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Interpretado com charme e energia por Leonardo DiCaprio, Frank Abagnale Jr.
tem, como grande arma, sua aparência jovial e inocente – e ele sabe que uma mentira
dita com firmeza assume caráter de verdade indiscutível. Com isso, o rapaz demonstra
sua inteligência e criatividade em várias situações inicialmente adversas, como na cena
em que, ao chegar em sua nova escola, resolve se passar pelo novo professor de francês
para se vingar de um brutamontes que acabara de humilhá-lo - e este é apenas o início
de uma longa jornada, já que, com o passar do tempo, Frank torna-se cada vez melhor
em suas audaciosas farsas.
Enquanto isso, Tom Hanks assume um papel que, apesar de secundário, lhe
oferece a oportunidade de brilhar mais uma vez: seu agente do FBI, Carl Hanratty, é um
tipo dedicado e carrancudo que sonha apenas em conseguir se tornar chefe de sua seção.
Determinado a prender Frank, Hanratty mal pode acreditar que seu adversário ainda é
um adolescente, o que confere a Hanks a possibilidade de voltar a fazer humor depois
de uma longa pausa (a graça vem, justamente, do mau humor de seu personagem:
observe, por exemplo, o instante em que ele entrega um garfo para um de seus
subordinados e perceba a sutileza com que o ator extrai o riso de um simples
movimento). A escalação de Hanks para o papel é, diga-se de passagem, uma jogada de
mestre por parte de Spielberg, já que, desta maneira, ele imediatamente transformou o
agente do FBI em uma figura que também desperta a simpatia do público, que se divide
entre o desejo de ver DiCaprio escapar e o de ver Hanks obter sucesso em sua
perseguição.
E mais: sempre obcecado com a relação entre pais e filhos (tema presente em
praticamente todos os seus filmes), Spielberg cria, em Prenda-me Se For Capaz, um
verdadeiro triângulo `paterno` (na falta de um termo melhor) entre Hanks, DiCaprio e
Walken: apesar de amar o pai profundamente, Frank Jr. sente falta de alguém que o
contenha, que o discipline – e acaba encontrando esta figura de autoridade em Hanratty
(não é à toa que, em certo momento, ele pede, como uma criança, que o agente `não o
castigue`). Já o personagem de Hanks não consegue esconder sua admiração pela
inteligência de Frank, que é capaz de colocar em prática planos incrivelmente
audaciosos (como ao se esconder atrás de um verdadeiro `escudo de visibilidade` – veja
o filme e entenderá o que digo).
Com o perdão do infame trocadilho, o fato é que Prenda-me Se For Capaz não
precisa se esforçar muito para prender a atenção do espectador. Steven Spielberg teve
mais um ótimo ano. E nós agradecemos por isso.