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Teixeira L, Pires PGS. Medvep Dermato - Revista de Educação Continuada em Dermatologia e Alergologia Veterinária; 2014; 3(8); 26-33.
Resumo
Hamsters são animais de estimação comum nos lares por serem dóceis, carinhosos, demandar pou-
cos cuidados e ter baixo custo com a manutenção. Possuem tempo de vida que varia entre 18 e 24
meses em média. São animais predominantemente noturnos, com pouca atividade durante o dia. São
saudáveis e robustos, raramente apresentando algum tipo de enfermidade. Porém, problemas como
alopecia, presença de prurido e lesões cutâneas são frequentes e geralmente inespecíficas, necessi-
tando investigação atenta. Estes sinais podem estar relacionados a problemas diretos da pele, ou ser
reflexo de alterações sistêmicas ou desequilíbrio nutricional.
Abstract
Hamsters are common as companion animals due to their low cost and simple maintenance. Their
normal lifespan is from 18 to 24 months on average. They tend to sleep during the day and are wide
awake at night. They are generally healthy animals, however alopecia, pruritus and skin lesions are
common and often nonspecific requiring careful investigation. These signs can be related directly to
skin problems, or be reflective of systemic changes or nutritional imbalance.
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Medvep Dermato - Revista de Educação Continuada em Dermatologia
e Alergologia Veterinária (2014); 3(8).
Revista de Educação Continuada em
Dermatologia e Alergologia Veterinária
Doenças de pele em hamsters: revisão de literatura
Macho Fêmea
Comum aos dois visíveis na fêmea (2,3). Estas são glândulas sebáceas
sexos
que estão associadas à transformação de testostero-
Longevidade
média (meses)
- - 18 - 24 na em di-hidrotestosterona e têm sido consideradas
como características sexuais secundárias nos ma-
Maturidade sexual
média (dias)
- - 42
chos (3). O hamster russo não possui glândulas no
Duração do ciclo flanco, mas apresenta uma glândula ventral (2).
- A cada 4 dias -
estral A diferenciação sexual se baseia na distância en-
Tempo de gesta-
- 15 a 21 -
tre os orifícios anal e genital. No macho, à distância
ção (dias)
ano-genital é maior que na fêmea (2).
Cio pós-parto - Infértil - Na natureza, os hamsters são animais solitários
e muito territoriais, sendo difícil formar um grupo.
Tamanho da
ninhada
- - 5 a 9 indivíduos Nas residências, a gaiola deve ser equipada com ro-
Idade do des-
das, túneis e ninhos e deve ser bem fechada, pois
- - 20 a 25
mame (dias) os hamsters possuem grande tendência e agilidade
Temperatura retal
- - 37 – 38
para escapar de caixas mal fechadas (1). A cama
(°C)
pode ser composta de maravalha ou folhas de papel
Frequência
- - 250-500 toalha e deve ser trocada frequentemente.
cardíaca (bpm)
O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão bi-
Frequência respi-
ratória (mrm)
- - 35-135 bliográfica sobre as dermatoses em hamsters, con-
Adaptado de: Pessoa, C. A. Rodentia – Roedores de Companhia (Hamster, Gerbil, siderando a apresentação clínica, os métodos diag-
Cobaia, Chinchila, Rato). In: Catão-Dias, J. L et al. Tratado de Animais Selvagens.
São Paulo: Roca, 2007, pag. 437. Quinton, J-F. Novos animais de estimação: peque-
nósticos empregados e tratamentos usuais.
nos mamíferos. São Paulo: Roca, 2005.
Tabela 1 - Informações biológicas e fisiológicas gerais sobre Principais dermatoses
Hamsters.
Manifestações cutâneas como alopecia, eritema,
crostas e prurido são comuns na clínica de peque-
nos animais, sendo os hamsters também afetados.
São animais onívoros e praticam coprofagia A rarefação de pelos que evolui para alopecia é uma
constantemente, o que lhes permite a reabsorção das síndrome frequentemente observada em hamsters
vitaminas como a cianocobalamina e ácido fólico idosos (2,7). A alopecia também pode ser causada
(1,2,4). A dieta deve ser composta de ração granula- pelo calor excessivo e por alergia aos componentes
da específica para hamsters com no mínimo 16% de da cama (maravalha).
proteína e de 4% a 5% de lipídeos, para evitar que Os sinais clínicos são inespecíficos podendo es-
o animal consuma somente grãos e sementes, o que tar relacionados a problemas diretos da pele, ou
pode induzir a um desequilíbrio nutricional, além serem reflexo de alterações sistêmicas ou desequi-
de deficiência de minerais e vitaminas (2,5,6). Pe- líbrio nutricional (figura 1). Em animais jovens com
quenas porções de frutas e vegetais verdes frescos alopecia deve-se investigar se o teor de proteínas da
podem ser adicionadas, assim como cenoura crua dieta não está abaixo de 16% (2,6).Nestes casos, a
(5,6). O consumo diário de água por um hamster é correção da dieta e o uso de suplementos vitamíni-
de 4 a 8 mL/100g de peso corporal (2). cos específicos para hamsters auxiliam na resolução
Anatomicamente, o hamster apresenta os dentes do problema. Em animais jovens com alopecia de-
incisivos com crescimento contínuo, enquanto os ve-se investigar se o teor de proteínas da dieta não
molares têm crescimento limitado (2,4). Por isso, é está abaixo de 16% (2,6). A alopecia também está
importante o fornecimento de alimentos fibrosos ou associada à doença renal crônica, amiloidose, hipo-
blocos minerais para favorecer o desgaste dos dentes tireoidismo e neoplasia nas adrenais (6).
(4). São animais recoletores e possuem bolsas faciais O diagnóstico é importante para estabelecer o
que são evaginações da cavidade oral que se esten- tratamento correto, porém nem sempre é possível.
dem da boca, ao longo da cabeça e pescoço, até as Algumas causas de alterações cutâneas estão des-
escápulas, nas quais armazenamos alimento (1,4). critas abaixo. É importante observar a medicação
O hamster sírio possui glândulas odoríferas lo- e doses utilizadas por serem animais de peso di-
calizadas em cada lado do flanco, de coloração es- minuto. A tabela 2 resume a medicação utilizada
cura, bastante visíveis no macho, menores e menos nestes casos.
Ácaros
O Notoedres notoedres é um ácaro específico de
hamsters e está associado a infecções no meato
acústico. Os sinais clínicos associados podem ser
meneios de cabeça, alopecia localizada, acúmulo de
secreção serosa e de crostas marrons no pavilhão
auricular (1,2). O Sarcoptes scabiei pode, ocasional-
mente, infectar a cabeça ou o corpo desse animal,
sendo alopecia, prurido, eritema, escoriações e ul-
Figura 1 - Hamster chinês (Cricetulus griseus), adulto, macho, cerações os sinais associados (1,2).
apresentando alopecia, eritema, descamação na região abdomi- O Demodexcriceti e o Demodexaurati (figura 2) são
nal causada por desequilíbrio nutricional (alimentação baseada
em sementes e grão). Fonte: Liege Teixeira (arquivo pessoal). duas espécies que se instalam na queratina e em nó-
dulos da superfície epidérmica e nos folículos pilo-
sos desse animal (2,7,8). São parasitas comuns do
tegumento do hamster (2,9,10), sendo que 50% dos
Medicamentos Dose recomendada
animais podem ser carreadores assintomáticos (4,8).
Cetoconazol 10 mg/kg VO SID
Podem ser transmitidos aos neonatos durante o con-
cloranfenicol 50 – 200 mg/kg VO BID 14 dias tato prolongado com a mãe (1). Estes ácaros estão as-
Enrofloxacina 5 - 10 mg/kg VO SID sociados a fatores como nutrição deficitária, imunos-
Fipronil 7,5 mg/kg tópico supressão decorrente de envelhecimento, estresse ou
Fluconazol 16 - 20 mg/kg VO SID 14 dias
doença intercorrente (2,5,8,9). Demodexcriceti consi-
derado não patogênico, está presente na epiderme e
Itraconazol 5 - 20 mg/kg VO SID 3-4 semanas
é menor que o Demodexaurati, considerado patogêni-
Ivermectina 0,2 - 0,5 mg/kg VO, SC
co e encontrado na unidade pilo-sebácea (10).
Prednisolona 0,5 -1 mg/kg VO BID Os animais acometidos apresentam alopecia mode-
Selamectina 15 mg/kg SC rada a severa, prurido, hiperqueratinização e dermatite
Tetraciclina 10 – 20 mg/kg VO BID 14 dias principalmente no dorso, membros e abdome (2,5,7,10).
O diagnóstico se baseia no raspado de pele para
Terbinafina 10-30 mg/kg VO SID 4-6 semanas
Adaptado de: Pessoa, C. A. Rodentia – Roedores de Companhia (Hamster, Gerbil,
a identificação do agente (2,7,10). No caso de demo-
Cobaia, Chinchila, Rato). In: Catão-Dias, J. L et al. Tratado de Animais Selvagens. dicose, um raspado positivo deve ser confrontado
São Paulo: Roca, 2007, pag. 457. Viana, F. A. B. Guia terapêutico veterinário. 2. Ed.
Lagoa Santa: Gráfica e Editora CEM, 2007. com o quadro clínico porque esses parasitas costu-
Tabela 2 - Dosagem de alguns medicamentos utilizados para mam estar presentes em hamsters sadios (2).
tratamento de dermatoses em Hamsters. O tratamento se baseia no uso de ivermectina ou
de selamectina em dose única ou a cada 14 dias, 2
a 3 aplicações (5). É importante limpar a gaiola cui-
Alguns autores evitam o uso de penicilina, ce- dadosamente e desinfetá-la uma a duas vezes por
falosporina, amoxicilina, ampicilina, clindamicina, semana com pó ou solução acaricida (2).
estreptomicina, lincomicina e eritromicina em ha-
msters por induzirem enterocolite (2,5,7). As com- Dermatofitoses
binações de sulta-trimetoprim foram incriminadas Essa afecção é causada principalmente por Tricho-
como causa de morte em hamsters (7). phyton mentagrophytes e, com menor frequência, por
Microsporum canis, sendo os hamsters afetados clini-
Pulgas camente ou portadores assintomáticos (2). A falta de
A pulga de cães e gatos (Ctenocephalides sp) pode higiene, desnutrição, agentes estressantes externos,
infestar hamsters, causando prurido, eritema e alope- número excessivo de animais por recinto e infecções
cia. Esses ectoparasitas são grandes e fáceis de serem secundárias são os fatores predisponentes (1).
A B
Figura 2 - Ácaros habitantes assintomáticos dos folículos pilosos e glândulas sebáceas de hamster. [A] Demodex criceti; [B] Demodex
aurati. Fonte: Universidade do Missouri (dora.missouri.edu/hamsters/mange-mites-of-hamsters).
Quando há lesões, estas são pequenas áreas alo- limpeza e desinfecção da gaiola com água sanitária
pécicas circunscritas, em geral eritematosas e es- e trocar a cama (2). Todos os animais que tiveram
camosas, geralmente na cabeça e, ocasionalmente, contato com o animal infectado (outros roedores,
no dorso e nos flancos. Em geral não há prurido, cães, gatos) devem ser tratados por tratar-se de do-
exceto na forma inflamatória infectada, podendo ença contagiosa e zoonose (2,7).
ocorrer piodermite (2,7).
O diagnóstico pode ser obtido por exame para- Piodermite
sitológico de raspado cutâneo, exame com lâmpada Piodermite estafilocócica (primária ou secundá-
de wood, tricograma e cultura fúngica em meio de ria) é relativamente comum em hamsters (figura 3
Sabouraud (2,7). e figura 4) (7). O Staphylococcus aureus é comumen-
O tratamento é realizado com itraconazol por 3 a te isolado das lesões de pele de ocorrência natural,
4 semanas associado a tratamento tópico utilizando sendo uma das bactérias não esporuladas mais re-
miconazol creme 1 vez ao dia ou banhos com xam- sistentes e está presente na nasofaringe, trato diges-
pu contendo miconazol 2% e clorexidine 2% uma tivo posterior e no ambiente. O homem pode servir
ou duas vezes por semana (7). Importante realizar a de fonte de infecção para o animal e vice-versa (11).
Figura 3 - Hamster chinês (Cricetulus griseus), adulto, macho, Figura 4 - Hamster chinês (Cricetulus griseus), adulto, macho (mes-
apresentando alopecia, eritema, descamação e colaretes epidér- mo animal da figura anterior), apresentando alopecia, eritema, des-
micos nas axilas e região abdominal, causados por piodermite. camação e colaretes epidérmicos no pescoço e membros torácicos
Fonte: Liege Teixeira (arquivo pessoal). causados por piodermite. Fonte: Liege Teixeira (arquivo pessoal).
Figura 5 - Hamster sírio (Mesocricetus auratus), adulto, macho Figura 6 - Hamster sírio (Mesocricetus auratus), adulto, macho
apresentando alopecia bilateral simétrica e perda da elasticidade (mesmo animal da figura anterior) apresentando alopecia gene-
cutânea, sinais compatíveis com hiperadrenocorticismo. Fonte: ralizada e perda da elasticidade cutânea, sinais compatíveis com
Mary Haynes. hiperadrenocorticismo. Fonte: Mary Haynes.