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Leitura – direito da cidadania para E EMÍLIA
todos PARTICIPE
POR JOSÉ CASTILHO MARQUES NETO | 20 DE NOVEMBRO DE 2015 | POLÍTICAS DE LEITURA |
pessimista”.
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Leitura – direito da cidadania para todos | Revista Emília 07/02/2021 09:27
No Brasil as TICs e a leitura digital estão deixando de ser uma questão apenas
teórica e começam a ter bases reais de sustentabilidade e permanência. Pode-
se observar a veracidade dessa afirmação pelos dados do Comitê Gestor da
Internet no Brasil, publicados em 2014: em 2013, 43% dos domicílios brasileiros
possuíam acesso à Internet; 89% das crianças e adolescentes de 10 a 15 anos
entrevistadas utilizaram computador; e 85% afirmaram já ter utilizado a Internet,
principalmente para atividades escolares (90%). Além dos games, é também
significativo o interesse nas redes sociais: 78% das crianças entrevistadas já
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Para além das questões do já adolescente mundo virtual, chamo a atenção aqui
também para outros aspectos que devemos considerar. Alguns deles marcados
por uma profunda visão desesperançada das possibilidades emancipadoras da
civilização contemporânea.
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No imenso Brasil que não lê, o índice mais crítico apontado é a persistência de
25% apenas de leitores plenos segundo dados do Indicador de Alfabetismo
Funcional – Inaf: “O percentual da população brasileira alfabetizada
funcionalmente foi de 61% em 2001 para 73% em 2011, mas apenas um em cada
quatro brasileiros domina plenamente as habilidades de leitura, escrita e
matemática”. Em outras palavras, o Brasil tem 47% de analfabetos funcionais,
20% em um nível rudimentar de alfabetização e 6% de analfabetos absolutos.
Entre os que pesquisam, tendo por diretriz uma visão ampla que incluí as bases
econômicas do déficit de leitura com alcances sociais importantes (e
desastrosos) para o desenvolvimento sustentável do Brasil, está a Cátedra
UNESCO de Leitura da PUC-RJ. Em proposta recente, a Cátedra apresenta
indícios da dimensão do problema e de “quanto custa o Brasil que não lê”. Antes,
nos alerta que a preocupação que agora nos acerca já foi objeto de estudo nos
USA em 1999, realizado pelas agências National Alliance of Business e pelo
National Institute for Literacy. Este estudo revelou que a “deficiência de
habilidades básicas dos empregados era responsável por uma queda de
produtividade que causava prejuízos em torno de US$60 bilhões anuais” [nos
USA].
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e que tem todo o apoio e interesse do PNLL do Brasil, aponta alguns dos
principais setores atingidos na perspectiva de desenvolvimento econômico pelo
déficit de leitura no nosso país. Para fins de exemplo, destaco dois:
Sou da geração que viu o homem descer na Lua e que cantou o lamento de
Gilberto Gil com este fato em “Lunik 9”: “Poetas, seresteiros, namorados, correi! É
chegada a hora de escrever e cantar, talvez as derradeiras noites de luar!”
Felizmente tudo ficou na linda e romântica canção do poeta Gil e a lua
permanece nos corações enamorados, nos poemas e nas canções, apesar das
pesquisas científicas e das expedições espaciais. Não nos assustemos em
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Tão árdua quanto necessária, a tarefa de formar leitores deve envolver o Estado
e a Sociedade, e ter a educação e a cultura na condução dos esforços que são
interdisciplinares e envolverão gerações, planejamentos, objetivos de longo
prazo e mudança no pensar e no sentir. Conquistarmos habilidades necessárias
de leitura e escrita para nos inserirmos enquanto nação no mundo
contemporâneo é antes de tudo um direito individual e coletivo, um brado pela
liberdade e pela emancipação social e econômica.
A leitura por si só não é a solução para todos os males, mas certamente ela é
um instrumento fundamental para quebrar a ignorância cognitiva, possibilitar
atitudes libertadoras e ser a chave de todos os direitos humanos. Um leitor
pleno, que lê a linha e a entrelinha, que dá sentido e significado aos caracteres,
não tem o direito de dizer que não faz escolhas, que não sabe o que quer. E aí
está a base e a condição de exercício da cidadania, de determinarmos
conscientemente o que é e o que pode ser no nosso território cultural e social.
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movem com muito cuidado e admiração por todos que fazem esse trabalho tão
especial. Sei que tudo isso que afirmei aqui só se realizará com maestria apenas
por aqueles que, além da técnica, forem também pessoas especiais que amem,
antes de tudo, os outros seres humanos.
Para expressar essa convicção, e encerrar esta fala, cito um texto de Jean Marie
Goulemot extraído de seu livro O amor às bibliotecas, que editei no Brasil em
2011 pela Editora UNESP. A referência às bibliotecas pode ser estendida a todos
os campos dos que trabalham pela leitura e para seus protagonistas, mulheres e
homens militantes que buscam um mundo leitor e melhor:
É preciso preservar bibliotecas que sejam humanas e onde seja mantido o vínculo
carnal com o livro, que reúnam nesse ato estranho – a leitura refletida – uma
comunidade de seres lendo juntos e, contudo, isolados. Que as bibliotecas
permaneçam assim lugares de vida, onde as ideias não nasçam somente da
relação entre um leitor e seu livro, mas também da conversa em torno de uma
xícara de café, de encontros com leitores estrangeiros, do devaneio que invade o
público no torpor de uma tarde de verão. Desejo que meu neto, quando tiver
idade para isso, possa preferir à leitura seca na tela, espremido entre os metros
quadrados de seu escritório, o espaço aberto de uma biblioteca, o contato
material com os livros que lerá, que terá carregado nos braços até a sua mesa.
Que ele saiba que um livro não é uma sequencia de páginas dispostas
verticalmente, um espaço de duas dimensões, mas, como para as gerações que
o precederam, um volume que se toma na mão e cujas páginas se viram sem
precisar para isso apertar a tecla de um computador. (…) Porque eu o amo, penso
em suas felicidades futuras e desejo-lhe que deforme os bolsos de seus casacos
com os livros que tiver enfiado neles para lê-los ao sol ou tranquilamente à
sombra, no banco de um parque. Desejo-lhe também que levante os olhos de
seu livro para olhar uma leitora passar entre as estantes da biblioteca e que
retome a leitura pensando que a vida vale a pena de ser vivida e mesmo sonhada.
Assim seja.
Texto apresentado no Congresso Para Leer el Siglo XXI, Havana, outubro 2015.
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