Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O subtítulo da obra, “Episódios da vida romântica”, sugere uma demonstração detalhada de vícios e
aspetos que ainda vigoram na sociedade, em plena segunda metade do século XIX. O cenário em
que se desenrola a intriga principal, bem como o recurso a personagens-tipo que representam
grupos sociais e/ou atividades profissionais, permitem a representação de espaços sociais da capital
portuguesa e, através deles, a crítica de costumes. É o que acontece nos episódios do jantar no Hotel
Central e na corrida de cavalos no hipódromo de Belém, por exemplo.
No episódio do jantar no Hotel Central, onde Ega pretende fazer uma espécie de homenagem ao
banqueiro Cohen, reproduzem-se conversas que focam assuntos diversos, desde a situação política e
económica do país até um confronto literário. Os confraternizantes do jantar discutem inicialmente
o estado deplorável das finanças públicas e o eterno endividamento do país, comentando a
necessidade de reformas externas e radicais, mostrando a decadência do país. Já no final do jantar
existe um confronto entre Ega, defensor acérrimo do Naturalismo, e Alencar, poeta ultrarromântico.
Os dois envolvem-se numa disputa verbal e física, deixando evidente a incapacidade de alguns
membros da elite lisboeta em se comportarem com civismo e dignidade.
Assim, percebemos que ambos os episódios servem como crítica dos excessos e da desadequação
dos comportamentos do povo português.
A educação
Assim, através destes exemplos, percebemos a forma como o tipo de educação de cada personagem
é capaz de interferir com o seu caráter e a sua atitude, perante uma vida futura, sendo evidente a
decadência da educação tradicional portuguesa.
A obra “Frei Luís de Souza”, de Almeida Garret, e “Os Maias”, de Eça de Queirós, possuem algumas
semelhanças no que diz respeito ao desenvolvimento da ação e às características trágicas dos
protagonistas.
No drama de Garret, à medida que nos aproximamos da tragédia, há uma fatalidade que paira sobre
a família de Madalena, uma família de estatuto nobre, existindo inúmeros indícios que surgem no
decorrer da ação e que anunciam a catástrofe que se concretizará com o regresso e reconhecimento
de D. João de Portugal, ex. Marido de Madalena. São eles: os retratos de Manuel e de D. João, as
superstições e os agouros, a referência à “sexta-feira" como dia ominoso, etc. No final da história
existe a morte de Maria e a entrega dos seus pais a uma vida religiosa. Para além disso, a ação
central apresenta uma típica estrutura de tragédia.
Da mesma forma, no romance de Eça parecem existir indicações de um destino fatal: Carlos da Maia
e Maria Eduarda destacam-se das restantes personagens pela sua superioridade física e intelectual;
Carlos chega a perceber a determinada altura a semelhança dos seus nomes, facto que pode ser
entendido como um presságio da concordância dos seus destinos; Vilaça faz alusão a uma lenda
segundo a qual eram sempre fatais aos Maias as paredes do Ramalhete; a imagem da alcova onde
decorrem os amores de Carlos e Maria Eduarda como “Tabernáculo profanado”; etc. Também ao
nível da estrutura da obra se podem distinguir aspetos trágicos: o amor incestuoso de Carlos e Maria
Eduarda, que equivale à “hybris” (desafio); a súbita mudança dos acontecimentos, devido ás
revelações na carta trazida por Guimarães, que constitui a “peripécia”; a morte física (para Afonso),
do amor (para Carlos e Maria Eduarda) e social (da família), sendo a “catástrofe”.
Com isto, percebemos que ambas as obras apresentam elementos trágicos, como a inevitabilidade
do destino, o sofrimento humano e a falha dos personagens em lidar com as suas próprias fraquezas
e limitações, havendo um certo paralelismo entre ambas.