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I – Introdução
“Homem forte”, de temperamento enérgico e polêmico.
A expressão foi tema de uma conferência sobre d. Francisco de Campos Barreto
pronunciada por mons. Luiz Fernandes de Abreu em 11 de setembro de 1961 na casa
generalícia das missionárias: «Não haveis de estranhar que eu tenha tomado por tema:
“O homem forte”. (...) A minha palestra é expressão de uma alma reconhecida e que
pôde apreciar durante muitos anos, a personalidade ímpar do Sr. Dom Barreto e,
podendo, portanto, afirmar: ele teve as características todas de um santo. (…) Eu não
verei, (estou com 64 anos), não verei a canonização de Dom Barreto, mas eu tenho
certeza, certeza segura de que mais hoje mais amanhã será instaurado o processo de
canonização de Dom Barreto, porque ele foi o homem de Deus, ele teve todos os sinais
do homem escolhido por Deus para as grandes realizações, ele teve o espírito e teve as
marcas de quem se entregando a Cristo realizava o que Cristo quis que fosse
realizado». ACG-MJC. armário 6. pasta «Fundador» 22. 1-15.
Nosso incansável patrono, fundou ao mesmo tempo a Liga das Mães Cristãs, nascida
em Paris, cujo objetivo era desenvolver nas mães de família os valores da religião cristã
para contribuir diretamente na formação dos filhos. (tinha como padroeira Santa
Monica, notadamente reconhecida pelo seu incansável empenho na conversão de seu
marido, um homem violento e mulherengo e de seu ilustre filho, o Santo Agostinho, por
estes feitos é considerada a padroeira das mães católicas).
São frutos comuns da Congregação da Doutrina Cristã e da Liga das Mães Cristãs:
Os homens não ficaram de fora de sua preocupação com a formação de uma sociedade
católica, e no ano de 1906 fundou na Paroquia de Santa Cruza “União de Santo
Agostinho”, uma espécie de clube, com atividades sociais, serões, jogos lícitos, sem se
esquecer de proporcionar a formação católica. Em 1907 criou também a Liga do
Menino Jesus, donde surgiram de suas fileiras diversas ordenações sacerdotais.
Finalmente em 07/06/1908 foi criado o Bispado de Campinas, sendo seu primeiro bispo
um velho conhecido do padre Francisco, Dom Nery, o pároco que ele acolitava quando
criança, um dos responsáveis pelo despertar de sua vocação sacerdotal, dessa maneira, a
Matriz de Campinas foi elevada a Catedral. Na mesma Bula Papal em que foi criado o
Bispado de Campinas, São Paulo foi elevado a Arquidiocese.
No Livro do Tombo n. 1 da Arquidiocese de Campinas, não se acham registros
manuscritos do primeiro bispo diocesano. Assim, o segundo bispo, após transcrever
ao menos a ata da posse de d. Nery, passa aos seus assentamentos. «Este livro é
destinado a receber o histórico da Diocese de Campinas. É o Livro do Tombo número
um porque até hoje não encontrei nenhum livro com a história deste Bispado, o que é
de se lamentar pela falta que há de fazer a ausência de tantos fatos interessantes e
sucedidos nos primeiros doze anos da vida desta Diocese. Remediando essa lacuna
começo a notar os acontecimentos de maior vulto e que vêm se dando desde a posse
que tomei deste Bispado de Campinas e ocorrida aos quatorze de novembro de mil
novecentos e vinte». ACMC. Livro do Tombo n. 1 da Diocese de Campinas. fl. 1.
Como resultado de seu empenho pessoal, e claro, pelo histórico de seu sacerdócio, o
padre Francisco recebeu da Santa Sé o honroso título de Monsenhor Camareiro Secreto
extranumerário de Sua Santidade o Papa Pio X.
O título de Monsenhor Camareiro remonta ao período medieval, ao grupo de
clérigos denominados camerarii que eram ligados ao cubiculum (quarto de dormir) do
papa, no Palácio Lateranense. Chamados de «domésticos» do Santo Padre, às vezes
podiam exercer missões de extrema confiança em nome do mesmo. Competia-lhes
transmitir aos prelados as convocações aos consistórios e às cerimonias, além de zelar
pelo bom andamento da vida cotidiana do Soberano Pontífice. Desde Gregório XI já se
verificava o hábito de conceder tal título em caráter simplesmente honorífico. Os
camareiros que possuíam somente prerrogativa de honra, ficaram posteriormente
conhecidos como extra-numerários. Foi Pio VI quem distinguiu os camareiros de
honra oficiantes em Roma dos camareiros extra urbem que não tinham direito de
entrar
em nenhuma antecâmera papal, mas exerciam a função de camareiros nos
deslocamentos do papa aos seus países de origem. O. GUYOTJEANNIN –
F. JANKOWIAK. «Cameriere». Philippe Levilain. (diretto da). Dizionario storico del
papato. Milano. Bompiani 1996. 222.
Durante os primeiros anos da nova diocese, Monsenhor Barreto foi nomeado para as
seguintes funções:
- Procurador da Mitra Diocesana
- Conselheiro Diocesano
- Cônego Catedrático do Cabido Diocesano
- Cônego Arcipreste do Cabido Diocesano
Em maio de 1909 o jornal “Mensageiro Paroquial” parou de ser publicado para dar
lugar ao jornal oficial do Bispado de Campinas, chamado, à propósito, “O Mensageiro”.
O segundo semestre de 1909 e o primeiro de 1910 foram difíceis para Mons. Barreto,
que até então, só havia experimentado êxitos em sua vida sacerdotal.
Em julho de 1909 foi extinta a Irmandade do Santíssimo Sacramento, irmandade esta
que já tinha sua importância ressaltada pelo próprio Mons. Barreto, logo quando
assumiu a paróquia de Santa Cruz, apontando como a primeira a cooperar com o vigário
para o bem material e espiritual da paróquia, sendo substituída pela Venerável Ordem
Terceira de Nossa Senhora do Carmo. Os reais motivos dessa substituição, como era de
se esperar, não constavam explicitamente nas atas da Irmandade. Passados os anos, em
1966 em uma revista da Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado,
congregação esta fundada por Dom Barreto, como veremos em uma aula futura, lê-se o
seguinte:
- “Havia abusos a combater. A Irmandade do Santíssimo Sacramento recebera
elementos notadamente maçons, não casados pelo sacramento do matrimônio, e outros
de fama duvidosa. Extinguiu-a e valendo-se de bons homens e piedosas senhoras, criou
a Ordem Terceira do Carmo. Suportou críticas ferinas por isso, mas não recuou.
Este fato nos faz recordar tantos outros ocorridos no Brasil durante a “Questão
Religiosa” (conflito travado entre a Santa Igreja Católica e a Maçonaria, no tempo do
Brasil Império) desencadeada pelos Ultramontanos bispos do Pará e recife-Olinda,
respectivamente Dom Antônio de Macedo Costa e Dom Vital.
Ainda o ano de 1909 guardava mais uma triste perda para Mons. Barreto, a enfermidade
e falecimento de sua mãe “Dona Tudinha”, em 24/12/1909.
A criação de um cinema católico nas dependências da União de santo Agostinho
fracassou e gerou prejuízos significativos.
Em 1911, após conseguir eleger 3 vereadores nas eleições municipais de Campinas,
com apoio do assistente espiritual (Mons. Barreto), os membros da União de Santo
Agostinho decidiram montar um partido católico e organizaram um evento para lançar a
ideia da fundação do partido, no qual, também tomou parte o Bispo Diocesano, D. Nery,
porém do lado oposto, isso desmotivou o grupo, inclusive o Mons. Barreto que havia
acompanhado todo o processo e apoiado a iniciativa, também se viu constrangido com a
atitude do Bispo, há quem diga que este episódio teria, inclusive, feito o Mons. Tomar a
decisão de procurar outra diocese, D. Nery sabendo de suas intenções o repreendeu
severamente. Esse fato ocorreu às vésperas de sua nomeação episcopal.
Todas essas experiencias, boas e más vivenciadas na Matriz velha de Campinas foram
importantes no amadurecimento de seu temperamento, desenvolvendo também seu
caminho espiritual. Foi nesse período que ele intensificou a oração pessoal e diária do
Santo Rosário, que nunca mais abandonou. O uso de cilício e outros sacrifícios o
ajudaram a abraçar a austeridade de vida, pois, segundo consta, Mons. Era dado a certas
vaidades, gostava muito de cigarros importados, lenços perfumados e bengalas, certos
costumes aristocráticos da sociedade campinense da época.
Assim procurava amansar seu forte temperamento como se percebe nos testemunhos de
seus amigos:
João Lourenço, antes de se tornar amigo próximo do mons. Barreto, era seu
dirigido espiritual e, freqüentemente alude à dificuldade de argumentar com o padre
quando este estava categoricamente convencido de suas decisões: «(...) tal era ele
como diretor espiritual. Sabia querer e por isso sabia exigir de seus penitentes a
galvanizar-lhes a vontade, quando vinham a flutuar em momentos de perplexidade.
Sua ascendência seria incontrastável se não tivesse o contrapeso da sua prudência, da
sua discrição. Mesmo assim ele punha, não raro, em cheque certas autoridades que se
tinham por mais legítimas; e eis o que explica a atitude desconcertante de certos
católicos: levados pelo despeito eles liam com agrado, num matutino da época, os
ataques de certos anti-clericalistas contra o padre fanático.» ACG-MJC. armário 6.
pasta «Fundador» 22. João Lourenço Rodrigues. Subsídios para uma vida de d.
Barreto. 1° Caderno. 48.
Seu diretor espiritual o padre redentorista Valentim von Riedl, mostra-se feliz por sabê-
lo” mais calmo de espírito” ou “sossegado e animado”. As palavras de encorajamento e
confiança em Deus, ao padre amigo que se encontrava em um mar revolto, saem
naturais e constantes da pena desse diretor espiritual. Não é mero acaso
que o futuro bispo colocará ao centro do escudo de seu brasão episcopal
uma barca em alto mar e a divisa Dominus regit me que já lhe soara
confortadora para a personalidade e o espírito envolto em contínuos
desafios:
Com muita satisfação recebi sua prezada carta vendo que com a graça de
Deus meu bom amigo acha-se agora mais sossegado e animado. Que
Monsenhor reconheça neste fato a vontade consoladora: «vir obediens
victoriam loquestur». Se deixamo-nos guiar pelo Senhor do modo como Ele
quer, desconfiando das nossas idéias pessoais, de certo sempre realizar-se-á
também: Dominus regit me, et nihil mihi deerit (O Senhor me governa, e nada me falta)
Durante seu paroquiato frente à Paróquia Santa Cruz do Carmo, a Matriz Velha de
Campinas, de 1904 a 1911, não faltou ao Padre Campos Barreto esforços em trabalhar e
ousar podendo ser contado entre os mais significativos e frutíferos paroquiatos desta
paróquia. São frutos de seu trabalho:
- Inserção de Católicos na imprensa
- Organização das Associações Religiosas
- Assíduo atendimento aos fiéis, confissões, direção espiritual,
- Reformas e adequações prediais na Matriz Velha
- Escritos no “Mensageiro Paroquial”
- Opúsculos sobre a Igreja Católica contra o protestantismo,
- Protagonismo pela criação do Bispado de Campinas.