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Ano 2, Nº 9
Líder
Produzida por Teólogos da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Imagens:
As imagens usadas nesta publicação são de livre acesso na Internet, ou foram cedidas pelo
proprietário. Caso contrário aparecerá, ao lado da imagem, a referência ao seu autor.
Coordenadores:
Rev. Dieter Joel Jagnow (editor) Rev. David Karnopp
Rev. Jarbas Hoffimann (diagramador) Rev. Mário Rafael Yudi Fukue
Rev. Tiago José Albrecht Rev. Waldyr Hoffmann
Diagramador:
Rev. Jarbas Hoffimann — diagramador.rt@gmail.com
Facebook
www.facebook.com/pages/Revista-Teologia-Prática
Twitter
@revistateologia
Colaborações:
Os textos a serem publicados na revista devem ser enviados ao editor
Contato/Editor:
revistateologia@gmail.com
Apresentação da Revista
Eletrônica Teologia & Prática
A revista Teologia & Prática é uma iniciativa de pastores da Igreja Evangélica
Luterana do Brasil (IELB). Ela não tem caráter oficial. Seu objetivo básico é coletar e
compartilhar periodicamente, de forma organizada, via Internet, textos teológicos/
pastorais, inéditos ou não, produzidos por pastores da IELB e que regularmente cir-
culam em listas da Igreja. Além disso, procura recuperar textos teológicos escritos no
passado e que não estão disponíveis na Internet. Um objetivo subjacente é a inten-
ção de divulgar de forma mais abrangente a teologia evangélica luterana confessional
e a reflexão teológica na IELB. Além de possibilitar a reflexão teológica, a revista quer
ser uma ferramenta prática para as atividades ministeriais em suas diferentes áreas.
Critérios
1. A produção da revista Teologia & Prática é coordenada por um grupo de voluntários,
teólogos da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) e tem quatro edições anuais.
2. Após o fechamento, o arquivo da revista é colocado em uma (ou mais) plataforma na
Internet, onde pode ser lido online ou baixado.
3. Um blogue (www.revistateologia.blogspot.com) serve de apoio para as edições, a fim
de possibilitar a sua divulgação pelos mecanismos de busca da Internet. A revista tam-
bém possui uma página no Facebook (www.facebook.com/pages/Revista-Teologia-
-Prática) para divulgação e interação.
4. A produção da revista é aberta aos teólogos da Ielb (ativos ou não) interessados em
compartilhar seus textos (meditações, estudos homiléticos, sermões, resenhas, en-
saios, palestras, composições musicais, monografias, etc.), inéditos ou não. Cada autor
é responsável pelo seu texto (doutrinária, gramática e ortograficamente). As colabora-
ções devem ser enviadas para revistateologia@gmail.com
5. Os responsáveis pela coordenação podem recusar algum texto — ou solicitar que seja
revisado. Não são aceitos textos de conteúdo político-partidário, que promovam o ódio
ou a discriminação, ou que firam as Escrituras e os princípios e valores da IELB.
6. A publicação das colaborações não é por ordem de chegada. Os organizadores tentam
variar os conteúdos em uma edição e em edições subsequentes. Ademais, uma ou
outra edição pode ser temática, razão porque determinado texto pode ser preservado
para edição futura. Caso solicitado, os responsáveis informam ao autor a situação de
cada texto recebido.
Nota:
a) A produção da revista Teologia & Prática é feita por voluntários. Nem sempre é pos-
sível cumprir os prazos. Por esta razão, precisamos de mais voluntários, tanto para a
produção como a organização e a divulgação do material. (Se você quer colaborar, use
o e-mail revistateologia@gmail.com)
b) Para facilitar a leitura online, a partir desta edição a RT vem com uma diagramação
diferente das edições anteriores, com menos imagens e mais texto.
c) Também a partir desta edição vem num formato diferente do que as edições anterio-
res, já prevendo a leitura em mídias recentes, como os tablets.
Artigos
Aborto de anencéfalos — Ismar Lambrecht Pinz, p. 138
Abuso Sexual — Ismar Lambrfecht Pinz, p. 45
A Rainha do Reino Unido — Ismar Lambrecht Pinz, p. 23
Direto ao Ponto — Marcos Schmidt, p. 139
Mãe responsável, filhos obedientes — Fernando Emílio Graffunder, p. 129
Nudez exposta — Marcos Schmidt, p. 131
O perigo da ostentação — Fernando Emílio Graffunder, p. 113
Salvação do meio ambiente — Marcos Schmidt, p. 57
Trabalho sem avareza nem preguiça — Ismar Lambrecht Pinz, p. 137
Evangelismo
Proselitismo — Horst R. Kuchenbecker, p. 46
Homilética
A pregação e o Pregador — Dieter Joel Jagnow, p. 24
Liderança Cristã
O Espírito Santo, a liderança cristã — Leandro Daniel Hübner, p. 74
O pastor equipando leigos como aconselhante de pessoas — Martinho
Rennecke, p. 58
Liturgia
Período de Pentecostes — Jarbas Hoffimann, p. 132
Livros Bíblicos
A relação do livro de Jó com a riqueza e a pobreza — Cláudio Ramir
Schreiber e Mauro Sérgio Hoffmann, p. 114
Resumo de Obra
Fé ativa no amor — Leandro Daniel Hübner, p. 6
Santa Ceia
Dignidade e proveito da Santa Ceia — Otávio A. Schlender, p. 86
Simbologia
Santíssima Trindade — Jarbas Hoffimann, p. 130
Resumo de Obra Rev. Leandro Daniel Hübner
Fé ativa
no amor
1. Introdução blicação das 95 teses. Suas cartas na
época indicam que eles estava preo-
inspiração que guia o herói e é a base te estas ordens são afetadas pelo pe-
para seu sucesso, não pode ser herda- cado, o que as torna onerosas e di-
da e não passa de geração a geração fíceis. Por serem ordens divinas, elas
como numa sucessão real. sentirão sempre o ímpeto do ataque
Resumindo, as ordens naturais do diabo, mas de uma maneira ou
de Lutero estavam baseadas para outra elas permanecerão até o fim
todos os propósitos práticos na lei do mundo.
natural e na razão. Elas ajudavam a Lutero explica que o ponto de
explicar o mundo e as forças que o contato entre o reino secular e o
preservavam de uma forma ordena- espiritual existe na pessoa do cris-
da, mas elas não revelam Deus e não tão individual. O evangelho em si
têm valor soteriológico. não pode ser usado para governar o
Um cristão sempre é um membro mundo, porque ele é o evangelho e
das ordens naturais, se bem que estas exige uma resposta voluntária do ho-
ordens não possam ser outra coisa mem. Ele deixaria de ser evangelho
senão ordens pecaminosas, infecta- se se transformasse em uma nova lei.
das e envolvidas no pecado. Mas através da pessoa do crente, que
Também a razão é sempre razão está conectado com Cristo através
corrupta. Ela não é apenas incapaz do evangelho e que é simultanea-
de conhecer a Deus, mas também é mente um membro das ordens na-
incapaz de apreciar as obras de Deus. turais, a fé ativa no amor penetra na
Como as ordens naturais estão ordem social.
completamente envolvidas no peca- Lutero afirma que o mundo é
do, Deus lida com os cristãos através preservado por causa da ordem e dos
dos Seus meios da graça, da palavra e mandamentos de Deus e das orações
dos sacramentos, mas ele lida com a dos cristãos. Deus quer que o cristão
humanidade em geral através das or- assuma sua total responsabilidade
dens naturais com elas se expressam no mundo. Ele pode se tornar um
na natureza e na história. líder nos setores seculares e até mes-
Assim, o princípio da ética social mo portar a espada.
de Lutero é o seu conceito das or- O cristão no mundo vive com
dens naturais. Ele as descreve como o propósito de ajudar e através de
sendo divinamente ordenadas e sua existência protege o próximo da
como tendo a sua fonte na vontade destruição. Para transformar a socie-
preservadora de Deus. Naturalmen- dade, Cristo usa o cristão individual
que vive uma vida de fé neste mundo esperar tal mudança em um estágio
de descrença. No crente os reinos se- tão tardio da história humana, isto
cular e espiritual se encontram. é, sua expectativa do fim iminente
Longe de tornar o cristão irre- deste mundo.
levante para a ordem social, Lutero A convicção de que a história
tornou possível que a verdade cristã havia chegado ao fim e que a segun-
absoluta estivesse sempre disponí- da vinda de Cristo era iminente fez
vel à sociedade, e isto não através com que Lutero visse todas as tenta-
de uma organização hierárquica ou tivas de reformar a sociedade como
de uma interpretação legal do evan- simples esforços de reparar uma or-
gelho, mas através do santo cristão, dem social que estava destinada a
isto é, do pecador salvo pela graça, um colapso bem próximo.
ativo no mundo como um instru- Lutero sentia que o trabalho de
mento do propósito preservador e remendar e reparar a sociedade era
salvador de Deus. importante, mas que em vista do
fim próximo, não via necessidade de
7. O Princípio grandes reformas, pois os cristãos es-
Limitante. peravam um lar novo e maravilhoso.
Tudo o que Lutero ensinou e fez
Lutero sentiu frequentemente era em sua própria mente uma ten-
que a ordem social necessitava de tativa de preparar os homens para o
uma reforma, mas era muito relu- vindouro reino de Deus. Tanto os
tante em liderar uma radical refor- cavaleiros como os camponeses es-
ma social. A chave para entender peravam que Lutero se tornasse seu
esta relutância era a firme convicção líder social, mas ele estava totalmen-
de Lutero de que não era bíblico te disposto a melhorar a situação de-
a pessoa que considera este mundo contra os turcos, não podia ofendê-
o seu lar real. -los através da destruição da sua li-
Mas quais eram as causas para as berdade religiosa.
fortes expectativas escatológicas de Mesmo assim, para Lutero os tur-
Lutero? Examinando a história, ele cos eram outra indicação do fim imi-
achava que o governo do Anticristo nente do mundo. Também neles ele
havia iniciado neste mundo e que as- via o poder do Anticristo. Ele acon-
sim o fim era iminente. Dois fatores selhava que as defesas contra o papa
o fizeram concluir isto: o poder do e o turco devem andar juntas, pois
papa e o poder dos turcos. ambos eram expressões do poder do
Desde 1519 Lutero começou diabo. Dizia que os cristãos deviam
a pensar que o para poderia ser o orar contra o diabo, o papa e o turco.
Anticristo e em 1521 isto se tornou Para ele, ambos se complementavam
uma convicção para ele. Ele observa- em seus esforços para destruir a igre-
ra vários sinais bíblicos sobre o An- ja de Cristo: “O turco enche o céu
ticristo que se aplicavam ao papado, com cristãos assassinando os seus
mas o mais claro de todos era o fato corpos, mas o papa faz todo o pos-
do papa alegar que era o cabeça da sível para encher o inferno com cris-
igreja. Contra isto ele disse: “O papa tãos através dos seus ensinamentos
não é o cabeça da igreja; se fosse as- blasfemos.” Por seus estudos, Lutero
sim, a igreja seria um mostro de duas concluiu que os turcos eram o mes-
cabeças, pois apenas Cristo é o cabe- mo que Gogue (Ez 38, Ap 20).
ça da igreja, como diz São Paulo. Em Como olhava para o mundo com
verdade, o papa é o cabeça da falsa tal perspectiva escatológica, Lutero
igreja do diabo”. À parte de sua ani- não podia esperar a solução dos pro-
mosidade pessoal, esta posição sobre blemas históricos do mundo através
o papado era uma sincera convicção das atividades políticas normais dos
teológica de Lutero. participantes humanos deste drama.
A convicção de Lutero de que o E qual então deveria ser a atitude do
mundo estava próximo do fim era cristão em relação ao juízo final, ao
reforçada pelo surgimento do pode- fim do mundo?
rio militar do império turco. De cer- O cristão deve permanecer sem-
ta maneira a ameaça turca ajudou a pre pronto para este último dia.
Reforma, pois Carlos V, necessitan- Toda a sua vida deve ser vivida em
do dos príncipes evangélicos na luta direção a este dia. Toda a história é,
para Lutero, simplesmente a vida en- unidos com outros mortais como
tre os tempos (da ascensão de Jesus Deus nos aglomerou, servindo-nos
até o dia do juízo final). Para Lutero, reciprocamente.”
esquecer este dia ou recusar-se a orar
por ele não seria nada menos do que 8. Conclusão.
rejeitar o reino de Deus. Não desejar
o dia do juízo é o mesmo que não de- A maioria das discussões sobre a
sejar o Reino de Deus. ética social de Lutero são caracteri-
Assim, se bem que disposto a fa- zadas por duas tendências divergen-
zer o possível para ajudar no estabe- tes. Elas procuram mostrar que Lu-
lecimento da melhor ordem social tero nem tinha uma ética social, já
viável em um mundo moribundo, que ele colocava a sociedade fora da
Lutero era incapaz de esperar que influência do evangelho cristão; ou
esta sociedade fosse algum dia o rei- que a sua ética social era puramen-
no de Deus. te pragmática, aceitando a ordem
Sua esperança na iminente so- social dos seus dias e contribuindo
lução de Deus para todos os pro- assim para o crescimento do capita-
blemas humanos é o princípio li- lismo e do nacionalismo.
mitante da ética social de Lutero. Vimos, no entanto, que o pen-
Em um sermão sobre o tema, entre samento social de Lutero deve ser
outras coisas, ele diz (sermão sobre compreendido como uma parte in-
1Pe 2.11-20): “Cristãos deveriam tegral do seu pensamento global e
estar conscientes da sua cidadania no contexto da sua visão completa
em um país melhor, para que se pos- da vida.
sam adaptar assim corretamente a Assim, pode-se obter as seguin-
este mundo. Não devem ocupar a tes percepções sobre a ética social de
vida presente como se pretendessem Lutero:
permanecer nela; nem agir como I. Sua abordagem aos problemas
os monges, que fogem da respon- éticos é existencial, não legal. O va-
sabilidade, evitando o ofício civil e lor de uma ação depende completa-
tentando escapar deste mundo. Pois mente do papel que ele desempenha
Pedro diz que não devemos escapar em auxiliar ou obstaculizar a relação
dos nossos próximos e viver cada um do indivíduo com Deus em Cristo.
para si, mas que devemos perma- II. A força motivadora de toda
necer nas nossas diversas vocações, ética cristã é o amor de Deus. A fé
A pregação
eo
pregador
Na exposição do Novo Testamento por Martinho Lutero
Este estudo é uma tradução de “The Preaching and the Preacher in Luther´s Exposition on the New Testament.”
Trata-se de uma pesquisa apresentada à disciplina Seminar in Practical Theology, do curso de Mestrado em
Sagrada Teologia do Concordia Seminary, Saint Louis, EUA, em fevereiro de 1991, sob a coordenação do professor
Wayne W. Schmidt. Alguns pequenos ajustes foram feitos na tradução.
Parte 1
A Pregação
Nesta primeira parte do estudo,
iremos ver o que Lutero tem a dizer
sobre a pregação em sua exposição
do Novo Testamento. Seus pensa-
mentos podem ser considerados do
dor.
A sua argumentação sobre mu-
lheres como pregadoras aparece
logo no começo do sermão. A pas-
sagem bíblica básica que ele utiliza é
o primeiro versículo de João 10: “Je-
sus disse: Eu afirmo a você que isto é
verdade: quem não entra no curral
das ovelhas pela porta, mas pula o
muro é um la-
drão e bandido.”
Todos os
cristãos têm a or-
dem de pregar, ele
diz. Isto está claro em 1
Pedro 2.9,10. Todavia, os
que querem ser pregadores (ou
ministros) precisam ser regular-
te alguma coisa que alguém possui mente chamados e indicados.
ou faz por si mesmo; tudo pertence No segundo ponto de sua expo-
a todos. Assim, o ministro pastoral sição, Lutero pergunta: Se todos os
prega pela “comissão” dos membros, cristãos tem esta autoridade de pre-
e quando ele faz isto, não é obra sua, gar, o que dizer das mulheres? Isto
mas em favor de toda a congregação. deveria ser permitido a elas? Não,
Considerando o fato do sacerdó- não assim, ele responde. De acor-
cio de todos os crentes, uma pergun- do com 1 Coríntios 14.34, Lutero
ta necessária é: uma mulher poderia continua, as mulheres não podem
ocupar este ofício, ser pregadora? se postar à frente como pregadoras
Lutero lida com a questão em dois em uma congregação de homens.
diferentes sermões: João 10.10 e 1 Ao contrário, elas deveriam estar su-
Pedro 2.1-5. jeitar aos seus maridos, aprender em
O sermão baseado em João foi silêncio, com toda a submissão (cf. 1
pregado por Lutero em 1522. É um Timóteo 2.11,12).
dos seus sermões mais importantes Mas existe uma exceção, ele con-
acerca do ofício do ministério, par- tinua: “Se acontecesse... que ne-
ticularmente do pastor como prega-
28 | RT | Fevereiro a Junho, 2012
Lutero
Pregando sobre Atos 9.1-22, Lu- pergunta “por que razão Cristo tem
tero diz: sido tão cuidadoso em ordenar a
Pois nosso Senhor não tem a pregação da sua Palavra”? O Refor-
intenção de fazer alguma coi- mador responde em sua exposição
sa especial por qualquer um, de Hebreus 3.13: porque a Palavra
mas ele dá o seu Batismo e o seu de Deus é a única forma de fortale-
Evangelho para o mundo todo, cer o coração de uma pessoa; é um
tanto para uma como para pão celestial, que é dado por meio da
outra pessoa. Assim podemos pregação.19 Ideia semelhante Lutero
aprender como devemos ser sal- expressa em sua exposição de 1 Pe-
vos; e não devemos esperar para dro 2.1-5.20
ver se Deus vai fazer alguma A seguinte citação direta de Lu-
coisa nova ou enviar um anjo tero pode servir um resumo do seu
do céu. Pois o que ele quer é que entendimento sobre a pregação e o
ouçamos o Evangelho daqueles pregador:
que o pregam.17 Meu ofício, e o de cada prega-
dor e ministro, não consiste em
Como fica evidente, para Lutero qualquer tipo de senhorio, mas
ofício do ministério tem a função de servir a vocês todos, para que
de servir a todos os seres humanos. aprendam a conhecer a Deus,
Este serviço pode ser realizado por sejam batizados, tenham a
meio de ensino, instrução e exor- verdadeira Palavra de Deus, e
tação usando a Palavra de Deus. E, finalmente sejam salvos... tra-
diz Lutero, ele deve ser oferecido a zer vocês, junto comigo, sob um
todos livre e gratuitamente.18 só Senhor, que é chamado de
Outro aspecto relacionado com Cristo. Além deste serviço, não
o propósito da pregação também busco mais nada.21
é mencionado por Lutero: que ela
é instrumento para fortalecer a fé 19 Lutero, Lectures on Titus, Philemon,
dos filhos de Deus. Respondendo a and Hebrews. Pelikan, Jaroslav, ed.
Saint Louis: Concordia, 1967. AE,
vol. 29, pág. 154. Lutero lecionou sobre
17 What Luther Says, vol. II. Plass, Hebreus de abril de 1517 a março de
Ewald, ed. Saint Louis: Concordia, 1518.
1959, pág. 951. 20 Lutero, AE, vol. 30, pág. 52
18 Ibid., pág 951. Em um sermão pregado 21 What Luther Says, op. cit., págs. 924,
por Lutero em 5 de dezembro de 1917, 925. Em um sermão baseado em Ma-
com base em Mateus 20.24-28. teus 20.24-28 e pregado por Lutero em
João 3.34, ele diz que Deus tem duas irá operar a sua obra nela por
formas de enviar: direta e indireta- meio de pregadores.26
mente. Ele usou a primeira forma de
envio quando chamou os profetas e Sendo27 instrumento de Deus,
apóstolos. A segunda é utilizada por continua Lutero, o pregador é, natu-
Deus por meio de instrumentalida- ralmente, um “anjo”. Claro, ele não
de humana.24 Isto significa que um é um “anjo” no sentido espiritual,
chamado legítimo feito por uma mas um “mensageiro de Deus”. Isto
congregação (veja Parte I, 1.) tem o significa que o pregador apenas é
mesmo valor como se tivesse feito um canal por meio do qual Cristo
pelo próprio Deus.25 transmite o seu Evangelho, do Pai
para o povo. Por conseguinte, a “lín-
2.1.2. O pregador como gua, a voz, as mãos, etc. são de um
instrumento de Deus ser humano; mas a Palavra e o minis-
tério são, de fato, da própria Divina
Se o pregador é chamado pelo Majestade.”28
próprio Deus, então ele é um instru- Lutero expande esta argumen-
mento, um veículo dele, diz Lutero. tação em sua exposição de 1 Pedro
É claro que Deus pode fazer todas 3.19-22,onde diz que o próprio Jesus
as coisas sem a instrumentalidade vem e está espiritualmente presente
humana, mas ele não tem a intenção sempre que o pregador proclama as
de fazer isto. Ele quer usar a Palavra suas Palavras. Cristo fala e prega aos
externa e quer corações das pessoas no mesmo mo-
... empregar pregadores como mento em que o pregador entrega as
assistentes e colaboradores suas palavras de forma oral e física às
para executar o seu propósito
por meio das palavras deles... 26 What Luther Says, op. cit., vol. III,
Como, então, os pregadores pág. 1118. Citado de um sermão prega-
do por Lutero com base em 2 Coríntios
têm o ofício, o nome, a honra 6.1-10
de serem assistentes de Deus, 27 Lutero, AE, vol. 30, pág. 177. No comen-
nenhuma pessoa é tão letrada tário de Lutero sobre 2 Pedro 2.6, em
janeiro de 1523.
ou santa que possa negligenciar 28 Lutero, Sermons on the Gospel of St.
ou despreza a pior pregação; John, Chapters 14-16. Pelikan, Jaroslav,
pois ela não sabe quando Deus ed. Saint Louis: Concordia, 1961, AE, vol.
24, pág. 67. Em um sermão com base
24 Lutero, AE, vol. 22, pág. 482. em João 14.10, provavelmente pregado
25 Ibid., pág. 479. por Lutero em 1537.
que Cristo quer é que pessoas que e viva como cristão. Somente onde
conhecem a Palavra — que estejam “doutrina e obras concordam, fruto
equipadas com elas e sejam capazes é produzido.”36
que defender a causa de Deus.33 To- Se o pregador deseja ser fiel,
davia, admoesta o Reformador, o então ele precisa ser capaz de en-
pregador precisa reconhecer que o frentar um vício muito comum: o
dom de ser “letrado” vem apenas de orgulho. Pregadores talentosos, diz
Deus. É ele quem torna uma pessoa Lutero, são especialmente sujeitos à
“letrada” e a escolher para o ofício. tentação de glorificar a si próprios.
Sendo assim, o pregador jamais de- Quando alguém descobre que pos-
veria depender de suas habilidades, sui a habilidade de ensinar, tem uma
pois é o Espírito Santo que o ensina voz habilidosa, e é um bom orador,
na fé e na pregação.34 facilmente ele se torna orgulhoso.
Tão cedo ele é aplaudido e louvado
2.1.4. O pregador precisa pela sua habilidade, “ele não sabe
ser fiel se está caminhando na terra ou nas
nuvens.”37
A fidelidade é uma caracterís-
Pregadores orgulhosos, continua
tica requerida do pregador, afirma
Lutero, estão mais preocupados com
Lutero. Existem quatro marcas que
a sua própria honra e bem-estar do
deveriam ser encontrada em um ver-
que com a glória de Deus e o bene-
dadeiro pregador: se ele entrega aos
fício dos seus ouvintes. Com esta in-
seus seguidores a Palavra de Deus,
fidelidade, eles causam o maior dano
se ele prega o Evangelho, se ele des-
aos seus ouvintes. O que “bons, pie-
pensa os mistérios de Deus, e se ele
dosos e fieis professorem fizeram e
é fiel.35 Ele precisa ser fiel aos seus
plantaram e construíram durante
ouvintes, ao seu trabalho e, acima
um longo período de tempo, com
de tudo, a Deus. Se fiel também sig-
grande esforço e trabalho, eles der-
nifica que o pregador seja capaz de
rubam e desperdiçam em pouco
praticar o que ele prega; que pregue
tempo.”38
33 What Luther Says, op. cit., vol. II, pág.
935. Sermão pregado por Lutero em 36 What Luther Says, op. cit., vol. II, pág.
março de 1525. 934. Em um sermão com base em Ma-
34 Ibid., pág. 935. teus 8.1-13.
35 Lutero, Sermões, vol.VI, pág. 74. Em um 37 Ibid., vol. III, pág. 1123. Em um sermão
sermão baseado em 1 Coríntios 4.1-5 e com base em 1 Pedro 4.10.
pregado pelo Reformador em 1522. 38 Ibid., pág. 1123.
que ter e pregar a Palavra de Deus, ser provadas pela Palavra de Deus,
ao ponto de entregar a sua vida por afirma Lutero, como foi o caso dos
dela, já que é uma questão de vida ou apóstolos: “a convicção deles somen-
morte para os seus ouvintes.47 te pode ser mantida porque podia
Em um sermão baseado em Efé- ser provada da Bíblia.”50 Se o prega-
sios 5.15-21, Lutero faz a seguinte dor não pode fazer isto, ele não está
reflexão sobre o assunto: abrindo a sua boca como um mensa-
Aonde o ministério da Palavra geiro de Deus. E, acrescenta Lutero,
de Deus é preservado, sempre não existe praga pior sobre a terra do
haverá alguém entre as pessoas que um pregador que não proclama
para ouvir a pregação da Pa- o que Deus lhe ordenou que procla-
lavra e conformar a sua vida masse.51 Mas se ele pode fazer isto,
a ela. Mas quando a Bíblia então as suas palavras são palavras de
deixa o púlpito, pouca coisa Deus, ditas por ele.52 E, neste caso,
boa será alcançada, mesmo que Deus e o pregador são tornam um
um ou outro seja capaz de ler em favor da causa.53
a Escritura por conta própria
e imaginar que não precisa da 2.3. O pregador e a sua
palavra pregada.48 pregação
Certamente é verdade que, às ve- Nas seções anteriores, vimos al-
zes, as pessoas desprezam a Palavra e guns argumentos de Lutero acerca
rejeitam os pregadores que fielmen- do pregador e seu relacionamento
te proclamam a voz de Deus. Se isto com a Palavra de Deus. Nesta, vere-
não faz bem ao mundo, diz Lutero, mos alguns detalhes desta pregação
pode fazer bem aos pregadores, pois e alguns conselhos práticas que ele
isto os mantém distante de poder fornece sobre o assunto em sua ex-
arrogante e da tentação de se tornar posição do Novo Testamento.
orgulhosos.49
As palavras do pregador precisam 2.3.1 O conteúdo da
pregação
47 Lutero, AE, vol. 30, págs. 162, 163.
48 Lutero, Sermões, vol.VIII, pág. 320. 50 Lutero, AE, vol. 30, págs. 22-24
49 What Luther Says, vol. III, pág. 1121. 51 What Luther Says, op. cit., vol. III,
Em um sermão baseado em Marcos pág. 1124.
10.14-20 e pregado por Lutero em 52 Lutero, AE, vol. 22, pág. 528.
1532. 53 Lutero, AE, vol. 51, pág. 223.
Para Lutero, está claro nas Escri- mas o que Deus está fazendo
turas que o pregador é chamado para por intermédio de Cristo — o
pregar a Palavra de Deus. Mas o que que significa, logicamente, que
exatamente ele deve pregar? Qual é ele opera a fé e concede o Espíri-
ou deveria ser seu conteúdo básico? to Santo. É isto o que significa
Toda a pregação tem o propósito pregar.55
de estabelecer testemunho acerca de
Jesus Cristo nos corações das pesso- Assim, a proclamação de Jesus e
as.54 Em um sermão com base em 2 sua obra redentora deveria ser sem-
Coríntios 3.4-6, Lutero afirma que o pre o principal foco da pregação. É
pregador deveria proclamar o que também fica claro em um ser-
... o Espírito do Novo Testa- mão sobre 1 Pedro de Lutero. Falan-
mento, que é: Jesus veio por do sobre a razão do ofício, ele diz que
nossa causa e carregou os nossos ele existe para que as pessoas possam
pecados sobre si. Lá, você escu- chegar à fé em Cristo e serem salvas.
ta não o que você deveria fazer, “É isto que significa pregar o verda-
54 Lutero, AE, vol. 30, pág. 318. Exposição
deiro Evangelho. Pregação de outro
de 1 João 5.9. Lutero fez a preleção
deste livro bíblico em 1527. 55 Lutero, AE, vol. 51, pág. 227.
gênero é não é o Evangelho, e não aos ouvintes seus pecados, até que se
importa quem faz a pregação.”56 humilhem completamente. Contu-
Um pregador que não prega o do, os ouvintes que recebem apenas
que Deus determinou, não é fiel e as a Lei não podem chegar a ter verda-
suas palavras derivam de ensino hu- deira confiança em Deus; é preciso
mano. Agora, se ele proclama a voz existir algo a mais: o Evangelho.
de Cristo, não há diferença entre ou- O Evangelho é algo suave, sereno,
vir esta pregação ou ouvir ao próprio afirma Lutero. Ele declara que Deus
Salvador.57 perdoa o pecado por causa de Jesus.
Assim, deve ser pregado gentilmente
2.3.2 A correta distinção aos que estão terrificados e humilha-
entre Lei e Evangelho dos com a pregação da Lei. Não se
deve pregar a Cristo com palavras
A correta distinção entre a Lei e
furiosas, mas com serenas.60 Quando
o Evangelho que emerge das Escritu-
isto ocorre, então Cristo vem e ali-
ras é outro aspecto vital que o pre-
menta o ouvinte com o seu Evange-
gador precisa observar, diz Lutero, já
lho e anima o coração atribulado e
que cada um tem as suas característi-
machucado.61
cas peculiares.
Em um sermão com base em Lu-
A pregação denunciatória per-
cas 7.36-50, Lutero acrescenta que
tence à Lei. Ela deveria ser procla-
os pregadores precisam assistir a
mada com “trovões aos que são to-
Cristo em seu ofício de conceder e
los e teimosos.”58 A Lei mostra para
reter o perdão dos pecados; ambas as
estas pessoas o que elas são diante
mensagens precisam ser proclama-
de Deus e o que Deus vai fazer se
das. Se isto não acontece, a seguin-
continuarem em seus pecados. Além
te situação é criada: “Os pregadores
disto, o pregador também precisa
que não denunciam o pecado, des-
mostrar para elas que boas obras da
trancam o inferno e trancam o céu...
Lei não ajudam a ninguém diante de
De modo semelhante, os pregadores
Deus.59
que não perdoam o pecado destran-
Assim, a missão da Lei é revelar
cam o inferno e trancam o céu.”62
56 Lutero, AE, vol. 30, pág. 9.
57 Lutero, AE, vol. 30, pág. 5. Em um ser-
mão com base em 1 Pedro 1.1,2. 60 Lutero, AE, vol. 29, pág. 153.
58 Lutero, AE, vol. 29, pág. 143 61 Lutero, Sermões, vol. III, págs. 375-380.
59 Lutero, Sermões, vol. III, págs. 375-377. 62 What Luther Says, vol. II, pág. 952.
Deus e em suas palavras. Estes são os Em outro sermão, ele coloca que
“bons pregadores”, afirma o Refor- o pregador que tentar estabelecer
mador.69 algo diferente ou separado do seu
Em um sermão sobre João 8.12, ofício não mais é um verdadeiro pro-
Lutero diz que o verdadeiro prega- feta.71 A verdadeira pregação somen-
dor precisa estar convencido de que te ocorre quando o Espírito Santo
a sua doutrina e mensagem é bíblica está presente, articula e prega; e ele
e que ele quer proclamar a Palavra de está presente se a Palavra é pregada
Deus. Se é assim, ele precisa se “van- em sua pureza. Sem a presença dele,
gloriar” e dizer que é um pastor ge- ninguém pode pregador a Palavra
nuíno, enviado por Deus. Se ele não adequadamente.72
pode se “vangloriar” disto, então ele A oposição que existe entre os
é um traidor, um falso pregador.70
71 Lutero, AE, vol. 21, págs. 275-277.
69 Lutero, AE, vol. 51, pág. 224. 72 Lutero, AE, vol. 51, pág. 111.
70 Lutero, AE, vol. 23, pág. 321.
desonra a Deus.
O verdadeiro pregador, contudo,
o que deseja fazer é procurar a pro-
moção de Deus e a sua glória. A sua
motivação é estar devotado a Deus,
e não a si próprio. E por esta causa
ele sobre até mesmo reprovação e
vergonha.74
Assim, os falsos pregadores são
falsos e verdadeiros pregador é mui- um grande perigo para a fé dos cris-
to clara, afirma Lutero. Os falsos tãos. Eles tentam destruir a raiz, a
proclamam algo parecido com isto: origem da salvação. Se os seus ou-
“Na verdade, vocês são cristãos, mas vintes acreditam no que eles procla-
isto não é o suficiente. Em adição, mam, então creem falsamente e seria
vocês precisam realizar tais e tais melhor se não cressem.75
obras.” Os verdadeiros proclamam Por esta razão, diz Lutero, os cris-
algo totalmente diferente: “Vocês tãos precisam estar alertas. Estes fal-
são já cristãos... Todos vocês têm sos pregadores podem semear mais
um Cristo, um Batismo, uma fé, um veneno do que os bons pregadores
Espírito, um Deus. Assim, nenhu- semear a semente sagrada. “Um
ma obra ajuda a tornar alguém um falso pregador causa um mal maior
cristão.”73 com um sermão do que um verda-
Lutero também mostra que al- deiro pregador causa o bem com dez
guém pode ver as características sermões.”76
distintivas entre os dois tipos de pre-
gadores a partir da motivação que Conclusão
eles têm. O falso busca o seu próprio
bem e a sua própria honra. Motivado Os pensamentos de Martinho
pela autopromoção, ele apenas prega Lutero incluídos nesta pesquisa não
o que é agradável ao povo, e não o 74 Lutero, Sermões, vol VII, pág.s 107,
que Deus quer de seus mensageiros. 108.
Agindo assim, ele não apenas seduz 75 Lutero, AE, vol. 25, pág. 430. Na exposi-
ção de Lutero de Romanos 10.24.
as almas para satisfazer os seus pró- 76 What Luther Says, op.cit., vol. III,
prios propósitos, mas especialmente pág. 1124. Em um sermão baseado em
Filemon 3.17-21 e pregador por Lutero
73 Lutero, AE, vol. 20, pág. 169-171. em 1530.
Prosel
Evangelismo X Proselitismo
Introdução a casa, colocando seus folhetos. Só
não crê, quem não quer. Ou vamos
litismo
po cristão.
Portanto, no evangelismo não
deve intrometer-se no rebanho de
outrem. O Dr. G. Stöckhardt, em
podemos ignorar nossos limites. O seu comentário à carta do apósto-
próprio Salvador os estabeleceu nes- lo Pedro, comenta esta passagem
te trabalho ao exortar pelo apóstolo e escreve: “Alguns cristão estavam
Pedro: Nenhum de vós ... se intro- inclinados a se intrometerem em re-
meta em negócio de outrem”, (1 Pe banhos alheios. E sem dúvida hoje
4.15) na seara alheia. Definir clara- existem muitos que gostam de se
mente estes limites em nosso con- meter de forma insólita em ofício
texto não é fácil. de outrem, como conselheiros, juí-
zes, professores, julgando possuírem
2. Definindo limites no melhores conhecimentos, causando
evangelismo dissabores e consequências desas-
trosas, e trazendo sobre si muitos
Os apóstolos tiveram a ordem: sofrimentos, que não podem ser in-
Ide fazei discípulos de todas as na- cluídos nos sofrimentos honrosos.”
ções... (Mt 28.19) Sereis minhas Portanto, não devemos nos intro-
testemunhas tanto em Jerusalém, meter para onde não fomos chama-
como em toda a Judéia e Samaria, e dos. Isto seria fazer proselitismo, o
até aos confins da terra. (At 1.8) Na que causa aborrecimentos e pode
medida em que o evangelho foi sen- perturbar os fracos na fé.
do pregado, a situação foi mudando. O apóstolo Paulo nos ensina
Comunidades foram fundadas e or- como esta regra deve ser aplicada na
ganizadas. O apóstolo Paulo lembra missão. Ele escreve: Nós, porém, não
os presbíteros: Atendei por vós e por nos gloriaremos sem medida, mas
todo o rebanho sobre o qual o Espí- respeitamos o limite da esfera de
rito Santo vos constituiu bispos. (At ação que Deus nos demarcou e que
20.28) Logo, há limites. Ninguém se estende até vós. Porque não ul-
va: “Isto se aplica especialmente aos res fazem, não devam ser chamados
pregadores sectários, que com suas de servos de Satanás, esquecendo-se
campanhas evangelísticas cruzam de que Satanás se regozija no muito
terras e mares, ávidos em converter mal que fazem.” (Teologia Pastoral
pessoas, fazendo de almas nas quais de Walther, 4ª Tese)
outros servos de Cristo trabalharam Firmado na palavra de Deus e
prosélitos para as suas corporações. dos pais, concluímos: Não devemos
Mesmo se aqui e acolá uma ou outra e nem queremos trabalhar com o
alma é despertada de sua sonolência evangelho junto às pessoas que têm
espiritual, quão grande é a confu- um cura de almas, um ministro de
são que eles causam às almas e quão Cristo, ou junto às quais um minis-
grandes são os escândalos que cau- tro de Cristo está trabalhando, pois
sam aos olhos do mundo cego, que neste caso estaríamos invadindo um
julga todo o cristianismo por esses rebanho, intrometendo-nos em ofí-
movimentos de entusiastas hipócri- cio alheio. Isto também em relação
tas. Na verdade, muitos pensam que àquelas comunidades que não têm
por causa do bem que tais pregado- toda a Palavra em sua verdade e pu-
reza. Enquanto ali ainda for encon- ram da igreja ou foram abandona-
trada a base do evangelho, enquanto das pela igreja. Os motivos podem
ali for anunciada a salvação em Cris- ser vários: discórdias, desentendi-
to, queremos e devemos respeitá-las. mentos, problemas administrativos,
atrasos nas ofertas, discordância na
3. Aplicação destas doutrina, etc. Aqui estão incluídos
verdades na prática também os próprios “distanciados
de nossas congregações”. Todas es-
Na aplicação prática desta verda- tas pessoas são de momento, ovelhas
de surgem as seguintes perguntas: sem pastor, que devem ser buscadas.
Que pessoas, em nosso derredor, Com que paciência Deus buscou as
podem ser considerados objetos ovelhas perdidas da casa de Israel.
de missão e que pessoas, em nosso Com que paciência Jesus trabalhou
derredor, não são objetos de nossa no povo de Israel que havia se des-
missão? Onde estão os limites na viado da verdade. Com que paciên-
prática? cia Mônica, a mãe de Agostinho,
orou durante 15 anos por seu filho,
3.1. Pessoas sem igreja até que, aos 32 anos ele voltou à fé.
Buscar estas pessoas não é um dever
Em primeiro lugar, as pessoas
e obrigação nossa para reconduzi-
que não conhecem a Cristo. O após-
-las ao rebanho de Cristo. Surge, no
tolo os designa como “os de fora”
entanto, a pergunta: Como vamos
(Cl 4.5), as quais, em nosso meio,
descobrir que uma pessoa está “nesta
são poucas. A este grupo pertencem
situação”? Responderemos no pró-
também as pessoas que se desliga-
ximo capítulo sob o título: O Diá-
logo.
isso ao teu padre. Para resumir, após verdadeiros cristãos estão unidos na
dois anos, todos na rua nos recebe- “una sancta ecclesiae apostólica ca-
ram bem. Tivemos até estudos bíbli- tólica”, cujos membros só o Senhor
cos em nossa casa com alguns deles. conhece (2 Tm 2.19). Isto nos leva a
Isto nos leva ao segundo passo. lutarmos continuamente pela união
da cristandade. Tal união na verda-
2° Aprofundando de, não é conseguida por arranjos,
conhecimentos cedendo aqui e ali, mas pela clara
confissão das verdades bíblicas. A
Na medida em que o diálogo
união que desejamos e procuramos,
avança, procuraremos firmar a pes-
conforme a ordem de Deus, (Ef 4.1-
soa na Bíblia. Sem dúvida a pessoa
6) é a união confessional em todos
procurará esclarecimentos. Nós os
os artigos da fé das Escrituras, con-
daremos.
forme os encontramos resumido em
Se nesta caminhada do diálogo
nossas Confissões, como o confessa-
alguém chegar a um conhecimento
mos no Prefácio ao Livro de Con-
melhor da Bíblia e perguntar por
córdia, § 22: “Visto, pois, que assim
nossa igreja, ele será bem-vindo aos
é, e já que estamos certos de nossa
nossos cultos. Mas não o convida-
confissão e fé cristã, com base na Es-
mos de saída. Não fazemos proseli-
critura divina, profética e apostólica,
tismo, se ele, porém, perguntar, esta-
disso havendo sido suficientemente
mos de portas abertas.
certificados em nossos corações e
consciências cristãs pela graça do Es-
3º Na busca do
pírito Santo, a mais aguda e extrema
verdadeiro ecumenismo necessidade exige que em presença
Creio na santa Igreja Cristã — a de tantos erros irrompidos, escân-
comunhão dos santos. Esta verda- dalos, dissensões e prolongadas di-
de não pode ser esquecida em nos- visões haja uma explanação e recon-
so Diálogo com irmãos na fé, quer ciliação cristã de todas as discussões
sejam de nossa própria igreja ou de surgidas que esteja bem fundamen-
outras denominações, buscaremos tada na palavra de Deus, e à luz da
sempre a expressão da verdadeira qual se reconheça qual a doutrina
unidade da igreja. pura e qual a adulterada.” Sabemos
Nós reconhecemos e nos rego- que não é a simples concordância
zijamos pelo fato de que todos os nas verdades bíblicas que salva, mas
esta pessoa, aos olhos de Deus, seja reprovai-as. (Ef 5.8-11) Estas pas-
mais conceituada do que nós. Lem- sagens tratam do testemunho cris-
bremos o centurião de Cafarnaum. tão através da vida. Nos primeiros
(Mt 8.5-13) Ele não pertencia ao séculos, quando os cristãos foram
povo de Israel e não tinha ainda o cruelmente perseguidos, a divisa
claro conhecimento das doutrinas. entre cristãos e incrédulos estava cla-
Ele procurou a Jesus. E Jesus disse ramente traçadas. Os “filhos da luz”
à multidão: Em verdade vos afirmo resplandeciam por seus frutos da
que nem mesmo em Israel achei fé fé. Eles não se tornavam cúmplices
como esta. Digo-vos que muitos das “obras infrutíferas” dos pagãos.
virão do oriente e do ocidente e to- Cristãos resplandeciam por sua vida
marão lugares à mesa com Abraão, santificada. A fé se comprovou na
Isaque e Jacó no reino dos céus. Ao vida diária e não se abalava, nem
passo que os filhos do reino serão diante das ameaças do martírio. Em
lançados para fora, nas trevas; ali ha- nosso meio, a divisa entre cristãos e
verá choro e ranger de dentes. (Mt pagãos está praticamente apagada. A
8.11-12) Da mesma forma o Cen- pregação do evangelho, sem a con-
turião Cornélio, homem piedoso e firmação da vida santificada dos fiéis
temente a Deus com toda a sua casa, é perturbada e desacreditada. Não
que tinham um conhecimento de que as obras sejam a causa eficiente
Deus do Antigo Testamento, mas da fé, esta é somente o evangelho,
buscava conhecê-lo melhor. Deus mas a vida não santificada ofusca a
lhe enviou o apóstolo Pedro. (At 10) Palavra. Como “sal da terra” cabe-
-nos mostrar ao mundo o que é e o
2. Sal e luz da terra que não é da vontade de Deus. Ve-
Vós sois o sal da terra. (Mc 5.13) jam, num país como o Brasil, onde
Vós sois a luz do mundo. (Mt 5.14) 90% da população se denomina cris-
Pois outrora éreis trevas, porém, tã, como foi possível, nossos juízes
agora sois luz no Senhor; andai aprovarem a lei dando aos casais gays
como filhos da luz porque o fruto o direito de adotar crianças; quando
da luz consiste em toda a bondade, as leis de adoção eram bem rígidas.
e justiça, e verdade, provando sem- E os cristãos não levantaram sua voz
pre o que é agradável ao Senhor. E unânimes contra tal aberração, que
não sejais cúmplices nas obras in- vem em prejuízo das crianças. Lute-
frutíferas das trevas; antes, porém, ro em seu tempo, ao ver aberrações
O Pastor
Equipando leigos como
aconselhantes de pessoas
U ma breve análise histórica nas
igrejas tradicionais pode de-
monstrar que ainda não se alcançou
mãos alguma forma breve de aconse-
lhamento disponível para que leigos
possam exercê-la.
um equilíbrio sólido e sadio entre o
papel do pastor e dos leigos na fun- A função do pastor na
ção de aconselhamento. consolação entre leigos
Analisando o assunto sob alguns
pontos de vista eclesiológicos e epis- Aos pastores que poderiam se
temológicos, pode-se iluminar o pa- alarmar com uma ênfase no sacer-
pel dos leigos no exercício legítimo dócio de todos os crentes, o pietista
de sua fé, através do amor ao próxi- Philipp Jakob Spener (1635-1705),
mo; também se deverá dignificar o em seu livro Pia Desideria, publica-
papel do pastor, como um dom de do em 1675, na parte final lembra:
Deus à Igreja para capacitá-la a vi- Nenhum pastor será preju-
ver sua missão no mundo, não como dicado se os membros de sua
concorrentes ou excludentes, mas comunidade exercitarem esse
como complementares. sacerdócio universal. Uma das
O pastor tem grande responsabi- razões pelas quais o pastor não
lidade diante do sacerdócio cristão e pode fazer tudo é porque se
pode estimular como também pre- sente muito fraco e sem apoio.
judicar o desempenho do sacerdócio É incapaz de fazer tudo o que
geral dos crentes. Em vista disso, se deve ser feito para a edificação
faz necessário refletir brevemente de muitas pessoas, confiadas ao
sobre o assunto. seu cuidado pastoral. Todavia,
É muito, por fim, importante se os sacerdotes leigos fazem a
abordar a questão das crises pessoais sua parte, o pastor, (...) sente-se
sob a ótica psicológica e ter-se em apoiado e fortalecido para rea-
diz Hoch, na sua obra A cura como localiza a crise dentro das pessoas,
tarefa do aconselhamento pastoral: quando suas usuais atividades des-
“muitas vezes o verdadeiro milagre tinadas a solucionar problemas são
não consiste tanto no fato de acontecer ineficazes, permitindo que o estresse
uma cura sensacional, mas no fato da de necessidades não satisfeitas au-
pessoa aflita receber força para carre- mente sem parar.20
gar a sua cruz com dignidade e espe- Switzer entende assim também,
rança. (...) Prefiro, por isso mesmo, que a crise não é necessariamente
caracterizar a presença pastoral junto inerente à situação externa em si,
aos que sofrem como ministério de so- “a própria crise é a reação interna ao
lidariedade na fraqueza”.19 evento externo, e eventos que podem
Os passos terapêuticos, certa ser muito ameaçadores para alguns
postura do aconselhador, têm como podem não ser para outros”.21
objetivos a integração e a potencia- Falando sobre as origens das
lização do indivíduo, recentralizan- crises ele as caracteriza como ansie-
do sua imagem de valor e poder, na dade, recriminação e um frequente
nova comunidade de interpretação e senso de fracasso pessoal e culpa;
ação. Nesta caminhada, não sem crí- uma combinação de um tremen-
tica á tradição herdada, vai assumir a do impacto emocional junto com a
responsabilidade de cidadão em me- diminuição da habilidade de ver os
lhorar a vida do povo. problemas claramente e lidar com
eles. Aqui começa frequentemen-
Conhecendo as crises te a falência do seu próprio mundo
pessoal, perda de identidade, onde
A informação é extremamente a mesma é muitas vezes baseada nas
importante para se ter a perspectiva relações comunitárias: “A pessoa em
certa da situação e para ordenar um crise é alguém que começou a perder a
plano aceitável de ação; o processo perspectiva, sente-se ansioso e desam-
onde cada um conta seu caso é um parado, frequentemente deprimido
procedimento sensível para restau- e inútil, sem esperança, cujo futuro
rar a correta perspectiva e ajudar o
indivíduo a recolocar sua experiên- 20 Howard J. CLINEBELL, op. cit., p. 180.
cia dentro do contexto. Clinebell 21 David K. Switzer, op. cit., p.46. “the cri-
sis itself is the internal reaction to the
external event, and events that may be
19 Id., A cura como tarefa do aconselha- very threatening for some may not be
mento pastoral, p. 20. for others”.
parece ser impedido, que perdeu a de vida que foi afetado por alguma
visão até mesmo de algo do próprio condição adversa.
passado”.22 A leitura de livros sobre temas
Hoch ao citar os dois tipos fun- de crises se torna muito importante
damentais de crises, de desenvolvi- neste assunto de conhecer melhor
mento e as emergenciais ou aciden- as crises e seus aspectos. A entida-
tais, salienta que estas últimas não se de luterana “Hora Luterana” pro-
caracterizam por um estado prolon- duz pequenos livretos que analisam
gado e crônico de sofrimento pes- brevemente algumas crises mais fre-
soal, mas de uma crise reativa a uma quentes na sociedade brasileira e dão
circunstância súbita.23 alguns encaminhamentos. Alguns
Em crises e perdas, as pessoas dos livretos mais importantes são:
muitas vezes se defrontam com sua Estresse, Como Superar a Depres-
fome espiritual, com o vazio de suas são, Como Vencer a Solidão, Ven-
vidas e com a pobreza de seus valo- cendo as Drogas, Bebida, alegria ou
res e relacionamentos. Neste sentido problema, Mães Sozinhas, Estamos
uma crise pode se tornar um mo- Separados, e Agora? Combatendo
mento decisivo, uma oportunidade o Abuso Sexual, A Família e a Aids,
de crescimento, em que as pessoas Procurando Emprego, A Violência
se afastam ou se aproximam de uma Familiar, O Luto, Ser feliz no Casa-
maior força e integralidade da per- mento, Crises e Conflitos, O Privilé-
sonalidade. Este momento deve ser gio de Envelhecer.
valorizado e tratado com o devido Hoch, citando a obra Crisis
respeito e consideração que envolve Counseling de Howard W. Sto-
uma oportunidade desta. Isto não ne, identifica os quatro momentos
significa que se deva dar início a uma
terapia extensa; antes, classificar e
tentar identificar a confusa situa-
ção dando andamento ao processo
22 Ibid., p. 268. “The person in crisis is one
who has begun to lose perspective, feel
anxious and helpless, often depressed
and worthless, frequently without hope,
whose future seems to be blocked out,
who even has lost sight of some of his
own past.”
23 Lothar C. HOCH, A crise pessoal..., p. 2.
forma breve de ajuda que seja dispo- ensino”.32 Clinebell salienta esta mes-
nível para conselheiros não profis- ma preocupação de evitar procedi-
sionais como leigos de comunidades mentos precipitados: “aconselha-
religiosas. dores inexperientes deveriam evitar
Hoch ressalta que a miséria de pensar em soluções para os problemas
muitas pessoas, no contexto latino- dos aconselhandos, concentrar-se em
-americano, não permite que se ope- vez disso, em compreendê-los e estar
re com uma proposta terapêutica de com eles solicitamente em seu mundo
longo prazo e centrada no indiví- interior”.33
duo, mas um aconselhamento com Neste sentido já encaminha al-
objetivos em curto prazo, sensível e guns passos que podem ajudar a evi-
levando em conta a dimensão comu- tar esta precipitação. Deve-se evitar
nitária presente no povo.31 fazer perguntas de informação além
A convivência, além do diálogo, do necessário, fazendo perguntas
pode trazer à tona os verdadeiros sobre os sentimentos e respondendo
motivos da crise. Nem sempre as pa- a eles, observando a emoção da voz,
lavras que levam a certa racionaliza- do rosto e da postura. Observando
ção podem traduzir os sentimentos não apenas ao conteúdo intelectual
e motivações profundas pelas quais pode-se evitar interpretações e con-
uma pessoa está passando. Um re- selhos prematuros.34
lacionamento terapêutico cresce na Switzer coloca sete itens como
medida em que o aconselhante se condições básicas para um efetivo
aplica no sentido de estar com a pes- aconselhamento. Em primeiro res-
soa aflita. Isso significa concentrar- salta a necessidade de uma empatia
-se em ouvir, e responder com uma acurada, do início ao fim. O conse-
empatia solícita. lheiro precisa perceber e sentir o que
Walther, em sua última tese, fecha a outra pessoa está sentindo, e co-
com chave de ouro seus conselhos municar de forma verbal ou não, de
sobre o uso da Palavra: “A palavra que ele está emocionalmente onde o
de Deus não é aplicada corretamente outro está.
quando aquele que ensina a palavra O fator seguinte é o respeito pelo
de Deus não permite que o evange- aconselhando, como alguém que
lho tenha predomínio geral neste seu
32 C. F.W.WALTHER, op. cit., p.90.
33 Howard J. CLINEBELL, op. cit., p. 74.
31 Lothar C. HOCH, A cura..., p. 23. 34 Ibid., p. 81.
não passa de farisaísmo, tão conde- cos. São Leopoldo: Escola Superior
de Teologia, v. 20, n. 2, 1980, p. 88-99.
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É fundamental sermos uma igreja poldo, EST. Ano 1991. 12 p.
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confessional, sim, mas que vai ao en- busca duma fundamentação eclesio-
contro das necessidades das pessoas. lógica do Aconselhamento Pastoral.
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gicos do Aconselhamento. São Leo-
Rev. Ms. Martinho Rennecke — Caxias do Sul-RS poldo: Sinodal, 1988. p. 21-33.
— é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil _______O ministério dos leigos: gene-
e coordenador do Projeto Macedônia — CxP 195, alogia de um atrofiamento. Estudos
Teológicos, São Leopoldo: Escola
95.001-970 (projetomacedonia@terra.com.br). Superior de Teologia, v.30, n.3, 1990.
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gicas e práticas sobre a pastoral de WALTHER, Carl F.W. Lei e Evangelho.
aconselhamento. Estudos Teológi- Porto Alegre: Concórdia S.A., 1977.
92 p.
O Espírito Santo,
a Liderança Cristã
e o sacerdócio universal de
todos os crentes
N este pequeno ensaio queremos
refletir um pouco sobre o pa-
pel do Espírito Santo na liderança
1. Sacerdócio Universal
de Todos os Crentes
cristã e no sacerdócio universal de O sacerdócio real de todos os
todos os crentes, aplicando isto ao crentes, doutrina bíblica que nos diz
nosso contexto de Igreja Evangélica que cada cristão batizado é um sa-
Luterana do Brasil. Para tanto, ve- cerdote real de Cristo, está firmada
remos o que dizem alguns autores especialmente no texto de 1 Pedro
sobre os temas principais (liderança 2.9: Mas vocês são a raça escolhida,
e sacerdócio universal), bem como os sacerdotes do Rei, a nação comple-
alguns textos bíblicos relacionados tamente dedicada a Deus, o povo que
ao Espírito Santo e sua relação com pertence a ele. Vocês foram escolhidos
o tema proposto. para anunciar os atos poderosos de
Deus, que os chamou da escuridão
para a sua maravilhosa luz (NTLH),
além de Apocalipse 1.5-6.
Porém, como muitas outras, esta
também foi uma doutrina que aca-
bou obscurecida pelo desvio da Igre-
ja Cristã da Palavra de Deus durante
a chamada Idade Média. E, assim
como Martinho Lutero redescobriu
o Evangelho e a salvação pela fé em
Cristo, na Reforma do século XVI,
ele trouxe à luz também esta precio-
sa verdade descrita em 1 Pedro 2.9.
Leigos e pastores servem juntos a Para esta obra, seja como líderes
Deus para levar a Palavra ao mundo, ou liderados, pastores ou leigos, so-
realizando a missão deixada a nós mos capacitados e guiados pelo Es-
por Jesus (Mt 28.18-20, At 1.8, et pírito Santo de Cristo. E o pastor,
alli). Nesta obra é necessário haver por causa de seu ofício, preparo e
liderança e organização, mas sem função, tem um papel fundamental
que isto signifique uma hierarquia em nutrir e guiar o povo de Deus na
que leva à opressão ou à omissão de vida do Espírito, como nos diz Ca-
qualquer cristão, como nos diz Rot- emmerer:
tmann: A igreja é uma comunhão em
Como podemos exercitar o sa- que cada membro busca edi-
cerdócio real hoje? ... Somos ficar o irmão com os recursos
sacerdotes; individualmente interiores do Espírito de Deus.
sacerdotes! Sacerdócio real co- Mas a carne também busca a
loca cada um, leigo, pastor, ho- comunhão; ela também inter-
mem e mulher, jovem e velho comunica a falsificação da vida
em uma posição de responsabi- e o desejo do diabo. Na igreja,
lidade direta e pessoal perante por isso, uns devem lembrar aos
Deus. Ser sacerdote real tam- outros de Cristo: 1Pe 4.1-2.
bém hoje significa ser servo do O ministério do pastor leva os
Santo dos Santos, ser servo do cristãos a cultivar a vida do Es-
Deus vivo. E isto diretamente: pírito em vez da vida da carne,
não numa hierarquia, em que a fim de produzir esta distin-
se pode colocar a responsabili- ção do mundo que é primária
dade sobre o que nós é hierar- no testemunho cristão aos de
quicamente superior, em que fora; este ministério age capa-
um pode esconder-se atrás das citando homens para capacitar
costas do outro. Cada um, tu homens.12
e eu, homem e mulher, esposo
e esposa, pastor e leigo, somos Somos nutridos, fortalecidos e
chamados a entrar no Santo guiados no Espírito de Cristo para
dos Santos e dialogar com Deus melhor testemunhar nossa fé em
e servir a Cristo.11 Cristo ao mundo. Como dissemos
antes, isso acontece através da
mar que através de líderes e cristãos Cristo e à família de Deus, para que
consagrados, o Espírito de Deus tem sejam iluminados pelo Evangelho e
um grande e principal desejo e ob- integrados ao Corpo de Cristo, re-
jetivo: que as pessoas sejam levadas começando assim o ciclo: O Espíri-
a conhecer, confiar e crer em Jesus to Santo chama, ilumina e, etc., para
Cristo como seu único e perfeito que muitos sejam salvos.
Salvador, para receber dele perdão, É para isto que o Espírito Santo
vida e salvação eterna. Em outras chama sacerdotes reais de Cristo, vo-
palavras, o Espirito Santo quer sem- caciona pastores e mestres e desper-
pre apontar para Cristo e não para si ta líderes leigos em nossa IELB: para
mesmo, e muito menos para pessoas, comunicar a Vida e assim acolher e
por mais brilhantes ou carismáticas integrar cada vez mais gente ao povo
que pareçam ser. salvo de Deus.
Assim, que Deus nos conceda
Conclusão ser instrumentos úteis, em qualquer
função ou posição que estivermos
Queremos concluir essa refle- dentro e fora da Igreja, guiados, ca-
xão tentando sintetizar e reafirmar pacitados e fortalecidos sempre pelo
tudo o que acima foi dito, dizendo seu Espírito Santo, para levar Cristo
que: o Espírito Santo chama, ilumi- a todos! Amém.
na e congrega os cristãos através do Rev. Leandro Daniel Hübner — Rio Branco-AC, pastor
Evangelho, reunindo-os como Igreja da Igreja Evangélica Luterana do Brasil.
Cristã. Esta recebe de Deus o Minis-
tério da Palavra, realizado por todos Bibliografia
os cristãos como sacerdotes reais de CAEMMERER, Richard R. Feeding and
Cristo, que������������������������
são��������������������
guiados e alimenta- Leading. St. Louis, Concordia Pub-
dos na Palavra e Sacramentos pelos lishing House, s.d.
HEIMANN, Leopoldo. Os leigos da mi-
ministros da Palavra (pastores), e nha igreja. Porto Alegre, Concórdia,
liderados também por pessoas cha- Canoas, Ed. ULBRA, 2009.
LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas,
madas e capacitadas pelo Espírito v.7. Darci Drehmer, ed. Porto Alegre,
Santo para serem líderes dentro e Concórdia, São Leopoldo, Sinodal,
2000.
fora da Igreja. Tudo isso visando um ROTTMANN, Johannes H. Servos de
fim grandioso — levar Cristo para Cristo. Porto Alegre, Concórdia,
todos que pudermos alcançar e tra- 1982.
SANDERS, J. Oswald. Liderança Espiritu-
zer todos que tivermos alcançado a al. São Paulo, Mundo Cristão, 5.ed.,
1995.
Dignidade
e proveito da
Santa Ceia
uma análise de 1Co 11.23-29
Resumo Introdução
A presente pesquisa faz uma aná-
lise do texto de 1 Coríntios 11.23-
29, que narra a instituição da Santa
E m meu estágio, realizado em
São Luís do Maranhão, fui sur-
preendido por uma situação pasto-
Ceia em um contexto prático. Ten- ral bastante intrigante. Na ocasião,
do o seu fundamento em autores lu- fui enviado para uma visita à casa
teranos, a mesma pretende ressaltar de uma senhora que vinha esporadi-
que as bênçãos que a Ceia concede camente aos cultos. No começo ela
provêm das palavras de Cristo que demonstrava bastante resistência e
garantem a Sua presença real no pão certo incômodo com a minha pre-
e no vinho e que os mesmos são da- sença ali. Felizmente, aos poucos,
dos e derramados em favor do crente ela foi adquirindo confiança e as
para perdão dos seus pecados, vida e minhas visitas pastorais se tornaram
salvação. A pesquisa também con- mais frequentes. Contou-me que
templará a questão sobre dignidade há cinco anos deixara de ir aos cul-
e indignidade por parte de quem re- tos — salvo em dias especiais — e
cebe o Sacramento, com vistas, aci- também à Santa Ceia, devido a uma
ma de tudo, a deixar claro a todos os briga com a sogra. A igreja interpre-
cristãos que a dignidade encontra-se tou que a grande culpada era a nora,
fora deles, unicamente em Cristo Je- taxando-a de rebelde, e a sogra ficou
sus, que instituiu tal Sacramento e com todo apoio da mesma. Inevita-
quer que seja celebrado em sua me- velmente, o sentimento de rejeição
mória. sobreveio a ela, e muito pouco foi
86 | RT | Fevereiro a Junho, 2012
Santa Ceia
Sacramento.
A pesquisa não tem a pretensão
de esgotar o tema, mas ressaltar os
benefícios que advêm da participa-
ção da Ceia do Senhor. O trabalho
tem por base uma pesquisa biblio-
gráfica fundamentada no texto ori-
ginal e em uma literatura secundária
pertinente ao assunto.
1. Os benefícios da
Santa Ceia: uma análise
de 1Co 11.23-26
Das principais passagens neotes-
tamentárias sobre a Ceia do Senhor
( Jo 6, 1Co 10.16-21, Mt 26.26-29,
Mc 14.22-25, Lc 22.19-20), no que
11.23-26. As expressões “Isto é o se refere à sua natureza, conforme a
meu corpo; o meu sangue”, bem prática da Igreja Cristã, a presente
como “dado por vós” são expressões- passagem é considerada a mais in-
-chave que dão todo o fundamento formativa e também a mais antiga.1
para a compreensão dos benefícios
oferecidos ao cristão no Sacramento 1.1. Uma Leitura do
do Altar. Contexto
No segundo capítulo se analisa
a segunda parte da perícope, 1 Co- A mente humana, como chama
ríntios 11.27-29, onde se trata da atenção Lutero, extrapola nas for-
dignidade e indignidade quando se mas e jeitos quando busca cultuar a
participa da Ceia do Senhor. Depois Deus, passando a estabelecer leis que
de destacar as questões exegéticas geram seitas e dissidências. Quanto
pertinentes, se procura dar as dife- 1 �������������
CARSON, D. A;���������������
MOO, Douglas J;������
MOR-
rentes ênfases no trabalho pastoral, RIS, Leon. Introdução ao Novo Testa-
no que se refere ao estímulo a que o mento. Traduzido por Márcio Loureiro
Redondo. São Paulo:Vida Nova, 1997. p.
cristão faça uso sempre frequente do 315.
reais e efetivos para o crente. 25 seu artigo XIII, que define o uso dos
A forma de lembrança e sinal ga- sacramentos, expressa:
nha novas proporções. Nas palavras Com respeito ao uso dos sacra-
de Martin, esse assunto é bem com- mentos se ensina que foram
preendido: instituídos não somente para
Em memória de mim, portan- serem sinais por que se possam
to, não é mera reflexão histó- conhecer exteriormente os cris-
rica sobre a Cruz, mas um re- tãos, mas para serem sinais e
lembrar do Cristo crucificado testemunhos da vontade divi-
e vivo de tal maneira que Ele na para conosco, com o fim de
está pessoalmente presente em que por eles se desperte e forta-
toda plenitude e realidade do leça a nossa fé.28
Seu poder salvífico, e é apro-
priado pela fé dos crentes.26 A Apologia da Confissão, no
artigo XXIV, tratando do uso do
E esse sinal, em Lutero, ganha sacramento e do sacrifício, esclarece
grande relevância para incentivar o essa questão apontando para o fato
cristão a participar da Ceia. Para o de que a Santa Ceia não é apenas
reformador, é como se Jesus quises- sinal entre os homens, mas signo da
se dizer: “Olha ser humano, eu te vontade de Deus, como algo que re-
prometo e te lego com essas palavras presenta a vontade divina:
perdão de todo o teu pecado e a vida Os sacramentos são signos da
eterna e, para que tenhas certeza e vontade de Deus para conosco,
saibas que tal promessa te é irrevogá- não apenas sinais dos homens
vel, vou morrer e entregar para tanto entre si, e definem corretamen-
o meu corpo e sangue, deixando- te os que dizem serem os sacra-
-te ambos como sinal e penhor, nos mentos no Novo Testamento
quais te lembrarás de mim”27 como sinais da graça. E porque no
ele mesmo diz “fazei isto em memó- sacramento há duas coisas,
ria de mim” (1Co 11. 24). o sinal e a palavra, no Novo
A Confissão de Augsburgo em Testamento a palavra é a adi-
cionada promessa da graça. A
25 Idem, p. 393-94. promessa do Novo Testamento
26 MARTIN, Ralph P. Adoração na Igreja
Primitiva. São Paulo:Vida Nova, 1982. p.
147. 28 Confissão de Augsburgo In: Livro de
27 LUTERO, OSel, v.2. op. cit., p. 259. Concórdia, p. 34,1.
mento presente; “estão anunciando com Salvador glorioso, pode ser fei-
a morte de Senhor”, faz menção a ta sem os fardos pesados do pecado.
um evento do passado; e “até que ele Jesus convida os cansados e sobrecar-
venha”, diz respeito ao que acontece- regados (Mt 11.28) e encontrarem
rá no futuro.49 alívio nele. Por isso o perdão dos pe-
A caminhada do cristão é cheia cados não deveria ser tomado como
de altos e baixos. Por isso, na sua algo simples ou de pouco valor. O
caminhada rumo ao lar celestial, ele sacrifício que Jesus efetuou sobre
precisa de força e nutrimento para a cruz não dá apenas uma paz mo-
sua fé, que só os Sacramentos po- mentânea, mas concede promessa e
dem dar. Aí se encontra um caráter segurança de vida eterna. De acordo
escatológico presente na Ceia, que com Starenko: “Participar na Ceia
Rudi Zimmer comenta da seguinte do Senhor é antecipar nossa própria
forma: ressurreição, pois no comer e beber
Jesus instituiu a Ceia num o Senhor mantém o seu povo ínte-
momento escatológico. Nas gro, sinalizando o dia do seu retorno
próprias palavras da institui- e a consumação de todas as coisas”.51
ção encontramos temas escato- Os Coríntios parecem ter esque-
lógicos. Assim, a participação cido esse aspecto escatológico da
contínua da Ceia, sem dúvi- Ceia. Pensando já terem chegado à
da, levará os fiéis a uma ale- plenitude (1Co 4.8), eles conside-
gre expectativa pelo encontro ravam a Santa Comunhão um mero
escatológico com Cristo. Na festejo no banquete escatológico do
realidade, em cada celebração Messias. Ao longo da epístola, Pau-
da Ceia os fiéis já estarão ante- lo muito lhes lembra do interino
cipadamente experimentando caráter da vida cristã, que será sem-
as delícias daquilo que será o pre marcada entre a tensão do agora
banquete escatológico final.50 e o ainda não. De fato, a epístola é
moldada por esta perspectiva esca-
A caminhada rumo ao encontro tológica. Já na introdução se percebe
49 1Co 11.26 e STARENKO, op. cit., p. 50-
51. 51 STARENKO, op. cit., p. 53.“To participate
50 �����������������������������������
ZIMMER, Rudi. A Centralidade da Eu- in the Lord’s Supper is to anticipate our
caristia no Culto. In: Culto Protestante own resurrection, for in the eating and
no Brasil. Estudos de Religião. Ano I, drinking the Lord keeps His people in-
número 2. São Bernardo do Campo, SP: tact, signaling the day of His return and
Imprensa Metodista, 1985. p. 138. the consummation of all things”.
de outra forma [...].64 Cristo para com ele. Por outro lado,
o Reformador demonstra a profun-
didade da dignidade que está fora
2.2. A necessidade de do homem, isto é, no próprio Cristo.
discernir o corpo (11.27,29) Assim ele coloca:
Nós, entretanto, estamos falan-
Paulo coloca bastante ênfase na
do daqueles que acreditam não
palavra avnaxi,wj (“de forma indig-
se tratar de uma refeição de
na”, 11.27). Muitos cristãos, ao olha-
porcos, mas do autêntico corpo
rem esse texto, devem se pergun-
e sangue de Cristo; que sabem
tar se algum dia não participaram
que Cristo instituiu para sua
indignamente, ou, então, estejam
memória e nosso consolo; que
participando ainda, e com isso cha-
também gostariam de ser cris-
mando para si julgamento de Deus,
tãos, louvar seu Senhor, agra-
que pode resultar em várias aflições
decer-lhe e glorificá-lo; e ainda
(11.29-30). Como é possível tornar-
gostariam também de ter sua
-me bem preparado, já que em mi-
graça e seu amor; que se ate-
nha vida constato grandes e temíveis
morizam por causa da própria
pecados?
pessoa e indignidade; e que,
Lutero vê a necessidade de que
por isso, se mantêm distantes,
todos admitam para si próprios a
impedidos e intimidados por
sua indignidade de participar de ta-
falso temor.65
manho banquete. Ninguém jamais
poderá ser digno da bon dade de Lutero é muito consolador
64 ��������������������������������
PIEPER, Franz. Christian Dogmat- para com todos aqueles que tal-
ics. St. Louis: Concordia, 1950-1970. v. vez estejam há anos sem participar
2., p.371. “In the same manner I also desse banquete, e/ou sentem falta
speak and confess concerning the Sac-
rament of the Altar that there the body do Sacramento. Ele mesmo fala de
and blood of Christ are in truth orally si quando, certa vez, deixou de ir à
eaten and drunk in the bread and wine, Santa Ceia por um bom tempo por
even though the priests [ministers] who
administer it [the Lord’s Supper], or se sentir despreparado, indigno,
those who receive it, should not believe etc. Certa altura, ele, literalmente,
misuse it. For it does not depend upon manda tudo às favas e, baseado nas
the faith or unbelief of men, but upon
God’s Word and ordinance, unless they promessas de Cristo, vai à mesa do
first change God’s Word and ordinance
and interpret it otherwise […]”. 65 LUTERO, OSel, vol. 7. op. cit., p. 250.
Senhor. O diabo quer fazer com que cramento, meu Senhor Cristo
nos fiemos em nossa própria vida e é tanto mais digno de que com
não na de Cristo. Dessa forma ele faz isso eu lhe agradeça, o louve e
com que comecemos a abandonar o honre a sua instituição, confor-
Salvador e, consequentemente, to- me lhe devo e prometi em meu
das as bênçãos que decorrem do seu Batismo”. E por outro lado:
corpo e sangue.66 “Se sou indigno, tenho neces-
Lutero diz mais: sidade. Quem quer mendigar,
Foi por isso que afirmei que não deve ter vergonha disso.
tudo depende das palavras des- Na casa do pobre mendigo, a
se sacramento, proferidas por vergonha é um criado inútil.
Cristo, as quais se deveriam Assim, Cristo também elogia
incrustar em ouro e diaman- até um importuno que não se
te e ter constantemente ante acanha, Lucas 11[8]”.68
os olhos do coração para nelas
exercitar a fé. Deixa que um O próprio Paulo não está exigin-
outro ore, jejue, se confesse, se do perfeição ante os crentes de Co-
prepare para missa e o sacra- rinto para virem à Ceia do Senhor.
mento, como quiser. Faze tu o Em 1Co 11.28-32 o “examinar-se a
mesmo, desde que saibas que si próprio” não pode ser entendido
tudo é mera tolice e engano, como se fossem esforços humanos
caso não tenhas ante ti as pa- para alcançar um nível de santifica-
lavras do testamento e não des- ção mais elevado e assim se tornar
pertas a fé e o desejo por elas.67 digno para Ceia. Pelo contrário, a
dignidade do recipiente está jus-
O conceito de dignidade em tamente quando reconhece a sua
Lutero, portanto, é justamente o indignidade, isto é, sua grande defi-
oposto de uma disposição humana ciência na fé e no amor, e, assim, fa-
baseada em princípios de disciplina minto e sedento por perdão, confia
externa. Ele mesmo diz: na promessa de Cristo (Mt 26.28)
Teu coração deve pensar da se- de que o perdão dos pecados vem
guinte maneira: “Tudo bem, com o recebimento do corpo e san-
se sou indigno de receber o Sa- gue de Cristo no Sacramento. Os ar-
rogantes e céticos Coríntios, por ou-
66 LUTERO, OSel, vol. 7. op. cit., 246.
67 Idem, p. 250. 68 Idem, p. 261.
A relação do livr
com a riqueza e a
Introdução derivado duma raiz que significa
“voltar” ou “ arrepender-se”, e pode
ro de Jó
fossem escritas.
Como ocorre com muitos dos li-
vros do Antigo Testamento, nem o
a pobreza
próprio livro, nem o resto da Bíblia
nos dizem quem realmente o escre-
veu. Alguns tem sugerido que foi Jó
mesmo; outros dizem que foi Moi-
com a história Árabe do que He- sés ou algum outro indivíduo dessa
breia. época. Os estudiosos bíblicos con-
temporâneos são da opinião de que
Autoria o livro foi escrito depois do tempo
de Salomão.
No texto do livro de Jó não nos é
Um comentarista chamado Jac-
apresentado o seu autor. Esta é uma
ques Bolduc (1637) sugere que pode
questão bastante complicada por
ter sido indiretamente uma obra de
causa da diversidade de opiniões que
Moisés, que talvez o achasse em Ara-
os autores nos apresentam.
maico e o considerasse digno de ser
Um fato que merece considera-
traduzido para o Hebraico. “Dificil-
ção é que não devemos assumir que
mente pode-se dizer que haja qual-
Jó foi escrito durante a época em
quer indício de o estilo ser mosaico,
que os fatos relatados aconteceram,
por isso podemos crer que este livro
pode ter sido escrito alguns séculos
depois. Também não se tem evidên-
cias contundentes que assinalem a
data e a identidade do autor. Nós,
tradicionais, como pessoas que acei-
tam a Bíblia como a Palavra de Deus,
acreditamos que Jó, e os outros que
aparecem no texto, disseram as pala-
vras que estão registradas no livro, e
que Deus inspirou alguém para que
as escrevesse. Isto pode ter aconteci-
do pouco antes de terem sido faladas
ou, também é possível, ter passado
muitos séculos antes que as palavras
Fevereiro a Junho, 2012 | RT | 115
Antigo Testamento
pelo menos indireta, da longa prisão permite que um homem bom passe
e libertação final do rei Joaquim por sofrimentos tão intensos?
(fato que tem pouco a ver com Jó). Gleason L. Archer sugere um
Driver, Budde e Cheyne apoiam tema composto de três partes: “1)
a hipótese exílica ou pós-exílica ao Deus merece ser amado indepen-
indicar uma semelhança entre Jó e dente das bênçãos que concede; 2)
Dêutero-Isaías (cuja data queriam Deus pode permitir o sofrimento
fixar como sendo 550-540 a.C.). As como meio de purificar e fortalecer
semelhanças são: a) a forma desen- a alma na piedade; 3) Os pensamen-
volvida da moralidade e da doutrina tos e os caminhos de Deus se ma-
de Deus que se descobre em Jó; b) nifestam por meios e maneiras que
a analogia básica entre o sofrimento a mente pequena do homem não
do inocente Jó e o do Servo do Se- pode entender7.
nhor em Isaías II; c) os pontos de Estes temas sugeridos expõem
contato entre Jó e Jeremias já descri- claramente o livro de Jó. É certo que
tos no ponto 3. Jó sofreu muito, e os problemas que
Esta proposta, salvo alguns pou- lhe apareceram devem ter esgotado
cos defensores, não tem força no sua paciência até o limite. Mas, não
mundo acadêmico devemos esquecer a conversa entre
Em nossa opinião a data de com- Deus e Satanás logo no começo do li-
posição mais aceitável é a da época vro. Lá, Deus elogiou Jó chamando-
do rei Salomão, pois nos parece ser a -o de “integro, reto, temente a Deus
que tem argumentos mais aceitáveis, e que se desvia do mal” ( Jó 1.8).
embasamento melhor, e boa funda- Satanás desafiou Deus e pediu-lhe
mentação histórica. permissão para provar a resistência
de Jó até o limite ao atribulá-lo com
Tema severas aflições. Deus permitiu que
Satanás causasse sofrimentos a Jó,
Há uma pergunta que muitos mas ordenou que lhe conservasse a
fazem mas poucos conseguem res- vida. Deus tinha plena confiança de
pondê-la. Esta pergunta é: Qual é que Jó não perderia sua fé nEle, mes-
realmente o tema do livro de Jó? mo que fosse severamente castigado.
Existem muitas sugestões. A mais
comum é “A Paciência no sofrimen- 7 ARCHER, Gleason L. Reseña crítica
to”, outra é: “Porque um Deus justo de una introduccion al Antiguo
Testamento. P. 499.
ESBOÇO1
I. Prologue (chs. 1-2)
A. Job’s Happiness (1:1-5)
B. Job’s Testing (1:6-2:13)
1. Satan’s first accusation (1:6-12)
2. Job’s falth despite loss of family and property (1:13-22)
3. Satan’s second accusation (2:1-6)
4. Job’s faith during personal suffering (2:7-1 0)
5. The coming of the three friends (2:11-13)
II. Dialogue-Dispute (chs. 3-27)
A. Job’s Opening Lament (ch. 3)
B. First cycle of speeches (chs.4-14)
1.Eilphaz (chs. 4-5)
2. Job’s reply (chs. 6-7)
3. Bildad (ch. 8)
4. Job’s reply (chs. 9-10)
5. Zophar (ch. 11)
6. Job’s reply (chs. 12-14)
C. Second Cycle of Speeches (chs. 15-21)
1. Eliphaz (ch. 15)
2. Job’s reply (chs. 16-17)
3. Bildad (ch. 18)
Optamos por este esboço por acha-lo mais completo, pois demostra todos
os fatos e acontecimentos que se passam ao longo de todo o livro. As indica-
ções dos versículos facilitam ao se achar mais rápido os acontecimentos
Conclusão Bibliografia
Concluímos este trabalho A Bíblia Sagrada. Trad. João Ferreira de
Almeida — Revista e Atualizada 2ª
observando que nós, hoje, pode- edição letra grande. São Paulo: Socie-
mos ver em Jó um exemplo para dade Bíblica do Brasil. 1996.
ANDERSEN, Francis I. Jó introdução
nossa vida, isso porque, nós ape- e Comentário. São Paulo: Ed. Vida
sar de termos o que vestir, o que Nova e Mundo Cristão,1976.
ARCHER, Gleason L. Resenã crítica de
comer, e mesmo a oportunidade una introduccion al Antiguo Tes-
que temos, que estudar a Palavra tamento. Grand. Rapids:T E L L, 1977.
BULLOCK, C. Hassell. An Introduction
de Deus a cada dia, não somos to the Old Testament, Poetic
agradecidos a Deus como deve- Books. Chicago, Moody Press, 1988.
ria ser. Mesmo confessando tudo Concórdia Self-Study Bible. Interna-
tional Bible Society. St. Louis: Concór-
isto no credo Apostólico, quando dia Publishing House, 1984.
dizemos: “Creio em Deus, o Pai EDWARDS, J.Young. Introdução ao An-
tigo Testamento. São Paulo: Ed.Vida
Todo-Poderoso, criador do céu e Nova,1964
da terra”, e na explicação deste 1º HANSON, Antony and Miriam. Job. Lon-
don: S C M Press Ltd. 1953.
artigo Lutero nos diz que Deus HARTLEY, John E. The New Interna-
nos criou e nos sustenta com todo tional Commentary on the Old
o necessário para o corpo e alma Testament. Book of Job. Grand Rap-
ids: Eerdmans Publishing Company,
em toda nossa vida. 1988.
Cabe a nós orar por aqueles HARRISON, R. K. Introduction to the
Old Testament. ������������������
Grand Rapids: Erd-
que não tem muito o que comer, mans Publishing Company, 1969.
o que vestir, ou seja, que não tem HONSEY, Rudolph E. Job. Milwaukee
(USA): Editorial Northwestern, 1996.
muita condição de vida, já que o HUMMEL, Horace D. TheWord Beco-
nosso mundo é cheio disso. Pois ming Flesh. St. Louis: Concordia Pul-
bishing House, 1979.
nós sabemos que Deus tem planos MESQUITA, Antônio Neves de. Estudo
para todo o seu povo. Também no Livro de Jó. 2ª ed. São Paulo,
precisamos pedir a Deus, para que Juerp, 1972.
PIXLEY, Jorge. El Libro de Job. Costa
em nossa fé sejamos perseverantes Rica: Seminário Bíblico Latino-ameri-
como Jó, que no momento de fra- cano, 1982.
SELLIN,Ernst. Introdução ao Antigo
queza e de desespero em sua vida, Testamento. Trad. D. Mateus Rosa
permaneceu firme e fiel a Deus. São Paulo :Ed. Paulinas, 1977.
Rev. Cláudio Ramir Schreiber — Medianeira-PR e SCHULTZ, Samuel J. A História de Is-
rael no Antigo Testamento. São
Rev. Mauro Sérgio Hoffmann — Ji-Paraná-RO, são Paulo, Ed.Vida Nova, 1992.
pastores da Igreja Evangélica Luterana do Brasil.
Santíssima
Pesquisa e Adaptação
Trindade
Já no primeiro século falsos
mestres, incluindo Ário, ata-
caram a doutrina do Deus Triúno. O
sim como as três Pessoas são iguais
em honra e poder, também são coe-
ternas, nenhuma antes ou depois da
Credo Niceno, é como uma bandei- outra.
ra confessional contra o Arianismo Qualquer ilustrações da Trinda-
e heresias similares, e declara que de, verbal ou visual, é melhor par
Jesus Cristo é igual ao Pai. O Cre- anos aproximar do verdadeiro ser
do Atanasiano enfatiza com grande de Deus. Nós não podemos alcançar
clareza que as três pessoas de Deus a natureza de Deus com as nossas
são iguais: “E nesta Trindade nada mentes. Mas nós podemos crer que
é anterior ou posterior, nada maior Deus revelou a si mesmo em sua Pa-
ou menor, mas todas as três Pessoas lavra, e nós podemos adorar ao Deus
são juntamente eternas e iguais en- Triúno com nossos corações junta-
tre si. ... em tudo deve ser honrada a mente com São Paulo: “Como são
Trindade na unidade e a unidade na grandes as riquezas de Deus! Como
Trindade. ”. são profundos o seu conhecimento
Um dos símbolos mais antigos da e a sua sabedoria! Quem pode ex-
Trindade é o triângulo equilátero. plicar as suas decisões? Quem pode
Os lados e ângulos são iguais. Juntos entender os seus planos?” (Romanos
formam uma nova figura. Este sím- 11.33).
bolo é um auxílio visual para afirmar
a verdade que existem três pessoas
distintas: Pai, Filho e Espírito San-
to, e estas são iguais. O triângulo
mostra além disso que as três Pesso-
as constituem uma unidade — uma
essência divina.
O triângulo cercado de um cír-
culo mostra não só a unidade divina,
mas també a eternidade divina. As-
Legenda:
P Pastor de pé
C Congregação sentados
T Todos ajoelhados
|: Repetir o canto entre :| cantar
Vida sustentável
P
articipei do 2º Fórum ADCE para Sustentabilidade e voltei mais deter-
minado em fazer a minha parte na preservação dos recursos naturais e
do meio ambiente. Neste encontro em Porto Alegre, promovido pela As-
sociação de Dirigentes Cristãos de Empresa, sob o tema “educar pelo exemplo
e agir”, empresários, economistas, teólogos, políticos, engenheiros, professo-
res e outros, expuseram ideias e experiências sobre formas sustentáveis de
vida. Para mim foi um enorme aprendizado nesta matéria que sempre me
interessou. Lembro-me que em 1982, ao optar pelo tema “ecologia” para a
minha dissertação do bacharelado, desaconselharam-me por ser um assunto
“sem interesse” no aspecto teológico. No entanto, quando hoje o termo “sus-
tentabilidade” é definido como a capacidade de integrar as questões sociais,
energéticas, econômicas e ambientais, de imediato os cristãos têm a tarefa de
lembrar uma quinta questão, a espiritual. Segundo a fé bíblica, a sustentação,
a rocha firme, a pedra angular é Cristo, e sem ela a casa cai.
Entre tantas palestras interessantes, fiquei impressionado com a aborda-
gem do ex-ministro da Casa Civil, Luis Roberto Ponte. Com voz embargada,
disse que “a doutrina social da igreja ajuda a esclarecer a verdade sobre os
sofismas que levam a injustiça, e demonstrar atra-
vés do exemplo de vida que é somente pela prática
do bem que se alcança a sociedade sustentável”. Per-
cebi certa decepção dele com a vida pública, homem
experiente que é nos seus 78 anos de idade. Penso que
a maioria dos que chegam a este tempo de existên-
cia terrena, deve se sentir assim, frustrada com os
“sofismas”, ou seja, as argumentações falsas com
aparência de verdadeiras. É a insustentabilidade
da palavra com a verdade o pior desastre am-
biental deste planeta que sofre os efeitos do pe-
cado. Mas foi por isto mesmo que “a Palavra se
tornou um ser humano e morou entre nós, cheia
de amor e de verdade” (João 1.14).
Rev. Marcos Schmidt — Novo Hamburgo, é pastor da Igreja Evangélica
Luterana do Brasil