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Resumo:
Introdução: Nas últimas décadas, o câncer de pele tem sido cada vez mais reconhecido como
uma grande preocupação mundial de saúde pública. Estima-se que ocorram cerca de 2 a 3
milhões de casos de câncer de pele não melanoma e 132 mil casos de melanoma em todo o
mundo a cada ano ambos tem aumentado na última década. A exposição à radiação
ultravioleta (UV) é o fator de risco ambiental mais significativo para todos os tipos de câncer
de pele. Portanto, a prevenção do câncer de pele se concentra na limitação da exposição aos
raios UV pelos comportamentos protetores do sol. A necessidade de uso dos protetores
solares pelos humanos tornou-se uma prática frequente nos últimos anos, tendo em vista o
aumento dos índices de raios ultravioleta na terra e as consequências da exposição da pele a
essa radiação. A eficácia de um protetor solar é medida em função de seu fator de proteção
solar (FPS), o qual indica quantas vezes o tempo de exposição ao sol, sem o risco de eritema,
pode ser aumentado com o uso do protetor. Objetivo: Analisar os efeitos cutâneos da
radiação ultravioleta e a importância do uso de filtro solar na prevenção do
fotoenvelhecimento precoce e cânceres de pele. Métodos: O presente estudo trata-se de uma
revisão sistemática descritiva com análise qualitativa. A pesquisa foi realizada base de dados
Pubmed e Medline. No período de fevereiro a junho de 2017, no idioma inglês e português.
Conclusão: A exposição à radiação ultravioleta sem proteção adequada está relacionada ao
envelhecimento precoce da pele bem como o desenvolvimento de cânceres de pele do tipo
melanoma e não melanoma. Concluímos que é de extrema importância à utilização diária
quantidades adequadas (1mg/cm2) de protetores solares para prevenção dos efeitos danosos da
RUV na pele. Recomendamos que toda a população independente do fototipo de pele, idade
ou localização geográfica.
1 INTRODUÇÃO
*
Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso Tecnologia em Cosmetologia e Estética da
Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Tecnólogo em
Cosmetologia e Estética
**
Acadêmicas do curso de Tecnologia em Cosmetologia e Estética da Universidade do Sul de Santa Catarina.
eduardamartendal21@gmail.com | julindabrandes@gmail.com
***
Orientadora: Prof. Francine Elisabeth Schutz, Mestre, Palhoça, 2018.
2
O sol é essencial para a vida na terra e seus efeitos sobre nós dependem das
características individuais da pele exposta, intensidade, frequência e tempo de exposição,
fatores estes que dependem da estação do ano, localização geográfica, período do dia e
condição climática. A radiação solar proporciona inúmeros benefícios aos humanos, como
sensação de bem-estar físico e mental, estímulo à produção de melanina com consequente
bronzeamento da pele, tratamento de icterícia (cor amarela da pele e do branco dos olhos de
bebês, causada devido excesso de bilirrubina no sangue), entre outros. Porém, a radiação solar
também pode causar prejuízos ao organismo, caso não se tome os devidos cuidados quanto à
dose de radiação solar recebida (AMARO-ORTIZ, YAN, D'ORAZIO, 2014).
O espectro solar que atinge a superfície terrestre é formado predominantemente por
radiações ultravioletas, visíveis e infravermelhas. O corpo humano percebe a presença destas
radiações do espectro solar de diferentes formas. A radiação infravermelha (IV) é percebida
sob a forma de calor, a radiação visível através das diferentes cores detectadas pelo sistema
óptico e a radiação ultravioleta (UV) através de reações fotoquímicas. Essas reações podem
estimular a produção de melanina cuja manifestação é visível sob a forma de bronzeamento
cutâneo, ou pode levar desde a produção de simples inflamações até graves queimaduras.
Além do risco aumentado de desenvolvimento de cânceres (TUORKEY, 2015).
O Instituto Nacional do Câncer estima que mais de 180.000 novos casos de câncer de
pele foram diagnosticados em 2017, correspondendo a um risco estimado de 100,8 novos
casos para cada 100 mil homens e 82,2 para cada 100 mil mulheres. É o câncer mais
prevalente, representando mais de 32% do total de novos casos de câncer diagnosticados no
país (INCA, 2017).
Para tanto, o objetivo do presente trabalho foi realizar revisão da literatura para avaliar
a importância do filtro solar, além de analisar os efeitos cutâneos da radiação ultravioleta. O
levantamento bibliográfico foi realizado na base de dados Pubmed e Medline, por meio das
seguintes palavras-chaves: UV radiation, sunscreen, chemical filter and physical filter. As
buscas foram feitas no período de fevereiro a junho de 2017, no idioma inglês e português.
2 MÉTODOS
língua inglesa: UV radiation, sunscreen, organic and inorganic UV filters. Como critérios de
inclusão artigos disponíveis com texto completo e de forma gratuita, e que se encaixam no
contexto da pesquisa. Foram excluídos artigos que não estavam disponíveis na íntegra.
3 RESULTADOS
Diagrama 01: Pesquisa bibliográfica de artigos sobre radiação ultravioleta e filtro solar. A triagem baseada nos
títulos e resumos foi conduzida utilizando as seguintes palavras-chave: UV radiation, sunscreen, chemical filter
and physical filter.
4 DISCUSSÃO
de filtros solar inorgânicos, filtros solar orgânico e ainda a correlação do uso de filtro solar e
deficiência de vitamina D.
A energia emitida pelo sol é transmitida na forma de ondas eletromagnéticas. A
radiação ultravioleta, nome dado à faixa do espectro eletromagnético entre 100 e 400 nm,
corresponde a menos de 10% da radiação solar total incidente no topo da atmosfera. Esta
pequena faixa de radiação espectral é subdividida, segundo recomendação da Comissão
Internacional de Iluminação (CIE), em: UVC, entre 100 e 280 nm; UVB, entre 280 e 315 nm;
e UVA, entre 315 e 400 nm permanecendo mais de 90% da radiação solar praticamente
corresponde ao espectro visível (400-780 nm) e próximo espectro infravermelho (780-4000
nm) (SLINEY, 2007).
Os níveis de RUV observados na superfície dependem da variabilidade dos
componentes atmosféricos, como gases, aerossóis e nuvens; parâmetros geográficos, como
latitude, longitude, altitude e capacidade de superfície para refletir RUV; e, finalmente,
parâmetros temporais, como a hora do dia e a data. A maior parte do território brasileiro está
localizada nas regiões tropicais e subtropicais do hemisfério sul, onde a disponibilidade de
radiação solar é bastante elevada e as concentrações de ozônio são naturalmente menores
(TUORKEY, 2015).
A exposição à radiação ultravioleta solar (RUV) traz benefícios psicológicos e
físicos, principalmente relacionados à síntese de vitamina D e prevenção de doenças como
osteoporose, doenças autoimunes entre outras. Por outro lado, a exposição excessiva a esse
tipo de radiação é responsável por diversos distúrbios oculares, como catarata e pterígio, além
de desordens da pele, entre as quais a queimadura solar, o envelhecimento cutâneo precoce e
câncer de pele do tipo não melanoma (CORREA, 2015).
Diante dos efeitos antagônicos proporcionados pela exposição solar, uma das
principais controvérsias está relacionada ao tempo necessário para que os efeitos benéficos
ocorram sem danos à saúde. Ou seja, para a síntese de uma quantidade significativa de
vitamina D sem danos à pele e olhos. O que geralmente acontece no Brasil e na América do
Sul é que as recomendações são baseadas em estudos e medidas de RUV mensuradas no
hemisfério norte, principalmente nos EUA e na Europa. Estas condições geográficas e
climáticas são muito diferentes da nossa realidade tropical e subtropical (DARIO, BABY,
VELASCO, 2015).
A radiação UV de ocorrência natural é o mutagênico ambiental responsável pela
maior porcentagem de patologias cutâneas induzidas pelo ambiente, incluindo eritema e
inflamação, alterações degenerativas do envelhecimento e câncer. Os seres humanos são
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Figura 01: A radiação UV na luz solar do ambiente é composta principalmente de energia UVA e UVB. A
maioria dos raios UVC são absorvidos pela camada de ozônio, portanto, embora seja altamente bioativo, os
organismos terrestres não são expostos a níveis significativos de UVC. UVB pode causar danos diretos ao DNA
e atingir a epiderme. A radiação UVA pode penetrar na derme e aumentar os níveis de radicais, induzindo
indiretamente a mutagênese do DNA. Fonte: adaptado de AMARO-ORTIZ, YAN, D'ORAZIO, 2014.
A exposição aos raios UV pode representar até 80% dos sinais visíveis de
envelhecimento da pele, incluindo a aparência seca, descamação, o enrugamento e a
pigmentação prejudicada, e o fotoenvelhecimento correlaciona-se com o risco de câncer. O
fotoenvelhecimento cutâneo e o risco de melanoma correlacionam-se com a idade e a
exposição aos raios UV. A idade média do diagnóstico de melanoma é de cerca de 55 e
incidência varia em todo o mundo de cinco para mais de 60 casos por 100.000 pessoas por
ano. Embora o melanoma seja uma neoplasia maligna diagnosticada principalmente na quinta
e sexta década de vida, 1/5 dos casos ocorre em adultos jovens. É importante notar, no
entanto, que a exposição e acumulação de danos no DNA provocados pela RUV os quais
fundamentam a formação de melanoma começam com a exposição ao sol no início da
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juventude, razão pela qual a proteção solar nos anos de idade pediátrica é tão importante
(KRUTMANN, MORITA, CHUNG, 2012).
Os protetores solares fornecem proteção temporária contra a radiação UV. Os filtros
solares são compostos por ingrediente ativo e veículo. De acordo com a natureza química e as
propriedades físicas dos ingredientes ativos, atenuam a ação da RUV por mecanismos de
absorção (orgânicos), dispersão e reflexão (inorgânicos). A classificação antiga incluía filtros
solares físicos e químicos; atualmente, são divididos em inorgânicos e orgânicos, na
dependência do ingrediente ativo (KULLAVANIJAYA, 2005).
A ANVISA regulamentou a comercialização dos filtros solares, a partir de 2002,
como cosmético categoria 2, ou seja, devem ser registrados antes da comercialização, pela
apresentação de estudos que comprovem sua eficácia fotoprotetora e resistência à água
(ANVISA, 2002).
Filtros orgânicos exercem seus efeitos protetores ao absorver fótons de alta
energia da radiação UV. A energia absorvida é transmitida aos elétrons, que saltam para um
estado excitado e, ao retornar ao estado fundamental, liberam sua energia na forma de calor
ou luz em maior comprimento de onda. Filtros orgânicos são compostos aromáticos que
funcionam absorvendo a luz UV (Figura 02). A maioria absorve a radiação UVB, alguns
absorvem na faixa UVA2 (320–340nm) e há apenas um protetor solar orgânico aprovado pela
FDA, a avobenzona, que absorve na faixa de UVA1 (340–400nm) (MANCEBO, HU,
WANG, 2014).
O ácido P-aminobenzóico foi o primeiro filtro UV disponível nos Estados Unidos,
porém apresentava muitas propriedades indesejáveis. Era conhecido por seu potencial de
causar dermatite fotoalérgica, dermatite de contato e manchas. Novas gerações de filtros
orgânicos melhoraram a segurança e os perfis sensoriais e estenderam a cobertura para a faixa
UV-A. Atualmente, existem 15 filtros UV orgânicos aprovados para uso nos Estados Unidos
(Quadro 3).
Neste momento, a avobenzona é o único filtro orgânico aprovado pelo FDA que
tem proteção UV-A de longo alcance (340-400 nm). A avobenzona é conhecida por ser
intrinsecamente instável e degrada após 1 hora de exposição aos raios UV. Para manter sua
eficácia, ele deve ser combinado com um fotoestabilizador, que facilita a transição de um
estado excitado de volta para o estado fundamental.
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Figura 02: Mecanismo de ação dos filtros solares. Os filtros UV orgânicos absorvem energia da radiação UV,
fazendo com que os elétrons do filtro saltem para um estado excitado. Ao retornar ao estado fundamental, a
energia é liberada na forma de calor ou luz em maior comprimento de onda. A transição de volta ao estado
fundamental tem o potencial de causar modificações químicas, resultando em filtros menos eficazes para filtrar a
luz UV. Filtros UV inorgânicos podem absorver, refletir e espalhar a luz UV. Em comparação com os filtros
orgânicos, esses produtos são mais estáveis à degradação da exposição aos raios UV. Fonte: adaptado de
MANCEBO, HU, WANG, 2014.
Em filtros solares "físicos", o ingrediente ativo é um composto inorgânico que
funciona refletindo fisicamente ou espalhando a radiação UV. O óxido de zinco (ZnO) e o
dióxido de titânio (TiO2) são os únicos filtros UV inorgânicos aprovados para uso nos Estados
Unidos. As primeiras gerações desses produtos não tinham popularidade por causa de falhas
inerentes em seus perfis sensoriais. Esses produtos de primeira geração continham partículas
maiores com índices de refração mais altos, resultando em uma camada branca espessa que
apresentava baixa dispersão de partículas e potencial comedogênico (WANG, BALAGULA,
OSTERWALDER, 2016).
Nas últimas décadas, os fabricantes modificaram formulações para incluir ZnO e
TiO2 micronizados e nanométricos, que dispersam menos luz visível e criam filmes mais
transparentes que fornecem melhor aparência cosmética (MITCHNICK, FAIRHURST,
PINNELL, 2009). A redução no tamanho das partículas também levou a mudanças no perfil
de absorção. O TiO2 nanométrico tem uma capacidade aprimorada de absorver luz UV na
faixa UV-B (isto é, 290– 320 nm). No entanto, este aumento na absorção de UV-B pode
resultar em menor proteção contra radiação UV-A e perda potencial de cobertura de amplo
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espectro. Em comparação com filtros orgânicos, esses filtros são menos suscetíveis à
degradação de UV exposição e têm menor potencial de causar reações alérgicas (WANG,
TOOLEY, 2016).
Quadro 03: Filtros de luz ultravioleta aprovados pelo FDA para uso nos Estados Unidos. Fonte: adaptado de
Macembo et al, 2014.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o protetor solar deve ser
aplicado 20 minutos antes da exposição ao sol com reaplicação cada segunda hora e repetido
após nadar ou tomar banho. A proteção conferida pelo filtro solar é expressa como o fator de
proteção solar (FPS), que é o fator pelo qual a dose de exposição ao sol pode ser aumentada
antes que o eritema cutâneo se desenvolva (OMS, 2018).
A dose mínima de eritema (MED) é a dose de RUV necessária para provocar
eritema apenas perceptível. O FPS é calculado a partir da fórmula:
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sendo assim, filtros não são somente cosméticos e sim protetores eficazes contra
radiações ultravioletas em diversas situações. Desta forma, tais filtros são uma necessidade
diária para toda a população, independentemente do fototipo de pele, idade, localização
geográfica, em virtude da proteção contra a queimadura solar, evitando o fotoenvelhecimento
precoce da pele e a degeneração tecidual antiestética, além de impedir o agravamento de
doenças preexistentes específicas. Porém existem alguns pontos negativos tais como:
desenvolve uma coloração opaca e esbranquiçada sobre a pele aplicada, sendo assim
favorável para desenvolvimento de comedões, manchando as vestimentas, assim implicando
no seu fator de proteção.
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