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Sinopse:

Entre 1924 e 1945 a Editora Gallimard publicou os cinco volumes que compõem a
obra Variété, de Paul Valéry. No último volume, aparecido no mesmo ano da
morte do poeta, os editores fizeram anteceder o índice por uma “classificação por
assuntos das matérias contidas nos cinco tomos publicados de Variété”. Os
assuntos eram: “Estudos Literários”, “Estudos Filosóficos”, “Ensaios quase
Políticos”, “Teoria Poética e Estética”, “Ensino”,”Memórias do Poeta” e
“Melodramas”. Eram cinquenta e seis textos, quase todos escritos por
encomenda: prefácios, conferências, homenagens, resultados de uma intensa
atividade intelectual de quem, depois da publicação, nos anos 1920, de dois
volumes de poemas – Album de vers Anciens e Charmes –, precedidos por La
Jeune Parque, em 1917, assumira a posição de um dos maiores escritores da
França, traduzido quer por R.M. Rilke, na Alemanha, quer por Jorge Guillén, na
Espanha, e saudado por um T.S. Eliot, na Inglaterra, ou por uma Victoria Ocampo,
na Argentina. Um poeta, portanto, que alcançara o reconhecimento universal e
que, para utilizar a expressão de Jorge Luis Borges em um ensaio sobre ele, se
transformara em símbolo. Símbolo, diz Borges em Otras Inquisiciones, “de um
homem cujos textos admiráveis não esgotam, sequer definem, suas inúmeras
possibilidades. De um homem que, num século que adora caóticos ídolos do
sangue, da terra e da paixão, preferiu sempre os lúdicos prazeres do pensamento
e as secretas aventuras da ordem”.
Foi, no entanto, entre o poeta consagrado de Charmes e o autor público de
Variété que, por muito tempo, se conservou secreto o Paul Valéry mais íntimo
que, desde 1894 até às vésperas de sua morte, em 1945, anotou sem
interrupção, entre as primeiras horas da manhã, aquilo que seria uma espécie de
versão vale-ryana do Livre, de Mallarmé: os movi-mentos de uma inteligência em
busca daquela “atitude central”, que tanto estimava em Leonardo da Vinci, e que
se traduzia por reflexões sobre as sig-nificações das linguagens das artes, das
ciências, da psicologia, da filosofia, do próprio mecanismo de escrever. O
resultado são os Cahiers, dos quais o Centre National de la Recherche
Scientifique (CNRS) publicou uma edição fac-simi-lar em 29 volumes, entre 1957
e 1961, e a Editora Gallimard, entre 1973 e 1974, publicou uma seleção, em dois
volumes, realizada por Judith Robinson. Somente a partir de 1987, a mesma
editora iniciou a publicação de edição integral da obra, sob a coedi-ção de Nicole
Celeyrette-Pietri e Judith Robinson-Valéry, da qual já apareceram três volumes, o
último dos quais em 1990, e que correspondem aos anos de 1894 a 1914.
(Diga-se, entre parênte-ses, que a única tradução publicada, no Brasil, de alguns
fragmentos dos Cahiers, deve-se ao poeta Augusto de Campos, em seu livro Paul
Valéry: a Ser-pente e o Pensar, Brasiliense, 1984.) O Paul Valéry público e o
consagrado de Variété, de que este livro da Iluminuras dá uma pequena mostra
com quinze dos cinquenta e seis textos, completa-se e, por assim dizer,
expande-se com os dos Cahiers. Um e outro deixam o leitor sentir o rigor e a
precisão da frase de Borges: são todos “lúcidos prazeres do pensamento e (…)
secretas aventu-ras da ordem”.

João Alexandre Barbosa


São Paulo, 1991

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