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Recebimento dos originais: 08/03/2023

Aceitação para publicação: 13/04/2023

Disforia de gênero, multidisciplinaridade e neurociências: uma


visão ampliada sobre o tema

Gender dysphoria, multidisciplinarity and neurosciences: an


expanded view on the topic

Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues


Pós-doutorado em Neurociências
Instituição: Logos University International
Endereço: 4300, Biscayne Blvd, Miami, FL 33137, Estados Unidos
E-mail: deabreu.fabiano@gmail.com

Francis Moreira da Silveira


Mestre em Neurociência
Instituição: Logos University International
Endereço: 4300, Biscayne Blvd, Miami, FL 33137, Estados Unidos
E-mail: drfrancismsilveira@gmail.com

Bruno Loser Hemerly


Bacharel em Medicina
Instituição: Universidade Federal de Juiz de Fora
Endereço: Rua José Lourenço Kelmer, S/N, São Pedro, Juiz de Fora - MG,
CEP: 36036-900
E-mail: drbrunohemerly@gmail.com

RESUMO
Este artigo de revisão aborda a Disforia de Gênero (DG), antes conhecida por
Transtorno de Identidade de Gênero (TIG), por uma perspectiva ampliada e
multidisciplinar, incluindo as contribuições das neurociências. O artigo revisa a
literatura existente sobre a DG, destacando sua complexidade e
multifatorialidade, bem como o papel das neurociências na compreensão do
transtorno. É destacado que a DG é uma condição complexa e multifatorial, que
envolve aspectos biológicos, psicológicos e sociais. O papel das neurociências
na compreensão a DG é explorado, incluindo evidências de diferenças
neuroanatômicas e neurofuncionais entre indivíduos com DG e aqueles que se
identificam com o gênero de nascimento. O objetivo deste artigo é apresentar
uma visão ampliada e multidisciplinar do Transtorno de Identidade de Gênero
(TIG) ou Disforia de gênero (DG), incluindo as contribuições das neurociências,
ressaltando que a DG é uma condição complexa e multifatorial que requer uma
abordagem multidisciplinar para sua compreensão e tratamento eficaz. Além
disso, o artigo discute a importância da abordagem multidisciplinar no tratamento
da DG, enfatizando a necessidade de uma equipe de profissionais capacitados,
incluindo médicos, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas, para fornecer
um apoio integral aos indivíduos com DG. É ressaltado que o tratamento deve
ser personalizado e baseado em evidências, com o objetivo de ajudar o indivíduo
a atingir uma identidade de gênero coerente e a melhorar sua qualidade de vida.

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Palavras-chave: Disforia de Gênero, diferenças neuroanatômicas e
neurofuncionais, neurociencia, Transtorno de Identidade de Gênero.

ABSTRACT
This review article addresses Gender Dysphoria (GD), formerly known as Gender
Identity Disorder (GID), from an expanded and multidisciplinary perspective,
including contributions from the neurosciences. The article reviews the existing
literature on GD, highlighting its complexity and multifactoriality, as well as the
role of neuroscience in understanding the disorder. It is highlighted that GD is a
complex and multifactorial condition, which involves biological, psychological and
social aspects. The role of neuroscience in understanding GD is explored,
including evidence of neuroanatomical and neurofunctional differences between
individuals with GD and those who identify with their birth gender. The aim of this
article is to present an expanded and multidisciplinary view of Gender Identity
Disorder (GID) or Gender Dysphoria (GD), including contributions from
neuroscience, highlighting that GD is a complex and multifactorial condition that
requires a multidisciplinary approach for its understanding and effective
treatment. In addition, the article discusses the importance of the multidisciplinary
approach in the treatment of GD, emphasizing the need for a team of trained
professionals, including physicians, psychologists, social workers and therapists,
to provide comprehensive support to individuals with GD. It is stressed that
treatment should be personalized and evidence-based, with the aim of helping
the individual to achieve a coherent gender identity and to improve their quality
of life.

Keywords: Gender Dysphoria, neuroanatomical and neurofunctional


differences, neuroscience, Gender Identity Disorder.

1 INTRODUÇÃO
O Transtorno de Identidade de Gênero (TIG), atualmente conhecido como
Disforia de Gênero (DG), é um transtorno mental no qual a pessoa experimenta
uma discordância significativa entre seu sexo biológico e sua identidade de
gênero.
O Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mentais - 5ª edição
texto revisado (DSM-5-TR) e a Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde - 11ª revisão (CID-11) são
sistemas de classificação amplamente utilizados em todo o mundo para
diagnosticar transtornos mentais e ambos descrevem tal alteração.

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Definindo “gênero”, antes de adentrar na definição da disforia
propriamente dita, temos segundo o DSM-5-TR que "gênero é usado para
denotar o papel público, sociocultural (e em geral reconhecido legalmente) vivido
como menino ou menina, homem ou mulher, ou outro gênero" e "designação de
gênero refere-se à designação inicial como homem ou mulher. Isso ocorre
geralmente no nascimento com base no sexo fenotípico e, desta forma, constitui
o gênero designado no nascimento, historicamente referido como "sexo
biológico" ou, mais recentemente, 'gênero de nascimento'."
Na definição da disforia, o DSM-5-TR descreve que a Disforia de Gênero
é, “como um termo descritivo geral, refere-se ao sofrimento que pode
acompanhar a incongruência entre o gênero experienciado ou expressado e o
gênero designado de uma pessoa”. Sendo como "uma desordem em que a
identidade de gênero de uma pessoa é incongruente com o seu sexo biológico".
A condição requer que a pessoa experimente "um incômodo clinicamente
significativo ou sofrimento associado à incongruência entre a identidade de
gênero e o sexo biológico".
Já na CID-11, o transtorno de identidade de gênero é descrito como "uma
condição em que a pessoa experimenta incongruência entre a sua percepção de
si mesma como gênero e o seu sexo biológico". A condição é classificada como
"Transtorno da Identidade de Gênero" e inclui a categoria de "Disfunção da
Identidade de Gênero".
Ambos os sistemas reconhecem a importância do apoio médico e
psicológico para pessoas que experimentam transtorno de identidade de gênero,
e incluem a possibilidade de tratamento com terapia de reorientação de gênero
e/ou cirurgia de mudança de gênero. No entanto, também existem críticas aos
sistemas de classificação, incluindo a argumentação de que a classificação do
transtorno de identidade de gênero como transtorno pode perpetuar a
discriminação e o estigma em relação à comunidade trans.

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2 ESTUDO DE CASO DE DISFORIA DE GÊNERO
Aqui está um exemplo de estudo de caso de transtorno de identidade de
gênero:
Paciente: J.M., 32 anos, masculino, solteiro, branco, universitário,
católico.
Histórico: J.M. procurou ajuda psicológica porque estava se sentindo
confuso sobre sua identidade de gênero. Desde a infância, ele sempre se sentiu
desconfortável como homem e experimentou um forte desejo de se tornar uma
mulher. Ele tem vivido como homem, mas tem se sentido insatisfeito e com
desejo de se submeter à uma cirurgia de mudança de sexo.
Avaliação: Durante a avaliação, J.M. relatou sentir-se estranho em seu
corpo masculino e acredita que ele deveria ter nascido como mulher. Também
relatou sentir atração por mulheres e ter tido relacionamentos românticos com
elas. Durante a avaliação foi diagnosticado com DG.
Tratamento: O tratamento incluiu terapia de apoio e orientações para que
J.M. lidasse melhor com sua identidade de gênero e ajudá-lo a tomar uma
decisão sobre a cirurgia de mudança de sexo. Além disso, foi referenciado a um
especialista em mudança de sexo para obter mais informações sobre as opções
disponíveis.
Resultado: Com o tempo, J.M. decidiu passar por uma cirurgia de
redesignação sexual e começou a viver como mulher. Antes disso, J.M. já se
identificava como mulher, mas seu corpo era masculino. Após a cirurgia, J.M.
relatou sentir-se muito mais confortável e satisfeita com sua identidade de
gênero, e teve um bom progresso em sua terapia.
Este é apenas um exemplo fictício de um estudo de caso de DG, e cada
paciente pode ter uma história diferente e um plano terapêutico individualizado.
É importante lembrar que a identidade de gênero é uma questão complexa e
pessoal, e o tratamento precisa ser cuidadoso e respeitoso.

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3 EPIDEMIOLOGIA DA DISFORIA DE GÊNERO
A prevalência exata da DG é incerta, mas estimativas sugerem que
aproximadamente 0,5% a 1% da população geral experimenta a condição.
Estudos recentes indicam uma tendência crescente na prevalência da DG,
possivelmente devido a uma maior conscientização e aceitação da diversidade
de gênero. A DG é uma condição psiquiátrica relativamente rara, no entanto, a
sua prevalência exata não é bem conhecida, em parte porque muitas pessoas
com a condição não procuram tratamento médico ou psicológico, e em parte
porque as definições e diagnósticos da condição mudaram ao longo do tempo.
De acordo com o DSM-5-TR, não existem estudos populacionais em larga
escala sobre disforia de gênero. Porém, levando em consideração os indivíduos
que procuram por tratamento para afirmação de gênero, a avaliação da
prevalência para disforia de gênero está em menos de 1 a cada 1.000 indivíduos
(i. e., inferior a 0,1%). Há grande probabilidade de que tais taxas estejam
incongruentes com os valores reais, tendo em vista que não é todo o universo
de indivíduos com DG que procura tratamento em locais especializados. Existem
algumas estimativas de prevalência feitas baseadas em pesquisas de
autorrelato, realizadas no continente Europeu e na América do Norte, sugerindo
números maiores, apesar de que a variedade dos métodos avaliativos dificultem
as correlações entre os estudos.
A autoidentificação como transgênero varia de 0,5 a 0,6%; sentir-se como
tendo uma identidade de gênero incongruente varia de 0,6 a 1,1%; sentir que é
uma pessoa de um sexo diferente varia de 2,1 a 2,6%; e o desejo de se submeter
a tratamento médico varia de 0,2 a 0,6%.
A DG é mais comum em crianças e adolescentes do que em adultos,
especialmente em indivíduos biologicamente masculinos que se identificam
como femininos. Além disso, a DG é mais comum em indivíduos que têm um
histórico familiar de transtornos de identidade de gênero, e entre pessoas LGBT+
em comparação com a população geral, embora nem todas as pessoas LGBT+
tenham disforia de gênero. A prevalência da DG parece ser maior em pessoas

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que se identificam como transgênero ou não binárias, em comparação com
aquelas que se identificam como homens ou mulheres cisgênero.
O DSM-V-TR afirma em seu capítulo dedicado a disforia, que alguns
estudos também sugerem que a proporção da DG em adultos seja maior em
pessoas designadas com sexo masculino no nascimento, em até 6,1:1 em
comparação com pessoas do sexo feminino, considerando os indivíduos que
procuram tratamento para afirmação de gênero.
Ao longo da vida, as pessoas que vivenciam o DG enfrentam desafios
significativos, incluindo discriminação, estigma, exclusão social e dificuldades
em obter acesso a tratamentos adequados. Essas barreiras podem levar a uma
série de problemas de saúde mental, incluindo ansiedade, depressão e ideias
suicidas. Por essa razão, é crucial fornecer apoio e recursos adequados para
pessoas que vivenciam a DG.

4 DIAGNÓSTICO DA DISFORIA DE GÊNERO E DIAGNÓSTICOS


DIFERENCIAIS
A fim de identificar os diagnósticos diferenciais, é fundamental ter
conhecimento sobre como realizar o diagnóstico de DG. Nesse sentido, é crucial
estar familiarizado com os critérios propostos pelo DSM-5-TR, que divide os
critérios diagnósticos por grupos etários, sendo diferentes para Disforia de
Gênero em Crianças (F64.2) e Disforia de Gênero em Adolescentes e Adultos
(F64.0). Os critérios são os relacionados a seguir.
Para Disforia de Gênero em Crianças (F64.2)
A. Incongruência acentuada entre o gênero experienciado/expressado e
o gênero designado de uma pessoa, com duração de pelo menos seis meses,
manifestada por no mínimo seis dos seguintes (um deles deve ser o Critério A1):
1. Forte desejo de pertencer ao outro gênero ou insistência de que um
gênero é outro (ou algum gênero alternativo diferente do designado).
2. Em meninos (gênero designado), uma forte preferência por vestir
roupas femininas típicas ou simular trajes femininos; em meninas (gênero

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designado), uma forte preferência por vestir somente roupas masculinas
típicas e uma forte resistência a vestir roupas femininas típicas.
3. Forte preferência por papéis transgêneros em brincadeiras de faz de
conta ou de fantasias.
4. Forte preferência por brinquedos, jogos ou atividades tipicamente
usados ou preferidos pelo outro gênero.
5. Forte preferência por brincar com pares do outro gênero.
6. Em meninos (gênero designado), forte rejeição de brinquedos, jogos e
atividades tipicamente masculinos e forte evitação de brincadeiras
agressivas e competitivas; em meninas (gênero designado), forte rejeição
de brinquedos, jogos e atividades tipicamente femininas.
7. Forte desgosto com a própria anatomia sexual.
8. Desejo intenso por características sexuais primárias e/ou secundárias
compatíveis com o gênero experienciado.
B. A condição está associada a sofrimento clinicamente significativo ou a
prejuizo no funcionamento social, acadêmico ou em outras áreas importantes da
vida do indivíduo.
Para Disforia de Gênero em Adolescentes e Adultos (F64.0):
A. Incongruência acentuada entre o gênero experienciado/expressado e
o gênero designado de uma pessoa, com duração de pelo menos seis meses,
manifestada por no mínimo dois dos seguintes:
1. Incongruência acentuada entre o gênero experienciado/expressado e
as características sexuais primarias e/ou secundárias (ou, em
adolescentes jovens, as características sexuais secundárias previstas).
2. Forte desejo de livrar-se das próprias características sexuais primárias
e/ou secundárias em razão de incongruência acentuada com o gênero
experienciado/expressado (ou, em adolescentes jovens, desejo de
impedir o desenvolvimento das características sexuais secundárias
previstas).
3. Forte desejo pelas características sexuais primárias e/ou secundárias
do outro gênero.

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4. Forte desejo de pertencer ao outro gênero (ou a algum gênero
alternativo diferente do designado).
5. Forte desejo de ser tratado como o outro gênero (ou como algum
gênero alternativo diferente do designado).
6. Forte convicção de ter os sentimentos e reações típicos do outro gênero
(ou de algum gênero alternativo diferente do designado).
B. A condição está associada a sofrimento clinicamente significativo ou
prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes
da vida do indivíduo.
Uma vez que se compreende a complexidade envolvida no diagnóstico da
DG, torna-se crucial avaliar a possibilidade de outras condições ou transtornos
que possam estar presentes ou confundidos com a disforia. Dessa forma, é
importante considerar a inclusão de alguns transtornos ou condições no
diagnóstico diferencial, tais como: transtornos ansiosos (os transtornos de
ansiedade, como o transtorno de ansiedade social ou o transtorno de ansiedade
generalizada); transtornos depressivos (a depressão é uma condição mental
comum que pode apresentar sintomas semelhantes aos do transtorno de
identidade de gênero, como perda de interesse em atividades, mudanças de
humor e sentimentos de inadequação); transtornos alimentares (os transtornos
alimentares, como a anorexia nervosa ou a bulimia nervosa); esquizofrenia (a
esquizofrenia é uma condição mental grave que pode apresentar sintomas,
como delírios e alucinações); transtornos do desenvolvimento (os transtornos do
desenvolvimento como o transtorno do espectro autista).
Também são diagnósticos diferenciais, segundo o DSM-V-TR: Não
Conformidade com os Papeis do Gênero; Transtorno Transvestico; Transtorno
Dismórfico Corporal;

5 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA


Para realizar um diagnóstico preciso é importante que os profissionais de
saúde mental realizem uma avaliação abrangente, incluindo entrevistas clínicas,
avaliações psicológicas e histórico médico. Além disso, é importante levar em

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conta as normas e critérios estabelecidos pela Classificação Internacional de
Doenças (CID) e pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), que são as
referências teóricas para o diagnóstico diferencial, haja vista que fornecem
diretrizes para a avaliação e o diagnóstico de transtornos mentais.
De acordo com a CID-11, a DG é caracterizada por uma discordância
persistente entre o gênero autopercebido e o gênero atribuído ao nascimento,
com o desejo de viver como o gênero oposto ou com uma identidade de gênero
não-binária. A APA também define a DG como uma condição na qual há uma
incongruência entre a identidade de gênero e o sexo atribuído ao nascimento.
Portanto, é importante levar em consideração outros transtornos mentais
que também possam estar presentes juntamente com a DG, como transtornos
ansiosos, transtornos depressivos, transtornos bipolares, transtornos
alimentares, esquizofrenia, comportamento imitativo, transtornos do
desenvolvimento etc., tanto como comorbidades associadas, como sendo
diagnósticos diferenciais. O diagnóstico diferencial e os diagnósticos das
comorbidades associadas são fundamentais para garantir que o tratamento
adequado seja fornecido aos indivíduos com DG.

6 COMPORTAMENTO IMITATIVO
O comportamento imitativo pode ser um diagnóstico diferencial importante
para a DG, sendo confundido com o desejo de transição de gênero. O
comportamento imitativo ocorre quando uma pessoa imita as características,
maneirismos e comportamentos de outra pessoa, sem ter uma identidade de
gênero incongruente.
A diferenciação entre comportamento imitativo e DG pode ser difícil e
requer uma avaliação cuidadosa por parte de profissionais de saúde mental.
Alguns fatores que podem ajudar a diferenciar incluem a duração e a persistência
da imitação, a presença de outros sintomas psicológicos e a presença de uma
identidade de gênero incongruente.

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Além disso, é importante levar em conta a história pessoal e a evolução
da identidade de gênero do indivíduo, bem como seus sentimentos e atitudes
em relação ao gênero imitado. É importante realizar uma avaliação abrangente,
incluindo entrevistas clínicas, avaliações psicológicas e histórico médico, antes
de fazer qualquer diagnóstico.
Em geral, é importante que os profissionais de saúde mental trabalhem
com os indivíduos para entender suas necessidades e desejos, e forneçam apoio
e recursos adequados, independentemente de se tratar de comportamento
imitativo ou transtornos de identidade de gênero. É importante lembrar que todos
os indivíduos merecem ser tratados com respeito e dignidade, e que a
abordagem mais eficaz é uma abordagem individualizada, centrada no paciente.

7 PSICOSE E A DISFORIA DE GÊNERO


Não há evidências conclusivas que estabeleçam uma correlação direta
entre psicose e DG. No entanto, algumas pesquisas sugerem que pessoas com
DG possam ter um risco aumentado de desenvolver distúrbios psicóticos, como
esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar. Isso pode ser devido a fatores como
estresse e discriminação relacionados à sua identidade de gênero, bem como
ao fato de que muitas vezes essas pessoas são negadas ou impedidas de
expressar sua verdadeira identidade de gênero.
No entanto, é importante destacar que a DG por si só não é um fator de
risco para a psicose e que a maioria das pessoas com DG não desenvolve
distúrbios psicóticos. Além disso, a atenção e o apoio adequados da comunidade
médica e social podem ajudar a minimizar o risco de problemas psicológicos em
pessoas com DG.
Ou seja, há evidências contraditórias sobre a associação entre psicose e
Transtorno de Identidade de Gênero. Em alguns casos, a psicose pode afetar a
percepção da própria identidade de gênero, enquanto em outros casos o
transtorno de identidade de gênero pode ser resultado da rejeição e
discriminação enfrentadas por indivíduos.

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Não obstante, é importante destacar que a maioria das pessoas com DG
não apresenta psicose e que a relação entre as duas condições requer mais
pesquisas para ser completamente compreendida.

8 ESTIGMA E DISFORIA DE GÊNERO


O estigma e a discriminação são importantes questões para pessoas que
experimentam DG. Essas pessoas frequentemente enfrentam desafios em
vários aspectos da vida, incluindo relações interpessoais, educação, emprego e
saúde.
O estigma e a discriminação contra pessoas transgênero são amplamente
divulgados e podem ser perpetuados por crenças e atitudes negativas sobre a
diversidade de gênero. Isso pode levar a uma série de barreiras, incluindo
dificuldades em obter tratamento adequado para a DG, e aumenta o risco de
problemas de saúde mental, incluindo ansiedade, depressão e ideias suicidas.
Além disso, ambos problemas podem impedir que as pessoas
transgênero compartilhem sua experiência ou busquem ajuda, o que pode
prolongar o sofrimento e aumentar o risco de complicações de saúde mental.
É importante destacar que os desafios enfrentados por pessoas
transgênero não são apenas uma questão individual, mas também uma questão
social e política. A sociedade precisa trabalhar para combater o estigma e a
discriminação e garantir que as pessoas que vivem com o DG tenham acesso a
recursos e apoio adequados. Isso inclui a criação de políticas e leis que protejam
os direitos dos transgêneros e a promoção de uma cultura mais inclusiva e
aceitadora.

9 O OLHAR DA PSICANÁLISE
A teoria psicanalítica tem uma longa história de abordagem da DG, mas
suas perspectivas são controversas e limitadas. Algumas teorias psicanalíticas
sugerem que a formação da identidade de gênero começa na infância,
influenciada por fatores como modelos de comportamento de gênero fornecidos
pela família e pela sociedade, bem como questões psicológicas subjacentes,

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como identificação com o pai ou a mãe. Algumas teorias argumentam que a DG
pode ser resultado de conflitos internos ou de uma falta de identificação com o
gênero designado ao nascer.
Jacques Lacan, um psicanalista francês do século XX, desenvolveu uma
teoria da subjetividade que inclui conceitos relevantes para a compreensão da
DG. Lacan argumenta que a formação da identidade de gênero está ligada à
construção da identidade subjetiva, influenciada por fatores como modelos de
comportamento de gênero fornecidos pela família e pela sociedade, bem como
por questões de linguagem e representação simbólica.
No entanto, a abordagem lacaniana à DG é controversa e não leva em
conta as perspectivas e experiências das pessoas com DG. Portanto, muitos
profissionais da saúde mental agora recomendam abordagens mais baseadas
em evidências, como a terapia de aceitação e compromisso ou a terapia de
orientação de gênero.

10 SUICÍDIO E DISFORIA DE GÊNERO


Infelizmente, as pessoas com DG enfrentam uma carga significativamente
maior de risco de suicídio em comparação com a população geral. De acordo
com vários estudos, a prevalência de tentativas de suicídio entre as pessoas com
DG pode ser tão alta quanto 41%.
Vários fatores estão associados ao aumento do risco de suicídio entre as
pessoas com DG, incluindo:
1) Estigma e discriminação: pacientes com DG frequentemente
enfrentam barreiras sociais, incluindo discriminação, bullying e violência.
Essas experiências podem levar a sentimentos de isolamento, baixa
autoestima e depressão.

2) Dificuldades na transição: pacientes com DG decidem passar por


uma transição de gênero, o que pode ser um processo difícil e demorado.
As barreiras, incluindo a falta de acesso a cuidados de saúde, podem
levar a dificuldades financeiras e estresse adicional.

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3) Problemas de saúde mental: pacientes com DG podem
desenvolver problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade,
devido ao estigma, à discriminação e às dificuldades na transição.

4) Falta de apoio: pacientes com DG podem enfrentar dificuldades em


encontrar apoio emocional e social. Alguns podem sentir que não têm
amigos ou familiares em quem possam confiar, o que os expõe ao risco
de suicídio.
Para reduzir o risco de suicídio entre as pessoas com DG, é importante
aumentar a conscientização e a compreensão sobre essa condição, combater o
estigma e a discriminação e fornecer apoio e cuidados de saúde adequados.
Isso pode incluir terapia de orientação de gênero, terapia de aceitação e
compromisso ou terapia cognitivo-comportamental. Além disso, é importante
garantir que as pessoas com DG tenham acesso a cuidados médicos e
cirúrgicos, se desejarem, para ajudá-los a viver de acordo com sua identidade
de gênero.
Vários estudos têm examinado a prevalência de tentativas de suicídio
entre as pessoas com DG. Que evidenciam os seguintes resultados:
Um estudo publicado em 2014 na revista JAMA Psychiatry encontrou que
41% das pessoas com DG relataram pelo menos uma tentativa de suicídio na
vida. Outro publicado em 2016 na revista LGBT Health encontrou que 30% das
pessoas com DG relataram pelo menos uma tentativa de suicídio na vida. Outra
publicação de 2019 na revista Suicide and Life-Threatening Behavior encontrou
que 39% das pessoas com DG relataram pelo menos uma tentativa de suicídio
na vida. Tais estudos indicam que a prevalência de tentativas de suicídio entre
as pessoas com DG é significativamente maior do que a prevalência geral na
população. É importante destacar que o suporte e o acesso aos cuidados de
saúde adequados podem ser fatores importantes para a prevenção do suicídio
entre as pessoas com DG.

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11 ABORDAGEM DA PSIQUIATRIA NA DISFORIA DE GÊNERO
A abordagem da psiquiatria na DG tem evoluído ao longo do tempo.
Atualmente, a abordagem mais comum é baseada em evidências científicas e
enfatiza o respeito à identidade de gênero autodeterminada das pessoas com
DG, em vez de tentar mudar ou corrigir a identidade de gênero.
De acordo com a CID-11, a DG é definida como "uma condição em que
há uma incongruência entre a identidade de gênero e o sexo biológico, associada
a sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo funcional". A abordagem atual
da Psiquiatria é tratar a DG como uma condição médica legítima que requer
intervenção clínica e apoio.
A intervenção clínica mais comum inclui terapia de apoio e tratamento
hormonal, bem como cirurgia de readequação genital, se desejado.
A terapia de apoio pode ajudar as pessoas com DG a lidar com questões
emocionais, como ansiedade, depressão e estresse, enquanto o tratamento
hormonal pode ajudar a alinhar a aparência física com a identidade de gênero.
A cirurgia de readequação genital pode ser realizada se desejada e se
houver uma equipe clínica competente disponível.
Algumas referências importantes na literatura médica incluem o "Manual
de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria" (DSM-5-TR) e
"Guideline on the Management of Gender Dysphoria" da World Professional
Association for Transgender Health (WPATH).
É importante destacar que a abordagem da psiquiatria na DG é uma área
em constante evolução e que é importante que as pessoas com DG tenham
acesso a profissionais de saúde mental e médicos que sejam sensíveis e
acolhedores e que ofereçam tratamento baseado em evidências.

12 NEUROCIÊNCIAS NA DIMENSÃO CEREBRAL


As neurociências têm ajudado a compreender a DG ao estudar a relação
entre o cérebro e a percepção de gênero. Embora ainda não haja uma
compreensão completa sobre a causa da DG, estudos recentes sugerem que

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exista uma conexão entre a estrutura, a função cerebral e a percepção de
gênero.
Alguns estudos de imagem cerebral têm mostrado que as diferenças
estruturais e funcionais no cérebro podem estar associadas à DG. Alguns
pesquisadores descobriram que a amígdala, região do cérebro responsável pela
regulação das emoções, pode ser menor em indivíduos trans do que em
indivíduos cisgênero. Além disso, as áreas do cérebro responsáveis por
processar as informações sensoriais e corporais, como a sensação de corpo,
podem ser diferentes entre indivíduos trans e cisgênero. Outros estudos
sugerem alterações em hipotálamo e o córtex pré-frontal associados a
mudanças na atividade de neurotransmissores e na conectividade cerebral.
Uma das descobertas mais recentes é que a diferenciação de gênero no
cérebro pode ocorrer antes do nascimento, com diferenças na formação de
nervos e na atividade de neurotransmissores. Algumas pesquisas também
sugerem que as pessoas transgênero podem ter características cerebrais mais
semelhantes ao gênero com o qual se identificam do que ao gênero atribuído ao
nascimento.
Esses estudos podem ser feitos das seguintes formas:
Estudos de ressonância magnética funcional (fMRI): Estes estudos usam
a fMRI para mapear a atividade cerebral e investigar as diferenças entre
indivíduos transgênero e cisgênero em diferentes regiões do cérebro.
Estudos de neuroimagem estrutural: Estes estudos usam técnicas como
ressonância magnética (MRI) para medir as diferenças na estrutura do cérebro
entre indivíduos transgênero e cisgênero.
Estudos de neuroquímica: Estes estudos investigam as diferenças na
expressão de neurotransmissores e outros marcadores bioquímicos entre
indivíduos transgênero e cisgênero.
Estudos de conectividade cerebral: Estes estudos investigam as
diferenças na conectividade entre diferentes regiões do cérebro entre indivíduos
transgênero e cisgênero.

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No entanto, é importante destacar que essas descobertas são ainda muito
recentes e precisam ser replicadas em estudos adicionais antes de serem
consideradas conclusivas. Isso porque a DG é uma condição complexa que
envolve muitos fatores, incluindo a biologia, a psicologia e a sociologia.

13 GENÉTICA E HERDABILIDADE
A pesquisa sobre a genética e a herdabilidade na DG é um campo em
desenvolvimento, e ainda há muito a ser aprendido sobre a complexidade desses
fatores na formação da identidade de gênero. No entanto, alguns estudos
sugerem que a predisposição à DG pode ser influenciada por fatores genéticos
e biológicos, em conjunto com outros fatores, como a influência social e
ambiental.
Os estudos de irmãos com DG indicam que há uma tendência genética, o
que sugere que a predisposição à DG pode ser herdada. Além disso, outros
estudos que examinaram a diferença cerebral entre pessoas cisgênero e
transgênero encontraram diferenças significativas no cérebro e na atividade
cerebral, sugerindo que os fatores biológicos também desempenham um papel
na formação da identidade de gênero.
No entanto, é importante destacar que a DG é uma condição complexa e
multifatorial, e não pode ser atribuído a uma única causa genética ou biológica.
A identidade de gênero é formada por uma combinação de fatores genéticos,
biológicos e ambientais, e é importante considerar todos os fatores ao avaliar e
compreender a DG.
Em resumo, a genética e a herdabilidade podem desempenhar um papel
na predisposição à DG, mas ainda há muito a ser aprendido sobre esse assunto.
Pois, como já dito, a identidade de gênero é formada por uma combinação de
fatores genéticos, biológicos e ambientais, e é importante considerar todos os
fatores ao avaliar e compreender a DG.

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14 CONCLUSÃO
A conclusão deste artigo de revisão sobre Disforia de Gênero (DG)
destaca a necessidade de uma abordagem multidisciplinar e baseada em
evidências para o entendimento e o tratamento do transtorno. É importante que
profissionais capacitados trabalhem juntos para fornecer um tratamento
personalizado e eficaz a cada indivíduo com DG, tendo como objetivo a melhora
da qualidade de vida e a atingir uma identidade de gênero coerente.
Além disso, a literatura revisada sugere que as neurociências têm um
papel importante na compreensão da DG, fornecendo evidências de diferenças
neuroanatômicas e neurofuncionais entre indivíduos com DG e aqueles que se
identificam com o gênero de nascimento, com alterações já observadas antes do
nascimento, com diferenças na formação de feixes nervosos e na atividade de
neurotransmissores. Tais evidências são capazes de diminuir o preconceito e
estigma ao redor do tema ao sinalizar aos mais céticos alterações estruturais
que não podem ser negadas.
Fica nítido, após toda discussão abordada neste artigo, que apenas a
assistência de um único profissional no transtorno, seja ele psiquiatra, psicólogo
etc., não fornecerá o tratamento com melhores resultados para o paciente, pois
uma abordagem multidisciplinar e baseada em evidências é crucial para alcançar
esse objetivo.
Por fim, conclui-se que é essencial que as pessoas com DG recebam
apoio e tratamento adequados, baseados em abordagem multidisciplinar, para
ajudá-las a atingir uma identidade de gênero coerente e melhorar sua qualidade
de vida.

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