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RESENHA: SER PASTOR NO BRASIL

Alexandre Augusto Pinheiro Cardoso1

RIBEIRO, Boanerges. Ser Pastor no Brasil. 1999.

Boanerges Ribeiro nasceu no dia 8 de agosto de 1919 em Rio Parnaíba, Minas


Gerais. Foi ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, cujo Supremo Concílio presidiu,
de maneira consecutiva, entre 1966 e 1978, por três mandatos de 4 anos. Era graduado
em bacharel em Teologia, licenciatura em Filosofia, mestre e doutor em Ciências
Sociais. Foi pastor da Igreja Presbiteriana do Brás, em São Paul capital, e na Igreja
Presbiteriana do Calvário, também na capital paulista, onde por mais de 30 anos serviu
como pastor. Também foi fundador, e diretor entre 1947 e 1961, da Casa Editoria
Presbiteriana; membro dos Conselhos Deliberativos do Instituto Mackenzie, Presidente
do Instituto Mackenzie e Chanceler da Universidade Mackenzie; idealizou e foi diretor
da Fundação Educacional Presbiteriana Rev. José Manoel da Conceição. Faleceu no
dia 17 de fevereiro de 2003.
Esta curta publicação, que consta em 28 páginas, é a transcrição do discurso
proferido por Boanerges Ribeiro, como paraninfo, a convite dos formandos do Seminário
Presbiteriano Reverendo José Manoel da Conceição, no dia 04 de dezembro de 1999.
Tendo percebido a intenção dos alunos ao lhe fazerem o prestigioso convite –
segundo ele, ouvir sobre experiência pastoral e história da igreja (p. 1) –, Boanerges
Ribeiro inicia seu discurso narrando a história que explica sua raiz reformada. Ele narra,
portanto, que seus bisavós, tanto paternos como maternos, aderiram à Reforma, bem
como fundaram a Igreja Presbiteriana na região de Rio Parnaíba (p. 1 e 2).
Ao falar sobre seu pai, Adiron, e sua mãe, Inácia, enfatiza que ambos foram
responsáveis por sua instrução evangélica em casa. O pai, no ensino do Catecismo
para Crianças, a mãe, com o ensino de hinos e orações (p. 3). Aos seis anos, já
alfabetizado, diz Boanerges, já havia decorado o Catecismo para Crianças, os Dez
Mandamentos e o Credo. Tal educação religiosa faz com que aos 7 anos tome a decisão
de ser pastor (p. 3), o que inclusive, conforme o próprio Boanerges, seria a única
possibilidade para sua vida (p. 23).
Mudou-se para Lavras, ainda quando criança, a fim de que seu pai concluísse o
Ginásio e, após isso, ir para o Seminário em Campinas (p. 3). Em Lavras, narra
Boanerges, a igreja era modelar no atendimento às crianças, o que também contribuiu

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Seminarista Presbiteriano da Igreja Presbiteriana do Brasil em São João del Rei, Minas Gerais,
pelo Seminário Teológico Presbiteriano Reverendo José Manuel da Conceição em São Paulo.
de maneira singular para seu crescimento na fé e segurança em meio a um lugar onde
os protestantes eram minoria religiosa (p. 5). Situação esta, que se intensificou quando
passou à 5ª e 6ª série do Gammon e depois ao Ginásio. Literalmente, diz Boanerges
“Era outro mundo. Era como viver em país de maioria católica romana, mas de governo
protestante” (p. 5-6), uma vez que os professores eram protestantes (p. 6).
Já em Campinas, quanto a igreja, diz Boanerges ser uma igreja dinâmica, com
excelentes estudos bíblicos, palestras apologéticas, atividades sociais, esportivas e
recreativas, e um Coral (p. 7). Na memória de Boanerges recebe destaque o Rev. José
Borges dos Santos Jr., como sendo alguém apaixonado, trabalhador, brilhante e
eloquente (p. 7).
Aos 17 anos matriculou-se no Seminário onde conviveu com a 2ª geração dos
formadores-de-pastores da denominação Presbiteriana do Brasil, bem como, após
ordenado, pastoreou filhos e netos de velhos reformadores (p. 8). Estas coisas, disserta
Boanerges, mostram que ele conviveu com três nascentes históricas da Reforma no
Brasil. A primeira, seus bisavós e o Rev. Thompson (p. 1-2); a segunda, seus
professores (p. 8); a terceira, suas ovelhas, descendentes dos velhos reformadores (p.
8).
Boanerges, a partir de sua história pessoal, inicia um introito à história da Igreja
Presbiteriana do Brasil ao destacar o que ele chama de nascentes. Uma das nascentes
é a nacional, que se inicia da genuína piedade do padre Conceição (p. 9). Outra
nascente é a “Igreja do Norte” dos Estados Unidos, que enviou missionários ao Brasil
para clonar aqui sua Igreja. O que foi feito através do trabalho de Simonton, Blackford,
Schneider, Howell, Carvalhosa (p. 10). Por fim, há a nascente da “Igreja do Sul” dos
Estados Unidos que, ao contrário da “Igreja do Norte”, embora plantasse novas igrejas
não formavam presbitérios, bem como retinha a tutela eclesiástica de grupos já
reformados, à mando da Igreja-Mãe (p. 11).
Uma pessoa que recebe destaque, tanto em sua história quanto na da Igreja no
Brasil, é Erasmo Braga. Dentre muitos feitos deste homem, Boanerges destaca a
síntese modelar do Seminário de Campinas; a fundação da Academia Paulista de
Letras; e a produção exaustiva de literatura didática, tanto para escolas públicas quanto
para as escolas bíblicas dominicais (p. 12).
Avançando em sua história, de maneira interligada à da Igreja, Boanerges
destaca a influência de Erasmo Braga em seus professores de Seminário que,
consequentemente, o influenciaram à luz do pensamento de Erasmo. A ênfase, ou
síntese, é a de que o pastor deve edificar a igreja, construir e não destruir (p. 13).
O contexto histórico construído por Boanerges, quanto à Reforma no Brasil, leva
em consideração a influência cultural. Neste sentido, ele destaca que a sociedade
brasileira era [é] patrimonialista e corporativista, o que é antagônico à Reforma e,
portanto, ao seu trabalho (p. 16-17). Estas coisas, que são chamadas por Boanerges de
“vícios culturais” (p. 19), decorrem da influência de Portugal sobre o Brasil.
Relacionado à Portugal, Boanerges enfatiza a participação do Marquês de
Pombal, que fez uma reforma, não religiosa, mas secular, no Brasil ao expulsar do
território os jesuítas (p. 21). O que, embora não muito eficaz, colaborou para romper
diques, ensejar leituras, abrir caminho para alguma liberalização do pensando e,
principalmente, para a possibilidade da imigração de protestantes; a fundação de seus
locais de culto; pregação da Reforma na Religião dos brasileiros, e o estabelecimento
de igrejas nacionais de Reforma. (p. 21).
Nesse ensejo, Boanerges aponta a necessidade de aprender a cultivar as raízes
históricas da Reforma que, inclusive, impedem a prévia cultura de patrimonialismo;
corporativismo e a ideia de privilégio ao clero – uma vez que, conforme destaca
Boanerges, a edificação da Igreja cabe a todos os fiéis (p. 21).
Caminhando para o cerne e fim de seu discurso, Boanerges levanta uma
problemática e um conselho para a resolução dela. Primeiramente, aponta para as
tentativas de Reforma no seio da Igreja no Brasil. No entanto, reformas seculares, não
espirituais e bíblicas (p. 22). O início dos conselhos à turma de formandos, a partir
desse problema, é que “o retrato do pastor está gravado com detalhes na Escritura
Sagrada” (p. 23). Em outras palavras, o pastor deve ser bíblico e, portanto, ter intenções
e atitudes bíblicas, e não seculares.
Boanerges, usando o exemplo de Paulo em seu problema com Alexandre, o
latoeiro, mostra aos formandos a realidade das amarguras no pastorado (p. 23-24), mas
também enfatiza que há compensações, inclusive que decorrem das próprias
amarguras. Assim, com o próprio exemplo, conta algumas das compensações do
ministério, tais como o próprio serviço à Igreja e as conversões vistas durante seus 58
anos – até o momento – de ministério; seus títulos, tal como de Cidadão Paulistano;
suas honras, ao ter tido seu nome dado ao Grêmio Estudantil do Seminário “JMC”; ter
sido feito o paraninfo da presente turma, bem como ter sido elegido pastor emérito na
Igreja do Calvário, onde pastoreou por 46 anos (p. 25).
Finalmente, alguns conselhos ministeriais, no entanto, de cunho mais pessoal,
são dispensados aos formandos. Em primeiro lugar, Boanerges orienta os formandos
quanto ao casamento: “casem-se bem” (p. 27). Depois, “tenha bons filhos” (p. 27). Por
fim, ao que parece em tom descontraído e com pretensão de atribuir prestígio, “seja
pastor na Igreja do Calvário” ou “da mais parecida possível”, entendendo-se bem com
ela; sendo-lhe dedicado; identificando-se com ela, para que essa amizade seja
correspondida. “Deus os guarde” foram suas últimas palavras aos formandos (p. 28).

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