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Centro Federal de Educação

Tecnológica de Minas Gerais

Subestações e Equipamentos Elétricos

Para-raios

Prof. Eduardo G. Silveira


Conceitos

• Os equipamentos e demais componentes do SEP


podem ser submetidos a sobretensões provocadas
por agentes externos (descargas atmosféricas) ou
internas (manobras no sistema);

• Para evitar sua danificação, é necessário que se


instalem dispositivos de proteção, os quais, na
prática, são designados PARA-RAIOS;

• Tratam-se, portanto, de dispositivos de dimensões


reduzidas, simples do ponto de vista construtivo e de
baixo custo quando comparados aos equipamentos
que eles protegem.
Atuação de um Para-raios (Descrição
Sumária)

Quando uma onda de tensão (t1) incide em direção a


um transformador (T) através da linha (L), o para-
raios (PR) absorve uma onda de corrente (Ia) fazendo
com que a tensão terminal no transformador seja
apenas a onda (t2). No caso de uma sobretensão
atmosférica, a amplitude de (t2) não danificará o
isolamento do transformador se a distância (Ld) for
suficientemente pequena.

A distância adequada entre o para-raios e o


transformador é convenientemente verificada através
de simulações em programas digitais de transitórios
eletromagnéticos.
Sobretensões no Sistema Elétrico
Sobretensões no Sistema Elétrico

A. SOBRETENSÕES DE ORIGEM EXTERNA

• Desenvolvidas na atmosfera (nuvens ionizadas, ou seja,


carregadas eletrostaticamente);

• Sua duração é de apenas alguns micro-segundos (µs);

• São designadas SOBRETENSÕES DE IMPULSO ou


DINÂMICAS;

• Como se tratam de ocorrências de efeito rápido no


domínio do tempo, podem também ser designadas
SURTOS DE TENSÃO DE IMPULSO;
Sobretensões no Sistema Elétrico

B. SOBRETENSÕES DE ORIGEM INTERNA

• Desenvolvidas por ações dentro do próprio sistema


elétrico (manobras de chaveamento, desligamentos
devidos a perdas de isolamento, entre outras);

• Sua duração está na faixa de micro segundos (µs)


até milissegundos (ms);

• São designadas SOBRETENSÕES DE MANOBRA


ou SEMI-DINÂMICAS;

• Como se tratam de ocorrências de efeito rápido no


domínio do tempo, podem também ser designadas
SURTOS DE TENSÃO DE MANOBRA;

Obs.: Neste grupo podem ser incluídas ainda as sobretensões de maior duração
(alguns ciclos) designadas SOBRETENSÕES DE FREQUÊNCIA INDUSTRIAL (Hz)
ou TEMPORÁRIAS.
Forma de Onda das Sobretensões
DA e Manobra

Uma onda originada por um surto de tensão, pode ser designada através de dois
intervalos associados à sua geometria, a saber:

1. Apresentam um rápido crescimento (frente de onda) em um tempo t1 ou


“x” µs, atingindo um valor máximo de crista;

2. Decai em seguida até metade do valor de crista que atingiu, gastando um


tempo t2 ou “y” µs;

3. Por estas razões, em muitas literaturas esta onda é designada como


sendo uma onda de x . y µs.
Forma de Onda das Sobretensões
DA e Manobra
Graficamente, sua representação é a seguinte:

A – tempo zero virtual da onda de corrente


B – tempo zero virtual da onda de tensão
Valores Usuais das Ondas

Atmosférica

1. O tempo de frente de onda se situa na faixa de 1 a 10 µs;

2. O tempo de cauda desde o início da onda até a mesma atingir a metade


deste valor se situa na faixa de 10 a 100 µs;

3. Os valores usuais normalizados para as ondas de impulso são:

Ondas de tensão: Norma ANSI: 1,2 . 50 µs; IEC: 1,4 . 40 µs

Ondas de corrente: Normas ANSI e IEC: 8.20 µs

Manobra

Os valores usuais normalizados para as ondas de manobra são:

100 . 2500 µs e 200 . 2500 µs’


Determinação dos valores devido as
DAs

A onda ao se descarregar se desloca em duas direções opostas. O valor da


sobretensão será:
d

Id . Zs
Vd = d
2
d

s
Sendo:
Vd = Sobretensão (kV)
Id = Corrente de Descarga (kA)
Zs = Impedância da Linha (Ω)
Conexões Usuais dos Para-raios
Os para-raios são conectados usualmente:

a) Entre linha e terra (quase


que em sua totalidade);
Conexões Usuais dos Para-raios
(cont.)

b) Entre fases, em casos mais específicos (p.ex.: entradas e saídas de


reguladores de tensão para proteção dos surtos que poderiam penetrar no
equipamento)
Para-raios Ideal
É possível definir um para-raios ideal como sendo um dispositivo de proteção contra
sobretensões que possua as seguintes características:

• Apresentar uma impedância infinita entre os seus terminais nas condições de


regime permanente do sistema, ou seja, comportar-se como um circuito aberto até
a ocorrência de uma sobretensão no sistema;

• Ter a capacidade instantânea de entrar em condução quando da ocorrência de


uma sobretensão, mantendo esse nível de tensão no início de condução e durante
toda a ocorrência da sobretensão;

• Parar de conduzir, ou seja, retornar à condição de circuito aberto assim que a


tensão do sistema retorne ao seu estado inicial, com sua característica “tensão x
corrente” original restaurada.

Tal operação não deve causar nenhum distúrbio ou degradação ao sistema ou ao


próprio para-raios. A figura apresentada a seguir mostra a característica “tensão x
corrente” de um para-raios ideal.
Para-raios Ideal
Característica “tensão x corrente” de um para-raios ideal:

Os para-raios atualmente disponíveis, no entanto, não têm a capacidade de atender


plenamente a nenhum dos requisitos de um para-raios ideal. A tecnologia mais
aprimorada e próxima de um para-raios ideal é representada pelo para-raios de Óxido
de Zinco (ZnO) sem centelhadores, os quais representam o que há de mais moderno
após desenvolvimentos e aperfeiçoamentos sucessivos e que tiveram início com os
centelhadores a ar, ainda hoje utilizados em algumas aplicações específicas.
Evolução dos Dispositivos de Proteção
Contra Sobretensões

A. Centelhadores (GAP’s);

B. Para-raios com resistores não lineares e GAP’s (Centelhadores);

C. Para-raios apenas com resistores não-lineares e, portanto, sem GAP’s.


Evolução dos Dispositivos de Proteção
Contra Sobretensões

A. Centelhadores (GAP’s):

Dispositivos inicialmente utilizados para


proteção dos equipamentos em SE e
cadeias de isoladores de LT. Quando uma
sobretensão alcança um valor tal que
supere as distâncias ajustadas (A), (B) e
(C) em ensaio entre os dois eletrodos,
ocorre o disparo, limitando a sobretensão
nos dispositivos por eles protegidos.
Como grande desvantagem, os
centelhadores podem apresentar o
estabelecimento de um curto-circuito que
deve ser eliminado pela proteção do
sistema elétrico.
Evolução dos Dispositivos de Proteção
Contra Sobretensões

B. Para-raios com resistores não lineares e GAP’s (Centelhadores):

B1 – Concepção

Com o objetivo de evitar o estabelecimento


de um curto-circuito no sistema e suas
consequências, foram desenvolvidos os
primeiros dispositivos compostos por um
conjunto de resistores não-lineares em série
com centelhadores (GAP’s) como forma de
limitar a corrente de descarga.

Tais dispositivos são utilizados desde a classe


de distribuição até os níveis de 138 kV
nominais.
Evolução dos Dispositivos de Proteção
Contra Sobretensões

B. Para-raios com resistores não lineares e GAP’s (Centelhadores):

B2 – Curvas de atuação

• Em operação normal, o para-raios comporta-se como um circuito aberto.


Quando o surto se estabelece (conexão ao potencial de terra) inicia-se uma
corrente de descarga disparada por GAP’s (centelhadores) e limitada por
resistores não-lineares (cuja função é a de impedir que a tensão entre seus
terminais - linha e terra - ultrapassem um determinado valor);

• A corrente de descarga somente é interrompida quando a tensão passar pelo


primeiro zero do ciclo após a descarga.

As curvas de atuação estão mostradas adiante.


Evolução dos Dispositivos de Proteção
Contra Sobretensões
B. Para-raios com resistores não lineares e GAP’s (Centelhadores):

B3 – Características dos Resistores não-lineares

• Nos para-raios com GAP’s (centelhadores) é utilizado como material para os


resistores não-lineares o SiC (Carboneto de Silício) em blocos;

• Sua não-linearidade indica que a corrente fluindo através dos resistores de


SiC para a terra à tensão nominal de operação é da ordem de 200 A. Em
razão desta elevada não-linearidade, é necessária a adição de GAP’s
(centelhadores) em série com o bloco de resistores;

• A característica não linear “tensão x corrente” dos blocos de resistores SiC


pode ser expressa por: I = K . Vⁿ, sendo:

• I = corrente no para-raios; V = Tensão aplicada nos seus terminais;


“k” = constante dependente do tipo do para-raios e n = fator característico
não-linear (para o para-raios a SiC “n” é da ordem de 4 a 6).
Evolução dos Dispositivos de Proteção
Contra Sobretensões

B. Para-raios com resistores não lineares e GAP’s (Centelhadores):

As curvas a seguir mostram a não-linearidade dos blocos de resistores SiC:


Evolução dos Dispositivos de Proteção
Contra Sobretensões

B. Para-raios com resistores não lineares e GAP’s


(Centelhadores):
1

B4 – Principais componentes de um para-raios SiC com GAP’s

1. Terminal de linha;
4
2. Centelhadores (GAP’s) – Discos metálicos (eletrodos) intercalados 2
por pequenas pastilhas isolantes designadas esteatita;

3. Resistor não-linear SiC;

4. Invólucro de porcelana ou borracha polimérica; 3


5. Terminal de aterramento

5
Evolução dos Dispositivos de Proteção
Contra Sobretensões

C. Para-raios apenas com resistores não-lineares e, portanto, sem GAP’s

Atualmente, o “estado da arte” ou tecnologia da


fabricação dos para-raios utiliza resistores não-
lineares, porém sem a presença dos “GAP’s”
centelhadores.

Isto porque são utilizados como blocos de resistores


não-lineares o Óxido de Zinco (ZnO), de altíssima
não-linearidade, uma vez que possui um fator
carcterístico não-linear “n” da ordem de 25 a 30, com
base na expressão:
I = k . Vⁿ
Evolução dos Dispositivos de Proteção
Contra Sobretensões
C. Para-raios apenas com resistores não-lineares e, portanto, sem GAP’s

Curva de não-linearidade dos blocos de ZnO:

Com isso, a não-linearidade dos blocos


de ZnO permitiu que se fabricassem
para-raios sem a presença de GAP’s, o
que simplificou extremamente a sua
construção e elevou a sua confiabilidade.
Evolução dos Dispositivos de Proteção
Contra Sobretensões
C. Para-raios apenas com resistores não-lineares e, portanto, sem GAP’s

Exemplo da curva de não-linearidade de um para-raios ZnO 500 kV:


Evolução dos Dispositivos de Proteção
Contra Sobretensões
Evolução dos Dispositivos de Proteção
Contra Sobretensões
C. Para-raios apenas com resistores não-lineares e, portanto, sem GAP’s
Principais componentes de um para-raios ZnO:

Isolamento Convencional Isolamento a Gás SF-6


Evolução dos Dispositivos de Proteção
Contra Sobretensões
C. Para-raios apenas com resistores não-lineares e, portanto, sem GAP’s

Dispositivos de alívio de sobrepressão interna


1. Têm por finalidade impedir que o para-raios seja danificado de
forma explosiva quando de uma solicitação superior à aquela para
a qual foi especificado evitando, inclusive, a possibilidade de
danificar outros equipamentos nas proximidades e colocar em risco
o pessoal que se encontre próximo da instalação no instante da
ocorrência;

2. Sua atuação ocorre da seguinte forma:

Os gases quentes que se formam no interior do para-raios


originados por uma excessiva solicitação dos mesmos devem ser
transferidos para o ambiente exterior, impedindo a explosão do
equipamento. Os pontos de exaustação são alinhados, facilitando a
formação de um arco, conforme mostrado na figura ao lado.
Evolução dos Dispositivos de Proteção
Contra Sobretensões
C. Para-raios apenas com resistores não-lineares e, portanto, sem GAP’s

Dispositivos de alívio de sobrepressão interna

1. Duto de Exaustão
2. Placa de Vedação
3. Junta de Vedação
4. Invólucro
5. Flange
Evolução dos Dispositivos de Proteção
Contra Sobretensões
C. Para-raios apenas com resistores não-lineares e, portanto, sem GAP’s

Composição dos elementos do bloco de ZnO


O bloco de resistores não-lineares de ZnO é composto de pastilhas formadas a partir de uma
granulometria de pó de Óxido de Zinco, no qual são aditivados outros óxidos, sendo o
produto misturado, prensado e sinterizado, circundado por finas camadas de material
intergranular.
Características Elétricas
TENSÃO NOMINAL (kV rms)
• É a máxima tensão rms de frequência fundamental para a qual o para-raios foi
projetado e em relação à qual todas as demais características estão
relacionadas. Com este valor, aplicado aos seus terminais, o para-raios deve
operar corretamente, sem alterar suas características. Ressalva-se que, embora
esta definição não faz referência, esta tensão depende da forma do aterramento
do neutro do sistema elétrico no ponto de instalação do para-raios.

TENSÃO MÁXIMA DE OPERAÇÃO DE UM SISTEMA ELÉTRICO (kV rms)

• É a maior tensão eficaz de linha que pode ser mantida sob condições normais de
operação, em qualquer ponto do sistema.

✓ Esta tensão não é necessariamente a tensão máxima de operação dos


equipamentos ligados ao sistema;
✓ Nesta definição excluem-se os “curto-circuitos” e as “sobretensões
temporárias” que possam ocorrer no referido sistema.
Características Elétricas

FATORDE ATERRAMENTO Fa

VALORES USUAIS ENCONTRADOS NA PRÁTICA

Sistema Elétrico Fa

Efetivamente aterrado 80% (0,8)

Não efetivamente aterrado ou isolado 100% (1,0)


Características Elétricas

TENSÕES NOMINAIS RECOMENDADAS PARA SELEÇÃO DOS PARA-RAIOS

Vn do sistema Vmáx do Vn do para-raios (kV crista*)


(kV) sistema (kV) Fa 80% Fa 100%
13,8 15 12 15
34,5 38 33 39
69 72,5 60 75
138 145 120 145
230 245 198 246

(*) escolher os valores de tensão padronizados imediatamente superiores


(ver tabela adiante)
Características Elétricas

CORRENTE NOMINAL DE DESCARGA DO PARA-RAIOS (kA)

Valores usuais recomendados pelas literaturas:

CLASSE DE TENSÃO (kV) In DE DESCARGA (kA)

Até 36 5

De 69 a 138 10

Acima de 138 20
Características Elétricas

TENSÃO DISRUPTIVA DO PARA-RAIOS (SPARKOVER VOLTAGE)

É o valor da tensão na qual o para-raios começa a conduzir para a terra o


surto de tensão. Deve ser, portanto, inferior à TSI do componente ou
equipamento protegido.

Sendo:
U0 = TSI do componente protegido
U0
Up Ua Ua = Tensão disruptiva
Up = Tensão residual

Ia U
Ia = Corrente devida ao surto
In
U = Tensão Nominal do Sistema
In = Corrente Subsequente
Características Elétricas

TENSÃO DE RESSELAGEM (RESEAL VOLTAGE)

É a maior tensão para a qual o para-raios tem condições de interromper a


corrente subsequente ao surto. Isto é, após escoada a corrente devido ao
surto, o para-raios não deve conduzir novamente no primeiro semiciclo
seguinte da tensão.

TENSÃO RESIDUAL (RESIDUAL VOLTAGE)

É a tensão medida entre os terminais de U0


Up Ua
linha e de aterramento do para-raios
quando o mesmo está conduzindo a
corrente devido ao surto.
Ia U
In
Características Elétricas

CORRENTE SUBSEQUENTE AO SURTO

É a corrente de frequência nominal (60 Hz) que flui através do para-raios em


seguida à passagem da corrente nominal de descarga, até que o mesmo
pare de conduzir.

U0
Up Ua

Ia U
In
Características Elétricas
Características Elétricas

COMPARAÇÃO ENTRE O DESEMPENHO DOS PARA-RAIOS COM


CENTELHADORES (SiC) E SEM CENTELHADORES (ZnO)

MEIO CICLO (SiC) MEIO CICLO (ZnO)


Características Elétricas

CLASSES DOS PARA-RAIOS

Os para-raios de alta tensão são classificados de três formas em função da


tensão de operação do sistema elétrico.

CLASSE DE TENSÃO (kV)

Distribuição Até 36

Intermediária (subtransmissão) 69 a 138

Estação Acima de 138


Seleção do Para-raios (Sugestões)

• Transformadores (a óleo ou seco) até 1000 kVA


PARA-RAIOS
CLASSE • Máquinas rotativas abaixo de 1000 kVA
DISTRIBUIÇÃO • Linhas aéreas conectadas diretamente às máquinas rotativas
• Proteção econômica para os equipamentos de média tensão
• Transformadores secos
PARA-RAIOS
CLASSE • Seccionamentos de equipamentos
INTERMEDIÁRIA • Proteção de cabos isolados

• Subestações e máquinas rotativas de 1 a 20 MVA

• Proteção de equipamentos que possam ser expostos a altas


energias devidas à surtos de manobra
PARA-RAIOS
CLASSE • Onde a corrente de defeito é elevada
ESTAÇÃO • Onde se deseja uma garantia de não interrupção da energia
• Subestações acima de 20 MVA
Acessórios
Alguns acessórios podem ser adquiridos adicionalmente ao equipamento.
Os principais são:
Abraçadeira para
cruzeta de madeira

Terminal de linha

Terminal de aterramento
Acessórios

• Contador de descargas.

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