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Mestrado em Energias Renováveis

MA246 – Vulnerabilidade e adaptação à mudança climática

Bruno Bastos Braga

Atividade Prática – MA246-CP-CO-Por_v0r0.pdf

Tomando como exemplo as medidas expostas no caso prático desta disciplina, pesquise sobre
algum projeto executado a nível de uma comunidade para adaptação à mudança climática e,
a partir deste, identifique o seguinte:

1 – Qual é o contexto climático?

O foco da pesquisa é na verdade um conjunto de ações desenvolvidas pelo poder público em


suas diferentes esferas (federal, estadual e municipal), para adaptar a cidade de Petrópolis – na
região serrana do estado do Rio de Janeiro, no Brasil – às condições atuais de climatologia que
vem se acentuando em decorrência das mudanças climáticas.

Contextualizando um pouco do município de Petrópolis segundo IBGE (s.d)

“A fundação da cidade de Petrópolis está intimamente ligada ao Imperador D. Pedro I e


ao Pe. Correia. Desde que o Imperador pernoitou na fazenda do padre, de passagem
pelo Caminho do Ouro que o levaria às Minas Gerais, ficou encantado com a exuberância
e amenidade do clima. Foi seu desejo então, adquirir a propriedade para seu uso e, em
especial, para o tratamento de sua filha, Princesa Dona Paula Mariana de cinco anos,
sempre muito doente e que se recuperou bem quando lá esteve.”

Ainda sobre D. Pedro I.

“D. Pedro adquiriu algumas propriedades na região com o intuito de construir um


Palácio de Verão, porém, não conseguiu concretizar seu sonho, pois por questões
políticas teve que abdicar do trono e retornar a Portugal.”

Até chegarmos a D. Pedro II.

“Com a abdicação e morte de seu pai em 1834, D. Pedro II herda essas terras.”

E finalmente sobre a fundação do município.

“No dia 16 de março de 1843, o Imperador, que estava com dezoito anos e recém-
casado com Da. Teresa Cristina assinou o Decreto Imperial nº 155 que arrendava as
terras da fazenda do Córrego Seco ao Major Köeler para a fundação da “Povoação-
Palácio de Petrópolis”.”

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MA246 – Vulnerabilidade e adaptação à mudança climática
Bruno Bastos Braga
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Bruno Bastos Braga

Ainda sobre o município e seus dados geográficos e de densidade populacional, segundo IBGE
(s.d):

Área da unidade territorial [2022]

791,144 km²

Área urbanizada [2019]

81,78 km² (10,33 %)

Esgotamento sanitário adequado [2010]

82,1 %

Arborização de vias públicas [2010]

38 %

Urbanização de vias públicas [2010]

44,3 %

População exposta ao risco [2010]

72.070 pessoas – População exposta em área de risco a inundações, enxurradas


e deslizamentos contabilizada para os municípios considerados críticos a
desastres naturais no Brasil e monitorados pelo Centro Nacional de
Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – CEMADEN. Municípios ‘sem
dados’ não são monitorados pelo CEMADEN ou não tem dados publicados em
respeito ao sigilo estatístico.

Bioma [2019]

Mata Atlântica

• Que ameaças climáticas atuais e tendências emergentes afetam à zona?

O município de Petrópolis historicamente sofre com as fortes chuvas e inundações no


período de verão. Porém, no ano de 2022, houve uma chuva diferenciada em volume
de água por tempo.

Segundo BLAUDT et al. (2023), em março de 2022 foram registrados 259 mm de chuva
acumulada em um intervalo de apenas seis horas (534 mm em 24 horas), provocando
deslizamentos e inundações generalizados nos bairros atingidos.

Pode-se ainda observar um aumento na tendência das chuvas ano a ano como
demonstrado na tabela abaixo com dados do PORTAL G1 (2022) e Busch & Amorim
(2011):

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Dados Pluviométricos de Petrópolis-RJ - Brasil


ANO mm (milímetros) HORAS
1952 168,2 24
1965 162,8 24
1972 155,6 24
1988* Não disponível
2011 230 24
2022 534,0 24
Tabela 1 - Elaborado pelo autor

* Considerada a pior tragédia por chuva em Petrópolis até 2011, em número de mortos,
por isto faz parte do quadro informativo.

• Quais são seus impactos atuais e prováveis?

Estas ocorrências mais atuais segundo CNN (2022), trouxeram como impacto a condição
de remoção de mais de 8 mil famílias por conta de residências em situação de risco,
fechamento do comércio e, ainda segundo BLAUDT et al. (2023), prejuízo de
aproximadamente 2% de seu PIB só com danos diretos às empresas em decorrência das
chuvas. Enchentes e deslocamento de massas (deslizamento de terras) também
ocasionaram mais de 240 mil toneladas de detritos recolhidos das ruas da cidade, 243
óbitos diretos e danos às principais infraestruturas do município, projetadas para
mitigação destes mesmos problemas, como é o caso do canal extravasor, que drena
parte das águas de uma das bacias hidrográficas do município, descarregando-as a mais
de 3,5 km do centro histórico da cidade, local onde se encontram dois rios que captam
das duas principais bacias hidrográficas da cidade, a do Quitandinha e do Palatino e se
somam como volumes contribuintes à bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul CEIVAP
(2014).

A demora na tomada de ações de contingenciamento de encostas, desassoreamento


dos rios e demais infraestruturas condiciona a cidade a repetir o problema na chegada
de cada verão, o que sempre preocupa os moradores.

Para ilustrar esta demora, em maio de 2022, já transcorridos dois meses da tragédia,
apenas 19% das famílias haviam tido acesso ao aluguel social subsidiado pelo governo,
conforme CNN (2022).

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2 – Qual é o contexto local?

• Em que medida os meios de vida local são sensíveis à mudança climática?

Toda a sobrevivência da cidade é afetada pelos desastres ambientais ocasionados pelas


chuvas e suas consequências. Para entendermos isto, é necessário pontuar que a cidade
de Petrópolis se situa a 850 metros acima do nível do mar, encrustada nas montanhas
da serra dos órgãos e é basicamente uma união de vários vales, cortados cada um por
um rio. Todos estes rios encontram-se no coração do setor de comércio de bens e
serviços, em sua grande maioria situado no centro da cidade. Assim posto, quaisquer
chuvas e suas consequências afetam diretamente todo o funcionamento da cidade,
trazendo o caos à vida dos cidadãos petropolitanos.

• Quem é mais vulnerável à mudança climática?

Os mais vulneráveis a estas mudanças climáticas que ocasionam aumento das chuvas e
em decorrência disto os transbordamentos e deslocamentos de massa (deslizamentos
de terra), são as comunidades mais carentes do município. A cidade de Petrópolis foi
concebida por meio de um plano diretor elaborado pelo seu projetista e fundador Major
Koeler, a pedido do imperador D. Pedro II. Com o aumento da especulação imobiliária,
as constantes crises financeiras e de desemprego pelas quais o Brasil historicamente
passa, estas populações mais carentes foram construindo e se alojando nas encostas
dos morros, onde ocorreram desmatamentos e assoreamento de rios e córregos.
Portanto, qualquer iminência de chuva que extrapole as condições normais de absorção
destas pelos meios naturais e demais mecanismos de infraestrutura projetados, coloca
em risco primeiramente estas populações mais carentes, e o que vemos ano após ano
são o aumento do número de desalojados e mortos.

3 – Que medidas e políticas são factíveis e apropriadas para enfrentar a situação?

• Que estratégias de proteção são usadas frente às ameaças climáticas ou de troca em


resposta à mudança climática?

Infelizmente muitas ações no Brasil ainda são de caráter responsivo, ou seja, de dar uma
resposta à ameaça que se descortina. Poderiam haver muitas ações coordenadas para
fazer frente às ameaças climáticas ou em resposta à mudança climática como por
exemplo:

o Desapropriação de imóveis construídos em áreas proibidas e de risco;


o Liberação das encostas;
o Reflorestamento;
o Manutenção das distâncias mínimas para as margens dor rios;
o Recuperação de mata ciliar.

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O grande desafio é fazer com que o poder público de fato encare estes problemas de
frente e tome as devidas ações, mas fazer isto no Brasil é derreter um patrimônio
político ganho por meio de ações que deveriam ser combatidas. Vemos políticas de
licenciamento de construções em áreas que jamais deveriam ser permitidas, mas o
licenciamento atrai voto em determinada frente política. E logicamente estes políticos
não vão adotar ações que vão de encontro aos interesses das famílias.

• Que medidas e políticas reduzem o risco e apoiam a adaptação para enfrentar as


ameaças atuais e as tendências emergentes?

O município de Petrópolis conta agora com um plano que abrangem riscos comuns ao
município do ponto vista meteorológico, geológico e hidrológico, com sistemas de
monitoramento destes riscos associados a um sistema de emissão de alertas, como
descritos no “PLANCON - PLANO DE CONTINGÊNCIA DO MUNICÍPIO DE PETRÓPOLIS/RJ
PARA CHUVAS INTENSAS – Verão de 2022/2023”, conforme PMP(2022).

Dentre as principais medidas do PLANCON podemos citar:

1. Ações de socorro compreendendo:


o Busca, resgate e salvamento
o Primeiros socorros e atendimento pré-hospitalar
o Atendimento médico e cirúrgico de emergência
o Evacuação
o Comunicação via rádio

2. Ações de assistência
o Cadastramento da população afetada
o Abrigamento
o Recebimento, organização e distribuição de doações
o Atendimento aos grupos mais vulneráveis (portadores de deficiência física,
crianças, idosos, adolescentes, etc...)
o Mobilização adicional de recursos
o Atendimento à imprensa

3. Ações de reabilitação de cenários


o Recuperação da infraestrutura
o Restabelecimento dos serviços essenciais

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Dentre as ações de comunicação podemos destacar:

o Sistema de monitoramento em tempo real da cota dos rios e informação à


populações afetadas diretamente;
o Sistema de monitoramento por meio de pluviômetros nas diferentes zonas afetadas
pelas fortes chuvas;
o Sistemas de cancelas automáticas para fechamento do tráfego veicular;
o Sinalização em zonas de risco e segurança no centro da cidade para caso de
ocorrências inesperadas, com faixas de impedimento de trânsito pessoal.

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Referências bibliográficas

IBGE (s.d). IBGE. Portal Cidades. História e Fotos.


https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/petropolis/historico

BLAUDT, L. M., ALVARENGA, T. W., & GARIN, Y. (2023). DESASTRE OCORRIDO EM


PETRÓPOLIS NO VERÃO DE 2022: ASPECTOS GERAIS E DADOS DA DEFESA
CIVIL. Geociências, 42(01), 59-71.

PMP (2022). Prefeitura Municipal de Petrópolis. Defesa Civil. Planos de Contingência. Plano
Verão 2022/2023. Plano de Contingência - Chuvas Intensas - Plano Verão 2022/2023.
https://www.petropolis.rj.gov.br/pmp/phocadownload/defesa-civil/planos-
contigencia/plano_verao_22_23_05_01_23.pdf

PORTAL G1 (2022). Notícias.


https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2022/02/21/tragedia-em-petropolis-e-a-
maior-da-historia-da-cidade-imperial.ghtml

Busch, A., & Amorim, S. N. D. (2011). A tragédia da região serrana do Rio de Janeiro em 2011:
procurando respostas.

CEIVAP, A. (2014). Plano integrado de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio


Paraíba do Sul e planos de ação de recursos hídricos das bacias afluentes. Tomo III.

CNN (2022). Nacional.


https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/tragedia-em-petropolis-completa-tres-meses-
neste-domingo/

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