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9 - nº 4 • 2014
Artigo Original
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Fisioterapia Ser • vol. 9 - nº 4 • 2014
Abstract
Introduction: Low back pain can affect a pregnancy regardless of the stage, appearing more intense in the last two
trimesters. The aquatic therapy contributes to the monitoring of this framework, and may use Watsu method to relax muscles
and reduce pain these patients. The present study aimed to evaluate the painful level and quality of life in pregnant women
with low back pain answered by Watsu method. Methodology:05 pregnant women participated as sample, 18 to 30 years with
pain started in the second trimester of pregnancy who were evaluated before the first session and at the last by the Roland-
Morris questionnaire for quality of life and before and after each session by visual analogue scale (VAS) to measure pain. The
participants underwent 8 sessions of Watsu method with water at 35 º C, 2 times a week, following the Basic Flow protocol
described by Dull at the Academy Ana Unger-Hydro Center in Belem (PA). Results:After analyzing the data, we observed that
two pregnant achieved a 100% reduction in pain symptoms, while others had a smaller reduction (91.1%, 90.2% and 86.3%)
when evaluated the level of pain for each session, it was observed in sessions 4th, 5th, 7th and 8th, a 100% reduction in pain
level and smaller reductions in other sessions. We also observed that the improvement in the level of pain was 87.9% at the
end of treatment as well as in quality of life with 86.66% of improvement. Conclusion: In the present study we observed a
significant improvement, both for the level of pain, and quality of life of pregnant women after application of Watsu.
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Este estudo procurou verificar os efeitos do método Watsu somatória, que indica menor qualidade de vida ao se aproxi-
no tratamento do nível de dor lombar e na melhora da qualida- mar de 24 pontos, indicando um pior estado da lombalgia10.
de de vida em grávidas com lombalgia gestacional, conside- Após a coleta dos dados, foi iniciada a aplicação do mé-
rando-se a grande prevalência desta alteração e a necessida- todo Watsu, individualmente, em temperatura de 35ºC, ilumi-
de de maior referencial para aplicação do método no acompa- nação reduzida e ausência de ruídos, seguindo a sequência
nhamento de grávidas nesta condição. de movimentos chamada de “Fluxo Básico e livre flutuação”,
de acordo com o protocolo de aplicação descrito por Dull7,
Metodologia onde cada movimento foi repetido três vezes, totalizando em
A pesquisa foi do tipo transversal e quantitativo com amos- média de 50 minutos em cada sessão, com uma frequência de
tra intencional, sendo constituída por 05 gestantes, com faixa duas vezes por semana totalizando oito sessões.
etária entre 18 e 30 anos, na cidade de Belém (PA), que apre- Após o registro dos dados, as informações foram tabula-
sentassem lombalgia até o segundo trimestre de gestação, fo- das em banco de dados para análise estatística dos mesmos,
ram excluídas da pesquisa, as gestantes que não completaram considerando-se o nível de significância de p<0,05 ou 5%, pelo
o número de sessões ou que apresentassem outras patologias teste “t” para dados pareados, através do Software BioEstat
associadas, como hipertenção, Pré-eclampsia, disfunções or- 5.0. O banco de dados, bem com as tabelas e os gráficos foram
topédicas, reumatologias, cardiológicas e vasculares modera- construídos e analisados no programa Excel 2007.
das e graves, assim como todos os critérios de contraindicação
para fisioterapia aquática, como presença de feridas, febre, in- Resultados
fecção urinária e intestinal graves, tímpanos perfurados e do- A pesquisa contou com a participação de cinco gestantes,
enças renais sem controle de perda hídrica. que responderam ao questionário da qualidade de vida na ava-
A pesquisa foi realizada nas dependências da Academia liação e na reavaliação, assim como, a avaliação do nível de
Ana Unger-Hidro Center em Belém (PA), após aprovação pelo dor, antes e depois de cada sessão com método Watsu.
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Quando se observa a média da melhora do nível de dor
Pernambuco (UNICAP) sob o CAAE-09980813.7.0000.5206. de cada paciente, identificou-se que duas (paciente 1 e 3)
Após o aceite das participantes por meio da assinatura do obtiveram uma redução de 100% e a paciente 2(91,1%), paci-
TCLE, iniciou-se a avaliação fisioterapêutica, incluindo o ente 4(90,2%) e paciente 5(86,3%) obtiveram redução diferen-
questionário de Incapacidade Roland-Morris e a Escala Visu- ciada respectivamente, gerando assim uma média de 93,52%
al Analógica da dor (EVA). de redução ao nível de dor, que a partir da análise pelo teste t
Antes e após cada sessão era aplicada a EVA para avali-pareado, foi considerada altamente significativa (p=0,01), le-
ação do nível álgico das pacientes, constituída por uma ré- vando-se em conta nível de á<0,05 (tabela 1).
gua de 10 cm, onde a marca da esquerda representa ausência Quando avaliadas as médias do nível de dor das pacien-
tes para cada sessão de Watsu, observou-se ao final da 4ª, 5ª,
de dor e a marca da direita representa a pior dor suportável,
gerando um escore gradativo de 0 a 10 permitindo o 7ª e 8ª sessões houve redução de 100% do nível de dor, en-
estadiamento da dor lombar9. quanto que na 1ª sessão (85,18%), 2ª sessão (92,59%), 3ª
O questionário Roland-Morris foi aplicado no início e sessão (86,20%) e 6ª sessão (83,87%) as pacientes apresenta-
final do tratamento para avaliação da qualidade de vida das ram reduções meros respectivamente no nível de dor. A me-
gestantes, sendo constituído por 24 perguntas objetivas e lhora total média foi de 93,52%, a partir da análise pelo teste t
simples, dando-se uma pontuação “1” para cada afirmação pareado, sendo considerada altamente significante (p=0,01)
do paciente e “0” para cada afirmação negativa, seguida da para o nível de á<0,05 (tabela 2).
Em relação às médias do
Tabela 1: Distribuição de acordo com o nível de dor (EVA) apresentado por cada grávida, nível de dor para as 5 gestantes
antes e depois de cada sessão de Watsu. considerando-se os resultados
obtidos na avaliação e na reava-
liação, observa-se uma melhora
total de 87,9%, considerado-se
altamente significan-te estatis-
ticamente a partir da análise pelo
teste t pareado (p=0,01) para o
nível de á<0,05 (tabela 3).
Em relação às médias do
nível de qualidade de vida ob-
tidos no questionário Roland-
Morris, tanto na avaliação,
quanto na reavaliação, obser-
va-se uma melhora total de
86,66%. Este resultado foi con-
siderado altamente significan-
Fonte: Pesquisa de campo, 2013. te estatisticamente a partir da
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Tabela 2: Distribuição de acordo com o nível de dor (EVA) apresentado pelo grupo de análise pelo teste t pareado
grávidas, antes e depois de cada sessão de Watsu. (p=0,01) para o nível de á<0,05,
demonstrando significativa
melhora na qualidade de vida
das gestantes (tabela 4).
Discussão
Na síndrome lombar gra-
vídica ainda são utilizadas me-
didas da fisioterapia como ca-
lor, massagem, manipulação,
uso de cintas, crioterapia,
eletroterapia, entre outros,
apontando bons índices de
melhora, assim como a
hidroterapia e mesmo o méto-
do Watsu tem se mostrado uma
excelente opção no tratamen-
Fonte: Pesquisa de campo, 2013. *Antes, **Depois.
to das lombalgias11.
Tabela 3: Análise do quadro álgico lombar das gestantes após Em um estudo realizado por Farias, Alves e Leite12, com
o tratamento com o método Watsu. 15 gestantes em Minas Gerais submetidas a sessões de
hidroterapia, apresentaram melhoras nos sintomas de dor lom-
bar. A dor foi avaliada pela EVA com média anterior ao trata-
mento de 6,5 e após o tratamento apresentou melhora de 90%,
corroborando este trabalho que apresentou média de 0,8 após
a reavaliação. Quanto ao questionário Roland Morris para a
avaliação da qualidade de vida, a média obtida antes do trata-
mento foi de 11,87 pontos e obteve melhora de 14,16%, dife-
rentemente do presente estudo, onde houve 86,66% de me-
lhora na qualidade de vida.
Assim como o presente estudo com método Watsu, no
estudo realizado por Carvalho e Tobias13 com quatro bailari-
nos com lombalgia moderada, houve uma melhora média dos
níveis de dor de 97,06% ao final de cada sessão do método,
enquanto este estudo apresentou média de 93,52% ao final
de cada sessão.
Quando analisada a diferença do nível álgico por sessão,
observamos no trabalho de Santos e Pantoja com costureiras
que apresentavam lombalgia crônica, que foram tratadas pelo
Tabela 4: Análise das mudanças na qualidade de vida das ges- método Watsu uma melhora média de 67,14%, sendo este um
tantes após a aplicação do tratamento com o método Watsu. resultado inferior aos achados do presente estudo onde a
melhora foi de 93,52%, para o mesmo número de sessões9.
Considerando-se o nível de dor lombar ao final do trata-
mento com o método Watsu, todas as gestantes apresenta-
ram uma melhora, que foi considerada significativa com 87,9%,
diferentemente de outros estudos, como o estudo de Carva-
lho e Tobias13 com bailarinas que obtiveram uma melhora de
apena 11,12% após as 8 sessões com o método Watsu.
Em relação às médias que foram analisadas para a quali-
dade de vida de todas as gestantes, considerando-se os re-
sultados obtidos na avaliação e reavaliação, observou-se uma
melhora total de 86,66%, bem acima dos achados de Novaes
e Lopes14, que avaliou a qualidade de vida em gestantes que
relatavam dor na região lombar apresentando uma média de
51% após um trabalho com prevenção, relaxamento e fortale-
cimento da musculatura para a melhora do quadro. Também
se observaram resultados menores nos estudos de Carvalho
Fonte: Pesquisa de campo, 2013. e Tobias13 e Pantoja e Santos9 com 53,4% e 74% respectiva-
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Flávia Pinto Belmonte1, Marielly De Moraes1, Nadiesca Taisa Filippin2, Juliana Saibt Martins2,
Sheila Spohr Nedel3, Luciane Najar Smeha4
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Introdução
Paralisia Cerebral (PC) ou encefalopatia crônica não norteadoras acerca do cuidado de um filho com PC. As res-
evolutiva da infância descreve um grupo de desordens no de- postas foram gravadas, transcritas, submetidas à análise de
senvolvimento do movimento e da postura, atribuído a distúr- conteúdo13 e, posteriormente, excluídas.
bios não progressivos que ocorrem no encéfalo imaturo1, 2. Para verificar a relação entre a função motora grossa dos
A lesão encefálica acarreta desordens motoras comple- sujeitos avaliados e a qualidade de vida de suas mães, os esco-
xas, as quais podem variar muito entre os subtipos de PC3,4. res da GMFCS e da SF-36 foram testados quanto à normalidade
Os déficits primários incluem alterações do tônus muscular, e homogeneidade das variâncias (Levene). O coeficiente de
prejuízo do equilíbrio e da coordenação, diminuição da força correlação de Spearman foi utilizado para verificar a correlação
e perda do controle seletivo5. Os sujeitos com PC também entre os dados acima mencionados. O nível de significância
apresentam, frequentemente, distúrbios sensoriais, utilizado foi de pd” 0,05. O software GB-Stat (v.5.1, Dynamic
cognitivos, de comunicação, percepção e comportamento, Microsystems Inc.) foi utilizado para a análise estatística. Foi
podendo manifestar, ainda, episódios convulsivos1. Além dis- aplicada estatística descritiva em alguns dados.
so, ao longo do tempo, eles podem desenvolver complica-
ções ou prejuízos secundários como contraturas musculares Resultados
e deformidades5. A amostra constituiu-se por sete sujeitos com PC, sendo
Neste sentido, as manifestações clínicas nesta popula- três (42,85%) do sexo masculino e quatro (57,15%) do sexo
ção podem limitar o desempenho de atividades funcionais e feminino, com idades entre 7 a 16 anos. O comprometimento
acarretar grande impacto em sua qualidade de vida, bem como motor dos sujeitos avaliados variou entre os níveis II, IV e V,
na de seus familiares6. De fato, o comprometimento motor da com predominância do nível V da GMFCS.
criança com PC relaciona-se com a percepção da qualidade As mães, em sua maioria biológicas (85,72%), possuíam
de vida materna7, pois as suas limitações motoras aumentam idade entre 36 a 64 anos.
as exigências dos cuidados diários, causando uma sobrecar- Os domínios dor, estado geral da saúde e aspectos emo-
ga da mãe para tarefas cotidianas8. Assim, os aspectos pro- cionais da SF-36 constituíram-se aqueles em que as mães
fissional, social e financeiro das mães de sujeitos com PC possuíam uma pior percepção de sua qualidade de vida. Em
podem ser prejudicados devido à redução do tempo livre le- contrapartida, os aspectos sociais apresentaram o maior es-
vando-as a desinteressar-se por si mesmas9, 10. core médio (quadro 1). A tabela 1 apresenta as correlações
Entendendo-se que as limitações apresentadas pelo sujei- entre os domínios da SF-36 e os níveis da GMFCS. Obser-
to com PC podem representar sobrecarga para a mãe, enquanto vou-se que não houve correlação significativa entre os domí-
cuidadora, faz-se necessário conhecer como ela percebe a sua nios da SF-36 e os níveis da GMFCS dos sujeitos com PC.
qualidade de vida, bem como quais são as suas necessidades
e anseios. Estas informações constituem-se subsídios impor- Quadro 1: Domínios da SF-36.
tantes para o desenvolvimento de trabalhos educativos e
multiprofissionais, ajudando a ampliar e melhorar a qualidade
nos atendimentos e nos serviços de saúde10, 11,12.
Assim, este estudo objetivou avaliar a qualidade de vida
das mães cuidadoras, bem como verificar se existe relação
entre a mesma e a função motora grossa de seus filhos.
Metodologia
O estudo caracterizou-se como transversal com aborda-
gem quali-quantitativa e foi realizado no Laboratório de Ensi-
no Prático de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano
(LEP) em Santa Maria- RS. Participaram da pesquisa sete su-
jeitos com PC, de ambos os sexos, com idades entre 7 e 16 Tabela 1: Correlações entre as variáveis.
anos, bem como suas mães cuidadoras. Foram excluídas as Variáveis r p
cuidadoras que não eram as mães, bem como os que não Capacidade funcional X GMFCS 0.33 0.46
concordaram em participar do estudo. Limitação por aspectos físicos X GMFCS 0 1
Dor X GMFCS 0.62 0.13
O projeto foi aprovado na Plataforma Brasil, sob proto-
Estado geral X GMFCS 0.59 0.15
colo nº12005813. 5.0000.5306. Os sujeitos foram esclarecidos Vitalidade X GMFCS 0.39 0.37
sobre o objetivo do estudo e assinaram o Termo de Consen- Aspectos sociais X GMFCS 0.46 0.29
timento Livre e Esclarecido. Aspectos emocionais X GMFCS -0.26 0.56
Primeiramente os sujeitos com PC foram classificados pela Saúde mental X GMFCS 0.35 0.42
GMFCS, instrumento que avalia a gravidade do distúrbio de
movimento e logo após suas mães responderam ao questio- A partir da leitura das entrevistas foram elencadas cinco
nário SF-36, o qual avalia a qualidade de vida. A seguir proce- categorias: o recebimento do diagnóstico; os cuidados com o
deu-se a entrevista semi-estruturada, utilizando-se questões filho; o tempo para si; saúde e desconforto físico e preconceito.
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O recebimento do diagnóstico de PC acho que minha dor nas costas é pelo peso da minha
Algumas mães relataram como foi o momento do recebi- filha (...).” (Gardênia)
mento do diagnóstico do filho, o desconhecimento diante da “(...) Tenho dores em todo o corpo, tenho fibromialgia e
patologia e as expectativas geradas em torno da situação, não relaciono ao cuidado com meu filho mais velho. Te-
conforme é possível identificar nas falas que seguem. nho problemas e depressão desde que meu filho mais novo
“(...) Eu não sabia o que era a paralisia cerebral, acha- nasceu e ai começou a somar tudo (...).” (Copo de Leite)
va que era vegetativo, que ela não ia andar, falar e só ia
ficar em cima de uma cama (...).” (Girassol) Preconceito
“(...) Eu imaginava que a paralisia cerebral fosse muito Observou-se nas entrevistas que as mães sofrem com o
mais, pensei que ela ia ficar em cima de uma cama e eu preconceito em relação aos seus filhos.
sem sair do lado dela e que nós não íamos poder fazer “(...) Os colegas aceitaram bem desde que ela entrou no
outra coisa (...).” (Rosa) colégio(...). O meu problema foi com uma professora
“Foi uma surpresa, parece que a gente não aceitava (...).” (Girassol)
muito quando ele era bebezinho e até descobrir bem o “(...) chegamos num lugar e todos olham, acho que po-
que era eu sempre tinha expectativa de que ele ia ficar deriam ser mais discretos (...).” (Lírio)
normal (...)” (Copo de Leite)
Discussão
Os cuidados com o filho Neste estudo evidenciou-se que o comprometimento
As entrevistadas relataram sobre as dificuldades e facili- motor dos sujeitos avaliados variou entre os níveis II, IV e V.
dades enfrentadas no dia-a-dia durante os cuidados destina- Segundo Palisano et al. (2007)14 os indivíduos caracterizados
dos ao filho, conforme recortes abaixo. no nível I da GMFCS são aqueles que apresentam comprome-
“(...) Quando ela era bebê era mais cansativo ter que timento motor mais leves e os classificados no nível V são os
cuidar dela, porque ela chorava muito, então ela ficava que apresentam comprometimentos mais graves.
muito no colo. Agora ela sabe dizer o que quer, mas No que se refere à qualidade de vida das mães entrevis-
sempre dependente de nós (...).” (Girassol) tadas, os domínios dor, estado geral da saúde e aspectos
“(...) Ele resmunga, pede as coisas do jeito dele e se faz emocionais da SF-36 obtiveram os menores escores médios.
entender (...).” (Lírio) Por outro lado, os escores relacionados aos aspectos sociais
“É bem complicado ter um filho com necessidade espe- mostraram-se mais elevados. De fato, a maioria delas atribui
cial, no início foi difícil, agora é uma rotina. Pra mim é desconforto físico e/ou dor aos cuidados diários com seu
uma coisa normal, como cuidar dos outros, só ela é mai- filho. O desgaste físico e emocional está presente no cotidia-
or e tenho que ter mais atenção (...).” (Gardênia) no dessas famílias e com a falta de tempo para si esses
“(...) Antes quem cuidava mais dele era o pai, pois eu cuidadores poderão sobrecarregar-se, prejudicando os cui-
trabalhava, agora estou sem trabalhar, eu cuido mais dele. dados diários e desencadeando estresse físico e emocional16.
Não é fácil ter que cuidar (...).” (Crisântemo) Estudo evidenciou que a qualidade de vida dos cuidadores
de crianças com PC encontrava-se diminuída nos domínios
As mães e o tempo para si função física, aspectos emocionais e saúde geral15, resultado
Pode-se perceber pelas falas das mães que o cuidado que assemelha-se ao encontrado pelo presente estudo.
diário do filho com PC dificulta e/ou impossibilita que tenham Esta pesquisa mostrou que diversas dificuldades surgi-
um tempo dedicado a si próprias, como pode ser visualizado ram com o nascimento de um filho especial, dentre elas o
nos trechos abaixo. desconhecimento acerca da patologia, do prognóstico do
“(...) Não faço nada, só em volta da minha filha (...).” desenvolvimento da criança e em relação à rotina diária de
(Girassol) cuidados. Da mesma forma, estudo evidenciou que as mães
“(...) Tudo que eu faço é relacionado à minha filha, ela de crianças portadoras de necessidades especiais também
está sempre junto. Eu gostaria de fazer uma faculdade, desconheciam a patologia e as limitações físicas decorrentes
seria muito difícil por causa dela (...).” (Rosa) desta17. Outra dificuldade vivenciada pelas mães entrevista-
“(...) Não faço nenhuma atividade. Agora quando ela das diz respeito à circunstância como foi informado a elas o
dorme se eu tenho alguma coisa para fazer eu faço... diagnóstico médico das crianças. De fato, o diagnóstico pode
Sair pra rua, essas coisas, não (...).” (Gardênia) causar impacto, pois inicialmente os pais não possuem a com-
“(...) Eu faço academia duas vezes na semana, eu adoro preensão sobre a PC e quais as suas consequências na vida
e gostaria de praticar mais, mas não tem como pelo fato da criança18. Assim, após confirmado o diagnóstico, as mães
de ter que cuidar dele (...).” (Lírio) devem ser informadas das possíveis limitações do filho, utili-
zando vocabulário de fácil entendimento19,20. Neste sentido,
Saúde e desconforto físico é necessário que os profissionais da saúde capacitem-se e,
Neste estudo observou-se que todas as mães referiram por meio de orientações sobre o manuseio, postura e
apresentar desconforto físico, comumente relacionado ao posicionamento, proporcionem conhecimento e condições
cuidado com o filho. para que as mães melhorem a sua qualidade de vida9,16.
“(...) Às vezes sinto muita dor nas costas, o dia que eu Os cuidados do filho com PC demanda tempo considerá-
ando mais com ela ou que a gente levanta mais. Eu vel das mães participantes deste estudo, dificultando-as ou
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impedindo-as de realizarem o auto-cuidado, bem como ativida- ruim da qualidade de vida das participantes. Os dados
des de lazer. Neste sentido, evidencia-se que a responsabilida- coletados nesta pesquisa constituem-se subsídios importan-
de maior dos cuidados com o filho especial fica com a mãe8, 21. tes para futuras ações de promoção e educação em saúde
A rotina da família muda completamente com o nascimen- destinadas a estas mães.
to de uma criança com PC, principalmente a da mãe. Além
disso, os planos traçados anteriormente, as relações afetivas Referências
e sociais também sofrem alteração22,23. No presente estudo as 1. Bax M, Goldstein M, Rosembaum P, Leviton A, paneth N. Proposed deûnition and
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nas atividades da vida diária (AVD), o que pode diminuir a 49(s109):8-14.
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update for the clinician. Eur J Paediatr Neurol 2009; 13(5): 387-96.
cuidadores24. Em contrapartida, a sobrecarga dos cuidadores 6. Tarsuslu T, Livanelioglu A. Relationship between quality of life and functional status
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Diferentemente, não houve correlação significativa entre os 8. Prudente COM, Barbosa MA, Porto, C. C. Relação entre a qualidade de vida de
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não ser o principal aspecto responsável por uma percepção Bras Fisioter 2004; 8(3):253-260.
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