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MLODINOV, Leonard. De Primatas a Astronautas: A jornada do homem em busca do conhecimento.

1. ed. Trad. Claudio Carina. Rio de Janeiro: Zahar, 2015. 392 p.

RESENHA CRÍTICO-DESCRITIVA
Maria Clara Moreira Lima1

Leonard Mlodinow nasceu em Chicago, Estados Unidos, em 1954 e é autor de 5 livros


best-sellers. Doutor em física pela Universidade da Califórnia, Berkeley, possui uma grande
bagagem profissional, como sua parceria de livro com Stephen Hawking, seus roteiros escritos
para séries americanas como Star Trek e suas publicações para a The New York Times, além
de seu período como professor e pesquisador.
Mlodinow escreveu em 392 páginas muito do que a sociedade sabe, ou não, sobre si,
mas que não consegue explicar. O livro De Primatas a Astronautas: A jornada do homem em
busca do conhecimento foi dividido em três partes, sendo a primeira parte, nomeada de Quando
nos erguemos, sobre o surgimento e evolução do ser humano e o foco dessa resenha. O autor
consegue, em cinco capítulos, induzir o leitor à um outro universo, levando-nos para anos antes
de nossa existência, em seguida para os primeiros vestígios de origem da raça humana e por
fim, para o que somos hoje.
De início, no 1° capítulo do livro, ao relatar uma situação vivenciada pelo pai em um
campo de concentração, o narrador mostra que o ser humano, independentemente de seu nível
de estudos e inteligência, é capaz de se interessar por qualquer assunto e ter força de vontade
para aprender. Apesar de tudo, todos nós temos interesse em alguma área do universo e temos
a liberdade, que outros seres não têm, de pensar, estudar e formar nossas próprias opiniões.
Trazendo em discussão exemplos tecnológicos, o capítulo inicial também mostra como
as coisas evoluíram e continuarão a evoluir exponencialmente, ou seja, o que era um processo
lento de centenas ou milhares de anos, a cada dia se torna mais rápido e eficaz satisfazendo,
principalmente, as vontades humanas. No entanto, o livro explica que com as evoluções de
modo geral existe também uma rejeição natural à mudança, o que quer dizer que estamos
propensos a nos acomodar em nossos próprios ideais. Isso pode ser chamado de limitação
universal, em que, como o nome já diz, nos limitamos ao padrão convencional do mundo.
Em seguida, no 2° capítulo, Mlodinov escreve sobre a evolução de espécies e o
desenvolvimento do cérebro humano. Lucy, da espécie Autralopithecus afarensis, foi um fóssil
encontrado em 1974 e considerado uma das primeiras criaturas quase humanas da Terra que
viveu por volta de 3 ou 4 milhões de anos, porém, a primeira espécie mais semelhante com o
que somos hoje são os Homo habilis, que possuíam cérebro maior e também eram mais
inteligentes. Foi nesse momento em que surgiram as primeiras descobertas como a produção da
pedra lascada, que hoje pode ser algo simples, mas na época foi um ato gigante.
Antes de nós, ainda existiu os Homo erectus e Homo sapiens que possuíam habilidades
e inteligência cada vez melhores, no entanto, dentre tantas espécies humanas, nós, Homo
sapiens sapiens, fomos os últimos e únicos a nos adequar e sobreviver devido ao poder de
nossas mentes. Apesar de não termos a mesma força e os mesmos músculos que os animais,

1
Maria Clara Moreira Lima é estudante do Curso de Bacharelado em Engenharia de Produção do Instituto
Federal de Educação de Ciência e Tecnologia São Paulo, Campus Pirituba.
somos os únicos seres capazes de relacionar e separar o instinto da razão, criar novas
ferramentas e pensar em técnicas de sobrevivência.
No capítulo 3, é discutido sobre a evolução do homo sapiens sapiens. Na passagem do
período Paleolítico para o Neolítico, o ser humano passa a perceber e perguntar sobre o sentido
da vida e questões físicas nunca antes questionadas. Quem antes vivia como nômade, indo de
lugar a outro constantemente, agora aprende a se acomodar em aldeias e a produzir seu próprio
alimento, fazendo a natureza trabalhar a seu favor e não mais o contrário. E o que uniu essas
aldeias não foi a necessidade de dividir serviços, e sim crenças coletivas, culturais e religiosas,
como as sobre a vida e a morte.
Nessas aldeias, eles não tinham o costume de dividir trabalhos e serviços, mas sim
estudos e conhecimento. Com isso, o terceiro capítulo conclui que todas as descobertas são
coletivas utilizando conhecimentos do passado ou do presente, com o compartilhamento de
ideias e a inovação, o que foi definido como retenção cultural: “Não se trata de quanto você é
inteligente. Trata-se de quanto você é bem conectado”.
O 4° capítulo se inicia com a mudança das aldeias para as cidades. De início, houveram
dificuldades com a irrigação de água, mas com o tempo, os indivíduos perceberam que o esforço
grupal, que não era algo comum nas aldeias, era eficiente e aprimorava os trabalhos. Com isso,
surgiram as primeiras profissões, comércios e trocas de serviços. E com tantas burocracias era
necessário de uma autoridade. Para os mesopotâmicos, Igreja e Estado estavam interligados e
divindades comandavam tudo, e pelas novas responsabilidades, foram inventadas as três
ferramentas mais importantes até os dias de hoje: escrita, leitura e aritmética.
Para nós, a fala é algo natural do ser humano, mas a escrita não. Por isso foram criadas
as primeiras escolas para passar o aprendizado, onde utilizavam tabuletas para escrever, o que
foi de grande avanço para a sociedade. Tempos depois surgiu também a matemática, que era
utilizada não só para comércio com também para a área da engenharia. E com a matemática
foram desenvolvidas as primeiras leis científicas e teóricas.
O conceito de leis surgiu nas cidades por conta de comportamentos que deviam ser
restringidos. Foi criado pelas autoridades, então, o Código de Hamurabi, que consistia em um
conjunto de leis para manter a boa conduta dos cidadãos e quem não as seguisse seria multado.
Além disso, eram decretos e comandos que a natureza “obedecia”.
Por fim, no capítulo 5 é dito sobre a invasão de Alexandre O Grande na Mesopotâmia e
a valorização do homem e cultura grega a partir desse momento. Alexandre usou de sua
popularidade e poder para disseminar o que aprendeu com Aristóteles, seu professor na Grécia.
Segundo Aristóteles, a vanguarda do iluminismo grego encontrava-se em Mileto, e
Tales, que fazia parte do grupo de pensadores da época, demonstrou a matemática e acreditava
que a natureza vinha da ciência, não da mitologia. Já Pitágoras foi quem ajudou a popularizar
a matemática como linguagem. Aristóteles, também gostava de observar a natureza e criou
diversas teorias onde buscava propósitos para os acontecimentos. Aristóteles não achava sua
física perfeita, mas a considerava o primeiro passo para o futuro.
A primeira parte de Primatas à Astronautas foi uma grande caixinha de surpresas. Traz
não só a história dos nossos antepassados de forma bem explicativa, mas também reflexões para
nossa sociedade moderna. Pensar que nossa origem vem de macacos e ratos, ou o fato de sermos
a única espécie homo sobrevivente até hoje, e isso apenas pela nossa força intelectual, seria
absurdo de se imaginar sem o trabalho árduo de cientistas, pensadores e pesquisadores.
O livro também nos faz refletir sobre a verdade e como ela pode mudar de tempos em
tempos. O que era uma verdade para os povos de milhões de anos atrás, possivelmente não é
uma verdade para alguém do mundo moderno. E uma descoberta feita naquela época não parece
tão genial para mim como foi para eles. Ainda assim, é imprescindível dizer que tudo o que
temos e somos hoje se deve a esse povo que fez pequenas grandes descobertas na Terra.
Os cinco primeiros capítulos, apesar de extensos, são leves e de fácil leitura, o que fixa
o leitor e cria uma certa curiosidade. Além disso, o autor também relaciona os acontecimentos
físicos e teóricos com histórias de sua vida real e experimentos, o que faz o texto ser dinâmico
e didático.
Leonard Mlodinov conseguiu escrever de forma sábia, fazendo jus ao nome de nossa
espécie, de fato. Trouxe muitas informações que provavelmente já sabíamos, mas não
conseguíamos colocar em palavras. Mais que isso, ele juntou fatos do passado com fatos do
presente para comprovar e concluir uma ideia mostrando que realmente tudo se trata do
compartilhamento de conhecimento, e que o ser humano não chegaria tão longe sem o outro.

REFERÊNCIAS

MLODINOV, Leonard. De Primatas a Astronautas: A jornada do homem em busca do conhecimento.


1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2015. 392 p.

Leonard Mlodinow Biography. Leonard Mlodinow.com. Disponível em: <leonardmlodinow.com>.


Acesso em: 22 abr. 2022.

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