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Pirataria como Forma de Acessibilidade na Leitura: Uma

Análise Científica

Gabriela Ferreira Cabral.


Resumo:
A internet tem desempenhado um papel significativo na transformação dos
hábitos de leitura das pessoas. Grande parte da sociedade acredita que a
internet tem prejudicado a leitura de livros impressos e de longa duração, outros
argumentam que ela tem aberto novas oportunidades e formas de leitura. Porém
a Internet não traz acessibilidade suficiente para as classes periféricas, com isso
entra a piratia de livros.A pirataria de livros tem sido um tema amplamente
debatido na era digital, despertando discussões sobre a ética, os direitos autorais
e a acessibilidade à leitura. Enquanto alguns argumentam que a pirataria de livros
é prejudicial para autores e editores, outros defendem que ela pode ser vista
como uma forma de acessibilidade, permitindo o acesso a obras literárias para
aqueles que de outra forma não teriam condições de adquiri-las. Este artigo tem
como objetivo analisar a pirataria como uma forma de acessibilidade na leitura,
considerando seus impactos econômicos, sociais e culturais, bem como as
possíveis soluções para conciliar a acessibilidade com o respeito aos direitos
autorais.

palavras-chave: pirataria. acessibilidade. sociedades. classes

Introdução

A leitura é essencial para a formação de cidadãos pensantes. Ela estimula


o pensamento crítico e a ocupação de espaços sociais e políticos de resistência,
num contexto em que conhecimento é poder. Para além disso, a leitura
compreende o desenvolvimento criativo e o acesso a novos universos, conforme
nos ensina Failla (ANO) “a ficção nos permite vivenciar outras vidas, nos prepara
para lidar com emoções que não vivemos, nos faz conhecer outras culturas,
despertando a empatia com o outro e com o diferente, tão fundamentais hoje”.
No ranking mundial de leitura, o Brasil aparece em 52º lugar, com uma
média de 4 livros lidos por ano por pessoa, atrás de países desenvolvidos como o
Canadá, cuja média de leitura é de 12 livros por ano por pessoa. Essa diferença
ajuda a explicar o porquê o Canadá é um país desenvolvido e sua população é
socialmente engajada, enquanto no Brasil a sociedade não se engaja tanto em
movimentos sociais. Ler é um ato revolucionário, quando o indivíduo lê com
consciência, ele percebe seu lugar no mundo e é capaz de lutar contra aquilo que
o oprime
Dito isso, algumas situações podem ser as causas do brasileiro ler tão
pouco: os altos índices de evasão escolar, o analfabetismo, falta de uma cultura
de leitura, desigualdade social, baixa média de renda per capita e o alto valor dos
livros. Essas duas últimas situações são as que mais influenciam a pirataria, que
aparece como alternativa de acesso aos livros, nessa atual sociedade que
negligencia a população de classe baixa.
Nesse contexto da pirataria, a internet tem desempenhado um papel
significativo na transformação dos hábitos de leitura das pessoas. Grande parte
da sociedade acredita que a internet tem prejudicado a leitura de livros impressos
e de longa duração, outros argumentam que ela tem aberto novas oportunidades
e formas de leitura. A pirataria de livros tem sido um tema amplamente debatido
na era digital, despertando discussões sobre a ética, os direitos autorais e a
acessibilidade à leitura. Este artigo tem como objetivo analisar a pirataria como
uma forma de acessibilidade na leitura, considerando seus impactos econômicos,
sociais e culturais, bem como as possíveis soluções para conciliar a
acessibilidade com o respeito aos direitos autorais.

Análise sobre o porquê do brasileiro ler tão pouco

Muitas são as possíveis causas do baixo índice de leitura do brasileiro,


uma delas remonta ao seu passado histórico colonial. A causa mais antiga para
essa situação, refere-se ao tipo de colonização implantada em terras brasileiras,
na qual os portugueses se estabeleceram no Brasil sem o intuito de ser criado um
novo mundo, mas sim um território para ser amplamente explorado. Nunca foi
interessante para a metrópole, e ainda hoje segue sendo assim, que os brasileiros
fossem cultos, estudados, revolucionários e pensadores.
Diante desse passado, observa-se que a educação no Brasil nunca foi uma
prioridade e essa é uma marca histórica que reverbera até hoje na sua população.
Segundo o INEP, no Censo Escolar de 2022, são 1,04 milhões de crianças de 4 a
17 anos que não frequentam a escola. E, mesmo quando frequentam, 60%
desses espaços escolares não possuem bibliotecas, segundo Failla (ANO), no
livro Retratos da Leitura.
Outra dificuldade é que a aquisição de livros pode ser uma barreira
significativa para muitas pessoas, especialmente aquelas com recursos
financeiros limitados. O Brasil é um país com uma das maiores desigualdades
econômicas do mundo, com grande parte da sua população sem dinheiro para
além do mínimo necessário para sobrevivência. Conforme um estudo da rede
Penssan, são 33 milhões de brasileiros em estado de insegurança alimentar
(CNN, 2023), o que torna a leitura algo impossível para alguém que está lutando
pela sobrevivência.
Junto a isso, acrescenta-se o encarecimento do valor dos livros, resultado
do aumento da taxação durante o governo Bolsonaro e da crise do preço do papel
durante a pandemia de Covid-19, que fechou os portos que abastecem o país de
matéria prima internacional. Grande parte do papel de impressão e escrita
utilizado é proveniente da exportação, e com o fechamento dos mercados
internacionais. Esse cenário político-econômico tornou o que já era difícil ainda
pior para as populações de baixa renda

Pirataria como forma de acessibilidade

A pirataria é um assunto que engloba as esferas econômica, social e


política e afeta o nosso cotidiano. De acordo com o Código Penal Brasileiro
(1940), o termo pirataria diz respeito ao processo de cópia e/ou distribuição não
autorizada de artigos resguardados por direitos autorais. A pirataria de livros
cresce nesse contexto, junto ao aumento do uso da internet, apresentando-se
como uma alternativa para democratização da leitura.
A pirataria de livros pode ser vista como uma alternativa para aqueles que
não têm condições de adquirir livros legalmente, proporcionando a eles acesso a
uma vasta gama de obras literárias. Ela pode ampliar o acesso a obras literárias
em regiões com limitações geográficas, onde a disponibilidade de livrarias e
bibliotecas é escassa. Além disso, a disponibilidade de versões digitais piratas
pode permitir que leitores tenham acesso a livros que estão esgotados ou fora de
catálogo.
No Brasil, a desigualdade social está presente de forma sistêmica, mas o
desejo de consumo é característico desta mesma sociedade, independentemente
de sua classe social. O ato de consumir produtos pirateados em uma sociedade
desigual desperta uma postura de questionamento acerca da decisão de compra
do consumidor, sobre o que leva o sujeito a ignorar sua percepção de consumo
ético, seus dilemas e seu papel de responsabilidade social. Entender as formas
de consumo de produtos oriundos da economia informal e suas motivações é uma
necessidade atual, dado o aumento da produção de mercadorias pirateadas
Apesar de tudo isso, a pirataria de livros levanta preocupações sobre os
impactos econômicos para autores, editores e livrarias. A redução nas vendas de
livros devido à pirataria pode afetar a viabilidade financeira dos autores e a
publicação de novas obras. Além disso, a pirataria também pode contribuir para a
desvalorização do trabalho intelectual e para a perda de oportunidades de
emprego na indústria editorial.

Conclusão

O fato de que o brasileiro não lê por falta de vontade é um mito. Fatores


sociais e econômicos impactam diretamente nesse processo da formação do
leitor. Segundo Candido (2004) “quando há um esforço real de igualitarização há
aumento sensível do hábito de leitura, e portanto difusão crescente das obras.”
Dessa forma, o acesso aos livros é primordial para a criação de uma cultura da
leitura.
.A pirataria de livros como forma de acessibilidade na leitura é um tópico
complexo que envolve questões econômicas, sociais e éticas. Embora a pirataria
possa ampliar o acesso a obras literárias para determinados grupos, é essencial
buscar soluções que respeitem os autores.
Para conciliar a acessibilidade na leitura com o respeito aos direitos
autorais, é importante explorar alternativas legais que promovam o acesso a
livros. Essas alternativas incluem iniciativas governamentais de incentivo à leitura,
como remuneração de autores, criação de bibliotecas digitais, programas de
empréstimo de e-books e preços acessíveis para livros digitais.
Para Candido (2004) “só numa sociedade igualitária os produtos literários
poderão circular sem barreiras, e neste domínio a situação é particularmente
dramática em países como o Brasil, onde a maioria da população [...] vive em
condições que não permitem a margem de lazer indispensável à leitura”. Até que
cheguemos nesse estado de igualdade social, a pirataria segue sendo uma
alternativa de democratização do acesso aos livros.

REFERÊNCIAS

CANDIDO, Antônio. Vários escritos, Duas Cidades | Ouro sobre azul, São Paulo/
Rio de Janeiro, 2004
Como a pirataria é prejudicial para os autores independentes. Disponível em:
<https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/a-pirataria-crime.htm
https://www.livrobingo.com.br/como-a-pirataria-de-livros-e-prejudicial-para-os-auto
res-independentes#:~:text=Quando%20o%20livro%20%C3%A9%20pirateado,agr
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em: 06.jun. 2023.

DEPIZZOLATTI, Bruno. A Pirataria Contemporânea, Santa Catarina, 2009


Código Penal(1940) Disponível
em:<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm.>

A Pirataria como Instrumento de Inclusão Social. Disponivel


em:<https://pt.linkedin.com/pulse/pirataria-como-instrumento-de-inclus%C3%A3o-
social-fernando-santos> Acesso em:07.jun.2023

Pirataria digital nos dias de hoje: estudo sobre possíveis formas sobre o seu
controle. Disponível
em:<https://www.gedai.com.br/pirataria-digital-nos-dias-de-hoje-estudo-de-possive
is-formas-para-seu-controle/> Acesso em:07.jun.2023
FAILLA, Zoara. Retratos Da Leitura no Brasil 5. Imprensa Oficial, 2021.
Disponivel
em:<https://www.prolivro.org.br/wp-content/uploads/2021/06/Retratos_da_leitura_
5__o_livro_IPL.pdf>

FAILLA, Zoara. Retratos Da Leitura no Brasil 3. Imprensa Oficial, 2012.


Disponível
em:<https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/366/o/retratos_da_leitura_no_Brasil_-_liv
ro.pdf>

Livros devem ficar mais caros em 2023 com alta de 30% no preço do papel.
Disponível
em:<https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/negocios/livros-devem-ficar-mai
s-caros-em-2023-com-alta-de-30-no-preco-do-papel-1.3282333
> Acesso em:10.jun.2023

Influência das redes sociais nos hábitos de leitura aumentou, diz pesquisa.
Disponível
em:<https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/influencia-das-redes-sociais-nos-habit
os-de-leitura-aumentou-diz-pesquisa/#:~:text=De%20acordo%20com%20a%20pe
squisadora,qualidade%20de%20vida%E2%80%9D%2C%20disse> Acesso
em:08.jun.2023

Censo Escolar
2022:<https://download.inep.gov.br/censo_escolar/resultados/2022/apresentacao_
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PINTO, Luis Felipe. Games, Pirataria e Sociedade: Uma Análise da Ética do


Consumo de Jogos na Classe Baixa da Zona Sul Carioca. 2019

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