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Estado Inchado?

Políticos neoliberais e de direita tem o costume de atribuir aos


servidores públicos a culpa de muitos problemas sociais. Em épocas de campanha
eleitoral é comum ouvir: “o estado é um elefante pesado, inchado, com excesso de
servidores que pouco produzem”.
Mas a realidade é bem diferente.
Existe uma escassez de servidores públicos em vários setores, da
saúde à segurança pública, da educação à pesquisa científica. Como se vê na tabela
abaixo quando comparamos o Brasil com outros países.

Servidores
Públicos /mil
habitantes
Finlândia 251
Reino 198
Unido
Alemanha 142
França 110
Brasil 60
Fonte: OIT, 2018.

O traficante André do Rap usava o porto e Santos-SP para enviar


cocaína ao exterior pois sabia da fragilidade da fiscalização aduaneira, afinal EUA e
Chinas tem 60 mil servidores alocados em serviço de fronteira enquanto o Brasil tem
2.601 servidores (dados de 2019). A Receita Federal do Brasil sofre de uma crônica
escassez de servidores. Em 2009 eram mais de 12 mil auditores fiscais, hoje são 7,2 mil,
uma queda de 40% na força de trabalho. Isso compromete a fiscalização aduaneira e
cobrança de impostos de grandes devedores, entre outras funções.
Segundo a AMAPERGS (Sindicato Servidores Penitenciários do RS)
existe hoje escassez de mais de 2,5 mil agentes penitenciários em todo o estado para
atuarem nos presídios de forma eficiente.
A demora para concessão de patentes (direito de propriedade de
tecnologia e propriedade industrial) pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial -
INPI no Brasil também decorre do baixo efetivo de servidores. O país tem hoje
aproximadamente 400 servidores no INPI trabalhando nesta área enquanto no EUA são
8,3 mil examinadores. No Brasil a concessão de uma patente pode levar quase dez anos
enquanto no Japão ocorre em um ano. O país deixa de desenvolver novas tecnologias,
gerar empregos e criar riqueza pois o INPI não tem servidores em quantidade suficiente
para análise dos pedidos.
No estado do Rio Grande do Sul, os órgãos de segurança pública
também têm uma defasagem no quadro de pessoal.
A Brigada Militar tem 20.500 policiais militares, ou 55% do efetivo
necessário.
A Policia Civil do estado tem apenas 5,2 mil servidores. Existem
comarcas no interior do estado sem delegado efetivo nomeado.
A Auditoria Fiscal do Trabalho também passa por situação
gravíssima. Ela é responsável por fiscalizar as denúncias de trabalho escravo bem como
arrecadar o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Hoje no país há 2.009
auditores para todo o território nacional, efetivo insuficiente para uma fiscalização
prudente.
Onde existe excesso de servidores? Em Brasília, por exemplo, cada
senador da república tem em média 40 assessores. O senador Hélio José (PMDB/DF)
tem 91 auxiliares no gabinete, o ex-presidente Fernando Collor (PTC/AL) tem 80
assessores. Isto sim é um excesso desnecessário na máquina pública. No total, o senado
tem 3.277 assessores parlamentares.
O Estado Mínimo, sonho dos neoliberais, compromete a adequada
prestação de serviço público em prol da sociedade colocando-a em risco institucional.

João Neutzling Jr,


Economista, Mestre em Educação,
Auditor Estadual, Pesquisador e Professor.
jntzjr@gmail.com

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