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COMUNICADO DE IMPRENSA

22 de Abril de 2024

No Dia da Terra, Juntos Pelo Sudoeste lança vídeo para sensibilização


dos consumidores de frutos vermelhos

Numa altura em que (não tenhamos ilusões) permanece no Sul e Sudoeste de Portugal uma crise hídrica e
de desertificação do solos sem precedentes e em que se agudiza o conflito entre agricultura industrial e
ambiente, causado especialmente pela ambição da fileira dos pequenos frutos, o movimento de cidadãos
Juntos pelo Sudoeste (JPS) lança o seu segundo vídeo no Dia da Terra, essencialmente para apelar a
escolhas conscientes na hora de fazer compras no supermercado.

Com este novo filme, o JPS pretende questionar a boa reputação e marketing de que gozam os atraentes
frutos vermelhos, mostrando o impacto que a cultura intensiva dos mesmos tem provocado especialmente
na faixa costeira entre Vila Nova de Milfontes e Odeceixe, em território do Parque Natural do Sudoeste
Alentejano e Costa Vicentina.

O vídeo tem como missão apelar aos consumidores, nomeadamente dos países do centro e norte da
Europa, habituais compradores de frutos vermelhos, para repensarem as suas escolhas alimentares numa
época em que artificialmente se espera que tudo esteja disponível 365 dias por ano, contrariando a
sazonalidade normal e saudável dos produtos agrícolas, assim como a sua proveniência mais ou menos
local. Na realidade o JPS acredita que se estes bens de consumo alimentar tivessem obrigatoriamente
associada uma etiqueta informativa da sua pegada ecológica e os consumidores tivessem conhecimento do
seu impacto numa costa com um suposto elevado grau de protecção, eventualmente pensariam duas vezes
antes de comprarem as famosas caixas de plástico de 125g.

Tal como no primeiro filme do Juntos pelo Sudoeste, lançado em Julho de 2020 por ocasião do aniversário
da classificação do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina como Área Protegida (Decreto-Lei n.º 241/88, de
7 de julho), também o novo vídeo comprova não só a progressão descontrolada da agricultura intensiva sob
plástico no Sudoeste Alentejano, como também o claro incumprimento do objectivo de preservar os valores
naturais existentes, regular e fiscalizar a ocupação do solo de uma das zonas costeiras mais valiosas na
Europa e preservar um recurso cada vez mais escasso: a água que é desbaratada e estranhamente
exportada como se fosse abundante. Além disto, trata-se de produtos cuja produção exige muita
mão-de-obra importada, trabalhando e vivendo em condições muito precárias por um visto de residência, e
cuja distribuição implica percorrer enormes distâncias em direcção à cadeia de abastecimento europeia.
Além disso, grande parte dos investidores nesta indústria nem sequer é tributada no Sudoeste de Portugal
(como se pode verificar nas contas anuais do município de Odemira), região de onde são extraídos os
recursos e onde permanece um rasto de degradação.

Não adianta, portanto, ouvir a agricultura industrial estafar (em vão) o conceito de sustentabilidade: não
existe sustentabilidade sem o equilíbrio entre sociedade, ambiente e economia e, no perímetro de rega do
Mira, apenas o terceiro vértice tem algum peso, e não é decididamente na economia local mas sim nos
gordos dividendos para uma mão cheia de investidores.

O JPS tem vindo a reunir com vários responsáveis do anterior Governo e entidades públicas, em inúmeras
ocasiões, nas quais tem tentado demonstrar a falência do Estado Português na preservação de valores

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naturais ecologicamente sensíveis, alguns deles únicos no Planeta, constantemente ameaçados sobretudo
pela falta assumida de monitorização, fiscalização e penalização por parte do Instituto de Conservação da
Natureza e Florestas (ICNF) no que respeita o impacto ambiental de práticas agrícolas danosas para a água,
solo, ar, biodiversidade, habitats protegidos, ordenamento do território e até coesão social, assim como a
inexistência de obrigatoriedade de licenciamento para projectos agrícolas.

Aliás, o Estado português tem instaurada contra si uma acção no Tribunal de Justiça da União Europeia, pela
Comissão Europeia, por incumprimento de legislação da Rede Natura 2000: “em conformidade com a
Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030, é crucial para a UE travar a perda de biodiversidade e inverter
a degradação dos ecossistemas, uma vez que a economia, a sociedade e o ambiente europeus dependem
dos vários serviços prestados pelos ecossistemas ricos em biodiversidade”.

Até agora o nosso movimento tem esbarrado constantemente com o argumento de que a agricultura
intensiva do Sudoeste Alentejano representa um valor notório nas exportações, na balança comercial e no
PIB português, no entanto, se mais motivos fossem necessários além dos que já foram referidos, os
resultados das recentes eleições legislativas acabam de demonstrar, especialmente no Alentejo e Algarve,
que as pessoas que habitam estas regiões não vêem reflectidos nos seus rendimentos e qualidade de vida,
os valores macroeconómicos que o sector agroindustrial assinala repetidamente, e, também por isso,
penalizaram eleitoralmente os partidos que tradicionalmente têm governado Portugal, depositando a
maioria dos votos na força política populista, cujo resultado fez “soar o alarme” quanto aos riscos de
ascensão da extrema direita. Aliás, se utilizarmos um termo caro a essa franja política, a soberania,
facilmente se conclui que não existe no que respeita ao alimento dos portugueses, dado que a produção
agrícola - de produtos de luxo supérfluos - se destina cada vez mais a exportar, enquanto dentro de portas o
consumidor se debate com preços cada vez mais elevados.

Em 1988 a área do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina foi classificada como Paisagem Protegida, tendo
sido elevada a Parque Natural (PNSACV) em 1995, conjugando esse território com uma área marinha
adjacente (Decreto Regulamentar nº 26/95, de 21 de setembro).

Abrigo de uma grande diversidade de habitats costeiros, onde se destacam espécies endémicas no domínio
da flora, da avifauna e da ictiofauna, o PNSACV alberga uma significativa zona marinha com arribas, praias,
dunas, charnecas e zonas húmidas (com estuários, sistemas lagunares, cursos de água, lagoas temporárias,
pequenos açudes e uma vasta zona húmida costeira). Por estas razões, esta região foi incluída, entre 1997 e
1999, nos Sítios de Importância Comunitária e Sítios de Protecção Especial da Rede Natura 2000, tendo o
Estado Português assumido compromissos acrescidos de conservação da natureza a nível comunitário.

O Movimento JPS defende que num Parque Natural não pode predominar uma lógica de desenvolvimento
económico à custa da degradação ambiental, paisagística e social, sem que haja uma reflexão e soluções
consistentes, que respondam às preocupações de todos e não apenas dos que estão ligados à agricultura
industrial, com vista a uma compatibilização entre os valores de um território classificado e as actividades
económicas que aí se desenvolvem, assim como a sua harmonia social.

Finalmente, num quadro de seca severa e de emergência climática, o movimento alerta para esta situação
totalmente insustentável, que compromete o presente e futuro de Odemira, e descredibiliza
completamente o Governo e o Estado Português.

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Juntos pelo Sudoeste
Ana Pacheco/Filipe Barrenho/Filipe Costa/Guilherme Azambuja/Jacqueline Trabandt/Laura Cardoso e Cunha/Mário
Encarnação/Nuno Carvalho/Raquel Louçã/Sara Serrão

Link para Vídeo 1:


https://www.youtube.com/watch?v=7Ak4Fj9Szg4&feature=youtu.be
Link para video 2_PT:
https://www.youtube.com/watch?v=dMzAWpPy6FU
Link para video 2_ENG:
https://www.youtube.com/watch?v=WpXner_lRb4
Link para série documental “Efeito de Estufa”:
https://sic.pt/sicradical-2/efeito-estufa/efeito-estufa-episodio-1/
Link para Campanha de crowdfunding:
https://www.gofundme.com/f/proteja-o-pnsacv

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