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Princípios Éticos e Manejo de Animais em

Pesquisa

Módulo: Roedores e Lagomorfos


Hamster Sírio: anatomia, fisiologia,
comportamento e modelo
experimental

Claudia Madalena Cabrera Mori


FMVZ/USP
claudiam@usp.br
Hamster Sírio

1 Classificação 4 Reprodução

Manejo, alojamento e
2 Origem 5 nutrição

Características
O hamster como
3 anatômicas, fisiológicas
e comportamentais
6 modelo experimental
Classe: Mammalia

Ordem: Rodentia

Família: Cricetidae

Taxonomia Gênero/Espécie:

• Mesocricetus auratus - hamster Sírio


• Cricetulus griseus - hamster Chinês (striped-
back)
• Cricetus cricetus - hamster Europeu
• Phodopus sungorus - hamster anão Siberiano
Cricetulus griseus
Mesocricetus auratus

Cricetulus griseus

Cricetus cricetus

Cricetus cricetus
Mesocricetus auratus x Cricetus cricetus
Origem

• 1779 – 1ª descrição do hamster Sírio:


Alexander Russell - The Natural History of
Aleppo, 2ª edição.
• 1839 – Waterhouse descreveu o hamster
Sírio como sendo uma nova espécie.

"GRWaterhouse". Via Wikimedia Commons -


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:GRWat
erhouse.jpg#/media/File:GRWaterhouse.jpg
Saul Adler
Professor de Parasitologia da
Universidade Hebraica de
Jerusalém

Origem

Israel Aharoni
Professor do Departamento de
Zoologia da Universidade
Hebraica de Jerusalém
"Israel Aharoni". Licensed under PD-US via Wikipedia -
https://en.wikipedia.org/wiki/File:Israel_Aharoni.jpg#/media/File:Israel_Aharoni.jpg
Origem

1930: Aharoni – Expedição Aleppo no


deserto da Síria

ADLER S. Origin of the golden hamster Cricetus


auratus as a laboratory animal. Nature. 1948 Aug
14;162(4111):256. doi: 10.1038/162256b0.
“Prof. Aharoni brought back a litter of eight
golden hamsters collected near Aleppo which he
reared and presented to the Department of
Parasitology in July 1930. Four of the animals
escaped, one female was killed by a male and only
three animals - one male and two females (all
litter mates) - remained.”
Origem

1948 - 1951
1938

Albert Marsh: 1ª
criação de hamsters
como pet.
Origem
Alemanha 1960???

• Nilsson e Corrêa: utilizaram o hamster como modelo animal para o isolamento do herpes vírus equino
tipo I, a partir de 1963
Nilsson MR & Corrêa WM. Isolamento do vírus do aborto equino no Estado de São Paulo. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, 33(2): 23-25, 1966.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/?term=Golden+
Syrian+Hamster&timeline=expanded

Dutta S, Sengupta P. Age of Laboratory Hamster and Human:


Drawing the Connexion. Biomed Pharmacol J 2019;12(1).
Available from: https://bit.ly/2FIP2v3
Principais
Características
• Hábitos noturnos.
• Fêmea maior que o macho e com maturidade
sexual mais precoce.
• Pelagem dourada, com a região ventral cinza claro;
entretanto, a cor pode variar do albino ao marrom
escuro.
• Em algumas situações precisam ser alojados
individualmente devido à agressividade entre
coespecíficos.
Principais
Características

• Pele abundante e flácida.


• Pelo curto e macio.
• Corpo compacto e cauda muito curta.
• Bolsas guturais: invaginações da parede
bucal lateral e se estendem dorso-
lateralmente até a região das escápulas.
• Crescimento contínuo dos incisivos.
• 5a espécie mais utilizada nos Estados
Unidos; depois dos camundongos, ratos,
coelhos e cobaias.
Principais
Características
• Machos possuem glândulas
laterais no flanco bastante
desenvolvidas e testículos
proeminentes.
• Número de cromossomos
diplóides = 44
• Possui quatro dígitos nos
membros anteriores e cinco nos
posteriores.
Principais
Características
• Na natureza os hamsters são animais de hábitos
noturnos.
• Geralmente vivem solitários em tocas escavadas no
chão, que garantem temperaturas mais baixas e
umidade mais alta do que o ambiente no deserto.
Características
Anatômicas e Fisiológicas
• Bolsas guturais – sítio de privilégio
imunológico (desprovidas de glândulas e
de drenagem linfática): utilizadas para
estudos da microvasculatura, implante de
tumores.
Características
Anatômicas e Fisiológicas

• Diferente de outros roedores, o esôfago


entra no meio entre os compartimentos
aglandular (pré-estômago) e glandular do
estômago.
• O pré-estômago não glandular
assemelha-se ao rúmen de ruminantes,
com elevado pH e presença de
microrganismos para fermentação dos
alimentos.
• Devido à adaptação ao clima do deserto,
o colón é relativamente mais longo do
que em outros roedores, aumentando a
reabsorção de água.
• Os hamsters são coprófagos.
Hamster
Temperatura corporal 37-38°C
Frequência cardíaca (batimentos por minuto) 250-600
Frequência respiratória (movimentos por minuto) 35-120
Variação de peso (g): macho adulto 80-150
Variação de peso (g): fêmea adulta 80-180
Peso: neonato (g) 8-12

Parâmetros Consumo de água (diário; ml)


Consumo de ração (diário; g)
10
10

fisiológicos Tempo de vida (anos)


Idade da maturidade sexual (dias)
Frequência do ciclo estral
1,5-2
42-70
4d
Duração do estro (horas) 20
Tempo de gestação (dias) 15-16
Tamanho médio da ninhada 5-10
Frequência de amamentação (por dia) >10
Filhotes começam ingerir alimento sólido (dias) 7-10
Idade de desmame (dias) 21
Vida reprodutiva (meses) 12
Reprodução
• Não se deve trocar a gaiola das
fêmeas na 1ª semana pós parto.

• Fêmeas que são submetidas ao


estresse tendem a canibalizar os
filhotes.

• A fêmeas introduzem os filhotes


nas bolsas que podem sufocar.
Sexagem: hamster



Manejo, alojamento e
Nutrição

• Na natureza alimentam-se principalmente de


grãos, mas a dieta também inclui plantas,
raízes, insetos e frutas.
• Em laboratório: ração comercial para ratos e
camundongos.
• É aceitável fornecer parte da ração dentro da
gaiola. Os hamsters têm dificuldade de comer
a ração na grade devido ao formato do
focinho.
• O bico do bebedouro deve ser mais longo
para que os filhotes tenham acesso a água.
Normas e – Espaço mínimo para as diferentes espécies animais:
Animais Peso (g) Espaço/animal (cm2) Altura (cm)
Recomendações Camundongos <10 38,7 12,7
em grupos 10-15 51,6 12,7
15-25 77,4 12,7
>25 96,7 12,7
Fêmea + 330 12,7
ninhada
Ratos em grupos <100 109,6 17,8
100-200 148,35 17,8
200-300 187,05 17,8
300-400 258,0 17,8
400-500 387,0 17,8
>500 451,5 17,8
Fêmea + 800 17,8
ninhada
Hamsters <60 64,5 15,2
60-80 83,8 15,2
80-100 103,2 15,2
http://www.nap.edu/catalog/12910.html >100 122,5 15,2
(Resolução Normativa 15 – CONCEA-MCT, 16 de dezembro de 2013)
O hamster como modelo experimental

Bolsas guturais: ausência de resposta imune


Pesquisas com câncer (câncer de bexiga e renal)
Suscetibilidade à tumores induzidos por vírus
Imunobiologia
Doenças infecciosas
Doenças genéticas: trombose atrial, epilepsia distrofia muscular
Teratologia
O hamster como modelo experimental
• Fisiologia renal
• Hibernação
• Estudos reprodutivos
• Comportamento e neurociência
• Morfologia do trato respiratório semelhante à
humanos
• Trato gastrointestinal (fermentação)
• Sensibilidade à antibióticos
Modelo de Estudo de Doença Infecciosas
Doenças Parasitárias
• Toxoplasmose – Infecção generalizada (subclínica a fatal e
aguda a crônica).
• Babesiose – sinais clínicos e alterações patológicas
semelhantes a infecção em humanos pela a brucella
microti.
• Leishmaniose – primeira infecção experimental estuda em
hamsters.
• Malária – pode ser estudada na mucosa da bolsa gutural
após inoculação intraperitoneal de hemácias parasitadas.
Doenças Bacterianas
• Sífilis – desenvolvem lesões de pele após inoculação
intradérmica do Treponema pallidum bosnia A e T. pallidum
pertenue. Desenvolvem somente a fase primária e
secundária da doença.
• Micobactéria (Mycobacterium bovis) – testes de vacina
BCG
• Lepra – os hamsters foram os primeiros animais de
laboratório utilizados em estudos sobre lepra
• Modelos de estudo para infecções por Mycoplasma
pneumoniae em humanos
• Clostridioses
Modelo clássico para o
Doenças Bacterianas estudo da leptospirose
Doenças Virais
• Encefalite Equina Venezuelana (VEE)
• Encefalite de St. Louis
• Febre Amarela, Estomatite Vesicular, Newcastle - Infecções
assintomáticas
• Varíola – estudos genéticos da resposta imune citotóxica
• Herpesvírus – letal em hamsters adultos que são utilizados
para estudo da eficácia de antivirais
• Herpesvírus equino – alterações respiratórias e
neurológicas
• Machupo e Junin – hamster neonatos são o modelo animal
mais sensível para o isolamento dos agentes da febre
hemorrágica boliviana e argentina.
https://science.sciencemag.org/content/368/6494/942/F1.large.jpg
Modelo de estudo da COVID-19

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/?term=golden
+syrian+hamster+sars-cov-2
Principais conceitos abordados
• Origem do hamster de laboratório;
• Principais características anatômicas, fisiológicas e comportamentais;
• Características reprodutivas;
• Manejo, alojamento e nutrição;
• Potencial modelo animal para o estudo de doenças infecciosas.;
• Importante no estudo de diversos tipos de câncer;
• Modelo animal para doenças periodontais e cáries e
• Modelo natural para estudo da COVID-19.
Referências complementares
✓ Balls M. Replacement of animal procedures: alternatives in research, education and testing. Lab Anim. 1994
Jul;28(3):193-211. doi: 10.1258/002367794780681714.
✓ Corte GM, Humpenöder M, Pfützner M, Merle R, Wiegard M, Hohlbaum K, Richardson K, Thöne-Reineke C, Plendl
J. Anatomical Evaluation of Rat and Mouse Simulators for Laboratory Animal Science Courses. Animals (Basel).
2021 Dec 1;11(12):3432. doi: 10.3390/ani11123432.
✓ Boas Práticas em Experimentação Animal. Disponivel em: <https://sites.usp.br/bpeanimal/> Acesso em
20/fev/2023
✓ CONCEA – Conselho Nacional de Controle da Experimentação Animal - Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação. Disponível em: <https://www.gov.br/mcti/pt-br/composicao/conselhos/concea> Acesso em
20/fev/2023
✓ InterNICHE - International Network for Humane Education. Disponível em: < www.interniche.org// > Acesso em
20/fev/2023
✓ National Centre for Replacement Refinement and Reduction of Animals in Research - NC3Rs. Disponível em:
<https://www.nc3rs.org.uk/> Acesso em 20/fev/2023
✓ Research Animal Training – RAT. Disponível em: < https://researchanimaltraining.com/> Acesso em 20/fev/2023
✓ Translational Training Tools. Cornell Center for Animal Resources and Education. The Joy of Training Cookbook -
Volume 1: Recipes for Crafting Your Own Purpose-Specific Training Tools for Non-Surgical Procedures. Disponível
em: <https://ras.research.cornell.edu/care/3T.html> Acesso em 20/fev/2023
Contato para esclarecimento de dúvidas
cebiot_curso@icb.usp.br

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