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COMPONENTE: DRAMATURGIA BRASILEIRA do 

Nordeste e, portanto, apresentam dialeto e costumes nordestinos.


DISCENTES: Alesandro Evangelista, Luan Felipe Assim, os elementos da cultura popular dessa região são valorizados.

Dessa forma, o autor possui uma literatura nacionalista, que valoriza


“Quem gosta de tristeza é o Diabo.” Suassuna, Ariano. a cultura regional e dá protagonismo ao sertanejo e à sua forma simples
de viver. Nesse contexto, elementos tradicionais, como a religião, são
Quem foi Ariano Suassuna? tematizados em sua obra, mas também questões sociopolíticas.

Ariano Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927, em João Apesar de ter escrito tragédias, como Uma mulher vestida de sol,
Pessoa, no estado da Paraíba. Em 1946, ingressou na Faculdade de em que a violência do homem do sertão é retratada, Suassuna é mais
Direito e participou do Teatro do Estudante de Pernambuco. Em conhecido pelas suas comédias, como O santo e a porca e a famosa Auto
1950, ganhou o Prêmio Martins Pena pela obra Auto de João da Cruz. Em da Compadecida, nas quais imperam a ironia e a crítica a determinados
1952, além de escrever para o teatro, passou a trabalhar como advogado. comportamentos humanos.
Em 1955, escreveu sua peça mais famosa — Auto da Compadecida.
Obras de Ariano Suassuna
O escritor foi um dos fundadores do Teatro Popular do Nordeste,
em 1959. No entanto, nos anos seguintes, decidiu se concentrar em sua
Textos teatrais: Uma mulher vestida de sol (1947); Cantam as harpas de
carreira acadêmica. Além disso, em 1967, tornou-se um dos membros do
Sião ou O desertor de Princesa (1948); Os homens de barro (1949); Auto
Conselho Federal de Cultura e, no ano seguinte, do Conselho Estadual de
de João da Cruz (1950); Torturas de um coração (1950); O arco
Cultura de Pernambuco.
desolado (1952); O castigo da soberba (1953); O rico avarento (1954);
Auto da Compadecida (1955); O casamento suspeitoso (1957); O santo e
Em 1989, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras,
a porca (1957); O homem da vaca e o poder da fortuna (1958); A pena e a
aposentou-se como professor, em 1994, e assumiu o cargo de secretário
lei (1959); Farsa da boa preguiça (1960); A caseira e a Catarina (1962);
de Cultura do estado de Pernambuco. Já em 2000, recebeu o título de
As conchambranças de Quaderna (1987).
doutor honoris causa da Universidade Federal do Rio Grande do
Romances: A história do amor de Fernando e Isaura (1956); Romance
Norte. Morreu em 23 de julho de 2014, em Recife.
d’A pedra do reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta (1971); História
d’O rei degolado nas caatingas do sertão: ao sol da onça Caetana (2015);
Características da obra de Ariano Suassuna Romance de Dom Pantero no palco dos pecadores (2017).
Poesias: Ode (1955); Dez sonetos com mote alheio (1980); Sonetos de
A obra de Ariano Suassuna é caraterizada, principalmente, pelo Albano Cervonegro (1985); Poemas (1999).
seu teor regionalista. Desse modo, seus personagens são típicos

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O Auto da Compadecida – A peça Trapalhões, portanto). Foi um dos raros filmes dos Trapalhões que chegou
a ser comercializado para o exterior, no caso, para Portugal.
A peça teatral com tema nordestino foi dividida em três atos. Escrita
em 1955, Auto da Compadecida foi levado a público pela primeira vez no O Auto da Compadecida é uma série escrita por Guel
ano a seguir, em 1956. Arraes, Adriana Falcão e João Falcão, baseada na peça teatral
homônima de Ariano Suassuna com elementos de O Santo e a
Porca e Torturas de um Coração — ambas também de autoria de
Mas foi no ano seguinte, em 1957, no Rio de Janeiro, que a peça
Suassuna —, com direção de Guel Arraes. A microssérie teve maior
ganhou grande destaque. O Auto da Compadecida foi encenado no Rio de
sucesso pela primeira vez na história da emissora. Em 2000 a minissérie
Janeiro durante o 1º Festival de Amadores Nacionais.
chegou aos cinemas no formato de filme, porém, nessa versão possui
uma hora a menos que a minissérie, tendo muitas partes cortadas.
Muitos anos depois, em 1999, a história ganhou uma adaptação
televisiva e no ano a seguir virou longa-metragem.
Dirigido por Guel Arraes com o roteiro assinado por Adriana Falcão,
João Falcão e o próprio Guel Arraes, a adaptação para o cinema do
O Auto da Compadecida – Os filmes clássico de Ariano Suassuna foi realizada pela Globo Filmes no ano 2000.

A Compadecida é um filme brasileiro de 1969, do gênero comédia, O longa metragem com 1h35min de duração conta com grande
dirigido por George Jonas e roteiro de Ariano Suassuna e George Jonas, elenco (Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Denise Fraga, Marco Nanini,
baseado na premiada peça de Ariano Suassuna, Auto da Compadecida. Lima Duarte, Fernanda Montenegro, etc.).
Estrelado por Regina Duarte, Antônio Fagundes e Armando Bogus.

O longa foi filmado em Cabaceiras, no sertão da Paraíba, e quando


Os trapalhões no Auto da Compadecida é um filme brasileiro de
foi exibido teve um rápido sucesso de público (mais de 2 milhões de
1987, do gênero comedia, dirigido por Roberto Farias, baseado na
espectadores brasileiros foram ao cinema).
premiada peça de Ariano Suassuna, Auto da Compadecida e estrelado
por Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias.
Em termos de crítica, o filme fez sucesso no Grande Prêmio do
Era apontado por Ariano Suassuna (autor do texto original e Cinema Brasileiro do ano de 2001. O Auto da Compadecida levou para
também colaborador do roteiro) como a melhor versão audiovisual de sua casa os seguintes prêmios:
obra. Ou seja, superior até mesmo à O Auto da Compadecida (2000),
longa de Guel Arraes que foi encarado como sucesso por levar 2 milhões  Melhor Diretor (Guel Arraes)
de brasileiros aos cinemas (ou seja, menos que a adaptação d’Os
 Melhor Ator (Matheus Nachtergaele)

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 Melhor Roteiro (Adriana Falcão, João Falcão e Guel Arraes) também vocês não tinham dito de quem era o cachorro! (ATO 1, Cena 3,
páginas 32 – 34)
 Melhor lançamento
2. SEVERINO: Muito bem. Como é o nome de Vossa Senhoria?
EXCERTOS JOÃO GRILO: Minha Senhoria não tem nome nenhum, porque não
existe. Pobre tem lá senhoria, só tem desgraça.
SUASSUNA, Ariano. O Auto da Compadecida. ESTABELECIMENTOS SEVERINO: Diga então o nome de Vossa Desgracência.
GRÁFICOS BORSOI S/A., IND.E COMÉRCIO, PARA AGIR S.A., NO SEGUNDO JOÃO GRILO: João Grilo.
TRIMESTRE DE 1975. SEVERINO: Chega então agora a vez de Sua Desgracência, o Senhor
João Grilo, o amarelo mais amarelo que já tive a honra de matar. Pode ir,
1. JOÃO GRILO: Cansei de dizer a ele que o senhor benzia. Benze porque a casa é sua.
benze, vim com ele. JOÃO GRILO: Um momento. Antes de morrer, quero lhe fazer um grande
PADRE: Não benzo de jeito nenhum. favor.
CHICÓ: Mas padre, não vejo nada de mal em se benzer o bicho. SEVERINO: Qual é?
JOÃO GRILO: No dia em que chegou o motor novo do major Antônio JOÃO GRILO: Dar-lhe esta gaita de presente.
Morais o senhor não o benzeu? [...]
PADRE: Motor é diferente, é uma coisa que todo mundo benze. Cachorro SEVERINO: Sua ideia é boa, mas por segurança entregue logo a gaita a
é que eu nunca ouvi falar. meu cabra. (João entrega a gaita.) Agora eu levo um tiro e vejo Meu
CHICÓ: Eu acho cachorro uma coisa muito melhor do que motor. Padrinho?
PADRE: É, mas quem vai ficar engraçado sou eu, benzendo o cachorro. JOÃO GRILO: Vê, não vê, Chicó?
Benzer motor é fácil, todo mundo faz isso, mas benzer cachorro? CHICÓ: Vê demais. Está lá, vestido de azul, com uma porção de anjinhos
JOÃO GRILO: É, Chicó, o padre tem razão. Quem vai ficar engraçado é em redor. Ele até estava dizendo: “Diga a Severino que eu quero vê-lo”.
ele e uma coisa é o motor do major Antônio Morais e outra benzer o SEVERINO: Ai, eu vou. Atire, atire!
cachorro do major Antônio Morais. CANGACEIRO: Capitão!
PADRE: (mão em concha no ouvido) Como? SEVERINO: Atira, cabra frouxo, eu não estou mandando?
JOÃO GRILO: Eu disse que uma coisa era o motor e outra o cachorro do CANGACEIRO: Capitão!
major Antônio Morais. SEVERINO: Atire!
PADRE: E o dono do cachorro de quem vocês estão falando é Antônio JOÃO GRILO: Homem atire logo pelo amor de Deus! (O Cangaceiro
Morais? ergue o rifle)
JOÃO GRILO: É. Eu não queria vir, com medo de que o senhor se SEVERINO: Espere. (João, extremamente nervoso, ergue os braços para
zangasse, mas o major é rico e poderoso e eu trabalho na mina dele. o céu.) Não se esqueça de tocar na gaita. (ATO 2, Cena 15, p. 119 – 120, 126 –
Com medo de perder meu emprego, fui forçado a obedecer, mas disse a 127)
Chicó: o padre vai se zangar.
PADRE: (desfazendo-se em sorrisos) Zangar nada, João! Quem é um 3. MANUEL: Sim, é Manuel, o Leão de Judá, o Filho de Davi. Levantem-se
ministro de Deus para ter direito de se zangar? Falei por falar, mas todos, pois vão ser julgados.
JOÃO GRILO: Apesar de ser um sertanejo pobre e amarelo, sinto

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perfeitamente que estou diante de uma grande figura. Não quero faltar Referências bibliográficas:
com o respeito a uma pessoa tão importante, mas se não me engano
aquele sujeito acaba de chamar o senhor de Manuel. https://www.preparaenem.com/portugues/ariano-suassuna.htm
MANUEL: Foi isso mesmo, João. Esse é um de meus nomes, mas você
https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Compadecida
pode me chamar também de Jesus, de Senhor, de Deus... Ele gosta de
me chamar Manuel ou Emanuel, porque pensa que assim pode se
https://tvbrasil.ebc.com.br/cine-retro/2021/12/os-trapalhoes-no-auto-da-
persuadir de que sou somente homem. Mas você, se quiser, pode me compadecida
chamar de Jesus. https://www.culturagenial.com/auto-da-compadecida/
JOÃO GRILO: Jesus?
MANUEL: Sim.
JOÃO GRILO: Mas, espere, o senhor é que é Jesus?
MANUEL: Sou.
JOÃO GRILO: Aquele Jesus a quem chamavam Cristo?
JESUS: A quem chamavam, não, que era Cristo. Sou, por quê?
JOÃO GRILO: Porque... não é lhe faltando com o respeito não, mas eu
pensava que o senhor era muito menos queimado.
BISPO: Cale-se, atrevido.
MANUEL: Cale-se você. Com que autoridade está repreendendo os
outros? Você foi um bispo indigno de minha Igreja, mundano, autoritário,
soberbo. Seu tempo já passou. Muita oportunidade teve de exercer sua
autoridade, santificando-se através dela. Sua obrigação era ser humilde
porque quanto mais alta é a função, mais generosidade e virtude requer.
Que direito tem você de repreender João porque falou comigo com certa
intimidade? João foi um pobre em vida e provou sua sinceridade exibindo
seu pensamento. Você estava mais espantado do que ele e escondeu
essa admiração por prudência mundana. O tempo da mentira já passou.
JOÃO GRILO: Muito bem. Falou pouco mas falou bonito. A cor pode não
ser das melhores, mas o senhor fala bem que faz gosto.
MANUEL: Muito obrigado, João, mas agora é sua vez. Você é cheio de
preconceitos de raça. Vim hoje assim de propósito, porque sabia que isso
ia despertar comentários. Que vergonha! Eu Jesus, nasci branco e quis
nascer judeu, como podia ter nascido preto. Para mim, tanto faz um
branco como um preto. Você pensa que eu sou americano para ter
preconceito de raça? (ATO 3, Cena 16, p 145 – 148)

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