Copyright©2005 Mara Figueiredo

ISBN 85-89223-39-6

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Figueiredo, Mara
Devaneios/Mara Figueiredo: - SJRP, São Paulo: Ativa Editora,
2005.
84 p.:21 cm.
ISBN 85-89223-39-6
I.Poesia Brasileira – Brasil. I. Título.
CDD B869.1

Ativa Editora
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 Prefácio
A foto que ilustra a capa deste livro é de uma escultura
que está exposta no Museu do Louvre em Paris, na França. O
artista Antonio Canova brilhantemente reproduziu a imagem
de Eros e Psiquê, personagens da Mitologia Grega, que deste
os tempos mais remotos têm inspirado inúmeros pensadores,
poetas, pintores e amantes. Eros (ou Cupido) e Psiquê são
entidades mitológicas que personificam o AMOR e a ALMA.
Eros, do grego éros, significa desejo incontrolável dos
sentidos. Deriva do verbo érasthai que quer dizer estar
inflamado de amor. Já o romano Cupido parece derivar do
verbo latino cupere cujo significado é desejar ardentemente,
ter desejos instintivos ou sensuais, cobiçar.

Sua genealogia é uma das mais ricas e complexas

devido, talvez, à nossa própria dificuldade em definir e
expressar esse sentimento elevado que é o AMOR (desejo
incoercível, ardente, instintivo, desenfreado). Eros ligado a
Psiquê ilustra a união do AMOR à ALMA.

A ALMA é território de Psiquê cujo significado

etimológico (psique, do grego psykhé) é sopro ou princípio
vital, personificação da alma, do mundo interior. Psiquê é a
força psíquica (anímica) do ser, a expressão do mundo interior.
Nascida de uma gota de orvalho que caiu do céu sobre a terra,
simboliza a progressão da feminilidade oceânica de Afrodite
(nascida das águas do mar fertilizadas pelos genitais de Urano)
para uma nova forma, mais humana.

Toda mulher tem dentro de si uma Afrodite reconhecida

pela sua irresistível feminilidade, pela sua intensa, impessoal,
inatingível majestade.

Suas principais características são as vaidades, a luxúria,

a fertilidade e, quando contrariada, a tirania. É bem
embaraçoso para uma mulher moderna, razoavelmente
inteligente, descobrir sua natureza Afrodite com seus truques e
instintos primitivos.

Essa deusa freqüentemente mostra seu lado tirânico e

crê que sua palavra é lei. Ela está além de qualquer moralidade
porque existia antes do tempo da moralidade. Usa, portanto,
todos os meios de que dispõe para realizar aquilo que deseja. É
determinada e não se arrepende do que faz, ainda que tenha
consciência de ter pagado um preço muito alto. A energia de
Psiquê se perde sem a luz do encontro com Eros, o deus do
amor. Eros impulsiona a vida humana ao contato, ao confronto
com o outro, o que pode, também, em algumas circunstâncias,
gerar tensões. Eros é a grande força unificadora que preserva o
viver, batizando com seu nome a pulsação da vida. O poder
irradiador de Eros é tão violento que ele contamina (erotiza)
todas as funções vitais com sua força unificadora e
gratificante. A natureza de Eros não se restringe à esfera
corporal, uma vez que o impulso direcionado ao prazer do
corpo pode ampliar-se para buscar seu objetivo em duradouras
relações lascivas, voluptuosas e eróticas que intensificam a
gratificação do instinto.

Juntos, Eros e Psiquê permitem as bodas internas, a

harmonia dos opostos que, integrados, impulsiona o ser
humano a uma vivência amadurecida, consciente e plena. Mas,
nem sempre isso se consubstancializa e pode, também, refletir
a dor e os desencontros que caracterizam o viver. A união
definitiva de Psiquê com Eros traduz o encontro do amor com
a alma, do feminino com o masculino, do carnal com o
espiritual, do desejo com a realização, indicando uma
verdadeira integração no interior das pessoas. Eros e Psiquê,
na realidade, constituem-se em um conto de fadas dentro do
mito, pois o mito é a própria expressão da experiência humana
ao longo do tempo e do espaço. Os Poemas deste livro
exteriorizam a Afrodite que habita o âmago de todas as
mulheres. Eles são a expressão do todo feminino que,
fragmentado, busca sua plenitude em Eros, o masculino, o
desejo, o Amor.

Desfrute-os!

Eles foram escritos para ti.

A autora.
 Fragmentos
Despudorada,
Em forma de poema,
Dou-me a conhecer.

Na transparência de cada sílaba

Um pouco de mim

Em cada palavra um murmúrio,

um gemido
Em cada frase uma promessa,
uma esperança

De A a Z, meu compêndio
Letra a letra, desnudo-me

Fragmentos de mim
Expostos diante de ti

Sou chama que crepita ardente

Suspiro que flutua entre gemidos
Em um íntimo e reservado tormento

Não pense que deliro

O mais belo de todos os instintos
impera em mim
Minha pele transpira crescente e
persistente desejo

A dor, o fogo, a paixão

São fragmentos de meu todo