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Calculadora de renda:
90% dos brasileiros
ganham menos de R$
3,5 mil; confira sua
posição na lista
Camilla Veras Mota - @cavmota
Da BBC News Brasil em São Paulo

13 dezembro 2021

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sua renda mensal bruta, ou seja, antes do desconto de
impostos, no campo de pesquisa. A calculadora
determinará sua renda anual e onde ela se encaixa na
distribuição de renda da população brasileira. Os
dados informados não precisam ser exatos e não
serão guardados, reproduzidos ou compartilhados
pela BBC News Brasil.

Metodologia e Créditos

Um ano atrás, o ator Bruno Gagliasso escreveu em


suas redes sociais que precisava "bater um papo
com você, meu irmão branco. Um papo reto aqui
entre nós que não somos o topo da pirâmide, mas
estamos bem distantes da base".

Nos comentários, os internautas questionaram o


topo da pirâmide ao qual o artista se referia. Se ele,
dono de uma pousada na ilha de Fernando de
Noronha, de restaurantes e de uma marca própria
de roupas não estava no topo, quem está?

Mas não é preciso ir tão longe. A renda mensal


média de quem está entre os 5% mais ricos no
Brasil é de R$ 10.313,00, conforme os dados da
Pnad Contínua - Rendimento de todas as fontes
2019, do IBGE. O corte para estar no 1%, ou seja,
com renda média superior à de 99% da população
brasileira adulta, é de R$ 28.659,00.

4 dados que mostram por que Brasil é um dos


países mais desiguais do mundo, segundo
relatório

Como Nubank se tornou banco mais valioso


da América Latina sem dar lucro

Banco Central volta a elevar juros; entenda


efeitos na inflação e no bolso

A base da pirâmide é relativamente homogênea —


90% dos brasileiros têm renda inferior a R$ 3,5 mil
por mês (R$ 3.422,00) e 70% ganham até dois
salários mínimos (R$ 1.871,00, para um salário
mínimo de R$ 998,00 em 2019), ainda segundo o
levantamento.

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Dentro do grupo dos mais ricos, contudo, o


espectro é bem diversificado.

Tomando a faixa da pesquisa do IBGE, de R$ 28 mil,


o grupo dos 1% mais ricos inclui desde alguns
profissionais liberais como advogados e
engenheiros e a elite do funcionalismo público —
promotores, procuradores, auditores da Receita —,
a empresários, artistas e, finalmente, os milionários
e bilionários que aparecem nas listas dos mais ricos
do país.

Rico, eu?

Talvez por isso, muitos não se enxerguem como


parte do topo da pirâmide.

A pesquisa Nós e As Desigualdades, realizada pela


Oxfam em parceria com o Instituto Datafolha,
pergunta desde 2017 aos brasileiros, em uma
escala de 0 a 100, se eles se acham "muito pobres
ou muito ricos".

As três edições do levantamento realizadas até


agora apontam na mesma direção: quem está no
topo pode ter uma visão bastante distorcida da
realidade. A pesquisa de dezembro de 2020
apontou que, entre aqueles com renda superior a 5
salários mínimos, 75% disseram achar fazer parte
da metade mais pobre do país.

Para se estar entre os 10% mais ricos do país,


contudo, a renda média parte de três salários
mínimos, de acordo com os parâmetros da
pesquisa.

Isso porque o Brasil é um país em que muita gente


vive com muito pouco. Para se estar entre os "mais
ricos", do ponto de vista da distribuição de renda,
não é preciso tanto.

GETTY IMAGES

Pobreza e desigualdade fazem com que renda média


do brasileiro seja baixa

Síndrome da classe média

Esse descolamento
entre percepção e
realidade, entretanto,
não é exclusividade do
Brasil.

"Os estudos sobre


percepção mostram que
as pessoas tendem a se
classificar no meio, BBC Lê
como classe média.
Pouca gente se Podcast traz áudios
classifica como pobre com reportagens
selecionadas.
ou como rica", diz o
professor visitante na Episódios
Universidade Columbia,
nos EUA, e pesquisador
da desigualdade Marcelo Medeiros.

Mas por quê?

Estudiosa do tema, Asli Cansunar, professora do


departamento de Ciência Política na Universidade
de Washington, nos EUA, ressalta que esses
resultados são observados pelo menos desde os
anos 1970.

A explicação é relativamente simples. A grande


maioria das pessoas não consome informações
sobre estatísticas econômicas no dia a dia. Na falta
de dados técnicos, a maneira de colocar sentido no
mundo é por meio de comparações — é olhar em
volta e se comparar aos amigos, familiares, às
celebridades na TV ou, mais recentemente, aos
influencers do Instagram.

O problema, nesse caso, é que a amostra é


enviesada, já que o cotidiano está, de maneira
geral, dominado por imagens que nos levam a
associar o topo da pirâmide à ostentação: alguém
que dirige um carro importado, que faz viagens
internacionais, que consome produtos de luxo.

"E quando você se compara a essas pessoas, claro,


vai dizer: 'Imagina, eu não sou rico, sou classe
média! Sou apenas alguém que está se esforçando
para comprar um carro novo e conseguir viajar nas
férias'. Na vida real, entretanto, se você olhar as
estatísticas, vai ver que está ganhando muito mais
do que muita gente no seu entorno", destaca a
pesquisadora.

GETTY IMAGES

'Linha de riqueza' pode ser um conceito subjetivo

Mas então quem está no 'topo' é


rico?

Para além das percepções individuais, a própria


noção de riqueza é subjetiva. Não há um consenso
acadêmico sobre o que seria uma "linha de riqueza",
por exemplo. Ser rico é ter dinheiro suficiente para
poder parar de trabalhar? É morar em um
determinado bairro da cidade? É ter um carro
importado?

"A definição do que é ser rico é uma ferramenta,


depende do que se quer fazer com ela", pontua
Medeiros.

Cansunar também ressalta que a noção de riqueza


é relativa - e pode variar inclusive dentro de um
mesmo país. No Reino Unido, ela exemplifica,
ganhar mais do que as 80 mil libras por ano (R$ 590
mil) que colocam alguém entre o 1% no topo da
pirâmide não necessariamente significa uma vida
confortável em Londres para quem tem de pagar
aluguel.

A própria pirâmide de rendimentos — que, aliás,


não contabiliza a riqueza estocada em patrimônio, a
recebida em herança — pode variar, a depender da
metodologia. O IBGE usa suas pesquisas
domiciliares, que, tradicionalmente, acabam
subestimando a renda de quem está no topo.

Seja por uma questão ligada à segurança, por


constrangimento ou porque realmente não sabem
quanto ganham na ponta do lápis, os mais ricos
acabam informando valores menores aos
recenseadores do instituto.

"O IBGE faz um trabalho fantástico, mas esse é um


fenômeno que acontece no mundo inteiro. Então as
pesquisas do IBGE captam muito bem, vamos dizer,
os 90% mais pobres da população", pontua o
sociólogo e pesquisador do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada) Pedro Ferreira de
Souza.

"Nos 10% mais ricos, quanto mais para cima, maior


a subestimação", afirma o especialista, que é autor
do livro Uma História da Desigualdade, vencedor do
prêmio Jabuti em 2019.

Por isso, pesquisadores como Souza utilizam


também os dados da Receita Federal do Imposto de
Renda, que captam melhor a renda que vem de
investimento e aplicações financeiras, por exemplo.

Entre os 5% mais ricos, conforme os cálculos que


ele fez com dados de 2015, a renda média
apontada pelo levantamento do IBGE era 25%
menor do que usando o IRPF. Para o 1% mais rico, a
linha de corte nos dados do IBGE era 45% menor
do que no IRPF — pouco menos da metade.

Ainda que a linha de corte, na prática, seja


provavelmente superior aos R$ 28 mil apontados
pela Pnad Contínua, o topo da pirâmide ainda é
formado pelo grupo heterogêneo que inclui dos
"super ricos" a profissionais liberais e parte do
funcionalismo público.

O teto para o salário dos servidores federais é hoje


de R$ 39 mil. Muitos, contudo, recebem valores
superiores com a inclusão de benefícios como
auxílio alimentação e moradia.

"Se você ganha um salário muito alto, e em alguns


casos muito acima do teto — principalmente no
poder judiciário, a gente vê que é comum — com o
tempo vai acumular renda e isso vai virar
rendimento de capital", acrescenta o sociólogo.

"O público leigo às vezes acha que todo funcionário


público, ou pelo menos todo funcionário público
federal, está no 1%. Tem um exagero grande aí,
mas também não é de todo falso, certamente tem
muita gente da elite do funcionalismo e, vamos ser
sinceros, da elite política [no 1%]."

Como estudioso da desigualdade, encontrada no


Brasil em nível "extremo", o pesquisador acredita
que esse possa ser um bom parâmetro para se
definir riqueza no Brasil.

"Onde está a concentração de renda que torna o


Brasil muito diferente da Europa? Bom, está no
topo. É ali o 1%, os 5% mais ricos, talvez em algum
grau você possa falar que são os 10% mais ricos,
alguma coisa assim. Mas a concentração grande
mesmo é bem no topo, então fazer esse recorte —
falar em 1% da população, 5% da população, acho
que não tem como dizer que não é rico, né? Isso
exigiria umas cambalhotas retóricas que não são
muito fáceis", avalia Souza.

GETTY IMAGES

90% dos brasileiros têm renda mensal inferior a R$


3,5 mil

Por que isso importa?

Chamar atenção para o topo, na avaliação do


sociólogo, é importante especialmente por dois
motivos.

Primeiro, por uma questão política. Quando uma


fração pequena da população concentra um
percentual grande dos recursos, ela tende a "usar
todos os meios possíveis para converter o poder
econômico em influência política e, assim,
conseguir enriquecer ainda mais".

"Isso não é uma questão necessariamente de


caráter individual, mas uma dinâmica social que a
gente vê em diversos países — e atrapalha o
funcionamento da democracia."

Segundo, ele acrescenta, porque entender quem


tem mais abre caminho para o desenvolvimento de
políticas voltadas para melhorar o bem-estar dos
mais pobres, como o financiamento de serviços
públicos de transporte e saúde para atender essa
população.

"O jeito mais eficiente de fazer isso é pegar de


quem tem mais, de onde o dinheiro tá em tese
sobrando — pelo menos em algum grau, ninguém
está falando em confisco, mas do padrão de
Estados Unidos e Europa —, tributar onde tem mais
dinheiro concentrado e gastar onde tem mais
necessidades", avalia.

"E para isso a gente precisa conhecer os mais ricos


— e aí não adianta você também ter uma definição
de riqueza que seja só o Neymar, né?"

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