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crítico francês André Bazin só surgiu com Jacques Tati (1907-82). Entretanto, os EUA
1910, a maior parte dos filmes cómicos baseados na acção física (o chamado slapstick)
das estrelas cómicas por vezes atraíssem mais espectadores do que o filme que
metragens de comédia tornaram-se por isso mais comuns. Estrelas como Buster
narrativas para enquadrar as suas elaboradas piadas físicas. Com a sua mestria do
Harold Lloyd foi uma maiores figuras do slapstick. Durante a década de 1910, ele criou
uma personagem com óculos, um pouco tímida. Os seus filmes mais famosos são
Na longa-metragem Safety Last! (O Homem Mosca, 1923), ele deu-nos algumas das
relógio da fachada do edifício. Lloyd faz o papel de um rapaz ambicioso que trabalha
numa loja e que trepa um arranha-céus de modo a criar uma acrobacia para fins
publicitários. Never Weaken (Fraquejar, Nunca!, 1921), realizado por Fred C. Newmeyer, foi
a última curta-metragem de Lloyd e uma das suas melhores. O filme é uma das
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que permitiriam filmar actores em cenas de risco — ainda não eram usadas projecções
fossem usadas sobreposições; era tudo feito no local, montando apenas algumas
plataformas com colchões para apanhar o actor se ele caísse. A personagem principal
do filme trabalha perto da sua namorada. Ele pensa que vão casar, mas ouve a rapariga
dizer a alguém que vai casar com ele. Então decide suicidar-se. A arte de Lloyd
actor interage com os elementos do cenário. É isso mesmo que acontece quando Lloyd é
levado por uma viga de ferro para o exterior do edifício, de olhos fechados. Quando os
abre, pensa que está no céu. Depois, apercebe-se que está de facto equilibrado em cima
de uma viga.
Embora actores como Harold Lloyd, Charles Chaplin, e Buster Keaton, acabassem por
programas das salas de cinema. Um dos mais importantes produtores de curtas foi Hal
Roach, que descobriu Lloyd e Mark Sennett. Sob a sua direcção, emergiu uma nova
geração de estrelas cómicas que começou a trabalhar no início da década de 1920. Os
mais famosos foram Laurel e Hardy, Bucha e Estica (com mais rigor, Estica e Bucha, já
que Laurel é o magro e Hardy é o gordo). Stan Laurel era inglês e Oliver Hardy era
do seu estúdio: Putting Pants on Philip (1927). Trata-se de uma comédia sobre um
americano (Hardy) a lidar com a confusão criada pelo seu primo escocês chamado
Philip (Laurel), que agressivamente tenta seduzir todas as mulheres com que se cruza.
Philip usa um kilt escocês em vez de calças — daí o título. Putting Pants on Philip
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permanece um dos filmes mais hilariantes da dupla. Tal como em relação a Lloyd, o
que é importante percebermos é o que define o estilo cómico destes dois cómicos.
afinidade. É do modo como um reage ao outro, um comunica com o outro, que nasce a
comédia. A piada pode começar apenas num deles, mas só ganha força através do
outro. A obra cómica com maior valor artístico da dupla na época do mudo é Big
Business (Grande Negócio, 1929), dirigido por James W. Horne e Leo McCarey, é a maior
prova disso. Neste filme, Laurel e Hardy fazem o papel de dois vendedores de árvores
início do sonoro. Mas, a pouco e pouco, o seu corpo mais velho e menos ágil já não
Charles Chaplin foi um dos maiores cómicos do cinema, mas foi também um grande
cineasta — admirado por cineastas tão diferentes como Sergei M. Eisenstein, Robert
Nasceu em Londres, Inglaterra, e teve uma infância muito pobre. Começou por se
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dedicar ao teatro de variedades (ou vaudeville). A sua popularidade fez com que
mantivesse contractos exclusivos com diversos estúdios, que dividem a primeira parte
40 minutos, segundo a regra americana) da sua carreira, Tillie’s Punctured Romance, mas
continuou a concentrar-se nas curtas. Foi precisamente nesse ano, em Kid Auto Races at
Venice (Charlot Fotogénico), que apareceu primeira vez num filme seu a personagem mais
famosa que ele criou: o vagabundo, o charlot (embora a palavra surja, de modo abusivo,
nalguns títulos portugueses de filmes onde a personagem não entra), quase sempre de
chapéu de coco e bengala, uma das figuras mais imitadas da história do cinema. Neste
frente da câmara. Foi uma oportunidade para Chaplin passear e mostrar a personagem
aos espectadores.
The New Janitor (Charlot Porteiro, 1914), já realizado por ele, mostra que Chaplin
interpretou outras personagens com igual força — aqui, um homem que cuida da
perfeição em forma fílmica. Um bom exemplo disso é One A.M. (1916), também dirigido
por Chaplin, em que um abastado homem bêbado faz diversas tentativas para chegar
ao quarto na sua casa. Aqui não encontramos as acrobacias perigosas de Harold Lloyd
nem a perversidade cúmplice de Laurel e Hardy. Chaplin está sempre num quotidiano
Ouro, 1925) foi já produzido pela United Artists. É uma visão ao mesmo tempo terrível e
Charlot prepara um petisco a partir de um sapato, que divide com o seu companheiro
Um dos sucessos mais estrondosos da sua carreira foi The Kid (O Garoto de Charlot,
1921). O grande crítico e teórico do cinema húngaro, Béla Balázs, explica num ensaio
arte de Chaplin, que se revela na melancolia tocante da pantomina como uma ingénua
humanidade afastada da civilização e deixada à sua própria sorte.” Em The Kid, Chaplin
interpreta mais uma vez o vagabundo, mas partilha a sorte e o ecrã com uma criança-
grande expressividade dos corpos e rostos dos actores, a começar pelo próprio Chaplin.
O filme é igualmente um retrato da estratificação social, entre o mundo rico da mãe
que é forçada a abandonar o filho (por uma questão de moral da classe alta,
precisamente) e o mundo pobre onde Charlot acaba por criar a criança. O primeiro
mundo está cheio, mas há certas coisas que não são aceitáveis. O segundo, tem muitas
faltas que diminuem a qualidade da vida dos seus habitantes, e a introdução de certos
objectos (como os dois brinquedos oferecidos pela mãe) pode provocar inveja e
confusão. O adulto e a criança, pequenos criminosos que partem vidros para os
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Buster Keaton nasceu no seio de uma família que trabalhava no teatro de variedades. O
pai, aliás, entraria mais tarde nalguns dos seus filmes. Ainda criança, juntou-se ao
espectáculo dos pais, Joe e Myra Keaton. No final dos anos 1910, Buster começou a
que foi mentor de Charles Chaplin. Quando Arbuckle passou a fazer longas-metragens,
curtas-metragens, aparecendo numa série de comédias populares. Entre elas está Cops
(1922), que Keaton dirigiu com Edward F. Cline. O comediante interpreta um homem
numa carroça de mudanças que, por acidente, se junta a uma parada da polícia. Num
momento, há um homem que atira uma bomba para a parada que aterra na carroça. Ele
reage utilizando a bomba para acender, calmamente, um cigarro. Esta calma de Keaton
expressão facial, aconteça o que acontecer. Daí os nomes dados pelos críticos: great stone
face (grande cara de pedra) ou the man who never laughs (o homem que nunca ri). Um momento
como este, em que ele lida com grande serenidade com uma bomba (que coloca toda a
polícia contra ele quando rebenta), mostra um gosto por um humor bizarro, quase
surrealista.
narrativas complexas fizeram com que fosse menos popular do que Harold Lloyd e
Chaplin. Um dos seus grandes sucessos foi Our Hospitality (As Leis da Hospitalidade, 1923),
realizado por ele e John G. Blystone, sobre um conflito entre duas famílias, os McKays
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e os Canfields, que se arrasta há gerações. Keaton é um McKay que, sem nada saber do
conflito, se apaixona por uma Canfield. O filme contém uma das mais famosas
grande eloquência física. A expressividade cómica de Keaton não passa pelo rosto,
The General (Pamplinas Maquinista, 1926), co-realizado com Clyde Bruckman, foi um
dos filmes de Keaton mais ambiciosos e um dos filmes mais amados pelo autor.
engenheiro ferroviário Johnnie Gray (Keaton) feita prisioneira. A acção é intensa, mas é
equilibrada com detalhes muito precisos da época retratada. Os gags são muito
elaborados em termos de encenação, muitos deles ocorrendo num único plano — como
quando o canhão apontado para a locomotiva de Johnnie atinge os raptores por causa
de uma curva nos carris. Apesar de todas as suas qualidades, hoje reconhecidas, o filme
teve poucos espectadores e foi menosprezado pela crítica. O facto de ter sido um
projecto caro que custou cerca de 750 mil dólares e os fracos resultados fizeram com
que Keaton perdesse alguma independência como artista. Dois anos depois, Keaton
assinou um contrato com diversas restrições com a MGM. Ainda participou num
grande filme, The Cameraman (1928), mas a pouco e pouco deixaram de lhe permitir a
conseguisse renascer. Havia de ser recuperado para um filme único realizado por Alan
ilaheyya (Intervenção Divina, 2002) está recheado de gags em que o realizador aposta tudo
morador que está em conflito permanente com outro vizinho, junta uma série de
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garrafas de cerveja na cobertura da sua casa. Não sabemos porquê. Mais tarde, a polícia
aparece para o interrogar e ele ataca-os com as garrafas. Do outro lado da rua, os
Film é mais um deles. O mais importante desses filmes auto-reflexivos é Sherlock Jr.
(Sherlock Holmes Jr., 1924), realizado apenas por ele. O filme contém uma elaborada
aspirante a detective, sonha que entra dentro do filme que está a projectar, depois das
personagens do filme se terem transformado na rapariga que ele ama, no seu rival, no
cúmplice do rival, e no pai da rapariga. Nesta reflexão o cinema aparece, por um lado,
como correspondendo aos nossos desejos mas, por outro lado, como algo com leis
próprias — como se vê quando o plano muda e ele se vê de repente numa nova situação,
chamar a atenção para o travelling para frente que sela o projeccionista no filme-dentro-
projecção. Os planos de Sherlock Jr. que se seguem são já do filme projectado. Deixou de
haver diferença entre os dois filmes. Para além disso, o filme explora insistentemente o
motivo visual das imagens em espelho e dos enquadramentos (paredes, portas, janelas)
personagem nos momentos finais do filme, quando olha para o ecrã e descobre os