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CUIABÁ, MATO GROSSO,

UFMT – UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO.


2023

CURSO: JORNALISMO – 1-0 SEMESTRE.


ALUNA (O): AMANDA MAGALHÃES DA COSTA
MATÉRIA: FOTOJORNALISMO I
RESENHA DO FILME “BLOW UP” DE 1966, DIRIGIDO POR
MICHEANGELO ANTONIONI.

Até que ponto uma realidade é decodificada a outra realidade?


Nessa brilhante trama protagonizada pelo diretor e roteirista Michelangelo
Antonioni, acompanhamos a história do excêntrico e talentoso fotografo de moda que
se vê entediado das mesmas façanhas que percorrem sua vida através das suas lentes;
modelos sempre obstinadas em conseguir uma única foto de seu poderio. Porém, num
dia qualquer, levado pelo destino ou por seus anseios, nosso protagonista acaba
fotografando um certo casal num parque, mas o que era aparentemente uma
demonstração de amor espontânea, acaba se transformando num “retrato” para a
visão de uma armadilha. “Blow up”, do inglês, significa no literal a palavra “explodir”, o
que nos apresenta uma pista do que encontraremos dentro de mente excêntrica de
Antonioni.
“O que é que quis dizer? Eis a pergunta que me é posta com mais frequência.
Sinto-me tentado a responder: quis fazer um filme, é tudo.”
– Michelangelo Antonioni
Após uma manhã rotineira fotografando modelos, ou melhor, usando as
palavras “apropriadas” que nosso próprio protagonista viria a destacar na conversa de
um amigo mais tarde: “vadias”; ele de repente está num piso de grama belíssimo e
com um alvo através de suas lentes. Um casal trocando caricias em um parque.
Seguindo-os como Alice de o país das maravilhas persegue o coelho, ou seja, movido
por uma curiosidade espontânea ou quem sabe inspiração, ele se vê através da sua
câmera fotogrando o casal de inúmeros ângulos, cercado pelo o que parecia ser; juras
de amor em forma de contato físico. O que ele descobriria mais tarde, no entanto, era
o equivoco do que ele jurava ser o literal retrato da verdade.
Conforme é apresentada a elucidação da premissa outrora enigmática, eu como
expectadora me senti voltada a fazer um paralelo entre a velocidade do clique da
câmera do protagonista e o título da história. Exatamente como uma explosão
violenta, ou o ato de apertar o botão para tirar uma simples foto, a verdade adentra o
olhar azulado do excêntrico artista ao revelar as fotografias. Uma realidade diferente
da que viu é formada. Entre um frame numa sala escura e outro, assim como Thomas,
nos tornamos cativos da mente acida do diretor ao configurarmos analiticamente o
que seria a realidade, algo que inventamos ou algo que simplesmente é o que é.
Antonioni nos fez vagar na mente do protagonista, este que pensava ter visto sob o
olhar nú a intimidade de um casal, e fotografou, na verdade, um assassinato a sangue
frio. Thomas teria voltado ao suposto matadouro naquele mesmo dia, decidido a ver
com seus próprios olhos o que sua câmera fotografou. O que era uma incerteza,
contudo, tornou-se um fato a observar um cadáver sobre o gramado. Ele está
convencido. Não existem mais reticencias, apenas o ponto final.
Não somos impulsionados pela realidade, mas sim por nossa percepção de
realidade, assim disse Anthony Robbins, famoso escritor estadunidense. É inevitável
não se sentir confrontado pessoalmente pelo fantasma de Antonioni ao se deparar
com sua arte cinematográfica; conforme o enredo se aprofundava seguindo suas
próprias linhas, ou seja, a incomunicabilidade do filme como uma principal válvula para
interpretação, os aspectos da realidade do protagonista são brutalmente confrontados
novamente; porque ao retornar para seu estúdio, ele perceberia que as provas do
crime que ele mesmo presenciou haviam desaparecido. Transtornado, ele voltaria para
o parque a fim de encontrar novamente o cadáver, mas o “túmulo” está vazio. Uma
incógnita que parece ligeiramente ter nos alcançado, estando com telespectador
desde o início, novamente vem à tona como uma explosão: O que é real? O
assassinato ocorreu ou não?
De acordo com a filosofia magnética apresentada pelo filme, juntamente com a
linguagem interpretativa da obra, percebemos que o que é considerado real é apenas
uma perspectiva subjetiva. Um exemplo que comprova essa construção teórica é a
cena em um clube londrino, onde o protagonista comparece a um show. Em um
momento cheio de energia, um dos músicos da banda "Yardbirds" destrói sua própria
guitarra e arremessa os pedaços para os fãs, que lutam para obter um fragmento
desse instrumento do famoso guitarrista. Para o público presente, aquele pedaço de
guitarra quebrada se torna um item valioso. No entanto, para qualquer outra pessoa,
seria apenas "lixo", personificando esse conceito postulado. Á medida que a narrativa
se desenrola, o próprio protagonista passa a adotar esse conceito e começa a
compreender o real de uma maneira diferente. Um exemplo perfeito disso é o jogo de
tênis imaginário dos mímicos, do qual em determinado momento, o protagonista pega
uma bola imaginaria e a arremessa de volta para os mímicos. A obra inicia-se com eles
e termina com eles, nos jogando a pista que apenas elucida-se no fim.
Ademais, a obra cinematográfica também implica uma grande questão ao
estarmos diante dos parâmetros da linguagem fotografia e a comparação com a
realidade; até que ponto a fotografia representa o real? Porque diante das câmeras,
assim como Thomas, observamos uma realidade que aos nossos olhos representam
um retrato, uma história, mas fora das lentes podemos estar diante do irreal, apenas
fantasia do que juramos verdade. O protagonista pensava ter visto um romance aos
seus olhos, mas conforme ele vai ampliando e revelando as fotos, estas que estão
numa meta linguagem pontilhada, vão se transformando numa armadilha cruel e
armada. O homem está morto, mas apenas no mundo das ideias, apenas na realidade
da câmera, porque fora dela, o contexto é outro. Em síntese, portanto, a fotografia
representa uma narrativa, uma história a ser contada de acordo com o que parece ser,
enquanto a realidade é fria e sempre condenada ser submetida a um contexto
subjetivo; porque assim como o protagonista só consegue enxergar o assassinato
através das fotos, os telespectadores também só consegue ver o assassinato após as
revelações das fotos.

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