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Adrian Martin
Mas o filme conta uma histó ria emocionante. É baseado na autobiografia de Frank
Abagnale Jr. Frank (Leonardo DiCaprio) conseguiu, em tenra idade, enganar muitas
pessoas de que ele era um piloto de aviã o, um advogado, e algumas outras coisas.
Ele era habilidoso nã o apenas em se insinuar em qualquer situaçã o profissional,
mas também em fraudar o sistema. DiCaprio, com esse carisma diabó lico, mas
ainda infantil, foi perfeitamente escalado.
Pela primeira vez desde The Sugarland Express (1974), Spielberg esboça um
panorama da vida social americana e seus costumes. Sinais dos famosos e legais
anos 60, como programas de jogos de televisã o e o romantismo das viagens aéreas,
sã o recriados com elegâ ncia. Seus colaboradores regulares, o compositor John
Williams (desempenhando a difícil tarefa de fornecer uma trilha sonora "alegre") e
o diretor de fotografia Janusz Kaminski, o servem bem.
Mas, em uma histó ria em que o mocinho principal, Carl (Tom Hanks), é um
impassível agente do FBI, a açã o fica bem longe de qualquer problema político
iminente. O filme se desenrola em um EUA abstrato, sem nenhuma histó ria exceto
a do consumismo pop. E essa exclusã o tem muito a ver com o investimento pessoal
mais profundo de Spielberg no material.
1
Publicado no site http://filmcritic.com.au/reviews/c/catch_me_if_you_can.html Traduçã o de Julio
Bezerra.
Os filmes de Spielberg sã o frequentemente povoados por crianças perdidas e
aterrorizadas, mã es infiéis e pais desaparecidos. Eles estã o igualmente cheios de
figuras parentais substitutas, como a encarnada por Hanks aqui e em O resgate do
soldado Ryan (1998). Que agonia antiquada, sentimental e conservadora que o lar
desfeito desencadeia neste autor!
Mas o Frank de Spielberg nã o pode ser um anarquista alegre. Ele deve ser um filho
choroso e definhado, um rebelde com uma causa. Ele corre (no principal motivo do
filme) nã o para fugir da lei ou para bisbilhotar o mundo, mas por um desespero
doloroso desatado pelo lar infeliz.
A verdadeira histó ria de Abagnale parece ser sobre as coisas que Spielberg
minimiza, como o desejo de muito dinheiro e sexo sem fim. Mas o que teria sido
interpretado por Oliver Stone ou Martin Scorsese como um grande desfile de
dó lares, bens de consumo, viagens pelo mundo e carne é aqui apresentado de
maneira bastante modesta, quase franciscana.