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RESUMO --- Em novembro de 2008, o estado de Santa Catarina foi cenário de uma tragédia
vinculada em toda a mídia nacional devido à ocorrência de desastres hidrológicos (inundações e
escorregamentos). Os municípios mais atingidos são os localizados no Vale do Itajaí. Rio dos
Cedros foi um destes municípios atingidos. Neste contexto, o presente trabalho teve por objetivo
analisar um fluxo de detritos (um tipo de escorregamento) ocorrido na localidade de Rio Cunha
nesse município. Em campo foram medidos os seguintes parâmetros: largura do escorregamento,
tamanho dos blocos, altura do depósito e declividade dos trechos do movimento. Notou-se que,
dentre estes parâmetros medidos, apenas a declividade do inicio do escorregamento foi semelhante
à indicada na literatura científica. Levantamentos tais como o apresentado no presente trabalho
visam suprir uma deficiência no registro oficial de desastres naturais, que é a descrição do evento.
ABSTRACT --- In November, 2008, the Santa Catarina State was central of the national media
because of the occurrence of hydrological disasters (floods and landslides). The strongly-affected
cities are located in the Itajaí Valley. Rio dos Cedros city is one of them. In this context, the
objective of the present work was to analyze a debris flow (one type of landslide) occurred in Rio
Cunha catchment in this city. Several parameters (the landslide width, the block size, deposition
height, and the landslide reaches slope) were measured on the field. It was noted that slope of the
upper part of landslide coincide with the patterns reported in the scientific literature. Surveys like
the present work aim to address a deficiency in the official record (event description) of natural
disasters.
1)Bolsista CNPQ – Programa de Pós-graduação em Geografia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC, Brasil, CEP 88040-970,
E-mail: roberto.fabris@gmail.com
2)Bolsista do CNPq, Professor Associado II Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa
Postal 476, Florianópolis-SC, Brasil, CEP 88040-900, E-mail: kobiyama@ens.ufsc.br
3)Graduanda do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476, Florianópolis-SC, Brasil,
CEP 88040-900, E-mail: gabrielapaco@yahoo.com.br
4)Bolsista do Capes, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476,
Florianópolis-SC, Brasil, CEP 88040-900, E-mail: henrique.lucini@gmail.com
5)Graduanda do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476, Florianópolis-SC, Brasil,
CEP 88040-900, E-mail: joana_n_g@yahoo.com.br
2. FUDAMETAÇÃO TEÓRICA
Para ISDR (2002) desastres podem ser definidos como sendo um sério distúrbio no
funcionamento de uma comunidade ou sociedade, causando perdas humanas, materiais, econômicas
e materiais, que excedem a capacidade da comunidade afetada de se recuperar com seus próprios
Atualmente se está em um período marcado pelo aumento da perda de vidas a dos danos
associados a inundações e outros tipos de catástrofes naturais. Este problema pode estar
parcialmente ligado as mudanças climáticas, mas certamente está associado à propensão humana de
construir em áreas susceptíveis a ocorrência de fenômenos naturais potencialmente danosos.
Alcântara-Ayala (2002) comenta que, apesar dos desastres naturais ocorrem no mundo inteiro, os
seus maiores impactos ocorrem em países em desenvolvimento, devidos a dois fatores, a
localização geográfica e as características geológico-geomorfológicas. Para MacDonald (2003), nas
últimas décadas tem havido uma aumento de cerca de dez vezes nos danos causados pelos desastres
naturais, em virtude dos seguintes fatores: a) aumento das pessoas que ocupam áreas susceptíveis a
perigos naturais em virtude do crescimento populacional; b) as condições econômicas das pessoas
que ocupam estas áreas susceptíveis, implicando em construções com alto grau de vulnerabilidade.
Os desastres naturais, segundo Twing (2004), mataram uma média de 60.000 pessoas por ano,
entre 1992 e 2001. Para o mesmo período, segundo o mesmo autor, os desastres afetaram
diretamente 200 milhões de pessoas e causara prejuízos em torno de US$ 69 bi. por ano. Rosenfeld
(1994) comenta que os danos provocados por desastres naturais aumentaram cerca de três vezes
desde a década de 1960, deixando mais de 3 milhões de mortos e 800 milhões de desabrigados. O
Banco Mundial, entre os anos de 1980 e 2003, fez empréstimos emergenciais relacionados a
desastres de aproximadamente US$ 14,4 bilhões. Deste montante, segundo Dilley et al. (2005), US$
12 bilhões foram destinados para apenas 20 países, que possuem cerca de metade de sua população
em áreas de alto risco.
500 0
450
100
350 200
Número de Registros
300
300
Desastres Naturais
250
Pessoas Afetadas
400
200
150 500
100
600
50
0 700
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
2005
Figura 1 – Total de registros de desastres naturais e número total de pessoas afetadas entre 1960-
2008.
Fonte dos dados: EM-DAT
Em 2008, o Emergency Disaster Data Base (EM-DAT) do Centre for Research on the
Epidemiology of Disasters (CRED), re-classificou os tipos de desastres em seu banco de dados
Segundo Scheuren et al. (2008), esta nova classificação foi resultado de uma iniciativa entre o
próprio CRED e Munich Reinsurance Company – MunichRe, que decidiram implantar uma
classificação em comum para os seus respectivos bancos de dados. A MunichRe mantém o
NATCAT, um banco de dados que registra grandes catástrofes naturais. Com esta nova
classificação, 17000 entradas no banco de dados de EM-DAT foram alteradas, contudo sem alterar
significativamente a sua distribuição entre os grupos e a tendência em relação à classificação
anterior. A principal mudança foi separar em dois tipos os movimentos de massa: “secos” e
“molhados”. O primeiro associado apenas a eventos geofísicos (terremotos) e o segundo a
condicionantes hidrológicos e meteorológicos. Além disso, a International Strategy for Disaster
Reduction das Nações Unidas também adotou as mudanças na classificação, visto que o EM-DAT é
o principal banco de dados utilizado pela ONU, como observado em UNPD (2004)
Na Figura 2 pode-se observar a distribuição anual em relação às quatro principais categorias
de desastres para o período de 1960 a 2007. Nota-se que, apesar de todos os tipos apresentarem
aumento em sua freqüência, os desastres hidrológicos seguido dos meteorológicos, como as
inundações, escorregamentos e as tempestades severas são os tiveram um maior aumento. Esta
mesma tendência também é apresentada pelo banco de dados NATCAT. No Brasil, o tipo de
desastre que mais ocorre são os hidrológicos (inundações e escorregamentos), conforme Kobiyama
et al. (2004). Assim, a hidrologia tem um papel fundamental na prevenção dos desastres e na
mitigação dos seus danos, pois a inclusão dos desastres dentro da ciência hidrológica é de suma
importância caso se queira tentar reduzir a freqüência dos desastres no Brasil.
Climatológico Geofísico
400
Meteorológico Hidrológico
350
250
200
150
100
50
0
1950
1953
1956
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
1992
1995
1998
2001
2004
2007
Figura 2 – Ocorrências de desastres naturais no mundo, por tipo de desastre entre 1950-2008.
Fonte dos dados: EM-DAT
Ressalta-se que, apesar dessa tentativa de padronizar a classificação, cada banco de dados,
possui critérios de registro diferentes. Para um desastre natural ser registrado no EM-DAT, os
seguintes critérios tem que ser levados em consideração: a) 10 ou mais vítimas fatais; b) 100 ou
mais pessoas afetadas; c) declaração de estado de emergência; e c) pedido de assistência
internacional. No NATCAT, os critérios são: a) ajuda inter-regional ou internacional; b) milhares de
mortos; c) centenas de milhares de desabrigados; d) danos e perdas generalizadas. Como os critérios
de registro são diferentes, estes bancos de dados poderão apresentar tendências diferentes
relacionados a parâmetros específicos, como número total de desabrigados, de mortos e de prejuízos
totais. Marcelino et al. (2006), comparando os bancos de dados globais com o mantido pela Defesa
Civil de Santa Catarina - DEDC, demonstraram que muitos eventos que atendiam aos critérios
estabelecidos pelo EM-DAT não foram contabilizados para o estado de Santa Catarina. Entre 1980
e 2003, os autores comentam que foram registrados pela DEDC 3.373 desastres naturais, e apenas
89 no EM-DAT, uma discrepância muito grande que não é representada nas estimativas mundiais.
3. MATERIAL E MÉTODOS
80
a 70
b
60
Chuva em mm
50
40
30
20
10
1/11
2/11
3/11
4/11
5/11
6/11
7/11
8/11
9/11
10/11
11/11
12/11
13/11
14/11
15/11
16/11
17/11
18/11
19/11
20/11
21/11
22/11
23/11
24/11
25/11
26/11
27/11
28/11
29/11
30/11
Figura 4 – Dados de precipitação em Rio dos Cedros – a) comparação entre a média mensal
climatológica e a média mensal de 2008; b) chuva diária de novembro de 2008.
Fonte: Rocha et al. (2009)
A Figura 8 apresenta o mapa topográfico com a área do escorregamento elaborado a partir dos
pontos coletados em campo. O números 1 e 2 os dois movimentos que se uniram. Com base nas
observações em campo, o escorregamento 1 iniciou primeiro, pois próximo ao inicio do
escorregamento 2 há muito sedimento depositado, apesar da alta declividade (43º). Assim, supõem-
se que o material movimentado em 1 formou uma barreira, impedindo que todo o sedimento
proveniente de 2 se descolasse para o canal principal.
Além disso, a Figura 8 apresenta as características mais importantes observadas em campo, a
saber: a) principal trecho de deposição, com aproximadamente 80 m de largura; b) o final da
segmentação do movimento 1 em duas partes, formando uma ilha de vegetação no meio; c) inicio
da segmentação do movimento 1; d) maior bloco exposto encontrado, e) cabeceira do movimento 1;
f) cabeceira do movimento 2; g) trecho de afunilamento do canal.
5. COSIDERAÇÕES FIAIS
AGRADECIMETOS
Os autores do presente trabalho agradecem a Jonas Jeremias Corrente, da Defesa Civil de
Rio dos Cedros, e ao mestrando do PPGEA/UFSC Fernando Grison pelo apoio durante o
levantamento de campo.
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