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RL 04/08 – DED-ER

Guia de Coordenação de Isolamentos - Fundamentos

Departamento: ESTUDOS DE REDES

Guia Prático de Coordenação de Isolamentos - Fundamentos

Cliente: EDP Distribuição S.A.

Palavras chave:
Guia prático, Coordenação isolamentos, isolação, sobretensões transitórias, descargas atmosféricas,
ondas de choque, ondas de manobra, isoladores, hastes de descarga, disruptores de hastes
descarregadores de sobretensões, tensões suportáveis

Objecto: Emissão
- Introdução ao guia de aplicação prático sobre coordenação de isolamentos;
- Esclarecer a filosofia de coordenação de isolamentos para melhorar o
desempenho de linhas de distribuição;
- Generalizar a coordenação de isolamentos a regras práticas. ____/___/____

Distribuição Exemplares Data Distribuição Exemplares Data

EDIS
2 Folhas:
Eng.º Vieira de Sousa
EDIS
1 Quadros:
Eng.º Ângelo Sarmento

LAB – ED 1 Desenhos:

Volumes:

Anexos:

Realizado Orientado Visto


Proc.
____/___/____ ____/___/____ ___ / ___ / ___

Registo
_____________________ _____________________ _____________________
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Sumário Executivo
Neste documento são expostos simplificadamente os temas associados à coordenação de
isolamentos em linhas de distribuição aéreas:

• Caracterização dos elementos do sistema fundamentais para a coordenação de


isolamentos;
• Origem, características de sobretensões exteriores e interiores ao sistema, e efeitos
que têm na coordenação de isolamentos;
• Métodos de limitação de sobretensões;
• Processo simplificado de coordenação de isolamentos com apresentação de vários
métodos para melhorar o desempenho de linhas aéreas face a sobretensões de
origem atmosférica.

A coordenação de isolamentos é um tema multidisciplinar que requer conhecimentos


relativamente aprofundados da diversidade dos fenómenos e parâmetros que lhe são
associados.

São propostas duas soluções para realização de coordenação de isolamentos em linhas


aéreas:

• Estudos dedicados por pessoal especializado com conhecimentos de


coordenação de isolamentos para cada caso;
• Procedimentos de coordenação de isolamentos incluídos numa ferramenta
informática para aplicação à generalidade dos casos, nomeadamente:
o Escolha de isoladores
o Escolha de descarregadores de sobretensões
o Avaliação das linhas de distribuição face às tensões induzidas

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Índice
1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 8
2. NOMENCLATURA............................................................................................ 9
3. CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA ............................................................. 12
3.1. Geometria, caracterização e propriedades isolantes ...............................................................12
3.1.1. Nível total de isolação .............................................................................................................13
3.2. Resistência de terra dos apoios..................................................................................................14
3.3. Cabo de guarda ..........................................................................................................................14
3.3.1. Função e características ...........................................................................................................14
3.3.2. Análise de blindagem – Modelo electrogeométrico ...............................................................15
4. SOBRETENSÕES............................................................................................. 19
4.1. Sobretensões com origem no sistema de energia .....................................................................19
4.1.1. Sobretensões Transitórias ........................................................................................................19
4.1.1.1. Ligação – Energização ...................................................................................................19
4.1.1.2. Religação – Reenergização ............................................................................................20
4.1.2. Sobretensões Temporárias.......................................................................................................21
4.1.2.1. Defeitos fase-terra e Regimes de Neutro........................................................................21
4.1.2.2. Rejeição de carga ...........................................................................................................22
4.1.2.3. Combinação de ocorrências ...........................................................................................23
4.1.2.4. Caracterização das sobretensões temporárias ................................................................23
4.2. Sobretensões de origem atmosférica .........................................................................................24
4.2.1. Descrição e características.......................................................................................................24
4.2.2. Caracterização da forma de onda.............................................................................................26
4.2.3. Efeitos em linhas de distribuição.............................................................................................28
5. MEIOS DE PROTECÇÃO DE LINHAS AÉREAS CONTRA
SOBRETENSÕES DE ORIGEM EXTERIOR ....................................................... 29
5.1. Cabos de guarda e terras dos apoios.........................................................................................29
5.2. Níveis de isolação ........................................................................................................................29
5.3. Explosores da rede MT e AT.....................................................................................................30
5.3.1. Hastes de descarga...................................................................................................................30
5.3.2. Disruptores de hastes...............................................................................................................31
5.4. Descarregadores de sobretensões..............................................................................................31
5.4.1. Características .........................................................................................................................31
5.4.2. Falha do equipamento..............................................................................................................33
6. RIGIDEZ DIELÉCTRICA DE ISOLAÇÃO................................................... 34
6.1. Generalidades .............................................................................................................................34
6.1.1. Isolação auto-regenerável ........................................................................................................34
6.1.2. Isolação não-auto-regenerável .................................................................................................34
6.2. Comportamento da isolação à frequência industrial ..............................................................35
6.3. Influência das condições atmosféricas na isolação exterior ....................................................35
6.4. Probabilidade de disrupção devido a descarga atmosférica...................................................35
6.5. Influência da polaridade e forma de onda da sobretensão .....................................................37
7. COORDENAÇÃO DE ISOLAMENTOS ........................................................ 38

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7.1. Desempenho da isolação face a sobretensões temporárias e tensões à frequência industrial


40
7.1.1. Influência da Poluição nos isoladores......................................................................................41
7.2. Desempenho de linhas face a descargas atmosféricas .............................................................42
7.2.1. Índice de descargas ao solo .....................................................................................................42
7.2.2. Exposição de linhas a descargas atmosféricas directas............................................................44
7.2.3. Blindagem ...............................................................................................................................46
7.2.4. Tensão induzida por descarga ao solo na periferia. Exposição às descargas atmosféricas
indirectas................................................................................................................................................49
7.2.4.1. Apoios com condutor de neutro ou cabo de guarda .......................................................51
7.3. Coordenação de Isolamentos segundo Norma CEI 71 ............................................................53
7.3.1. Determinação das sobretensões representativas Urp ...............................................................54
7.3.2. Determinação da tensão suportável de coordenação Ucw .......................................................55
7.3.3. Determinação da tensão suportável necessária Urw................................................................55
7.3.4. Selecção do nível de isolação nominal Uw .............................................................................56
7.4. Actuação sobre o sistema para melhorar o desempenho face a descargas atmosféricas......56
7.4.1. Aplicação de descarregadores de sobretensão .........................................................................57
7.4.1.1. MCOV, TOV e capacidade energética...........................................................................57
7.4.1.2. Considerações acerca de sobretensões transitórias ........................................................60
7.4.1.3. Margens de protecção ....................................................................................................60
7.4.1.4. Precauções .....................................................................................................................61
7.4.1.5. Avaliação estratégica dos locais de aplicação................................................................61
7.4.1.6. Poluição .........................................................................................................................63
8. CONCLUSÃO................................................................................................... 64
9. BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 65

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Lista de Figuras
Figura 1 – Exemplo de configurações de apoios MT: (a)Galhardete ; (b) Esteira horizontal; (c) Triângulo
em alinhamento.................................................................................................................................12
Figura 2 – Poste de betão com braço de metal............................................................................................13
Figura 3 – Descarga captada pelo cabo de guarda ......................................................................................15
Figura 4 – Geometria de apoios para análise de blindagem .......................................................................16
Figura 5 – Exemplo de um apoio para aplicação do modelo geométrico ...................................................17
Figura 6 – Reenergização de um cabo ligado a uma linha..........................................................................20
Figura 7 – Sobretensão por reenergização com um cabo subterrâneo carregado capacitivamente.............21
Figura 8 – Rejeição de carga, esquema.......................................................................................................23
Figura 9 – Frequência acumulada da distribuição de amplitudes de pico de corrente – descargas com
polaridade negativa descendentes .....................................................................................................25
Figura 10 – Frequência acumulada da distribuição do número de impulsos por descarga – baseado em
6000 registos em diferentes regiões do mundo [1]............................................................................26
Figura 11 – Frente de uma onda impulsiva.................................................................................................27
Figura 12 – Onda impulsiva usada em laboratório .....................................................................................28
Figura 13 – Haste de descarga normalizada ...............................................................................................30
Figura 14 - Disruptor de Hastes [12] ..........................................................................................................31
Figura 15 –Característica de dois descarregadores (Óxido de Zinco) com o mesmo nível de protecção
550kV/10kA [12] ..............................................................................................................................32
Figura 16 – Curva que relaciona a sobretensão temporária por unidade de U MCOV e a duração de tempo
que o descarregador suporta (TOV) ..................................................................................................33
Figura 17 – Característica da rigidez dieléctrica para a isolação auto-regenerável [14].............................36
Figura 18 – Característica da rigidez dieléctrica para a isolação não-auto-regenerável [14]......................37
Figura 19 – Representação esquemática das amplitudes das tensões e sobretensões num sistema de
Uc
energia eléctrica vs duração do evento (1p.u. = 2× ) [16] ....................................................38
3
Figura 20 – a) Abordagem determinística; b) Abordagem probabilística [17] .........................................39
Figura 21 – Mapa de Portugal com índices ceráunicos ..............................................................................43
Figura 22 – Exposição de linhas para o modelo do raio de atracção, (a) com b=0, (b) com b≠0 ...............45
Figura 23 – Descarga directa à linha ..........................................................................................................45
Figura 24 – Esquemático representando a influência de objectos na blindagem da linha aérea.................47
Figura 25 – Definição das fronteiras críticas ..............................................................................................47
Figura 26 – Factor de blindagem SF1 para uma situação exemplificativa...................................................49
Figura 27 – Conceito das descargas induzidas em linhas de distribuição...................................................50
Figura 28 – Exemplo de apoio com condutor de fase e condutor de neutro ...............................................51
Figura 29 – Cálculo da taxa de contornamentos/100km-anos – IVFOR, sem objectos na vizinhança.......52
Figura 30 - Fluxograma descrevendo os passos necessários para encontrar o nível de isolação
normalizado ......................................................................................................................................54

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Figura 31 – Curva de duração de sobretensões temporárias exemplificativa (curva TOV).


Uc(MAX)=UMCOV..............................................................................................................................58
Figura 32 – Curvas de tensão residual ........................................................................................................61

Lista de Tabelas
Tabela 1 – Tensões nas fases sãs para os vários regimes de neutro (valores eficazes)...............................22
Tabela 2 – Sumário das características de sobretensões temporárias .........................................................24
Tabela 3 – Relação comprimento/tensão recomendada em CEI 60071-2 ..................................................42
Tabela 4 - Classes e formas de onda das sobretensões representativas de acordo com a CEI 71 ...............53
Tabela 5 – Níveis de Isolação nominal para a Classe I (neste caso apenas entre 1 kV<Um<72.5 kV) ......56

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1. Introdução
Este documento contém uma introdução ao guia de aplicação prático sobre coordenação
de isolamentos e é constituído por um conjunto de temas, problemas e soluções com a
pretensão de esclarecer o leitor sobre a essência da filosofia de coordenação de
isolamentos, tendo em vista melhorar o desempenho de linhas de distribuição.

A coordenação de isolamentos nos níveis de tensão presentes na distribuição é feita com


base nas sobretensões de origem atmosférica.

O desempenho dos sistemas de energia eléctrica é dependente do desempenho


individual de todos os equipamentos integrantes nesse sistema. As linhas e subestações
exteriores são infra-estruturas de grande exposição a fenómenos de origem aleatória
exteriores ao sistema. Alguns elementos podem ser controlados por actuação exterior ao
sistema, como seja garantir distâncias de isolamento entre os elementos activos e os
elementos estranhos ao sistema (em grande parte vegetação).

As descargas atmosféricas, fenómenos de origem externa ao sistema e de grande


importância na coordenação de isolamentos, têm cariz aleatório, sendo o seu
comportamento estudado estatisticamente garantindo, um grau de incerteza
determinado, a sua actividade e características. A actuação para garantir um bom
desempenho da rede face a este tipo de fenómenos pode assumir várias frentes com
resultados diversos:

• Nível de isolação;
• Cabos de guarda;
• Terras dos apoios;
• Descarregadores de sobretensões.

Nos níveis de tensão em causa, a grande corrente mundial está a favor da aplicação
estratégica e selectiva de descarregadores de sobretensões. Estes equipamentos com o
evoluir da tecnologia, apresentam cada vez mais uma relação técnico-económica mais
apelativa.

A sua aplicação deve ser feita de uma forma estudada e cuidada, resultando numa
relação custo/beneficio óptima. Não existe um método simples e eficaz de obter um
resultado óptimo. Existe, isso sim, um conjunto de técnicas para estudar o sistema que
permite, com um certo grau de risco, obter uma aplicação optimizada e dedicada. Esses
estudos requerem programas de análise de transitórios e um conhecimento relativamente
aprofundado do sistema em questão.

Generalizar a coordenação de isolamentos a um conjunto de regras e equações resulta


normalmente em resultados e custos normalmente mais elevados. O ideal é que cada
caso deva ser estudado individualmente recorrendo a programas de análise de
transitórios. Um estudo cuidadoso pode traduzir-se por poupanças muito substanciais.

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2. Nomenclatura
Em alguns dos pontos são apresentadas em itálico as mesmas definições utilizadas na
literatura em inglês.

AT – Alta Tensão.

BFR – Número de contornamentos inversos em 100 km de linha por ano. Backflashover


Rate.

Classe I – Conjunto de valores normalizados da tensão Um, para 1 kV<Um≤245 kV.

Classe II – Conjunto de valores normalizados da tensão Um, para Um>245 kV.

CWF – Frente de onda crítica. Critical WaveFront.

GAL - Armação em galhardete

IDS – Índice de Descargas ao Solo, definido pelo número de descargas ao solo em 100
km2 de área por ano. Ground Flash Density – GFD.

Isolação Auto-Regenerável – Isolação que recupera as suas propriedades de isolamento


após uma descarga disruptiva provocada por aplicação de uma tensão de teste;
Geralmente trata-se de isolação externa

Isolação Não-auto-Regenerável – Isolação que perde as suas propriedades de isolamento


ou não as recupera totalmente após uma descarga disruptiva provocada por aplicação de
uma tensão de teste; Geralmente trata-se de isolação interna.

Isolação Longitudinal – Isolação entre terminais que pertencem à mesma fase, mas que
estão temporariamente separadas em duas partes indepentemente energizadas.

IVFOR – Induced Voltage FlashOver Rate [contornametos/100km-anos]

LPL – Máxima tensão residual no descarregador de sobretensões para uma onda de


choque de frente rápida, em função da corrente de descarga. Lightning Protective Level.

Kc – Factor de coordenação

Ks – Factor de segurança

MCOV / UMCOV – tensão máxima em funcionamento continuo do descarregador de


sobretensão. Maximum Continuous Operating Voltage – MCOV.

MOSA – Descarregador de sobretensões do tipo óxido de metal. Usualmente são de


óxido de zinco, ZnO. Metal Oxide Surge Arrester.

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MT – Média Tensão

Onda de Choque – Impulso normalizado 1,2/50µs. A amplitude desta onda, que se


considera representativa das sobretensões transitórias de frente rápida, será igual ao pico
da sobretensão transitória de frente rápida, máxima, que possa ocorrer.

Onda de Manobra – Impulso normalizado 250/2500µs. A amplitude desta onda, que se


considera representativa das sobretensões transitórias de frente lenta, será igual ao pico
da sobretensão transitória de frente lenta, máxima, que possa ocorrer.

SFR – Número de falhas blindagem por 100 km de linha por ano. Shielding Failiure
Rate.

SFFOR – Número de contornamentos por falhas blindagem por 100 km de linha por
ano. Shielding Failiure Flashover Rate.

SPL – Máxima tensão residual no descarregador de sobretensões para uma onda de


frente lenta, em função da corrente de descarga. Switching Protective Level.

TOV – Curva característica dos descarregadores de sobretensões que define a duração


máxima suportada de uma sobretensão. Temporary Overvoltage Capability

U10L – Tensão para a qual existe 10% de probabilidade de haver contornamento de um


isolamento para uma onda frente de choque de tensão 1,2/50 µs (CEI 60071-1). Basic
Lightning Impulse Insulation Level – BIL.

U10S – Tensão para a qual existe 10% probabilidade de haver contornamento para uma
onda com de tensão 250/2500 µs (CEI 60071-1). Basic Switching Impulse Level – BSL.

U50(A) – Tensão para a qual existe 50% de probabilidade de provocar disrupção da


isolação. Critical Flashover Voltage – CFO.

Uc – Tensão composta

Ucw – Tensão suportável de coordenação

UL-T – Tensão nominal fase-terra.

Um – Tensão máxima fase-terra

UR – sobretensão suportável pelo descarregador durante 10 segundos com uma


temperatura exterior de 60ºC. Rated Voltage.

Urp – Tensão representativa

Urw – Tensão suportável necessária

USmax – Tensão máxima suportável pelo descarregador de sobretensão

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Hc – Altura do condutor

Hg – Altura do cabo de guarda

Z0 – Impedância característica de onda.

Zh – Impedância homopolar

Zd – Impedância directa

Td – Índice ceráunico – Número médio anual de dias em que se ouve trovejar.

α - Ângulo de blindagem

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3. Caracterização do sistema
Os níveis de tensão presentes no sistema de distribuição nacional são de:

• 10 kV;
• 15 kV;
• 30 kV;
• 60 kV.

Os primeiros três níveis pertencem à categoria de média tensão (MT) e o último é um


nível da categoria de alta tensão (AT).

3.1. Geometria, caracterização e propriedades isolantes


Nos diversos níveis de tensão são usadas variadas configurações de apoios. Os materiais
de que são construídos e a sua geometria tomam considerável importância no nível de
isolação que fornecem à linha.

Nas redes de distribuição são usados apoios betão e metal com várias configurações
distintas. Na Figura 1 são apresentados a título exemplificativo três tipos de apoios de
um circuito.

(a) (b) (c)


Figura 1 – Exemplo de configurações de apoios MT:
(a)Galhardete ; (b) Esteira horizontal; (c) Triângulo em
alinhamento

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3.1.1. Nível total de isolação

O nível de isolação de que uma linha dispõe não está apenas relacionado com o
isolamento proporcionado pela cadeia de isolação. A configuração, os materiais de que
são feitos os apoios e as condições atmosféricas são elementos preponderantes no real
valor de isolação. Note-se que em condições de humidade, o nível de isolação reduz
aproximadamente para valores entre 70% e 90%.

Cada elemento usado nas infra-estruturas de distribuição tem o seu nível de isolação.
Quando combinados em série, o nível de isolação total não é a soma de cada nível de
isolação de cada um desses elementos mas algo inferior [1].

Por exemplo, um poste de metal com braços de metal, Figura 1c, o nível de isolação
entre uma linha e o solo reduz-se apenas ao nível de isolação proporcionado pela sua
cadeia de isolação. A estrutura de metal não acresce isolamento aos condutores activos.

Nos apoios de betão nos níveis de distribuição existe ligação à terra por intermédio de
um varão da armadura de aço ou condutor próprio embebido. Com os braços de metal
ligados a este condutor de terra, a estrutura de betão como na situação anterior também
não oferece qualquer isolação extra, Figura 1b.

Para um outro caso, em que o poste seja de madeira com braço de metal, o nível de
isolação entre o condutor e o solo é composto pelo nível de isolação da cadeia acrescido
do nível de isolação da madeira. Caso a madeira esteja húmida, o nível de isolação que
esta proporciona será menor.

Para este terceiro caso, entre fases, o nível de isolação é composto pela combinação do
isolamento das duas cadeias de isolação (braço de metal entre os dois isoladores de
baixo, Figura 2, não acresce isolação). Este nível de isolação pode não ser suficiente
para evitar em caso de sobretensão elevada um contornamento com aparecimento de um
arco eléctrico entre duas fases.

Figura 2 – Poste de betão com braço de metal

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Em [2] é apresentado um método para estimar o U50 total de uma estrutura de


distribuição, isto é, a tensão para a qual existe 50% de probabilidade de provocar a
disrupção de isolação.

Este método consiste na soma da contribuição de todos os componentes em série, sendo


que a contribuição do componente primário é total e as contribuições dos componentes
seguintes são depreciadas com factores multiplicativos.

A contribuição de um componente secundário deverá ser de 45% do seu valor total e a


contribuição de um componente terciário deverá ser de 20% do seu valor total.

Temos então:

U 50 Total = U 501ºisolameto + 0,45 ⋅ U 50 2 ºisolamento + 0,2 ⋅ U 50 3ºisolamento (1)

Este método proporciona respostas com um erro inferior a 20%. Não há nenhum
método simples conhecido para determinar o nível de isolação de uma estrutura de
distribuição. Podem ser obtidas estimativas mais precisas recorrendo a ensaios em
laboratório.

As características isolantes para alguns elementos e materiais usados em estruturas de


distribuição estão apresentadas em [1].

3.2. Resistência de terra dos apoios


Os apoios podem ser ligados ao solo através de eléctrodos de terra enterrados no
mesmo. A ligação à terra depende do eléctrodo de terra e da resistividade do solo. A
combinação destes dois factores define a resistência de terra.

Estas ligações ao solo tomam grande importância no desempenho dos cabos de guarda.
É a resistência de terra que determina a elevação de potencial no poste quando uma
corrente de origem atmosférica captada pelo cabo de guarda é escoada para o solo.

Em algumas situações em que a resistência de terra é elevada, é necessário tomar


medidas para reduzir o seu valor. Esta redução pode ser obtida recorrendo a
configurações diferentes do eléctrodo de terra e tratamento de solo.

3.3. Cabo de guarda


A utilização de cabo de guarda no sistema de distribuição nacional é feita em algumas
das linhas de 60 kV. À saída das subestações também são colocados por norma cabos de
guarda durante algumas centenas de metros.

3.3.1. Função e características

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Cabos de guarda são condutores ligados à terra colocados por cima dos condutores
activos para interceptar as descargas atmosféricas que de outra forma atingiriam
directamente as fases.

A corrente de descarga captada pelo cabo de guarda é conduzida para o solo por
ligações a este existentes nos apoios e os eléctrodos de terra, Figura 3. A ligação entre o
cabo de guarda e o eléctrodo de terra (enterrado no solo) pode ser feita através de um
condutor ou mesmo através do apoio quando este é metálico. Para um funcionamento
eficaz, caracterizado por evitar interrupções, o cabo de guarda deve ser ligado ao solo
em todos os apoios.

Figura 3 – Descarga captada pelo cabo de guarda

A eficácia dos cabos de guarda depende das resistências de terras dos apoios e do nível
de isolamento dos condutores activos. Nos sistemas de distribuição a eficácia dos cabos
de guarda é reduzida devido aos baixos níveis de isolamento presentes. Uma linha de
distribuição com cabo de guarda tem grande dificuldade em suportar uma sobretensão
de origem atmosférica caso as resistências de terra dos apoios não sejam muito
reduzidas (<10Ω).

Para uma boa eficácia do cabo de guarda, é necessário garantir:

• Disposição geométrica adequada do cabo de guarda;


• Distância de isolamento entre o condutor que escoa a corrente para o solo e os
condutores de fase (apoios não metálicos);
• Resistência de terra suficientemente baixa para que, em caso de escorvamento
para a terra, não se verifiquem potenciais elevados no apoio.

3.3.2. Análise de blindagem – Modelo electrogeométrico

Falha de blindagem (Shielding Failiure) ocorre quando uma descarga atmosférica não é
interceptada pelo cabo de guarda e atinge uma fase.

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A colocação do cabo de guarda, tendo em conta o modelo do salto final, é feita de forma
a blindar as fases de descargas atmosféricas com corrente de pico acima de um valor
definido pelo explorador, tendo em conta o nível de protecção que pretende.
Usualmente esse valor é definido de tal forma que todas as falhas de blindagem que
possam haver não provoquem falha de isolação.

Na Figura 4, são apresentadas as geometrias que mostram as situações de uma


blindagem imperfeita e perfeita, respectivamente. Note-se que a blindagem da linha
depende da amplitude da corrente de descarga atmosférica.
Os raios de atracção do cabo de guarda, Rg e do condutor, Rc, deixam um arco de
penetração DC por onde o traçador da descarga atmosférica pode passar, levando à falha
de blindagem do condutor. Este arco de penetração depende da amplitude de pico da
corrente da descarga atmosférica.

Arco de
penetração Rg
Dc

Rg
Rg
cabo de guarda

cabo de guarda Rc Rg
α r α r
θA Rc
cond. Rc
cond.
d
d

Hg Hc
Hg Hc

a) Falha de Blindagem
b) Blindagem Perfeita
Figura 4 – Geometria de apoios para análise de blindagem

De [3], o arco de penetração é dado por:

Rc   R 2 − R g 2 + r 2 
−1  c 
Dc = α + 90º − cos (2)
57,3   2 × Rc × r 
  

onde
Rc – Raio de atracção do condutor
Rg – Raio de atracção do cabo de guarda
α - Ângulo de blindagem (em graus)
r – Distância entre o cabo de guarda e o condutor
Hc – Altura a que se encontra o condutor
Hg – Altura a que se encontra o cabo de guarda

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 d 
α = tan −1   (3)
H −H 
 g c 

H g − Hc
r= (4)
cos α

As falhas de blindagem irão ocorrer para todos os arcos de penetração Dc (em função da
corrente de descarga), até que o cabo de guarda esteja posicionado de tal maneira que o
arco seja zero (correspondendo a uma corrente de penetração máxima permitida).

Deste modo, o raio de atracção do condutor e do cabo de guarda, que definem o arco de
penetração, são dependentes da altura a que se situam e da corrente máxima de descarga
[3]:

Rc = 0,67 × H c × I 0.74
0 .6
(5)

R g = 0,67 × H g × I 0.74
0.6
(6)

Substituindo as equações 5 e 6 na equação 2 obtêm-se o arco de penetração Dc em


função da corrente de descarga I mínima, abaixo da qual há falha de blindagem.

Exemplo:

Tomemos como exemplo uma linha aérea com a seguinte configuração.

cabo de guarda

α r

condutor

d=2m

Hg=34.7m Hc=26.68m

Figura 5 – Exemplo de um apoio para aplicação do modelo geométrico

Utilizando as equações anteriores, encontramos a corrente máxima de penetração


igualando o arco de penetração Dc a zero e resolvendo a equação em ordem a I:

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0=

0,67 × H c × I 0.74 
0.6
−1 
α + 90º − cos 
( c ) (
 0,67 × H 0.6 × I 0.74 2 − 0,67 × H 0.6 × I 0.74
g )
2
+ r 

57,3   2 × 0,67 × H c × I
0 .6 0.74
×r 
  

⇒ I = 6,86kA

Isto significa que para correntes de descarga inferiores a 6,86 kA irá haver descargas
directas aos condutores.
Para linhas com menos de 15 m de altura com espaço entre condutores inferior a 2 m,
para garantir que todas as descargas terminam no cabo de guarda e não nas fases, é
recomendado um ângulo de blindagem (α) menor de 30º.

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4. Sobretensões
As sobretensões que surgem nos sistemas eléctricos de distribuição podem ser de
origem interna, originadas por operações de disjuntores (ligação, religação, abertura),
por defeitos, por ferroressonância, por rejeição de carga, ou externa, originadas por
descargas atmosféricas. Estas sobretensões têm de ser controladas e limitadas de forma
a evitar danos nos equipamentos do sistema como também perda de continuidade de
serviço, comprometendo a qualidade de energia fornecida ao cliente.

O melhor conhecimento das sobretensões é obtido com estudos detalhados utilizando


experimentação e modelos apropriados para o sistema em estudo tendo em conta as
características dos sistemas e dos limitadores de sobretensões.

A coordenação de isolamento em linhas de distribuição aéreas baseia-se em


sobretensões externas. As sobretensões internas são aqui mencionadas, pois afectam a
selecção do descarregadores de sobretensões quando utilizados para protecção.

4.1. Sobretensões com origem no sistema de energia


As sobretensões de origem interna ao sistema podem ser agrupadas em duas categorias
fundamentais:

• Sobretensões transitórias;
• Sobretensões temporárias.

Estas sobretensões tomam maior importância na coordenação de isolamentos em


sistemas de transmissão.

4.1.1. Sobretensões Transitórias

As sobretensões transitórias são de curta duração, apenas alguns milissegundos,


usualmente fortemente atenuadas [4].

As sobretensões transitórias são originadas por operações de ligação (energização),


religação (reenergização) e interrupção de correntes indutivas ou capacitivas [5]. Apesar
destes transitórios serem despoletados por comutação, na sua essência consistem em
oscilações da energia armazenada entre elementos indutivos e capacitivos do sistema.
Podem surgir sobretensões elevadas, mas são normalmente de curta duração.

4.1.1.1. Ligação – Energização

O transitório de energização resulta da ligação de uma linha, cabo, transformador


através do fecho de um disjuntor. Neste caso, o equipamento a ser energizado supõe-se
desligado há algum tempo, sendo que a sua tensão e corrente iniciais são nulas (sem
energia acumulada). Com condições iniciais nulas, tipicamente para um sistema
monofásico, a tensão de transitório poderá atingir um valor igual a 2 vezes a tensão da

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fonte. Para um sistema trifásico existindo acoplamento entre fases, para as mesmas
condições, podem verificar-se sobretensões de 2,5 até 3 vezes a tensão da fonte,
dependendo também do tempo de fecho dos pólos do disjuntor.

O comprimento típico das linhas de distribuição não excede usualmente algumas


dezenas de quilómetros. Para estes comprimentos de linhas, estes transitórios tem
durações na ordem das centenas de microsegundo.

4.1.1.2. Religação – Reenergização

O transitório de religação usualmente ocorre passado um tempo morto


aproximadamente de 15 ciclos (300 ms) num equipamento que pouco tempo antes se
encontrava energizado. Uma linha energizada num dos extremos é atravessada por uma
corrente reactiva que carrega a sua capacidade transversal. A interrupção dessa corrente
de energização num zero resulta numa carga armazenada na linha com uma tensão
aproximadamente igual à tensão da fonte. A religação da linha pode resultar num
transitório com uma sobretensão muito elevada se a tensão da fonte e a tensão a que a
linha está carregada forem de polaridade oposta. Num sistema trifásico, essas
sobretensões podem atingir entre os 2,5 até 4 vezes a tensão da fonte.

Caso as duas tensões tenham a mesma polaridade, o transitório não apresenta


sobretensões significativas.

Quando existem transformadores de tensão ligados aos extremos das linhas1, as energias
armazenadas podem ser descarregadas através dos mesmos. Desta forma as
sobretensões descritas deixam de se verificar em processos de reenergização.

Na Figura 6 é focada uma situação em que as sobretensões por religação podem atingir
valores mais extremos face à tensão da fonte. A reenergização de um conjunto
cabo/linha (em vazio no extremo da linha), com uma tensão inicial em oposição de fase
com a tensão da fonte pode causar uma sobretensão de 6 pu. Como se pode ver pelo
diagrama da Figura 7, apesar de haver uma elevada sobretensão transitória, neste caso, a
sua duração é reduzida.

5km cabo subterrâneo 1km linha aérea

-1pu energia armazenada

Figura 6 – Reenergização de um cabo ligado a uma linha

1
Nos sistemas de distribuição, os TT são usualmente ligados barramentos a montante dos disjuntores.
Nestas situações não há um percurso de descarregamento rápido para a energia armazenada numa linha.

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[ p.u.] 4 pu
4

3
2 pu
2

1
1 pu

-1
20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 tempo[µs ]

-2

-3

-4

Figura 7 – Sobretensão por reenergização com um cabo


subterrâneo carregado capacitivamente

Também nestes transitórios, como descrito para os transitórios de ligação, a duração


está na ordem das centenas de microsegundo para as linhas de maior comprimento.

4.1.2. Sobretensões Temporárias

As sobretensões temporárias são usualmente à frequência industrial, de longa duração


[4]. As suas origens podem ser atribuídas a:

• Defeitos fase-terra, com sobretensão nas fases sãs;


• Rejeição de carga;
• Ferroressonância;
• Combinação de ocorrências.

Estas sobretensões são importantes na definição dos esforços energéticos devido à sua
longa duração e na selecção de descarregadores de sobretensões.

4.1.2.1. Defeitos fase-terra e Regimes de Neutro

Por regime de neutro de um sistema de energia eléctrica designa-se o tipo de ligação do


neutro adoptado na concepção e exploração do mesmo.

O regime de neutro condiciona as características do sistema durante a ocorrência de um


defeito envolvendo a terra.

Durante a ocorrência de um defeito fase-terra verifica-se uma sobretensão nas fases sãs.
Dependendo do regime de neutro e das características do sistema, essas sobretensões
serão mais ou menos severas. Tipicamente, a sobretensão entre fase e terra toma o valor
da tensão fase-fase.

Existem diversos métodos de regime de neutro, cada um apresentando as suas vantagens


e inconvenientes.

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Em Portugal na rede de MT, existem duas filosofias de regime de neutro predominantes.


Neutro isolado, praticado na região correspondente à ex-CENEL (área de rede centro
excepto Aveiro e Castelo Branco) e neutro impedante (com predomínio de ligação à
terra por reactância) solução adoptada na restante rede nacional de MT [8].

No nível de 60 kV o regime de neutro utilizado é a ligação efectiva de neutro à terra.

Durante um defeito fase-terra o regime de neutro toma grande importância na limitação


da corrente de curto-circuito, como também nas sobretensões verificadas nas outras
duas fases onde não há defeito.

A sobretensão que se vai verificar durante um defeito fase-terra é determinada com base
nas impedâncias directa ( Z1 = R 1 + j ⋅ X1 ) e homopolar ( Z 0 = R 0 + j ⋅ X 0 ) do sistema.

• A gama de valores elevados de X0/ X1 aplica-se a regimes de neutro ressonantes


ou isolados.
• A gama de valores baixos de X0/ X1 aplica-se a regimes de neutro sólido ou
impedante. Tipicamente X0/ X1 ≤ 1.
• Define-se neutro efectivo à terra quando X0/ X1 ≤ 3 e R0/ R1 ≤ 1.

Na Tabela 1 são apresentadas as maiores tensões (simples, fase-terra) esperadas nas


fases sãs durante um defeito fase – terra.

Tabela 1 – Tensões nas fases sãs para os vários regimes de neutro


(valores eficazes)

Regime de neutro Tensão nas duas fases sãs 2

Isolado 3 ⋅ U L −T
Efectivo à terra ≤ 1,4 ⋅ U L -T
Impedante 3 ⋅ U L −T
Ressonante 3 ⋅ U L −T

A duração desta sobretensão temporária é determinada pelo tempo de eliminação do


defeito, ou seja, da actuação do conjunto protecção/disjuntor. O tempo da eliminação de
um defeito pode ser da ordem do segundo.

4.1.2.2. Rejeição de carga

Uma sobretensão desta natureza tem origem numa perda repentina de carga
significativa. Este problema surge principalmente em redes radiais.

O processo da rejeição de carga [5] é iniciado pela abertura de um disjuntor afastado do


ponto de alimentação. O efeito de Ferranti surge quando um circuito indutivo é
percorrido por uma corrente capacitiva. Antes da perda de carga a tensão do ponto de
2
UL-T – tensão fase-terra do sistema.

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alimentação é ligeiramente superior à tensão no terminal afastado. Com a abertura do


disjuntor da carga passam a fluir na linha apenas correntes reactivas devido à
capacidade transversal da linha. A tensão no extremo da carga pode tomar valores
significativamente superiores à tensão do ponto de alimentação devido ao efeito
Ferranti.

Transformador Disjuntor
Linha aérea

Fonte de
Tensão
Carga

Figura 8 – Rejeição de carga, esquema

Este efeito é mais comum em cabos subterrâneos onde as capacidades são superiores.

Em resumo, acontecem os efeitos independentes:


- Desaparecimento de quedas de tensão devido à perda de carga;
- Aumento de sobretensões devido a correntes capacitivas (Ferranti).

4.1.2.3. Combinação de ocorrências

Em casos específicos algumas das sobretensões apresentadas podem ocorrer


simultaneamente. A situação mais comum é a combinação entre uma ocorrência de
defeito fase-terra e rejeição de carga com efeito de Ferranti.

Nestas situações as sobretensões que aparecem podem tomar valores mais acentuados
do que a ocorrência singular de cada um dos fenómenos.

4.1.2.4. Caracterização das sobretensões temporárias

A Tabela 2 apresenta um sumário das características das sobretensões temporárias.

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Tabela 2 – Sumário das características de sobretensões


temporárias

Parâmetros que
Evento que dá Parâmetros que
Tipo Duração Amplitude afectam a
inicio afectam a duração
amplitude

Defeito Pode passar 1 Tempo de eliminação


Defeito à terra 1,1 a 2 pu Regime de neutro
fase-terra segundo de defeito.

X do gerador, C da
Abertura de Harmónicas
linha, controlo do
Rejeição de interruptor com 0,5 a 2,0 geradas por
gerador, carga inicial, 1,1 a 2 pu
Carga perda de grande segundos saturação do
reactâncias
carga transformador
compensadoras

4.2. Sobretensões de origem atmosférica


4.2.1. Descrição e características

Uma descarga atmosférica tem origem na diferença de potencial que existe entre as
nuvens e o solo. Quando esse potencial excede o valor crítico ocorre uma disrupção no
dieléctrico e a carga armazenada é transferida. A corrente de pico de uma descarga pode
ir desde algumas centenas de amperes até possivelmente 200 kA. No entanto a
probabilidade de ocorrência de uma corrente de pico com amplitude superior a 100 kA é
próxima de 5%. Na Figura 9 estão representadas as curvas segundo Popolansky (a
verde) e a mais recente definida por Anderson/Eriksson (a vermelho) que definem a
relação da amplitude de pico das descargas com a sua probabilidade de ser excedida [5].
Estas duas curvas são apresentadas em dois gráficos sendo o primeiro em escala
logarítmica e o segundo em escala linear.
Devido à sua natureza, as características das descargas atmosféricas (forma de onda e
corrente) são variáveis e apenas podem ser definidas estatisticamente.

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U+
D
Popolansky (CIGRÉ)

[pu]
U-

P(I o ≥ io ) =
h
1
2.0
i 
1+  o 
 25 
D
+ -
U+ U- h

Anderson Eriksson (IEEE)


P ( I o ≥ io ) =
1
2.6
i 
1+  o 
 31 

[kA]

a) escala logarítmica

Anderson Eriksson (IEEE)

P ( I o ≥ io ) =
1
2.6
i 
1+  o 
 31 

Popolansky (CIGRÉ)
P (I o ≥ io ) =
1
2.0
i 
1+  o 
 25 

b) escala linear
Figura 9 – Frequência acumulada da distribuição de amplitudes
de pico de corrente – descargas com polaridade negativa
descendentes

Uma descarga atmosférica é usualmente constituída por uma sequência de impulsos e


não por apenas um. Tipicamente existem em média 2,3 impulsos numa só descarga
entre nuvem e solo tendo o primeiro a maior amplitude e os choques subsequentes

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amplitudes mais reduzidas mas podendo ter frentes de ondas mais escarpadas. Pela
Figura 10 pode retirar-se a relação entre o número de impulsos por descarga e a sua
probabilidade de ocorrência.

100
90
80
70
P-%

60
50
40
30
20
10

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Nsf

Figura 10 – Frequência acumulada da distribuição do número de


impulsos por descarga – baseado em 6000 registos em diferentes
regiões do mundo [1]

4.2.2. Caracterização da forma de onda

Nos níveis de tensão em que se enquadram os sistemas de distribuição, as sobretensões


que tomam maior importância para a coordenação de isolamento são as de origem
atmosférica.

Estas ondas impulsivas de origem atmosférica podem ser descritas por diversos
parâmetros como apresentado em [9], Figura 11.

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T10/90
T30/90
tempo [µs ]

Itrig
S10
I10

I30
S10/90

S30/90

I90
I100 Pico I

Pico
I [kA]

Figura 11 – Frente de uma onda impulsiva

Descrição dos parâmetros da Figura 11:


I10 = 10% de amplitude de corrente de descarga atmosférica
I30 = 30% de amplitude de corrente de descarga atmosférica
I90 = 90% de amplitude de corrente de descarga atmosférica
I100 = Amplitude máxima
T10/90 = Tempo entre I10 e I90
T30/90 = Tempo entre I30 e I90
Sm = tan G, máxima taxa de subida
S10 = taxa de subida instantânea para 10% de corrente de descarga
S10/90 = Escorvamento médio entre I10 e I90
S30/90 = Escorvamento médio entre I30 e I90

Em laboratório, estas ondas de frente rápida são usualmente modelizadas de uma forma
mais simplificada, por uma onda tipo côncava caracterizada por três parâmetros (Figura
12):

• tf - Tempo de crescimento da frente de onda[µs];


• th - Tempo de meia onda da cauda [µs];
• Imax - Amplitude. máxima [kA] ;
• Sm - Escarpamento da frente de onda [kA/μs].

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Figura 12 – Onda impulsiva usada em laboratório

A Figura 12 apresenta uma onda côncava de corrente de 1.2/50 µs (t1/t2 µs) muito usada
nos ensaios de descarregadores de sobretensões e na definição das suas características e
desempenhos a ondas de choque.

4.2.3. Efeitos em linhas de distribuição

Os efeitos das descargas atmosféricas nas linhas de distribuição podem ser sentidos de
formas distintas dependendo:

• No caso de a linha dispor de cabo de guarda, por elevação do potencial no poste


durante o escoamento da corrente da descarga para o solo que pode originar um
contornamento da cadeia de isolação;
• Por contacto da descarga com o solo na proximidade de uma linha, provocando
uma tensão induzida na linha que pode originar um contornamento da cadeia de
isolação;
• Por contacto directo da descarga numa das fases da linha, o que provoca uma
elevada sobretensão podendo originar um contornamento da cadeia de isolação.
Nos sistemas de distribuição, neste tipo de ocorrências, o contornamento ocorre
na quase totalidade das vezes devido às elevadas sobretensões que se fazem
sentir comparativamente ao nível de isolação presente.

As linhas que dispõem de cabo de guarda podem sentir os efeitos das descargas
atmosféricas nas três formas apresentadas. Para as linhas que não dispõem de cabo de
guarda, o primeiro tópico não é aplicável.

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5. Meios de protecção de linhas aéreas contra sobretensões


de origem exterior
As cadeias de isolação das linhas de distribuição são usualmente dimensionadas para
suportar todas as sobretensões internas ao sistema, sendo que com as sobretensões
exteriores ao sistema, na grande maioria das vezes, atinge valores suficientes para
contornar as cadeias. A coordenação de isolamentos deve ser feita para que a cadeia de
isolação sofra o mínimo de contornamentos por sobretensões exteriores, provocando
interrupções no serviço.

É preciso garantir simultaneamente continuidade de serviço como também proteger os


equipamentos de fenómenos que os possam degradar ou mesmo danificar.

Em linhas, as sobretensões exteriores podem ser controladas por actuação em vários


elementos:

• Cabos de guarda;
• Resistência de terra dos apoios;
• Níveis de isolação;
• Hastes de descarga e disruptores de hastes
• Descarregadores de sobretensões.

5.1. Cabos de guarda e terras dos apoios


Com os níveis de isolação presentes na distribuição, a utilização de cabos de guarda
para proteger as linhas de sobretensões de origem atmosférica requer resistências de
terra com valores muito reduzidos.

A aplicação de cabos de guarda em sistemas existentes para melhorar o desempenho de


linhas face a descargas atmosféricas pode implicar modificações acentuadas e de
execução complicada nas estruturas existentes para o poderem acomodar.

A obtenção de resistências de terra compatíveis com as sobretensões máximas


suportáveis depende fortemente da resistividade do solo. Em muitas zonas é
extremamente difícil obter resistências de terra de baixo valor.

Podem ser aplicadas medidas ao nível do eléctrodo de terra, como por exemplo
modificar a forma dos eléctrodos de modo a reduzir a resistência de terra. Os custos
associados a estas medidas são consideráveis e quando for necessário actuar sobre uma
grande quantidade apoios pode tornar-se mesmo incomportável.

5.2. Níveis de isolação


Os níveis de isolação da distribuição não suportam as sobretensões causadas por
descargas atmosféricas directas às fases. É impensável aumentar os níveis de isolação

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das linhas de distribuição para suportarem as sobretensões causadas por descargas


directas ao condutor de fase.

As sobretensões induzidas por descargas na proximidade das linhas podem ser


controladas quase na totalidade com níveis de isolação superiores a 250 kV a 300 kV
[10],[11]. Em zonas onde exista grande blindagem natural (capítulo 7.2.3) e as
sobretensões induzidas tenham um peso considerável, o desempenho da linha face a
sobretensões de origem atmosférica pode se melhorado aumentado a isolação das
cadeias para valores acima dos 300 kV.

5.3. Explosores da rede MT e AT


Os explosores são utilizados na rede MT e AT, sendo normalmente colocados em
pontos da rede particularmente expostos e à entrada dos PT’s. A sua função baseia-se
em criar um ponto fraco na isolação que permita limitar as amplitudes elevadas das
sobretensões transitórias, estabelecendo um arco eléctrico entre a fase e a terra.

5.3.1. Hastes de descarga

Um dos dispositivos mais conhecidos trata-se das hastes de descarga, apresentado na


Figura 13. Consiste em duas hastes em “L”, uma ligada ao condutor a proteger e outra
ligada à terra ou então apenas uma haste ligada ao condutor. As hastes de descarga
facilitam o estabelecimento do arco, a extinção do arco e a regeneração do dieléctrico
através da de-ionização do ar, sem destruir os isoladores, mas provocando um defeito
fase-terra.

Figura 13 – Haste de descarga normalizada

As hastes de descarga, são geralmente utilizadas na protecção dos isoladores onde se


encontram instaladas (cadeias de isoladores e travessias de transformadores). No
entanto, na 2ª parte do manual de coordenação de isolamento da EDP Distribuição, é
recomendado que os transformadores sejam protegidos por descarregadores de

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sobretensões e não por hastes de descarga. O funcionamento das hastes de descarga


provoca quase sempre uma corrente de seguimento de 50Hz, com o consequente curto-
circuito e interrupção de serviço (pelo menos nas redes com neutro à terra, directamente
ou com impedância limitadora), ao passo que os descarregadores de sobretensões
evitam ou eliminam a corrente de seguimento de 50Hz não provocando a interrupção de
serviço.

5.3.2. Disruptores de hastes

Existem modelos de explosores designados por disruptores de hastes (DH), em que


existe um eléctrodo entre duas hastes, como se mostra na Figura 14. Este eléctrodo é
designado por eléctrodo à prova de pássaros.

Figura 14 - Disruptor de Hastes [12]

- Os disruptores de hastes destinam-se a proteger o equipamento de PT,


PS, SE e são aplicados nas amarrações das linhas aéreas MT, junto dos
PT ou das subestações.

Embora as hastes de descargas e os disruptores de hastes ainda sejam utilizados em


redes eléctricas, hoje em dia já são substituídos por descarregadores de sobretensões.

As hastes de descarga, disruptores de hastes e descarregadores de sobretensões (DS) são


equipamentos utilizados para reduzir as amplitude elevadas das sobretensões
transitórias, como por exemplo descargas atmosféricas.

5.4. Descarregadores de sobretensões


5.4.1. Características

Os equipamentos vulgarmente usados hoje em dia para limitar as sobretensões são os


descarregadores de sobretensões do tipo óxido de metal com ou sem explosores (MOSA
– Metal Oxide Surge Arrester). Este tipo de descarregadores de sobretensões é
usualmente provido de vários discos de Óxido de Zinco, ZnO.

A utilização de explosores no descarregador de sobretensões de óxido de metal não é


vulgar. O uso de explosores aumenta inevitavelmente o custo, complexidade e diminui a

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fiabilidade do equipamento. Usualmente em sistemas de distribuição são utilizados


descarregadores de óxido de metal sem explosores.

Os descarregadores têm uma característica corrente tensão não linear, Figura 15. Nos
valores de tensão próximo da MCOV, a corrente que atravessa o equipamento anda
tipicamente em torno dos 10 mA e em situação de sobretensão descarregam elevados
valores de corrente limitando o valor da sobretensão.

Figura 15 –Característica de dois descarregadores (Óxido de


Zinco) com o mesmo nível de protecção 550kV/10kA [12]

Estes equipamentos são limitados pela energia que conseguem absorver e dissipar para
o exterior. Nos últimos anos a tecnologia tem permitido fabricar descarregadores com
capacidades energéticas mais elevadas.

Os descarregadores de sobretensões tipo MOSA são caracterizados por duas tensões


determinadas em testes normalizados:

• UMCOV à tensão máxima em funcionamento continuo à frequência industrial


(MCOV);
• UR à sobretensão suportável pelo descarregador durante 10 segundos, à
frequência industrial, com uma temperatura exterior de 60ºC (Rated Voltage).

É necessário tomar em atenção que alguns dos fabricantes definem nos seus catálogos
as tensões por unidade de UMCOV e outros por unidade de UR.

O dimensionamento de um descarregador de sobretensões a aplicar num sistema


depende essencialmente de dois factores, a tensão máxima de funcionamento contínuo
(MCOV) e a capacidade de absorção e dissipação de energia definida em relação a UR

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em kJ/kV(UR). Como se pode ver na Figura 15 em situação de descarga de correntes, a


tensão aos terminais do equipamento sobe.

Os descarregadores de sobretensões são capazes de funcionar durante períodos


limitados de tempo com tensões superiores à UMCOV. Como se pode ver na Figura 16 as
sobretensões temporárias e os seus tempos de duração são factores importantes no
dimensionamento da UMCOV permitindo ao descarregador de sobretensões funcionar
dentro dos seus limites energéticos aceitáveis.

1.7

1.6

1.5

1.4

1.3

1.2
0.01 0.1 1 10 100 1000 10000
Duração permissível da sobretensão (segundos)
Sem energia
Previamente aquecido

Figura 16 – Curva que relaciona a sobretensão temporária por


unidade de UMCOV e a duração de tempo que o descarregador
suporta (TOV)

Os descarregadores de sobretensões MOSA são constituídos por vários discos de óxido


de zinco em série. Quando a absorção de energia é elevada, a temperatura nesses
elementos pode atingir valores suficientes para causar danos físicos irreversíveis. Isto
acontece quando a absorção de energia é superior à energia que o descarregador
consegue dissipar para o exterior.

A capacidade de suportar energia de um equipamento deste tipo depende da


característica de corrente a descarregar (amplitude, forma de onda e duração).

Os descarregadores de sobretensões para distribuição são usualmente de duas


classes [13]:

• Esforço normal, 10 kA – linhas em zonas com IDS baixo;


• Esforço elevado, 20 kA – linhas em zonas com IDS elevado.

5.4.2. Falha do equipamento

As falhas dos descarregadores de sobretensões estão normalmente associadas com


falhas internas do dieléctrico devido a esforços térmicos excessivos ou degradação por

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penetração de humidade. A segunda causa depende essencialmente de factores


construtivos. A qualidade do equipamento deve ser garantida pelo fabricante e deve ter
tomada em conta na escolha dos equipamentos.

Existem vários modos de falha dos descarregadores de sobretensões, alguns com


possíveis danos na periferia dos mesmos por explosão e projecção de estilhaços. A
localização da instalação dos mesmos deve ser tomada em conta com a escolha do
equipamento e os modos de falha que lhes podem estar associados. Esta situação toma
particular interesse na garantia de segurança na periferia dos descarregadores de
sobretensões. Para a escolha dos descarregadores de sobretensão é preciso ter em conta
a potência de curto-circuito local.

Recomenda-se para as aplicações genéricas a utilização de descarregadores com


válvulas de pressão ou não fragmentáveis.

A aplicação de um descarregador de sobretensões encontra-se tratada mais à frente.

6. Rigidez dieléctrica de isolação

6.1. Generalidades
A rigidez dieléctrica de isolação é influenciada por um número de factores, onde os
principais são os seguintes:

a) Amplitude, forma de onda e a polaridade da tensão aplicada


b) O tipo de isolamento (gás, líquido ou a combinação destes; impureza e
homogeneidades locais)
c) O estado físico da isolação (temperatura, pressão e outras condições ambiente;
esforços mecânicos)
d) Efeitos químicos
e) Efeitos na superfície do isolador
f) A poluição afecta o desempenho da linha a 50 Hz

6.1.1. Isolação auto-regenerável

A disrupção do ar é fortemente dependente da configuração do intervalo de ar, forma de


onda, polaridade da sobretensão de origem atmosférica e das condições ambiente. Para
isoladores exteriores, o efeito da humidade, da chuva e da poluição na superfície do
isolador também se tornam importantes.

6.1.2. Isolação não-auto-regenerável

Em equipamentos que utilizam isolamento líquido (ex. transformadores a óleo), as


partículas de impurezas libertadas, devido a efeitos químicos e físicos ou por descargas
parciais nos enrolamentos do transformador, podem reduzir drasticamente ao longo do
tempo o nível de isolação dos equipamentos. As mesmas observações são válidas para a

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isolação sólida. A rigidez dieléctrica da isolação pode ser afectada pelos esforços
mecânicos a que estão sujeitos os equipamentos.

6.2. Comportamento da isolação à frequência industrial


A rigidez dieléctrica externa dos isoladores, é reduzida face ao aparecimento da chuva
embora não exista redução da rigidez dos intervalos de ar.

O nevoeiro, a formação de orvalho, ou uma chuva ligeira juntamente com poluição ou


contaminação (sal, pó, etc), reduzem drasticamente a rigidez dieléctrica de isolação.

6.3. Influência das condições atmosféricas na isolação exterior


Os contornamentos nas hastes de descargas, dependem igualmente da humidade e da
densidade relativa do ar. A rigidez dieléctrica de isolação aumenta com a humidade
absoluta até ao ponto onde a condensação se forma na superfície do isolador. A rigidez
dieléctrica diminui com a diminuição da densidade do ar.

O projecto de isolação de uma linha ou de uma subestação é normalmente baseado em


condições de chuva, o que implica que as correcções atmosféricas sejam baseadas em
condições de humidade.

Para as linhas aéreas, o nível de isolação U50(A) em ambiente seco é obtido a partir de
ensaios paramétricos. O nível de isolação U50(A) em ambiente húmido é estimado
multiplicando U50(A) em ambiente seco, por um factor de correcção, podendo também
ser obtido por ensaio em laboratório numa câmara de poluição.

6.4. Probabilidade de disrupção devido a descarga atmosférica


Para a isolação auto-regenerável, a probabilidade de contornamento pode ser descrita
por uma curva característica da rigidez dieléctrica de isolação. Esta curva é constítuida
por dois parâmetros básicos:

- U50(A) que representa a tensão para a qual existe 50% de probabilidade de


provocar disrupção da isolação auto-regenerável A
- Desvio normalizado, σf

A característica da rigidez dieléctrica de isolação, é modelizada através de uma função


de distribuição normal cumulativa, como é apresentado na Figura 17. A média desta
característica está definida como sendo U50(A), ou seja 50% de probabilidade de haver
contornamento e sabendo que o U10L e o U10S estatístico estão definidos para cerca de
10% de probabilidade de haver contornamento, significa então que o U10L e U10S estão
1,28 desvios normalizados abaixo de U50(A), resultando na seguinte equação :

 σf 
U 10 L ou U 10 S = U 50 ( A ) − 1.28 × σ f ⇒ U 10 L ou U 10 S = U 50( A ) 1 − 1.28  (7)
 U 50 ( A ) 

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1.0

Probabilidade de contornamento
0.5

0.1

0.0
U10L
U50(A)
ou
U10S

Figura 17 – Característica da rigidez dieléctrica para a isolação auto-regenerável [14]

σf
O coeficiente de variação é dado por . Para a isolação auto-regenerável, este
U 50 ( A )
valor é mais pequeno para a onda de choque do que para a onda de manobra. Para a
onda de choque, este coeficiente é cerca de 3%, enquanto para as ondas de manobra na
isolação de linhas, o coeficiente aumenta para cerca de 5%. Na isolação de subestações,
assume-se um coeficente de variação entre 6% e 7%.

Presentemente, não existem métodos que permitam determinar a probabilidade de


disrupção face a uma descarga atmosférica de uma isolação não-auto-regenerável.
Admite-se o modelo simplificado na Figura 18 segundo o qual, a probabilidade de
contornamento é de 100% para valores superiores de U10Le U10S convencionais, sendo
que para valores inferiores, a probabilidade de contornamento será de 0%.

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1.0

Probabilidade de contornamento
0.5

0.1

0.0 U10L
ou kV
U10S

Figura 18 – Característica da rigidez dieléctrica para a isolação não-auto-regenerável [14]


.
6.5. Influência da polaridade e forma de onda da sobretensão
A tensão de disrupção depende da forma de onda do impulso aplicado e da sua
polaridade. Para frentes de onda lentas, a rigidez dieléctrica da isolação exterior irá
depender mais da frente de onda do que da cauda. A cauda da onda é mais importante,
apenas quando existe contaminação da superfície da isolação exterior. A rigidez
dieléctrica da isolação interior é afectada pelo valor de pico como pela forma de onda.

Para ondas de manobra, existe uma frente de onda crítica (CWF) para a qual se obtêm
um U50(A) mínimo, que varia consonte o espaçamento do intervalo de ar de dois
eléctrodos. Para os intervalos de ar que são utilizados em sistemas de classe I, o efeito é
desprezável podendo mesmo ser ignorado. Para intervalos de ar utilizados em sistemas
de classe II, U50(A) mínimo será igual à onda de manobra normalizada 250/2500 µs.

A rigidez dieléctrica de isolação externa para ondas de choque, está normalmente


associado à onda de choque normalizado 1.2/50 µs.

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7. Coordenação de isolamentos
O bom funcionamento de um sistema de energia depende do bom desempenho de todos
os elementos em si integrados. A Figura 19, mostra uma representação esquemática
com as tensões que podem aparecer em sistemas eléctricos de energia. Estas tensões são
dadas em p.u. com base no valor de pico da tensão máxima fase-terra contínua em
função da duração do evento.

5
Tensões possíveis sem
descarregadores de sobretensão
Amplitude da (sobre-)tensão [pu]

Tensão suportável do
equipamento
3

1
Tensões limitadas por
descarregadores de sobretensão
0
Sobretensões Sobretensões de Sobretensões Tensão máxima do
originadas por manobra temporárias sistema
descargas atmosféricas (ms ) (s ) (contínuo)
(µs )
Duração da (sobre-)tensão

Figura 19 – Representação esquemática das amplitudes das tensões e sobretensões num sistema de
Uc
energia eléctrica vs duração do evento (1p.u. = 2× ) [16]
3
O eixo das abcissas é dividido em quatro tipo de eventos. As sobretensões originadas
por descargas atmosféricas (µs), as sobretensões de manobra (ms), as sobretensões
temporárias (s) e por fim a tensão máxima do sistema em operação contínua. Para cada
tipo de evento mostra-se a amplitude máxima que pode ocorrer sem utilizar
descarregadores de sobretensão nos equipamentos que constituem a rede de
distribuição. Note-se que para o caso de sobretensões originadas por descargas
atmosféricas e para as sobretensões de manobra, os valores podem ser bastante
superiores às tensões suportáveis dos equipamentos.

Os efeitos de uma falha de isolamento numa linha, fazem-se sentir não só por falha de
alimentação a jusante mas também por cavas de tensão nos barramentos a montante.
Essas cavas de tensão podem atingir valores que comprometem o fornecimento de
energia dentro dos parâmetros suportáveis e legislados.

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É necessário garantir limites de falha aceitáveis garantindo assim uma boa qualidade de
serviço prestado. Se esses limites forem ultrapassados, é necessário actuar no sistema
para melhorar o seu desempenho.

Em primeira instância deverá indagar-se quais as origens das falhas presentes. O modo
de actuação sobre o sistema depende da origem dos fenómenos presenciados.

O procedimento a tomar passa por determinar o desempenho da linha face a descargas


atmosféricas e caso este não seja satisfatório optar por um modo de actuação sobre o
sistema.

Existem duas abordagens para coordenação de isolamentos de sobretensões transitórias


que são utilizados:
- Abordagem determinística (Figura 20 a.)
- Abordagem estatística (Figura 20 b.)

1 1

Rigidez
Probabilidade
Probabilidade

Máxima Miníma tensão


sobretensão
Sobretensões dieléctrica
suportável
0.5 Rigidez 0.5
dieléctrica
Sobretensões
Margem de
Segurança

0 0

Tensão Tensão
Risco de
a) contornamento
b)
Figura 20 – a) Abordagem determinística; b) Abordagem probabilística [17]

Abordagem Determinística:

Este método é normalmente aplicado quando não existe informação estatística de


ensaios suficente.

Com este método,

- quando o isolamento é caracterizado pela tensão suportável convencional (Pw=100%),


o valor suportável seleccionado será igual à tensão suportável de coordenação, obtido
pela multiplicação da sobretensão representativa (um máximo assumido) pelo factor de
coordenação Kc, tendo em conta o efeito das incertezas na suposição de dois valores (a
tensão suportável assumida e as sobretensões representativas);

- quando, para um isolamento externo, o isolamento é caracterizado por uma tensão


suportável estatística (Pw=90%), o factor Kc deve ser tomado em conta para a diferença
entre a tensão e a tensão suportável assumida.

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Exemplos típicos são:

- Coordenação de isolamentos internos contra sobretensões de frente lenta, quando o


isolamento é protegido por descarregadores de sobretensões;

- Descarregadores de sobretensões contra sobretensões de origem atmosférica para


equipamentos ligados a linhas aéreas, para a qual a experiência com equipamento
similar se encontra disponível.

Abordagem Estatística:

O método estatístico é baseado na frequência de ocorrências de uma origem específica,


na distribuição de probabilidade de sobretensão correspondente a esta origem e a
probabilidade de escorvamento do isolamento.
Em alternativa, o risco de falha pode ser determinado, combinando a sobretensão e a
probabilidade de escorvamento, tendo em conta a natureza estatística das sobretensões,
utilizando procedimentos adequados, como por exemplo os métodos de Monte Carlo.

A aplicação da coordenação de isolamentos estatística, possibilita a estimação da


frequência de falhas directamente como uma função do sistema seleccionado. A
optimização da isolação pode ser possível, se o custo das saídas de serviço estiver
relacionado com os diferentes tipos de defeitos.

7.1. Desempenho da isolação face a sobretensões temporárias e


tensões à frequência industrial
O isolamento de um equipamento deve poder suportar durante toda a sua vida útil, a
tensão máxima do sistema à frequência industrial, ao qual esteja sujeito.

Quando por exemplo, a superfície dos isoladores se encontra contaminada a resposta do


isolamento à tensão à frequência industrial, já não será a original, podendo levar a
contornamentos dos isoladores. Os piores casos acontecem quando os isoladores
encontram-se contaminados devido ao sal, pó, chuva ligeira, nevoeiro e orvalho.

Esta mistura de contaminantes produz uma camada condutora suficiente para haver uma
passagem de corrente, levando ao contornamento do isolador. Neste caso, a tensão de
contornamento à frequência industrial é considerada como sendo a mesma para 50Hz.

A tensão ao longo dos isoladores é a tensão fase-terra à frequência industrial, sendo que,
como foi dito anteriormente, a rigidez dieléctrica do isolador diminui com a
contaminação. A regra da abordagem determinística, consiste em igualar a tensão
suportável estatística (V3) à máxima tensão fase-terra (Um):

V3 = U m (8)

onde

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 σf 
V3 = U 50 ( A) 1 − 3  (9)
 U 50( A) 

U50(A) é a tensão com 50% de probabilidade de contornamento e o coeficente de


variação, σf/ U50(A), assume-se ser cerca de 10%.

7.1.1. Influência da Poluição nos isoladores

Um factor importante na escolha de isoladores, depende em certa parte dos índices de


poluição a que estes vão estar sujeitos. A combinação destas pequenas partículas que se
depositam na superfície dos isoladores com humidade denomina-se de contaminação. A
contaminação provoca uma redução das propriedades dieléctricas dos isoladores. As
principais causas de poluição são de duas origens:

• Industrial – Partículas libertadas por unidades industriais são transportadas pelo


vento e depositam-se na superfície dos isoladores. Estas partículas contêm sal
que combinado com humidade cria uma película condutora;
• Marítimo – Partículas de água do mar são transportadas pelo vento e
depositam-se na superfície dos isoladores. Neste caso a poluição e
humidificação ocorrem simultaneamente.

Os materiais mais comuns usados nos isoladores são a porcelana e o vidro. Alguns
materiais mais modernos “não-cerâmicos” com superfícies hidrofóbicas apresentam
bons desempenhos face à poluição.

Podem ser aplicados revestimentos de RTV (Room Temperature Vulcanized Silicon


Rubber) aos isoladores cerâmicos conferindo-lhes uma superfície hidrofóbica.

O guia de coordenação de isolamentos da CEI é recomendada a divisão em quatro


níveis qualitativos de poluição em ambientes tipo.

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Tabela 3 – Relação comprimento/tensão recomendada em


CEI 60071-2
Relação
Nível de comprimento da
Ambiente tipo
Poluição linha de fuga/tensão
mínima [mm/kV]
- Zonas sem indústria e pouca densidade habitacional;
- Zonas com baixa densidade industrial ou habitacional sujeitas a ventos e
chuvas frequentes;
I – Leve 16,0
- Zonas agrícolas;
- Zonas montanhosas
- Zonas a mais de 10 km do mar sem exposição directa a ventos marítimos.
- Zonas com industrias que não produzem fumos particularmente poluentes
ou com densidade habitacional média;
II – Médio - Zonas com grande densidade habitacional ou industrial com ventos ou 20,0
chuvas frequentes;
- Zonas expostas a ventos marítimos mas afastadas da costa.
- Zonas com grande densidade industrial ou subúrbios de grandes cidades;
III – Forte 25,0
- Zonas próximas da costa com exposição a fortes ventos marítimos.
- Zonas de extensão considerável sujeitas a fumos industriais que
produzam depósitos de partículas relativamente grandes;
- Zonas de extensão considerável, muito próximas da costa expostas
IV – Muito
directamente a salitre ou fortes ventos marítimos directos; 31,0
Forte
- Zonas desérticas caracterizadas por ausência de chuvas durante longos
períodos de tempo, expostas a ventos que transportam areia e sal, e sujeitas
a condensação regular.

Para a isolação pretendida o comprimento do isolador deverá ser superior à relação


comprimento/tensão apresentada.

Os valores apresentados são aplicáveis a isolamentos de porcelana ou vidro. No guia da


CEI não são contemplados os cenários de gelo com forte poluição, chuvas fortes, zonas
áridas, etc.

Os valores apresentados na tabela 3 representam a relação entre o comprimento da linha


de fuga medida entre fase e terra e o valor eficaz mais elevado da tensão composta
aplicada ao equipamento.

7.2. Desempenho de linhas face a descargas atmosféricas


O desempenho de linhas face a descargas atmosféricas pode ser determinado recorrendo
a dados estatísticos dos fenómenos associados, às características estruturais das linhas e
à caracterização da sua periferia.

7.2.1. Índice de descargas ao solo

Um indicador importante para aplicação em sistemas de energia é o número de


descargas que atinge uma determinada área num determinado intervalo de tempo. A
esse indicador, Ng, denominamos por índice de descargas ao solo3 (Ground Flash
Density – GFD ) que é definido pelo número de descargas ao solo por km 2 por ano. Para

3
A partir deste ponto referenciado por IDS

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determinar este indicador recorre-se ao índice ceráunico (Td), definido pelo número
médio de dias em que se ouve trovoada por ano. O índice ceráunico é determinado em
Portugal pelo Instituto de Meteorologia e refere-se a uma média de 30 anos.

Segundo [9] a relação experimental entre o índice ceráunico e o IDS, Ng, foi
determinada por vários autores. A fórmula (10) foi determinada por Erickson e foi
adoptada pela CIGRE e pelo IEEE.

N g = 0,04 ⋅ Td 1,25 (10)

em que:
• Ng – nº de descargas ao solo por km2 por ano [descargas/km2/ano];
• Td – índice ceráunico.

Existem várias propostas por autores distintos para a relação apresentada na equação 10,
no entanto os resultados obtidos não diferem significativamente uns dos outros.

Figura 21 – Mapa de Portugal com índices ceráunicos

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Em Portugal, como em outros países, existe um mapa (Figura 21) com a distribuição
dos índices ceráunicos. No nosso país o índice ceráunico é moderado (máximo de 24)
quando comparado com regiões equatoriais (cerca de 100). A este valor máximo
corresponde um Ndmax de cerca de 2 descargas/km2/ano.

Em alguns países do mundo usa-se outro índice mais preciso para determinar o IDS que
indica o número de horas por ano em que se ouve trovoada.

As interrupções causadas por descargas assim como as descargas de origem atmosférica


em si sofrem variações consideráveis de ano para ano. O desvio padrão histórico para as
medições anuais de actividade atmosférica varia entre 20% e 50% relativamente à
média [2]. Quando se determina o IDS para uma região deve-se tomar em conta este
desvio possível para analisar as situações mais e menos favoráveis.

7.2.2. Exposição de linhas a descargas atmosféricas directas

O ponto de impacto de uma descarga atmosférica no solo depende essencialmente da


intensidade do campo eléctrico e por consequência da geometria do objecto. Estruturas
mais altas recolhem mais descargas atmosféricas. Uma linha vai recolher mais
descargas atmosféricas dependendo da sua altura e da altura dos objectos que lhe são
contíguos.

Para definir o número médio de descargas atmosféricas que uma linha recolhe por ano é
necessário ter em contas estes dois aspectos:

• Altura da linha;
• Caracterização da sua periferia.

O número de descargas directas por ano, por 100 km que incidem sobre uma linha de
distribuição em solo plano pode ser estimado pela seguinte fórmula:

N d = K0 N g
(b + 10,5H )
0,75
(11)
10

em que:

• Nd – nº de descargas por 100km de linha por ano [descargas/100km/ano];


• K0 – Coeficiente orográfico, que se admite valer 1,8 quando não for conhecido;
• Ng – IDS [descargas/km2/ano].
• b – largura máxima da estrutura [m];
• H – altura da linha [m];

Nas linhas de distribuição a distância horizontal entre as três fases é muito reduzida face
à altura do apoio, podendo mesmo ser nula em algumas configurações. Pode fazer-se a
simplificação da equação 3 anulando a variável b sem introduzir erro significativo.

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H
H

Figura 22 – Exposição de linhas para o modelo do raio de


atracção, (a) com b=0, (b) com b≠0

A maioria das linhas de distribuição não dispõe de cabo de guarda. Neste caso, todas as
descargas que atingem a linha são directas à fase. Nas configurações de poste em que a
linha dispõe de cabo de guarda, apenas algumas das descargas atingem directamente a
fase.

Pela Figura 9 pode verificar-se que aproximadamente 98,0% das descargas


descendentes negativas têm amplitude superior a 5 kA. Admite-se que esta descarga é
directa à fase de uma linha de distribuição a meio do vão como apresentado no exemplo
da Figura 23. A divisão da corrente faz-se nos dois sentidos, como apresentado na
mesma figura.

Figura 23 – Descarga directa à linha

A sobretensão originada por esta descarga depende da impedância característica (Z0) da


linha. Assumindo que uma linha de distribuição tem uma impedância tipicamente entre
300 e 500 Ω, para a melhor situação mais favorável, isto é, Z 0 = 300 [Ω] a sobretensão
que se verifica é de:

U S = 2,5 × 10 3 ⋅ 300 = 750 [kV ] (12)

Para o nível mais elevado de tensão da distribuição, os níveis de isolação são muito
inferiores a este valor (segundo [4] o U50(A) pode ser 250 kV ou 325 kV para linhas

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de 60 kV). Uma descarga com qualquer corrente superior a este valor provoca
contornamento do isolador. Para os níveis de tensão inferior esta situação torna-se ainda
mais evidente.

Pode assumir-se então que todas as descargas directas à fase num sistema de
distribuição provocam contornamento.

7.2.3. Blindagem

Os objectos na periferia da linha podem oferecer alguma blindagem contra as descargas


atmosféricas directas. É importante caracterizar os efeitos dessa blindagem para melhor
definir o desempenho da linha face às descargas atmosféricas.

Pela Figura 22 pode determinar-se a área total de exposição de uma linha às descargas
atmosféricas para o modelo do raio de atracção.

 2⋅Ra + b 
Ae = L ⋅  (13)
 1000 

em que:

• Ae – área de exposição de uma linha [km2];


• L – comprimento da linha [km];
• Ra – raio de atracção médio [m];
• b – largura máxima da estrutura [m].

onde Ra = 14 × H s
0.6
, é o raio de atracção médio.

Segundo [5] a blindagem afecta a área de exposição de uma linha de seguinte forma:

 R ⋅ (2 − SF1 ) + SF 2 ⋅ b 
A e = LS ⋅  a  (14)
 1000 

em que:

• Ae – área de exposição de uma linha [km2];


• LS – comprimento da secção linha com blindagem [km];
• Ra – raio de atracção médio[m];
• b – largura máxima da estrutura [m];
• SF1 – factor de blindagem que afecta o raio de atracção;
• SF2 – factor de blindagem que afecta a largura da linha.

Note-se que a área exposta de uma linha aérea é reduzida na vizinhança de objectos
quando o raio de atracção da linha Ra intercepta o raio de atracção do objecto Rt, como
é representado na Figura 24.

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Como nas linhas de distribuição a largura da estrutura é normalmente reduzida ou


mesmo nula, pode-se desprezar b na equação, como também SF2.

O factor de blindagem SF1 apenas se refere a um dos lados da linha. Em zonas em que a
linha esteja blindada em ambos os lados, nessas secções devem-se determinar os
factores de blindagem para os dois lados e depois somá-los com um limite máximo
de 2.

A determinação dos factores de blindagem é apresentada em seguida.

Área exposta Área blindada pelas árvores

Hs
Ht

Ra F Rt

Figura 24 – Esquemático representando a influência de objectos na blindagem da linha aérea

Os factores SF1 e SF2 dependem dos factores de distância F1 a F5 apresentados na Figura


25.
b

Hs

F1
F2

F3

F4

F5

Figura 25 – Definição das fronteiras críticas

A partir da Figura 25, são apresentadas as condições para calcular os factores de


blindagem.

Altura do objecto inferior à altura da linha (ht < hs)

F1, F2 não aplicável


F3 = Ra − Rt (15)
 H 
F4 = Ra 1 − t  (16)
 Hs 

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F5 = Ra + Rt (17)

- Se F3<F<F5 algum efeito de blindagem irá ocorrer se não utilizar o cálculo sem efeito
de blindagem da equação (10).

- Se F4<F<F5 (objecto totalmente exposto) :


h (R + Rt − F )
então S F 1 = t a (18)
Rt H s + Ra H t
e SF2 = 1 (19)

- Se F3<F<F4 (objecto parcialmente exposto):


H ( R − Rt + F )
então S F 1 = t a (20)
Rt H s + Ra H t

e SF2 = 1 (21)

Altura do objecto superior à altura da linha (hs < ht)

F1 = Rt − Ra − b (22)
 H 
F2 = Rt 1 − s  (23)
 Ht 
F3, 4 = não aplicável
F5 = Ra + Rt (24)

- Se F<F5 algum efeito de blindagem irá ocorrer senão utilizar o cálculo sem efeito de
blindagem da equação (10).

- Se F1≤F (linha completamente blindada):


então S F 1 = 2 (25)
e SF2 = 0 (26)

- Se F1<F≤F2 (um lado da linha totalmente blindado enquanto o outro lado está apenas
parcialmente blindado):

H t (Ra − Rt + F + b )
então S F 1 = 2 − (27)
Ra H t − Rt H s
e SF2 = 0 (28)

- Se F2<F≤F5 (um lado da linha parcialmente blindado):


H (R + Rt − F )
então S F 1 = t a (29)
Rt H s + Ra H t
e SF2 = 1 (30)

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Um exemplo dos resultados que se podem obter para SF1 é apresentado na Figura 26.

Factor de blindagem para


um raiode atracção (SF1)
Nota: Objecto encontra-se
apenas num dos lados da linha

Distância entre a linha e o


objecto (F) [m]

Figura 26 – Factor de blindagem SF1 para uma situação


exemplificativa

7.2.4. Tensão induzida por descarga ao solo na periferia. Exposição às


descargas atmosféricas indirectas.

A experiência e observações mostram que muitas das falhas relacionadas com descargas
atmosféricas, têm origem em descargas que atingem o solo na periferia da linha.
Segundo [18], as tensões induzidas devido à sua maior frequência de ocorrência
constituem um factor mais importante no desempenho das linhas face a descargas
atmosféricas do que as descargas directas à fase.

As tensões induzidas nas linhas raramente excedem os 300 kV. Ensaios de campo feitos
com descargas forçadas por foguete demonstram que a tensão induzida pode ser
estimada por [14]:

30 × I × Hc × Kv
U ind = (31)
x

em que:

 v 
• Kv = 1 + 
 2 − v 2 
• Uind – tensão induzida [kV];
• I – amplitude de pico da corrente de descarga [kA];
• Hc – altura média da linha [m];
• x – distância mais curta entre o ponto de impacto e a linha [m].
• v – velocidade do arco de retorno, por unidade da velocidade da luz [pu]

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A Figura 27, mostra que quando a descarga atinge o solo entre Xm e Dg, a tensão
induzida será maior que o U50 , levando ao contornamento da cadeia. Para descargas ao
solo superior a Xm não haverá contornamento da cadeia.

A distância Xm para que a tensão a partir desse ponto seja inferior à tensão U50, é
calculada da seguinte forma:

30 × I × H c × Kv
Xm = (32)
U 50

A distância Dg para a qual abaixo dela, a descarga passa a ser directa ao condutor é dada
por:

D g = Rcc − (R g − H c )
2 2
(33)

onde Rcc e Rg são respectivamente, o raio de atracção ao condutor e o raio de atracção à


terra.

Rcc
Rg
Dg

Descarga ao
Hc condutor Uind>=U50 Uind<U50

x=Dg x=Xm

Figura 27 – Conceito das descargas induzidas em linhas de distribuição, sem objectos na vizinhança

Deste modo podemos calcular a taxa de contornamentos por tensão induzida (IVFOR –
Induced Voltage Flashover Rate) da seguinte forma:


IVFOR = 2 N g × L × ∫ (X
Isc
m − D g ) f ( I )dI (34)

A corrente Isc, é a corrente para a qual acima dessa ocorrerá tensões induzidas. Esta
corrente é calculada igualando as distâncias Dg e Xm.

Exemplo:

Admite-se uma tensão U50=170 kV, Ng=1, v=0.3 e usando os raios de atracção
sugeridos por Brown-Whitehead R g = Rcc = 6.4 × I 0.75 , o valor de corrente Isc é de

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13kA, ou seja para correntes superiores a 13kA haverá tensões induzidas susceptíveis de
contornar a cadeia de isoladores. A partir da equação 34 o valor de IVFOR obtido é de
12.01 contornamentos/100km-ano. Subindo a tensão U50 para 250kV, a taxa de
contornamentos IVFOR diminui para cerca de 4.95 contornamentos/100km-anos.

7.2.4.1. Apoios com condutor de neutro ou cabo de guarda

Quando um condutor de neutro ou cabo de guarda estão presentes no apoio e se


encontram ligados a um eléctrodo de terra com uma determinada resistência R, a tensão
induzida pode ser determinada da seguinte forma [14]:

30 × I × Kv  Z m + 2R 
U ind = H c − Hg  (35)
x  Z g + 2R 

sendo que

30 × I × Kv  Z m + 2R 
Xm = H c − Hg  (36)
U 50  Z g + 2R 

em que:
• R – resistência de terra do apoio
• Zm – Impedância mútua de propagação de onda
• Zg – Impedância de propagação de onda do condutor de neutro ou cabo de
guarda

Uc

Ug

Hc Hg

Figura 28 – Exemplo de apoio com condutor de fase e condutor de neutro

Deste modo podemos calcular o IVFOR quando o apoio tem condutor de neutro ou
cabo de guarda com ligação à terra.

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Exemplo:

Consideremos uma altura do condutor de fase Hc=10m e uma altura do neutro a Hg=8m.
O condutor de neutro encontra-se ligado a uma resistência de terra de valor R=20Ω.
Para as impedâncias de propagação de onda assume-se que, Zm=130.5Ω e Zg=450Ω
sendo que a tensão U50=250kV. Calculando as equações 35 e 36 obtém-se uma valor de
Isc de 43kA, o que resulta num IVFOR de 1.67 contornamentos/100km-anos.

Trocando a posição do condutor de neutro com o condutor de fase, Hg=10m e Hc=8m, a


taxa de contornamentos por tensões induzidas IVFOR reduz para 0.27
contornamentos/100km – anos.

Na Figura 29, é apresentado um gráfico da evolução do IVFOR, para diferentes


configurações do apoio em função da tensão U50. À medida que a tensão U50 da cadeia
de isoladores aumenta, menor será o número de contornamentos por descargas
indirectas. A diminuição da taxa de contornamentos poderá ser feita também com
recurso ao cabo de guarda e eléctrodos de terra.

30
hc=10 hg=0
hc=10 hg=8
hc=8 hg=10
25
IVFOR [contornamentos/100km - anos]

20

15

10

0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

U50 [kV]

Figura 29 – Cálculo da taxa de contornamentos/100km-anos – IVFOR, sem objectos na vizinhança

Este método apresentado para o cálculo das tensões induzidas permite também estimar o
IVFOR na presença de árvores e florestas vizinhas à linha, assim como permitir uma
análise sobre a colocação óptima de descarregadores de sobretensões em linhas de
distribuição.

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7.3. Coordenação de Isolamentos segundo Norma CEI 71


A coordenação de isolamentos segundo a norma CEI 71, tem como objectivos
estabelecer procedimentos que possam ser executados de modo a encontrar as tensões
suportáveis dos equipamentos eléctricos numa rede eléctrica, sobre condições reais de
serviço.

A determinação da tensão suportável de coordenação Ucw é baseada na determinação do


valor mais baixo da tensão suportável que garanta, em condições reais de serviço, o
critério de desempenho, quando sujeita a sobretensões representativas.

As tensões e sobretensões que podem aparecer numa rede de distribuição eléctrica,


podem ser caracterizadas pela sua duração e forma de onda, tal como apresentado na
Tabela 4.

Tabela 4 - Classes e formas de onda das sobretensões representativas de acordo com a CEI 71
Classe da Baixa frequência Transitório
sobretensão contínua temporária frente lenta frente rápida frente muito rápida

Forma de onda
da tensão

Gama das f=50 Hz 10 Hz< f <500 Hz 5000 µs ≥ Tp ≥ 20 µs 20 µs ≥ T1 > 0.1 µs 100 ns ≥ Tf > 3 ns
formas de onda Tt ≥ 3600 s 3600 s ≥ Tt ≥0.03 s T2 ≤ 20 ms T2 ≤ 300 µs 0.3 MHz <f1< 100 MHz
da tensão 30 kHz <f2< 300 kHz
Tt ≤ 3 ms
Forma de onda f=50 Hz 48 Hz ≤ f ≤ 62 Hz Tp = 250 µs T1 = 1.2 µs *)
normalizada Tt *) Tt =60 s T2 = 2500 µs T2 = 50 µs

Ensaio *) Ensaio à frequência Ensaio à onda de Ensaio à onda de *)


suportável industrial de curta manobra choque
normalizado duração
*) A ser especificado pelos comités relevantes

Deste modo, podemos apresentar os vários procedimentos de modo a poder encontrar o


melhor nível de isolação, seleccionando um conjunto de tensões suportáveis nominais
que permitam caracterizar a isolação do equipamento. Este procedimento é apresentado
na Figura 30, retirado de [4], sendo cada passo descrito nos pontos 7.3.1. a 7.3.4.

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Origem e classificação das sobretensões


Análise do sistema
Nível de protecção dos equipamentos limitadores

Características de Isolamento

Tensões representativas Urp


Características de Isolamento

Critério de desempenho
Selecção do isolamento de modo a encontrar o
Distribuição estatística
melhor critério de desempenho
Dados de entrada

Factor de coordenação Kc
Tensão suportável de coordenação Ucw

Factor de correcção atmosférica, Ka

Fabrico do equipamento

Dispersão na produção
Aplicação de factores de modo a tomar em conta
Qualidade da instalação do equipamento as diferenças entre as condições de ensaio e as
condições de serviço reais
Envelhecimento do equipamento em serviço

Outros factores desconhecidos

Factor de segurança Ks
Tensão suportável necessária Urw

Condições de ensaio

Factor de conversão de ensaio Kt


Selecção da tensão suportável normalizada Uw
Tensão suportável normalizada

Classes de Um

Nível de isolação normalizada -> gama de Uw


Entradas necessárias

Acções

Resultados obtidos

Figura 30 - Fluxograma descrevendo os passos necessários para encontrar o nível de isolação


normalizado

7.3.1. Determinação das sobretensões representativas Urp

As sobretensões representativas podem ser caracterizadas por:


- um valor máximo
- uma gama de tensões de pico
- um distribuição completa de valores de pico

Se o valor máximo for considerado adequado, então as sobretensões representativas, de


acordo com a Tabela 4 incluem :

- Tensão de operação em regime permanente à frequência industrial,


idêntica à máxima tensão do sistem sobre condições normais.

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- Sobretensões temporárias devido a defeitos fase-terra, manobras na rede,


rejeição de carga ou não-linearidades com uma duração relativa
(1 minuto).

- Sobretensões de frente lenta devido a defeitos fase-terra, manobras na


rede ou descargas atmosféricas distantes. As sobretensões são
caracterizadas por uma onda normalizada 250/2500µs e uma amplitude
representativa.

- Sobretensões de frente rápida devido a descargas atmosférica directas ao


condutor ou contornamentos inversos. A sobretensão é caracterizada por
uma onda de choque normalizada 1.2/50 µs e uma amplitude
representativa.

7.3.2. Determinação da tensão suportável de coordenação Ucw

A definição da tensão suportável de coordenação Ucw é baseada na determinação do


valor mais baixo da tensão suportável que garanta o critério de desempenho, nas
condições reais de serviço,.

As tensões suportáveis de coordenação têm a forma de onda das sobretensões


representativas das classes relevantes sendo os seus valores obtidos pela multiplicação
dos valores das sobretensões representativas por um factor de coordenação Kc. O valor
deste factor depende da precisão da avaliação das sobretensões representativas e numa
apreciação empírica ou estatística da distribuição das sobretensões e características do
isolamento.

As tensões suportáveis de coordenação podem ser determinadas como tensões


suportáveis convencionais ou tensões suportáveis estatísticas afectando o procedimento
de determinação e os valores do factor de coordenação.

7.3.3. Determinação da tensão suportável necessária Urw

A definição da tensão suportável necessária é baseada na conversão das tensões


suportáveis de coordenação para condições de ensaio apropriados. Esta conversão é
feita multiplicando as tensões suportáveis de coordenação por factores que permitem
fazer a compensação entre as condições reais de serviço do isolamento e as condições
de ensaios normalizados.

Estes factores a serem aplicados devem compensar:

- as diferenças no fabrico do equipamento;


- a dispersão da qualidade do equipamento;
- a qualidade da instalação;
- o envelhecimento do isolamento durante a vida útil expectável;
- outras variáveis desconhecidas.

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Se por alguma razão estes factores não puderem ser avaliados individualmente, um
factor de segurança global, deverá ser adoptado.

Apenas para a isolação externa, deve ser aplicado um factor adicional para tomar em
conta as diferenças referentes às condições atmosféricas normalizadas e as que são
encontradas em condições reais de serviço.

7.3.4. Selecção do nível de isolação nominal Uw

A execução dos vários procedimentos, termina com a escolha do nível de isolação


nominal ou tensão suportável máxima nominal.

As tensões suportáveis máximas normalizadas para equipamento eléctrico são divididas


em duas classes:

Classe I: Entre 1kV e 245kV. Esta classe inclui redes de transmissão e


distribuição.

Deste modo, a escolha das tensões suportáveis máximas para as redes eléctricas da
EDP Distribuição, será feita de acordo com a Tabela 5.

Tabela 5 – Níveis de Isolação nominal para a Classe I (neste caso apenas entre 1 kV<Um<72.5 kV)

Tensão suportável à
Tensão Tensão máxima Tensão suportável ao
frequência industrial de
nominal do do equipamento choque atmosférico
curta duração [kV
sistema Un Um [kV eficaz] 1.2/50us [kV pico]
eficaz]

3 3.6 10 20/40
6 7.2 20 40/60
10 12 28 60/75/95
15 17.5 38 75/95
20 24 50 95/125/145
30 36 70 145/170
60 72.5 140 325

7.4. Actuação sobre o sistema para melhorar o desempenho face a


descargas atmosféricas
As formas de actuação sobre o sistema passam por:

• Colocar cabo de guarda;


• Melhorar cabo de guarda existente;
• Aumentar nível de isolação;
• Aplicar selectivamente descarregadores de sobretensões.

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7.4.1. Aplicação de descarregadores de sobretensão

Para obter os resultados pretendidos com a melhor relação protecção/custo, existem dois
pontos-chave na protecção de equipamentos das linhas contra descargas atmosféricas,
isto é, o dimensionamento energético do descarregador e a aplicação mínima de
equipamentos. Em todo o caso devido à natureza probabilística dos fenómenos dos
quais se pretendem proteger as linhas, existem sempre riscos de falha de protecção ou
mesmo danificação de alguns equipamentos.

7.4.1.1. MCOV, TOV e capacidade energética

A tensão UMCOV mínima é dimensionada a partir da tensão nominal simples (fase-terra).


Deve ser dada uma tolerância tendo em conta o desvio que a tensão de funcionamento
pode ter do valor nominal, garantindo que UMCOV seja sempre superior a qualquer
tensão a que o descarregador esteja permanentemente submetido. Este é o valor mínimo
de UMCOV.

U MCOV ≥ k T ⋅ U L−T (37)

em que:

• UMCOV é a tensão máxima de funcionamento contínuo [kV];


• UL-T é a tensão nominal fase-terra [kV];
• kT margem de segurança para o desvio da tensão em regime permanente.

O valor de kT em condições normais está entre 1,05 e 1,10.


A relação entre UMCOV e UR está usualmente compreendida por:

• descarregadores da classe de distribuição

1,21 ⋅ U MCOV < U R < 1,25 ⋅ U MCOV (38)

• descarregadores de classe intermédia

1,07 ⋅ U MCOV < U R < 1,21 ⋅ U MCOV (39)

Os fabricantes de descarregadores de sobretensões fornecem com as características dos


mesmos uma curva de duração de sobretensões temporárias suportadas (TOV –
Temporary Overvoltages Capability) pelo descarregador, Figura 31.

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Figura 31 – Curva de duração de sobretensões temporárias


exemplificativa (curva TOV). Uc(MAX)=UMCOV
Estas curvas tomam grande importância no dimensionamento do descarregador de
sobretensões garantindo que as sobretensões que possam surgir no ponto de aplicação
do descarregador estão dentro dos limites energéticos suportáveis pelo mesmo.

Depois de determinar as sobretensões temporárias que são expectáveis no sistema


juntamente com o seu tempo máximo de duração, estas devem ser confrontadas com a
característica TOV.

O dimensionamento dos descarregadores de sobretensões é feito em primeira


aproximação tomando como referência as sobretensões por defeito fase-terra. A partir
da relação entre a máxima duração e amplitude da maior sobretensão temporária
pode-se obter o valor pretendido de UR. Deve ser garantido que UMCOV é maior que o
valor determinado na equação 36.

Exemplos

Exemplo 1

Na Figura 31 pode verificar-se a título exemplificativo que o descarregador


caracterizado por esta curva suporta uma sobretensão de aproximadamente 1,22 por
unidade de UR durante 0,1 segundos vindo de uma situação inicial de operação
continua.

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Admitindo que a relação entre UR e UMCOV é de 1,25 como apresentado na equação 37 e


que kT é igual 1,06, a máxima sobretensão que um descarregador deste tipo suporta
durante 0,1 pode ser determinada.

U MCOV = 1,06 ⋅ U L−T

U R = 1,25 ⋅ U MCOV

Da Figura 31 pode tirar-se:

U S máx = 1,22 ⋅ U R

Então,

U S máx = 1,22 ⋅1,25 ⋅1,06 ⋅ U L−T ≈ 1,6 ⋅ U L−T

Esta situação verifica-se quando se admite o valor mínimo para UMCOV. Este
dimensionamento não seria suficiente para um descarregador suportar uma sobretensão
por defeito fase-terra num regime de neutro impedante em que a sobretensão máxima
nas fases sãs é aproximadamente 3 ⋅ U L −T .

Exemplo 2

Supondo agora que um defeito é garantidamente eliminado em 0,6 segundos e o regime


de neutro é impedante.

Da Figura 31 para uma duração de 0,6 segundos na curva superior pode tirar-se a
relação da sobretensão com UR:

U S máx ≈ 1,18 ⋅ U R

U S máx = 3 ⋅ U L−T ≈ 1,18 ⋅ U R

então,

3
UR ≈ ⋅ U L−T ≈ 1,47 ⋅ U L−T
1,18

Com a relação entre UR e UMCOV de 1,25 (relação muda de fabricante para fabricante), a
flutuação que a tensão pode ter dada por kT (como na situação anterior supõe-se
kT=1,06):

1,06 ⋅1,47
U MCOV ≥ ⋅ U L−T ⇒ U MCOV ≥ 1,25 ⋅ U L−T
1,25

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Neste caso, para que o descarregador de sobretensões suporte uma sobretensão desta
origem tem de ter uma tensão de operação contínua no mínimo 25% acima da tensão
nominal fase-terra.

7.4.1.2. Considerações acerca de sobretensões transitórias

As sobretensões transitórias podem atingir valores que activem o funcionamento do


descarregador de sobretensões. É necessário garantir, face ao dimensionamento feito,
que o descarregador tenha capacidade para absorver a energia associada a essas
sobretensões. Caso se verifique que existe a possibilidade de aparecerem sobretensões
aos terminais do descarregador com energia superior ao que este pode absorver, então
deve aumentar-se o valor de UMCOV para o próximo disponível até que este as suporte.

Deve ser feita uma análise semelhante como anteriormente para as sobretensões por
defeito fase-terra. Usualmente o dimensionamento com base nas sobretensões por
defeito fase-terra é suficiente.

São usadas técnicas em que são colocados em ponto estratégicos descarregadores de


sobretensões com maior capacidade energética que os restantes. Estes descarregadores
de sobretensões são colocados de forma a protegerem os outros descarregadores de um
subsistema de sobretensões transitórias para as quais não foram dimensionados. A
colocação dos descarregadores com maior capacidade energética é feita a mais próxima
possível dos pontos de origem das sobretensões transitórias.

7.4.1.3. Margens de protecção

A tensão residual dos descarregadores de sobretensões depende da amplitude da


corrente a descarregar e da taxa de crescimento, Figura 32. Quanto maior a amplitude da
corrente, e/ou, maior a sua taxa de crescimento maior a tensão residual. São definidos
dois níveis de protecção dos descarregadores de sobretensões:

• LPL – tensão residual para uma onda de frente rápida;


• SPL – tensão residual para uma onda de frente lenta;

Com estes valores e com os níveis de isolação existentes nas linhas determinam-se as
margens de protecção:

U 
MPL =  10 L − 1 ⋅100% > 15% (40)
 LPL 

U 
MPS =  10S − 1 ⋅100% > 20% (41)
 SPL 

Se as margens de protecção não forem garantidas deve-se considerar aumentar os níveis


de isolação até garantir as condições.

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Figura 32 – Curvas de tensão residual

7.4.1.4. Precauções

Algumas práticas de instalação podem comprometer a coordenação de isolamentos:

• Cabos de ligação entre linha, descarregador e descarregador, terra;


• Grande distância entre o descarregador e equipamento a proteger;
• Ligação à terra deficitária.

7.4.1.5. Avaliação estratégica dos locais de aplicação

De forma a obter uma relação optimizada de unidades instaladas e resultado obtido,


deve-se recorrer a programas de análise de transitórios como o conhecido EMTP. Faz-se
uma análise cuidada com o programa de cada subsistema onde devem ser aplicados os
descarregadores de sobretensões complementando com análise estatística e
probabilística dos fenómenos atmosféricos. Para tal é necessário ter acesso a um grande
número de informações das características do subsistema para se poder obter resultados
que se mostrem robustos na prática.

De uma forma mais simples mas menos eficaz, podem ser aplicados alguns conceitos
propostos neste documento para determinar os pontos onde devem ser colocadas as
unidades.

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A contrapartida do método mais aprofundado resulta na aplicação do número adequado


de unidades enquanto que na proposta mais simples o número pode vir a tornar-se
deficitário ou excedente, resultando em mais ou menos custos.

7.4.1.5.1. Linhas com cabo de guarda

Para minimizar falhas de isolamento em linhas com cabo de guarda, a aplicação dos
descarregadores de sobretensões deve ser feita em primeira aproximação nas fases com
menor acoplamento com o cabo de guarda. Nas áreas com elevadas resistências de terra
devem ser aplicados descarregadores de sobretensões em todas as fases (dependendo
das sobretensões que se podem verificar) assim como também nos dois apoios
contíguos as estas áreas.

7.4.1.5.2. Linhas sem cabo de guarda

Melhoria de desempenho de linha face as descargas directas à fase

Em algumas das configurações de linhas de distribuição sem cabo de guarda, o condutor


central está mais alto de que os outros dois. Se a fase superior garantir um ângulo de
protecção inferior a 30º, a aplicação de um descarregador apenas na fase superior em
todos os apoios pode garantir um bom desempenho face a descargas atmosféricas. A
fase superior funciona como um cabo de guarda para as restantes. Se não for possível
aplicar um descarregador garantindo esta condição então devem ser aplicados
descarregadores nas três fases.

Em algumas situações podem-se obter algumas melhorias com a aplicação de


descarregadores com um ou dois apoios intercalados, garantindo que os apoios em que
não são aplicados os descarregadores de sobretensões não têm ligação à terra. Estes
apoios sem ligação à terra apresentam um nível de isolamento (U50) maior do que os
que têm ligação ao solo nos braços do apoio. Com a aplicação mais espaçada, a
protecção dos descarregadores é mais eficaz quando as descargas são mais próximas.
Quando as descargas atmosféricas atingem a linha numa zona mais afastada de um
descarregador, este pode não evitar o contornamento num apoio que esteja entre o ponto
de impacto e o descarregador de sobretensões.

A ligação à terra do descarregador de sobretensões deve ser efectuada de forma a


garantir uma distância suficiente de isolação para que a sobretensão que surja durante o
escoamento da corrente para o solo, devido à resistência da ligação ao solo, não seja
suficiente para provocar um contornamento para qualquer uma das outras fases. Esta
precaução deve ser tomada em todas as situações de aplicação de descarregadores de
sobretensões.

O descarregador deve ser dimensionado energeticamente tendo em conta que poderá ser
sujeito a elevadas correntes de descarga atmosférica por não haver qualquer protecção
com cabo de guarda.

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Melhoria de desempenho de linha face a tensões induzidas por descarga na periferia

Em sistemas em que seja susceptível de haver contornamentos por tensões induzidas, os


descarregadores de sobretensões devem ser aplicados em intervalos mais espaçados nas
três fases para minimizar este efeito.

Outra solução, possivelmente mais dispendiosa para níveis de tensão mais baixos, para
minimizar os efeitos das tensões induzidas é aumentar o nível de isolamento das linhas
para valores acima de 250 kV. Neste aspecto é importante tomar em conta o isolamento
acrescido que o apoio poderá proporcionar (capítulo 3.1.1).

7.4.1.6. Poluição

Existem descarregadores de sobretensões com características exteriores isolantes


distintas. As zonas onde são inseridos estes equipamentos devem ser estudadas face aos
níveis de poluição presentes para garantir uma isolação exterior adequada.

Em zonas com elevadas concentrações de poluição, deve ser considerada a utilização de


isoladores com superfícies hidrofóbicas.

Para garantir um bom desempenho das cadeias de isolação sujeitas a poluição elevada
deve ser feita uma manutenção periódica com lavagem das mesmas.

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8. Conclusão
A diversidade e complexidade dos temas e parâmetros que influenciam a coordenação
de isolamentos obrigam à análise singular de cada caso ou à utilização de uma
ferramenta informática dedicada para a resolução deste tipo problema.

De qualquer uma das formas, a coordenação de isolamentos requer conhecimentos


relativamente aprofundados de todos os temas apresentados neste documento de forma a
poder ser feita a avaliação correcta da influência que cada parâmetro toma na resolução
do problema.

Uma avaliação errada pode levar a dimensionamentos desproporcionados e a


desempenhos das linhas e equipamentos desastrosos. Por outro lado também pode levar
a custos muito elevados face às reais necessidades.

São propostas duas soluções para realização de coordenação de isolamentos em linhas


aéreas:

• Estudos dedicados por pessoal especializado com conhecimentos de


coordenação de isolamentos para cada caso;
• Procedimentos de coordenação de isolamentos numa ferramenta informática
para aplicação à generalidade dos casos, nomeadamente:
o Escolha de isoladores
o Escolha de descarregadores de sobretensões.
o Avaliação das linhas de distribuição face às tensões induzidas

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9. Bibliografia

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