Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Contexto histórico-cultural
O contexto cultural:
Enquanto o crescimento económico progredia, os padrões estético-literários vigentes
na época dominados ainda pelo ultra- romantismo e pela sua figura emblemática
permaneceram iguais.
A década anterior à publicação de Os Maias foi a mais polémica da História da
Literatura, foi marcada por uma série de revoluções:
a) o idealismo cede lugar ao positivismo;
b) o romantismo é violentamente atacado pelo realismo;
c) o realismo clarifica os grandes males sociais;
d) a arte literária é entregue ao serviço da revolução de mentalidades.
Eça de Queirós terá demorado cerca de 8 anos para escrever a obra Os Maias,
tendo sido publicada a 2 de Junho de 1888. Isso poderá explicar o afastamento progressivo,
à medida que a ação avança, do romantismo para o naturalismo/ realismo. No inicio da
obra, Eça é fortemente influenciado pelas teses naturalistas (meio, educação,
hereditariedade), assim como elege o destino como responsável pelo desenlace trágico da
família Maia. A obra foi atacada por fortes críticas quanto à sua extensão e outros fatores,
tanto por críticos como também pelo próprio Eça.
A Questão Coimbrã
O "Poema da Mocidade" de Pinheiro Chagas foi fortemente elogiado por Castilho
numa publicação de um prefácio, no qual Castilho aproveitou para censurar um grupo de
jovens de Coimbra que acusa de exibicionismo, obscuridade propositada e de tratamento
de temas que nada tinham a ver com a poesia.
Desse grupo faziam parte Teófilo Braga e Antero de Quental. Antero de
Quental decidiu responder a Castilho com uma Carta intitulada "Bom Senso e Bom
Gosto" que acabou por sair em folheto.
Formou-se assim um conflito entre Castilho e Antero de Quental. Castilho
defendia a arte pela arte, enquanto para Antero, a arte deveria estar entregue ao
serviço das transformações sociais.
A Geração de 70
Um grupo de jovens intelectuais da Universidade de Coimbra formado por Antero de
Quental, Eça de Queirós, Teófilo Braga, Alberto Sampaio, Oliveira Martins, entre outros,
responderam às inventivas dos seus adversários e realizaram um conjunto de atividades
científicas, literárias e artísticas.
Estes jovens opunham-se contra a ordem conservadora e retrógrada, pondo assim
em questão toda a cultura portuguesa.
Pluralidade de ações:
-Ação principal→Amores de Carlos e Maria Eduarda (intriga principal)
-Ações secundárias→Amores de Pedro e Maria Monforte (intriga secundária); Romance de Ega e
Raquel Cohen; Romance de Carlos com a Gouvarinho.
1. Título e subtítulo
“N’Os Maias”, a intriga trágica interliga-se com um excecional retrato da sociedade.
Eça de Queirós procura, com um sentido de compromisso crítico e fina ironia, construir
uma enorme tela que reproduza com autenticidade os costumes da época.
Complexidade do tempo
Tempo histórico
Entende-se por tempo histórico aquele que se desdobra em dias, meses e anos
vividos pelas personagens, refletindo até acontecimentos cronológicos históricos do país.
N' Os Maias, o tempo histórico é dominado pelo encadeamento de três gerações de
uma família, cujo último membro - Carlos, se destaca relativamente aos outros. A fronteira
cronológica situa-se entre 1820 e 1887, aproximadamente. Assim, o tempo concreto da
intriga compreende cerca de 70 anos.
Tempo psicológico
O tempo psicológico é o tempo que a personagem assume interiormente. É o tempo
filtrado pelas suas vivências subjetivas, muitas vezes carregado de densidade dramática. É
o tempo que se alarga ou se encurta conforme o estado de espírito em Complexidade do
tempo.
Este romance não apresenta um seguimento temporal linear, mas, pelo contrário,
uma estrutura complexa na qual se integram três tipos de tempo: tempo histórico, tempo do
discurso e tempo psicológico.
Complexidade do espaço
Na obra os Maias a Ação decorre em diferentes Espaços físicos, Sociais e
Psicológicos.
a) O Espaço Físico é o local onde se desenrola a narrativa (um país, uma cidade, uma
casa, etc).
Espaço geográfico:
-Coimbra: espaço de boémia estudantil, artística e literária; espaço de
formação de Carlos cuja existência surge ainda marcada pelo Romantismo que a
sua geração procura rejeitar. Ambiente propício ao diletantismo e ociosidade.
-Lisboa: é o espaço com maior importância na obra, isto é, é o local onde
ocorrem os principais acontecimentos. As ruas, as praças, os hotéis, os locais de
convívio, os teatros são caracterizados como personagens ao longo da obra. Lisboa
é o símbolo da sociedade portuguesa da Regeneração, incapaz de se modernizar
(obras da Avenida da Liberdade) e que agoniza na contemplação de um passado
glorioso.
-Sintra: A ida a Sintra de Carlos, Cruges e Alencar constitui um dos
momentos mais poéticos hilariantes da obra. Sintra é o paraíso romântico perdido, é
o refúgio campestre e purificador.
-Santa Olávia: É um local de extrema importância para as personagens,
sendo como refúgio aos problemas e um local calmo que proporciona um ambiente
agradável para pensamentos.
Espaços interiores:
-Ramalhete: a degradação do edifício acompanha o percurso da família e a
passagem de Carlos por Lisboa, sendo considerado um marco referencial
importante. Símbolo desse percurso é a descrição do jardim (aspecto simbólico
oposto ao racionalismo naturalista):
-1o momento: o jardim tem um aspecto de abandono e degradação;
corresponde ao desgosto de Afonso após a morte de Pedro;
- 2o momento: é o renascimento da esperança, renovação da casa
por Carlos;
-3a momento: «areado e limpo, mas sombrio e solitário», simboliza o
fim de um sonho e a morte de uma família.
Afonso da Maia
▪ Caracterização física:
Afonso era baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes. A sua cara larga, o
nariz curvo e a pele corada. O cabelo era branco, muito curto e a barba branca e
comprida. Como dizia Carlos: "lembrava um varão esforçado das idas heróicas, um
D. Duarte Meneses ou um Afonso de Albuquerque".
▪ Caracterização psicológica:
Provavelmente a personagem mais simpática do romance e aquele que o
autor mais valorizou. Não se lhe conhecem defeitos. É um homem de carácter culto
e requintado nos gostos. Enquanto jovem adere aos ideais do Liberalismo e é
obrigado, pelo seu pai, a sair de casa; instala-se em Inglaterra mas, falecido o pai,
regressa a Lisboa para casar com Maria Eduarda Runa. Dedica a sua vida ao neto
Carlos. Já velho passa o tempo em conversas com os amigos, lendo com o seu gato
– Reverendo Bonifácio – aos pés, opinando sobre a necessidade de renovação do
país. É generoso para com os amigos e os necessitados. Ama a natureza e o que é
pobre e fraco. Tem altos e firmes princípios morais. Morre de desgosto, quando
descobre os amores incestuosos dos seus netos. É o símbolo do velho Portugal que
contrasta com o novo Portugal – o da Regeneração – cheio de defeitos. É os sonho
de um Portugal impossível por falta de homens capazes. É o ponto de equilíbrio da
família. É a ele que o filho entrega Carlos após a fuga de Maria Eduarda.
Pedro da Maia
▪ Caracterização física:
Era pequenino, face oval de "um trigueiro cálido", olhos belos –
"assemelhavam-no a um belo árabe". Valentia física.
▪ Caracterização psicológica:
Pedro da Maia apresentava um temperamento nervoso, fraco e de grande
instabilidade emocional. Tinha assiduamente crises de "melancolia negra que o
traziam dias e dias, murcho, amarelo, com as olheiras fundas e já velho". O autor dá
grande importância à ligação desta personagem ao ramo familiar dos Runa e à sua
semelhança psicológica com estes. Pedro é vítima do meio baixo lisboeta e de uma
educação retrograda. O seu único sentimento vivo e intenso foi a paixão que sentia
pela mãe. Apesar da robustez física é de uma enorme cobardia moral (como
demonstra a reação do suicídio face à fuga da mulher). Falha no casamento e falha
como homem.
Carlos da Maia
▪ Caracterização física:
Carlos era um belo e magnífico rapaz. Era alto, bem constituído, de ombros
largos, olhos negros, pele branca, cabelos negros e ondulados. Tinha barba fina,
castanha escura, pequena e aguçada no queixo. O bigode era curvado aos cantos
da boca. Com diz Eça, ele tinha uma fisionomia de "belo cavaleiro da Renascença".
▪ Caracterização psicológica:
Carlos era culto, bem educado, de gostos requintados. Ao contrário do seu
pai, é fruto de uma educação à Inglesa. É corajoso e frontal. Amigo do seu amigo e
generoso. Destaca-se na sua personalidade o cosmopolitismo, a sensualidade, o
gosto pelo luxo, e diletantismo (incapacidade de se fixar num projecto sério).
Todavia, apesar da educação, Carlos fracassou. Não foi devido a esta mas falhou,
em parte, por causa do meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa, fútil
e sem estímulos e também devido a aspetos hereditários – a fraqueza e a cobardia
do pai, o egoísmo, o futilidade e o espírito boémio da mãe.
Maria Monforte
▪ Caracterização física
É extremamente bela e sensual. Tinha os cabelos loiros, "a testa curta e
clássica".
▪ Caracterização psicológica
É vítima da literatura romântica e daqui deriva o seu carácter pobre,
excêntrico e excessivo. Costumavam chamar-lhe negreira porque o seu pai levara,
noutros tempos, cargas de negros para o Brasil, Havana e Nova Orleães.
Apaixonou-se por Pedro e casou com ele. Desse casamento nasceram dois filhos.
Mais tarde foge com o napolitano, Tancredo, levando consigo a filha, Maria Eduarda,
e abandonando o marido - Pedro da Maia - e o filho - Carlos Eduardo. Leviana e
imoral, é, em parte, a culpada de todas as desgraças da família Maia. Fê-lo por
amor, não por maldade. Após a morte de Tancredo, num duelo, leva uma vida
dissipada e morre quase na miséria. Deixa um cofre a um conhecido português - o
democrata Sr. Guimarães - com documentos que poderiam identificar a filha a quem
nunca revelou as origens.
Maria Eduarda
▪ Caracterização física
Maria Eduarda era uma bela mulher: alta, loira, bem feita, sensual mas
delicada, "com um passo soberano de deusa", é "flor de uma civilização superior, faz
relevo nesta multidão de mulheres miudinhas e morenas". Era bastante simples na
maneira de vestir, "divinamente bela, quase sempre de escuro, com um curto decote
onde resplandecia o incomparável esplendor do seu pescoço".
▪ Caracterização psicológica
Podemos verificar que, ao contrário das outras personagens femininas Maria
Eduarda nunca é criticada, Eça manteve sempre esta personagem à distância, a fim
de possibilitar o desenrolar de um desfecho dramático (esta personagem cumpre um
papel de vítima passiva). Maria Eduarda é então delineada em poucos traços, o seu
passado é quase desconhecido o que contribui para o aumento e encanto que a
envolve. A sua caracterização é feita através do contraste entre si e as outras
personagens femininas, mas e ao mesmo tempo, chega-nos através do ponto de
vista de Carlos da Maia, para quem tudo o que viesse de Maria Eduarda era perfeito,
"Maria Eduarda! Era a primeira vez que Carlos ouvia o nome dela; e pareceu-lhe
perfeito, condizendo bem com a sua beleza serena." Uma vez descoberta toda a
verdade da sua origem, curiosamente, o seu comportamento mantém-se afastado
da crítica de costumes (o seu papel na intriga amorosa está cumprido), e esta
personagem afasta-se discretamente de "cena".
Personagens tipo:
João da Ega
▪ Caracterização física
Ega usava "um vidro entalado no olho", tinha "nariz adunco, pescoço
esganiçado, punhos tísicos, pernas de cegonha". Era o autêntico retrato de Eça.
▪ Caracterização psicológica
João da Ega é a projeção literária de Eça de Queirós. É uma personagem
contraditória. Por um lado, romântico e sentimental, por outro, progressista e crítico,
sarcástico do Portugal Constitucional. Amigo íntimo de Carlos desde os tempos de
Coimbra, onde se formara em Direito (muito lentamente). A mãe era uma rica viúva
e beata que vivia ao pé de Celorico de Bastos, com a filha. Boémio, excêntrico,
exagerado, caricatural, anarquista sem Deus e sem moral. É leal com os amigos.
Concebe grandes projetos literários que nunca chega a executar. Terminado o
curso, vem viver para Lisboa e torna-se amigo inseparável de Carlos. Como Carlos,
também ele teve a sua grande paixão - Raquel Cohen. Ega, um falhado, corrompido
pela sociedade, encarna a figura defensora dos valores da escola realista por
oposição à romântica. Na prática, revela-se em eterno romântico. Nos últimos
capítulos ocupa um papel de grande relevo no desenrolar da intriga. É a ele que o
Sr. Guimarães entrega o cofre. É juntamente com ele, que Carlos revela a verdade a
Afonso. É ele que diz a verdade a Maria Eduarda e a acompanha quando esta parte
para Paris definitivamente.
Conde de Gouvarinho
▪ Caracterização física
Era ministro e par do Reino. Tinha um bigode encerado e uma pêra curta.
▪ Caracterização psicológica
Tinha uma mentalidade retrógrada. Tem lapsos de memória e revela uma
enorme falta de cultura. Não compreende a ironia sarcástica de Ega. Representa a
incompetência do poder político (principalmente dos altos cargos). Fala de um modo
depreciativo das mulheres. Revelar-se-á, mais tarde, um bruto com a sua mulher.
Condessa de Gouvarinho
▪ Caracterização física
Cabelos crespos e ruivos, nariz petulante, olhos escuros e brilhantes, bem
feita, pele clara, fina e doce; e casada com o conde de Gouvarinho e é filha de um
comerciante inglês do Porto.
▪ Caracterização psicológica
É imoral e sem escrúpulos. Traí o marido, com Carlos, sem qualquer tipo de
remorsos. Questões de dinheiro e a mediocridade do conde fazem com que o casal
se desentenda. Envolve-se com Carlos e revela-se apaixonada e impetuosa. Carlos
deixa-a, quando percebe que ela é uma mulher sem qualquer interesse, demasiado
fútil.
Dâmaso Salcede
▪ Caracterização física
Era baixo, gordo, "frisado como um noivo de província". Era sobrinho de
Guimarães. A ele e ao tio se devem,
respectivamente, o início e o fim dos amores de Carlos com Maria Eduarda.
▪ Caracterização psicológica
Dâmaso é uma símbolo de defeitos. Filho de um penhorista, é presumido,
cobarde e sem dignidade. É dele a carta anónima enviada a Castro Gomes, que
revela o envolvimento de Maria Eduarda com Carlos. É dele também, a notícia
contra Carlos n' A Corneta do Diabo. Mesquinho e convencido, provinciano e
tacanho, tem uma única preocupação na vida o "chic a valer". Representa o novo
riquismo e os vícios da Lisboa da segunda metade do séc. XIX. O seu carácter é tão
baixo, que se retracta, a si próprio, como um bêbado, só para evitar bater-se em
duelo com Carlos.
Sr. Guimarães
▪ Caracterização física
Usava largas barbas e um grande chapéu de abas à moda de 1830.
▪ Caracterização psicológica
Conheceu a mãe de Maria Eduarda, que lhe confiou um cofre contendo
documentos que identificavam a filha. Guimarães é, portanto, o mensageiro da
trágica verdade que destruirá a felicidade de Carlos e de Maria Eduarda.
Alencar
▪ Caracterização física
Tomás de Alencar era "muito alto, com uma face encaveirada, olhos
encovados, e sob o nariz aquilino, longos, espessos, românticos bigodes grisalhos".
▪ Caracterização psicológica
Era calvo, em toda a sua pessoa "havia alguma coisa de antiquado, de
artificial e de lúgubre". Simboliza o romantismo piegas. O paladino da moral. Era
também o companheiro e amigo de Pedro da Maia. Eça serve-se desta personagem
para construir discussões de escola, entre naturalistas e românticos, numa versão
caricatural da Questão Coimbrã. Não tem defeitos e possui um coração grande e
generoso. É o poeta doultrarromantismo.
Cruges
▪ Caracterização física
"De grenha crespa que lhe ondulava até à gola do jaquetão", "olhinhos
piscos" e nariz espetado.
▪ Caracterização psicológica
Maestro e pianista patético, era amigo de Carlos e íntimo do Ramalhete. Era
demasiado chegado à sua velha mãe. Segundo Eça, "um diabo adoidado, maestro, pianista
com uma pontinha de génio". É desmotivado devido ao meio lisboeta - "Se eu fizesse uma
boa ópera, quem é que ma representava".
Craft
É uma personagem com pouca importância para o desenrolar da ação, mas que representa
a formação britânica, o protótipo do que deve ser um homem. Defende a arte pela arte, a
arte como idealização do que há de melhor na natureza. É culto e forte, de hábitos rígidos,
"sentindo finamente, pensando com retidão". Inglês rico e boémio, observador dos
costumes lisboetas.
Eusebiozinho
Eusebiozinho representa a educação retrógrada portuguesa. Também conhecido por
Silveirinha, era o primogénito de uma das Silveiras - senhoras ricas e beatas. Amigo de
infância de Carlos com quem brincava em Santa Olávia, levando pancada continuamente, e
com quem contrastava na educação. Cresceu tísico, molengão, tristonho e corrupto. Casou-
se, mas enviuvou cedo. Procurava, para se distrair, bordéis ou aventureiras de ocasião
pagas à hora.
Episódios representativos:
1.2 -Intencionalidade
● O narrador revela-nos que a oposição entre o Romantismo e o Realismo
assenta fundamentalmente entre uma vigorosa análise social de grande
receptividade junto do público e uma escola poética formal, solene e
pomposa.
● Este episódio representa o esforço frustrado de uma camada social para
assumir um comportamento digno e requintado. Só que a realidade vem
rapidamente ao de cima: as limitações culturais e morais não se ocultam com
ementas afrancesadas e ambientes sofisticados, com divãs e camélias.
● Denuncia-se o cinismo e calculismo na discussão financeira do país, a miopia
histórica de Alencar, a denúncia do adormecimento do país.
Objetivos:
• Novo contacto de Carlos com a alta sociedade lisboeta, incluindo o próprio rei;
• Visão panorâmica dessa sociedade (masculina e feminina) sob o olhar crítico de Carlos;
• Tentativa frustrada de igualar Lisboa às capitais europeias, sobretudo Paris;
• Cosmopolitismo (fingido) da sociedade;
• Possibilidade de Carlos encontrar aquela figura feminina que vira à entrada do Hotel
Central.
Existem 4 corridas.
Visão caricatural:
• O hipódromo parecia um palanque de arraial;
• As pessoas não sabiam ocupar os seus lugares;
• As senhoras traziam "vestidos sérios de missa";
• O bufete tinha um aspecto nojento;
• A 1ª corrida terminou numa cena de pancadaria;
• As 3ª e 4ª corridas terminaram grotescamente.
Conclusões a retirar:
• Fracasso total dos objectivos das corridas;
• Radiografia perfeita do atraso da sociedade lisboeta;
• O verniz da civilização estalou completamente;
• A sorte de Carlos, ganhando todas as apostas, é indício de futura desgraça (Sorte no
jogo…).
Carlos vai às corridas com o objetivo de ver Maria Eduarda, o que não se realiza.
Desfilam perante Carlos as principais figuras e problemas da vida política, social e cultural
da alta sociedade lisboeta: a crítica literária, a literatura, a história de Portugal, as finanças
nacionais, etc. Todos estes problemas denunciam uma fragilidade moral dessa sociedade
que pretendia apresentar-se como civilizada.
No jantar podemos apreciar duas concepções opostas sobre a educação das mulheres:
salienta-se o facto de ser conveniente que "uma senhora seja prendada, ainda que as suas
capacidades não devam permitir que ela saiba discutir, com um homem, assuntos de
carácter intelectual" (Ega, provocador, defende que "a mulher devia ter duas prendas:
cozinhar bem e amar bem").
Objetivos:
• Reunir a alta burguesia e aristocracia;
• Reunir a camada dirigente do País;
• Radiografar a ignorância das classes dirigentes.
Nota-se assim a superficialidade dos juízos dos mais destacados funcionários do Estado;
incapacidade de diálogo por manifesta falta de cultura.
Os Jornais, “A Corneta do Diabo” e “A Tarde”(XV)
Critica-se, neste episódio, a decadência do jornalismo português, pois os jornalistas
deixavam-se corromper, motivados por interesse económicos (é o caso de Palma Cavalão,
do Jornal A Corneta do Diabo) ou evidenciam uma parcialidade comprometedora, originada
por motivos políticos (é o caso de Neves, director do Jornal A Tarde).
A Corneta do Diabo: Carlos dirige-se, com Ega, a este jornal, que publicara uma carta,
escrita por Dâmaso Salcede, insultando e expondo, em termos degradantes, a sua relação
amorosa com Maria Eduarda. Palma Cavalão revela o nome do autor da carta e mostra aos
dois amigos o original, escrito pela letra de Dâmaso Salcede, a troco de "cem mil réis".
➢ o director é o Palma "Cavalão", um imoral;
➢ a Redacção é um antro de porcaria;
➢ publica um artigo contra Carlos mediante dinheiro;
➢ vende a tiragem do número do jornal onde saíra o artigo;
➢ publica folhetins reles, de baixo nível.
A Tarde: Neves, o director do jornal, acede a publicar a carta em que Dâmaso Salcede se
confessa embriagado ao redigir a carta insultuosa, mencionando a relação de Carlos e de
Maria Eduarda, por concluir que, afinal, não se tratava do seu amigo político Dâmaso
Guedes, o que o teria levado a rejeitar a publicação.
➢ o director é o deputado Neves;
➢ recusa publicar a carta de retractação de Dâmaso porque o confunde com um seu
correligionário político;
➢ desfeito o engano, serve-se da mesma carta como meio de vingança contra o inimigo
político;
➢ só publica artigos ou textos dos seus correligionários políticos.
Aspectos a notar: o baixo nível; a intriga suja; o compadrio político; assim como os jornais,
está o País.
Alencar declamou “A Democracia”, depois de “um maganão gordo” lamentar que nós
Portugueses, não aproveitássemos “herança dos nossos avós”, revelando um patriotismo
convincente. O poeta aliava, agora, poesia, e política, numa encenação exuberante, que
traduzia a sua emoção pelo facto de ter ouvido “uma voz saída do fundo dos séculos” e que
o levava a querer a República, essa ”aurora” (e os aplausos foram
numerosos) que viria com Deus.
Carlos vai apenas para cumprir uma obrigação social (o sarau destinava-se a ajudar as
vitimas das cheias do Ribatejo). É neste cenário que o Sr. Guimarães entrega a Ega o cofre
que contém as revelações sobre o parentesco entre Carlos e Maria Eduarda.
• Objectivos:
➢ ajudar as vítimas das inundações do Ribatejo;
➢ apresentar um tema querido da sociedade lisboeta: a oratória;
➢ reunir novamente as várias camadas das classes mais destacadas, incluindo a família real;
➢ criticar o ultra-romantismo que encharcava o público;
➢ contrastar a festa com a tragédia.
N.B.: As classes dirigentes estão alheadas da realidade (nota-se isso pela indignação do
Gouvarinho). Caracteriza-se a sociedade como sendo deformada pelos excessos líricos do
ultra- romantismo.
*O estudo do espaço social não se esgota nestes episódios, visto que os serões no
Ramalhete, o chá dos Gouvarinho e as conversas ocasionais contribuem também para a
visão crítica da sociedade portuguesa do final do século XIX.
a) O Ramalhete
Na opinião de Vilaça, as paredes do Ramalhete sempre foram fatais aos Maias. Está ligado
à decadência nacional. Aliás, o ramo de girassóis aponta para uma atitude contemplativa de
submissão, associada à incapacidade de ultrapassar esse estado rebaixado. Isto reflete não
só a presença avassaladora da paixão na família Maia, mas também o estado do próprio
país. O jardim do Ramalhete também é rico em simbolismo.
Sobressaem três símbolos: o cipreste, o cedro e a Vénus Citereia. O cipreste e o
cedro, unidos de forma incorruptível pelas suas raízes que a tudo resistem, simbolizam o
amor absoluto. A estátua da Vénus Citereia liga-se à sedução e à luxuria da deusa do amor.
O Ramalhete – 10 anos depois: Passados dez anos, a casa é um espaço frio, decadente,
“amortalhado” sob lençóis, uma vez que Carlos levou para Paris parte do recheio do
Ramalhete. No jardim, a Vénus enferrujada e a cascata sem água sublinham a
decadência.O Ramalhete acompanha e simboliza a glória e a decadência dos Maias.
É um local idílico e representa a beleza paradisíaca. Cenário onde Carlos, Alencar e Cruges
vão passear no capítulo VIII. O seu aspeto paradiso romântico, será, no entanto, corrompido
pela intrusão dos vícios decadentes, representados pelas figuras de Eusebiozinho e Palma
Cavalão, acompanhados de prostitutas espanholas. Também Dâmaso Salcede transporta o
seu “chique a valer” para Sintra, tornando esta sensação paradisíaca natural uma
continuação do espaço lisboeta.
d) Lisboa
Lisboa é o espaço privilegiado ao longo de toda a obra. Todas as ruas, as praças, os teatros
assumem quase o estatuto de personagens ao longo do romance. Representa Portugal
inteiro: “O país está todo entre a Arcada e S. Bento!” (cap. VI). Símbolo da decadência
nacional, Lisboa é caracterizada pela degradação moral e pela ociosidade crónica. No
último capítulo da obra, destaca-se a estátua de Camões, que assiste impotente à
decadência do país. O país, estagnado e politicamente amorfo, é incapaz de se regenerar,
rendendo-se à mediocridade intelectual e à adoção de modas estrangeiras, renunciando a
qualquer sentido de identidade própria.
e) Coimbra
Espaço da formação académica de Carlos, Coimbra é símbolo da boémia estudantil,
artística e literária. Eça terá escolhido Coimbra pelo facto de esta cidade ter sido o palco da
Questão Coimbrã. Além disso, foi onde o próprio Eça estudou.
f) O consultório
É revelador de certas facetas de Carlos: o seu diletantismo (alguém que muda de ideias
constantemente), os seus entusiasmos passageiros, os projetos inacabados, c que levaram
ao tédio e ao ódio.
Eça dava muita importância a que o leitor consegui-se sentir as sensações que pretendia
transmitir e para isso utilizava de forma recorrente recursos expressivos para o conseguir,
como por exemplo a sinestesia.
Eça começa logo nas primeiras páginas da sua obra a demonstrar este seu estilo
característico com a descrição do Ramalhete. Mais tarde com recurso a recursos
expressivos, como a sinestesia, a hipálage, a personificação, entre outras.
RESUMO
“Os Maias” passa-se em Lisboa, na segunda metade do século XIX. Em Outono de 1875,
Afonso da Maia, um homem nobre e rico proprietário que se instala no Ramalhete. Afonso
da Maia é casado com Maria Eduarda Runa com quem tem um filho, Pedro da Maia. Pedro
da Maia tem uma romântica e religiosa educação extremamente protecionista. Muito
apegado a mãe, ele se ver inconsolável após a sua morte, até que conhece Maria Monforte,
a filha de um negreiro (traficantes de escravos).
Afonso da Maia não aceita o romance do filho com Maria Monforte, mas eles casam-se
mesmo assim. O casamento resulta no nascimento de dois filhos, uma menina e um
menino. Um tempo depois, Maria Monforte apaixona-se por Tancredo, um principal
napolitano acolhido por Pedro da Maia, após feri-lo acidentalmente. Maria Monforte foge
para Itália com o príncipe, levando consigo a menina e abandonando o menino e o marido.
Após descobrir a fuga da amada, Pedro da Maia não suporta o abandono e se suicida. O
filho, Carlos, é entregue aos cuidados do avô. Carlos da Maia é criado pelo avô que o
manda para Coimbra cursar medicina. Após se formar, Carlos retorna ao Ramalhete como
médico e abre um consultório.
No seu regresso a Lisboa, Carlos se rodeia por amigos intelectuais e da burguesia como
João da Ega, Alencar, Damaso Salcede, Palma de Cavalão, Euzébinho, o maestro Cruges,
entre outros. Em meios aos hábitos da burguesia e dos amigos intelectuais, Carlos se
envolve com a Condessa de Gouvarinho, mas depois a abandona. Um dia, Carlos conhece
e se encanta pela madame Castro Gomes, que julgava ser mulher de Castro Gomes.
Mesmo assim Carlos tenta se aproximar dela sem êxito. Até que recebe o chamado da
madame para atender a sua governanta que estava doente. E desde então, Carlos passa a
visitar frequentemente a casa, e se envolver com ela.
Amantes, Carlos e a madame passam a se encontrar em uma casa (na quinta dos Olivais)
que ele comprou para os encontros. E assim, ele passa seu tempo entre Ramalhete e o
consultório e na Quinta do Olivais com ela. Castro Gomes, o brasileiro com quem julgava
que a madame era casada, descobre o caso dela com Carlos e resolve procurá-lo e lhe
conta que ela não é sua esposa, e sim sua amante. Assim, não tinha problema em eles
continuarem se encontrando. Até que um dia aparece um viajante com documentos
direcionados para Maria Eduarda, o verdadeiro nome da madame Carlos Gomes. Senhor
Guimarães traz consigo um cofre alegando que pertencia a Maria Eduarda. O cofre se
tratava da herança que a mãe tinha deixado para ela. Além de documentos que
comprovavam a riqueza e a garantia do parentesco entre Maria Eduarda e sua suposta
mãe.
Carlos descobre que a mãe de Maria Eduarda era Maria Monforte, a sua mãe que tinha
fugido com o príncipe napolitano e abandonando ele e seu pai. Ou seja, ele e Maria
Eduarda eram irmãos. Contudo, ele não aceita a informação e continua com a relação –
incestuosa – com Maria Eduarda que não sabia do parentesco. Seu avô, Afonso da Maia
descobre a prática do incesto pelo neto e morre de desgosto. E quando Maria Eduarda
descobre, agora rica, vai embora para Paris e lá se casa. Para esquecer o ocorrido, Carlos
resolve rodar pelo mundo. Após dez anos, ele retorna a Portugal e se reencontra com os
amigos. “Os Maias” termina com o reencontro de Carlos com seu amigo João da Ega, e
Carlos dizendo ao amigo: “falhamos a vida, menino!“.