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Carta de apresentação

aos professores –
Criança com autismo
Tenho uma dificuldade muito grande quando o ano inicia e troca o professor do Lelê.
Nem sempre consigo agendar uma reunião individual com o professor antes das aulas
começarem, mas existem alguns pontos que, como já sabemos, precisam de um olhar
diferenciado. E, muitas vezes, quando consigo consigo marcar uma conversa, acabo
esquecendo alguns pontos que julgo importantes.
Já tinha recebido essa sugestão de dois profissionais que nos atendiam, então resolvi
fazer uma cartinha para cada vez que mudasse o professor. Pensando bem, a ideia é
genial, nos poupa um desgaste desnecessário!
Abaixo deixo a cartinha do Leandro, espero que possa ajudá-los!
Olá professora … ! 
Na sua turminha nova você tem um aluno muito especial (não que todos não sejam),
que é o Leandro. Preciso te passar algumas informações a respeito dele, para que você
o conheça! 
O Leandro (ou Lelê) foi diagnosticado dentro do espectro autista quando tinha 1 ano e
meio. De lá pra cá já passamos por muitos profissionais, mas a maior parte do
tratamento foi desenvolvido aqui em casa, com a família. 
Apesar de ser um grupo com características em comum, cada pessoa com autismo é
única, pois cada um manifesta os sintomas de forma diferente. O mais importante é
saber que antes de enxergarmos o autismo temos que ver a pessoa na sua
individualidade. Temos então, crianças tímidas e com autismo, teimosas e com autismo,
calmas ou agitadas apesar do autismo. Definir o que é autismo e o que é da própria
pessoa é difícil, mas não é necessário, se tratarmos a criança como tratamos as outras,
principalmente se as tratamos com carinho. Este é o maior desafio: tratá-los como
iguais, apesar das diferenças.
A pessoa com autismo tem muita dificuldade em aceitar limites, pois não entende bem a
lógica do outro e se tem vontade de fazer algo, não entende porque precisa abrir mão
disso. Isso não significa que a gente não deva impor limites, mas a maneira de fazermos
isso muda um pouco. Quando queremos dizer o que é certo ou errado, é melhor utilizar
menos o “não” e mais o que ele pode fazer. Por exemplo, ao invés de dizer “não pise
na grama”, prefira usar “fique na calçada”. Ao invés do “assim não pode”, é
preferível utilizar “é assim que se faz”. 
O Leandro tem dificuldade com mudanças na rotina. Então os dias que saem da rotina
na escola (como dias festivos) costumam ser difíceis. Não que ele não goste de
participar, ele gosta sim. Mas precisa ser preparado com antecedência sobre o que irá
ocorrer, sem ser pego de surpresa. E muita paciência para explicar o que está
acontecendo. Essa inflexibilidade às mudanças de rotina pode refletir no dia a dia. Ele
pode ficar realmente incomodado com sequências fora de ordem ou massinhas
misturadas, por exemplo.
Pessoas com autismo têm a sensibilidade sensorial alterada. O Leandro dificilmente irá
se queixar de frio ou calor, mesmo que esteja vestido de maneira inadequada, por isso
precisa da sua ajuda. Ele também pode ficar incomodado quando a turma estiver muito
agitada ou se houver muitos estímulos ao mesmo tempo (barulhos, sensações…).
Outro ponto bem importante no âmbito escolar é que a imaginação dele é mais
limitada, seu pensamento é concreto. Algumas histórias ele não entenderá,
principalmente se forem muito imaginativas. Vou dar um exemplo: “Caindo na
estrada” ele entende como alguém que caiu na estrada literalmente. No ano passado,
tive que buscá-lo antecipadamente no dia em que a professora leu a história da galinha
depenada, pois ele não entendeu que era uma historinha e chorou muito (muito
mesmo), sem conseguir se controlar.

Hoje ele tem um diagnóstico mais preciso, está dentro


das características da Síndrome de Asperger (embora não se use mais esse termo). É
extremamente cativante! Aprendeu a ler sozinho com 2 anos, faz continhas de
matemática de cabeça e tem uma memória visual quase fotográfica. Gosta de aprender
línguas, então já sabe algumas coisinhas em inglês, espanhol, italiano, francês, russo.
Não estranhe se o vir fazendo letras esquisitas de massinha. Por ele ser um pouco
“autodidata”, meu maior interesse na escola é que ele conviva com as outras crianças,
interagindo e tendo os mesmos interesses.
Desejo um ótimo trabalho para você e saiba que estou totalmente aberta para qualquer
dúvida que você possa vir a ter durante esse ano!
Um abraço,
Amanda, mãe do Lelê.

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