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Memento é um thriller independente lançado em 2000 dirigido por

Christopher Nolan. Nolan nasceu em 1970, em Londres, na Inglaterra. É famoso por


filmes com narrativas densas e grandes plots twists, discutindo a construção do
tempo, memória e realidade a partir de rugosidades - piruetas, sempre trabalhando
com cinema de gênero. O filme se propõe a reconstituir a investigação de Leonard,
um homem que perdeu a memória apos o estupro e assassinato de sua mulher, a
descobrir quem cometou tal atrocidade. Antes de continuar, é preciso pontuar que a
história é contada de maneira inversa, sendo o início do filme o fim do conflito.
A primeira cena do filme é uma espécie de síntese, a cena acontece em
reverso, uma foto sendo “desrevelada”, perdendo sua definição - seu sentido - cada
vez mais que nos aproximamos do ato, nos alarmando: a constituição dos fatos é
truncada. A foto mostra um homem após levar um tiro na cabeça, depois é mostrada
a reconstituição do momento da foto e do ato em si, nos apresentando então o
método de constituição de Leonard, e a construção da narrativa. Na cena seguinte,
é introduzido o problema de Lenny, um homem com perda de memória recente,
“re-conhecendo” Teddy, o finado da foto mostrada na cena anterior. A história segue,
eles vão para um depósito isolado, seguindo pistas achadas em seu bolso. Se
descobre, que, na verdade, este é o segmento anterior ao da cena anterior, que
Leonard irá matar Teddy. O filme inteiro segue este mesmo movimento, tornando
então toda cena em um novo plot twist, constantemente descredibilizando tudo que
é mostrado, pontuando a ambiguidade na própria materialidade. A própria Natalie é
um ótimo exemplo, trazendo com sua aparição mais contraste com os ramos que a
história vai abrindo, cada vez mais adicionando camadas a verdade. O filme se
propõe a recriar a experiência do protagonista ao espectador, utilizando cortes
secos e abruptos para criar a mesma sensação que a condição do personagem o
impele. Cria este quebra-cabeça de memórias e fatos, localizando o espectador nos
pontos de intersecção de cada segmento de memória. É interessante também
ressaltar a maneira em que cria as memórias ‘absolutas’, inserts, flashes de
smash-cuts, sendo sempre pequenos lampejos que iluminam o escuro caminho que
segue. O sentido aos fatos.
Concluindo, Nolan se utiliza da montagem e da edição para questionar a
memória, as narrativas que criamos de/para nós mesmos, o ser e suas limitações.
Faz isso de maneira em que os próprios pontos de intersecção, que ligam as
memórias umas às outras, aqui ferramenta para nos situar dentro da diegese, nos
confundam mais, nos deslocalizam mais na temporalidade da narrativa. No limite,
toda cena é um pré ou pós jump-cut ‘plot twistzado’. Finaliza o filme apresentando o
conflito que o permeia: “Eu tenho que acreditar em um mundo fora da minha própria
mente. Eu tenho que acreditar que minhas ações ainda tenham sentido”.

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