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SALAH H. KHALED JR.

Acredito na Constituição. Foi por acreditar nela que aceitei coordenar a parte relativa Professor adjunto da Universidade
Federal do Rio Grande (FURG).
ao Direito Penal e Processual Penal deste projeto. Eu havia coordenado obras Doutor e mestre em Ciências Criminais
coletivas antes e tinha plena ciência do quanto o percurso até a eventual publicação (PUCRS). Mestre em História (UFRGS).
Especialista em História do Brasil
é desgastante. Certamente, não seria diferente com um livro tão ambicioso.
(FAPA). Bacharel em Ciências Jurídicas e
Sociais (PUCRS). Licenciado em História
Felizmente, eu soube perceber que este era um projeto incomum e necessário. (FAPA). Parecerista. Palestrante. Líder do
Quando a vida nos oferece uma chance assim, não podemos deixar o trem passar. Grupo de Pesquisa Hermenêutica e
Ciências Criminais (FURG/CNPq).
Como Alice, não me restou escolha: fechei os olhos e mergulhei decidido toca do
coelho adentro. É em momentos assim que descobrimos do que somos feitos. Afinal,
essa é uma decisão que tomamos a cada dia: ou sucumbimos diante do autoritarismo
ou reagimos com as armas que nos são dadas.

Em circunstâncias normais de temperatura e pressão – poderia se dizer, em


circunstâncias normais de legalidade democrática, talvez – certamente que uma
Constituição não necessitaria de alguém que a defendesse, muito menos de uma
legião dos melhores juristas do Brasil, como você encontrará nestas páginas, mas,
infelizmente, há quem não acredite na Constituição Cidadã, ou seja, no “documento da
liberdade, da democracia e da justiça social do Brasil”, como disse Ulysses Guimarães,
no dia 5 de outubro de 1988, quando ela foi promulgada.

Naquele momento fundamos a República e, com ela, a promessa de construção de


uma sociedade livre, justa e solidária, comprometida com o desenvolvimento
nacional, a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução da desigualdade
social. A República então nascia, visaria ao bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3o
CF/88).

Trinta anos se passaram e os objetivos para os quais a República foi fundada ainda
parecem sonhos distantes ou, talvez, possibilidades abortadas e sentidos perdidos.
O ódio parece ter triunfado sobre a solidariedade em quase todos os recantos do país.
Quem de qualquer modo atua no campo das Ciências Criminais e tem a Constituição
como norte bem sabe que a realidade concreta das práticas punitivas raramente
guarda algum nível de conformidade constitucional. Não sem razão, você verá que
as contribuições são muitas vezes escritas em tom de denúncia, como manifestos
contra a arbitrariedade reinante. Sem dúvida esta não é “mais uma” Constituição
comentada. Quem conhece o que eu escrevo sabe que eu não teria o menor interesse
em coordenar ou sequer participar de um livro assim.

Há muito a descobrir nesta obra e não cabe a mim fazer uma síntese dessa cognição
em tão apertadas linhas. Creio que consegui reunir uma boa amostragem do que de
melhor a academia brasileira produziu nas últimas décadas em termos de
constitucionalistas, processualistas penais, penalistas e criminologistas: Lênio
Streck, Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, Juarez Tavares, Aury Lopes Jr.,
Alexandre Morais da Rosa, Rubens Casara, Elmir Duclerc, Rômulo Moreira, Fauzi
Hassan Choukr,

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Luciano Góes, Tomás Grings Machado, Francisco Monteiro Rocha Jr., Vanessa Chiari,
Guilherme Moreira Pires, Luís Carlos Valois, Fernanda Martins, Flaviane de
Magalhães Barros, Ricardo Gloeckner, Leonardo Costa de Paula, Ana Cláudia Pinho,
Antonio Pedro Melchior, André Nicolitt, Thiago Minagé, Camilin Poli, Gabriel
Divan, Gustavo Pereira e Leonardo Marcondes Machado. É uma lista representativa
em todos os sentidos possíveis e imagináveis, com exceção de horizontes
compreensivos antidemocráticos, que nesta obra foram barrados sem cerimônia.

Na atual quadra histórica, defender a Constituição chega a soar como algo


revolucionário, particularmente em círculos nos quais predomina, de modo
irrefreável, uma subjetividade autoritária e comprometida com a devastação de
direitos humanos fundamentais e sociais. Se essa é a revolução que nos é dada nessa
quadra histórica, que assim o seja e que você se sinta inspirado a atender ao
chamado da resistência, em defesa da Constituição.

NÃO PASSARÃO!

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