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Radiações Solares: a abordagem do tema no Ensino Médio de escolas

públicas do município do Rio Grande

Douglas Rodrigues Antunes

Facuminas

douglas_fisica14@yahoocom..br

Rio grande / RS
2023
Resumo

Relatamos os resultados de uma investigação sobre os saberes prévios de 60 estudantes do


Ensino Médio do município de Rio Grande a respeito de um tema da Física que se refere as
radiações solares e seus efeitos biológicos. Para isso um questionário foi aplicado para alunos
de três escolas púbicas da cidade do Rio Grande, distribuídas em zonas rural (17 estudantes),
central (12 estudantes) e litorânea (16 estudantes), e as respostas foram analisadas descritiva e
quantitativamente. Foi possível demonstrar que os estudantes têm noções vagas e desarticuladas
sobre essa temática, sendo que a maioria (80%) já ouviu falar sobre os raios ultravioleta, em
especial, mas não compreendem seus efeitos nos organismos vivos. Cerca de 90% do total de
estudantes não tem clareza dos prejuízos e benefícios das radiações, desconhecendo boa parte
da utilidade dessas radiações no dia-a-dia. Dos alunos pesquisados, 65% aprenderam através da
escola sobre os perigos do Sol, como o câncer de pele, mas ignoram os perigos do
bronzeamento artificial e o modo como as radiações ionizantes e não ionizantes podem afetar o
meio ambiente. O percentual de estudantes que atribuem à escola sua bagagem de informações
a respeito destes conteúdos, atestam o esforço individual de alguns professores que, por
dominarem o tema e reconhecerem sua importância, trabalharam esta temática em sala de
aula. A investigação também analisou a abordagem desse tema em 10 livros didáticos (três de
biologia, três de física, três de química e um de matemática) e em relação a matemática foi
analisado o que se refere a estatística. Consideramos estes livros, pela sua disponibilidade e
acesso, serem uma fonte importante de pesquisa, e muitas vezes a única, para o professor de
Ensino Médio, ao selecionar conteúdos e preparar suas aulas. Na tentativa de se adaptarem às
novas tendências educacionais, os livros vêm inserindo textos e assuntos que discutem os
problemas vivenciados pela sociedade em geral, porém a nossa análise mostrou que nada foi
encontrado sobre o tema “radiações solares e suas relações”, tendo o mesmo uma visão muito
simplista, restringindo-se basicamente a apresentação do espectro eletromagnético. Estas
concepções apontam a necessidade da construção de um conhecimento mais preciso e
embasado sobre radiações em situação formal de aprendizagem, trazendo o aspecto da
contextualização curricular como um critério que contemple a aprendizagem significativa.

Palavras-chave: concepções dos alunos; radiação ultravioleta; câncer da pele; e livros


didáticos.
Abstract:

We report the results of an investigation into the prior knowledge of 60 high school students in
the city of Rio Grande regarding a Physics theme that refers to solar radiation and its biological
effects. For this, a questionnaire was applied to students from three public schools in the city of
Rio Grande, distributed in rural (17 students), central (12 students) and coastal (16 students)
areas, and the responses were analyzed descriptively and quantitatively. It was possible to
demonstrate that students have vague and disjointed notions about this theme, and the majority
(80%) have heard about ultraviolet rays, in particular, but do not understand their effects on
living organisms. About 90% of all students are not clear about the damages and benefits of
radiation, not knowing much of the usefulness of this radiation in their daily lives. Of the
students surveyed, 65% learned through school about the dangers of the Sun, such as skin
cancer, but ignore the dangers of indoor tanning and how ionizing and non-ionizing radiation
can affect the environment. The percentage of students who attribute their baggage of
information about these contents to the school attests to the individual effort of some teachers
who, because they master the theme and recognize its importance, worked on this theme in the
classroom. The investigation also analyzed the approach to this theme in 10 textbooks (three on
biology, three on physics, three on chemistry and one on mathematics) and in relation to
mathematics, statistics were analyzed. We consider these books, due to their availability and
access, to be an important source of research, and often the only one, for high school teachers,
when selecting content and preparing their classes. In an attempt to adapt to new educational
trends, books have been inserting texts and subjects that discuss the problems experienced by
society in general, but our analysis showed that nothing was found on the subject "solar
radiation and its relations", having the same a very simplistic view, basically restricting itself to
the presentation of the electromagnetic spectrum. These conceptions point to the need to build a
more accurate and grounded knowledge about radiation in a formal learning situation, bringing
the aspect of curricular contextualization as a criterion that contemplates meaningful learning.

Keywords: students' conceptions, ultraviolet radiation, skin cancer, and textbooks.


1. Introdução

O tema “Radiações Solares” desperta sentimentos diferentes nas pessoas.

Na grande maioria das vezes as radiações são vistas como um perigo invisível, sem
cor, sem cheiro, que chega sem dar nenhum aviso. Acidentes radiológicos, como os ocorridos
em Goiânia (Brasil) em 1987 e recentemente na usina de Fukushima (Japão) em 2011, podem
causar sérios riscos à saúde dos seres vivos, inclusive câncer e morte. Por outro lado, também
é de conhecimento de muitos que as radiações ionizantes, representam um dos grandes
achados da ciência, considerando sua potencialidade de aplicações práticas na área da saúde.
A braquiterapia e a teleterapia são exemplos de técnicas terapêuticas enquanto que a
cintilografia e o radioimunoensaio são reconhecidas técnicas diagnósticas que utilizam as
radiações ionizantes como ferramentas pela capacidade destas produzirem efeitos nos
organismos e deles obter uma resposta biológica.

Estes efeitos tão contraditórios tornam compreensível o interesse de muitos


pesquisadores educadores abordarem este tema visando socializar os saberes nesta área.

As considerações acima estão focadas nas radiações ionizantes, ou seja, aquelas


radiações de maior energia que, embora sejam emitidas pelo Sol, não atingem a atmosfera.
Exemplificando estas radiações temos as radiações X e gama (γ), sendo os tubos de raios X e
os aceleradores lineares fontes artificiais da radiação X, enquanto as bombas de cobalto são
fontes artificiais de radiação γ. Importante considerar que a exposição a estes tipos de
radiações ocorrem sempre por indicação clínica, salvo situações de acidentes radiológicos, e
certamente, nestes casos, o benefício supera o risco dessa exposição.

Por outro lado, as radiações não ionizantes, aquelas de menor energia, porém
igualmente capazes de produzir efeitos biológicos, capazes de atingir a atmosfera e interagir
com os organismos, tiveram o conhecimento de seus riscos e benefícios negligenciados por
muito tempo. Importante ressaltar que a estas radiações estamos diariamente expostos, com
maior ou menor frequência, dependendo de nossos hábitos de lazer ou nossas atividades
ocupacionais.

Os efeitos biológicos das radiações, sejam elas ionizantes ou não ionizantes, são
cumulativos ao longo dos anos [1]. Indivíduos expostos à radiação ionizante, em condições
acidentais, apresentaram diagnóstico de câncer, diretamente relacionados às doses de
exposição, em diferentes órgãos e sistemas com o passar dos anos. Essa propriedade
cumulativa também acontece para as radiações não ionizantes.

É difícil convencer a criança e o adolescente a proteger-se da radiação ultravioleta


(RUV) utilizando corretamente protetores solares e outras medidas preventivas quando, de
imediato, o resultado que ele observa, e aprova, é ter sua pele bronzeada sem sequer pensar
que a alteração de sua cor pode estar indicando que a pele reagiu a um excesso de radiação
recebida [2]. Entretanto, a associação imediata entre o câncer da pele e a RUV ocorre quando
reconhecemos que este tipo de radiação é um agente carcinógeno completo, capaz de iniciar o
processo tumoral por meio de mutações no DNA e também capaz de promover o
desenvolvimento do câncer por processo inflamatório inerente à exposição RUV cumulativa
[1].
Pelo exposto acima, podemos afirmar que a prevenção ao câncer da pele só será
efetiva quando crianças e adolescentes forem educados quanto à relação entre esta patologia e
a exposição à RUV. Entretanto, existe uma carência de programas para a conscientização
deste público, e suprir esta carência, além do caráter de formação do indivíduo, poderia
estimular a diminuição da exposição excessiva ao Sol nessa faixa de idades, a qual, como já
dito anteriormente, é responsável pela maior parte dos casos de futuras neoplasias da pele [2].

Esta afirmação vai ao encontro de um dos objetivos indicados pelos Parâmetros


Curriculares Nacionais (PCNs) que diz que o estudante deve ser capaz de conhecer e cuidar
do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da
qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva.
Como educadores, é pertinente acompanhar se o ensino de ciências tem favorecido o alcance
deste objetivo. Abordar a temática proposta neste trabalho busca aproximar-se das
necessidades de saber dos estudantes no que diz respeito ao estudo de conhecimentos
científicos mais atuais. Este acompanhamento visa apontar possíveis lacunas provocadas por
um currículo de ciências pouco contextualizado, resultando numa prática pedagógica
desvinculada da realidade do estudante. O tema “efeitos biológicos das radiações solares”
certamente atesta a necessidade de um ensino interdisciplinar visto que a sua compreensão só
é possível através da associação de saberes nas áreas da Biologia, Física e da Química.
Entretanto, na área da Física, na maioria das vezes, o tema “Radiações” é proposto em aulas
baseadas em fórmulas e equações matemáticas, experimentos demonstrativos, excluindo o
papel histórico, cultural e social que as ciências desempenham no mundo em que se vive. Esta
prática não permite que o estudante compreenda qual a necessidade de estudar essa disciplina.

Um dos temas estruturadores sugeridos no PCN+ de Física é o estudo da matéria e


radiação, tema capaz de organizar as competências relacionadas à compreensão do mundo
material microscópico, promover a compreensão dos modelos sobre como se constitui a
matéria, as interações no núcleo dos átomos e os modelos que a ciência hoje propõe para um
mundo povoado de partículas, e também aprender a identificar, lidar e reconhecer as radiações
e seus diferentes usos e, consequentemente, seus efeitos.

Apesar de pouco explorado, o estudo das radiações é um tema de Física Moderna e


Contemporânea que poderia ser facilmente inserido no ensino médio, pois é atual,
interessante, com muitas aplicações práticas, com forte viés interdisciplinar e ainda capaz de
suscitar discussões sobre a relação ciência–tecnologia–sociedade.

No presente trabalho, o objetivo é apresentar os resultados de uma investigação sobre


a possibilidade de introdução do tema radiações no ensino médio, analisando os saberes
prévios de estudantes do terceiro ano do Ensino Médio de três escolas públicas do município
de Rio Grande, de três zonas residenciais (central, rural e litorânea), com a finalidade de
embasar possíveis estratégias educativas sobre o tema. Além disso, foi analisado como este
tema é apresentado nos livros didáticos distribuídos a estes alunos.

Importante considerar que a distribuição dos livros didáticos para estudantes de


escolas públicas do Ensino Médio no Brasil teve início no ano de 2004, devido à resolução n°
38 do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), encontrada disponível no
site do FNDE.
2. Metodologia utilizada

A pesquisa relatada neste trabalho ocorreu no primeiro semestre de 2022, em três


escolas compondo um total de 60 estudantes de ensino médio da rede pública do município do
Rio Grande, RS.

2.1 Investigando o conhecimento prévio dos estudantes

Nesta etapa metodológica utilizamos um questionário uma vez que essa ferramenta
investigativa não inibe o entrevistado, permite uma menor possibilidade de interferência do
investigador e pode ser aplicado a um grande número de entrevistados em um curto espaço de
tempo, corroborando com o que diz Quivy & Chanpenhoudt [3] “o questionário é um
instrumento de observação não participante, baseado numa sequência de questões escritas,
que são dirigidas a um conjunto de indivíduos, envolvendo suas opiniões, informações e
representações factuais envolvendo ele próprio e seu meio”. Por sua vez, baseado na teoria de
aprendizagem significativa de Ausubel e Novak apresentada por Moreira [4], o questionário
tem como objetivo medir o que uma pessoa gosta, sabe ou pensa. Quando o mesmo mede o
que uma pessoa gosta ele verifica os valores e preferência, ao medir o que ele sabe ele verifica
informações e conhecimentos e em relação à preferência verifica-se atitude, crenças e
representações.

A construção de questionário envolveu um esforço para selecionar e organizar os


conceitos principais sobre o assunto e a melhor abordagem para permitir ligações entre esses
conceitos.

O questionário aplicado foi composto de oito questões dissertativas onde os


estudantes, anônima e individualmente, registraram suas respostas. As questões foram
elaboradas de modo a exigir que os sujeitos recorressem às suas experiências prévias,
escolares ou não, relacionadas com as radiações e envolviam: a) noções básicas sobre
radiações; b) efeitos das radiações em seres vivos; c) tempo de exposição às radiações solares;
d) noções sobre radiação ultravioleta natural e artificial; e) cuidados na exposição ao Sol. O
formato de algumas questões permitiu que os estudantes dessem várias respostas, de modo
que a soma das citações excede o total de respondentes. As questões foram:

1) Você já obteve algum tipo de informação sobre o que são as radiações solares?

2) Se essa informação foi obtida na escola, lembra em qual disciplina?

3) Você acredita que esse tipo de radiação possa interferir na nossa saúde?

4) Qual a sua opinião sobre a exposição ao Sol sem proteção?

5) Você já se expôs dessa forma? Onde? Com que frequência?

6) Quais formas de proteção contra radiação solar você utiliza?

7) Para você existem horários indicados para a exposição ao Sol?

8) O que você acha sobre o uso de câmaras de bronzeamento artificiais


2.2 Investigando a abordagem do tema nos livros didáticos

Foram analisados dez livros didáticos do terceiro ano do Ensino Médio, sendo três de
Biologia, três de Física, três de Química e um de matemática.

Para as análises realizadas nessa etapa foi elaborado um roteiro, sendo este adaptado
daquele utilizado por Santos [5]. Este roteiro possui elementos que foram divididos de duas
formas: aspectos gerais e específicos. Os aspectos gerais estão relacionados à disposição do
livro, como a presença de figuras, quadros, tabelas comparativas e leituras complementares.
Já os específicos foram aqueles relacionados aos conteúdos como a análise dos conceitos
abordados e sua contextualização, qual(is) tema(s) é (são) indicado(s) como leitura
complementar e quais atividades experimentais foram sugeridas.

3. Resultados e Discussões

3.1. Investigando o conhecimento prévio dos estudantes

Importante esclarecer que dos 60 questionários distribuídos, 15 retornaram em branco,


ou seja, nenhuma resposta foi apresentada. Assim, nossos resultados e discussões foram
subsidiados por 45 questionários e estes passaram a ser 100% de nossa amostra.

Questão 1 - Você já obteve algum tipo de informação sobre o que são as radiações
solares?

Nesta primeira pergunta 30 estudantes (67%) informaram que já tiveram contato com
essa informação, 10 estudantes (23%) não tiveram essa informação e 5 estudantes (10%) não
responderam essa questão.

Já este primeiro resultado atesta a necessidade de que a temática “Radiações Solares e


suas relações” seja abordada no Ensino Médio, considerando que 23% dos estudantes
demonstram não ter informações sobre ela. Além disso, desperta interesse conhecer quais são
as informações que os 67% dos estudantes dizem possuir e buscar analisar qual foi à
participação da escola nesse processo informativo.
Contato com a informação estudada

35
67%
30
25
20
15
23%
10
10%
5
0
ját iveram contatonão tiveram contatonão responderam

O gráfico mostra a porcentagem de alunos que já tiveram contato com a informação, não
tiveram e alunos que não responderam a questão.

Questão 2 - Se essa informação foi na escola lembra em qual disciplina?

A disciplina de Física foi respondida por 36 estudantes (80%) enquanto que a


disciplina de Química foi respondida por 5 estudantes (11%). Nesta pergunta 4 estudantes
(9%) responderam que não lembravam em qual disciplina viram o tema.

Desperta atenção que os estudantes não tenham citado a disciplina de Biologia em


suas respostas e sugerimos que este fato possa indicar a escassez de informações e,
consequentemente, de conhecimento sobre os efeitos biológicos das radiações solares.
Também é possível inferir o caráter interdisciplinar do tema.

Disciplina em que foi estudada a


temática

4080%

30

20

10 11% 9%
0
física química não lembram

Gráfico da porcentagem de alunos que responderam em qual disciplina em que a temática foi
estudada.
Considerando o caráter interdisciplinar, cabe lembrar que [...] o, A CIÊNCIA, mas as
Ciências Humanas, Sociais, Exatas, da Terra, etc.; já não pretende absolutizar um
conhecimento hegemônico. Neste contexto, a ciência não pretende perder de vista a
disciplinaridade, mas vislumbra a possibilidade de um diálogo interdisciplinar, que aproxime
os saberes específicos, oriundos dos diversos campos do conhecimento, em uma fala
compreensível, audível aos diversos interlocutores.”[6]

Questão 3 - Você acredita que esse tipo de radiação possa interferir na nossa
saúde?

Dos 30 estudantes que responderam conhecer o tema, 27 estudantes (90%)


responderam que as radiações solares trazem malefícios para nossa saúde e 3 estudantes
(10%) não souberam responder. As respostas fornecidas pela maioria dos estudantes
demonstram que eles possuem a concepção de que as radiações solares causam danos à saúde
porém estes danos são principalmente relacionados à queimadura da pele. Não há nas
respostas inferência ao envelhecimento precoce, aparecimento de cataratas e aumento da
incidência do câncer da pele, efeitos esses comprovadamente associados à exposição
excessiva ao Sol. Também nada foi respondido quanto aos efeitos positivos que o Sol é capaz
de produzir nos organismos. Não houve respostas considerando a produção da vitamina D
como função da RUV do tipo B, estímulo do sistema imunológico, entre outros efeitos.

Interferência das radiações solares


na
nossa saúde
3090%
25
20
15
10

5 10%

0
radiações trazem malefícios à saúdenão souberam responder

Gráfico da porcentagem de estudantes que responderam que as radiações trazem malefícios à


saúde e estudantes que não souberam responder.
Questão 4 - Qual a sua opinião sobre a exposição ao Sol sem proteção?

Nesta pergunta algumas respostas merecem destaque principalmente pelo aspecto


contraditório evidente. Tivemos como resposta “não devemos nos proteger, pois o corpo
bronzeado é um corpo bonito”, e em outro questionário, o estudante respondeu “devemos nos
proteger, pois o Sol causa muitas queimaduras.

Foi preocupante constatar que para 18 estudantes (60%), a proteção à exposição solar
não tem a menor importância, pois “quanto mais a gente se protege menos se bronzeia e o que
a gente quer é ter uma pele bonita bronzeada”.

Mais uma vez as respostas a esta pergunta demonstram que para a maioria dos
estudantes a maior preocupação em proteção é exclusivamente contra a queimadura solar,
uma vez que nenhum outro efeito adverso foi mencionado.

Questão 5 - Você já se expôs dessa forma? Onde? Com que frequência?

Responderam afirmativamente a esta pergunta 100% dos estudantes. Interessante


analisar que os 17 estudantes que residem e estudam na zona rural expõem-se sem proteção
seja auxiliando seus pais em suas atividades ocupacionais ou seja quando vão à praia. Já os
estudantes que moram no centro e no litoral (Balneário do Cassino) praticam a exposição sem
proteção sempre que vão à praia.

Questão 6 - Quais formas de proteção contra radiação solar você utiliza?

Todos os alunos responderam essa questão, porém o que cabe ressaltar são as formas
de proteção.

Tipos de proteções contra as radiações solares


utilizado por estudantes

40 78%

30

20

10 9% 11%
2%
0
protetor solar bonés camisetas claras guardassol

Gráfico da porcentagem das principais formas de proteção contra radiação solar utilizados pelos
estudantes.
As respostas para esta pergunta, a princípio, parecem contrariar a questão anterior.
Entretanto os estudantes citaram formas de proteção que usaram eventualmente, alguns por
uma única vez e, quando utilizaram, comentaram ter sido mais por modismo do que por
proteção à radiação.

Vários sites disponibilizam informações sobre as formas de proteção acessíveis a todo


indivíduo como: Sol Amigo [7], Instituto Nacional do Câncer (INCA) [8], Sociedade
Brasileira de Dermatologia (SBD) [9], entre outros.

É inegável o serviço social que estes sites prestam a comunidade entretanto é


igualmente preocupante o fato de que, na maioria das vezes, estas informações são limitadas,
inclusive por exigência do próprio servidor. Por exemplo, o guarda-sol é apresentado como
um fator de proteção e, sem dúvida, ele é. Entretanto é importante considerar seus limites,
pois o guarda-sol protege da radiação solar incidente mas não protege da radiação refletida.
Outro exemplo são os protetores solares. Estes são considerados corretamente como a mais
efetiva forma de proteção à exposição solar, entretanto existem várias lacunas de informações
sobre a eficiência em seu uso: relacionar o tipo de pele do indivíduo com o fator de proteção
adequado, com que freqüência ele deve ser recolocado, que esteja nitidamente identificado na
embalagem que o protetor protege dos raios UVA E UVB, entre outras. Por fim, os óculos de
Sol, também apontados como fator de proteção solar, realmente desempenham esta função se
suas lentes efetivamente absorvam no espectro das radiações UVA e UVB, pois em caso
contrário, não só não protegem como, ao contrário, representam um risco maior aos olhos.

Reconhecemos que estas são informações que precisam ser efetivamente


aprendidas para serem capazes de produzirem mudanças comportamentais e, esperar que o
acesso aos sites promova essa aprendizagem, em nossa opinião, é exigir demais desse veículo.
Compactuamos com Emmons e Colditz [10] que discutem que as políticas de sucesso são
baseadas em ações eficazes dos órgãos públicos e na conscientização da população,
principalmente das crianças, através da escola e dos diversos canais de informação (rádio, TV
e internet). Neste sentido, a Austrália tem representado um bom exemplo a seguir. As escolas
australianas exigem o uso de bonés e protetores solares durante os períodos de recreio, e
durante o verão os horários de lazer são alterados para períodos de menor insolação. E como
uma das contribuições mais importantes, o governo da Austrália isentou os protetores solares
de impostos. Em pouco tempo os dividendos dessas campanhas se refletiram na redução das
taxas de crescimento do número de casos de câncer de pele com representativa economia para
o setor da saúde.

Questão 7 - Para você existem horários indicados para a exposição ao Sol?

Nesta pergunta 42 dos totais 45 estudantes (93%) sabem que existem horários certos
para a exposição ao Sol, porém apenas 4 (9%) souberam responder corretamente quais são
esses horários.

"O horário recomendado é antes das 10h e após as 16h. Já para bebês a partir dos seis
meses de idade, a exposição ao sol deve ser gradual, tanto na superfície corpórea exposta
como no tempo de exposição", alerta a professora Silmara da Costa Pereira Cestari,
coordenadora do Departamento de Dermatologia Pediátrica da SBD.

Os percentuais contraditórios apresentados nesta pergunta atestam o que o nosso grupo


de pesquisa vem discutindo; as informações existem, as pessoas tem o domínio destas
informações, porém são informações não contextualizadas, muitas vezes incompletas e
algumas vezes equivocadas, razões suficientes para não serem, de fato, incorporadas e
aprendidas. Mais uma vez atribuímos à escola essa responsabilidade.

Questão 8 - O que você acha sobre o uso de câmaras de bronzeamento artificiais?

Todos os estudantes responderam conhecer o que é um bronzeamento artificial, porém


nunca tiveram acesso ao equipamento para esse fim. Um dado relevante é que apenas 20
estudantes (44%) sabem que o uso de câmaras de bronzeamento artificial está associado à
maior incidência de câncer da pele e do envelhecimento precoce da pele. Os outros 25
estudantes (56%) consideraram o uso dessa tecnologia adequado para bronzeamento da pele,
sem preocupação com as conseqüências desta prática.

Segundo a dermatologista, Maria Bussade do Centro Médico em Alameda Lorena, o


bronzeamento artificial predispõe ao câncer da pele e ao envelhecimento cutâneo. Explica que
as câmaras são uma fonte de radiação ultravioleta A (UVA) mais potente que o UVA emitido
naturalmente pelo Sol. Os efeitos adversos ocorrem porque o UVA penetra profundamente na
pele alterando fibras elásticas e colágenas, provocando rugas, perda da elasticidade e
manchas. O fato do bronzeamento artificial não provocar eritema (vermelhidão) dá uma falsa
idéia de que esta prática não é nociva, entretanto a razão disso é que cabe ao UVB a
responsabilidade da formação do eritema e esta faixa da RUV é significativamente menor
quando comparada a incidência de UVA nas câmaras de bronzeamento.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) proibiu no Brasil o uso


de equipamentos para bronzeamento artificial de finalidade estética que utilizam tecnologia de
emissão de radiação ultravioleta. Cabe ressaltar que as câmaras foram idealizadas para fins
terapêuticos e não estéticos. A decisão da ANVISA foi embasada em dados colhidos na
audiência pública aberta por esta agência, semanas depois da divulgação de um estudo
realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, a Agência Internacional
para Pesquisa do Câncer (LARC), vinculada à OMS, em novembro de 2009, alertou para o
aumento do risco de câncer devido à utilização do equipamento, que passou de "causa
provável" para "causa concreta" de tumores de pele. Especialistas internacionais concluíram
que o risco é elevado em cerca de 80% quando se utiliza a câmara de bronzeamento antes dos
30 anos.

3.2 Investigando a abordagem do tema nos livros didáticos


3.2.1. Aspectos Gerais

Considerando a presença de figuras, quadros, tabelas e leituras complementares, esta


pesquisa atestou que a temática “Radiações Solares e seus efeitos” os nove livros analisados
mostraram-se carentes quanto aos aspectos gerais. Apenas a figura do espectro solar é
mostrada em três livros de Física e nenhum dos demais livros teve esta temática trabalhada
nas leituras complementares.
3.2.2. Aspectos Específicos

Nos livros de Física analisados, foi constatado que o conteúdo relacionado à temática
restringiu-se apenas às radiações ionizantes, ou seja, aquelas provenientes de núcleos
atômicos instáveis. Alguns dos assuntos abordados: estrutura atômica; emissões α, ß e γ;
efeitos das radiações nucleares; cinética de reações radioativas e decaimento nuclear e
algumas aplicações destas radiações. Além disso, estes livros também apresentaram
explicações sobre bomba atômica.

Por outro lado, nada é abordado sobre as radiações não ionizantes. No nosso
entendimento, essa lacuna de conhecimento vai de encontro ao fato de que a cada dia, novas
tecnologias envolvendo as radiações são desenvolvidas nos mais diversos campos da
atividade humana, possibilitando a execução de tarefas impossíveis ou de grandes
dificuldades pelos meios convencionais [11]. Sendo assim, os estudantes podem perder a
oportunidade de aprender mais sobre o que ocorre no mundo que os cerca, pelo fato de os
currículos de Física, Biologia e Química ou diretamente os conteúdos apresentados nos livros
didáticos utilizados, muitas vezes, não apresentarem os conteúdos de forma contextualizada
[12]. Schnetzler e Aragão [13] defendem que as concepções prévias dos estudantes são
resistentes à mudança e os fazem entender os propósitos do processo de ensino diferentemente
do professor. Esses autores acreditam que a evolução conceitual dos alunos se dará quando
forem levadas em consideração as concepções prévias acerca de conceitos fundamentais das
Ciências, e não o simples cumprimento do programa curricular. Corroborando com estas
idéias, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 22 de dezembro de 2006,
estabelece em seu artigo 22 que: “A educação básica tem por finalidades desenvolver o
educando, assegurar-lhe a formação comum e indispensável para o exercício da cidadania”.
Ou ainda, como é estabelecido nos PCN+, “é necessário para o estudante reconhecer e avaliar
o desenvolvimento tecnológico contemporâneo, suas relações com as ciências e seu papel na
vida humana, sua presença no cotidiano e seus impactos na vida social”.

4. Conclusões:

O presente trabalho demonstra que os estudantes possuem informações sobre os


efeitos biológicos produzidos pelas radiações solares, porém essas informações não estão
contextualizadas com suas rotinas de vida, muitas vezes são incompletas e algumas vezes
equivocadas. Também foi possível constatar que as informações de domínio dos estudantes
muitas vezes ignoram os efeitos benéficos da exposição à radiação solar. Estas constatações
podem explicar o fato do conhecimento não acompanhar uma mudança de comportamento
efetivo quanto às medidas de proteção. Pela complexidade e abrangência do tema, apostamos
na escola como a unidade competente e hábil em produzir essa aprendizagem. Acreditamos
que ao abordar o tema “radiações solares”, é condicional que o assunto seja contextualizado
com o cotidiano contemporâneo, pois assim o estudante terá mais interesse em aprender e
compreenderá alguns fenômenos e tecnologias que o cerca, no seu dia-a-dia, não perdendo o
vínculo com o conhecimento científico.

Quanto aos livros didáticos, foi possível perceber que os mesmos valorizam apenas as
radiações emitidas do núcleo de átomos radioativos (ionizantes), com suas teorias e leis de
decaimento, as quais merecem essa valorização. Por outro lado, as radiações presentes no
cotidiano do estudante não foram igualmente valorizadas por esta importante ferramenta de
ensino. Concordamos com Dias e Bortolozzi [14] que lembram o importante papel do livro
didático no contexto escolar. Segundo os autores, este é um dos recursos mais utilizados pelos
estudantes no ensino formal, sendo algumas vezes, a única ferramenta de ensino, a qual passa
a ser a verdade científica dessas instituições. Para que os livros didáticos estejam efetivamente
integrados com a realidade do estudante, compactuamos com o que discutiu Caurio [15] da
necessidade de um programa de formação continuada para os professores responsáveis por
selecionar os livros a serem disponibilizados para as escolas.

REFERÊNCIAS

[1] BERGFELD, W. F. TheRe aging skin. Int J Fertil Womens Med, Mar – Apr; 42(2): 57 -
66, 1997.

[2] DIFFEY, B. Has the sun protection factor had its day? Br Med J, 320:176-7,
2000. Site do PCN
Site do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)

[3] QUIVY,R; CAMPENHOUDT,L.(1992). Manual de Investigação em Ciências Sociais.


Lisboa:Gradiva.

[4] MOREIRA, M.A. Uma abordagem cognitivista ao Ensino de Física: a teoria da


aprendizagem de David Ausubel como sistema de referência para organização do ensino de
ciências. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1983.

[5] SANTOS, J. C.; ALVES, L. F. A.; CORRÊA, J. J.; SILVA, E. R. L. Análise Comparativa
do Conteúdo Filo Mollusca em Livro Didático e Apostilas do Ensino Médio de Cascavel,
Paraná. Ciência & Educação, Bauru, v. 13, n. 3, p. 311-322, 2007. Disponível em:
<http://www2.fc.unesp.br/cienciaeeducacao/viewarticle.php?id=471&layout=abstract>.
Acesso em: 03 de abril de 2009.

[6] ALVES, Radílda F; BRASILEIRO, MAria do Carmo E; BRITO, Suerde M. de O.


Interdisciplinaridade: um conceito em construção. In: Episteme. Porto Alegre, n.19,
p.139-
148. jul./dez.2004

[7] SOL AMIGO. Disponível em: <http://www.solamigo.com.br/> Acesso em: 12 de janeiro


de 2012.

[8] INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER. Disponível em: <http://www.inca.gov.br>


Acesso em: 10 de janeiro de 2012.

[9] INCA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA. Disponível em:


<http://www.sbd.org.br >. Acesso em: 12 de janeiro de 2012.
[10] EMMONS, K. e G.A. Colditz. Preventing excess sun exposure: It is time for
a national policy. J. Natl. Cancer I., 96(15), 1269-1270, 1999.

[11] CARDOSO, E. M. Aplicações da Energia Nuclear: Apostila educativa.


Disponível em: http://www.cnen.gov.br/ensino/apostilas/aplica.pdf. Acesso em 22
de abril de 2008.

[12] PEREIRA, O. da S. Raios cósmicos: introduzindo Física moderna no 2ºgrau.


(Dissertação de mestrado em Ensino de Ciências) São Paulo: Instituto de Física e
Faculdade de Educação – USP, 1997.

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