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ÁGORA ESCOLAR: A AÇÃO COMUNICATIVA E A

HUMANIZAÇÃO DO SUJEITO
ROBSON REYNALDO OLIVEIRA DE SOUSA1

RESUMO
A presente proposta pedagógica de ensino - Ágora Escolar: a ação comunicativa e a
humanização do sujeito – constitui um espaço de debate público, onde o uso adequado
das palavras e argumentação são utilizados em debates públicos, acerca de problemas da
contemporaneidade. Diante de um quadro social caótico, que surge do confronto
ideológico/político nas mais diversas esferas da comunicação, se faz necessário produzir
espaços de reflexão e respeito à liberdade de expressão. Em consonância com aspectos
culturais e filosóficos da tradição grega e da filosofia de Jürgen Habermas, o uso
adequado da palavra é valorizado, visto como caminho para o esclarecimento. Além
dessas referências, o trabalho defende ideais de Paulo Freire no que tange ao uso da
realidade vivida como fonte problematizadora. A vida do aluno importa e é levada ao
centro das discussões. No que diz respeito à metodologia, a ágora escolar se apresenta
como um espaço de debate entre dois grupos em sala de aula sobre assuntos importantes
do cotidiano comum. É perceptível o engajamento dos discentes na defesa de suas teses
e, em muitos casos, há um substancial aprofundamento nos assuntos. Aspectos
cognitivos como a leitura e compreensão são praticados e melhorados. Por fim, a Ágora
Escolar busca oferecer um espaço pedagógico de humanização do sujeito e
fortalecimento do respeito à fala do outro.
Palavras-chave: ação comunicativa, ágora, educação.

1
Licenciado em História pela UVA. Pós-licenciado em Gestão Escolar pela UNIASSELVI.
INTRODUÇÃO
O mundo pós-moderno apresenta dilemas nas relações humanas, principalmente
em virtude das neófitas interações proporcionadas pelas redes sociais. O uso inadequado
da linguagem, além de produzir conflitos, proporciona desgastes emocionais nas
estruturas psíquicas do ser. Se vive uma época onde o direito de fala do outro é negado e
representado figurativamente como adversário. Dentro dessa perspectiva, surge a Ágora
Escolar: um espaço de debate e reflexão escolar, acerca do cenário caótico de nossos
tempos.
Os debates sobre os problemas da cidade, na pólis de Atenas, Grécia Antiga, era
manifesto e discutido entre os cidadãos. Apesar de apresentar incongruências com a
democracia atual, aquele modelo de governo inova ao dar à cada cidadão o direito de
isonomia, isegoria e isocracia. Em um mundo majoritariamente dominado por sistemas
teocráticos, sem nenhuma participação do público no sistema de poder, apenas
obediência e submissão, a Grécia exporta as bases da verdadeira política. A ágora e
outras assembleias atenienses eram espaços públicos de debates acalorados, momento
sublime da argumentação racional e linguagem.
Nessa mesma linha de pensamento, o filósofo frankfurtiano, Junguen Habermas,
defende um agir que se utilize da linguagem para esclarecer, trazer o indivíduo à luz. A
ação comunicativa, no ideário desse teórico, abre as portas para o diálogo e,
consequentemente, a democracia. A equidade de poder à fala, nutre o sentimento
democrático, tão necessário em nosso meio em sua concepção. Ora, o jovem precisa
desenvolver sua autonomia intelectual. Nesse quadro, se faz da sala de aula um lugar de
espetáculo da vida como ela é. Pode parecer teatral, mas em seu bojo os debates na
Ágora Escolar trazem a realidade. Essa realidade que é omissa em muitos planos de
ensino. Problemas do cotidiano tão necessários à compreensão dos verdadeiros
indivíduos que chegam à escola, permanecem distantes.
O educador brasileiro, Paulo Freire, já mostrava as receitas de um ensino de
perto, onde o produto da aprendizagem nascia do estudo do vivido, daquilo que fazia
sentido e importava para o sujeito. A praticidade do conhecimento adquirido era peça-
chave nesse modelo de ensino-aprendizagem.
Assim, buscamos proporcionar locais de desenvolvimento da linguagem e
autonomia do sujeito-aluno. O projeto incentiva à fala racional e a apreciação da
diferença de pensamento. A ideia é melhorar os aspectos cognitivos de leitura-
compreensão-fala e aprimorar os valores humanos éticos e morais dos indivíduos
envolvidos.

METODOLOGIAS
A execução da Ágora Escolar ocorre por meio de etapas. Primeiramente o
professor apresenta a proposta de ensino aos alunos, explicando as etapas e
esclarecendo sobre a necessidade do momento e objetivos que visa alcançar. Na aula de
apresentação da proposta, o professor seleciona, através de aspectos qualitativos, 5
alunos que formarão a bancada de um júri, disposto a dar um parecer sobre os debates
que serão executados.
O professor deve orientar esses alunos a observarem os melhores argumentos
utilizados pelos advogados das causas. Os alunos devem entender que desempenham
uma função que prima pela probidade e sensatez. O professor segue a montagem da sala
de debate e seleciona um aluno responsável por presidir as sessões. A este, o docente
deve trazer informações sobre o uso da disciplina e ordem nos tribunais. É necessário
cumprir a lei dentro daquele espaço, a fim de garantir o desenvolvimento organizado
das discussões.
A seguir o professor divide o restante dos alunos e em duas equipes e dá um
tempo para que eles selecionem entre eles dois advogados que o representarão.
Escolhidos os representantes, segue com a apresentação dos assuntos discutidos. Alguns
temas como, a legalização do uso de armas de fogo, a legalização da maconha, a
questão do aborto, o problema do alcoolismo entre os jovens gera debates bem
interessantes. O professor pede para que as equipes façam pesquisas aprofundadas sobre
os assuntos e já informa o que cada equipe vai defender nos debates. Dá-se um tempo
de uma semana, mais ou menos isso.
No dia dos debates o professor organiza a sala, de modo a parecer um tribunal,
orienta sobre as regras de convivência, ali dentro e dá a cada advogado um tempo para
apresentar a sua causa. Segue o debate e a outra equipe pode fazer uma réplica. O juiz
pode se utilizar de sua autoridade e fazer indagações aos envolvidos. O júri deve estar
atento aos argumentos e postura dos advogados. No próximo assunto, a outra equipe
inicia o debate e assim segue no mesmo modelo da primeira. Qualquer indício de
celeuma deve ser combatido pelo juiz. No fim dos debates júri e juiz dão seu parecer
sobre os vencedores dos debates.

DESENVOLVIMENTO
A aplicação dessa proposta trouxe bons frutos, principalmente no que diz
respeito a abertura para o novo em sala de aula. Muitos alunos desfrutaram dos
momentos e viram naquelas atividades, um espaço de responsabilidade na fala, criando
uma representação de significância em suas atuações.
Outro aspecto relevante, se deu com o respeito às normas exigidas nas
audiências e uso da palavra pelo o outro nos debates. Os discentes, mesmo após o fim
do momento, chegavam a querer mostrar suas opiniões e argumentos sobre os temas
com outros colegas. Dentro dos debates, as equipes levadas pela emoção, tentavam
levantar a voz, no que imediatamente, o juiz intervinha. No entanto, a autoridade deu a
permissão para que as equipes ajudassem os advogados na construção de novos
argumentos, diante das primeiras falas. Tudo de uma forma cautelosa, sem provocar
algazarra na assembleia.
Apesar de não poder quantificar o resultado de tudo o que ocorreu, foi
perceptível a boa sensação de que aquilo trouxe um impacto, afetou os alunos. Isso é
bom. O comentário nos corredores do que havia acontecido foi propagado. Os alunos
que se envolvem, realmente acreditam no importante papel que estão a assumir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acredito que a Ágora Escolar oferece o que tanto necessitamos em nossos dias:
espaços de reflexão saudável sobre assuntos do nosso cotidiano. Acredito que o aluno
precisa assumir responsabilidades com sua fala e postura na sala de aula, na sociedade,
na sua família. A linguagem deve ser utilizada para esclarecer, para cristalizar a
dignidade de uma consciência mais humana. Para isso, deve se amparar na razão e
argumentação que defenda os valores humanos.
De fato, todo o processo desenvolvido na sala de aula teve como escopo tais
objetivos. Claro que existem aqueles que permaneceram omissos ao debate; entretanto,
aqueles que foram afetados pela proposta pedagógica revelam frutos da educação
desenvolvida. No que segue, é melhorar cada vez mais essa proposta para que ela
alcance resultados cada vez mais satisfatórios.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. Política. São Paulo, SP: Martin Claret, 2007.
____. Metafísica: livro 1 e 2; Ética a Nicômacos; Poética. São Paulo: Abril Cultural,
1984. (Os pensadores).
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23 ed.
São Paulo: Cortez, 1989.
HABERMAS, Jurgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Trad. Guido de
Almeida. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.
PLATÃO. A República. 7. ed. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1993.

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