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Os 10 erros cometidos no controle do orçamento

Adriana Aguilar 08/02/2010

Na hora de preencher a planilha de orçamento, as pessoas sempre se esquecem das


“despesas formiguinhas”, não calculam as “despesas ocultas”, se presenteiam no dia do
“eu mereço”, pecam pelo exagero da “boa vida aos filhos”, além da insistência na
manutenção de um “orçamento dos sonhos”, no qual prevalecem os gastos de um
mundo imaginário, não condizente com a realidade da família. Esses são alguns dos
erros, mais freqüentes, observados pelo economista Augusto Sabóia que acumula a
experiência de prestar consultoria de seguros e previdência privada para mais de 3 mil
pessoas, além do trabalho diário de planejamento financeiro pessoal de 91 famílias,
incluindo os filhos de outros casamentos, netos, pais, sogros, e, muitas vezes, irmãos
com vícios, sobrinhos desamparados e ex-cônjuges.

Uma mera equação matemática seria suficiente para o planejamento e enriquecimento


da pessoa. O processo requer atenção, disciplina e planejamento. A grande dificuldade,
na avaliação de Sabóia, é a pessoa se autoconhecer e comprar somente o que a renda lhe
permite. “Sempre digo que aceitar o orçamento real é uma iniciativa de coragem da
família”, diz o economista.

Os números mostram que conseguir passar 30 dias com a renda mensal, reservando uma
fatia para a poupança, parece ser uma tarefa quase impossível para muitas pessoas.
Dados do Banco Central do Brasil mostram que o total de dívidas no cartão de crédito
cresceu quase 20% em 2009 e chegou ao valor inédito de R$ 26,3 bilhões em dezembro
do ano passado, o dobro do visto há três anos. Nos Estados Unidos, os abusos no uso
dos cartões de crédito e os empréstimos concedidos têm batido níveis em relação às
últimas três décadas

Abaixo, Sabóia aponta os 10 principais erros mais cometidos pelas famílias que fazem
controle do orçamento:

1 – INSISTIR NO “ORÇAMENTO DOS SONHOS”

Uma coisa é o orçamento de vida real. Outra coisa é aquele que a pessoa gostaria de ter
algum dia. Fazer o orçamento é colocar o que recebe menos o que gasta, mais despesas
ocultas, despesas formiginhas, inflação e impostos. Sabóia conta que o maior problema
das pessoas, hoje, é a novela das 20 horas. O personagem principal entra pobre, se casa
com a menina rica no próximo capítulo. O pai da mocinha morre no outro. Então, o galã
passa a ser dono da fábrica e do iate. A vida real é outra. No dia seguinte, o trabalhador
está na empresa às 8 horas. Muitas vezes, para receber o salário mínimo no final do
mês. Não adianta ganhar 10, gastar 22 e ficar devendo 12 mensalmente. É possível se
planejar e formar reserva com qualquer salário. A roupa de grife não faz mal a ninguém.
O problema é saber quanto o preço da peça representa no orçamento da pessoa. A
família precisa ter os pés no chão para saber o orçamento real dela: quanto recebe,
quanto pode gastar para, no longo prazo, planejar mais conforto (casa, carro, roupas de
qualidade) e subir degraus. É preciso planejar de onde virá a renda para o conforto
desejado no futuro. Não simplesmente sair gastando sem medidas.

2 – ACHAR QUE AS “DESPESAS FORMIGUINHAS” SÃO IRRELEVANTES


Ter um diário dos gastos faz toda a diferença, principalmente, se colocar a cadernetinha
no bolso e anotar cada bala, cafezinho, gorjeta, cada centavo pago ao longo do dia. O
suco, o bolinho e o cafezinho custam cerca de R$ 8,00 em apenas um dia. Durante a
semana, o gasto soma R$ 40,00. No mês, R$ 160,00. No ano, o resultado é R$ 2.080,00,
sem considerar taxa de juro. Por que não levar um lanche de casa para ficar mais
barato? É preciso mudar os hábitos para o alcance dos sonhos. Na avaliação de Sabóia,
a pessoa tem de decidir se vai continuar comprando o dispensável ou se prefere usar os
R$ 2.080,00 para pagar a passagem de férias para Nova York, por exemplo. Se a pessoa
não quiser abrir mão das guloseimas diárias, que representam uma fatia importante da
capacidade de poupança dela, tudo bem. A escolha é dela. Só não repita que não
consegue poupar. Na verdade, ela não quer poupar. Tem de prestar atenção no quanto o
preço do objeto representa no orçamento. Uma bolsa de R$ 10 mil para um milionário
não é nada. Enquanto que para o motoboy é um valor inimaginável. Basta guardar R$
300,00 todo mês, aplicá-los em algum investimento atrelado a taxa de juro e, ao final de
35 anos, chegaria ao montante de R$ 1 milhão.

3 – IGNORAR AS “DESPESAS OCULTAS”

Não enxergar o total de custos adicionais que integram cada compra é um grande
equívoco por falta de educação financeira. Os consumidores só vêem o momento,
faltando percepção para as despesas ocultas. Um carro financiado não custa somente R$
500,00 ao mês. A pessoa vai desembolsar, na verdade, 1,5 mil por mês, depois de
somadas à prestação do veículo outras necessidades: combustível (400,00 por mês),
manutenção (R$ 3,00 ao dia ou R$ 100 ao mês), despesas com seguro, IPVA e
licenciamento. Além disso, para a troca do mesmo veículo por um zero quilômetro no
prazo de quatro anos, deve entrar no cálculo uma reserva mensal, referente à
depreciação do automóvel. Assim, lá na frente, haverá dinheiro para a aquisição do zero
quilômetro. Na planilha de orçamento projetada, tem de constar a prestação do
automóvel e todas as despesas ocultas relacionadas ao carro.

4 – PREFERIR O IMEDIATO AO FUTURO

Na compra de um celular parcelado, deve ser computado o gasto com as ligações no


custo total do aparelho. O melhor seria a mãe não presentear o filho com um celular e,
em vez de quitar contas de telefone dele, a mãe depositaria R$ 50,00 mensais para o
curso do filho no exterior daqui a duas décadas. Outro exemplo. Um cachorro custa, em
média, R$ 150 mil em 15 anos. Há despesas com alimentação, veterinário, remédios e
higienização. Se a pessoa não tem os 200 mil poupados para a faculdade do filho, como
é que pode comprar ou aceitar um cachorro? Se não tem outros R$ 200 mil reservados
para a aposentadoria dela, como é que pode ter cachorro? É importante fazer escolhas,
pensando no futuro.

5 – PROVER BOA VIDA AOS FILHOS

Um grande erro é usar o dinheiro reservado para a aposentadoria na faculdade do filho.


O casal deve poupar para a previdência privada em vez de facilitar a vida dos
adolescentes. Aos 20 anos, o filho vai embora e a longevidade do casal permanece por
30, 40 ou até mais de 50 anos, fruto do avanço da medicina. Lá na frente, o filho terá os
custos da casa própria e da família dele e não poderá ajudar os pais. Em vez de facilitar
o pagamento das contas, os pais têm de transmitir sabedoria para a próxima geração
enriquecer.

6 – DIZER “EU MEREÇO”

É a tragédia cometida por homens e mulheres no dia do aniversário ou nas festas de


final de ano. É pavoroso ouvir a pessoa dizer que fez uma grande compra por ter
trabalhado muito ou realizado um feito extraordinário. A função de todos é trabalhar.
Por este motivo, não merece coisa alguma. É muito importante a pessoa se premiar,
dizendo que colocou R$ 10 mil a mais na conta corrente este ano, em relação ao
anterior, optando por fazer uma especialização para aperfeiçoamento profissional. O
gasto à toa não levará a pessoa a lugar algum.

7 – EXTRAPOLAR NOS PRESENTES

O mundo não acaba no Natal, no Ano Novo e na viagem de férias, quando algumas
famílias resolvem, simplesmente, gastar toda a reserva. Ao longo do ano, há várias datas
comemorativas: dia dos pais, dia das mães, aniversários, casamentos e infinitos
presentes para os colegas do filho, os amigos do trabalho, funcionários do prédio,
primos, sogro, sogra. São cerca de 100 presentes no ano. Se houver o gasto de R$ 50,00
para cada presente, o custo será de R$ 5 mil ao ano, diminuindo parte da poupança
anual. Em vez de passear no shopping, fazendo compras no cartão, sem limitação, a
pessoa tem de ser criativa e buscar alternativas mais econômicas para não cometer
deslizes nas contas.

8 – MANTER O PADRÃO DE VIDA ANTIGO

A renda da família fica R$ 5 mil menor e todos continuam mantendo o padrão de vida
de R$ 10 mil, não aceitando a queda de metade do salário com a troca de emprego. Até
a inflação, de 10% ao ano, exige mudança em muitos itens de consumo para a
preservação da capacidade de poupança. A família toda tem de se organizar e remanejar
produtos caros por outros mais baratos e ser criativa. Vale o mesmo para a mudança de
padrão de vida.

9 – INSISTIR NO FIADO

Pagar faculdade fiado, formatura fiado, festa do casamento fiado, carro fiado,
apartamento fiado. A pessoa começa a vida profissional pendurada, com décadas de
dívidas. A construtora diz que a pessoa consegue financiar o apartamento, com o
comprometimento de 30% do salário em cada prestação. A pessoa fica quebrada. Sabóia
recomenda sempre comprar à vista para acumular dinheiro. Com R$ 1,6 mil mensais,
durante quatro anos, há dinheiro para quitar o apartamento. É possível se tornar
proprietário de um imóvel de R$ 100 mil em quatro anos, considerando o juro sobre a
poupança. Mas, tem gente que opta pela dívida por 30 anos. Prefere pagar R$ 500 mil
com juros e prestações, por algo que, à vista valeria R$ 100 mil.

10 – ACHAR QUE AS DESVENTURAS PASSAM LONGE

Preste atenção aos custos com médicos, remédios, diárias de hospitais e clínicas. As
desventuras – alcoolismo, drogas, acidentes com vítimas, problemas amoroso,
separação, doenças genéticas, entre outras – não acontecem somente com vizinhos. As
desventuras batem à porta de todos. Não é possível fazer controle de orçamento,
esquecendo da proteção ao risco. Há necessidade de contratação de seguro de vida com
cobertura para riscos de morte acidental ou natural e invalidez (são 10 mil pessoas
inválidas por ano no Brasil). Também é importante manter um seguro de saúde, seguro
de carro e plano de previdência, além de planejar uma reserva para os imprevistos. A
família com dois filhos ou mais tem de ter testamento, na avaliação de Sabóia.

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