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luso-brésilien
Klaxon e Lumière
Cecília de Lara
de Lara Cecília. Klaxon e Lumière. In: Cahiers du monde hispanique et luso-brésilien, n°25, 1975. pp. 77-102;
doi : https://doi.org/10.3406/carav.1975.1988
https://www.persee.fr/doc/carav_0008-0152_1975_num_25_1_1988
PAR
Cecilia de LARA
Université de São Paulo
(8) Idem, Les Marionnettes de Lumière, Ed. Henneuse, Lyon, 1954, apud,
L'Aventure de Lumière.
(9) Idem, L'Aventure de Lumière, p. 158.
(10) Idem, ibidem, p. 164.
(11) Idem, ibidem, p. 164.
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:
;
O ultimatum da Alemanha à Bélgica gera inicialmente um clima
de entusiasmo, principalmente entre os jovens, ávidos de assumir
funções militares. Tal atitude explica-se em parte pela situação
especial da Bélgica no contexto europeu, que nessa época se sente
afirmar-se como nação, e vê despertar seu sentimento patriótico. Com
isso a face real da guerra se oculta. O isolamento, com a
ocupação alemã, que não permite contactos com a Franca, mantém
por algum tempo certa inconsciência. Mas, não era muito diferente
o panorama europeu, em geral, segundo Sergio Millet : « A voz
de Romain Rolland ainda não clamara no deserto do bom senso. A
luta entusiasmava as multidões e diariamente novas levas de
voluntários e recrutas partiam para a frente, entre flores de retórica e
canções militares » (17).
A obra de Barbusse, Le Feu, que consegue ultrapassar as
fronteiras francesas e belgas, será para aquela geração o instrumento que
levará a uma atitude realista em relação à guerra.
Este livro, citado como marco por Roger Avermaete, será também
mencionado por Sergio Milliet, que relata o efeito semelhante
experimentado pelos seus companheiros suíços : c Foi quando surgiu
Barbusse. Vinha da frente, em linha reta, seu livro corajoso — Le
Feu. No meio do otimismo quase inconsciente do momento jogava,
cinematográficamente, aspectos ainda desconhecidos do grande
drama, cuja representação apenas se iniciava. Era uma desilusão
e uma revelação : os homens não faziam trocadilho na hora H, mas
falavam a rude linguagem da revolta e do desespero. As paisagens
sido ferido na guerra. < Tinha por fim servir de porta voz aos
intelectuais de ambas as facções para que isentos de paixão pudessem
com franqueza e lealdade expor seu verdadeiro pensamento » C30).
Recordando essa época, dirá, no Diário Crítico : « Éramos pacifistas
e a nosso lado se achavam Stefan Zweig, Karl Spitteler, René Arcos,
Guilbeaux, boa parte dos escritores que mais tarde fundaram
« Europe > (31). Essa mesma atitude é que inflama Stephan Zweig
levando-o a fazer uma verdadeira peregrinação europeia (32.)
A figura de Romain Rolland era o centro difusor das idéias
pacifistas que alimentavam o idealismo de muitos. Sergio Milliet também
fala do « respeito religioso » que lhe votava (33) e sempre
reverenciará a imagem que lhe ficou das reuniões em Saconnex D'Arve,
perto de Genebra, onde residia Baudouin. Anos mais tarde, lendo o
livro de René Arcos sobre Romain Rolland, recordará o seu papel na
época da guerra : < A posição de Rolland, sereno e humano, no
momento de ódio e obnubilação, de 1914 a 1918, eu a apreciei de
perto » <34). E manterá sempre fidelidade a essa visão que guardou
da época da revista Le Carmel.
Logo, é compreensível a posição assumida por Lumière, bem como
o teor do seu manifesto. O ecletismo que a caracteriza é, pois,
visceral, por traduzir um anseio de confraternização que impedia a
imposição de um programa. E não é sem certo orgulho que Aver-
maete confirmará, anos depois, essa atitude : .« Nous ne nous
sommes jamais départis de la même ligne de conduite : nous avons
toujours accueilli sans les juger ceux qui venaient à nous, en adeptes
fidèles d'une doctrine dont on parle beaucoup mais que l'on
n'applique guère : la liberté de penser > C35).
Este espírito se refletirá em consequência, no conteúdo de
Lumière. Não percebemos unidade ou linha comum na colaboração
literária, além de certa coincidência temática, por um lado, bem
como a relativa liberdade formal, bem longe, no entanto, de uma
posição radical.
Reminiscências de tons simbolistas, o amor às paisagens
nebulosas, os climas outonais, ainda estarão presentes entre outros
colaborações mais realistas que tratam da guerra e suas consequências para
(57) Andrade, Mário de, comentário sobre Le Miracle de vivre, de Ch. Baudouin,
Klaxon n° 5, p. 11.
(58) Idem, Comentário sobre Epigramas Irónicas e Sentimentais de Ronald de
Carvalho, Klaxon n° 7, pp. 14, 15.
(59) Milliet, Sérgio, Comentário sobre « L'abdication des pauvres et le
couronnement des morts, de Louis Emié. Klaxon, n° 7, p .15.
(60) Milliet, Sérgio, Comentário sobre Voyage de Bob Claessens, ilustrado por
Van Staaten, Klaxon n° 1, p. 13.
(61) Nota em < Livros e Revistas », Klaxon n° 3, julho n° 3, julho de 1922,
p. 13.
96 C. de CARAVELLE
(65) Andrade, Oswald de, « Escola et Ideias (notas para um possível prefácio)
Klaxon, n° 5, p. 15.
98 C. de CARAVELLE
n»(66)
8-9, Araújo,
p. 17-18. Carlos Alberto (Tácito de Almeida), « Paz Universal », Klaxon,
(67) Andrade, Mário de, « Paysage », Lumière, agosto de 1922 e Almeida,
Guilherme de, < La danse des heures », Lumière, abril de 1922.
(68) Milliet, Sérgio, < Une semaine d'art moderne à São Paulo », Lumière,
abril de 1922.
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