos para a rege -
como mecanismo de fixação de car- neração de espécies não pioneiras.
bono que pode contribuir fortemente
para a redução do aumento dos níveis Deve ainda ser enfatizado que o
de C0 2 na atmosfera e, conseqüen- plantio misto de espécies nativas, com
temente, para a diminuição do efeito um mínimo de diversidade e seguindo
estufa. Com isso, abrem-se grandes os princípios da sucessão natural,
possibilidades para um aumento das pode ser feito com espécies arbóreas
atividades de restauração com recur- de valor econômico, com resultados
sos originários de programas interna - similares quanto aos aspectos am-
cionais de seqüestro de carbono. No bientais. O plantio de árvores no meio
entanto, ainda são necessárias me - rural ajuda a conectividade e a per-
lhores estimativas da quantidade de meabilidade na paisagem, assim como
carbono que é efetivamente fixada oferece alternativa econômica ao
pelo processo de restauração flores - proprietário, além de proporcionar
tal, tanto a curto como a longo prazo. serviços ambientais múltiplos.

Por outro lado, o processo de


restauração não deve ser conside - 5. Referências Bibliográficas
rado isoladamente, mas sim como
integrante de uma paisagem de BUDOWSKI, G. Distribuition of
muitos ecossistemas naturais e tropical american rain forest in the
antrópicos , devendo levar em conta light of successional process.
os novos conceitos de ecologia de Turrialba, San Jose, v. 15, n. 1, p .
paisagem. Dessa forma, na restau- 40-42, jan./mar. 1965.
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de fragmentação, permeabilidade da DENSLOW, J. S . Gap partioning
matriz, conectividade da paisagem e among tropical rain forest trees.
corredores biológicos, assim como de Biotropica, Washington, v. 12, p. 47-
fluxo gênico e de organismos. Assim, 55, 1980.
seriam ampliados a visão de resta -
ENGEL, V. L. ; PARROTTA, J. Res-
uração e os horizontes das ações em
áreas degradadas .
tauração ecológica de ecossistemas
naturais. No prelo.
A restauração florestal deve
GÓMEZ - POMPA, A . ; VÁZQUEZ -
aproveitar a larga experiência brasi-
YANES, C.; GUEVARA, S. The tropical
leira em silvicultura associada ao
rain forest: a nonrenewable
aproveitamento da melhor alternativa
_resource. Science, Washington, v.
para cada situação da paisagem. Para
177, p. 762 -65, 1972.
isso, considerar seriamente a possi-
bilidade de utilizar a regeneração HALL, J . B . ; SWAINE M. D. Seed
natural. Assim, sempre que possível, stocks in Ghanaian Forest soils
aproveitar o potencial do banco de se- Biotropica, Washington, v. 12, n. 4,
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57
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58
Capítulo 4

EXPERIÊNCIAS RELEVANTES NA RESTAURAÇÃO DA


MATA ATLÂNTICA

Renato Moraes de Jesus 1


Sarnir Gonçalves Rolim 2

Introdução

Na faixa tropical do planeta, rar o ambiente aumentou exponen-


onde também se encontram proble - cialmente nos últimos 50 anos, sem
mas de ordem social e econômica, que medidas contundentes fossem de
há cerca de 650 milhões de hecta - fato tomadas (Jesus, 1994).
res usados como áreas de cultivo e
quase dois bilhões de hectares em Aproximadamente 50% da su-
distintos estágios de degradação. Se perfície da terra já se encontra alte-
a elas forem adicionadas localidades rada por ações humanas (Vitousek
nessas condições de outras regiões et al., 1997). Embora essa condição
do resto do mundo, ter-se-á uma di- não signifique necessariamente de -
mensão mais exata da gravidade des- gradação, ela não seria alarmante se
se problema. Isso se torna ainda mais o desenvolvimento agrícola, industri-
grave pelo fato de a degradação ocor- al e urbano tivesse caminhado junto
rer sempre em decorrência de ativi- com a conservação ambiental. Mas,
dades antrópicas inadequadas nos ocorreu justamente o contrário e a
recursos naturais e ao se levar em degradação ambiental atingiu nível
conta que o poder humano de alte - assustador em todo o mundo. Uma

1
Engenheiro Florestal, Doutor. Reserva Natural da Vale do Rio Doce - CP 91 / Linhares (ES),
CEP-29900-970
2
Engenheiro-Agrônomo, Doutorando. Reserva Natural da Vale do Rio Doce - CP 91 / Unhares (ES),
CEP-29900-970

59
comprovação disso é a criação de 25 gradação. Apesar de inexistirem da-
"Hotspots", definidos como áreas de dos oficiais, o Cerrado, ainda com
elevada biodiversidade que tiveram menor apelo da sociedade para res -
mais de 70% de sua vegetação origi- tauração, provavelmente possui taxa
nal destruída. Estes "Hotspots" repre- de desmatamento pelo menos igual
sentam apenas 1,4% da superfície do à da Mata Atlântica. As taxas de des-
planeta, mas contêm 60% da diver- matamento na Caatinga são meno-
sidade de espécies terrestres (Mit- res, cerca de 25 ha diários (Drumond
termeier et al., 1999), e são, portan- et al., 2000), mas nela inexistem pro-
to, prioritários para conservação. jetos de restauração formalmente
divulgados.
A Mata Atlântica e o Cerrado
foram incluídos nesses 25 "Hotspots", Apesar de esses dados serem
mas estudos recentes indicam que a alarmantes eles não se comparam
Caatinga, que também apresenta ele- com os da Amazônia, onde o desma-
vada biodiversidade, já se encontra tamento na década de 90 foi de 4.600
com mais de 50% da sua área alte- ha diários (INPE, 2000), valor que na
rada (Lima, 1978; Santos et al., 1992; verdade subestima toda a degrada -
Araújo et al., 1995; Araújo et al., ção que ocorre na floresta, pois nela
1998a; Araújo et al., 1998b; Rodal et devem ser incluídos, também, os in-
al., 1999; Sá et al., 2000; Casteleti cêndios e a exploração madeireira
et al, 2000; Drumond et al., 2000; (Laurance, 1998; Cochrane et al.,
Alcoforado Filho et al., 2003). Isso 1999; Nepstad et al., 1999). Como se
evidencia que, praticamente, três bi- constata, a degradação corre a pas-
ornas brasileiros estão com elevado sos largos em todo o Brasil, mas são
grau de ameaça. necessárias ações para cessá - la,
além de apenas boa vontade e obsti-
A responsabilidade de conser- nação em recuperar áreas .
var o pouco que resta desses biornas
independe apenas da boa vontade, É importante destacar que con-
pois .a velocidade de degradação é servar e mesmo restaurar florestas
muito maior que a da recuperação. não significa apenas satisfazer o ape -
Cerca de 137 ha da Mata Atlântica lo emocional ou estético, como mui-
são desmatados diariamente desde tos desejam fazer pensar, particular-
o início da década de 90 (Fundação mente nos calorosos debates sobre a
SOS Mata Atlântica, 1998; Fundação revisão do Código Florestal e da le -
SOS Mata Atlântica, 2002). São es - gislação da Mata Atlântica na déca-
cassas as informações sobre restau- da de 90. O resultado desse quadro
rações bem sucedidas; estima-se que de degradação, em primeira instân-
são inferiores a 1 O% dessa área al- cia, é a perda de inúmeros serviços
terada. Assim, DEPRN (2003) relata prestados pelos ecossistemas, cujo
que apenas 1.496 ha foram recupe - valor econômico pode atingir mais de
rados no Estado de São Paulo em US$ 33 trilhões anuais, quase o do-
2002. Essa área está muito aquém bro da riqueza produzida anualmen-
da necessária para equilibrar a de - te no mundo (Constanza et al., 1997).

60
Alguns dos serviços prestados e as interações biológicas. Esse con-
pela floresta são diretamente ligados ceito de restauração diverge do pro-
às atividades produtivas da terra, cuja posto por Ibama ( 1990), que não é o
degradação resulta na perda da bio- mais aceito no meio científico, mas
diversidade, na gradual diminuição concorda com a proposta de Rodri-
das terras produtivas e da qualidade gues & Gandolfi (2000) e é mais coe-
da água, na necessidade crescente rente com a literatura científica.
de insumos para manutenção das pro-
dutividades e de variedades resisten- Entretanto , Bradshaw ( 1996)
tes às pragas e doenças. A tais incon- considera que essa definição traz
veniências deve-se incluir a redução várias implicações e que a restaura-
da qualidade de vida e o aumento dos ção no seu sentido estrito é imprati-
já freqüentes desastres ambientais, cável. Seria possível restaurar um
todos eles trazendo impactos extre - solo degradado que teve seu perfil e
mamente negativos ao bem estar da fauna edáfica removidos? Em quanto
sociedade (Jesus, 1997). tempo? E as reintroduções faunísti -
cas , as interações fauna -flora, as
O objetivo deste capítulo é apre- populações de lianas, arbustos e her-
sentar práticas adotadas em processos báceas? Seria isso possível? Pode-se
de restauração nas áreas onde a cober- afirmar que a restauração é um pro-
tura florestal foi eliminada ou perturba- cesso moroso. Na verdade, o que se
da pela exploração florestal, assim como atinge é a restauração da paisagem,
pelo estabelecimento de culturas agrí- pelo aceleramento ou direcionamen-
colas, pastagens ou da mineração. Apre- to da sucessão vegetal, inicialmente
senta também estudos de empreendi- por meio da revegetação com espéci-
mentos executados pelos autores. es arbóreas ou indução da regenera-
ção natural. Com isso, possibilita-se
atingir, o mais rapidamente possível,
o equilíbrio e o restabelecimento de
1. Aspectos conceituais da restau-
algumas funções ecossistêmicas.
ração
Vale destacar que as comuni-
As diferenças conceituais entre dades não são estáticas, mas variam
restauração, reabilitação, recupera - em composição florística no espaço e
ção e remediação foram discutidas no tempo (Lieberman et al., 1985;
por vários autores (Cairns, 1988; Manokaram & Kochummen, 1987;
· Lewis, 1990; Bradshaw, 1996; Bra- Primack & Hall , 1992; Condit et al.,
dshaw, 2002)*. De forma básica, en- 1996; Rolim et al., 2001 ). Nos proje-
tende -se que a restauração é uma tos de restauração deve -se buscar
das maneiras de se fazer a recupe - uma composição florística que seja
ração , e a definição mais amplamente compatível com aquela do ecossiste-
utilizada para ela é devolver ao ecos- ma original, sendo errôneo admitir a
sistema sua forma original, ou seja, busca de uma composição florística
a sua estrutura original, a dinâmica idêntica à que ocorria na área .

*N.E.: Elas são também analisadas nos capítulos 2 e 3 deste livro.

61
Há de se considerar também se Amazônia estudos indicam que a co-
a área "restaurada" teria tamanho e lonização por plantas nativas, de áre-
condições para ser ou não ecologica- as que sofreram a retirada da cober-
mente auto -sustentável, pois, por tura florestal e depois foram aban-
exemplo, a maioria dos fragmentos donadas, irá depender da intensida-
florestais fora da região amazônica, de de exploração e do tipo de uso do
apesar de manter boa parte da biodi- solo. Até mesmo a direção do proces-
versidade, encontra-se isolada e per- so sucessional pode seguir caminhos
turbada (Viana, 1990). Eles sofrem, diferentes (Uhl et al., 1982, 1988;
ainda, com a ação de incêndios, caça, Vieira et al., 1994). Portanto, é im-
plantas invasoras e populações em portante detectar os fatores deter-
desequilíbrios demográficos. Por isso, minantes da degradação e os seus
alguns autores preferem trocar o ter- níveis para definir o melhor procedi-
mo "restauração de ecossistema" por mento a ser usado .
restauração de habitat ou de comu-
nidades ou de espécies (Bradshaw, A degradação por poluição am-
1996). biental é outro exemplo de uma situ-
ação freqüente. Ela ocorre próximo a
2. Aspectos básicos na restauração centros industriais como Cubatão,
de áreas degradadas em São Paulo, e Volta Redonda, no
Estado do Rio de Janeiro, e até mes-
Antes de se iniciar qualquer mo em centros menores como no en-
projeto de restauração, o primeiro torno do Parque do Rio Doce, em Mi-
passo para o sucesso do empreendi- nas Gerais (Vuono et al., 1984; Klum-
mento é elaborar um diagnóstico de- pp et al., 1996; Domingos et al., 1998;
talhado da área a ser restaurada Pompéia, 1998; Silva et al., 2000).
definindo o objetivo da ação planeja- Projetos de recuperação próximos a
da. Inexistem áreas degradadas ir- fontes poluidoras devem considerar
recuperáveis e sim áreas com maior que muitas plantas são extremamen-
ou menor custo de restauração (Je - te sensíveis, e dependendo do polu -
sus, 1994). As técnicas mais adequa- ente envolvido sofrem injúrias des -
das de restauração variam de acor- de a fase de plântula.
do com os níveis de degradação en-
contrados, com as características Em algumas situações, a sim -
intrínsecas da área, com a rapidez ples remoção dos fatores de degra-
que se quer alcançar os resultados dação já pode ser suficiente para es-
desejados, com a variável custo e com timular a sucessão natural. Sem apli-
o objetivo da restauração. car esse procedimento a restauração
estará comprometida. Há outros fa -
2.1 Histórico e fatores de degrada- tores de degradação que, se diagnos-
ção ambiental ticados na área, implicam na execu-
ção de atividades como retaluda -
Conhecer a história do local aju- mento de uma voçoroca, controle de
da a compreender todo o processo de erosão, controle de formigas corta -
degradação ocorrido. Por exemplo, na deiras, correção de canais de drena-

62
gem, controle de plantas invasoras, Fontes de sementes com ampla
manejo de plantas em desequilíbrio base genética são extremamente
populacional, aceiros para evitar in- importantes para a sustentabilidade
cêndios, combate à caça e recolhi- ecológica da restauração, pois a di-
mento ou tratamento de resíduos in- versidade de espécies é uma tipicida-
desejáveis. de dos ecossistemas tropicais, seja no
Cerrado, na Caatinga ou em florestas.
O isolamento da área pode ser Espécies herbáceas, arbustivas ou
entendido também como forma de arbóreas devem ser consorciadas,
amenizar ou controlar possíveis fa - independentemente da forma de se
tores de degradação. Em muitas si- implantar a restauração. As fontes de
tuações será necessária a constru- sementes, principalmente dos frag -
ção de aceiros no entorno da área, mentos florestais vizinhos, são impor-
visando facilitar o acesso para pre - tantes também nas etapas posterio-
venir e evitar incêndios. Uma situa- res da sucessão natural.
ção muito comum é a necessidade
de isolar áreas para evitar o acesso Mesmo em áreas desprovidas de
de animais domésticos que costu - vegetação, mas com florestas no seu
mam pisotear ou pastejar nelas. O entorno, existe a possibilidade de o
uso de cerca viva também é um au- .banco de sementes no solo não estar
depauperado e os custos de implan-
xiliar importante nessas circunstân-
tação da r~stauração poderiam ser
cias e deve_ ser implementado sem-
reduzidos com a sua simples ativa-
pre que possível.
ção, obtida com a eliminação dos fa -
2.2 Fontes de sementes tores impeditivos ao seu estabeleci-
mento. As espécies pioneiras são um
Geralmente o banco de semen- dos principais componentes do ban-
tes de uma área degradada é defici- co de sementes do solo (Baider et al.,
ente ou pobre em espécies (Brink- 1999) e podem recobrir rapidamente
mann & Vieira, 1971; Uhl et al., 1982; a área, favorecendo a colonização de
Garwood, 1989 ). Identificar a existên- espécies que não toleram a alta
cia de outras possíveis fontes próxi- luminosidade e possibilitando
mas de sementes, como fragmentos proteção ao solo.
florestais, poderá resultar numa es-
2.3 Característica do substrato
tratégia de condução da regeneração
natural que, talvez, elimine a neces - Conhecer o substrato sobre o
sidade de plantios. Estudos indicam qual a planta vai crescer é funda -
que a fonte de sementes é um dos mental para a escolha de espécies
mais críticos fatores da regeneração adaptadas à situação de degradação,
da floresta (Holl, 1999; Puerta, 2002) pois freqüentemente a camada fértil
e juntamente com a presença de dis- do solo está perdida. Condições mui-
persares são fundamentais nesse to ácidas, salinas ou de toxidez tam-
processo (Silva & Tabarelli, 2000; bém atuam como limitações ao cres-
Francisco & Galetti, 2002). cimento de diversas espécies. Além

63
desses, há outros fatores adversos bens), capim colonião (Panicum maxi-
que precisam ser superados, ou seja, mum}, capim gordura (Melinis minutiflo-
as plantas devem , ainda, ser capa- ra) e sapé (Imperata brasiliensis) (Silva
zes de desenvolver raízes em solo Filho, 199 1; Corrê a, 1995; Pina-Ro-
compactado, superar a condição ana- drigues et al., 1997; Vieira & Pes -
eróbica, mobilizar nutrientes fixados , soa, 2001 ). Estas espécies são de alta
absorver água contra tensões altas e inflamabilidade e aumentam o risco
equilibrar o excesso de íons metáli- de incêndios florestais , em decorrên-
cos tóxicos (Primavesi, 1984). Descon- cia do acúmulo de biomassa morta
siderar essas possibilidades pode ser acima do solo e à alta razão superfí-
uma importante causa de insucesso cie / volume das folhas (Nepstad et
na restauração . al., 1991; Mack & D'Antônio, 1998;
Vieira & Pessoa, 2001 ).
Dentre as técnicas para condi-
cionamento do substrato e promoção Observar a presença de espec1-
do crescimento inicial das plantas es vegetando em áreas degradadas
podem ser destacadas a fertilização também auxilia na escolha das po-
tradicional (Gonçalves, 1995), a apli- tenciais para plantios e até mesmo
cação de lodo de esgoto e calcário decidir sobre a necessidade de fazê -
(Vasconcelos et al. , 1997; Gonçalves los, pois a condução da regeneração,
et al., 2000), o uso de meio de cultu- além de tornar dispensável a prática
ras (4 kg/m 2 ) de Eiseniafoetida (Kna- do enriquecimento, contribui para a
pper et al., 1997), a aplicação de se- redução de custos de projetos (Je -
rapilheira oriunda de mata vizinha sus, 1997). Para áreas nuas é essen-
(Gisler, 1995) e o uso de plantas le - cial saber por que não há regenera-
guminosas fixadoras de nitrogênio ção natural: seria a ausência de fon -
(Dõbereiner, 1984; Jesus, 1994 ; tes de sementes ou de dispersares,
Franco et al., 1994; Griffith et al., um substrato inadequado à sucessão
1996; Campello, 1998). Além de efi- secundária, pastoreio, incêndios
cientes para esse objetivo, as plan- constantes ou a presença de formi -
tas fixadoras de nitrogênio também gas cortadeiras? Ou seja, é impor-
funcionam como pioneiras, o que é tante identificar também as causas
fundamental à sucessão natural. desse problema.

2.4 Cobertura vegetal do solo 2.5 Manutenção silvicultural

A caracterização da cobertura Uma das falhas mais graves de


vegetal ajuda principalmente a iden- muitos projetos de restauração é o
tificar espécies invasoras que podem abandono da área de plantio à pró-
competir com as espécies desejáveis pria sorte. Orçar um projeto sem con-
do ecossistema. Dentre as espécies siderar as atividades de manutenção,
invasoras que mais dificultam o es - certamente, leva à perda do investi-
tabelecimento da regeneração estão mento . Fazendo-se a manutenção, a
as gramíneas brachiária (Brachiaria área em recuperação começa a ter
brizantha, B . humidicola, B. decum - condições para sua autocondução.

64
Mesmo assim, ainda existe a neces- ental compreendem a preservação e
sidade de acompanhamentos periódi- conservação genética, a produção,
cos e a ação preventiva ou corretiva coleta e beneficiamento de sementes,
deve sempre ser imediata. Via de re- assim como a produção de mudas .
gra, as práticas de manutenção mais
comuns são o controle de cipós (no 3.1.1 Preservação e conservação
caso de fragmentos florestais), a er- genética
radicação de plantas invasoras, o con-
trole de formigas cortadeiras, o coro- É correto afirmar que, enquan-
amento das mudas eventualmente to houver recursos genéticos poder-
plantadas, a proteção da fauna e a se-á fazer a restauração. Nesse con-
adoção de um sistema de prevenção texto, considerando que os recursos
contra incêndios. naturais não renováveis esgotam-se
e estão cada vez mais ameaçados, é
É comum na manutenção ostra- indispensável salvaguardar a biodi-
balhadores fazerem roçadas e capi- versidade contida nos remanescen-
nas não seletivas, isto é, cultivarem tes florestais do crescimento indis-
as mudas plantadas e eliminarem a criminado da área urbana e das ati-
regeneração natural, conduzindo a vidades agropastoril e industrial. A
área como se fosse um plantio comer- racionalização do uso da biodiversi-
cial, o que também é rotineiro quan- dade é essencial, mas o nível de frag-
do da implantação. Essa prática, além mentação dos ecossistemas florestais
de retardar o processo sucessional, da faixa tropical também torna indis-
aumenta os custos de manutenção, pensável evitar e controlar os incên-
pois disponibiliza espaço à coloniza- dios florestais. Por isso, são impres-
ção das plantas invasoras. Assim, os cindíveis a construção de aceiros e o
trabalhadores envolvidos devem rece- estabelecimento de cercas vivas. Em
ber orientação para a aplicação de tra- conjunto, esses procedimentos difi-
tamentos seletivos, estimulando e
cultam e retardam a passagem do
conservando a eventual regeneração
fogo e permitem chegar ao foco do
natural de interesse, independente
incêndio, facilitando o seu controle.
do porte das espécies.
A cerca viva, além do baixo custo de
implantação, propicia amenizar o
3. Procedimentos para a restauração efeito de borda no fragmento, impli-
cando, ainda, numa restauração na-
Serão considerados, separada- tural indireta.
mente, os procedimentos comuns e
os específicos para a restauração, 3.1.2 Produção, coleta e beneficia-
sendo esses últimos ilustrados com mento de sementes
exemplos práticos.
Estando 95% da região da Mata
3.1 Procedimentos comuns Atlântica brasileira em processo de
degradação e havendo a tendência
Os procedimentos geralmente de aumento das atividades de res-
adotados para a restauração ambi- tauração, é importante e necessário

65
produzir sementes, com adequada A redução desse custo é impor-
variabilidade genética . Para au - tante, mas é também fundamental
mentar a disponibilidade de semen- saber produzir mudas de outras es -
tes, o estabelecimento de reservas pécies. A germinação, repicagem ou
genéticas "ex situ" pode ser uma semeadura direta, embalagem,
alternativa, pois nessa condição é substrato e luminosidade são parti-
possível incrementar a sua produ - cularidades a serem elucidadas.
ção e, inclusive, reduzir custos. Juntando-se a técnica ao baixo cus-
Além disso, essas reservas podem to de produção, certamente ter-se-
promover, de forma indireta, o res - á a popularização desejada . Atual -
gate da biodiversidade, pois elas de - mente, por considerar que o agricul-
vem ser formadas com materiais de tor poderá ser o maior agente de re-
diferentes progênies /procedências. cuperação, trabalha-se com o obje-
Para cada espécie, é fundamental tivo de desenvolver um tubete bio-
conhecer os procedimentos de co - degradável. Isso possibilitaria redu -
leta e beneficiamento de sementes, zir os custos de produção, transpor-
de modo a tê -las nas melhores con- te e mesmo de plantio das mudas,
dições possíveis . Na Reserva Natu - sem a necessidade e a preocupação
ral da Vale do Rio Doce (RNVRD), de o agricultor devolver a embala-
em Linhares (ES), estudos já pro - gem.
duziram protocolos para mais de
Barbosa & Martins (2003) re -
500 espécies arbóreas da Mata
comendaram 589 espécies para uso
Atlântica.
nas diversas regiões e ecossistemas
3.1.3 Produção de mudas do Estado de São Paulo, assim como
informam sobre os viveiros onde são
Existe a alegação de que a ine - produzidas. O viveiro da RNVRD tam-
xistência ou escassez de mudas tem bém produz uma diversidade seme -
dificultado a implantação de proje - lhante de espécies da Mata Atlânti-
tos de restauração ambiental. Isso ca, disponível para qualquer produ-
é verdade, pois o atual custo de pro- tor. Portanto, não será a baixa di-
dução é elevado, inibindo determi- versidade o impedimento para pro-
nadas iniciativas. Entretanto, a sil- jetos de restauração.
vicultura brasileira, alicerçada ex-
3.2 Procedimentos específicos
clusivamente nas monoculturas de
Pinus e Eucalyptus, conseguiu des - Para diferentes situações en-
tacar-se nesse segmento, produzin- contradas há procedimentos especí-
do mudas com custos que chegam ficos que devem ser levados em con-
a ser inferiores a US$ 30.00 o mi- sideração na elaboração de projetos
lheiro. Dessa forma, é indispensá - ou mesmo na adoção de práticas na
vel reduzir também o custo de pro- restauração ambiental. Isso certa-
dução de outras espécies e, assim, mente contribuirá para maior efici-
popularizar a prática da restaura - ência do processo e a diminuição dos
ção. custos operacionais.

66
3.2.1 Florestas secundárias pendentemente da opção adotada, é
fundamental o controle de plantas
Normalmente a condição físico - invasoras e das locais que estejam
química do solo não é um problema fora dos padrões de densidade e dis-
para a restauração das florestas se- tribuição.
cundárias. A partir da cobertura flo -
restal remanescente é possível, de No diagnóstico, um dos aspec-
imediato, fazer -se a restauração. As tos importantes é detectar a presen-
florestas secundárias são geralmen- ça de plantas invasoras (principal-
te áreas fragmentadas, podendo ser mente as gramíneas já citadas), que
ou não necessário o enriquecimen- devem ser eliminadas com roçada
to com mudas ou mesmo por meio de manual, arranquio ou aplicação de
sementes nas diferentes formas de herbicida, dependendo das restrições
se fazer a sua restauração. legais e da situação encontrada,
como ilustra a Figura 1.
Existe a alternativa de induzir
a regeneração natural ou de aplicar Outra situação comum em flo -
um sistema misto, isto é, simulta- restas secundárias é o desequilíbrio
neamente combinar o enriquecimen- populacional de espécies. Os princi-
to com a indução da regeneração pais grupos de plantas que costumam
natural. Uma análise das estruturas explodir demograficamente são os
vertical e horizontal da vegetação bambus dos gêneros Chusquea, Me-
permite definir a técnica mais ade - rostachys, Guadua) e bambusóides do
quada, do ponto de vista ecossistê - gênero Olyra (Tabarelli & Mantovani,
mico e de custo operacional. Inde - 1999b), assim como as lianas ou ci-

Figura 1. Aplicação da roçada manual seletiva do capim colonião,


na borda de um fragmento na Mata Atlântica de Tabuleiro (ES), onde
ocorreu um incêndio florestal.

67
pós (Putz, 1984). Vários fatores po- 3.2.2 Área em macega ou pastagens
dem levar a essa situação, mas os degradadas
principais são a ocorrência de in -
cêndios, a exploração seletiva de ma- As áreas em macega ou pasta-
deira e os efeitos de borda. Todos tra- gens degradadas são geralmente ocu-
zem como conseqüência imediata um padas por gramíneas invasoras ou
aumento na intensidade de luz sobre cultivadas e nelas, maioria das ve -
o chão da floresta, propiciando condi- zes, existem problemas de natureza
ções ideais à intensa colonização dos edáfica. Deve ser feita uma roçada
grupos mencionados. Por isso, elas manual seletiva, mantendo-se qual-
devem ser manejadas, tanto nas bor- quer elemento arbóreo, ou mesmo
das como no interior dos fragmentos. arbustivo, presente. Quinze dias após
essa prática é feito o controle das for -
As lianas compreendem um ele- migas cortadeiras. Em seguida, e
vado número de espécies e o aumento quando possível, faz -se o controle
de suas populações em florestas se- químico das gramíneas. Na Amazô -
cundárias contribui para o acelera- nia, milhares de hectares de pasta-
mento da decrepitude dessas forma - gens já atingiram alto nível de de -
ções. Portanto, deve ser feito um le- gradação, e no Domínio da Mata
vantamento para detectar as espéci- Atlântica mais de 50% das áreas fo -
es em desequilíbrio e promover o seu ram transformadas em pastagens.
controle.
Dependendo da situação e das
Quando se optar pelo enrique - espécies, alguns nutrientes podem
cimento o controle de cipós deve ser ser mais essenciais que outros para
feito por um simples corte com facão o desenvolvimento das mudas. Mais
na sua base, no período chuvoso, e comumente, os elementos limitantes
pelo menos um ano antes do enri- são o nitrogênio e o fósforo (Tilman,
quecimento. Não é recomendado 1982; Vitousek, 1982; Tilman et al.,
puxá-los, deve-se deixar que sequem 1994). A limitação de nitrogênio é
e caiam naturalmente. Alguns, even- comum porque o material de origem,
tualmente, deixarão de ser cortados no qual o solo se forma, quase sem-
e outros brotarão, sendo recomendá- pre não contém nitrogênio. Quanto
vel fazer um repasse nessa operação ao fósforo, os solos tropicais amazô-
três meses após o primeiro corte. nicos e da região costeira são muito
pobres ou muito lixiviados (Tilman &
Antes do enriquecimento, os ci- Lehman, 2001). Nessa situação, deve-
pós caídos deverão ser picados e es- se optar, inicialmente, pela utiliza-
palhados adequadamente na área. A ção de plantas recuperadoras do solo,
implantação de aceiros, o uso de cer- como as leguminosas herbáceas, ar-
cas vivas e de sistemas agroflores - bustivas ou arbóreas. Elas têm alta
tais são boas estratégias para as con- taxa de deposição de matéria seca e
dições das bordas, mas usando es - fixam nitrogênio atmosférico. Adici-
pécies de baixa agressividade sobre onalmente, faz -se uma adubação fos -
a regeneração natural. fatada, normalmente à razão de 500

68
kg de superfosfato simples por hec - espécies de plantas terrestres mais
tare. A escolha das espécies arbus - invasoras do mundo . Atualmente,
tivas e arbóreas de leguminosas, de- essa espécie não é mais recomenda-
pendendo das condições edafoclimá- da para trabalhos de restauração,
ticas, deve recair nas de ciclo curto. existindo espécies substitutas própri-
Por exemplo, as do gênero Cajanus e as dos ecossistemas e mais fáceis de
Sesbania, após cumprir o seu papel, controlar.
dão lugar naturalmente às espécies
do ecossistema em restauração. Espécies de ocorrência natural
em algumas regiões do Brasil como
Com essas condições imple - Schinus terebinthijolius (Aroeira da
mentadas a área já estaria apta à praia) e Psidium cattleianum (Goiaba),
sucessão natural. As etapas posteri- também, possuem alto potencial de
ores dependerão da vizinhança, ou invasão em regiões fora do seu habi-
seja, havendo proximidade de frag - tat. Mesmo na própria região de ori-
mentos florestais é possível contar gem, existem espécies que aumen-
com o banco de sementes. É claro tam, demograficamente, sua popula-
que tanto o enriquecimento quanto o ção e retardam o processo sucessio-
sistema misto podem ser implemen- nal. Duas espécies de samambaias
tados desde que o custo da restau - pantropicais, comuns na Mata Atlân-
ração não seja impeditivo e não haja tica, podem ser citadas como exem-
exigência quanto à velocidade do pro- plo: Pteridium aquilinum (Whitmore,
cesso. Nessas circunstâncias, a den- 1991; Fox et al., 1997; Tabarelli &
sidade de plantio pode ser de 625 a Mantovani, 1999a) e Acrostichum au-
1. llü mudas/ha com, pelo menos , 30 reum (Srivastava et al., 1987; Soares,
espécies/ha e incluindo-se, obriga- 1999), sendo esta última particular
to-riamente, as pioneiras longevas, dos manguezais.
secundárias e climácicas .
3.2.3 Áreas de mineração
Em muitas situações, o nível de
degradação pode ser extremamente Nas áreas de mineração tam -
alto para se iniciar, imediatamente, bém são diversas as condições e ní-
a restauração. Assim, o uso de espé- veis de degradação. Não obstante, a
cies que não sejam do ecossistema restauração é factível num maior
pode até ser admitido, desde que se período de tempo. Um princípio bási-
faça um controle para evitar a inva- co é buscar espécies adaptadas às
são biótica. Algumas espécies, quan- novas condições, o que afeta direta-
do plantadas fora de sua área de ori- mente a composição dos custos. A
gem, podem apresentar alto potenci- diferença em relação aos outros ti-
al de colonização, transformando-se pos de áreas degradadas é a neces -
em inconvenientes para a restaura- sidade de obras de regularização to-
ção. Por exemplo, a leguminosa me- pográfica e de drenagem que aumen-
xicana Leucaena leucocephala, apesar tam consideravelmente o custo da
do rápido crescimento e alta produ- restauração. Na fase de recuperação
ção de matéria seca, é uma das 32 edáfica deve ser descartada a hidros-

69
semeadura feita exclusivamente com 3.2.4 Reversão de florestas mono-
gramíneas ou outras espécies her- dominantes
báceas. Estas, além de menos efeti-
vas na diminuição do impacto da chu- Um exemplo comum de degra-
va no solo, quase sempre incendei- dação pode ocorrer quando existe
am-se na época seca. monodominância. Há situações na-
turais de monodominância na região
No início, de maneira engano - tropical que não devem ser confun-
sa, o verde da vegetação resultante didos com o que ocorre nos mangue-
da hidrossemeadura encanta. Por ser zais e caxetais, onde um fator natu-
fácil de implementar, tem sido mui- ral seletivo limita a diversidade.
to utilizada como procedimento de (Prance & Schaller, 1982; Nascimen-
revegetação, mostrando ao longo do to & José, 1986; Nasc.i mento & Cu-
tempo a sua inadequação. Entretan- nha, 1989). Também há casos em que
to, essa forma de plantio pode ser algum fator de perturbação provocou
utilizada, mas trocando o coquetel das o aumento da abundância de uma ou
espécies. A partir daí, usar os proce- poucas espécies, como ·em plantios
dimentos citados anteriormente ca- homogêneos.
pazes de viabilizar e incrementar a
restauração. Duas espécies potenci- Recentemente foi relatado que a
ais para compor um coquetel diversi- palmeira australiana Archontophoenix
ficado, que estão em testes na RN- cunninghamiana invadiu um fragmen-
VRD (Companhia Vale do Rio Doce) to florestal em São Paulo. Distribuía.-
para recobrimento de taludes, estão se preferencialmente em locais mais
ilustradas nas Figuras 2 e 3. sombreados, com elevada densidade

Figuras 2 e 3. Detalhe de Mimosa polycarpa e Piptadenia adiantoides, espécies que estão sendo
testadas para recobrimento de taludes em áreas de mineração.

70
e freqüência, e apresentava taxa de las faixas, quando em ecossistemas
. crescimento de mais de 19% ao ano florestais, não se recomenda a res-
(Dislich et al., 2002). Isso, apesar tauração ecossistêmica pela possibi-
da ocorrência de outras 29 espécies lidade da queda natural dos indiví-
arbustivas e arbôreas exóticas no duos arbóreos no leito das estradas,
fragmento (Rossi, 1994). Os baba - como também pela probabilidade de
çuais (Orbignya martiana e Orbignya choque de veículos com eles. Assim,
oleifera): ao norte de Tocantins, for - numa faixa de pelo menos 1 O m de
mam-se após a eliminação da flores - largura marginal ao lastro viário não
ta e podem se constituir em comple- é recomendável o uso de vegetação
mento de renda para alguns produ- arbórea na restauração, o que não
tores, mas tem altos custos para con- impede a recuperação com espécies
trole nos casos de restauração (Pe - herbáceas e arbustivas. A partir des-
reira & Pereira, 1982; Dambrós & ses 10 m é possível fazer a restaura-
Freire, 1996). ção ecossistêmica e, dependendo do
nível de degradação e característi-
Nesses casos, seria indicado um cas da área, adotar-se alguma das
raleamento da população em níveis técnicas relatadas anteriormente.
adequados em relação às espécies
que ocorrem naturalmente na área, 3.3 Exemplos de casos de restauração
ou a completa eliminação para o caso
de espécies não naturais da área. Pos- Os exemplos dos casos relata-
teriormente deve ser feito o enriqueci- dos evidenciam a praticidade da apli-
mento ou condução da regeneração cação de técnicas de restauração em
natural. Espécies como Bauhinia sp, diferentes situações de degradação
Urera baccifera (Nascimento et al., ambiental e caracterizam os proce -
1999), Myracrodruon urundeuva (Ro- dimentos adotados, além de apresen-
lim & Jesus,· 2002), Vanilosmopsis tar os resultados obtidos.
erithropapa (Pedralli et al., 1996).
também, podem tornar-se excessiva- 3.3.1 Restauração em floresta se-
mente dominantes em algumas re - cundária
giões.
Um exemplo de restauração,
3.2.5 Faixa de domínio de sistemas aplicado em florestas secundárias
viários na mata do Convento da Penha, em
Vila Velha (ES), foi relatado por Je -
A maioria das faixas de domí- sus (2002). Aos 13 anos da aplica-
nio dos diversos sistemas viários bra- ção dos tratamentos silviculturais,
. sileiros encontra-se em degradação, notou-se que eles auxiliaram os pro-
sendo freqüentes os acidentes gra- cessos dinâmicos da floresta, propor-
ves como aqueles provocados pela cionando principalmente um aumen-
queda de barreiras. Com a constru- to na regeneração· natural e no re -
ção das rodovias muda-se o uso do crutamento de indivíduos (Tabela 1
solo. Portanto, em boa parte daque - e Figura 4).

71
Tabela 1 - Densidade e área basal na restauração de um fragmento florestal,
em Vila Velha (ES), para plantas com DAP (diâmetro à altura de 1,30 m do
solo) maior ou igual a 5 cm, sem e com enriquecimento.

Períodos Densidade (n / ha) 1 Área Basal (m 2 / ha)


Antes das interferências 585,0 12,22
Após 13 anos s/ enriq. 990,0 21,19
Após 13 anos c/ enriq. 1.742,5 29,46
1
Número de árvores

1100

100n.
~

~
..e
~
\l;j
~
o
;... NIH
-~
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"O 300
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~ 1990 ■ 2003
5
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i 200 ;
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I ~
100 ;

íl
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o
~
~
~ ~ ~ ~-- .... - ~
-
7,5 12,5 17,5 22,5 27,5 32,5 37,5 42,5 47,5 52,5 57,5 62,5 67,5 72,5 77,5 82,5
Centro de classe de DAP

Figura 4. Distribuição dos diâmetros das árvores na Mata do Convento da Penha, Vila Velha
(ES), antes (1990) e 13 anos após a execução do Projeto de Restauração.

72
As espec1es que se mostraram na densidade de plântulas (Tabela 2).
mais promissoras para enriqueci - O tempo de observação ainda é con-
mento foram Spondias lutea , Johanne- siderado curto para evidenciar alte -
sia princeps , Cordia trichotoma, Schizo - rações na estrutura de classes de
lobium parahyba, Spondias macrocar- tamanho maiores. Os aumentos ob-
pa, Senna mulqjuga, Albizia polycepha- servados não são semelhantes aos ob-
la, Spondias venulosa e Gallesia inte- tidos com o enriquecimento, mas os
grifolia. O recrutamento de indivídu- custos foram menores.
os fica evidenciado na distribuição
diamétrica apresentá.da na Figura 4.
3.3.2 Restauração em macega ou
Ela mostra que os resultados são pro-
pastagens degradadas
missores e indica que, dependendo
do nível de degradação, há a possibi- Um estudo sobre a restauração
lidade de se dispensar o enriqueci- em macega ou pastagem degradada
mento e conseguir a recuperação da foi implantado numa propriedade
diversidade no fragmento, apenas agrícola localizada no Município de
com determinados tratamentos sil - Jagu,aré (ES), onde a atividade bási-
viculturais e com custos menores. ca é a cafeicultura irrigada. Consi-
derando as condições da área, a re-
Objetivando a restauração ecos- vegetação foi baseada num consór-
sis têmica, um experimento foi im - cio de leguminosas com espécies do
plantado num fragmento de 26 hec- ecossistema regional, numa densi-
tares que havia sido submetido a cor- dade de 2.000 mudas por hectare,
te seletivo na década de 60, na Re - sendo 40% de espécies leguminosas.
serva Natural da Vale do Rio Doce Não houve calagem e a adubação foi
(Jesus & Rolim, 2002b). Nesse expe- de 200 g de superfosfato simples por
rimento, instalado em 1995, não foi cova. Após ter sido instruído sobre os
aplicado o enriquecimento florestal, procedimentos, o proprietário condu-
mas apenas o corte dos cipós. Os re- ziu todas as etapas projetadas nessa
sultados até 2003 mostram nítido restauração. As Figuras 5 e 6 ilus -
acréscimo na riqueza de espécies e tram este caso.

Tabela 2. Variação de parâmetros indicativos de restauração em fragmento


florestal, em 8 anos, para plantas com altura inferior a 30 cm.

Parâmetro 1995 1997 1999 2001 2003

Número de Espécies 50 42 96 76 100

Índice de Shannon H' 3,2 2 ,6 3,7 3,7 4,0

Densidade (n/ha) 5.542 7.292 22.292 21.125 21.833

n = n. º de plantas

73
Em outro estudo de restauração, fei - to indicado para se efetivar outros tra- .
to em Aimorés (MG), na Fazenda Bul- tamentos . silviculturais e o enrique-
cão, procedeu-se ao plantio de legu- cimento com espécies do ecossiste -
minosas florestais numa densidade ma regional. (Figuras 7 e 8)
de 2.000 mudas/ha, após uma cala-
gem com calcáreo dolomítico (2 ton/ 3.3.3 Reversão de florestas mono-
ha) e uma adubação de 200 g/ cova dominantes
de superfosfato simples (Jesus & Ro-
lim, 2002b). Inicialmente, as legumi- Rolim & Jesus (2002) relatam
nosas apresentavam -se amareleci - trabalho de restauração de uma flo -
das, mas com o passar do tempo, e resta monodominante de Aroeira do
certamente, pela fixação do nitrogê - sertão (Myracroduon urundeuva Fr.
nio atmosférico, o desempenho delas All.), com 94,5% de valor de cobertu-
ª
possibilitou colonização da área. Atu- ra. Nela, apenas uma outra espécie,
almente, ela está sendo monitorada Peltophorium dubium (Spreng.) Taub,
com o objetivo de identificar o momen- ocorreu associada com 5,5% do valor

Figuras 5 e 6. Pastagem degradada, ciliar a um curso d'água e na encosta de um morrote na


Floresta Atlântica do norte do Estado do Espírito Santo; vista da mesma área três anos após o
início da restauração. A seta indica uma árvore como o referencial para os dois momentos da
área (N .E .). ·

Figuras 7 e 8. Área com pastagem degradada antes do inicio dos trabalhos de restauração e
dois anos após a implantação da recuperação inicial com leguminosas arbóreas.

74
de cobertura. As técnicas emprega- Brachiaria decumbens e Mellinis minu-
das nessa recuperação foram: o con- tiflora. Para essa restauração os au-
trole das plantas invasoras e das for- tores decidiram não remover as es -
migas cortadeiras; .um desbaste se- pécies plantadas por elas estarem,
letivo nos indivíduos de aroeira (pro- de alguma forma, promovendo o con-
curando . deixar um espaçamento ini- trole da erosão nos taludes. Projeta-
cial próximo de 5 x 5 m entre indiví- ram uma roçada manual seletiva, a
duos); uma desbrota nas plantas re- cada dois meses, visando controlar o
manescentes; desraina nos fustes crescimento das gramíneas, sem ex-
deixados; enriquecimento com espé - por o solo à erosão. Planejaram tam-
cies pioneiras, secundárias e climá- . bém desramas por três anos conse-
cicas do ecossistema regional , numa cutivos, até dois metros de altura em
densidade de 625 mudas / ha, usan- todos os indivíduos de Pinus que ti-
do-se pelo menos .30 espécies / ha e nham mais de três metros de altura,
adubação de 200 g de superfosfato objetivando aumentar a intensidade de
simples por cova. luz e com isso favorecer a germinação
de maior riúmero de espécies desejá-
Alguns autores relatam que flo - veis. A partir do quarto ou quinto ano,
restas de Pinus sp. podem dificultar dependendo da evolução do trabalho
o estabelecimento da regeneração de condução, sugeriram o anelamen-
natural (Britez & Silva, 1992 e Pog- to das árvores de Pinus, sob as quais a
giani & Simões, 1993). Em Timbope- regeneração estivesse ocorrendo de
ba (MG), Jesus & Rolim (2002a) tam- forma satisfatória. Dada a proximida-
bém diagnosticaram situação seme - de de um fragmento florestal, optaram,
· 1hante. Nesse local a recuperação de ainda, pela condução da regeneração
uma área estéril de mina havia sido re- natural sem enriquecimento. As Fi-
alizada com o plantio de Pinus caribaea, guras 9 e 10 ilustram este caso.

Figuras 9 e 10. A primeira figura apresenta aspecto da área de Timbopeba (MG) quando da
primeira aplicação dos tratamentos silviculturais. A outra mostra vista do local 18 meses após
os tratamentos, podendo-se já constatar uma maior ocorrência da regeneração natural.

75
3.4 Tendências na metodologia de estruturais, Parrotta & Knowles
recuperação de áreas degradadas (1999) demonstram que não existe di-
ferença significativa entre a semea-
As principais tendências atuais dura direta e o plantio consorciado
em recuperação de áreas degrada- de mudas de diferentes espécies na
das são dirigidas para a seleção de Amazônia. Em Manaus, Camargo et
espécies, modelos de plantio em con- al. (2002) testaram a semeadura de
sórcio e pesquisas para a redução de 11 espécies arbóreas amazônicas, em
custos. Os modelos atuais são fun - quatro sítios distintos: floresta pri-
damentados principalmente em con- mária, floresta secundária, pasto e
sórcio de espécies (Nogueira, 1977; solo nu. As melhores germinações em
Macedo, 1993; Jesus, 1994; Rodri- solo nu foram de: Cariniana micrantha
gues & Gandolfi, 1998; Kageyama & (70%), Parkia pendula (65%), Dinizia
Gandara, 2000; Barbosa, 2000; Joly excelsa (59%). Buchenavia grandis
et al., 20001 ► Esses modelos continu- (58%), Simarouba amara (63%) e
am promissores, constituindo a base Jacaranda copaia (20%). As maiores
da recuperação de áreas degradadas porcentagens de germinação foram
na região tropical. Outro modelo que observadas em sítios mais alterados
tem sido proposto é o de "ilhas de di- (pasto e solo nu, com 23 e 33% de
versidade" (Guevara et al., 1986; Kolb, germinação, respectivamente), prova-
1993), que é interessante do ponto de velmente por causa da menor com-
vista de redução de custos, mas com petição, predação e herbivoria.
evolução sucessional lenta, pois ini-
cia-se pela formação de ilhas dentro Na Mata Atlântica, a técnica de
das áreas degradadas que são coloni- semeadura direta, via aérea, foi uti-
zadas paulatinamente. lizada na recuperação de trechos da
Serra do Mar, conforme relata o ca-
Uma técnica promissora, mas pítulo 7 deste livro. Um caso de mata
pouco utilizada nos trópicos, é a da ciliar é apresentado por Barbosa et
semeadura direta. Vários autores al. ( 1992). Para superar a competi-
têm recomendado sua utilização, ção inicial e a predação pode ser ne-
dado o baixo custo e minimização dos cessária uma quantidade de 200.000
problemas de aclimatação das espé- sementes. / ha, com viabilidade su-
cies (FAO, 1971; Barbosa et al., 1992; perior a 50%. Experimentos com se-
Ng, 1996; Parrotta & Knowles, 1999). meadura direta foram recentemen-
A principal diferença entre a recu- te instalados em área de pesquisa
peração de áreas degradadas por se- com pastagem, na RNVRD. Neles uti-
mentes e com mudas é a baixa so- lizaram-se 30 espécies arbóreas da
brevivência na semeadura direta que, Mata Atlântica submetidas a trata-
segundo Camargo et al. (2002) pode mentos com e sem herbicida, com e
ser superada com uma quantidade sem queima do pasto, com e sem ca-
maior de sementes ou de sementes pina, além da testemunha, visando
mais vigorosas. determinar a sua eficiência. Mas os
resultados ainda são indefinidos.
Comparando vários parâmetros

76
4. Considerações finais ca e fitossociológica de três áreas de
caatinga. Revista Brasileira de Bio-
Não se pretendeu apresentar logia, Rio de Janeiro, v. 55, n. 4, p.
todos os procedimentos para a res - 595-607, 1995.
tauração em diferentes situações de
áreas degradadas. Procurou -se ape- ARAÚJO, F. S.; SAMPAIO, E. V. S.
nas ilustrar tipos e situações de áre- B.; FIGUEIREDO, M. A.; RODAL, M.
as degradadas que podem ocorrer, J. N.; FERNANDES, A. G. Composi-
para que pessoas interessadas no ção florística da vegetação de carras-
assunto possam, com a ajuda do bom co, Novo Oriente - CE. Revista Bra-
senso, planejar e executar projetos sileira de Botânica, São Paulo, v. 21,
de restauração. Assim, foram apre - n. 2, p. 15-26, 1998a.
sentadas diferentes técnicas mos -
trando que a diversidade de espéci- ARAÚJO, F. S.; SAMPAIO, E. V. S.
es já não é problema crucial, em al- B.; RODAL, M. J. N.; FIGUEIREDO,
gumas regiões. M. A. Organização comunitária do
componente lenhoso de três áreas de
Provavelmente, o custo de im - carrasco em Nova Oriente - CE. Re-
plantação será o principal entrave a vista Brasileira de Biologia, Rio de
ser resolvido nos próximos anos para Janeiro, v. 58, n. 1, p. 85-95, 1998b.
se popularizar a prática da restaura-
ção e torná-la acessível ao pequeno BAIDER, C.; TABARELLI, M.; MANTO-
produtor. No atual contexto, imagi- VANI, W. O banco de sementes de
nação, disposição e ação são as pala - um trecho de floresta atlântica mon-
vras de ordem. A restauração, antes tana (São Paulo, Brasil). Revista Bra-
de ser desafio técnico -científico, é sileira de Biologia, Rio de Janeiro,
uma questão de adversidade cultu - V. 59, n. 2, p. 319-328, 1999.
ral, pois em determinadas condições
apenas o fazer constitui o impedimen- BARBOSA, J. M.; BARBOSA, L. M.;
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86
Capítulo 5

A RESTAURAÇÃO DA FLORESTA ATLÂNTICA NO


LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ:
OS TRABALHOS DA SPVS

André RochaFerretti 1
Ricardo Miranda de Britez 2

Introdução

A Sociedade de Pesquisa em Juntamente com outras ativida-


Vida Selvagem e Educação Ambien- des no campo da conservação ambi-
tal (SPVS) é uma organização não - ental, a SPVS desenvolve na APA de
governamental brasileira, sediada Guaraqueçaba três projetos de com-
em Curitiba, capital do Estado do Pa- bate ao aquecimento global. Essas ini-
raná. Fundada em 1984, tem como ciativas visam contribuir para o cum-
desafio garantir a proteção de áreas primento dos objetivos de combate ao
nativas, reverter processos de degra- aquecimento global da Convenção -
dação ambiental e buscar formas de Quadro das Nações Unidas sobre Mu-
desenvolvimento econômico compatí- dança do Clima e, também, estão in-
veis com a conservação da natureza. seridas no contexto do Mecanismo de
Tem suas ações focalizadas na pro- Desenvolvimento Limpo (MDL) - ins-
teção da Floresta Atlântica, na Área trumento previsto no Protocolo de Kyoto.
de Proteção Ambiental (APA) de Gua-
raqueçaba , no litoral do Paraná, sul Previstos para desenvolvimento
do Brasil. ao longo de 40 anos, os projetos de

1
Engenheiro Florestal. Mestre, Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental
- SPVS , Rua Gutemberg 296 Batel, 80420-030 , Curitiba, PR. itaqui@spvs.org.br
2
Biólogo, Doutor, Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental - SPVS, Rua
Gutemberg 296 - Batel, 80420-030, Curitiba, PR. cachoeira@spvs.org.br

87
ação contra o aquecimento global dades de restauração foram replane-
executados pela SPVS têm como ob- jadas e intensificadas.
jetivo retirar carbono da atmosfera e
armazená -lo em áreas de Floresta O programa de restauração uti-
Atlântica a serem restauradas. Vi - liza o conhecimento das caracterís -
sam, ainda, evitar a emissão de car- ticas ambientais, da área a ser tra-
bono provenientes de áreas florestais balhada, para a definição das espé -
protegidas com a criação de Reser- cies e das técnicas de plantio . Ele
vas Particulares do Patrimônio Na- tem como base os processos naturais
tural (RPPNs), além de proteger a bi- de sucessão de cada ambiente, que
odiversidade e serem modelos para são monitorados em relação ao in-
alternativas de geração de renda para cremento em biomassa e biodiversi-
as comunidades que vivem na sua dade.
área de influência.

A SPVS tem como principal par- 1. As características ambientais


ceira umas das mais importantes nas áreas da SPVS
entidades conservacionistas do mun-
do, a "The Nature Conservancy", que A SPVS possui três reservas flo-
presta assessoria técnica no plane - restais no litoral do Paraná: Reserva
jamento e execução de ações dos pro- Natural Morro da Mina; Reserva Na-
jetos. tural do Cachoeira e Reserva Natu -
ral Serra do Itaqui, localizadas nos
As atividades de restauração municípios de Antonina e Guaraque-
ambiental iniciaram-se em 1996 com çaba, no Estado do Paraná. Elas
um projeto de pequena escala, de abrangem uma área total de cerca
caráter experimental e demonstra - de 18 mil hectares de Floresta Atlân-
tivo, financiado pelo PD / A - Kfw. Ele tica (Figura 1 ). Essas reservas estão
propunha fazer experimentos com situadas numa região que compre -
restauração da mata ciliar à margem
do rio Cachoeira. Com recursos des-
se projeto foi construído um viveiro
para produção de mudas em sacos
plásticos. Em três anos foram produ-
zidas 15 mil mudas de cerca de 70
espécies nativas. Os experimentos
foram bem sucedidos e constituíram
a base para a definição das espécies
e o desenvolvimento das técnicas de
coleta de sementes e produção de
mudas no viveiro. Esse projeto con-
tou com a parceria da Embrapa Flo -
restas, IAPAR e AOPA. Com o início
Figura 1. Imagem de satélite do litoral do
dos projetos de Ação Contra o Aque- Paraná, localizando a APA de Guaraqueçaba e
cimento Global, pela SPVS, as ativi- as três reservas da SPVS na região.

88
ende porção da encosta da Serra do planície litorânea ocorrem as seguin-
Mar e estende -se por planícies de tes tipologias de vegetação: Forma-
inundação de rios, como o Cachoei- ção Pioneira de Influência Flúvio -
ra, Borrachudo e o Tagaçaba, che - Marinha (manguezais), com comu-
gando até a baía de Paranaguá. Ba- nidades herbáceas e arbóreas; For-
sicamente, as diferenças entre as mações Pioneiras de Influência Flu-
formações da vegetação são ocasio - vial e Marinha; Floresta Ombrófila
nadas por fatores físicos como dife - Densa Aluvial; Floresta Ombrófila
rentes feições geológicas, pedológi- Densa das Terras Baixas e as for -
cas e relevo, que interagem forman - mações secundárias em diferentes
do diversos compartimentos geomor- estádios sucessionais (inicial, mé-
fológicos. dio e avançado). No ambiente de en-
costa, dentro do sistema primário,
Para melhor compreensão do encontra-se a Floresta Ombrófila
ambiente e para o planejamento das Densa Submontana que ocupa as
atividades de manejo e restauração encostas a partir da planície litorâ-
florestal nas reservas, procedeu -se nea numa faixa de altitude de 20 a
a compartimentação das áreas em 600 metros. No sistema secundá -
dois grandes ambientes: (1) Ambien- rio, também, ocorrem as formações
te de Encosta, onde se encontra a secundárias em diferentes estádios
Floresta Ombrófila Densa Submon- sucessionais (inicial, médio e avan-
tana, assim como a vegetação secun- çado). com composição florística e
dária em diferentes estádios suces - estrutura diferente das que ocorrem
sionais, em Cambissolos, Argissolos na planície.
e os Neossolos Litólicos; (II) Ambien-
te de Planície, onde se desenvolvem No levantamento da flora das
as Formações Pioneiras de Influên- reservas, que está em andamento,
cia Fluviomarinha (Neossolos Flúvi - foram registrados até o momento 828
co distrófico e sódico), Formações Pi- espécies botânicas distribuídas em
oneiras de Influência Fluvial (Neos - 159 famílias. Para cada uma dessas
solos Flúvico distrófico e sódico, espécies registram-se as formações
Gleissolo Háplico e Melânico e Cam- vegetais onde elas ocorrem. Todo o
bissolo Gleico). Floresta Ombrófila material botânico coletado é encami-
Densa Aluvial (Neossolo Fluvico dis - nhado para registro no herbário do
trófico e sódico), Floresta Ombrófila Departamento de Botânica da Uni-
Densa das Terras Baixas (Cambisso- versidade Federal do Paraná.
lo Gleico, Gleissolo Haplico e Melá-
nico). além das formações secundá-
2. Programa de Restauração
rias associadas.

A vegetação nas áreas onde se Os trabalhos de restauração


realizam os trabalhos da SPVS é des- compreendem mais de 2 mil hecta-
crita a seguir de acordo com o siste- res de áreas degradadas (pastagens
ma de classificação da vegetação bra- de búfalos asiáticos e formações ve-
sileira adotado pelo IBGE (1992). Na getais em estádio inicial de suces-

89
são) situadas nas reservas da SPVS.
Para a execução do programa foram
definidas três estratégias básicas:
plantio de mudas em áreas abertas,
plantio de enriquecimento em capo -
eiras e acompanhamento da regene -
ração natural assistida em áreas
plantadas e não plantadas. Nas áre-
as do empreendimento são avaliados
o estoque e o incremento da biomas-
sa, assim como a diversidade de es-
pécies arbóreas da regeneração na-
tural (áreas com plantios de mudas
e assistidas).

2.1 Mapeamento das áreas a serem


plantadas.

A base cartográfica das áreas a


serem plantadas utiliza ortofotos na
escala 1 :5.000 e mapa planialtimé-
trico de vegetação e de solos na es-
cala 1 :25.000. A partir dela são se -
paradas todas as áreas de pastagem,
delimitando -se as áreas onde serão
empregados os métodos de restau -
ração adotados. Para tanto, conside-
ram-se aspectos como acesso, decli-
vidade do terreno, tipo de solo, pre-
sença de cursos d 'água, grau de umi-
dade t:1.o solo (período que permanece
encharcado) e a regeneração natu -
ral existente . No campo, delimitam-
se diretamente na ortofoto as áreas
onde será feito o plantio mecanizado
(Figura 2A), plantio manual (Figura
2B), ou plantio direto de estacas no
campo (Figura 2C), e áreas destina-
das ao estabelecimento da r egene -
ração natural (Figura 2D).
Figura 2. Técnicas de plantio
utilizadas nos empreendiment os
da SPVS.

90
As áreas a serem mecanizadas mações. Cada informação pode ser atu-
são definidas e delimitadas nas orto- alizada diariamente no sistema, geran-
fotos de acordo com a possibilidade de do imediatamente novos relatórios.
acesso do trator à área a ser plantada
(presença de estradas e pontes) e à 2.2 Seleção de espécies para pro-
dificuldade operacional de mecaniza- dução de mudas
ção em locais muito íngremes. Consi-
dera-se, ainda, a susceptibilidade à Para a definiçao das espécies
erosão, a existência de regeneração considera-se a sua ocorrência natu-
natural (capoeira), o teor de umidade ral segundo o tipo de solo, estádio su-
do solo e a infestação da espécie exó- cessional e densidade (Tabela 1). Essa
tica Brachiaria mutica (brachiária). Essa informação é obtida pela análise dos
gramínea aglomera-se nos implemen- dados coletados em parcelas amostrais
tas acoplados ao trator, impedindo o seu permanentes, estabelecidas original-
bom funcionamento. mente para estudos de incremento de
biomassa. As parcelas são alocadas nos
O plantio manual é feito nas áre- diferentes estádios sucessionais de
as sem possibilidade de mecanização, cada . uma das tipologias vegetais en-
principalmente onde há a infestação contradas nas áreas do empreendi-
com brachiária e nas encostas com mento. Recomendações de espécies flo-
maior declividade. Os solos que per- restais nativas para a recomposição de
manecem úmidos ou encharcados na florestas ciliares, obtidas em Curcio et
maior parte do ano são delimitados al. (2002) são, também, consideradas.
como áreas para plantio direto de es-
tacas. As pastagens abandonadas e A partir desses dados são testa-
onde se estabelece espontaneamente das as espécies promissoras que ocor-
vegetação densa e com porte maior que rem em grande número em formações
2 metros são destinadas à regeneração florestais em estádio sucessional ini-
natural. Tal situação é relativa a solos cial e médio. Também, é levado em
que possuem uma maior resiliência e/ consideração o comportamento silvicul-
ou maior tempo de abandono do uso da tura! das espécies selecionadas, a par-
pastagem. Nas diferentes situações am- tir de experimentos já realizados pela
bientais também são deixadas áreas SPVS desde o ano de 1997, bem como a
testemunhas para efeito de compara- facilidade na produção de mudas em vi-
ção com as áreas plantadas. veiro e seu desenvolvimento no campo.

As delimitações realizadas nas Os valores elevados de densida-


ortofotos são digitalizadas para a cons- de observados na Tabela 1 estão rela-
trução de um sistema de informações cionados diretamente ao estádio su-
geográficas. Esse sistema reúne, em cessional e à estrutura da floresta. Nos
um banco de dados sobre a área tra- estádios iniciais ocorrem poucas es-
balhada, informações registradas nas pécies, com grande número de indiví-
ortofotos e mapas. A ferramenta faci- duos. No estádio sucessional médio já
lita o gerenciamento das atividades, ocorre uma estratificação da floresta
produzindo automaticamente relatórios e as espécies de sub-bosque possuem
integrados pelo cruzamento das infor- alta densidade.

91
Tabela 1. Exemplo de dados coletados em parcelas permanentes, para a
seleção de espécies, referentes a densidade (Arv /ha - número de árvores
por hectare) em diferentes estádios sucessionais e tipos de solo.

Formação Solo Nome científico Arv/ha


-- ---
Estádio Inicial Arbóreo de Cambissolo Nectandra membranácea 397,9
Floresta Ombrófila Densa Platymiscium fioribundum 596,8
Tibouchina pulchra 596,8
Cecropia pachystachya 629,3
Myrsine venosa 828,3
Casearia sylvestris 4973,6
Estádio Inicial Arbóreo de Neossolo Litólico Matayba guianensis 397 ,9
Floresta Ombrófila Densa Psidium cattleianum 397,9
Tibouchina pulchra 414,1
Rollinia sericea 430,4
Casearia sylvestris 994,7
Estádio Médio Arbóreo de Cambissolo Gleico Pera glabrata 1490,0
Floresta Ombrófila Densa Psychotria nuda 1591 ,5
Aluvial Casearia sylvestris 1640,3
Andira anthelmintica 2021,9
Rollinia sericea 2038,0
Attalea dúbia 2387,3
Bathysa australis 3000 ,4
Estádio Médio Arbóreo de Gleissolo Melânico Senna multijuga 198,9
Floresta Ombrófila Densa Schizolobium parahybum 206,9
Aluviâl Cupania oblongifolia 239,4
Inga edulis 263,9
Hyeronima alchorneoides 312,6
Alchornea triplinervia 413,8
Casearia sylvestris 414,1

92
2.3 Produção de mudas no viveiro

A SPVS possui dois viveiros de


produçao de mudas de árvores nati-
vas, com capacidade de produção anu-
al de cerca de 31 O mil mudas (Figu-
ras 3A e 3B). Ambos estão localizados
no município de Antonina - PR. O mais
antigo, com capacidade para 250 mil
mudas/ ano, está instalado na Reser-
va Natural Morro da Mina. O mais re-
cente, com produção anual de 60 mil
mudas, localiza-se na Reserva Natu- Figura 3A. Viveiro da Reserva Natural
ral do Cachoeira. No segundo semes- Morro da Mina.
tre de 1999 a produção de mudas do
viveiro na Reserva Natural Morro da
Mina era muito pequena, quase toda
em sacos plásticos . Para suprir a
maior demanda por mudas optou-se
pela substituição de sacos plásticos
por tubetes. Além de eles serem pe -
quenos, leves e recicláveis, as mu -
das produzidas são fáceis de movi-
mentar no viveiro e no transporte
para as áreas de plantio. No mesmo
local onde se produziam 1O mil mu-
das no sistema convencional com
sacos plásticos, foi possível produzir Figura 3B. Viveiro da Reserva Natural do
Cachoeira.
100 mil mudas em tubetes . O novo
sistema também tornou todas as ati-
vidades de produção de mudas mui-
to mais ágeis. Um funcionário, por
exemplo, pode transportar facilmen-
te uma bandeja de tubetes com 96
mudas.

Atualmente, cerca de 90% da


produção de mudas dos viveiros é fei-
ta em tubetes de polipropileno com 50
cm 3 , do tipo tradicionalmente utiliza-
do para produção de eucalipto. Para
dar suporte aos tubetes são utiliza-
das bandejas plásticas com capacida-
de para 96 mudas (Figura 4). Nesse Figura 4. Bandejas plásticas com
sistema as mudas são levadas para capacidade para 96 tubetes de 50 cm 3 •

93
plantio no campo quando atingem al- semeadura direta nos tubetes é usa-
tura de 20 a 30 cm. Esse tamanho é da para espécies com sementes gran-
obtido em 3 a 4 meses, em média . des e taxa de germinação elevada e
Utiliza -se o substrato florestal que regular como, por exemplo, o guapu-
estiver disponível no mercado para ruvu (Schizolobium parahyba) e aja-
produção de mudas em tubete. Cada cataúva (Citharexylum myrianthum).
saco de 55 litros é suficiente para o
enchimento de aproximadamente O canteiro de semeadura é
1.000 tubetes. apenas uma caixa de alvenaria com
areia de granulometria média onde
Uma pequena parte da produ- são semeadas, principalmente, as
ção do viveiro utiliza tubetes maio- sementes pequenas e com taxa de
res, de 250 cm 3 , dispostos em ban- germinação irregulares. A areia é
dejas metálicas com capacidade para utilizada como substrato por ser um
536 mudas.- Os tubetes grandes são material inerte, livre de contamina-
utilizados para semeadura direta de ção por fungos e sementes de plan-
espécies com sementes de maior ta- tas invasoras. Periodicamente, a
manho como o guapuruvu (Schizolo - areia pode ser aquecida ao fogo para
bium parahyba). Eles, também, per- ser esterilizada. No caso de semen-
mitem a produção de mudas de mai- tes muito pequenas, melhores resul-
or porte final (30 a 50 cm de altura), tados têm sido obtidos utilizando-se
além de possibilitar a manutenção de o mesmo tipo de substrato usado
mudas produzidas por mais tempo no para tubetes no canteiro de semea-
viveiro. dura. Como as sementes pequenas
possuem pouca reserva nutricional,
Também é realizada a produção esse substrato auxilia o desenvolvi-
de mudas em sacos plásticos com as mento das plântulas logo após a ger-
dimensões de 18 x 30 cm, visando minação. As plântulas produzidas
produzir plantas de maior porte, cer- em canteiro são transplantadas para
ca de 60 cm a 1,0 m de altura. Elas tubetes após a emissão do primeiro
são indicadas para plantio em áreas par de folhas definitivas.
infestadas por gramíneas agressivas
como a Brachiaria spp. Na tabela 2 estão listadas as
espécies mais utilizadas nos vivei-
No viveiro, utiliza -se preferen - ros da SPVS, assim como informa-
cialmente a semeadura em cantei- ções sobre manejo das mudas no vi-
ros para a maioria das espécies. A veiro e em campo.

94
Tabela 2. Observações úteis sobre espécies utilizadas no programa de
restauração florestal da SPVS.

NOME CIENTÍFICO NOME REGIONAL OBSERVAÇÕES


Acnistrus arborescens Barrilheira (1) e (2)
Alchornea glandulosa Tapiá-grande (1) e (2)
Alchornea triplinervia Tapiá-miúdo (1)
Andira anthelmintica Jacarandá-lombriga (1), desenvolvimento lento no
viveiro e em campo
Bauhinia forficata Pata-de-vaca (1)
Campomanesia guavirova Guavirova (1)
Cecropia glaziovi Embaúba-vermelha (1), desenvolvimento lento no
viveiro mas rápido em campo
Cecropia pachystachya Embaúba~branca (1), desenvolvimento lento no
viveiro mas rápido em campo
Cedrela fissilis Cedro (1), atacado por brocas quando
plantado em altas densidades
Citharexylum myrianthum Jacataúva (1), (2), semeadura direta no
tubete
Erythrina speciosa Corticeira-do- (1) e (2)
banhado
Euterpe edulis Palmiteiro-jussara (1) e semeadura direta no
campo
Hyeronima alchorneoides Licurana (1), dificuldade na germinação
de sementes
Inga cf laurina Ingá-branco (1), deve ser semeada
imediatamente após a coleta
Inga cf sessilis Ingá-macaco Idem anterior
Inga edulis Ingá-vermelho Idem anterior
Inga marginata Ingá-feijão Idem anterior, floresceu 30
meses após plantio
Jacaranda puberula Caroba (1), desenvolvimento lento em
campo
Jacaratia spinosa Jaracatiá (1)
Macraerium minutifiorum Sapuva (1)
Miconia cabucu Pixiricão (1), não se desenvolve bem no
viveiro
Miconia cinnamomifolia J acatirão-de-copada (1), não se desenvolve bem no
viveiro
Tabela 2. Observações úteis sobre espec1es utilizadas no programa de
restauração florestal da SPVS. (continuação)

NOME CIENTÍFICO NOME REGIONAL OBSERVAÇÕES


Mimosa bimucronata Marica (1) , floresceu 30 meses após
plantio
Myrcia insularis J aguapiroca (2)
Piptadenia gonoacantha Pau-jacaré ( 1)
Psidium cattleianum Araçá-amarelo (1} , floresceu 18 meses após
plantio
Rapanea ferruginea Capororoca ( 1}, dificuldade na germinação
de sementes
Sapium glandulatum Leiteiro (1) e (2) , manuseio de frutos e
estacas pode causar
queimaduras (leite)
Schizolobium parahyba Guapuruvu (1), semeadura direta no tubete
Senna multijuga Aleluia (1), floresceu 30 meses após
plantio
Tabebuia cassinoides Caxeta (1) e (2)
( 1} Produção de mudas por sementes no viveiro.
(2) Plantio direto de estacas no campo.

2.4 Plantio de mudas

As reservas da SPVS estão in- tes e próximas a rios navegáveis.


seridas no maior remanescente de Nesse contexto, a SPVS vem traba-
Floresta Atlântica Costeira do Bra- lhando com dois modelos diferentes
sil. Apesar de ser a área de coloniza- de restauração descritos por Ferret-
ção mais antiga do Paraná, com uma ti (2002): talhão facilitador com nú-
ocupação de mais de 400 anos, é o cleos de diversidade entre ilhas de
local com maior cobertura vegetal pioneiras e regeneração natural.
nativa do Estado. Há poucas áreas
de florestas primárias, sendo que a Protegem-se contra o fogo e o
maior parte encontra-se nas encos - pastoreio os locais pouco degradados,
tas das montanhas. Geralmente, as com áreas até 10 hectares, próximos
planícies são utilizadas para ativida- a fragmentos florestais. Estes irão
des agropecuárias como cultivo de abastecer as referidas áreas com a
banana, arroz, gengibre e hortaliças, chuva de sementes. Assim, essas
bem como para criação de búfalos áreas deverão estar colonizadas por
asiáticos. As áreas degradadas es - espécies pioneiras nativas em cerca
tão concentradas, principalmente, no de 10 anos. Periodicamente, é feito
entorno das poucas estradas existen- um monitoramento da regeneração

96
para avaliar a necessidade de plan- b) plantio direto no campo de esta-
tios de enriquecimento em faixas ou cas, sem roçada ou coroamento,
ilhas de diversidade. nas áreas encharcadas.

As pastagens mais extensas, de- Utilizam -se espaçamentos de


gradadas e distantes de fragmentos 2,0 x 1,5 m; 2,0 x 2,0 m; ou 3,0 x 2,0
florestais em bom estado de conserva- m. Após o plantio, são necessárias
ção, além de protegidas estão sendo roçadas e/ ou coroamento manual no
restauradas pela implantação de ta- entorno das mudas plantadas. A fre -
lhões facilitadores com núcleo de di- qüência dessas operações depende do
versidade entre ilhas de pioneiras. O ritmo de crescimento das mudas e
método consiste no plantio de peque- da vegetação ao seu redor. Abando-
nas ilhas ou blocos de mudas de espé- na-se a manutenção quando as gra-
cies pioneiras nativas, geralmente de míneas e arbustos não mais compe-
1.000 a 5 .000 mudas cada, no entorno tirem com a espécie plantada.
ou proximidade de um ou mais blocos
chamados de núcleo de diversidade. As mudas de grande porte, com cer-
Esse núcleo pode ser um fragmento ca de 1 m de altura, produzidas em
florestal já existente na área a ser sacos grandes, são plantadas, geral-
restaurada ou um bloco central plan- mente, em áreas úmidas, mas não
tado com mudas nativas de espécies alagadas, com alta infestação de
pioneiras, secundárias e clímax, da Brachiaria spp. Os primeiros plantios
região. Os plantios ocupam cerca de foram iniciados em maio de 2002 .
30% da área total. O restante da área Espera-se que o método possibilite
deverá ser restaurado a partir da re- uma maior sobrevivência das mudas .
generação natural, com sementes pro-
duzidas nas ilhas plantadas e disper- Desde meados de 2002 o plan-
sadas por animais e pelo vento. Esse tio em áreas encharcadas e infesta-
método é detalhado por Ferretti (2002). das por Brachiaria spp. não é mais fei -
to com mudas oriundas de semen-
As operações de plantio depen- tes, mas com plantio direto de esta-
dendo do tipo de solo, relevo, aces - cas no campo. Este método é restrito
sos e histórico de degradação, são a poucas espécies que apresentam a
efetuadas manualmente ou com au- particularidade de reproduzir-se ve -
xílio de máquinas e implementas. Em getativamente. São utilizadas esta-
áreas de difícil acesso, encharcadas cas com cerca de um metro de altu-
ou com relevo muito inclinado, onde ra, para superar a densa cobertura
não é possível a utilização do trator, de capim que recobre o solo. O topo
são adotados os seguintes procedimen- deve ser chanfrado para evitar infil-
tos para preparo do solo e plantio: tração de água e apodrecimento. A
estaca deve ser enterrada a uma pro-
a) coroamento manual com enxada, fundidade média de 20 a 30 cm abai-
abertura de covas com cavadeira xo da superfície do solo.
manual e plantio de mudas de
grande porte produzidas em saco Os plantios com estacas estão
plástico ou tubetes; sendo feitos com as seguintes espéci-

97
es adaptadas a áreas inundadas: ca- colo. Entretanto, essa prática pode -
xeta (Tabebuia cassinoides), barrilhei- ria ser aprimorada e testada em ou-
ra (Acnistus arborescens ), corticeira-do- tros empreendimentos de restaura-
banhado (Erythrina speciosa), jaguapi- ção.
roca (Myrcia insularis), tapiá-grande (Al -
chomeaglandulosa) e ipê-da-várzea (Ta- Efetua-se o plantio mecanizado
bebuia umbellata). Os resultados inici- nas áreas maiores que podem ser tra-
ais demonstram que esse método é balhadas com o auxílio de máquinas e
bastante eficaz, mas exige muita aten- implementas agrícolas. São áreas de
ção na seleção das espécies, prepara- pastagem recém liberadas da presen-
ção das estacas e no plantio. A estaca ça de búfalos. Os trabalhos devem ser
deve ser plantada logo após seu corte. iniciados logo que os animais são reti-
rados, quando o capim está baixo, não
Com o intuito de aprimorar o havendo necessidade de roçada ou
combate à brachiária e reduzir os coroamento para iniciar as operações
custos de manutenção em áreas de plantio. Utiliza-se o espaçamento
muito infestadas por essa gramínea, de 2,5 x 1,5 m para permitir o uso do
recentemente iniciou -se um teste trator na roçada entre as linhas. Nes-
fixando -se lona plástica medindo 50 sas áreas utiliza-se um dos três pro-
x 50 cm ao redor das mudas, para cedimentos relacionados a seguir:
inibir o desenvolvimento do capim
(Figura 5 ). O sistema foi abandonado a) subsolagem, coveamento com ca-
por não proporcionar uma redução vadeira manual e plantio manual
significativa no custo de manuten- de mudas de grande porte produ-
ção dos plantios. O capim crescia e zidas em saquinho plástico;
rapidamente recobria a lona, abafan-
do as mudas plantadas. Em algumas b) subsolagem, roçada com enxada
mudas foi detectado o anelamento do rotativa, coveamento manual com
chuço e plantio manual
com as mudas pequenas
produzidas em tubetes;

c) roçada mecanizada,
abertura de covas com
perfurador mecânico de
solo e plantio manual de
mudas produzidas em tu-
bete.

Figura 5. Lona plástica para


controle de brachiária.

98
O rendimento de plantio com As mudas produzidas em tube-
perfurador mecânico de solo (Figura te geralmente são levadas a campo
6) é de aproximadamente 175 mu - sem o recipiente, enroladas em uma
das/homem/dia e, ainda, não se ava- faixa de plástico, formando o que se
liou o custo dessa operação. Duran- chama de "rocambole" de mudas.
te as operações de preparo de solo o Elas podem ficar até uma semana
equipamento gastava 2,5 litros de armazenadas dessa forma, desde que
combustível por dia. Peças como a regadas freqüentemente e conserva-
ponteira da broca e a engrenagem de das à sombra (Figuras 7 e 8).
ligação do motor com a broca estão
sendo substituídas após a prepara-
ção de 2.000 a 3.000 covas, por apre-
sentarem desgaste. Em outubro de
2002, o preço médio da ponteira da
broca era de R$ 28,00, e da engre -
nagem do motor, R$ 8,00.

Figura 7. Preparação do "rocambole" de


mudas.

Figura 6. Perfurador mecânico de solo ·

Figura 8. "Rocambole de mudas" pronto


para ser levado ao campo.

99
2.5 Registro de dados no Sistema A informação para o banco de
de Informações Geográficas - SIG dados é proveniente do preenchimen-
to de ficha de campo, que registra e
Muitas informações são geradas georreferencia todas as atividades re-
no processo de restauração, desde o alizadas . Nessa ficha também cons -
planejamento do plantio, passando tam informações sobre o rendimen-
pela produção de mudas, plantio, tra- to, tanto em termos de mecanização
tos culturais e monitoramento. O SIG como de mão de obra das diferentes
facilita o registro dessas informações atividades realizadas.
e possibilita uma análise sempre
atualizada do programa de restaura- A partir do mapeamento, das es-
ção. timativas de rendimento das ativida-
des, do espaçamento do plantio e da
Este sistema é constantemen- liberação do uso das pastagens pelos
te realimentado por um banco de da- búfalos, é possível definir um crono-
dos que reúne todas as informações grama de plantio. Essas informações
sobre o plantio, tais como tipo de solo, servem para estimar o número ne -
data de plantio, espaçamento, área cessário de mudas das espécies que
plantada e técnica usada, número de devem ser produzidas no viveiro . O
indivíduos plantados por espécie , sistema permite, também , delimitar
mortalidade e tratos culturais como as parcelas para o monitoramento do
roçada, adubação e coroamento. plantio e da regeneração natural. A
regeneração natu -
Tipo de plantio ral é avaliada tan-
,~,,,.,.,,, Regeneração natural
Plantio man ual
to nas áreas não
~ Pla ntio direto com estacas plantadas como
~ Plantio mecanizado - trator
nas plantadas .

A ortofoto é
subdividida em po-
lígonos, conforme a
técnica de plantio
utilizada. Esses po-
lígonos são cruza-
dos com os diferen-
tes tipo de solo,
possibilitando a de-
finição dos ambien-
tes nas áreas a se-
rem plantadas e
deixadas para rege-
neração natural as-
sistida (Figura 9).
Figura 9. Ortofoto mapeada para restauração de áreas sob diferentes
técnicas de plantio (Reserva Natural do Cachoeira, Antonina.PR).

100
Na tabela 3 é possível visuali- plantios, é realizado em parcelas de
zar a área a ser restaurada em cada 1 m x 2 m. Na locação das parcelas
uma das principais classes de solo considera-se o tipo de solo, estádio
da Reserva Natural do Cachoeira, sucessibnal (pasto limpo, pasto sujo
com diferentes técnicas de plantio. e vegetação secundária inicial
pioneira) além de variáveis como
micro -relevo. Serão avaliadas as
2.6 Avaliação do plantio e da rege- mesmas variáveis utilizadas no
neração natural monitoramento das áreas plantadas.

A avaliação do plantio é feita em 3. Conclusões e Recomendações


unidades amostrais que consideram
aspectos verificados no campo, como Para definição das estratégias
solos, técnicas de restauração e re - de restauração florestal é funda -
levo, dentre outros. As parcelas per- mental conhecer profundamente o
manentes medem 30 m x 20 m. O ambiente onde se está trabalhando.
incremento da biomassa é medido Além das áreas degradadas a serem
com o uso de variáveis como diâme- restauradas deve -se percorrer áreas
tro (medido no colo ou à altura do ainda conservadas para se conhecer
peito) e altura de cada espécie plan- a vegetação natural predominante
tada ou que tenha surgido por rege- naquele biorna e região . Quando
neração natural. possível. deve-se utilizar ferramentas
como sistema de informação geo -
O monitoramento das áreas sob gráfica, mapas de solo e vegetação,
regime de regeneração natural levantamentos florísticos e fitos -
assistida, onde não foram realizados sociológicos.

Tabela 3. Classes de solo e áreas das diferentes técnicas de restauração na


Reserva Natural do Cachoeira.
Técnicas de restauração e áreas de plantio em
hectares
Classes de Solo Manual
Regen . Manual Mecanizado
com Total
Natural com Mudas com Mudas
Estaca
CAMBISSOLO HÁPLICO Tb D istr ófico 62, 1 1,0 0,0 9,4 72,5
NEOSSOLO FLÚVICO Tb Distrófico 83, 1 31, 1 8,9 18,3 141,4
GLEISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico 188,6 30,4 32,2 159,4 410,6
CAMBISSOLO HÁPLICO T b Distr ófico
29,7 0,0 1,5 6,7 37,9
gle ico
GLEISSOLO MELÃNICO Distrófico 58 ,5 2,8 4,6 4,8 70,7
CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico
72,7 0,0 0,0 40 , 1 1 12,8
flúvico
ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO e
62,6 11,8 · 0,0 54,2 128,6
AMARELO
Total 557 ,3 77, 1 47,2 292,9 974,5
% 5 7,19 7 ,91 4,84 30,06 100,00

101
A observação criteriosa dos 4. Referências Bibliográficas
processos naturais de sucessão
secundária, o bom conhecimento do CURCIO, G. R.; BRITEZ, R. M.; TIE-
meio físico (solos, hidrografia, relevo POLO , G. ; RACHWAL, M. F. G.; WIS-
e estradas) e do histórico de NIEWSKI, C.; RADOMSKI, M. I.; CA-
degradação da área , assim como a T APAN, M. I. S. Recomendações de
utilização de sementes de espécies espécies florestais nativas para a re-
florestais nativas da região de composição, por tipo de solo, das flo-
restas ciliares do rio Cachoeira IN :
entorno do local a ser restaurado, são
NEGRELLE, R. R. B. ; LIMA, R. E. de
elementos decisivos para o sucesso
(Org.). Meio ambiente e desenvolvi-
do empreendimento.
mento no litoral do Paraná: subsídi-
os à ação. Curitiba: UFPR, NIMAD,
O planejamento das atividades
2002. p . 135- 154.
é uma etapa fundamental para o bom
andamento de um projeto de restau- FERRETTI, A. R. Modelos de plantio
ração florestal. Todas as informações para a restauração. IN: GALVÃO, A.
disponíveis devem ser utilizadas para P. M.; MEDEIROS, A. C. de S. (Ed.). A
o estabelecimento do cronograma de restauração da Mata Atlântica em
trabalho, definição dos locais e áreas de sua primitiva ocorrência
tamanho das áreas a serem restau- natural. Colombo: Embrapa Florestas,
radas, seleção de espécies para plan- 2002. p. 35-43.
tio, produção de mudas e estabele-
cimento da metodologia de plantio . GALVÃO, A. P.; MEDEIROS, A. C. de
Em seguida deve -se elaborar um S. A restauração da Mata Atlântica
plano de monitoramento das ativi - em áreas de sua primitiva ocorrên-
dades e do desenvolvimento da área cia natural. Colombo: Embrapa Flo-
restaurada. Assim é possível ajustar- restas, 2002. 134 p.
se procedimentos e avaliar-se o
IBGE. Diretoria de Geociências. Ma-
rendimento e eficiência de cada
nual técnico da vegetação brasilei-
atividade.
ra. Rio de Janeiro, 1992. 93 p. (Serie
Manuais Técnicos em Geociências, 1 ).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem às empresas American Electric Power,


General Motors e ChevronTexaco, que financiam os projetos de ação contra
o aquecimento global, desenvolvidos pela SPVS em parceria com a "The
Nature Conservancy", no litoral norte do Estado do Paraná. Agradecem, .
também, a todos os funcionários da SPVS, em especial aos da Reserva
Natural Serra do Itaqui, Reserva Natural do Cachoeira e Reserva Natural
do Morro da Mina, pela dedicação e execução dos trabalhos.

102
Capítulo 6

RESTAURAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL EM REGIÃO


DE DOMÍNIO DO CERRADO

Giselda Durigan 1

Introdução

A região de domínio de Cerrado voarias. Essas formas de exploração


abrange uma área nuclear no Pla - não causavam impacto capaz de im-
nalto Central do Brasil e várias ex- pedir a renitente rebrota das plan-
pansões e manchas periféricas, ocu- tas de cerrado. Assim, a intensidade
pando cerca de 20% do território na- e a freqüência dos distúrbios resul -
cional. Toda essa região, até algu - tavam principalmente em modifica-
mas décadas atrás, foi considerada ção das fisionomias da vegetação.
como um obstáculo ao desenvolvi- Áreas muito perturbadas manti-
mento econômico, porque os solos nham-se como campo sujo ou campo
nela existentes eram tidos como de cerrado, enquanto áreas mais prote-
baixíssima produtividade para a pe- gidas adensavam-se, até atingir o li-
cuária e imprestáveis para a agricul- mite de biomassa que as condições
tura. de fertilidade e umidade do solo per-
mitiam, formando, freqüentemente,
As únicas atividades geradoras os cerradões com seu aspecto de flo -
de receitas em áreas de cerrado eram res ta seca.
a pecuária extensiva, baseada no uso
do fogo para renovação das pasta- Porém a evolução tecnológica da
gens, e a extração de lenha para car- agricultura, silvicultura e pecuária

t Engenheira Florestal, Doutora, Pesquisadora, Instituto Florestal, SMA - SP, Floresta


Estadual de Assis, Caixa Postal 104, 19800-000, Assis, SP. giselda@femanet.com.br

103
transformou completamente aquele incipiente. Até o momento pouco se
cenário nas últimas décadas . A ve - pode fazer para reverter essa situa-
getação rala constituída de árvores ção em regiões de cerrado, além de
pequenas e tortuosas e o gado pouco aguardar que a natureza traga de
numeroso foram cedendo espaço para volta a vegetação nativa.
extensas florestas de Pinus e Eucalyp -
tus, vastas lavouras de soja e pastos Neste capítulo são relatadas as
de Brachiaria povoados por grandes experiências conduzidas pelo Insti -
rebanhos bovinos . tuto Florestal, na região de Assis, SP,
visando recuperar a cobertura vege -
Felizmente, ao mesmo tempo tal em regiões originalmente ocupa-
em que a atividade produtiva avan- das por vegetação de cerrado. A mai-
çava sobre os domínios do Cerrado, oria dos estudos e experimentos faz
voltavam -se também para este bio - parte do projeto Pesquisas em Con-
rna os movimentos conservacionistas, servação de Florestas e do Meio Am-
até então preocupados apenas com biente desenvolvido em cooperação
as florestas. Embora as leis ambien- técnica entre o Instituto Florestal e
tais vigentes no Brasil ainda privile - a Japan International Cooperation
giem ecossistemas florestais, o cer- Agency (JICA), a partir de 1993. Reu-
rado tem sido freqüentemente obje - nindo êxitos e fracassos, o aprendi-
to de d iscussões e foi recentemente zado com essas experiências poderá
incluído na lista dos ecossistemas de orientar novas pesquisas e empreen-
maior diversidade e dos mais amea- dimentos visando a restauração da
çados no mundo (Myers et al., 2000). cobertura vegetal em regiões de cer-
rado.
Diante da vasta extensão das
áreas já devastadas e do ritmo ace -
lerado da destruição, já não basta
pensar em conservação do cerrado 1. Localização das áreas experi-
apenas em áreas protegidas na for - mentais
ma de unidades de conservação. Da
mesma forma que para as florestas, As áreas que foram objeto de
são necessárias providências para estudo encontram -se principalmen-
estabelecer limites ao desmatamen- te em duas unidades do Instituto Flo-
to e também para a restauração da restal de São Paulo, originalmente
vegetação ·de cerrado em áreas de cobertas por vegetação de cerrado,
Reserva Legal, de Preservação Per- localizadas no município de Assis. Na
manente ou em quaisquer outras Estação Ecológica de Assis, que é
onde seja obrigatório ou desejável uma unidade de conservação de uso
fazê -lo. indireto, foram realizados estudos
visando a compreensão do ecossiste-
Se, por um lado, a pesquisa vi- ma. Na Floresta Estadual de Assis,
sando a restauração da cobertura unidade de conservação de uso dire-
vegetal avançou para ecossistemas to, instalou-se a maioria dos experi-
florestais, para o cerrado ela ainda é mentos para restauração .

104
Essas unidades situam-se na cobertura vegetal em áreas altera -
região denominada Médio Paranapa- das. Os resultados são apresentados
nema, em sua vertente paulista, lo- a seguir.
calizadas pelas coordenadas 22° 35'
S e 50° 22'W, entre 500 e 600 m de 2.1. Estrutura e composição florís-
altitude. A vegetação original da re - tica da vegetação original
gião era um mosaico formado por
manchas de cerrado e floresta es - O ponto de partida para qual-
taciona! semidecidual, mosaico este quer projeto de restauração é conhe-
estreitamente relacionado com as cer o ecossistema que se quer res-
características edáficas. taurar. Com esse objetivo foram efe-
tuados diversos levantamentos florís-
O Médio Paranapanema en - ticos, fitossociológicos e de dinâmica
contra-se justamente sobre a tran- nos fragmentos da vegetação natu-
sição entre dois tipos climáticos, ral da região (Durigan et al. 198 7;
segundo a classificação de Kõppen: Durigan & Leitão Filho, 1995; Duri-
Cwa, tropical, com inverno seco, e gan et al., 1999a). Para a vegetação
Cfa, quente, sem estação seca. A de cerrado têm sido amostradas as
região caracteriza-se por verões diferentes fisionomias presentes no
quentes, tendência de concentração oeste paulista. Nessa região predo-
das chuvas nos meses de verão, pre- mina o cerradão, embora existam ain-
cipitação anual ao redor de 1.400 da pequenas manchas de cerrado tí-
mm e geadas severas pouco freqüen - pico. Dentro da diversidade de tipos
tes, com período de recorrência em de vegetação existentes na área de
torno de 25 anos (Brando & Duri- domínio do cerrado estudou-se tam-
gan, submetido). A vegetação de cer- bém a vegetação ripária, isto é, mata
rado ocorre geralmente sobre Latos - de brejo, campo úmido, mata ciliar e
solo Vermelho distrófico álico, com a vegetação de transição entre o cer-
manchas menores de outros tipos de rado e a floresta estaciona! semide-
solo. Na zona ripária, por exemplo, é cidual.
comum a ocorrência de areia quart-
zosa hidromórfica. Os resultados dessas pesquisas
mostram que:

2. Estudos e Experimentos Reali- • há um gradiente de biomassa


zados crescente do cerrado até a flores-
ta estaciona! semidecidual, es -
Foram realizados estudos em treitamente relacionado com a
áreas naturais remanescentes, vi- disponibilidade de nutrientes no
sando conhecer a flora, a estrutura solo. Enquanto o cerrado típico
e processos de regeneração da vege- tem área basal ao redor de 1O m 2 /
tação de cerrado e instalados diver- ha com altura do dossel por volta
sos experimentos com o objetivo de de 6 m, o cerradão tem em torno
encontrar soluções para os problemas de 20 m 2 /ha com altura ao redor
relacionados com a restauração da de 12 m e a floresta estaciona!

105
nessa região tem cerca de 30 m 2 / bustivas e subarbustivas que ocor-
ha de área basal e altura do dos- rem nas formas campestres de
sel ao redor de 20 m; cerrado, as quais precisam ser
incluídas nos programas de res -
• considerando-se árvores acima de tauração (p. ex. Jacaranda decur-
5 cm de DAP, para o cerrado típi- rens e Anemopaegma arvense, en-
co a densidade é de cerca de 1200 tre outras);
indivíduos/ha. Entre as fisionomi-
as florestais há um gradiente de • a vegetação ripária natural em
densidade que é inversamente regiões de cerrado é muito dife -
proporcional à biomassa. Assim, rente de regiões florestais em flo -
o cerradão tem cerca de 2000 in- ra e estrutura. Pode ser florestal
divíduos/ha e a floresta estacio- (mata do brejo ou mata ciliar),
na! tem aproximadamente 1000 composta por muitas espécies ex-
indivíduos/ha. Essas informações clusivas dessa condição ambien-
são importantes para orientar o tal (Xylopia emarginata, Styrax po -
espaçamento de plantios. Enquan- hlii e Cedrela odorata var. xerogei-
to na região de cerrado a densi- ton), ou pode ser simplesmente um
dade é alta e a vegetação é for - campo úmido desprovido de árvo-
mada por árvores pequenas, na res. A restauração precisa respei-
floresta a densidade é baixa, mas tar as características originais da
as árvores são bem maiores; vegetação;
• há um gradiente florístico associ- • o número de espécies lenhosas
ado ao gradiente fisionômico. por hectare (árvores e arbustos)
Embora exista um grupo de espé- gira em torno de 60, sendo natu-
cies que ocorrem em todas as fi- ralmente maior se houver diversi-
sionomias de cerrado (por exem- dade ambiental ou de fisionomias.
plo Copaifera langsdorjfii e Anade-
nantheraJalcata), há grupos exclu- 2.2 Regeneração natural da vege-
sivos das fisionomias campestres tação de cerrado
(arbustos e árvores pequenas in-
tolerantes à sombra, tais como O potencial de regeneração na-
Campomanesia adamantium e tural da vegetação de cerrado é ge -
Erythroxyllum suberosum). Há, tam- ralmente elevado, especialmente se
bém, espécies exclusivas do cer- comparado com ecossistemas flores -
radão, que toleram sombreamen- tais submetidos ao mesmo impacto.
to parcial e às vezes se regene - Todavia, a rapidez do processo de reve-
ram à sombra, mas não se desen- getação, a diversidade e a densidade
volvem nas condições extremas de da regeneração são determinadas pela
pobreza do solo nas áreas cam- intensidade e duração do impacto.
pestres (Ocotea corymbosa e Zeyhe -
ria tuberculosa, entre outras); As pesquisas realizadas pelo
Instituto Florestal, em Assis, trata-
• há muitas espécies lenhosas ar- ram da dinâmica de regeneração da

106
vegetação danificada pela geada • a vegetação de cerrado regene -
(Brando & Durigan, submetido), do ra-se facilmente sob florestas de
sub-bosque da floresta de eucalipto Pinus e Eucalyptus, sendo capaz de
(Durigan et al., 1997), da recobertu- atingir a riqueza e a diversidade
ra de área utilizada como pastagem que possuía antes do desmata-
(Durigan et al., 1998) e ainda da re- mento (Tabela 1 );
generação natural da mata ciliar sob
• a vegetação de cerrado, porém,
Pinus e do cerrado sob diferentes ti-
pos de floresta (dados não publica- sofre com a competição. Por isso,
dos) . Estudos anteriores sobre a di- a eliminação das árvores exóti -
cas acelera a regeneração;
nâmica da cobertura vegetal (Duri-
gan et al., 1987) e o crescimento das
• em áreas ocupadas com pastagem
árvores em experimento de manejo
por períodos longos o potencial de
sustentável (Durigan et al., 1993),
regeneração natural do cerrado é
também, forneceram subsídios para
reduzido especialmente em diver-
a compreensão dos processos de re -
sidade, mas também em densida-
generação natural da vegetação de
de· e cobertura das copas;
cerrado, que podem ser sintetizados
nas seguintes observações:
• de todas as tentativas experimen-
tais de acelerar a regeneração
• após desmatamento, a vegetação
natural em área de pastagem,
de cerrado leva cerca de 30 anos
incluindo revolvimento do solo,
para atingir a biomassa original
uso de exóticas como pioneiras e
(observação válida para cerradão);
fertilização, entre outras, con -
• o incremento em área basal por cluiu -se que o ,controle da Bra-
chiaria com uso de herbicida de
hectare para o cerradão em rege-
amplo espectro (glifosato) foi a
neração natural após desmata -
mento é de aproxima -damente única técnica que proporcionou
0,50 m 2 /ha/ano; resultados superiores à regene -
ração natural em áreas sem

Tabela 1. Parâmetros estruturais e florísticos da vegetação de cerradão e do


sub-bosque de eucalipto, em Assis, SP (extraído de Durigan et al. , 1997b)

Parâmetro Cerradâo Sub-bosque


Densidade de ârvores (ind / ha) 1515 1375
Árvores mortas(%) 10,2 o
Número de espécies (DAP ~ 5 cm) 41 25
Número total de espécies amostradas (incluindo 56 56
sub-bosque)
Área basal do estrato arbóreo (m 2 / ha) 22,1 6,0

107
qualquer tratamento . Na Tabela ras colonizando áreas perturbadas
2 são apresentados resultados de e sendo gradualmente substituí-
um dos experimentos que de - das por espécies secundárias ou
monstram esse fato. climácicas;
• resultados experimentais prelimi-
• o modelo descrito para a suces -
nares e observações de campo in-
são secundária em ecossistemas
dicam que o manejo do gado vi-
florestais não se adequa ao cer-
sando a redução da biomassa do
rado. Aliás, é praticamente impos-
capim pode, também, acelerar a
sível enquadrar as espécies de
regeneração das plantas lenhosas
cerrado nas categorias sucessio -
do cerrado;
nais clássicas;
• interferências na estrutura e nas
• as árvores típicas de cerrado são
características químicas do solo
todas heliófitas e geralmente de
de cerrado, tais como subsolagem,
crescimento lento. Com exceção do
aração, gradagem ou aplicação de
cerradão, onde há espécies arbó-
calcário, prejudicam o processo de
reas que se regeneram à som -
regeneração natural da vegetação;
bra, como, por exemplo, Alibertia
edulis, Siparuna guianensis e
• a chuva de sementes tem menor
Ocotea corymbosa, as quais pode -
importância do que a rebrota de
riam ser consideradas climácicas,
estruturas subterrâneas no pro -
quase todas as outras poderiam
cesso de recobertura de áreas de
ser enquadradas na categoria de
cerrado;
secundárias. O cerrado típico não
• não se verifica, nas áreas de cer- possui banco de sementes de es-
rado, um processo cronológico de pécies arbóreas de rápido cresci-
substituição de espécies como o mento, que seriam pioneiras típi-
que se observa em biornas flores - cas, suficiente para recolonizar
tais, que se inicia com as pionei- áreas perturbadas;

Tabela 2. Densidade e cobertura das espécies de cerrado em regeneração


em área de pastagem de Brachiaria decumbens (Assis, SP), em resposta a
diferentes tipos de intervenção (fonte: Durigan et al., 1998).

Tratamento Densidade Cobertura


(ind/ha) (%)
Testemunha 580 2,20
Subsolagem 417 1,48
Preparo convencional + calagem 201 0,32
Aplicação de herbicida de amplo espectro 698 3,25
Aplicação de graminicida 517 2,03
Prep. Convencional+ herbicida pré-emergente 396 0,73

108
• embora não existam dados expe- minação de espécies da comuni-
rimentais, observações de campo dade foi observada apenas em
indicam que a vegetação de cer- área de cerradão onde o sombre-
rado em áreas que foram ocupa- amento impediu a rebrota das ár-
das por agricultura e que tenham vores que tiveram a parte aérea
sido, portanto, submetidas a fer - totalmente destruída pela geada;
tilização, calagem e revolvimento
constante do solo, não se regene- • a recobertura do terreno após a
ra naturalmente, mesmo se hou- geada é muito rápida , levando
ver remanescentes próximos pro- cerca de um ano para geada se-
duzindo sementes; vera (Figura 1 ). Porém os proces-
sos reprodutivos de muitas espé-
• a geada afeta significativamente cies são prejudicados temporari-
a estrutura da vegetação de cer- amente e há considerável acúmu-
rado, reduzindo a altura e a co- lo de biomassa seca que aumen-
bertura de muitas espécies alta- ta o risco de incêndios e danos
mente suscetíveis . Porém a eli - subseqüentes .

--
o -- --- ... - estrato superior
o 100
(1) o~

o (1)
80
-o ro 60 r - - estrato infer ior
e.
....::::,ro
-
o
o 40
....a, (1)
~ 20
.e a,
o
(.)
e. o
~
'
C?)
e,0
'l>-~
Tempo (me ses)

Figura 1. Cobertura do solo pelas copas da vegetação de cerrado antes e


durante 11 meses após a geada, em Assis, SP (adaptado de Brando &
Durigan, submetido)

2.3 Plantios de enriquecimento

Algumas tentativas de acelerar eucalipto com sub-bosque bastante


a recuperação da vegetação de cer- desenvolvido . Esperava-se que as
rado com plantios de enriquecimen- mudas plantadas acelerassem o fecha-
to foram feitas na Floresta Estadual mento das ruas e tivessem a forma e
de Assis , em condições ambientais o crescimento favorecidos pelo sombre-
distintas . Espécies com potencial de amento lateral. Resultados parciais
exploração econômica foram planta- desses experimentos foram publicados
das em linha nas ruas abertas para em Durigan et al., (1997a) e podem
retirada de madeira em talhão de ser visualizados nas Figuras 2 e 3.

109
100~---------------
? 80+-----------

,,'g
(11

60 + - - - - - - - - - --
-~
.,... 40 + - - - - -- - - - - -
~ 20+----
bl
o

Figura 2. Sobrevivência das espécies em


plantio de enriquecimento em área de
cerradão, Assis, SP (fonte: Durigan et ai.,
1997a).

I 100
~ 80 4 - - - - - - - - - - - - - - - - i
~
., 60 4 - - - - - - - - - - - - - - - - ,
0
~ 40 4 - - - -- - - - - - - - - - - - ,
" 20 + - - - - - - ,
~
E

Figura 3. Altura das mudas em plantio


de enriquecimento em área de cerradão,
Assis, SP (fonte: Durigan et ai., 1997a).

Todavia, os resultados foram tuou -se plantio aleatório planejado


frustrantes. A mortalidade foi muito para restabelecer a densidade e a fi-
elevada, chegando a 100% para al - tossociologia do cerradão. Após 1 7
gumas espécies, o crescimento mui- anos verificou -se que houve incre-
to lento, se comparado com plantios mento em densidade e diversidade.
convencionais e, ainda, observou-se Contudo, a braquiária persistia im-
ataque intenso de formigas cortadei- pedindo a recuperação do estrato
ras. Além disso, surgiu um novo ini- herbáceo-arbustivo e muitas espéci-
migo: a lebre européia que roía a base es plantadas não se desenvolveram.
de boa parte das mudas, especial- Foram melhor sucedidas as legumi-
mente de leguminosas, que morriam nosas de ciclo de vida longo como
ou rebrotavam com a forma totalmen- Plathymenia reticulata, Copaifera langs-
te comprometida. doáfii e Platypodium elegans.

Em outra área, utilizada como Tem sido efetuado, também,


pastagem por longo tempo, com algu- sem delineamento experimental, o
mas árvores em regeneração, efe - plantio de espécies nativas sob flo-

110
resta de Pinus, com a retirada gra- 2.4 Plantios convencionais para
dual da espécie exótica à medida restauração da vegetação
que as nativas crescem. Os resulta-
dos são promissores, especialmente Os primeiros plantios de essên-
na zona ripária, onde não ocorre dé- cias nativas efetuados na Floresta
ficit hídrico . O palmito branco, Eu - Estadual de Assis não eram desti-
terpe edulis, tem sido uma das espé- nados à restauração, mas à produ-
cies mais bem sucedidas em plantio ção de madeira de espécies de valor
sob floresta de Pinus e, também, sob comercial (Garrido, 1975, Garrido,
mata ciliar nativa. É curioso obser- 1981; Nogueira et al., 1982; Garrido
var que essa espécie teve 100% de & Souza, 1982; Garrido et al., 1990,
mortalidade em todas as outras ten- Durigan et al., 1999b). Assim, foram
tativas de cultivo em solos de cerra- utilizadas nos primeiros plantios
do, tanto no enriquecimento em li- muitas espécies oriundas de ecos -
nhas (solo seco}, quanto no plantio sistemas florestais que podem até
convencional da mata ciliar (à ple - ocorrer ocasionalmente em cerrado
na luz). ou cerradão. Apesar de visarem ini-
cialmente a produção de madeira,
Resumindo, as conclusões ob - os resultados daqueles primeiros
tidas nos plantios de enriquecimen- experimentos têm sido importantes
to são: para direcionar novas pesquisas vi-
sando a restauração .
• em áreas usadas como pastagem
por longos períodos é possível au- 2.4. L Recuperação da mata ciliar
mentar a densidade e a diversi-
dade da vegetação de cerrado A margem dos rios em região de
com plantios de enriquecimento. domínio do cerrado nem sempre é
Mas, o custo de plantio e de ma- coberta por vegetação arbórea. Esse
nutenção das mudas é elevado, fato nem sempre é observado e mui-
exigindo operações totalmente tas vezes tenta-se plantar árvores em
manuais, controle de formigas áreas originalmente cobertas por
cortadeiras e coroamento fre - campo úmido ou vereda, por exem-
qüente, até o estabelecimento plo. Esses plantios, além de consti-
das mudas, e tuírem grave erro ecológico, geral -
mente, resultam em fracasso silvi-
• em áreas onde há espec1es de cultura! .
cerrado regenerando -se em alta
densidade não é recomendado o Com exceção de espec1es de Pi-
plantio de enriquecimento, nem nus, as experiências de plantio de
mesmo para aumentar a diversi- árvores em solos permanentemente
dade . O crescimento das mudas úmidos na região de Assis (SP) re -
plantadas é mais lento que a re - sultaram em altíssima mortalidade
brota do cerrado, o controle de e crescimento reduzido . Porém plan-
pragas é difícil e a mortalidade tios na zona ripária em região de cer-
muito alta. rado, além da zona de encharcamen-

111
to permanente, têm sido bem suce - mento (Tabela 3). Por isso, mes-
didos (Durigan, 1990; Durigan & Sil- mo que não favoreça a restaura-
veira, 1999) e as conclusões obtidas ção da diversidade, considera-se
até o momento são as seguintes: que o plantio de Pinus pode ser a
melhor alternativa para proteção
• espécies do gênero Pinus apresen- inicial rápida ao solo e aos recur-
tam melhor sobrevivência e cres - sos hídricos em áreas muito de -
cimento na zona ripária em solos gradadas como áreas de emprés-
de cerrado do que todas as espé- timo, solos erodidos e aterros,
cies nativas testadas até o mo - entre outras;

Tabela 3. Crescimento e sobrevivência das espécies arbóreas aos nove anos, em plantio
de recuperação da mata ciliar em domínio de cerrado (fonte: Durigan & Silveira, 1999

Sobrevivê DAP Altura


IMA
Espécie ncia médio média (m)
(m)
(%) (cm)
Pinus elliottii var. densa 94,02 15,4 11,3 1,23
Anadenanthera falcata 79,85 6,59 5 ,00 0,53
Hevea brasiliensis 66,07 2,66* 4,65-k 0,49''
Tapirira guianensis 55,88 7,38 5,84 0,62
Calophyllum brasiliense 50,00 5,5 4,34 0,45
Tabebuia avellanedae 41,03 0,93 2,10 0,21
Peltophorum dubium 40,00 1,08 0,09
Prunus myrtifolia 30,00 3,5 3,57 0,37
Genipa american 17,65 1, 17 2,02 0,20
Enterolobium contortisiliquum 16,70 1,00 1,52 0,14
Sebastiania commersoniana 14,30 3,00 3,50 0,36
Centrolobium tomentosum 1,90 0,50 0,03
Solanum inaequale 0,0
Euterpe edulis 0,0
Cedrela odorata var. xerogeiton 0,0
Bauhinia bongardii 0,0
Lonchocarpus muelbergianus 0,0
Citharexyllum myrianthum 0,0
Cariniana estrelensis 0,0
Poecilanthe parvifl.ora 0,0
* as árvores tiveram a parte aérea totalmente destruída pela geada aos cinco anos,
rebrotando em seguida

112
• nos primeiros anos após o plantio de plantio, sobrevivência e cresci-
na zona ripária, árvores de Pinus mento das espécies no campo, em
não prejudicam a regeneração áreas que foram utilizadas para agri-
natural das espécies nativas, po- cultura, pastagem ou reflorestamen-
dendo funcionar como pioneiras to. Os resultados preliminares da
(não há estudos de longo prazo maior parte desses experimentos
sobre o assunto); encontram -se em Durigan et al.,
1997 (relatório não publicado), e es -
• quando entrarem em fase reprodu- tão sendo analisados para publica-
tiva, porém, as árvores de Pinus po- ção ao término da cooperação IF -JICA
dem gerar um problema ecológico, (abril/ 2004 ). Entre as informações
pois as sementes, disseminadas pelo geradas por essas pesquisas, as se-
vento, tenderão a invadir ecossiste- guintes merecem destaque:
mas naturais, especialmente em lo-
cais ou regiões que não apresentam • as sementes de muitas espécies
déficit hídrico; de cerrado não germinam em con-
dições de viveiro (Figura 4). São
• plantios com essências nativas em necessários estudos da germina-
áreas de cerrado devem contem - ção e de tratamentos para que-
plar espécies oriundas desse bio- bra de dormência da maioria das
rna. Embora exista um grupo de espécies;
espécies que ocorre em mais de
um biorna, espécies exclusiva -
mente florestais não sobrevivem
em solo de cerrado. Por outro lado,
muitas espécies de cerrado sobre-
vivem se plantadas em solos flo -
restais, embora sejam posterior-
mente eliminadas pela competi- lc nua ■ multo baixo (1 • 25%) □ baixo (25-50%) □ reguls (5~75%) ■ atta (75 - 100%) 1

ção por luz;


Figura 4. Classes de germinação de sementes
de 39 espécies de cerrado em condições de
• plantios de mata ciliar em solos de viveiro (fonte: Brando & Durigan, 2001).
cerrado devem ter o dobro da den-
sidade dos plantios em regiões flo -
res tais. As árvores crescem lenta-
mente e são menores quando adul- • as sementes de muitas espécies
tas. germinam, mas não sobrevivem
em condições de viveiros flores-
2.4.2. Recuperação do cerrado tais. São necessárias pesquisas
para definir embalagem, substra-
As pesquisas sobre a recupera- to, técnicas de irrigação e mane-
ção da vegetação de cerrado na Flo- jo e até micorrizas que possam
resta Estadual de Assis incluem es - viabilizar a formação de mudas de
tudos relativos à produção de mudas plantas do cerrado. O crescimen-
(Brando & Durigan, 2001 ), técnicas to desproporcional do sistema ra-

113
dicular em relação a parte aérea • o uso de fertilização, orgânica e
e a intolerância ao excesso de mineral, acelera o crescimento
umidade, entre outras caracterís- inicial das mudas de algumas es -
ticas, são peculiaridades das plan- pécies. Porém, se aplicado em
tas de cerrado que exigem adap - toda a área aumenta considera-
tações nas técnicas usuais de vi- velmente a biomassa das gramí-
veiro; neas invasoras, prejudicando as
mudas. Resultados experimentais
• o crescimento das mudas em vi- preliminares indicam que a ferti-
veiro é proporcional ao volume da liza ção na cova é benéfica em
embalagem (mudas em embala - plantios de restauração, mas não
gens maiores crescem mais rapi- se sabe se esses efeitos se man-
damente do que aquelas em em- têm em longo prazo;
balagens menores). Porém, es -
sas diferenças, no campo, resu- • dentre as técnicas de preparo do
mem -se em maior sobrevivência terreno para plantio são preferí-
inicial das mudas maiores. Três veis as que exigem menos revol-
anos após o plantio, as diferen- vimento do solo;
ças de tamanho desaparecem en-
tre mudas da mesma idade produ- • o uso de herbicida (glifosato) para
zidas em embalagens diferentes; controle da braquiária tem sido a
técnica mais eficaz e barata para
• o início da estação chuvosa é a manter limpas as áreas de plan-
época ideal de plantio. O plantio tio, favorecendo o crescimento das
nesse período proporciona o rápi- mudas plantadas e a brotação de
do crescimento do sistema radi- outras plantas de cerrado que fre -
cular que poderá buscar água nas qüentemente surgem nas entre -
camadas mais profundas do solo, linhas, além de evitar o revolvi-
aumentando as possibilidades de mento do solo, que pode facilitar
as mudas sobreviverem na esta- os processos erosivos.
ção seca;
3. Principais obstáculos à recupe-
• espec1es pioneiras, de crescimento ração da cobertura vegetal em re-
rápido e ciclo curto, como Trema giões de cerrado
micrantha, Crotonjloríbundus e Cro -
ton urucurana, que ocorrem even- Muitos têm sido os problemas
tualmente em áreas de cerrado, enfrentados nas tentativas de recu -
não são recomendadas para plan- perar a vegetação em regiões de cer-
tios de restauração, nem mesmo rado, especialmente nas áreas onde
em áreas de cerradão. Em solos já não é possível ocorrer regenera -
de cerrado essas espécies têm o ção natural. Além das dificuldades
ciclo de vida muito reduzido, com decorrentes da escassez de informa-
mortalidade quase total em me - ções científicas sobre a biologia re -
nos de cinco anos após o plantio; produtiva e a ecologia das espécies,

114
assim como sobre os processos natu- dução da biomassa das gramíneas,
rais de sucessão secundária em áre- as plantas lenhosas do cerrado cres-
as perturbadas, existem obstáculos cem mais rapidamente, apesar de
de ordem prática que fazem da res- haver um impacto negativo resultan-
tauração do cerrado um desafio mai- te do pisoteio e da disseminação de
or do que recuperar florestas. Entre sementes das plantas invasoras.
esses obstáculos, são de grande im- Eventualmente o gado pode também
portância as gramíneas, o fogo, as comer algumas plantas de cerrado.
formigas cortadeiras e a lebre euro- É visível o benefício de reduzir os ris-
péia. cos de incêndio e os danos causados
pelo fogo. São necessários, porém,
3.1 Gramíneas exóticas estudos científicos nos quais benefí-
cios e prejuízos sejam avaliados con-
Grande parte das áreas natu - juntamente para que se possa reco-
rais remanescentes de cerrado está mendar com segurança o pastoreio
sendo invadida por gramíneas que visando a restauração do cerrado.
formam grande biomassa, obstruem
a regeneração e o crescimento das 3.2Fogo
plantas de cerrado, competem por
recursos do meio (água, luz, nutri - Na Floresta Estadual de Assis
entes) e aumentam consideravel - dois incêndios em anos consecutivos
mente os riscos e a dimensão dos atingiram áreas em restauração, pre-
danos por incêndio. A principal inva- judicando fortemente a vegetação e
sora tem sido a Brachiaria decumbens, chegando a inviabilizar experimentos.
mas há outras espécies exóticas que Embora as plantas de cerrado, na sua
merecem atenção. maioria, estejam adaptadas para so-
breviver ao fogo, incêndios muito fre -
Até agora o uso de herbicida tem qüentes modificam a estrutura e re-
se mostrado como a melhor solução duzem a diversidade da vegetação.
para enfrentar esse problema em áre- Como já mencionado, são muito mais
as de plantio ou de regeneração na- intensos e danosos os incêndios em
tural. O glifosato não afeta as plan- áreas com o piso ocupado por gramí-
tas de cerrado e tem uso autorizado neas exóticas. Por isso, em projetos
para controle de Brachiariadecumbens de restauração, são necessários in-
e outras gramíneas invasoras (Com- vestimentos e esforços permanentes
pendio de Defensivos Agrícolas, para prevenir incêndios.
1993). Comparativamente, roçadas
em áreas de plantio têm o grande 3.3 Formigas cortadeiras
inconveniente de eliminar, junto com
as gramíneas, plântulas do cerrado Formigas cortadeiras são um
em regeneração. problema antigo na maior parte do
Brasil, onde quer que se tente plan-
O manejo do gado nessas áreas tar árvores. Em toda a região de do-
tem se mostrado uma solução pro- mínio de cerrado ocorrem formigas
missora . Verifica-se que, com a re- cortadeiras, que acabam por destruir

115
as mudas plantadas em ataques su- Novas pesquisas são necessári-
cessivos. Não existe, até hoje, uma as e recomenda-se estudar prioritari-
solução definitiva para esse proble - amente:
ma, que é mais grave no cerrado,
onde o crescimento das mudas é len- a) a produção de mudas das plantas
to, exigindo manutenção em longo lenhosas típicas do cerrado;
prazo. Na Floresta Estadual de Assis
o controle tem sido feito principal- b) os processos naturais de regene-
mente com o uso de iscas, mas to- ração;
das as alternativas disponíveis no
mercado têm sido testadas. c) o controle de gramíneas invasoras,
que prejudicam o equilíbrio das pou-
3.4 Lebre européia cas áreas naturais remanescentes
e tornam muito difícil a restaura-
Esse é um problema recente que
passou a ser detectado em plantios ção com plantios.
efetuados na região de Assis, a par-
tir de meados da década de 90. A le-
bre mata ou deforma as mudas, ro- 5. Referências Bibliográficas
endo a casca junto ao colo. Aparen-
temente, o animal tem preferência
por leguminosas, mas foi constatado
ataque também em plantio de ipê - ANDREI, E. Compendio de defensi-
roxo. vos agrícolas: guia prático de pro-
dutos fitossanitários para uso agrí-
Problemas semelhantes de pre - cola. 4. ed. São Paulo: Organização
dação de árvores por animais de Andrei, 1993. 448 p.
grande porte são enfrentados em pa-
íses europeus e no Japão, entre ou- BRANDO, P. M.; DURIGAN, G. Chan-
tros. A solução encontrada naqueles ges in cerrado vegetation after dis-
países tem sido o controle populacio- turbance by frosts. Plant Ecology,
nal dos animais (caça controlada) e a Dordrecht. Submetido para publica-
proteção individual das mudas com ção.
tubos ou telas, que encarece consi-
deravelmente o custo da restauração. BRANDO, P. M.; DURIGAN, G. Época
de maturação dos frutos, beneficia-
mento e germinação de sementes
4. Recomendações lenhosas do cerrado. Boletim do
Herbário Ezechias Paulo Heringer,
As pesquisas visando a restau- Brasília, v. 8, p. 78-90, 2001.
ração da vegetação de cerrado na re-
gião de Assis são recentes e seus re- DURIGAN, G.; LEITÃO FILHO, H. F.
sultados não devem ser extrapolados Florística e fitossociologia de matas
para toda a região ocupada pelo bio- ciliares do oeste paulista. Revista do
rna, que apresenta grande número Instituto Florestal, São Paulo, v. 7,
de condições ambientais distintas. n. 1, p. 197-239, 1995.

116
DURIGAN, G.; SILVEIRA, E. R. Re - DURIGAN, G. ; GURGEL GARRIDO, L.
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117
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610, 1990. 1051 - 1063, 1982.

AGRADECIMENTOS

A autora agradece ao Instituto Florestal e à Japan International


Cooperation Agency (JICA), que tornaram possível o desenvolvimento das
pesquisas relatadas, e a todos os colegas e funcionários da Floresta
Estadual de Assis (muitos já aposentados), que cooperaram, cada um à sua
maneira, para a realização das pesquisas que permitiram gerar as
informações apresentadas .

118
Capítulo 7

RECUPERAÇÃO DA VEGETAÇÃO DA SERRA DO MAR EM


ÁREAS AFETADAS PELA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA DE
CUBATÃO: UMA ANÁLISE HISTÓRICA

1
Sérgio Pompéia

Introdução

A região de Cubatão, na Baixa- das resultaram na deterioração da


da Santista, litoral do Estado de São Mata Atlântica, dos manguezais e dos
Paulo, abriga o maior pólo industrial recursos hídricos da região (Silva et
do continente. Ele está instalado al., 1994).
entre o estuário de Santos e as es -
carpas da Serra do Mar. As indústri- No cenário descrito, a poluição
as de base petroquímica, siderúrgi- do ar provocou situações de extrema
ca, química e de fertilizantes , todas gravidade, que sobrepujaram os sé-
de elevado potencial poluidor, insta- rios problemas de saúde pública ob-
laram -se a partir da década de 50 servados na década de 70. No auge
quando o país seguia a máxima do do processo de degradação, a morte
"desenvolvimento a qualquer custo", de árvores em mais de 60 km 2 de
sem considerar a capacidade de su- Mata Atlântica, a maior parte no in-
porte dos ecossistemas locais . As terior do Parque Estadual da Serra
emissões atmosféricas acima de pa- do Mar, elevou a níveis críticos os ris-
drões de qualidade, o lançamento de cos de deslizamentos de terra, ame-
efluentes líquidos contaminados e a açando a infra -estrutura urbana e
disposição de resíduos tóxicos sobre industrial (Marino, 1990). Nos dias
o solo durante mais de duas déca- 26 e 27 de janeiro de 1985 o proces-
1
Engenheiro-Agrônomo, Doutor, Diretor da Consultoria Paulista de Estudos Ambientais ,
Rua Purpurina, 155, cj. 33, São Paulo, SP, CEP 05435 -030.
sergiopompeia@cons ui toriapa ulis ta. com. br

119
so de instabilização das escarpas cul- A pressão da sociedade civil or-
minou com "escorregamentos múlti- ganizada e da opinião pública nacio-
plos, após dois dias de chuvas excep- nal e os trabalhos de técnicos e pes-
cionais sobre o chão já supersatura- quisadores envolvidos com a proble-
do" (Ab'Saber, 1987), com a ocorrên- mática de Cubatão levaram o gover-
cia generalizada de desmoronamen- no do Estado de São Paulo e as in-
tos, corridas de lama e inundações dústrias da região a implementar um
que atingiram áreas industriais e conjunto de medidas visando o con-
urbanas de Cubatão. Esse episódio trole da poluição, a proteção da in-
teve grande repercussão no país, des- fra -estrutura com obras emergeri-
pertando as autoridades para a fra - ciais, a organização da comunidade
gilidade dos ecossistemas da região local para a prevenção de acidentes
e para a necessidade de uma ação ambientais, a mudança da população
profunda e urgente para solucionar residente em áreas de risco e/ ou
os problemas ambientais de Cubatão. insalubres e, por fim, a recuperação
O escorregamento mostrado na figu - da Serra do Mar (Cetesb, 1985).
ra 1 ilustra esses fatos.

Figura 1 . Trecho da Mata Atlântica em Cubatão, degradado pela poluição atmosférica,


apresentando escorregamento de solo nas encostas.

120
A recuperação ambiental da Ser- pec1es arbóreas da Mata Atlântica,
ra do Mar em Cubatão deu-se em três pertencentes a estágios sucessio-
vertentes que se complementavam: nais mais avançados .

1. controle da causa da degradação, Este capítulo apresenta um re-


ou seja, a redução da poluição at- lato resumido dos principais projetos
mosférica; de recuperação da cobertura vegetal
no trecho de Mata Atlântica degrada-
2. intervenções para reduzir a erosão do pela ação dos poluentes atmosféri-
e o risco dos escorregamentos de cos emitidos em Cubatão, analisa cri-
solo e suas conseqüências; ticamente os procedimentos meto -
dológicos adotados e os resultados con-
3. medidas visando o restabelecimen- seguidos.
to da cobertura vegetal nas escar-
pas como forma de restabelecer, a
médio e longo prazo, o equilíbrio 1. Principais fatores interferentes na
das escarpas da Serra do Mar, pela regeneração das florestas em Cuba-
ação mecânica das raízes e a re -
tão
gularização do balanço hídrico no
solo. O relevo escarpado da Serra do
Mar e sua litologia (rochas pré-cam-
A partir de meados da década de brianas do embasamento cristalino)
80 foram implementados projetos de condicionam a existência de solos ora
recuperação das florestas degradadas
mais profundos (Latossolo Vermelho
que envolveram quatro estratégias me- Amarelo), ora mais rasos e sub-rocho-
todológicas diferentes: sos (Litossolos), ambos com textura
1. plantio de gramíneas em ravinas 2
variável, acidez el~vada, baixa satu-
ração em bases e reduzidos teores de
para o controle da erosão do solo
exposto; nitrogênio e fósforo. O estoque de nu-
trientes concentra-se na biomassa, na
2. abertura de sulcos em nível nas serapilheira e no horizonte superfici-
ravinas seguido de plantio manual al dos solos. O clima é quente, com
de espécies herbáceas, arbustivas um gradiente térmico inverso ao gra-
e arbóreas existentes na própria diente de altitude. Ocorrem chuvas
área de intervenção, incluindo em mais de 50% dos dias de verão,
mudas e sementes diversas; enquanto no inverno chove em 33%
dos dias, em média. As áreas mais
3. semeadura aérea de ravinas e áre- chuvosas estão localizadas nas bordas
as apresentando cobertura vegetal das escarpas da serra, com pluviosi-
degradada (herbácea/ arbustiva), dade média anual em torno de 4.000
com espécies pioneiras tolerantes mm, e as menos chuvosas, com cerca
à poluição; de 2.500 mm, estão na base das en-
costas (Oliveira, 1985). Além das chu-
4. plantio de mudas formadas de es- vas, a neblina contribui para a eleva-

2
Cicatrizes de escorregamento de solo em áreas inclinadas.
da umidade durante todo ano, sendo massa e a composição das comuni-
um dos principais fatores condicio- dades florestais.
nantes da floresta existente.
O maior impacto sobre a vege -
Os condicionantes físicos do tação e o solo da Serra do Mar em
ambiente são muito favoráveis ao es- Cubatão foi resultante da ação dos
tabelecimento e desenvolvimento da poluentes atmosféricos, destacando-
floresta pluvial tropical. No entanto, se os fluoretos gasosos (o mais fito -
a qualidade do ar de Cubatão, com- tóxico), o dióxido de enxofre (S0 2 ), os
prometida pela emissão de poluen- óxidos de nitrogênio (NO), a amônia
tes fitotóxicos de caráter ácido, pro- (NH 3 ), os hidrocarbonetos (HC) e di-
vocou a degradação e a morte da ve- versos materiais particulados (poei-
getação, assim como a acidificação ras). A Tabela 1 apresenta a quanti-
do solo superficial, afetando o ecos- dade anual estimada de poluentes
sistema como um todo (Ab'Saber, lançados na atmosfera pelas indús -
1987 & Marino, 1990). A drástica re- trias, antes e depois da implantação
dução da densidade da cobertura ar- do programa de controle das fontes
bórea provocou alterações no ciclo de emissão, isto é, em período ante-
hidrológico, especialmente no esco- rior a julho de 1984 e em 1990 (Alonso
amento e infiltração da água no solo & Godinho, 1992).
e na resistência mecânica das raí-
zes, aumentando significativamente É possível inferir o impacto que
a probabilidade de ocorrência de es - tal volume de poluentes acarreta so-
corregamentos, que fazem parte da bre a vegetação principalmente numa
dinâmica natural das escarpas (Au- área onde a circulação atmosférica
gusto Filho, 1989). A poluição do ar transportava os gases e partículas
e a degradação do solo passaram a para as encostas da Serra do Mar.
ser determinantes no estabeleci - Os danos à vegetação provocados pe-
mento e no crescimento da vegeta- los poluentes fitotóxicos manifesta-
ção, alterando profundamente a bio- vam-se como redução do crescimen-

Tabela 1. Redução da emissão de poluentes atmosféricos em toneladas/


ano pelas indústrias de Cubatão (baseado em Alonso & Godinho, 1992).

Emissão em Emissão em Redução da


Poluente
1984 1990 Emissão(%)
Material particulado 114.416,4 31.737,7 72
Hidrocarbonetos 32.806,2 4.000,5 88
Dióxido de enxofre 28.599, 1 18.077,6 37
Óxidos de nitrogênio 22.296,3 17.360,0 22
Amônia 3.188,6 74,8 98
Fluoretos 956,2 73,1 92

122
to e por sintomas foliares como bron- midades das indústrias de fertilizan-
zeamento, amarelecimento (cloro - tes , geralmente em cotas mais bai-
ses) e queima (necroses), freqüen - xas da serra. Essa iniciativa, que
temente resultando na queda de fo - consistiu no primeiro projeto de re-
lhas e morte de indivíduos. Por ou- cuperação da vegetação em Cubatão,
tro lado, a poluição remanescente causou uma grande polêmica nos
ainda representa um importante fa - meios científicos e acadêmicos, pelo
tor de estresse para a vegetação, risco de a espécie tornar-se invaso-
interferindo na regeneração da flo - ra das áreas florestadas, propiciar a
resta e nos plantios efetuados para ocorrência de fogo e prejudicar a re-
a recuperação da vegetação (Pom - generação natural da floresta.
péia & Adiar, 1988; Pompéia et al.
1988b; Pompéia, 1990c). Uma avaliação do plantio, rea-
lizada pelo Instituto de Botânica de
São Paulo em janeiro de 1986, seis
2. Plantio de gramíneas em ravinas meses após o plantio da gramínea,
mostrou que ela havia crescido em
Logo após o acidente de 1985 a cerca de 40% da área semeada e
paisagem das escarpas encontrava - encontrava-se frutificando e produ -
se dominada por "paliteiros" (troncos zindo sementes. Seu desenvolvimen-
de árvores mortas pela poluição) e to era considerado normal e não se
pelo solo nu nas cicatrizes dos es - observavam sintomas de poluição.
corregamentos (ravinas). Em face da Uma segunda avaliação, em dezem-
exposição de horizontes sub-superfi- bro de 1987, cerca de dois anos após
ciais do solo às chuvas, agravando a o plantio, permitiu verificar que a
erosão, e considerando que à época braquiária apresentava boa produção
não se dispunha de mudas adequa- de massa verde e- recobria totalmen-
das e suficientes para uma rápida te o solo. Em ravinas estreitas, de
recomposição da cobertura vegetal, até 2 metros de largura, observava-
as indústrias locais tomaram a ini- se, em meio às gramíneas, a regene-
ciativa de realizar um plantio de gra- ração de algumas espécies herbáce-
míneas com o objetivo principal de as pioneiras dos gêneros Tibouchina e
recobrir rapidamente o solo exposto, Begonia além de pteridófitas, plan-
protegendo -o da ação erosiva das tas típicas dos estágios iniciais de
chuvas. sucessão. No entanto, em áreas mais
extensas, havia o completo domínio
A espécie escolhida foi a Brachimia
da Brachiaria, que não permitia o res-
decumbens, de origem africana e de
tabelecimento da vegetação original
alta produtividade em solos tropicais. (Bononi, 1989).
O plantio foi realizado entre maio e
julho de 1985, com o lançamento Entre 1989 e 1991 foram monito-
manual de sementes comerciais, di- rados trechos ocupados por Brachiaria,
retamente sobre o solo nu. A área verificando-se que, passados 6 anos
semeada restringia-se a alguns hec - do plantio praticamente não ocorri-
tares de ravinas situadas nas proxi- am plântulas ou indivíduos juvenis

123
de outras espécies. Isso indicava um Em que pese o efeito do plantio
atraso no processo de sucessão se- de braquiária sobre a regeneração
cundária nesses locais (Pompéia, natural da floresta não se confirma-
1995). Observações realizadas duran- ram as previsões de invasão da gra-
te os anos 90 confirmaram o efeito mínea ao interior das matas secun-
de retardamento da colonização por dárias e de favorecimento a incên-
espécies arbóreas nos espaços ocu- dios nas áreas de plantio.
pados por Brachiaria . O avanço da flo -
resta ocorria lentamente a partir das
bordas, graças ao sombreamento, que 3. Plantio de espécies nativas em
provocava a perda da capacidade ravinas
competitiva da braquiária, reduzin-
do sua densidade sobre o solo e per- Entre agosto de 1985 e dezem-
mitindo o estabelecimento de alguns bro de 1986 o Instituto de Botânica
arbustos e árvores. Em sobrevôo re- de São Paulo desenvolveu um proje-
alizado em 2002 ainda era possível to de revegetação das ravinas exis -
observar manchas homogêneas de tentes numa área de aproximada -
braquiária, especialmente em tre - mente 20 km 2 (Silva Filho, 1988; Bo-
chos das escarpas próximas às in- noni, 1989). O trabalho foi realizado
dústrias de fertilizantes. A Figura por um grupo de 20 mateiros com a
2 ilustra os resultados do plantio de supervisão direta da equipe técnica
braquiaria na área poluída de Cuba- do instituto, sendo utilizados seis
tão. acampamentos espalhados pela re -

Figura 2. Braquiária aos quatro anos de plantio em cicatriz de escorregamento em Cubatão.

124
gião. O objetivo principal era o de lar e criando áreas de infiltração de
recobrir o solo exposto das ravinas água e instabilização do solo.
para controlar a erosão e induzir a
regeneração natural nas áreas de - Nas ravinas, a primeira provi-
gradadas. O projeto envolveu também dência foi a abertura de sulcos em
a derrubada de "paliteiros" existen- curvas de nível perpendiculares ao
tes nas escarpas, pois verificou -se fluxo de água . A drenagem era reor-
que a queda das árvores mortas de - ganizada de forma a dissipar a ener-
sencadeava deslizamentos à medida gia das águas pluviais e evitar o apro-
que os troncos funcionavam como ala- fundamento dos sulcos de erosão. Os
vancas, erguendo o sistema radicu- troncos cortados nas imediações das
ravinas eram colocados deitados
transversalmente para conter o solo
e as águas. O plantio foi re-
alizado utilizando -se se -
mentes, mudas e estrutu -
ras de propagação vegetati-
va de plantas herbáceas,
arbustivas e arbóreas, sen-
do que a maior parte do ma-
terial utilizado era cole -
tada nas áreas circundan-
tes às ravinas. A Figura 3
mostra o plantio de espéci-
es nativas em cicatriz de es-
corregame:nto (ravina).

Dentre o material
vegetal coletado no local
destacam -se: a) estacas de
plantas herbáceas, espe -
cialmente dos gêneros
Mikania (Asteraceae), Piper
(Piperaceae) e Philodendron
e Anthurium (Araceae); b)
estacas de Ficus (Moraceae);
c) rizomas de Heliconia
(Heliconiaceae), Costus
(Costaceae) e de diversas
marantáceas (Calathea,
Maranta e Saranthe); d)
mudas de diversas
pteridófitas, bromeliáceas
Figura 3. Plantio manual de mudas em cicatriz de escorregamento.

125
(Nidularium), Scleria (Cyperaceae); e e) rial vegetativo e de mudas coletadas
mudas de espécies arbustivas e em torno das ravinas apresentam boa
arbóreas do entorno das ravinas sobrevivência e proporcionam a rápi-
(Cordia ecalyculata, Miconia theaezans , da cobertura do solo. A leucena apre-
Heteropteris nítida, Rapanea umbelatta, sentou uma boa germinação, mas não
Posoqueria acutijólia). No plantio sobr eviveu às condições do local de
também foram utilizados cerca de plantio. As ravinas replantadas, após
550 quilos de sementes de espécies dez meses do plantio inicial, apre -
arbóreas , entre as quais o palmiteiro sentaram uma massa vegetal que
(Euterpe edulis), guapuruvu recobria totalmente o solo com plan-
(Schizolobium parahyba), pau-jacaré tas rasteiras , com uma altura de
(Piptadenia communis) , canudo-de-pito aproximadamente 50 cm. Passados
(Senna bicapsularis), ingá (Inga edulis); dois anos do plantio, essa vegetação
canela (Ocotea porosa), quaresmeira apresentava cerca de 2 a 3 metros
(Tibouchina granulosa) e jequitibá de altura e já não era possível iden-
(Cariniana estrellensis) , entre outras. tificar seus limites com a área ex-
A título de experimentação , numa terna . Nas áreas em que ocorreu a
das áreas de plantio foram utilizadas exposição da rocha alterada o cres-
sementes de leucena (Leucaena cimento foi prejudicado, com as plan-
leucocephala), leguminosa exótica de
tas apresentando uma fisionomia
rápido crescimento. Mudas de espé- herbáceo -arbustiva.
cies arbóreas como o ipê (Tabebuia) e A regeneração natural nas ra-
frutíferas como jambolão (espécie vinas, plantadas ou não, apresentou
exótica) e grumixama (Eugenia resultados bastante satisfatórios nos
brasiliana) foram utilizadas, embora locais onde foram executadas obras
em quantidades relativamente redu- de contenção da erosão como sulcos,
zidas em decorrência da dificuldade drenagem e proteção por troncos. Isso
de transporte para as áreas de plantio. demonstra que a melhoria das con-
dições para a retenção de água e
Para acelerar o desenvolvimen-
matéria orgânica do solo, assim como
to das plantas em solos de baixa fer-
de sementes, poderia induzir, por si
tilidade foram realizados vários tra - só, a recuperação da cobertura ve -
tamentos de adubação, variando-se getal. As espécies envolvidas nesse
as dosagens de nitrogênio, fósforo e processo de colonização foram as
potássio. Os resultados da adubação mesmas presentes nas imediações
demonstraram que o crescimento das dos escorregamentos e utilizadas no
plantas respondia diretamente à pre- plantio, ocorrendo diversas outras
sença de fósforo no tratamento, não espécies, com predomínio de plantas
sendo detectados efeitos significati- herbáceas (compostas e gramíneas)
vos para o nitrogênio e o potássio (Sil- e arbustivas (melastomatáceas). In-
va Filho, 1988; Bononi, 1989). formações mais detalhadas sobre o
plantio realizado nas ravinas podem
Os resultados do plantio de - ser obtidas em Silva Filho ( 1988,
monstraram que a utilização de mate- 1991) e em Bononi (1989).

126
Em sobrevôos realizados nas 4. Semeadura aérea de espécies pi-
áreas de plantio durante a década oneiras
de 90, foi possível verificar que a ve-
getação das ravinas e áreas circun- O projeto da semeadura aérea de
vizinhas formou uma cobertura con- espécies pioneiras da Mata Atlântica
tínua. A vegetação formada asseme- nasceu de observações do processo de
lha-se, na fase inicial, a um carras - regeneração natural da floresta em
cal, onde a vegetação herbácea e ar- áreas poluídas de Cubatão (Pompéia
& Adiar, 1988; Pompéia et al.,1988b;
bus tiva formava um emaranhado
Pompéia, 1990c) e teve por base teóri-
denso com algumas espécies de lia-
ca os modelos de sucessão secundá-
nas. A regeneração de indivíduos
ria de florestas pluviais tropicais de-
arbóreos ocorreu mais lentamente.
senvolvidos durante as décadas de 70
Somente nos últimos sobrevôos, a e 80 (Gomez Pompa & Vasquez Yanes,
partir de 1999, foi possível verificar 1979), especialmente no México, Cos-
a formação de capoeiras na maior ta Rica e Brasil. Como fruto de quatro
parte das áreas beneficiadas pelo anos de pesquisas (1985 -1989), reali-
projeto. Restaram, ainda que em pe- zadas pela Cetesb e Instituto de Botâ-
queno número, ravinas cobertas com nica, foi desenvolvido um modelo de
vegetação rasteira, possivelmente recuperação da floresta inteiramente
por causa do afloramento de rocha fundamentado na sucessão ecológica
ou dos solos rasos desses locais. do próprio ecossistema degradado (Fi-
gura 4). Os trabalhos de recuperação

GRUPOS ECOLÓGICOS DE ESTRATÉGIAS MÉTODOS DE


SUCESSÃO DAS ESPÉCIES± DE RECUPERAÇÃO ALVOS RECUPERAÇÃO

_ s_ _ _l--~.. . . __
~ -- P1_0N_E_1RA Chuva ,,./ __E
_s_c_oRRE
_ _GA_M
_E_N_To_s_ _ SEMEADURA AÉREA
DE ESPÉCIES
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SECUNDÁRIAS
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"Ilhas
de -- CAPOEIRAS
ENRIQUECIMENTO DAS
FLORESTAS SECUNDÁ·

1//
Dispersão
RIAS PELO PLANTIO
de '"---
.....
~ MANUAL EM NÚCLEOS
CLIMÁCICAS CAPOEIRÕES
Sementes

* Segundo Budowski (1965)

Figura 4. Modelo de recuperação da cobertura vegetal da Serra do Mar.


foram iniciados em 1989 com um Na década de 60, o plantio aéreo de
plantio de sementes de espécies pi- espécies arbóreas passou a ser prá-
oneiras tolerantes à poluição atmos - tica corrente no Canadá e no Japão,
férica. Nessa operação, inédita no especialmente em áreas montanho-
Brasil, foi utilizado o processo de se - sas. O mesmo vem acorrendo na Aus-
meadura aérea nas escarpas da Ser- trália e na Nova Zelândia, que acu-
ra do Mar, inspirado na estratégia mulam experiências neste sentido
de regeneração por chuva de semen- há mais de 20 anos (National Acade-
tes (Pompéia et al., 1988a, 1989; my of Sciences, 1981; Akiyama &
Pompéia, 1990a e 1990b). Mori, 1990).

A experiência em regiões tro -


A semeadura aérea de espéci -
picais, embora mais recente, já
es arbóreas constitui uma alternati-
apresenta resultados positivos na
va tecnológica de reflorestamento
Índia, na Indonésia e no Havaí. Essa
que surgiu de forma empírica nos
técnica também expandiu-se para a
anos 20 e expandiu-se consideravel-
recuperação de manguezais nos Es -
mente em diversos países do Hemis - tados Unidos (Teas, 1979) e na Ín-
fério Norte a partir da década de 60. dia (Lahiri, 1991), com resultados
Mais recentemente, ela tem sido bastante satisfatórios. Na Índia, ob-
empregada em áreas tropicais, en- teve-se sucesso com plantios aére -
volvendo diversas espécies, entre os em dunas de areia utilizando -se
elas Sesbania grandiflara, Leucaena a espécie Prosopis juliflora (National
leucocephala e Acacia auriculiformis
Academy of Sciences, 1981 ).
(National Academy of Sciences,
1981). Entre as vantagens do processo
de semeadura aérea destacam-se o
Os primeiros registros de im - baixo custo de implantação das flo -
plantação de florestas por semeadu- res tas e a possibilidade de recupe-
ra aérea datam de 1926 no Havaí e rar áreas de difícil acesso ou muito
início dos anos 30 no Canadá. En- extensas. Entre as desvantagens do
tretanto, somente a partir de 1956 é método estão a desuniformidade do
que essa prática foi racionalizada e stand de plantio, a elevada perda de
passou a ser empregada em larga sementes, as restrições de nature -
escala no plantio de Pinus no sudo- za meteorológica (especialmente lon-
este dos Estados Unidos. A experi - gos períodos de seca), a predação de
ência americana envolveu o reflores- propágulos e as limitações relativas
tamento de mais de um milhão de à obtenção de sementes para plantio.
hectares de florestas de Pinus por via
aérea, com sucesso em 90% das ten- Especialistas em semeadura
tativas. Os locais que melhor respon- aérea, em reunião promovida pelo
deram à semeadura foram as terras National Research Council dos Es -
devastadas por incêndios, por inse - tados Unidos, em 1979, recomenda-
tos ou por tornados, as áreas de mi- ram a aplicação dessa técnica em
neração e as áreas de difícil acesso. regiões tropicais com acelerada

128
destruição de florestas, citando en- Dentre as espécies arbóreas se-
tre outras a Amazônia e o litoral do lecionadas destacam-se ·as melastoma-
Brasil (National Academy of Scien- táceas (Tibouchina, Miconia), as figuei-
ces, 1981 ). Entre as recomendações ras (Ficus) e as embaúbas (Cecropia)
para pesquisa, em paises interessa- entre outras, todas pioneiras e com
dos no desenvolvimento da técnica sementes de tamanho pequeno. Para
de semeadura aérea, sobressaem-se: contornar as limitações advindas do
reduzido peso das sementes empre-
1
1. o estudo das características bio - gadas (inferior a O, 1 mg) e evitar sua
lógicas das espécies arbóreas po- dispersão pelo vento e a retenção pela
tencialmente aptas, quanto aos vegetação herbácea e arbustiva exis-
aspectos ligados à germinação de tente, aplicou-se a técnica de peleti-
sementes e estabelecimento de zação em gel h idrofílico para aumen-
plântulas ; · tar o peso e o volume das sementes e
permitir seu lançamento por via aé -
2. a identificação de áreas e épocas rea (Pradella et al., 1992; Pompéia et
de plantio mais adequadas; al. 1989).

3 . a pesquisa em produção e tecno- O processo de peletização (Figu-


logia de sementes; ra 5 ), desenvolvido juntamente com o
Agrupamento de Biotecnologia do Ins-
4. a seleção de técnicas para o pre- tituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT},
paro do terreno a ser semeado, é conseguido a partir do gotejamento
de uma solução de alginato de sódio
5. a melhoria dos equipamentos de comercial, contendo sementes em
lançamento aéreo de sementes e suspensão, em uma solução de clo-
reto de cálcio (geleificação), e resul-
6. a utilização de microrganismos ta em estruturas gelatinosas esféri-
benéficos associados às semen- cas, com aproximadamente 4 mm de
tes (p. ex., micorrizas e bactérias diâmetro, contendo diásporas de ta-
fixadoras de nitrogênio). manhos reduzidos (inferiores a 3 mm
de diâmetro). A Figura 6 mostra o
Para a semeadura aérea da Ser- equipamento desenvolvido pelo IPT e
ra do Mar em Cubatão a seleção de a Cetesb, capaz de produzir 400 kg/
espécies baseou-se em quatro crité - dia de pelotas (pellets) de gelatina
rios: 1 º) pertencer à Mata Atlântica; contendo sementes de espécies pio-
2º) possuir caráter pioneiro (heliófi- neiras da Mata Atlântica. O produto
obtido é transparente e facilita a ger-
las de rápido crescimento); 3º) ser
minação de sementes fotoblásticas
tolerante à poluição de Cubatão e 4º)
positivas (caso da Tibouchina e de ou-
produzir sementes (ou esporos) em tras espécies pioneiras) e o desen-
grandes quantidades . Foram seleci- volvimento inicial das plântulas em
onadas cinco espécies de samambai- seu interior. O gel permite as trocas
as, quinze espécies arbóreas e doze gasosas, a retenção de água e nutri-
arbustivas (Pompéia et al., 1989; entes e a proteção mecânica das es-
Pompéia, 1990a, 1995 ). truturas de reprodução .

129
COLETA DE SEMENTES 1 GEL HIDROFÍLICO +

BENEFICIAMENTO
• 1
H 2 O + ADITIVOS

.__P_E_s_A_g_E_ER_M_M_~_J_;;_~-~-T~_s_n_E__.I ~ ..---------. ----- 1 DissoLuçÃo


HOMOGENIZAÇÃ .----

GELEIFICAÇÃO

.___L_A_V_A~G_E_M_~------►► 1 SECAGEM

.---P-L_A_._N_T-I0----,1 ~
Figura 5. Técnica de peletização de sementes em gel hidrofilico.

Figura 6. Detalhe do equipamento de-


senvolvido para a peletização de semen-
tes de espécies pioneiras para semea-
dura aérea de áreas degradadas da Ser-
ra do Mar, Cubatão.

130
A peletização em gel hidrofílico Mata Atlântica em Cubatão. Foram,
confere maior eficácia à semeadura ainda, adicionados cerca de 40 kg de
aérea de sementes de tamanho re - esporos de pteridófitas externamen-
duzido, mas apresenta uma forte res- te às sementes peletizadas.
trição em relação à umidade do solo
na área de plantio: o dessecamento A primeira semeadura aérea foi
do pellet entre a germinação da se - efetuada no período chuvoso de
mente e o enraizamento da radícu- 1988 / 89 em diversas áreas degrada-
la, pode resultar em morte de plân- das distribuídas em cerca de 15 km 2
tulas. O método, no entanto, foi ade- da Serra do Mar, consideradas como
quado às condições da Serra do Mar, de maior risco de escorregamentos
onde a umidade é elevada e cons - com base em estudos geotécnicos
tante. elaborados pelo Instituto de Pesqui-
sas Tecnológicas - IPT (Budowski,
As sementes peletizadas foram 1965). A superfície efetivamente se-
destinadas ao plantio em escorrega- meada foi de aproximadamente 70 ha:
mentos, com solo nu ou em fase de 59 ha de capoeiras fortemente degra-
colonização por espécies invasoras, dadas com baixo potencial de regene-
e ao replantio das demais áreas des - ração natural, e 11 ha representados
providas de vegetação arbórea, espe- por 104 escorregamentos. Destes, 53
cialmente nas escarpas mais atingi- apresentavam solo nu, 5 tinham bra-
das pelas emissões de poluentes. quiária e em 46 ocorria vegetação de
porte herbáceo em início de regenera-
A coleta de sementes foi reali- ção (Figura 7).
zada por uma equipe de dez matei-
ros, no período de setembro de 1988
a março de 1989, sendo coletados
cerca de 750 milhões de
sementes viáveis de ár-
vores e arbustos, dos
quais 383 milhões de
sementes correspondi-
am aos manacás-da-ser-
ra (Tibouchina pulchra e
T. mutabilis) - principais
espécies pioneiras da

Escorregamentos em
Figura 7 . Localização dos Início de regeneração
alvos de plantio da semea- Escorrega!T'l!ntos com
solo nu
dura aérea realizada em
Escorregamentos com gnrníreas
Cubatão em 1989.

131
A semeadura do ano de 1989 foi valor pode ser sensivelmente redu-
realizada em duas etapas. Na primei- zido por causa das condições físicas
ra, com duração total de dez horas inadequadas do sítio exato de fixa-
de vôo, nos dias 15 e 16 de fevereiro, ção de cada pellet e, posteriormente,
foram utilizados helicópteros do tipo da alta mortalidade esperada na fase
Esquilo, da FAB - Força Aérea Brasi- inicial de estabelecimento da plân-
leira . Na segunda etapa com dura- tula, principalmente, quando ocorre
ção de seis horas, nos dias 13, 14 e a dessecação do local semeado.
18 de abril, foi utilizado um avião
agrícola Ipanema equipado com se - Os dados do estabelecimento
meador Tetraer. A uniformidade, a das plântulas após seis meses da
versatilidade e a rapidez da semea- semeadura aérea encontram-se na
dura por aviões agrícolas e os conse- Tabela 2. Observa-se uma alta vari-
qüentes reflexos no custo da opera- abilidade no estabelecimento de
ção indicam que eles são mais efici- plântulas de acordo com a cobertura
entes para a semeadura aérea. Os vegetal, com a declividade e demais
helicópteros, de custo mais elevado, características do local de monito -
são mais adequados para alvos pon- ramento (exposição de vertentes e
tuais de plantio ou para locais muito solos). Esse comportamento reflete
distantes de pistas de pouso, onde o a variabilidade esperada para as con-
emprego de aviões agrícolas torna- dições bastante heterogêneas, como
se inviável (Pompéia, 1995). A Figu- as encontradas na Serra do Mar em
ra 8 mostra pellets com sementes em Cubatão. Entretanto, a densidade
processo de germinação. média do conjunto de todas as par-
celas, cerca de 1, 1 plântula/m 2 , foi
Para a estimativa do número de considerada satisfatória, sendo su -
sementes germinadas até 45 dias perior à densidade de mudas de es-
após a semeadura aérea, pellets fo - pécies arbóreas empregadas em plan-
ram recolhidos das áreas semeadas tios convencionais que, em geral, são
e avaliados em laboratório. Utilizan- inferiores a 0,5/m2 (uma planta para
do o número médio de sementes ger- dois metros quadrados que eqüivale
minadas por pellet recolhido e o nú- a um espaçamento de 2,0 m x 1,0 m).
mero total de pellets semeados, a
estimativa, baseada na premissa da
existência de condições favoráveis à
germinação tais como as existentes
nos testes em laboratório, foi de 122
milhões de sementes germinadas,
correspondendo a cerca de 13 % do
total de sementes lançadas por via
aérea. Esse número é uma estima -
tiva baseada na premissa da existên-
cia de condições favoráveis à germi-
nação, como as existentes nos tes -
tes de laboratório. Em campo, esse Figura 8. Pellets com sementes germinando.

132
Nas áreas sob linhas de o estabelecimento de plantas semea-
transmissão de energia de alta tensão, das (parcelas 11 e 12).
ocupadas por arbustos do gênero
Tetrapterys (Malpighiaceae) (par - Nas áreas de capoeira degrada-
cela 21) não foi observado nenhum da (sem deslizamentos), que repre -
sinal de germinação de sementes sentam mais de 84% da área seme-
(semeadas ou não), podendo ter ada (parcelas 16 a 20), o estabeleci-
havido uma inibição por excesso de mento de plântulas foi, em média,
sombreamento ou por substâncias de 1,3 plântulas/m 2 • Em escorrega-
alelopáticas. Entretanto, essas áreas mentos com regeneração natural da
são insignificantes, representando vegetação (parcelas 13, 14 e 15), ob-
menos de 1 % da superfície total teve-se cerca de 0,33 plântula/m2.
semeada. Nas áreas plantadas com
gramíneas do gênero braquiária A Tabela 2 permite ainda verifi-
ocorreu a germinação das sementes, car que nos escorregamentos com
mas por causa da competição resul- solo nu (parcelas 1 a 10) a densida-
tante do adensamento dessas de média de plântulas oscilou de 0,5
gramíneas não houve ou foi reduzido a 2, 1 plântulas/m 2 , atingindo 4,9

Tabela 2. Densidade de plântulas nas parcelas de


monitoramento após seis meses da semeadura aérea.

Parcela de Densidade (plãntulas/m2 )


Tipologia das áreas semeadas
monitoramento Total* Tibouchina**
1,7 0,8
2 2,15 0,8
3 0,5 0.4
Cicatrizes de 4 0,8 0,6
escorregamentos
5 0 ,6 0,4
recentes
(com solo nu) 6 0,7 0,4
7 0,8 0,5
8 0 ,5 0,2
9 0,7 0,3
Sopé de escorregamento 10 4 ,9 2,6
Escorregamentos com 11 0,0 0,0
braquiária plantada 12 0,6 0,1
13 0,2 O, 1
Escorregamentos antigos em
14 0,4 0,2
regeneração natural
15 1,5 0,7
16 1,8 0.4
17 1, 1 0 ,2
Capoeiras
18 1,5 0,2
degradadas
19 2,0 2,0
20 0,9 0,9
Área com Tetrapterys 21 0,0 0,0

* Refere -se ao conjunto de espécies semeadas


** Refere-se a plântulas de manacá-da-serra (T. pulchra e T. mutabillis)

133
plântulas/m 2 na base de um escor- cinco vezes mais plântulas no sopé
. regamento monitorado (parcela 10). do que na porção central dos escor-
Essa concentração de plântulas na regamentos com solo nu. Mesmo com
base (sopé) deve-se tanto ao carrea- esse transporte, não foram observa-
mento de pellets, proporcionado pela dos valores inferiores a 0,5 plântu -
declividade durante a semeadura e la/m2 no centro dos deslizamentos,
posteriormente pelas águas de chu- valor que pode ser considerado sa-
va, como às condições de maior umi- tisfatório para a finalidade do reflo-
dade e nutrientes do solo favorecen - restamento. As Figuras 9 e 1O mos -
do a germinação e o estabelecimen- tram os resultados monitorados da
to das plantas . Observa-se cerca de semeadura aérea em Cubatão.

' Figura 9 . Plântula de Cecropia spp. re-


'tw''-;,.~ r..1~ sultante de semeadura aérea, desenvol-
vendo-se em Ravina de Cubatão

140 - Interior de escorregamentos recentes


D Áreas vegetadas
120
I Desvio
padrão

100

Ê
~
80
~
::,

~
60

40

20 Figura 10. Crescimento em al -


tura de espécies semeadas por via
aérea na Serra do Mar em
Cecrop ia glaziovii Micon ia spp Tibouchina pulch r a Metastomataceas Cubatão, dezoito meses após o
arbustivas plantio.

134
Após cerca de 18 meses do Em sobrevôos realizados em 1994
plantio realizou-se uma avaliação do e 1999 foi constatada a cobertura do
crescimento em altura de algumas solo por indivíduos arbóreos em prati-
espec1es representativas da camente todas as áreas semeadas. A
semeadura, em três condições permanência de um estrato herbáceo-
distintas de plantio (Figura 10). Os arbustivo foi observada apenas nos lo-
resultados indicam que a resposta de cais situados em locais de relevo es-
crescimento está diretamente carpado, possivelmente por causa das
relacionada às condições de solo da limitações impostas ao estabelecimen-
área semeada, ocorrendo uma to de indivíduos arbóreos pelo solo ex-
diferença significativa entre o cessivamente raso . Levantamento ex-
interior de escorregamentos com solo pedito de campo, realizado dez anos
nu e as demais áreas onde o teor de após a semeadura aérea, indicou a
nutrientes e a capacidade de formação de uma capoeira com franco
retenção da água são maiores. predomínio de Tibouchina, com um es-
trato arbóreo contínuo de aproxima-
Em virtude da reduzida área damente 6 metros de altura, em es -
amostrada durante o monitoramen- corregamentos desprovidos de vegeta-
to não foi possível uma análise mais ção à época da semeadura. Verificou-
profunda sobre o estabelecimento e se também a colonização por espécies
desenvolvimento das diversas espé- arbóreas no sub-bosque, indicando o
cies semeadas. As precárias condi - prosseguimento da sucessão secundá-
ções de acesso e a necessidade de ria. A Figura 11 ilustra resultados de
se realizar o monitoramento com semeadura por via aérea em Cubatão,
equipamentos de segurança limita- mostrando área de ravina com arbo-
ram o número de parcelas monitora- retas de manacá- da-terra (Tibouchina
das. A obtenção de pulchra).
uma quantidade sufi-
ciente de dados para
permitir uma análise
estatística mais con-
fiável do crescimento
e mortalidade só foi
possível em plantas
de manacás-da-serra,
por representarem
mais de 50 % das se-
m entes lançadas,
tendo sido observadas
em praticamente to -
das parcelas de mo -
n itoramento (Pompéia
et a l. , 1992b).

Figura 11. Ravina após três anos de semeadura por via aérea.

135
O custo do plantio de um hec- 1994). A localização e o dimensio -
tare por via aérea em Cubatão, equi- namento dos bosques seguiram cri-
valente a US$ 386,00/ha, foi cerca térios estratégicos quanto ao acesso
de um terço do custo do plantio ho- à manutenção e principalmente quan-
mogêneo de eucaliptos em larga es - to ao potencial de dispersão das se-
cala, que se aproxima de US$ mentes produzidas para as áreas vizi-
1.000,00/ha em algumas áreas do nhas (Japan Intemational Cooperation
Estado de São Paulo. Na Nova Zelân- Agency, 1991). Por envolver um gru-
dia, a relação de custo entre semea- po de espécies mais raras e de ca-
dura aérea e o plantio manual che - racterísticas auto -ecológicas pouco
gava a ser de um para dez (National conhecidas, optou-se por realizar o
Academy of Sciences, 1981 ). Para plantio manual com mudas produzi-
avaliar a relação custo-benefício des- das em viveiros. A Figura 12 ilustra
se projeto utilizou-se também a re - o plantio de enriquecimento de ca-
lação existente entre o custo de pro- poeiras em áreas degradadas de Cu-
dução por via aérea de uma planta ba tão.
de 50 cm de altura e o custo de uma
muda similar de espécie nativa pro-
duzida em viveiros convencionais. No
primeiro procedimento o custo foi de
aproximadamente US$ 0,05 (cinco
centavos de dólar) por planta, enquan-
to que o preço de mercado de uma
muda similar é cerca de US$ 0,50,
isto é, dez vezes superior. Essa rela-
ção seria mais favorável à semeadu-
ra aérea se fossem computados os
custos de plantio das mudas nas con-
dições da Serra do Mar.

5. Plantio de mudas de espécies


arbórea

Na segunda fase do modelo de


recuperação (Figura 4), cujo objetivo
era restaurar a biodiversidade carac-
terística da floresta pluvial tropical,
previu-se a implantação de bosques
(núcleos ou "ilhas") de vegetação ar-
bórea com alta diversidade, reintro-
duzindo as espécies secundárias tar-
dias e climácicas da Mata Atlântica Figura 12. Plantio de enriquecimento com
(Cetesb, 1985; Pompéia, 1990a; Pom- espécies arbóreas de estágios avançados de
péia et al., 1992a; Mendonça et al., regeneração natural.

136
Assim, em 1993, foram implan- pode ser atribuído à pouca luz exis-
tados três bosques experimentais, de tente no interior das capoeiras . As -
um total de 20 previstos inicialmente sim, as mudas introduzidas na área-
pelo projeto. As áreas escolhidas re- controle , sem poluição e mais som-
presentavam duas diferentes situa- breada, geralmente apresentaram
ções de poluição do ar e uma área- menor crescimento que em áreas
controle . Foram plantadas 430 mu- poluídas. Nos locais poluídos, embo-
das por bosque pertencentes a 35 es- ra se observem sintomas de efeitos
pécies arbóreas da Mata Atlântica. As tóxicos da poluição em algumas das
mudas , produzidas em sacos plásti- espécies plantadas, o dossel é mais
cos, com mais de seis meses de ida- aberto , possibilitando melhor ilumi-
de, apresentavam alturas variando de nação das plantas e seu maior de -
0 ,30 a 1,50 m. O plantio foi realizado senvolvimento. Portanto, a avaliação
no interior das capoeiras existentes dos resultados obtidos nesses plan-
à época. As mudas foram distribuí- tios não permite uma conclusão es -
das em 16 linhas de 100 metros de tatisticamente válida sobre o efeito
comprimento, com uma faixa de 6 direto da poluição no desenvolvimento
metros entre si e um espaçamento das espécies arbóreas.
de 4 metros entre mudas. O plantio
foi monitorado entre 1993 e 1999. Os Entretanto, pode -se concluir
resultados obtidos com uma avalia- que a contribuição do enriquecimen-
ção detalhada do comportamento de to relatado para a melhoria das con-
cada espécie estudada quanto ao dições do solo e dos aspectos hidro-
crescimento, mortalidade e presen- lógicos da floresta é inexpressivo se
ça de injúrias decorrentes da polui- comparado com o plantio das ravinas
ção do ar encontram-se em Machado e à semeadura aérea. Isso pelo fato
et al. (2000) . O maior crescimento das de a biomassa produzida ser muito
espécies utilizadas não ultrapassou pequena após seis anos do plantio. A
a altura média de 3 ,0 metros, tendo contribuição do enriquecimento com
sido registrado para a população de espécies arbóreas de estágios mais
Cordía superba plantada em área po- avançados para o ecossistema flores -
luída, próxima às indústrias de ferti- tal só poderá ser avaliada em longo
lizantes . As demais apresentaram prazo, quando ocorrer a frutificação
crescimento em geral bastante infe- e a dispersão das sementes, e ao se
rior , especialmente na área -contro- analisar o potencial de regeneração
le, que era mais sombreada. natural delas no interior das flores -
tas secundárias.
O plantio de espécies arbóreas
não pioneiras, visando ao enriqueci-
mento das capoeiras formadas na 6. Considerações finais e recomen-
Serra do Mar em Cubatão, resultou dações
no desenvolvimento reduzido das ár-
vores reintroduzidas, mesmo consi- À época, o custo de produção por
derando que são espécies de cresci- semeadura aérea de uma planta
mento lento. Este comportamento de 50 cm de altura foi 10 vezes

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menor do que o custo de um muda 7. Referências Bibliográficas
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