Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Acusados de privilegiarem o sector dos frutos vermelhos na atribuição de água, e depois de terem
estado debaixo de fogo nas últimas semanas no que respeita à crise hídrica que assola o
Perímetro de Rega do Mira (PRM), o Ministério da Agricultura e Alimentação (MAA) e a sua
Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) contra-atacaram esta semana
num artigo muito duro no jornal Público.
Voltando um pouco atrás, perante a seca gravíssima por demais prevista e instalada há anos no
Sudoeste, assim como a cada vez menor reserva de água da albufeira de Santa Clara,
entendemos que sucederam três coisas (ou muitas mais que não entendemos):
3 - Por altura da publicação deste despacho veio a ABM defender-se oficial e publicamente, nos
meios de comunicação social, afirmando agir dentro dos limites da lei e acusando o MAA de
querer destituir a sua direcção para aí colocar um fantoche qualquer que privilegie o lobby dos
frutos vermelhos que, por sua vez, toda a gente já tinha percebido que andava em Lisboa a tentar
salvar a pele, “queimando a restante agricultura em lume brando”. A ABM insiste que, seguindo a
lei evocada pela DGADR (Regime Jurídico das Obras dos Aproveitamentos Hidroagrícolas), se
bate pela equidade na distribuição de água, para que todos os agricultores, pequenos e grandes,
de todos os tipos de culturas, tenham direito à mesma dotação por hectare e que a partir daí
trabalhem mais ou menos terra (ou mais ou menos vasos no caso dos frutos vermelhos), de
acordo com o rácio entre necessidades hídricas e disponibilidade do recurso.
Finalmente é de registar que nos dois últimos anos, já em forte stress hídrico, a cultura da
framboesa tenha aumentado de 12 para 19% da área regada no PRM e a floricultura e plantas
ornamentais tenham no mínimo duplicado, quando a falta de água já era uma realidade
sobejamente conhecida. Neste caso o risco é do investidor ou do Estado português, ou seja, de
cada um de nós?
Por fim, de acordo com o referido Plano de Prevenção, Monitorização e Contingência para
Situações de Seca, de 2017, deveria ter sido declarado o Nível 3 de Emergência quando o
armazenamento da albufeira de Santa Clara desceu abaixo dos 50% em Setembro de 2019 e
implementadas medidas de carácter excepcional em vários quadrantes, que nunca foram
accionadas. Agora, assistimos a um mais do que óbvio e lamentável processo de “passa-culpas”,
em que não há inocentes nem soluções imediatas e onde já se “sente” tanto LODO como no
fundo da barragem.